XXXII -Dave
O Castelo de Cristal parecia ser uma continuação da montanha. Não como o Castelo de Pedra, que consistia em uma rede de cavernas esculpidas à mão, mas como se a estrutura fosse uma magnífica obra arquitetônica natural. Polido, simétrico, excepcional. Todas as suas torres erm cilíndricas com telhados cônicos e janelas arredondadas. O caminho para a entrada era de tão difícil acesso quanto os trajetos até a montanha de cristal. Ele subia em zigue-zague e simplesmente acabava em um precipício poucos metros antes da porta de madeira. A ponte levadiça estava fechada quando os dois chegaram ali, e Alfos teve que levar Alícia até o topo do portão de entrada para que ela abrisse a passagem.
Os dois estavam muito acostumados com as estruturas simples e facilmente compreenssíveis dos castelos de Vidro e de Marfim. O Castelo de Cristal tinha escadas, níveis diferentes e salas vazias por toda a parte. Eles perdiam-se um do outro a todo momento. O salão principal era tão belo quanto a estrutura por fora. Tudo era azulado ali dentro, diferente do amarelado do lado de fora. O salão era circular, com paredes altas e passagens à esqueda e à direita. Uma escada subia para a direita, e outra em espiral desaparecia atrás da parede do fundo. O lustre tinha dez camadas de cortinas de cristais. A maior das camadas tinha um metro de diâmetro. A última das camadas ficava ha menos de quatro metros do encosto do trono. Este era uma simples cadeira de encosto alto esculpida e polida em mais cristal. Dave tinha quase certeza de que Argia não gostaria daquilo.
A escada em espiral no fundo, que desaparecia atrás da parede, levava até um quarto extenso iluminado por uma grande janela. Era o único cômodo com móveis. Havia um berço cor-se-rosa, um armário cheio de roupas de bebê e uma cadeira de balanço.
-Éres era realmente dedicado –Alícia comentou quando viu aquilo tudo pela primeira vez.
-Argia vai odiar isso aqui também –Dave concluiu.
Daquela janela eles conseguiam ver o mar. A cadeia de montanhas acabava em uma praia de pedra, gelo e neve; o limite de terra da província da vida. Havia um pqueno barco encalhado ali, sendo molhado pelas águas frias trazidas pelas ondas nervosas. Ele conseguia ver barbatanas negras e focas agitadas nadando por ali.
Em toda a extensão do castelo, não havia uma teia de aranha sequer, nem um grão de poeira, nem uma mancha de mofo. Eles procuraram por um dia inteiro e não encontraram nada que pudesse ajudar com a cidade congelada e a reconquista da província. Passaram horas sozinhos, Dave nas torres e Alícia nas masmorras, sem saber como voltar para o quarto de Argia. Ao final do primeiro dia, Alfos trouxe um pedaço de carne chamuscada para os dois jantarem. Dave mal havia percebido como estava famino, e teria devorado o pedaço inteiro se Alícia não estivesse ali. Ele tinha uma garrafa d'água com ele, mas a neve, quando derretida, não era assim tão mal. Eles resolveram jantar na torre mais alta da ala oeste para observar o por do sol. Alfos estava na ponta cônica do telhado, mastigando um osso e cuspindo fogo para cima por diversão. Alícia estava absorta em seus pensamentos, apoiada na janela com o rosto iluminado pela luz alaranjada do sol poente e o castanho dos olhos refletindo a beleza da cadeia de montanhas.
Dave queria poder ler os pensametos dela naquele momento. Tinha certeza de que eram perturbadores, como todas as memórias que ele já explorara. O professor de seu legado dizia que ele era ótimo no que fazia, só precisava ser menos óbvio. O homem conseguia manipular o que Dave via muito facilmente. Sua tarefa era sempre acessar a memória completa de uma conversa que o homem tivera com a rainha ou com o diretor DiPrata. Eles tinham mensagens ou instruções para Dave; Thaila sempre dizia algo divertido no fim da memória. Contudo, ele constantemente acabava em memórias do homem lendo revistas no banheiro ou assistindo à programas de esportes no sofá de sua casa. Ele estava curioso por algo longe dos extremos na vida de Alícia; algo que não envolvesse Riley e nem Isabelle.
Ele levantou-se e ofereceu a garrafa de água para ela, segurando-a pela tampa. A menina não olhou quando aceitou e tocou a mão dele. Como Dave não sabia bem o que procurava, ele acabou assistindo à uma versão mais nova de Alícia Weis jogando jogos de tabuleiro com uma amiga. As duas estavam inventando suas próprias regras e rindo sem parar. Ele reconhecia a cozinha da casa dela no Rio, e também os padrões de animas das roupas de Ruby, que cozinhava algo para elas. Aquilo era bom, mas bastante desinteressante depois de certo tempo. Ele pensou que talvez ela e Matheus Rushly dividissem bons momentos. Haviam memórias dos dois juntos na clareira da escola e nos jantares. Por mais que fossem felizes para Alícia, deixavam Dave nervoso. Ele não gostava de Matheus e tinha saudades de momentos assim com sua Bianca.
Sua concentração desapareceu e Alícia tomou conta das lembranças que ele podia ver. Ela voltou para o dia em que eles se conheceram, onde comprara um saquinho de balas sabor melancia. Dave lembrava desse dia como 'seu primeiro dia em Érestha" ou "o domingo quando tive que acordar muito cedo". Alícia parecia lembrar-se como algo que ela preferiria ter evitado. Não estava feliz em ter que conhecer a família Fellows e nem em estar indo para a casa da tia. Contudo, as conversas que teve com os novos amigos dexaram-na animada, desde a discussão sobre Isabelle ser ou não legado de Thaila até aquela sobre não saber onde seu pai estava. Durante toda a visão de Alícia sobre aquele dia, Dave pode perceber que ela estava realmente irritada com todas as perguntas que ele fazia.
-Da próxima vez, vou obrigar-te a ver coisas que traumatizar-te-ão –ela falou quando Dave voltou a realidade. –O que você quer? Isabelle? Tâmara?
-Quero estar longe delas, isso é tudo –ele respondeu. Apoiou-se junto da amiga na janela e observou os últimos segundos do sol. –Não acho que pode me traumatizar.
-Você não conhece meus amigos da favela, Fellows –ela riu.
Alfos deixou o osso cair do telhado e voou para o horizonte, gritando, animado como sempre.
-Você não parecia feliz em me conhecer –ele comentou, pegando a garrafa de volta.
-E não pense que agora estou feliz em ter que passar noites frias numa montanha com você –ela abraçou-o com um sorriso, continuando a prestar atenção no dia que chegava ao fim. -Continua sendo irritante.
-Ótimo. Se precisar de água ou se aquecer, fale com Alfos –ele sorriu. –Pensando melhor, por que não me conta sobre Tâmara e suas experiências como guerreira?
-Ela gosta de vestidos verdes e eu atiro facas contra coisas. O que mais precisa saber? –ela tirou uma das facas de seu cinto e atirou-a contra a parede, deixando uma marca no cristal. Reclamou um pouco de dor em seu braço e extendeu uma faca para Dave. –Tente. Quem sabe um dia não ganha de mim nos dardos? Eu te ensino a não ser um perdedor, se quiser.
-Adoraria –ele pegou a faca. Enquanto pensava em como responder àquilo, algo entou em seu campo de visão. Três cavalos e três cavaleiros arrastavam-se pelas pontes, aproximando-se vagarosamente do castelo.
Alfos estava voltando naquele momento e Alícia foi rápida em manda-lo para lá aos berros. Apesar dos protestos, o dragão trouxe os viajantes para a torre um por um em suas garras, desconfortável, porém eficiente. O primeiro a chegar foi Gary DiPrata, e ele estava fascinado demais para perguntas ou ofenças. A segunda pessoa foi uma mulher estranhamente familiar que estava doente e fatigada. Dave acomodou-a numa pilha das roupas nunca usadas do bebê da vida e cobriu-a com seu casaco mais pesado para mante-la quente. O terceiro era um soldado de Thaila e o quarto, Ethan Nova. Os cavalos acharaim seus caminhos pelas pontes e não precisaram enfrentar o terror da viagem de dragão.
-Digam que tem suplimentos, remédios, comida... –Ethan segurou os ombros de Dave, desesperado enquanto ele ofereca água para a mulher. –Qualquer coisa que ajude minha irmã.
-Irmã? –Alícia olhou para a mulher deitada no chão, verbalizando aquilo que Dave pensava.
-Eu estou bem, Ethan –ela respondeu, tossindo. –Só preciso descançar e comer alguma coisa. Não estou morrendo.
-Elinore, você estava queimando de febre –rebateu, aproximando-se da mulher. Dave pegou o resto da carne que Alícia não havia comido e extendeu para o homem. –Obrigado.
-Como foi que chegaram aqui? –Dave perguntou para Gary.
-Do mesmo jeito que vocês dois, acredito eu –ele apontoupela janela. –As pontes. Começamos andando por caminhos aleatórios até vermos a montanha. Seu irmão está muito preocupado, Fellows.
-Vamos atrás dos outros –Dave sugeriu. –Ethan fica aqui com a irmã e Alícia. Nós três nos dividimos pelas pontes até encontrar todos os grupos.
-Não temos tempo para isso, Dave –Alícia falou, ajoelhando-se perto da mulher adoentada para analisar sua situação. –Tabata não deve estar muito longe do Vale do Verão. Precisamos descobrir o que fazer para descongelar todas essas pessoas de cristal, e rápido.
Gary deixou sua espada no chão e levou o soldado para uma volta no castelo, dizendo que procuraria por algo. Dave não estava feliz em deixar o irmão sozinho por aquelas montanhas e estava pronto para insistir em ir atrás dele. Ele e Alícia já tinham perambulado por cada centímetro da estrutura e não tinham achado nada que pudesse ajudar. O lugar estava vazio. Talvez, por ser legado de Argia, Rick soubesse o que fazer. Dave foi atrás do general para dizer o que pensava e encontrou-o na sala do trono, analisando a cadeira da princesa.
-Precisamos da pedra de Argia –Gary disse antes de Dave ter uma oportunidade de se expressar, bagunçando seus cabelos. –Os legados e a cidade precisam da aura da vida. Esse castelo nunca foi usado, então essa província nunca foi oficializada como de Argia.
-Mas existem documento assinados por todos os Bermonth –Dave disse, pensativo.
-Sim, eu sei. O que falta é que Argia tome seu lugar de direito em seu reino –Gary apoiou-se no trono, cansado. –Precisamos da pedra.
-Demoramos quase uma semana para chegar aqui e Tabata está perto –ele falou, incomodado pelas mãos do general no trono da prnicesinha. Olhou para cima, observando a luz fraca que ainda entrava pela janela do quarto. –Há um barco na praia. Sabe navegar?
-É claro que eu sei –ele disse, sorrindo com animação para as ideias que se desenrolavam. –Não tenho uma bússola e não conheço esse mar, mas acho que é nossa melhor opção. A não ser que alguém esteja disposto a voar com o dragão.
Os dois deixaram o soldado explorando o resto do castelo e voltaram correndo para contar sua ideia para os outros. Dave insistiu que Ethan deveria voltar com eles, e o homem não iria a lugar nenhum sem a irmã. Ele não se importava de leva-la com eles, com tanto que Ethan fosse levado até a rainha. Dave não conseguia parar de olhar para Elinore deitada na pilha de roupas. Suas feições eram muito familiares, mas ele não conseguia lembrar-se de onde. Alícia estava claramente desconfortável em ter que ficar para trás com o soldado e o dragão, mas achava melhor do que enfrentar o mar frio e agitado.
-Partiremos pela manhã –declarou Gary. –O dragão pode nos levar até a praia, não pode? Alícia, está proibida de sair do castelo até que nós, ou Rick Fellows, retornemos.
-Ótimo –ela suspirou. –Estou muito animada.
A menina saiu de perto da mulher e acomodou-se num canto. Dave sentou-se perto dela e a menina apoiou a cabeça em seu ombro. Ela pegou seu casaco pesado e usou de cobertor para os dois, já que Dave tinha dado o seu para a mulher. Ethan e sua irmã Elinore estavam sentados juntos, perdidos em pensamentos. Gary deitou-se no chão o mais afastado de Dave que conseguiu e passou a contar histórias de guerra para o soldado. Dave sorriu antes de cair no sono. Parecia que ele finalmente estava tendo um sucesso verdadeiro. Abraçou Alícia e teve uma boa noite de sono.
Todos estavam acordados ao nascer do sol, e observar o show de luz daquela altura era ainda mais fascnante. Alfos estava feliz em ajuda-los, e já havia feito o caminho até o mar uma dezena de vezes. O animal truxera várrios peixes para o café da manhã, e fora bondoso de assa-los para eles. Os viajantes arrumaram-se velozmente, fechando bem seus casacos e preparando-se para enfrentarem o voo. Ethan foi o primeiro a descer, seguido por sua irmã. Gary reenforçou que Alícia não podia sair dali, e que o soldado estava no comando antes de ser levado pelo dragão agitado.
-Diga ao meu irmão que estou bem –Alícia falou para dave quando Alfos estava voltando de sua terceira viagem, rodopiando e atirando fogo pelo céu. –E que o dragão dele não sabe ficar quieto.
-Pode deixar –ele abraçou a menina, que protestou de início, mas logo deixou-se levar. –Divirta-se por aqui, prisioneira.
-Espero que aquele barco vire –ela beijou-lhe a bochecha e riu. Alfos pousou na janela e estalou a língua, chamando por Dave. –Vou pedir que Alfos prcure seu irmão, ok? Volte logo.
O menino sentou-se na borda da janela e alfos envolveu-o com suas garras afiadas. Ele balançou as asas e mergulhou numa decida veloz que fez Dave gritar. O animal deu cambalhotas no ar e arranhou os braços de Dave enquanto gritava. Ele não ousou mexer-se demais e fechou os olhos. Alfos soltou-o ha alguns centímetros do chão e ele caiu de joelhos na praia de pedra gelada. Os outros três viajantes estavam próximos ao barco e Dave ouvia uma canção. Ele andou até lá, escorregando ocasionalmente, e de repente sentiu-se salvo. Duas senhoras vestidas de gondoleiras, uma roxa e outra rosa, cantavam algo sobre Teresa. O pedaço de madeira onde estavam era o Pizza de Pepperoni, que insistiam em chamar de navio. Elas não tinham figura de proa, velas e nem sequer um timão. Os três olhavam para Kesley e Kemely com as sobrancelhas franzidas, enquanto Dave sorria.
-Para onde, Dave? –elas perguntaram quando a canção descincronizada terminou.
-Só precisamos de algum lugar onde podemos usar uma passagem –ele disse, subindo a bordo. –Devemos voltar para o Castelo de Vidro.
-E o que os outros estão esperando? –perguntou a que usava roupas roxas.
-Subam à bordo do melhor navio de todos os mares! –chamou a de roupas rosa.
Eles subriam, desconfiados. Gary estava um pouco decepcionado de não poder demonstrar suas habilidades no mar. Dave agarrou-se à amurada de balaústres.
-Segurem-se –ele alertou. –Segurem-se firme.
Elas remaram por poucos segundos até começarem a empurrar o barco com seus legados d'água. Logo, a praia foi ficando para trás, e tudo o que ele podia distinguir eram as montanhas e o fogo de Alfos.
Oi!
Vocês sabem o que é NaNoWriMo? Provavelmente não.
National Novel Writing Month (mês nacional de escrever romances (?) é um "desafio" para escritores: 50.000 palavras em um mês: Novembro. E esse ano, eu estou participando! Desde o dia 1 eu venho escrevendo pelo menos um pouquinho todos os dias, e estou amando! É muito inspirador! para atingir 50.000 em 30 dias, você te que escrever 1,667 por dia! Até agora (dia 8), eu escrevi 9.307 (mesmo se o número ideal para completar o desafio seriam 13,333...) Mas o que eu quero dizer é que seria legal vê-los participando também! 50.000 é MUITA COISA, mas você pode se desafiar a coisas menores: 25.000 palavras? 50 capítulos? 200 páginas? O site www.nanowrimo.org (por mais que seja um pouco confuso) é de graça e oferece muitas maneiras para você contar esses objetivos!
Meu perfil no NaNoWriMo é Bia_Ruppini, e eu também posto updates todas as noites no Twitter (@Bia_Ruppini também. Esse é meu user em todos os lugares haha). Se forem participar, me adicionem para podermos participar juntos!
E obrigada por acompanharem Érestha (:
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