XV -Dave
O abraço de Lorena conseguia ser tão agitado quanto sua personalidade. Ela não parava quieta nem para cumprimentar os alunos. A agitação dela somada à de Chris era insuportável. A menina dos grandes olhos verdes estava incrívelmente entusiasmada em ter Nicolle e Rick juntando-se a turma, e não parava de fazer perguntas. Eram sete horas da manhã, e Dave só queria sentar-se e dormir a viagem inteira. Pelo menos Alícia estava de bom humor e não se incomodava em explicar algumas coisas para ela. O irmão e a amiga estavam conversando com o diretor DiPrata, afastados da multidão. Havia mais do que apenas pais e alunos ali. Curiosos haviam se juntado para poder ver Argia no corpo de Nicolle mais de perto.
-Eles tem a nossa idade, vão ficar na nossa turma? –Chris perguntou.
-Não, Chris –Alícia explicou –Eles não tem tanta matéria como nós. Não sabem tanto como nós, serão aulas com o primeiro.
-Uma pena, tenho certeza de que seria muito legal ter eles conosco –comentou. –E como vai funcionar, para a menina e a princesa?
-A princesa disse que quer Nicolle no controle. E que devemos trata-la como Nicolle, não como Argia.
-Interessante! Acho que ela é tão...
-Chris, por favor, cale a boca –Herton Heartwook pediu, coçando os olhos pelo sono.
Dave quase o abraçou por aquilo. Lorena deu risada e disse que já estaria de volta. Foi conversar com alguns alunos do primeiro ano. Dave esteve procurando Riley desde que eles sairam do carro de Tia Rosa. O menino desaparecera na multidão para encontrar Lilian e não tinha voltado até então. Neste ano, eles pegariam o ônibus com o terceiro e, sendo mais velhos, conseguiriam o andar de cima e os melhores lugares. Precisavam de dois conjuntos de bancos um ao lado do outro para conversarem direito entre todos. Ele precisava conversar com os gêmeos. Nicolle e Rick tinham permissão para estarem com eles, e Lorena vinha acompanhando o primo nos ônibus desde o primeiro ano. Riley era o melhor em esgueirar-se pelas pessoas e reservar lugares, mas ninguém sabia aonde ele estava e as portas estavam se abrindo.
-Herton –Dave chamou-o. –Por que não corre e pega os lugares bons para nós?
-Por que eu estou dormndo –ele falou, fecando os olhos e apoiando-se no ombro de Chris. –Vai você.
-Relaxe –Alícia falou, segurando seu pulso e puxando-o mais para frente. –Tem uma princesa conosco esse ano. Vamos fazer o que quisermos.
-Não abuse, Alícia –ele riu.
-Claro, senhor "representante da rainha com um salário milionário". Não vou abusar.
Alícia empurrou todas as pessoas mais novas da sua frente com o cotovelo e subiu as escadas no fundo do ônibus correndo. Cada um deles sentou-se em um conjunto de dois bancos com estufado vermelho com uma mesa velha no meio e esperou que os outros se juntassem a eles. Rick e Nicolle ficaram com Dave. Lilian e Riley com Alícia. Herton e Chris preferiram sentar-se com outras pessoas mais no fundo e eles ficaram com dois assentos vazios entre eles. Lorena juntou-se aos irmãos Fellows mais tarde, quando já tinha confirmado que todos estavam ali, e foi a primeira a perguntar o que Dave estava prestes a falar.
-E aquele livro, Riley?
-Está aqui comigo –ele tirou-o do bolso e extendeu-o ao tamanho normal. –Não faço ideia do que posso usar para lê-lo. A princesa Tâmara conseguiu ler algumas palavras que conhecia, como 'rainha', 'morte' e 'reino', mas isso não ajuda muito. Não consigo formar uma frase ou adivinhar outras palavras a partir disso.
-E se não for isso? –Rick disse, olhando para o irmão. –A mensagem da rainha que você deve interpretar ou qualquer coisa assim. Se não for esse livro, podemos arriscar perder tempo com ele?
-Não é para Dave ler, esse livro foi dado à mim –Riley explicou. –O que quer que seja é importante. Talvez não seja a tal "mensagem da rainha", mas O Mago Roxo e Dafne do Hotel da Dafne querem que eu leia, então o farei.
Eles precisaram de dez minutos para explicar para Rick que Dafne era uma velha cega que insistira que Riley dedicasse-se mais à leitura. Depois foi a vez de Nicolle iniciar as perguntas infinitas. Dave lembrou-se de si mesmo em seu primeiro ano, questionando tudo, aceitando fatos fantásticos e demorando para acostumar-se. Na metade do caminho, Lorena foi para o andar de baixo checar os alunos e Dave passou para a mesa dos Weis. Alícia havia dito que não queria mais esconder coisas de seu irmão, e Lilian era sua melhor amiga, então ele sentiu-se confortável em perguntar-lhe sobre o que Thaila queria dela no dia em que fizera a reunião para ocntar aos irmãos sobre Argia.
-Ela só... –Alícia começou, relutante. –Só queria ter certeza de que eu tinha entendido tudo e me lembrava bem da reunião. Quer que eu esteja pronta quando Isabelle me perguntar.
-O que? –Riley pareceu indignado e muito preocupado ao mesmo tempo. –Você não vai voltar para aquele lugar nos sonhos dela, Lice.
-Não tenho escolha, Riley –ela falou, tomando cuidado para manter um tom de voz baixo e calmo. –Estou com a espada dela e sei que vai querer de volta.
-Diga para ela ficar longe de Thaila –Dave falou, ignorando a discução que se inciava.
-Está preocupado com isso? –Riley disse, batendo as mãos na mesa. –Preciso lembrar-te o que esses sonhos fizeram com Alícia?
-Não, Riley, ninguém precisa me lembrar. É exatamente por isso que quero ela fora dos pensamentos de minha rainha. Não sei o que ela disse sobre Tabata estar atrás da pedra e Thaila não vai querer contar, mas não importa. Isabelle DiPrata não é bem vinda na cabeça da rainha.
Alícia cconcordou em falar e Riley fechou a cara, bravo. Nem mesmo as palavras calmas e os beijos de Lilian o fizeram ficar de bom humor. Nem Dave e nem Alícia desculparam-se. Ela voltaria para lá, e entregaria o recado. Dave também pediu que a menina deixasse a espada albina bem longe do alcance dele, ou ia destrui-la e queimar os pedaços restantes.
Depois dessa conversa, levaram apenas dez minutos para estacionarem e descerem. Rick e Nicolle estavam muito ansiosos, com os rostos grudados na janela como se não tivessem passado uma semana dormindo naquelas dependências. A menina não podia acreditar que aquilo estava acontencendo, e Dave conhecia aquele sentimento. Sentia falta dele. Lorena esperou todos sairem dos ônibus e posicionarem-se em frente ao tronco que ela usava como palco. O diretor juntou-se a eles naquela ocasião e ficu calado, esperando Lorena falar. Dave estranahva que ele nunca havia perguntado sobre Isabelle desde que ele e os Weis voltaram de Chelmno. Ele evitava pensar muito na filha para não ter o coração despedaçado. Assim era melhor.
-Com certeza vocês já sabem sobre a princesa Argia e a menina Nicolle –Lorena começou o discurso indo direto ao assunto. –A pedido da rainha e como realização de um desejo dela própria, a Escola Preparatória da Província de Tâmara acolherá a ela e a seu primeiro legado, Rick Fellows, até segunda ordem –Lorena puxou a mão de Nicolle e equilibrou-se precariamante para te-la junto de si no tronco. As pessoas não sabiam se deveriam aplaudir, curvar-se ou permanecerem em silêncio, então os segundos que se seguiram foram bem constrangedores.
-Ela pede que tratem-na como Nicolle, essa doce menina, e não como a princesa –disse o diretor, com sua voz firme e potente. -Os dois serão alunos como todos vocês, seguindo as mesmas ordens e frequentando as mesmas aulas. Entenderam? –Ninguém falou nada, e ele deu-se por satisfeito. –Ótimo. Agora sigam para seus dormitórios para comodarem-se. Segundo ano, para o teatro, e primeiro, esperam aqui com a professora Lorena. Vamos!
Dave, Riley e Alícia foram direto para a diretoria. A construção imitava uma casa de praia, com a varanda rodeando o térreo e janelas de madeira pintadas de verde desbotado. Dois homens já estavm posicionados onde as filas de alunos calouros deveriam ficar. Em mãos, traziam uma biqueira de tatuagem conectada por um tubo transparente a potes de cerâmica cheios de um líquido esverdeado que exalava fumaça. Nicolle e Rick teriam que passar pela visão de seus piores dias em poucos minutos. Eles foram os primeiros da fila. Os dois homens pareciam desconfortáveis em marcar uma princesa com um símbolo que nunca antes fizeram. Tâmara tinha uma árvore, Thaila uma coroa e Tamires tinha núvens, tudo se conectando em um desenho maior. O símbolo para ser marcado nas costas dos legados de Argia era um coração cujas linhas não se uniam e envolviam todos os outros símbolos. Nicolle estava muito assustada enquanto o homem explicava o procedimento para ela. Rick estava mais calmo, porém, tenso. Ele disse que tudo ficaria bem e fechou os olhos. O homem contou do três para o um e desenhuou o coração de Argia em sua escápula. Rick gritou. Ele apertou tanto as barras da varanda que as veias de seus braços estavam saltando e pulsando em protesto. Ele estava completamente atordoado quando foi até a enfermeira aplicar o gel que amenizaria a dor. Dave, Riley e Alícia andaram até ele quando perceberam as lágrimas formando-se em seus olhos. Ele nem pode ver como Nicolle estava, gritando e chorando, pois Rick o estava assustando de verdade.
-O que foi aquilo? –o irmão perguntou, desesperado, quando a enfermeira terminou de explicar sobre o gel. O desespero do aluno que tomou o espaço de Rick na sessão de tatuagem tomou a aenção deles por alguns segundos, mas Dave chacoalhou-o para que focasse-se. –Quem é aquela mulher ruiva e por que ela quer matar nossa mãe?
-Como é? –Dave afastou-o. Alícia tapou a boca com as mãos, em susto, e o menino com os olhos arregalados, ambos em silêncio. –Quanto no futuro foi isso? O que mias você viu?
-Futuro? –ele perguntou, ainda mais assustado. –Era um pesadelo, um assustadoramente real. Aquilo não pode ser o futuro.
-Rick –Alícia falou, dando um passo a frente. –O que você viu foi seu "pior dia", ou seja, o pior dia da sua vida. Algo ruim vai acontecer, como foi com todos nós. Não é um pesadelo, é realidade.
-Podemos mudar, pordmeos impedir? –ele desesperou-se, segurando os ombros do irmão. Alícia apenas balançou a cabeça, negando. –Bom, mas... Não pode ser o futuro, é impossível.
-Por que, Rick? -Dave perguntou, desesperado. –O que foi que você viu?
-Uma casa. –ele disse, deixando que uma lágrima rolasse por seu rosto. Nicolle, a esse ponto, estava com a enfermeira, mais calama. –Uma mulher com um cabelo vermelho arrombou a porta e encontrou algumas pessoas encolhidas na sala de estar. Eu estava lá, bem mais velho, mas eu sei que era eu. Era tudo em preto e branco, com excessão do cabelo dela. Ela jogou uma adaga... na direção de mamãe e... Gritava com as outras pessoas... Isso não pode ser o futuro, Dave. Não pode.
-Pode sim, Rick –Alícia falou com a maior calma que conseguiu. –E será. Eu sinto muito.
-Uma das pessoas na sala era Bia –ele falou, enfim. Dave chacoalhou a cabeça, inconformado.
-Isso não pode estar certo –ele falou, com certa raiva no tom de voz. Ele pensou em todos os jeitos em como aquilo podia ser verdade. Talvez aquilo ocorresse no reino dos mortos de Tabata, em algum outro plano controlado por ela onde eles haviam encontrado Bia. Ou Rick estava completamente confuso e confundira a menina com outra pessoa. Talvez tivesse confundido até a própria mãe. Maria não ia ser vítma de assassinato, ele não ia deixar que isso acontecesse. –Isso não é real. Tem alguma coisa de errado nessa história.
-Eu espero que sim –ele falou, horrorizado.
Ele devia estar aterrorizado. A visão de Dave não fora assim tão clara. Era uma metáfora de imagens, uma sombra apagando uma chama. A visão de Rick era tão certa que até Dave estava com medo. Prometeu a si mesmo que não deixaria a mãe em uma casa como ele disse caso uma assassina de cabelos vermelhos estivesse a solta. Ele queria voltar para o castelo de Vidro e conversar com Thaila sobre aquilo tudo. O irmão ainda estava encarando seus olhos quando ele voltou a prestar atenção nele. Ele balançou a cabeça, como se pedindo para Dave dizer que aquilo era mentira, que não era real. Dave permaneceu imóvel, com o sentimento de que, mais uma vez, ele perderia, ou estaria perto de perder alguém que amava.
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