V -Riley
Se ele tivesse que dizer mais uma vez para Alícia tomar cuidado com aquela ferida na perna, ficaria louco. Estava quase escrevendo um cartaz e pendurando em seu pescoço. A perna da irmã ainda doía onde Isabelle a cortara e Pedro a chicoteara. Brincar com um dragão com garras afiadas não era uma boa ideia sob essas condições. Alfos arranhou-a três centímetros acima da cicatriz, mas isso foi o suficiente para Adnei levar o dragão para longe.
-Não doeu, eu estou bem –Alícia falou, colocando-se de pé.
-Teria doido de fosse mais abaixo –Riley retrucou, segurando sua mão e levando-a até o banco de madeira do jardim de Adnei Frederickson. –Pode por favor tomar mais cuidado?
-Você se preocupa mais do que eu com isso, Riley –Alícia sorriu com uma expressão gentil e beijou a bochcha do irmão. –Estou bem.
Riley fizera ela jurar começar a lhe contar as coisas. Se qualquer um fizesse mal a ela, ele enlouqueceria. Os dois ficaram uma semana inteira culpando-se depois do funeral do rei Éres. Alícia ficara horrorizada com a história de como Riley a encontrou em Chelmno. Odiara ouvir que Riley teve que enfrentar cavaleiros mortos, legados de Tabata e chorou descontroladamente quando ele contou que a côndefa Anastrich o deixara morto por dezoito horas, preso em um pesadelo. Sua irmã sentou-se com ele e contou-lhe tudo. Falou sobre os sonhos com Isabelle, o trono de pedra onde ela e Pedro se sentavam, e contou também sobre as cartas. Essa foi, de longe, a pior parte.
-Eram poemas, no início –Alícia contara, com lágrimas escorrendo por seu rosto. –Falavam sobre como eu era bonita, admirável, essas coisas. Mas foram ficando cada vez mais... gráficos, obscuros... Até as ameaças começarem. Ameaças contra você, Dave, as princesas e até Lilian... E Pedro finalmente apareceu em meus sonhos, me disse para encontra-lo em Paris. Só fiquei sabendo que me usavam como uma distração quando já era tarde de mais. Eu sinto muito.
Riley a abraçou tão forte que ela ficou sem ar naquele dia. Eles convenceram um ao outro que não era culpa de nenhum deles e decidiram não falar sobre aquilo, nunca mais. Era o pior dia dos dois, algo horrível que não merecia ser lembrado. Quando eles chegaram em casa pela primeira vez desde o rapto, tanto Adnei quanto Ruby estavam lá para recebe-los. O primeiro momento da família verdadeira dos gêmeos. Adnei e Ruby haviam selado um pacto protetor-protegido muitos anos antes, mas Adnei não cumprira com a promessa e os dois se separaram. Foi preciso que Alícia fosse sequestrada pelo maior assassino de Érestha para os dois se resolverem. Ruby estava na casa de Maria Fellows quando eles se reencontraram. Não houve rancor, nem amor. Apenas estavam satisfeitos por terem um ao outro e estarem juntos num momento tão difícil. Eles continuariam com suas vidas como sempre, separados, mas Adnei não ignoraria Ruby se ela precisasse, e a mulher estava feliz em deixar os gêmeos aproveitarem a compania do pai.
Adnei estava adorando ter a chance de aproximar-se dos filhos. Os gêmeos ainda não tinham coragem de chama-lo de pai, e todos sabiam que talvez nunca tivessem, mas estarem reunidos para um jantar era o suficiente. Ele cozinhava bem as receitas de sua mãe, e Alfos era um detalhe animador. O dragão de estimação já estava quase grande o suficiente para ser montado. Gostava de dormir na sala de Adnei, mas não poderia ficar ali para sempre. O mais novo projeto do policial do Vale da Primavera era um cômodo apenas para o dragão. Ele tinha tijolos, madeira e palha quando começou a obra, mas Alfos queimara toda a palha e chamuscara a madeira. Alícia e Riley estavam animados em ajuda-lo na construção. Alfos não parava quieto nem quando eles o alimentavam, e colocar um tijolo cobre o outro era um sacrifício. Ele não sabia o quão grande estava e ainda queria subir nas costas de seus donos. Acabava por derruba-los a todo momento.
-Tenham cuidado –Adnei falou, aproximando-se dos filhos com um saco de cimento nas costas. –Alfos está se tornando um dragão muito mal educado.
-Isso é ruim, Adnei –o homem colocou o saco no chão e encarou o filho. Ficava incomodado de ter os próprios filhos o tratando pelo nome. Sentia-se realmente mal. –Se Alfos decidir que pode fazer o que quiser, vai acabar te queimando e te jantando.
-Ele é um dragão muito dependente de mim. Um bebê mimado –riu. –Mas creio que você saiba mais sobre dragões do que eu jamais saberei, não é mesmo? Vou adestrar, treinar e domar essa fera, verás!
-Assim espero –Riley falou. Levantou-se para ajuda-lo a continuar com a obra e Alícia seguiu-o. Riley reprimiu-a com o olhar.
-Nem adianta tentar me impedir, Riley –falou. –Vou ajudar com isso aqui.
O jantar não demorou a sair. Adnei preparou porco, molho e arroz integral. Os três sentaram-se no jardim, observando as estrelas do céu de Érestha. Riley lembrava-se de uma conversa com Chris, a garota animada dos enormes olhos verdes de sua turma, onde ela dissera que adorava observar as estrelas com seu pai quando era menor. Alícia ficara bastante chateada por nunca ter tido essa oportunidade. Ali, sentados na grama com um jantar delicioso, os gêmeos praticamente destruiram essa memória de Chris. O dragão cuspindo fogo, o molho do porco e o brilho nos olhos de Adnei eram melhores do que todas as estrelas juntas. O homem apontava para o brilho no céu e contava histórias sobre cada um deles.
-A mais brilhante delas aponta para noroeste –ele contou, mostrando a maior estrela do céu de verão. –Foi um presente do príncipe Edgar para a princesa Tamires em seu trigésimo aniversário.
-Ele fez uma estrela para ela? –Alícia perguntou, maravilhada.
-Não, Alícia –riu Adnei, recolhendo os pratos e talheres. –Ele apenas fez que brilhasse mais. É o príncipe da luz, do dia e da noite. E a princesa dos céus é sua irmã favorita. Deixe eu lavar esses pratos e trazer algumas frutas.
Ele levantou-se e entrou em casa. Alícia deitou na grama e puxou o irmão para junto dela, sorridente. Alfos julgou o movimento agitação o suficiente para cuspir fogo e pular por cima deles, animado. Riley foi rápido em expulsar ele antes que machucasse a perna da irmã, e o dragão começou a pular pelo jardim, perto de mais do novo quartinho que estava sendo construido para ele.
-Você me daria uma estrela? –ela perguntou, sorrindo para a noite.
-Está brincando? –ele riu, virando a cabeça na grama para encarar a irmã. Ele estivera tão perto de perder aqueles olhos castanhos, o sorriso tão verdadeiro que sorria só para ele e seu jeito adorável de ficar constrangida e quieta em um grupo de pessoas. Riley não existia sem a gêmea. Impossível. Ele segurou sua mão. –Lice, eu te daria o céu inteiro. Nem que eu tivesse que batalhar contra Missie e aquele guarda-chuva elétrico dela. Afinal, você é minha irmã favorita.
-Sou sua única irmã -sorriu. Algumas lágrimas de felicidade brotaram e escorreram de seus olhos. Ela ajeitou-se na grama e passou um braço por cima de Riley para abraça-lo. -Obrigada, irmão.
Alfos não demorou para sentir-se enciumado e pular no meio do abraço. Aquela fora a primeira noite que os gêmeos pasaram na casa de Adnei. Ficaram os quatro reunidos na sala e assistindo televisão até de madrugada. Alfos não gostava de ser excluído do sofá e eles tiveram que expremer-se para caberem todos. Alícia dormiu com a cabeça no ombro de Riley e o braço de Adnei ao redor de seu pescoço. Riley adormeceu com um sorriso.
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