T4:C8 - Judas
ANTES
Todos no grande porão estavam quietos, trocando olhares amedrontados pela captação da sinfonia mórbida que parecia crescer mais e mais. Os líderes a 10 metros de altura também estão calados, deixando os tímpanos acusados para registrar os grunhidos abafados.
Derick, grudado ao parapeito amarelo, vira-se para Luís e sussurra.
– Comigo. - indica a saída.
Luís assente, concordando baixinho como se qualquer mínimo barulho fosse trazer as criaturas lá para dentro.
Antes de ir, Derick pede para Hope tomar conta do pessoal. Ele e Luís saem pela porta dupla e passam a andar em passos largos no longo corredor.
– Que merda tá acontecendo? - Luís questiona, mesmo sabendo que o loiro não tinha uma resposta.
Derick abre a porta impulsionando com ombro. O frio da noite arrepia os pelos de seus braços, a ventania levanta seus cabelos loiros até os ombros e faz a ponta de seu nariz congelar na hora. Ele se aproxima da beira do navio para ver melhor o bando numeroso partindo da praia.
Percebe-se os contêineres escancarados na areia marcada por pegadas fundas.
– O que aconteceu? - Luís cochicha.
– Eu não sei. - soa inaudível.
Os faróis da picape ganham atenção deles. Eles segue o automóvel lá de cima, que entra no píer de madeira escura e para ao lado da rampa para subir ao navio. A dupla não tarda a descer para receber então Trevor, que deixa o veículo para tirar um corpo do banco traseiro.
– O que isso? - Derick franze o cenho.
– Nossos observadores. - pega Stewart pelas axilas e arrasta o corpo para fora. As pernas molengas caem. – Vão me ajudar ou não? - diz espremido devido ao peso.
Luís toma a frente, contornando o carro para pegar Janet.
– O que vai fazer com eles? - Derick se mantém curioso.
– Não é óbvio? Pega. - lhe passa o desacordado.
Derick agarrou o corpo de mau jeito, tendo o peso sustentado em um braço só.
– Todos estão reunidos? - pergunta Trevor.
– Sim, mas...
– Ótimo. Quero que vocês dois levem os bisbilhoteiros para a cabine do piloto. Amarrem forte. Depois vão para o porão. Temos muito o que fazer. - encerra, partindo para a escuridão interior.
Derick acompanha ele com os olhos até que suma de vista. Dá uma respirada funda e volta-se ao desacordado em seus braços.
(...)
O monte de vozes irradiam-se pelo porão como uma festa num grande salão. Assim que Trevor chega em posse do machado, é alvo dos olhares dos presentes que o fitam até chegar no parapeito amarelo e bater a lâmina do machado nele. O barulho agudo é alto o bastante para calar todos e fazê-los olhar para cima.
– GOSTARIA DA ATENÇÃO DE TODOS NESSE MOMENTO DE DÚVIDAS, QUE EU SEI QUE VOCÊS TÊM. SEREI BREVE! NÃO SEI SE PERCEBERAM, MAS NOSSO LÍDER NÃO ESTÁ PRESENTE FAZ HORAS. ISSO TEM UM MOTIVO. - apoia a mão no corrimão gelado. – NESSA MANHÃ FOMOS SURPREENDIDOS COM UM RECADO DOS NOSSOS AMIGUINHOS DA ESCOLA. ELES ARMARAM UMA EMBOSCADA PARA O GORMAX NO CAMINHO PRA LÁ, E ADIVINHEM, ELE CAIU! NÃO TINHA COMO SABER. NÃO FELIZES COM ISSO, DESCOBRIRAM ONDE MORAMOS E FIZERAM UM CERCO DE ATIRADORES! - feições e grunhidos enraivecidos são notados por ele. – PREFERIMOS MANTER EM SIGILO PARA QUE AS COISAS NÃO SAÍSSEM DO CONTTROLE. E DEU CERTO. - sorri. – O QUE VOCÊS OUVIRAM FORAM OS MORTOS DOS CONTÊINERES. ELES ESTÃO SENDO GUIADOS ATÉ A ESCOLA NESSE MOMENTO. E OS ATIRADORES? CAPTUREI DOIS DELES. SENDO ASSIM, ESTAMOS TRÊS PASSOS A FRENTE DOS CUZÕES. VAMOS SAIR E MOSTRAR PRA ELES QUE NÃO NOS RENDEMOS TÃO FÁCIL!
A torcida reverbera em uníssono: É. ISSO.
– SOMOS GOLDERS! NÃO VAMOS DEIXAR QUE IMBECIS PISEM NA GENTE E SAIAM ILESOS. ELES QUEREM BRIGA? TERÃO BRIGA! FAREMOS TUDO PRA HONRAR O NOSSO NOME E LEALDADE AO NOSSO LÍDER! FAREMOS ISSO POR ELE. POR GORMAX! - ergue o machado.
– POR GORMAX! - repetem.
Todos gritam em euforia, socando o ar e rugindo numa orquestra desafinada.
Hope vê a convicção nos rostos de cada um na multidão. Uma confiança e um anseio ardente nunca antes manifestado para com Derick quando líder. A agitação toma conta até dos presentes ali em cima, do quais ela pondera a empolgação vagarosamente até que pouse os olhos em Derick parado na porta com as mãos na cintura e um semblante indecifrável.
– SE ARMEM! ATACAREMOS AO AMANHECER! - Trevor encerra, partindo com o cabo do machado apoiado no ombro.
AGORA
– Tá sentindo esse ar nostálgico, Ru? Cacete, parece que foi ontem em que estávamos na selva comendo cu de coelhos.
– Fica quieto, droga! - Rulek o cutuca com a ponta da arma.
Gormax vira-se para o anão.
– Ai, me responde uma coisa. Como você, com essas perninhas de baby alive conseguiu me alcançar? Não veio com um triciclo ou um bat móvel?
– Você nunca cala a boca?
Gormax bufa, sorrindo posteriormente.
– Eu sei que o que estamos passando não é a melhor das ocasiões, mas você precisa entender...
– Porra nenhuma! - Gormax para de andar. Rulek continua a protestar – Eu sei o suficiente pra saber que não se importa com ninguém. Você nos usou pra chegar na droga daquela comunidade, e quando o Richard morreu você agiu como se ele nem existisse. Pode falar qualquer coisa, mas nada vai mudar. Saiba disso.
– Você é direito nas palavras, admito. Tá certíssimo, cara. Mas olha, eu não sou um robô sem emoções. Palavras me machucam também.
– Foda-se.
Rulek o empurra para que retome a caminhada.
O refém breca ao chegar num barranco, estupefato quando vê o cadáver de Sabrina se deteriorando ao redor dos galhos finos. Comprime os lábios e cerra os punhos.
– Fizeram um ótimo trabalho, seus merdas. - rosna, descendo o barranco.
Ele se aproxima do corpo sem tirar os olhos do grande buraco de carne corroída e grudenta no tecido da roupa. O sangue se mistura com o dos mortos, exalando um odor mais forte ainda, que faz Gormax franzir o nariz e recuar por um instante.
Rulek fita o refém se ajoelhar ao lado do corpo fétido, mantém a mira, levando os dedos ao pequeno nariz.
– Ela era uma boa pessoa.
– Nem imagino. - Rulek diz espremido pela aperto no nariz. – De pé.
Gormax levanta rangendo os dentes. Repentinamente, usa a perna esquerda para deferir um chute no homenzinho que acaba caindo facilmente na terra molhada de sangue.
Rulek termina de rolar e efetua um disparo aleatório, retomando a visão aos poucos. Ele vê Gormax correndo entre as árvores com as mãos atadas nas costas, saltitando pedras e troncos. Rulek estica o braço e tenta fixar a mira, mas o alvo some de vista.
– Filha da puta. - inicia uma corrida o mais rápido que pode.
(...)
Fazem vinte minutos que Axel e Nelson chegaram a 26 ST. Eles aguardam dentro do Mustang camuflado pelas vinhas, quase na margem da floresta para que possam observar movimento na estrada.
Entre os bancos da frente está um pacote de salgadinhos cheetos em que Nelson se delicia.
– Como você ainda está vivo? - Axel o olha.
– Não se recusava comida antes, nem agora. É o fim do mundo. - diz de boca cheia. – Pega aí. - aponta com o dedo laranja.
Axel nega, tomando foco a estrada novamente.
– Alguém na escuta? Câmbio.
O militar pega o walkie-talkie sobre o painel e leva a boca.
– Tô aqui, Ru. Cadê você?
– Tive um contratempo. O Gormax fugiu.
– Filha da puta.
– Axel. - Nelson o cutuca e aponta para a esquina.
Axel vê Gormax saindo da margem da floresta para retomar o ar encostado na placa de velocidade. Sua perna atingida sangra, manchando a calça cinza.
Nelson não tarda a dar partida no Mustang, arrancando para a estrada em um ronco do motor que alerta Gormax.
– Puta que pariu. - Gormax corre mancando para o outro lado da rua.
Axel dá uma rajada de tiros da janela, subindo as pedrinhas do asfalto como se fossem o rastro do fugitivo, que é atingido no ombro. Gormax adentra a floresta e o Mustang freia bruscamente.
– Eu vou atrás. Você dá a volta. - Axel diz tudo muito rápido, deixando o banco carona em posse do fuzil de assalto.
Nelson deu marcha ré e manobrou o Mustang.
Gormax esconde-se atrás da árvore. O peito arfando em exaustão, as pernas queimam e tremem mesmo apoiado ao tronco. Ele engole em seco e range os dentes ao sentir a pontada da bala alojada em seu ombro.
BUUM. - cascalhos voam da árvore.
Ele bate em retirada como um animal espantado, ganhando forças nas pernas para saltar o riacho e subir o barranco para o viaduto com uma concentração grande de carros abandonados, onde perambulam desmortos sem rumo. Gormax desliza sobre o capô do Fiat vermelho e segue agachado por entre os carros.
Axel chega derrubando um zumbi sem mandíbula, para então engatilhar o fuzil e iniciar a busca pelo fugitivo. Cada carro é revistado conforme avança pelo corredor.
Há um Winnebago tombado para o lado na beira do viaduto. É onde Gormax parou para recuperar o fôlego, alternando da figura do militar distante ao caminho à frente. Estava pronto para partir se não fosse pela vinda do padre de coloração cinzenta que quase lhe arrancou um pedaço da bochecha.
Gormax parou a criatura de cabelos grisalhos nas laterais com o joelho erguido, ficando pressionado contra a janela traseira do Winnebago.
Axel não demorou a avistar ambos e iniciou o fuzilamento desenfreado de balas. O padre foi mais atingido e uma das balas parte o vidro da janela, fazendo a dupla cair para dentro do enorme veículo.
Gormax bate as pernas conforme se arrasta para longe do padre esburacado, levanta feito bêbado e corre para o painel, esquivando dos armários abertos e saltando a porta do banheiro no percurso. Ele pega um caco de vidro do chão, senta-se de frente para a traseira e começa a roçar o vidro na corda enquanto fita o padre se levantar.
As amarras são cortadas. Gormax levanta disparado na direção do padre e o empurra para fora como um quarterback. O zumbi cai nos braços de Axel bem na hora que aparece. O militar joga o corpo molhado no chão e efetua dois tiros na sua cara. Gormax prende Axel num abraço traseiro, gira arremessando ele para dentro do trailer de viagens.
Axel toma controle das pernas, mal conseguindo processar o avanço rápido do inimigo, o que rende o tombo deles e a queda do fuzil para dentro do banheiro no chão. Sobre ele, Gormax sobe o punho para um soco, somente não efetuado pelo golpe em sua costela. Axel chuta ele para longe e levanta ligeiro, subindo um soco bem no queixo que faz Gormax cuspir.
Gormax fica atordoado, cambaleando para trás. Axel tenta outro soco, mas Gormax consegue se esquivar e descer o armário fechado no teto direto na face do soldado. Axel recua.
– Eu esperava uma luta melhor. - comenta Gormax.
No exterior, o Mustang chega ao viaduto atropelando dois corpos flácidos de zumbis. Nelson sai do veículo e logo deduz onde ambos estão devido a ida dos mortos para dentro do trailer tombado. Ele puxa a machadinha, decepando cabeças no trajeto até o veículo.
Gormax derruba Axel num chute.
O militar cai sobre a geladeira fixada a parede/chão, abre o freezer e passa a jogar as comidas estragadas nele. Gormax vai recuando a cada colisão. Uma compressa de gelo é jogada por último. Axel fica de pé, dando uma sequências de socos seguidos de rugidos ferozes.
Gormax bloqueia o próximo, usa a mão livre para enfiar o caco de vidro na coxa dele e deferir um soco em seu abdômen posteriormente. Ele se atira para cima de Axel e ambos caem sobre o enorme para-brisa sujo que proporciona a vista do horizonte e o começo da avenida sob o viaduto.
Zumbis entram na traseira. Seus rosnados soam mais altos que os rugidos dos lutadores. Conforme vão chegando mais peso é depositado em um lado só do Winnebago, já ameaçando cair para frente.
– Se eu pudesse. - Gormax lhe dá um soco com a canhota. Axel cospe sangue. – Teria feito diferente. - dá outro soco. – Mas vocês que começaram essa merda! - outro. – Só estou revidando - mais outro.
Axel sente o trailer tombando para frente. O ranger metálico faz o vidro em suas costas vibrar. Ele pressiona o buraco de bala no ombro de Gormax, que solta um grunhido entredentes e lhe defere outro soco para cessar a dor.
Uma freira de olhos amarelos e dentes feito navalhas debruça-se nas costas de Gormax. Ele recua a tempo de chocar ela contra a parede e notar os doze famintos presentes no pequeno espaço.
– Agora fodeu gostoso. - chuta o líder da fila.
Um mendigo avança em Axel, que lhe para pressionando a bota contra sua barriga. Outro zumbi passa pelo mendigo e joga-se sobre ele. Axel pousa o antebraço na garganta pálida da criatura, agora baforando o mau hálito centímetros de seu rosto.
KRACK!
O para-brisa quebra.
Axel consegue se agarrar ao enorme limpador de vidro que estala na descia brusca. Os dois zumbis caem seco e têm as cabeças explodidas na colisão com o asfalto.
O Winnebago vai cedendo para frente.
A paisagem que antes o para-brisa mostrava se alterou para o asfalto sujo e repleto de carros logo abaixo.
Gormax joga uma freira para a queda livre, empurrou dois moribundos com vestes sociais e começou a escalar o Motorhome.
Os zumbis passam por Axel durante a queda. Ele se agarra no retrovisor externo, sobe na lateral do trailer e começa a correr sobre a lataria que pouco a pouco vai descendo. A traseira sobe; a ponta de suas botas começa a deslizar e o soldado se joga para o lado, no desespero.
Nelson presencia o enorme corpo do militar colidir contra a carcaça da ambulância adjacente, causando um estrondoso metálico. Também vê o Winnebago deslizar feito manteiga viaduto abaixo.
Lá dentro, Gormax se embrenhou dentro do banheiro e fechou a porta na mesma hora em que a frente do veículo colidiu no asfalto, resultando em sua batida brusca contra a parede. O baque dos corpos molhados no para-brisa foi abafado lá dentro.
O Winnebago se mantém de pé por alguns segundos até que o metal passa a ranger ameaçando tombar de frente, o que não demora a acontecer. Ele cai por cima do Toyota cinza em um estrondo que reverbera por toda a avenida, e por consequência, Gormax choca as costas na porta sanfonada.
O último zumbi despenca do viaduto e explode na carcaça do trailer.
Nelson e Axel vão até a beirada e observam o feito.
– Foi um salto e tanto. - Nelson elogia.
Axel lhe lança um olhar em estranheza.
– Valeu.
– Ele ainda tá vivo?
– Esses aí demoram pra morrer. Vamô lá.
* * *
– Janet. Janet.
A jovem de cabelo rosa ouve seu nome de fundo conforme desperta. As pálpebras pesadas tremem no processo em que ergue a cabeça e se dá conta de estar em um ambiente repleto de painéis empoeirados e uma extensa janela curvada. Nota-se também estar presa na cadeira junto a Stewart, grudados um no outro com a firme corda que marca seus braços.
– Onde...
– É o navio. - Stewart adianta.
– Quanto tempo estamos aqui? - vê a luz do dia na janela.
– Não sei. Mas desde que acordei ninguém apareceu. Estava tentando te acordar para sairmos daqui.
– Como? - balança-se inutilmente.
– Ali. - indica com a cabeça para o painel ao lado.
Sobre o painel, há ferramentas devidamente enfileiradas, provavelmente serventia para tortura.
– Como a gente chega lá? - ela pergunta.
– Pulando.
Janet olha para as cadeiras grudadas e assente.
– Saquei. No três, então. Um. Dois. Três.
Em sincronia, eles impulsionam os pés no chão e saltam o par de cadeiras dois centímetros para o lado. Eles se olham sobre os ombros, sorrindo.
– De novo. Um. Dois. Três.
Eles avançam mais três centímetros.
– Um. Dois. Três...
A porta é aberta e a dupla tomba para o lado chocando as cabeças no piso.
Derick entra no campo de visão deles. Ele espia o corredor antes de fechar a porta e ir na direção de Stewart com o canivete em mão.
– Espera. A gente...
– Shhhhh. - Derick se agacha. – Vou tirar vocês daqui. - serra a corda.
– O quê? Por quê? - Janet franze a testa, erguendo a cabeça para olhá-lo.
– Me agradeçam depois. - parte a primeira. A dupla sente a leveza nos braços marcados. Derick corta a última entre eles e levanta posteriormente.
Ambos se livram das amarras e ficam de pé encarando seu salvador com receio.
– Aqui. - Derick retira uma pistola de trás do cinto e estende à Janet. – Pegue.
Ela olha para a arma, depois para ele, joga um olhar desconfiado para Stewart e volta para a arma. Derick sacode a automática. Janet toma posse da Ruger .55.
– Só tenho esta. - diz ele – Escutem. Temos que ser mais cautelosos possíveis. Sei o que devem estar pensando, mas agora não é hora. Temos de ir. - se adianta indo em direção a porta. Ele espia o corredor antes de abrir totalmente.
Derick parte para fora lhes chamando com a cabeça. Eles seguem o loiro, hesitantes.
– Cheio. - sussurra Janet para Stewart após verificar o pente.
– Mantenha-a destravada. - sussurra de volta.
Eles observam o loiro espiar o corredor antes de seguir em frente, permitindo a vinda deles com um aceno.
– Pra onde vamos exatamente? - Stewart perguntou por cima do ombro dele.
– Tem uma passagem que leva ao porão. Só temos...
Derick volta abruptamente. Stewart esbarra em suas costas e Janet nas dele. Derick abriu a porta mais próxima e embrenhou a dupla no pequeno espaço que fedia a mofo. O ambiente foi tomado pela escuridão após o fechar da porta que foi simultâneo na chegada de Stefan no corredor.
– Derick? Oi. - sorriu Stefan.
– Oi. - ele força um sorriso. – O que faz aqui? - tenta disfarçar.
– Trevor me pediu levar os reféns aos caminhões.
– Sério? Por que você?
– Por que não? - franze a testa.
– Bem, é... Não querendo ofender, mas você não parece ter...
– Eu entendo. Mas ele deu essa missão a mim, então. - levanta os ombros.
– É. - balança a cabeça. – Deixa que eu faço. Sabe, sei como intimidar.
– Isso é bom. Você pode ir comigo. - passa por ele.
– Espera. Espera. - puxa o cientista pela gola do jaleco. – Eu acho que posso fazer isso sozinho. Me entende?
Stefan olhou para sua mão, depois voltou a encarar o sujeito com o cenho franzido.
– Alguma problema com a porta?
Derick percebeu que ainda mantinha o braço segurando a fechadura do armário de vassouras. Soltou o trinco, sorriu em deboche e fechou o punho.
– Desculpa, Stef.
Derick virou um soco certeiro no queixo do baixinho, forte o suficiente para virar o corpo e apagá-lo instantâneamente.
O armário foi aberto de dentro, revelando as feições surpresas da dupla espremida.
– Me ajuda a esconder ele. Pega os pés. - pede a Stewart, se agachando para agarrar os braços.
* * *
O El Camino líder do grande comboio diminuiu a velocidade gradativamente pela vinda repentina de Axel, Nelson e Rulek na margem da floresta. O trio nem prontificou as armas, logo reconheceram o time devido ao esportivo preto com listras vermelhas no capô.
Spencer saiu do carro e encarou a escadinha quase perfeita começada por Axel na esquerda e terminada por Rulek na direita.
– Vocês tão um caco.
– Não me diga. - Rulek desdenha.
Samora desceu da caçamba do El Camino, se juntando a conversa.
– Vimos um bando inteiro indo pra casa. Tinha gente entre eles. - conta ela. – Erich acabou muito ferido.
– Que merda. - Axel anda em passos firmes até a traseira para ver o estado do besteiro.
– Nós vimos eles chegando. - diz Nelson. – Foi uma bagunça.
– Estão todos bem? - Samora pergunta.
– Sim.
– Claro que não. - resmunga Axel. Todos olham para ele. Suas mãos estão firmes no metal preto e os dentes cerrando de raiva. Ele tira os olhos do besteiro desacordado e encara cada um deles. – Temos que nos apressar. Perdemos o cretino. - segue para a caminhonete. Spencer e os outros seguem ele com os olhos. – Provavelmente ele vai estar com os amiguinhos dele em poucas horas. - parou na porta do piloto. – Isso significa plano c. - entra no carro e bate a porta com força.
* * *
A praia onde estão os enormes navios encalhados tem a aglomeração de pessoas e carros. Mesmo sabido de não estar mais sob vigia, Trevor ainda esquadrinha as colinas em volta.
– Trevy.
Ele vira-se para Sharon que já tem metade do corpo dentro do Jipe.
– Estamos prontos.
– Ótimo. Mas cadê aquele corno do Stefan? - deposita a barra de ferro no capô.
– Eu disse pra mandar outra pessoa.
– Vou averiguar. - inicia a caminhada de volta ao navio.
No pequeno quarto quase preenchido pelo gerador redondo no canto da parede, Derick levantou a escotilha do assoalho e clareou a escada enferrujada no facho da lanterna.
– Certo. Só me sigam. - põe a lanterna na boca e desce.
Janet vê o loiro ser consumido pouco a pouco pela escuridão do buraco que sobe calor. Ainda hesitante, a moça pôs o pés no primeiro degrau.
Stewart fechou a escotilha ao descer por último. O choque das solas nas ferragens ecoam na imensa escuridão e se estende ainda mais depois que pula os dois últimos degraus.
– Que lugar é esse? - pergunta Stewart.
Derick joga o facho prateado pelo longo corredor.
– Era aqui que faziam a potranca funcionar. O lado bom é que só um corredor reto. Ficaria surpreso se vocês se perderem.
– Seja o que for, tire a gente daqui agora. - Janet diz rápido e ofegante.
– É claustrofóbica?
– Sim. - pigarreia.
– Venham. - aperta o passo.
O trio praticamente corria no longo corredor repleto de tralhas empoeiradas e teias gigantescas que dominavam a maioria das fornalhas. Poeira se agitava no facho luminoso e o calor dominava seus corpos, o que fazia Janet respirar cada vez mais rápido. A arma em sua mão escorregava pelo excesso de suor.
Derick parou rende a porta sem cantos, prendeu a lanterna entre os dentes e depositou as mãos na ferrugem redonda da trava.
Enquanto ele girava, Stewart viu Janet se sentar para controlar a respiração. Seu rosto não escondia o desespero pela busca de ar e o anseio por sair daquele ambiente que parecia encolher na escuridão.
Stewart se agachou em frente ela.
– Ei. Respire comigo. - gesticula, pondo uma mão sobre o ombro dela. – Assim. - inspira e expira lentamente.
Janet faz o mesmo. A respiração sai trêmula.
– Anda logo. - Stewart resmunga de canto.
– Quase lá. - diz Derick entredentes, forçando a trava para o lado.
BAAM.
O lampejo que ecoou no escuro estourou a cabeça de Stewart diante dos olhos de Janet, que com o rosto banhado em sangue, tombou para trás gritando em desespero.
Um facho prateado surgiu pairando no fim do corredor. Derick se juntou as sombras e espreitou entre as ferrugens aquela silhueta alta portando o que parecia uma caçadeira.
– SAIAM AGORA! - ordenou Trevor.
Janet tampou a boca. Seu peito subia e descia freneticamente; os olhos ardiam.
– NÃO TÊM ESCAPATÓRIA, DERICK! APAREÇA!
Os passos minuciosos eram o único reprodutor de barulho, ficando cada vez mais próximos.
O facho da lanterna pairou sobre o corpo debruçado no meio do corredor, o que permitiu tanto Derick quanto Janet verem a gelatina rosada do lóbulo se espalhando rapidamente, ameaçando chegar na sola de seus tênis.
Um rugido de raiva anunciou o ataque de Janet na lateral. Trevor conseguiu se esquivar e voltar dando uma coronhada bem na cabeça dela. Derick se manifestou para efetuar o disparo. BAAM. A caçadeira foi mais rápida.
Derick despencou sobre o sangue viscoso, pressionando o braço esquerdo. Seu rosto se torna alvo do cano e da luz. Ele espreme os olhos.
– Eu já podia imaginar. - Trevor murmura.
– Então termine.
– Talvez outro dia.
Trevor defere um chute que apaga o loiro instantâneamente.
(...)
Trevor virou o centro das atenções conforme vinha como um brucutu na direção dos veículos. Em seu semblante muitos já conseguiam deduzir o que acontecera.
– E os reféns? - Sharon ousa perguntar.
Ele estava prestes a responder quando avistou um único veículo surgindo a frente.
– ATENÇÃO! - ele berra.
Todos erguem as armas.
Trevor toma a frente com a MP5.
O Fiat Palio diminuiu a velocidade e parou cerca de vinte metros deles. O para-brisa escuro não permitiu que vissem o motorista, obrigando Trevor a avançar com cuidado até a janela.
O vidro desceu devagar, revelando o rosto cheio de cortes e hematomas de Gormax.
– Chefe? - Trevor baixou a arma, desacreditado.
Gormax cresceu um sorriso no canto da boca, virando vagarosamente o rosto para encará-lo.
– Vejo que já mandou um discurso daqueles.
– É. Eu os preparei.
– Bom menino. - umedece os lábios ainda feliz. – Eu e meu carona precisamos de um atendimento especial.
Trevor se curva para ver Beneke no banco ao lado, completamente sujo de sangue seco.
– Ele me falou do planinho de vocês no caminho. - Gormax conta. – Muito espertos. Agora me diga, tem algo com que eu precise me preocupar ainda mais?
– Tem, sim. - encara o líder.
(...)
Derick ganha luz na abertura da porta. Ao olhar o responsável, cresce uma tensão interior que o faz suar frio e levantar uma das sobrancelhas involuntariamente.
– Feliz em me ver? - Gormax sorriu, escorado no batente. Se aproxima pacientemente sob o olhar indignado do loiro e agacha-se bem a sua frente. – Eu devia ter previsto. Previsto que o cuzão que eu deixei viver mesmo depois de cuspir na cara, iria virar a casaca hora ou outra. Por que não fugiu com o Nylon de uma vez?
Derick funga, nega com a cabeça.
– Entendi. Você só tem culhões pra agir sem a minha presença. Recebe a notícia do meu sequestro e muda de ideia assim. - estala os dedos. – E eu achei que você era menos covarde. Mas veja, agora tudo está nos conformes. Vamos chegar lá e mostrar quem é o rei da porra toda. Jesus Cristo! Esse dia vai ficar marcado no diário como dedo no cu e gritaria. - sorri. – Adoraria que fosse ver.
– Eu...
– Por favor, D. É um convite único, não pode recusar. - levanta. – Me deixaria muito decepcionado. - agarra sua gola.
Gormax arrasta o sujeito para fora, pondo-o de pé e o jogando para frente do corredor. Derick perde o controle e cai de quatro.
– Vamos lá, garoto. - bate em seu ombro. - Como diz o Willy Wonka, há muito o que ver.
— 4.08 —
"Judas"
Agora vamos andar com essa bagaça.
Derick tentou dar uma de esperto e sambou na jaca. Stewart teve um verdadeiro mindblown nesse capítulo. Pobre coitado.
Agora Gormax retornou ao grupo e promete uma putaria desenfreada pro lado do bonde neurótico.
Veremos.
† Stewart - 3X15 - 4X08
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