XIII -Dave
Qual a relação entre a mídia e o capítulo
Nenhuma, desculpa. Obrigada por ler (:
Nicolle estava nervosa em deixar a companhia de Dave e Rick. Ele também não estava muito contente em deixa-la com as ajudantes de Tâmara do Castelo de Vidro. Acabariam transformando-a numa boneca, e Nicolle não era muito fã de maquiagem e vestidos que não fossem floridos e lembrassem a primavera. Dave tinha alguns ternos guardados no quarto que Francis, o Mago Roxo, usava quando visitava a família. Dave não entendia muito bem qual o grau de parentesco entre ele e os Bermonth. Achava que ele era irmão de um dos pais de Éres, mas nunca se dera ao trabalho de perguntar. Talvez Rick o fizesse para ele. Levou o irmão até lá e emprestou um dos seus para ele. Havia algo diferente em Rick. Ele agora tinha uma aura, como todos em Érestha, um brilho cor-de-rosa, morno, calmo e acolhedor que o envolvia. Rick teinha um legado. Se não fosse por Thaila, nem mesmo Dave estaria ali. O legado da terra de seu pai não fora passado para nenhum de seus filhos e Rick estaria condenado a viver nas terras dos continentes, longe do mundo fantástico que tanto admirava, se não tivesse sido por Nicolle. Ou Argia, que assim fosse.
-O que ela fez? –Dave perguntou, colocando a gravata ao redor de seu pescoço. Odiou Rick por executar um nó perfeito na sua. –Quando ela... te beijou, lá em São Paulo. O que foi aquilo?
-Eu não sei direito, foi estranho –respondeu, ajustando a gola da camisa. –Foi... sufocante. Literalmente. Depois eu... eu estava dentro da cabeça dele. Controlando Pedro, por alguns segundos, mas foi cansativo. Depois eu voltei ao normal e... doía. Por dentro, tudo doía –Rick deixou o boné que usava de lado e ajeitou seus cabelos. –Eu poderia tê-lo matado. Se tivesse pego a espada da mão de Nicolle, eu poderia...
-Não pense nisso –Dave o interrompeu. –Matar alguém não é assim tão diverido, acredite.
-Como assim? –ele perguntou, afastando-se um pouco do irmão.
Às vezes, Dave queria conversar mais com o irmão. Como lutar com espadas ou encontrar passagens para Érestha, o treino faria as conversas ficarem mais fáceis e fluirem mais naturalmente. Os dois nunca foram muito próximos, e desde que começara a escola em Érestha, afastaram-se ainda mais. Ele não teria problemas em responder isso para Missie, os Weis, ou para sua mãe, mas falar com Rick sobre ter enfiado Mata-Touro no coração de Tabata era estranho. Além de tudo, não era o momento para aquilo. Mesmo assim, ele abriu a boca e contou uma versão bem gráfica com detalhes sangrentos daquele dia. Falou sobre como fora fácil furar sua carne, como se ela não passasse de um travesseiro velho. Contou sobre o sangue escuro que escorria por seu vestido preto. Detalhou seu sorriso e sua voz afogada no próprio sangue.
-Você fez isso? –ele falou. –Por que nunca me disse nada?
-Eu não sei. Como se começa uma conversa desse tipo?
-É, você não saberia –ele revirou os olhos e andou até a porta. –É péssimo para iniciar ou manter qualquer conversa. Nunca quer falar sobre Bia, ou Thaila ou qualquer coisa. Só não se esqueça que sou seu irmão, Dave.
E foi embora, seguindo sozinho pelos corredores que não conhecia. Talvez o menino dos olhos azuis tivesse arrancado tufos de seus cabelos bagunçados se Missie Skyes não estivesse passando por ali naquele momento. Com seu jeito calmo e acolhedor, ela tocou o braço dele e encarou seus olhos, esperando que ele decidisse se queria ou não falar sobre isso. E não queria. Missie ajudou-o a dar o nó na gravata, mas ele não agradeceu.
-O que aconteceu, Dave? –ela não estava se referindo a ele e Rick.
-Acredite, é melhor que ouça isso na sala dos tronos –ele falou, puxando ela para fora do quarto e fechando a porta atrás de si. –Se eu dissesse, não ia acreditar.
-É claro que eu iria –ela sorriu, gentil. –Por isso acredito que é melhor eu ouvir da boca da rainha.
-Você é um pouco confusa às vezes.
Ela sorriu mais uma vez e eles seguiram em silêncio até o andar de baixo. Missie foi na frente, encontrar sua princesa. Dave ficou para trás para acolher Nicolle em um abraço. Ela ainda estava tremendo e com uma aparência de que ia vomitar de novo. Ao que parecia, as amas de Tâmara tinham sido legais com ela. Usava sapatilhas e um vestido branco, roupas confortáveis, mas ainda assim mais "de acordo" do que jeans e um suéter dos Bee Gees.
-Eu estou muito assustada, Dave –ela falou. –Não sei se posso fazer isso.
-Nicolle, todos nós estamos assustados –ele admitiu. –Ninguém sabe o que está acontecendo. Se posso garantir alguma coisa, é que pode confiar em Thaila.
-Eu sei disso –ela falou. –Eu não me importo de deixar Argia falar, mas e eu? O que acontece comigo, Nicolle de Vie?
-É o que vamos descobrir –ele lembrou-se do dia em que fora chamado ao Castelo de Vidro com Isabelle. Lorena repetira que ele não era obrigado a fazer nada do que os outros diziam,podia ir para casa. Aquilo ajudava muito, então repetiu o discurso para a amiga. –Se preferir ir para a casa, pode ir. Não podem te obrigar a fazer nada, entendu?
Ela assentiu. Dave guiou-a pelas salas do castelo até a porta de madeira em frente à porta de correr que levava aos túmulos de Thaís e Éres. Pediu que ela esperasse. O menino Gabriel, pequeno ajudante de Dave, ficou tomando conta dela e de Rick, que também estava ali a pedido da rainha. Como ele tinha chegado até ali sozinho era um mistério que não merecia respostas. Ele provavelmente tinha perguntado. Dave disse a Gabriel que deixasse Nicolle entrar quando fosse chamada, e o menino assentiu, silencioso. Dave abriu as portas. Os príncipes estavam inquietos. Seus representantes estavam em pé à direita de seus senhores sentados nos tronos personalizados. O fluxo de água que saia da cadeira de Teresa estava inundando o assento, refletindo seu humor. Elói estava reclamando sobre como Tâmara era sempre a primeira a saber de tudo, enquanto Missie e Ana Vitória conversavam por sinais discretos. Riley e Alícia estavam parados no canto, próximos à cadeira de bebê que seria de Argia. Dave andou em silêncio até Thaila, que sentava-se torta em seu trono de ouro. Posicionou-se ao seu lado e olhou para seus irmãos. Ele ajustou o cinto que carregava a bainha estufada com a lâmina aberta de Mata-Touro. Ele jamais usaria essa espada contra qualquer um ali naquela sala, a não ser que Thaila pedisse. E se o fizesse, estaria preparado.
-Como eu explico isso? –Thaila perguntou para Dave. Ele achou que fosse uma pergunta retórica, mas ela queria mesmo uma resposta. Ele deu de ombros, e disse para ela apenas falar. A rainha pôs-se de pé, abriu e fechou a boca uma porção de vezes antes de dar de ombros também. –Argia, ela... Não está exatamente morta.
-Desculpe, o que disse? –Edgar perguntou, piscando para a irmã.
-Eu disse que... –Thaila ajeitou a coroa nos cabelos. –Vocês não vão entender, não assim. Nicolle, pode entrar, por favor.
A porta se abriu. Nicolle deu alguns pasos para dentro, com Rick seguindo-a a uma distância segura. Gabriel voltou a fechar as portas. Nicolle distraiu-se um pouco, observando a sala alta, as tapeçarias, o luxo e os príncipes com fascínio. Todos olhavam para ela com a testa franzida e as bocas abertas.
-Está querendo dizer que esta menina é nossa meia-irmã? –Teresa perguntou, analisando-a de cima a baixo, desconfiada.
-Não exatamente –Thaila falou. –Pode chama-la para nós?
Nicolle concordou. Olhou para Rick, nervosa, e ele segurou seu ombro com carinho. Ela fechou os olhos por alguns segundos. A pedra em seu pescoço emitiu um brilho muito forte que envolveu a menina. Deu um passo para trás e quase caiu. Então abriu os olhos novamente, revelando as órbitas verdes da princesa bastarda. Algumas pessoas na sala chacoalharam as cabeças, descrentes. Outras esperaram que Thaila falasse alguma coisa.
-Qual o seu nome? –a rainha perguntou.
-Argia Felicity Bermonth –respondeu.
-Qual é o nome de sua mãe?
-Thaís. Leila Thaís Bermonth –falou, deixando uma lágrima correr por seu rosto. Argia estava mais nervosa do que Nicolle. Dave conseguia sentir a necessidade dela de ser aceita, de que acreditassem nela. Podia ver que estava com medo e sentia-se inferior. Com certeza os outros príncipes também sentiam isso.
-Argia foi morta à quase dezessete anos –Elói falou, pasmo. –Como isso pode ser verdade?
-Eu não sei –ela falou, chorando. –Por favor, acreditem em mim, eu não sei o que fazer.
-Vossa Majestade, se me permite –Missie falou, dando um passo a frente. Thaila assentiu, movendo sua mão para mostrar que ela podia falar –Existem diversas substâncias experimentais desesnvolvidas pelos elfos para todos os propósitos. Como aquela encomendada pela rainha Ágata antes de Thaís, que faz a pessoa parar de envelhecer até os cem anos de vida. Eu... Não acho que seria impossível que algo como isso seja obra deles também. Não e verdade, Riley?
Todos surpreenderam-se com a pergunta direcionada e ele, principalemente o próprio, que pulou do canto onde estava e andou até o tapete vermelho no centro da sala, onde Argia estava parada, acariciando o próprio braço. Ele concordou.
-Uma coisa que mexe com a vida dessa maneira pode ser contra os princípios élficos, mas há também as receitas dos Litos Alvos –ele explicou. –Esse grupo de feiticeiros está sempre mexendo com vida e morte. Podem também terem trabalhados juntos, quem sabe. Não deve ser difícil... hospedar uma pessoa em outro corpo.
-O menino está certíssimo –Elias falou. Os cata-ventos espetados em sua cadeira de madeira começaram a girar ferozmente. –Mamãe é tão esperta. Mas por que nunca disse nada sobre isso?
-Por que Tabata saberia –Thaila concluiu. Todos ficaram em silêncio por vários minutos, absorvendo as informações, preparando-se para o que vinha a seguir. Era tudo tão incerto que Dave não sabia nem para quem olhar. –Podemos falar com Nicolle agora?
Argia não falou nada, apenas fechou os olhos e deixou que Nicolle reabrisse-os. O brilho cor-de-rosa da pedra voltou a acomodar-se no colar e Nicolle deu um passo para trás, ainda mais nervosa.
-O que você quer fazer? –Thaila peruntou. Seus irmãos começaram a protestar. Falavam que não podiam deixa-la voltar para São Paulo, que era responsabilidade deles, que deviam mante-la ali até entenderem melhor a situação. Elias fazia ventar, Tamires fez chover e o lugar ficou mais escuro por causa de Edgar. Thaila bateu a ponta de seu cajado no chão e fez todos calarem-se. –Se quiser voltar para casa, está livre para tal. Não vamos afastar-te de sua família. Mas vamos manter alguém com você, protegendo-te de Tabata. E se precisarmos de Argia, chamar-te-emos. Se quiser ficar, ótimo. Poderá ficar com Dave, Riley e Alícia na escola da província de minha irmã da terra, aprendendo mais sobre tudo o que perdeu nos últimos anos. O mesmo vale para você, Rick. E aliás, minha próxima ordem é que Maria seja notificada sobre assim que terminarmos.
-Eu fico –Nicolle falou, sem nem pensar muito. Dave surpreendeu-se, depois sorriu para ela. –Quero ajudar, se puder.
-E eu também –Rick disse.
-Espere um pouco, quem é esse menino e o que ele tem a ver com tudo isso? –Edgar perguntou, confuso.
-Sou Henrique Fellows, senhor –ele curvou-se. Edgar lançou um olhar significaivo para Thaila, e foi repreendido, em silêncio. –Sou filho de Reginald e Maria Fellows e... Acho que... Legado de Argia.
As cabeças viraram-se para Nicolle imediatamente. Ninguém precisou dizer nada para que ela voltasse a fechar os olhos e chamar pela princesa que dividia o corpo com ela. O rosto dela estava cansado, desgastado por tanto trocar.
-Argia, como sabia como transferir um de seus legados? –Elói perguntou.
-Eu não sabia –ela respondeu imediatamente. –Eu só... Fiz. Não deveria?
-Vamos com calma –Thaila não respondeu a princesa. Ela olhou para Alícia, que ajustou a postura. –Preste bastante atenção, Alícia –ela voltou a falar para todos e ninguém perguntou porque ela tinha chamado a menina. -Então temos estabelecido que isso está mesmo acontecendo, e Tabata já sabe. Acho que o povo merece saber. Vamos contar em meu aniversário.
-Por mim tudo bem –Elói falou. Ele já sabia que acabaria tendo que falar, e provavelmente descartaria o discurso no público. -Até lá, trataremos Argia e... sua hospedeira da forma como papai o faria. Deêm-lhe um quarto aqui, um trono novo, arrumem seus jardins a seu gosto, cozam vestidos, forjem uma coroa... Apesar de tudo, ela é uma princesa –apenas Elias concordou com o irmão. Dave estranhou Thaila não ter concordado imediatamente e começado a dar ordens. Ela não gostava de Nicolle, ou não gostava de Argia. Elói ficou bravo com todos e pôs-se de pé. –Ora, pela neve de minhas montanhas, ela é nossa irmã! Isso deveria unir-nos, não o contrário. A criança não tem culpa de nada, ela é Argia e Nicolle, e vamos aprender a viver assim até termos uma solução. Mexam-se!
-Sou eu quem da as ordens aqui, irmão –Thaila interveio antes de Tâmara e Tamires acharem palavras para insulta-lo. Elói voltou a se sentar e desculpou-se, tratando Thaila por sua majestade. –e você está certo. Argia é da família, sendo um bebê bastardo ou estando no corpo de uma garota tão adorável como Nicolle. Ela vai ter tudo o que temos, e será ensinada por espertos em seus legados. Assim como você, Dave, agora que Lawrence já não pode te ensinar. Há também o detalhe de que Tabata domina as terras que seriam dela. Um detalhe que nos pode ser útil;
-Só espero que não se esqueça de quem é, irmã –Tamires interrompeu. –Nenhum de nós somos babás dessas crianças. Me incomoda tê-los assistindo a tudo. Nossas prioridades deviam estar longe de roupas e jardins para uma princesa que voltou dos mortos, há uma guerra para se lutar.
-Por favor, não se incomodem comigo –Argia falou, permitindo que mais lágrimas se formassem em seus olhos –Não quero causar problemas entre minha família. Só quero estar aqui, aprender e me situar. Se puder ajudar, eu o farei, com muito prazer. Não preciso de terras, vestidos ou coroas. A proposta de estudo já é ótima. E se é para eu ser aceita por vocês, esse dia com certeza não é hoje. Não vou decepcioná-los, eu prometo!
Elói levantou-se para abraçar a menina. Os soluços descontrolados dela eram de cortar o coração.
-Sente-se –Thaila ordenou. Elói não se mexeu e ela repetiu a ordem.
-Não vou sentar-me –ele grunhiu.
-Obedeça sua rainha –Dave surpreendeu-se com sua própria atitude. Tinha dado alguns passos para a frente e empunhava Mata-Touro, apontando–a para o príncipe mais divertido de Érestha. Ele queria que alguém confortasse a menina, mas queria mais ainda que a rainha não tivesse que repetir suas ordens para os próprios irmãos.
Elói virou-se, encarou a espada e voltou para seu trono, em silêncio. Argia moveu as pernas de Nicolle para abraçar Rick e o salão caiu no silêncio novamente. De uma maneira muito estranha, Dave olhou para Éres como "o pai adotivo da garota me amou" por um tempo. Ele era um homem acolhedor, divertido e simpático, além de ser a pessoa que mais sofrera com a morte de Bianca. Ele sentiu-se muito mal em segurar aquela espada daquele jeito. Manchara-na uma vez com sangue e agora manchava-a com ameaças e uma certa promessa de traição. Seu pai não poderia estar feliz com aquela cena. Dave estava sujando o nome de Mata-Touro.
-V-vossa Majestade... Posso... –Riley deu um passo tímido para frente, colocando uma mão no bolso. Thaila apenas o olhou, e então ele continuou. Tirou um objeto do tamanho de uma caixa de fósforos do bolso: o livro da rainha. Puxou os cantos, apertou-o e desdobou até o livro enorme e pesado com a cobra de penas na capa estar diante de todos eles. –Ganhei isso do Mago Roxo ha quase dois anos. Não sei o que é não consigo ler, mas sei que é importante. Na capa, lê-se Ujeb... Vida... e LTB, como as inciais de vossa mãe. Achamos que foi escrito pela falescida rainha Thaís e... Agora que isso tudo está acontecendo... Acredito que possa tratar de Argia.
-Chegamos à conclusão de ter sido escrito por Thaís essa mahã –Dave falou assim que recebeu um olhar descrente de Thaila. –Eu ia perguntar sobre...
Ela ignorou suas desculpas e tomou o livro da mão de Riley. Fechou-o alguns segundos depois, quando a tontura característica da leitura a atingiu.
-Gabriel –ela chamou. O menino não demorou nem um segundo para abrir as portas, curvar-se e ouvir. –Leve Riley até a biblioteca e mostre a sessão de livros que eram de minha mãe. Depois, ordene que transfiram minhas coisas para o antigo quarto de meus pais. Vocês, paulistanos, vão para casa, ajudem Nicolle e falem com Maria e Madalena. Alícia fique mais um pouco. Por enquanto, estão todos dispensados.
-Vamos confiar na palavra de Tio Francis? –Tamires perguntou, levantando-se.
-Sim, assim como acreditamos quando ele falou sobre a volta de Tabata. E não é só dele, mas também de mamãe. Deixaremos Argia e seu primeiro legado sob os cuidados de Tâmara e o general DiPrata. Quando Riley Weis conseguir ler aquelas palavras, saberemos qual o nosso próximo passo. E o mais importante: vamos tratar bem nossa irmãzinha.
Elói saiu batendo os pés, com Adam seguindo-o de perto. Uma vez, Bia havia mencionado que desconfiava qe Adam era filho legítimo de Elói, não paenas mais um adotado, e Dave acreditava cada vez mais naquela teoria. As únicas diferenças gritantes entre os dois era o jeito do nariz e a cor dos cabelos. Por mais que o príncipe do gelo e do fogo os pintasse de vermelho e branco, Dave sabia que eram pretos. Adam tinha os cabelos castanho claros, diferente de qualquer um na família real. Os outros saíram sem falar nada para Thaila, com exeção de Missie, que sussurrou algo para ela. Por fim, restaram apenas o menino dos olhos azuis, a princesa dos olhos violeta e a garota dos olhos castanhos.
-Não ouviu o que eu disse, Dave? –a rainha perguntou. –Vá falar com sua mãe. Só quero pedir um favor para Alícia Weis. Te vejo de noite, pode ser assim? E se quiser trazer Maria...
-Sim senhora –ele falou, descontente. Thaila beijou sua testa e agradeceu sua lealdade. Também disse para nunca mais apontar uma espada para Elói e ele concordou.
Encontrou Nicolle com seus olhos castanhos e Rick parados à porta da grande parede de vidro do castelo. Os dois o abraçaram, e ele retribuiu. Guiou-os até a passagem Elói-São Paulo e encontrou Maria e a pequena família de Lorena no apartamento de Madalena. Contaram tudo com todos os detalhes possíveis, e terminaram com a notícia de que Rick e Nicolle estariam indo para Érestha com Dave. Maria ficou arrasada, depois, feliz. Ainda assim, não quis ir para lá com os filhos. Para o pai de Nicolle, a notícia foi outra. Dave inventou que Nicolle havia mandado seu boletim e uma carta para a escola onde ele estudava e fora aceita. O homem a xingou por dez minutos inteiros, depois disse que não se importava e que ela podia fazer o que quisesse. Seus irmãos a abraçaram, embora não se dessem nada bem, e ela fez suas malas. Gary DiPrata deixou que os três dormissem aquela semana extra na escola, enquanto os professores se preparavam para a volta as aulas.
-Como você se sente, Nick? –Dave perguntou, quando os três estavam sentados à lareira.
-Meu mundo virou de cabeça para baixo. Não vou mais prestar vestibulares, não vou mais ouvir buzinas e trânsito toda a manhã e, principalmente, estou inserida em uma guerra de um mundo fantástico que nao conheço. E a culpa é sua, Dave Fellows –ela sorriu. –Obrigada. Argia também agradece.
-Desde quando você... conversa com ela?
-Desde que Riley falou sobre Érestha. Antes, eu nunca havia sentido nada de muito diferente, eu acho –ela tirou o casaco leve que usava. Estava calor de mais para a lareira, mas o fogo era confortável. Dave queria poder abraçar as chamas. Ao invés disso, abraçou Nicolle. Rick fez o mesmo, ao mesmo tempo. –Nós duas queremos estar aqui, e queremos ajudar de verdade.
-Estamos aqui por você... vocês... as duas –Rick atrapalhou-se. A menina beijou sua bochecha.
–Vou dormir agora. Até amanhã.
Levantou-se e fechou a porta do quarto atrás de si. Dave finalmente tinha com quem dividir o quarto na casinha azul. Nicolle dormia sozinha no quarto que um dia fora de Isabelle DiPrata. Na primeira noite, Dave e Rick mal se falaram durante o jantar. Porém, quando estavam deitados, cada um em uma cama, banhados pela luz da lua, Dave sentiu vontade de, enfim, falar.
-Sinto falta dela –começou. –Todos os dias. Às vezes é uma coisa boa, mas outras, sinto como se nunca mais fosse sorrir. É horrível.
-Eu também sinto falta de Bia –o irmão comentou. Os dois não estavam olhando um para o outro, mas para o teto. Já era um passo a diante. –Sei que não é como a sua saudade, e não vai ser fácil superar, mas isso vai passar. Um dia. Seus momentos juntos tornar-se-ão boas memórias e a dor vai acabar; vai virar saudades, e nada mais. Um dia.
Dave murmurou um 'obrigada'. Ele queria abraçar o irmão, talvez chorar num travesseiro, mas ele não se mexeu e deixou que o silêncio preenchesse o quarto por alguns instantes.
-Sabia que nosso pai e Thaila foram namorados? –perguntou, de repente.
-Sim. É uma das coisas sobre as quais preferi não me aprofundar.
-Ótima escolha.
Os dois continuaram a falar por horas, até Rick adormecer. Dave ainda fez alguns comentários, para então perceber que o menino já não o ouvia. Ele ajeitou-se no travesseiro e fechou os olhos, grato, e sentindo-se mais leve.
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