VIII -Riley
Dave, Alícia e Nicolle podiam odiar o quanto quisessem. Dirigir com o teto do carro abaixado e Dance the night away no volume máximo era muito divertido. Rick era o único que parecia entender o quão maneiro aquilo era. Riley era um péssimo morotista, isso era verdade, mas ele estava melhorando e, principalmente, se divertindo muito. Dave o fizera prometer devolver o carro a quem quer que pertencesse. É claro que ele devolveria, não tinha problema algum. Mas não era roubado, era emprestado. Era de Lilian, e a menina não queria sair por ai contando que tinha ganhado um carro conversível prata do nada. A mãe simplesmente sentira vontade de lhe presentear, e o fizera. Para Riley, não tinha problema algum em ter um carro. Era muito maneiro. Mas Lilian não gostava de se gabar do luxo em que vivia e acreditava com todas as forças que as pessoas a chamariam de mimada se andasse pelas ruas de Tâmara com o carro zero quilômetros. Os gêmeos achavam isso a maior bobagem e tentaram convencê-la de várias formas diferentes a dirigir até a praça principal da província. Deram-lhe balas, fizeram-lhe cócegas e ameaçaram roubar as chaves de seu quarto, mas ela não cedeu. Então emprestou o carro, que ainda não havia usado, para Riley e Alícia pegarem Dave em São Paulo. Aquilo era loucura para o menino. O dia que Ruby Weis desse a Riley um carro, o Sol explodiria em uma bela supernova e extinguiria todo o sistema solar majestosamente. A mãe gastava seu salário de manicure e cabelereira com compras do Wallmart, vestidos de estampa de onça e zebra e a mensalidade com desconto de Riley em Érestha. Era de grande ajuda que a própria princesa Tâmara bancava os estudos de Alícia, assim a mãe tinha sempre dinheiro guardado. Agora que Romena tinha terminado a escola e estava começando a trabalhar para um padeiro e tatuador de setenta anos, Ruby podia gastar mais com si mesma. Ou seja, mais vestidos com estampas de animais. Nem se daria ao trabalho de economizar para um carro para si mesma, que dirá para um adolescente sem carteira.
-Riley, vamos ser presos –Dave gritou por cima do refrão de Van Hallen. –Você sabe tão bem quanto eu que isso é uma péssima ideia. Vamos parar e... O que ele gosta de fazer na praia?
-Surfar –Alícia respondeu. –Andar de skate, ler livros...
-Ler livros na praia? –Rick franziu o cenho para o motorista.
-Algum problema, Fellows? –Riley perguntou, avançando um sinal vermelho. Ele tinha quase certeza de que as multas do Brasil não seriam aplicadas em Érestha. Caso contrário, estaria devendo alguns reais e uma boa esxplicação para sua namorada. –Podemos resolver isso a cem por hora, o que acha?
-Riley, pare o carro, por favor –Nicolle implorou. -Pago um sorvete para você.
Ele estacionou imediatamente, próximo a um quiosque. Pediu uma casquinha com sabores diversos para cada pessoa e Nicolle pagou para todos. Os cinco sentaram-se na areia fofa para tomar sorvete no meio do inverno. A temperatura era de dezoito graus, e Riley achava isso uma piada. Em Érestha, dezoito graus era clima de começo de outono. Ele não via a hora de voltar para o reino. Ele sentia falta da comida brasileira, do clima sempre quente, dos amigos e principalemnte da mãe, mas Érestha era o seu lugar. Alícia arrastou-se para mais perto dele os dois abaçaram-se para observar as ondas do mar. Lembrava-se de como a irmã esteve insegura quanto a assumir seu legado e estudar na província de Tâmara, e não sabia o que seria dele se a decisão dela tivesse sido ficar no Brasil. Muitas coisas teriam sido diferentes. Nada de pesadelos induzidos por Isabelle e consequentemente nada de Pedro Satomak; nada de missão da princesa Tâmara e consequentemente nada de Adnei e Alfos. Chacoalhou a cabeça. A irmã estava ali, e estaria sempre, até ele não poder mais protege-la. Nicolle começou a tossir, engasgada, e os irmãos Fellows voaram para cima dela.
-Ei, eu só me engasguei, não estou morrendo –ela protestou a atençao em exageiro.
Nicolle estava um pouco melhor desde a última vez que Riley a vira. Ela havia desmaiado na sua cozinha quando a rainha esteve em sua casa, mas se recuperara o suficiente para ir a uma festa com eles na noite seguinte. A menina dos ócuos de armação branca estava muito feliz de poder viajar até o Rio por Érestha, e Riley estava surpreso que a rainha Thaila não se importava. Estivera tão preocupada com a pedra de Argia que a menina guardava que Riley não entendia como era seguro tê-la dentro do reino de vez em quando. Ele queria entender melhor o que estava acontecendo som sua rainha. Dave dizia que ela estava mais preocupada com a felicidade da família do que com qualquer outra coisa. Ela saía com Tâmara e Elói, almoçava com os outros príncipes e organizava jantares em família a todo momento. E também fazia questão de ter Dave envolvido com alguma coisa divertida. O menino aparecia no Rio sem aviso, dizendo apenas que fazia as vontades de Thaila, mas se divertiam muito, sempre. Alícia levava Dave para as fesas com Laura Souza de noite, enquanto Riley levava o amigo e a irmã para seus lugares favoritos no Rio ou ficava em casa, jogando videogames e assistindo filmes no Netflix de Ruby. Riley via como Dave ainda estava abalado pelo seu pior dia como um todo, e julgava as ações de Thaila muito nobres. Ela queria o bem dele, apenas isso. Dave estava um tanto paranóico quanto a protegida. Ele vivia coçando o braço da marca de cobra e parecia concentrar-se a cada minuto para saber o que Thaila estava sentindo. Riley desejava que ele pudesse simplesmente relaxar e aproveitar o sorvete, a areia e o mar. Assim todos ficariam mais tranquilos.
-Que horas são? –Rick perguntou, inclinando-se para olhar no relógio de pulso cor de rosa da Barbie que Nicolle usava. –Temos duas horas livres, precisamos pensar.
-O plano é simples –Dave falou, olhando o irmão com certo desgosto enquanto esperava que ele voltasse a se sentar corretamente e tirasse a cara do colo do Nicolle. Rick demorou para arrumar a postura de propósito. –Minha mãe, Ruby e Tia Rosa ficam com Mariana na casa dos Weis preparando o jantar comemorativo. Nós trazemos eles para a praia. Rômulo pede Lorena em casamento, ela chora por algumas horas, Mari acaba sendo a dama de honra mais adorável do planeta e eles vivem felizes para sempre. Fim.
-Uau, você pensa em tudo, parabéns, gênio –Rick caçoou, ajeitando os cabelos escuros dentro do boné. Dave atirou uma mão cheia de areia contra ele, e o menino conseguiu desviar seu sorvete de chocolate no último segundo. –A questão é: como fazemos para traze-los até aqui? Que boa desculpa existe para ir na praia às sete e meia da tarde no inverno?
-Para Lorena? –Riley falou. –Qualquer desculpa. "Ei, acho que vi alguma coisa brilhante no mar hoje mais cedo, quer ir ver?" parece ótimo para mim.
-O importante –Alícia interrompeu –é fingirmos que não sabemos de nada. Nada de risadinhas e pulos e...
-Todas essas coisas que queremos desesperadamente fazer –Nicolle completou e Alícia concordou, soltando um 'awn' apaixonado que contagiou a outra menina e deixou os três garotos com a testa franzida. –As palavras 'anel', 'casamento' e 'pedido' estão extritamente proibidas hoje, entenderam?
Todos concordaram com ela. Não que Riley fosse usar qualquer uma daquelas palavras de um jeito ou de outro. Ele não achava que poderia acabar estragando tudo. Via a si mesmo como o motorista e guia do grupo, nada mais. Era sua tarefa e bastava. Deu outra lambida em sua casquinha de mirtilo e seus olhos brilharam. Já tinha a desculpa perfeita para que Lorena fosse à praia no meio do inverno.
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Lorena estava tão feliz com seu sorvete de mirtilo que não sabia se comia tudo de uma vez ou admirava a cor magnífica da delícia gelada. Não havia sido nada dfícil convence-la de que aquele era "o sorvete mais gostoso de Copacabana". Riley deixou que o meio-irmão dirigisse o carro dessa vez e Lorena sentou-se no banco da frente. Os outros cinco ficaram atrás. Alícia sentada no colo do irmão e Nicolle sentada no colo de Rick. Dave etava no meio, apertado e com uma expressão hilária de desconforto que rendeu fotos ótimas para o celular do irmão. Apesar de tudo, nem Dave pode conter-se quando todos começaram a dançar e cantar Dance the night away, que Riley acidentalemnte havia deixado tocando em loop. Depois de três vezes, ninguém aguentava mais aquela música, mas na quarta, começaram a divertir-se. Rômulo abaixou o teto do carro e desacelerou. O sol já estava se pondo àquele ponto, e as luzes da rua começaram a acender-se, deixando o momento deles ainda mais divertido. Alícia ficou em pé para dançar o refrão e Riley ficou encarreado de segurar sua cintura para ela não cair e morrer. Logo, Nicolle juntou-se a ela, e depois, Lorena. Eles cantavam os versos com uma emoção ainda maior do que o próprio Van Hallen. Depois de mais três vezes, a música ficou cansativa de novo, e Rômulo parou o carro no quiosque indicado.
Após comprar o sorvete de mirtilo que nem era assim tão bom, os sete foram caminhar pela praia. Riley acabou ficando para tras enquanto o grupo caminhava pela orla do oceano, sob a areia fofa da praia. Nicolle, Dave e Rick andavam próximos um do outro. A menina cochichava animadamente para os irmãos e eles sorriam e concordavam. Riley também estava animado. Era muito estranho, e ao mesmo tempo emocionante, pensar que sua família e a família de seu melhor amigo podiam ser unidas simplesmente com a palavra 'sim'. Em sua casa, sua mãe, Tia Rosa e as mães de Dave e Lorena preparavam uma pequena festa com champagne e petiscos para comemorar. Não entendia o porquê. A possibilidade de ela dizer sim era tão grande quanto a dela dizer não. Era impossível de se imaginar como a professora e cunhada pensava. Alícia praticamente se atirou em cima de Riley e quase o fez perder o balanço. Ele abraçou os ombros da irmã; sua altura era perfeita para que ele apoiasse o braço confortavelmente. Ela colocou as mãos no bolso do casaco com um sorriso bobo no rosto e fitou a areia.
O casal de adultos andava à frente, conversando e rindo. Andavam abraçados. Lorena estava descalça e Rômulo quem carregava os sapatos dela. Ruby gostaria de estar presente naquele momento, Riley tinha certeza, mas a mãe era a rainha Ruby, a cozinheira da favela, a sensação das datas comemorativas e preparar uma festa em sua casa sem ela era crime. Ela faria tudo ser perfeito para seu filho mais velho e a nora que tanto amava. Quando Lorena se distraiu, olhando na direção da rua, o irmão mais velho olhou para as crianças que o seguiam e piscou um olho. Nicolle e Alícia sorriram de orelha à orelha e a menina de cabelo cor de caramelo tirou do bolso uma pequena concha cor de rosa.
-Hey, olhem! –ela disse, atuando. –Uma conchinha!
Lorena foi a primeira a olhar para trás. Como Rick tinha explicado, Lorena era facilmente impressionável. Tudo que fosse simples e pudesse ser posto em seu quarto agradava a mulher. Instantâneamente, ela fez com que todos parassem e a ajudassem a achar uma concha "mais bonita e mais valiosa do que a de Nicolle", em suas prórpias palavras. Foi a deixa que Rômulo esteve esperando. Riley conhecia o meio-irmão. Podia ver em seus olhos que ele estava nervoso e ansioso. As crianças se afastaram do casal, fingindo procurar por conchas, até que Rômulo disse:
-Tenho uma que é mais bonita e definitivamente mais valiosa do que a dela.
Nicolle riu e puxou a manga de Rick com entusiasmo. Alícia deu pulinhos animados. Dave não conseguia conter o sorriso. Lorena arrumou o cabelo atrás de sua orelha e não entendeu quando o namorado pôs a mão no bolso ao falar da concha. Quando ele tirou uma concha branca do tamanho de sua palma da mão e olhou bem no fundo dos olhos dela, Lorena pôs as mãos para tapar a boca e seus olhos se encheram de lágrimas. O irmão caiu sobre um joelho e abriu a concha, revelando um anel retorcido de prata que refletia a luz do luar. Rômulo disse algumas palavras para ela que Riley não conseguiu prestar atenção. Estava muito mais focado na cena que se desenrolava do que no discurso em si. Sua professora estava chorando de emoção. Sua irmã mordia o lábio, ansiosa. Nicolle e Rick estavam paralizados numa posição engraçada, ela puxando a manga da blusa dele e ele tentado a impedir, os dois com as costas encurvadas e as bocas abertas na direção do casal. Dave mantinha a posura normal, mas era fácil perceber que estava tenso. Todos prenderam a respiração quando Rômuo fêz a pergunta. 'Aceita se casar comigo?'. As palavras pairarm pelo ar por uma eternidade. Se o coração de Riley estava acelerado, o de seu meio-irmão provavelmente estava prestes a explodir. Lorena soluçou em seu choro antes de se ajoelhar junto homem e balançar a cabeça para cima e para baixo desesperadamente.
-Sim –ela tentou dizer. –Um milhão de vezes sim.
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