T4:C7 - Fora do eixo
O que antes causava bagunça no portão, agora era escutado pelos guerreiros no lado de fora da comunidade. Eles olharam em sincronia por cima dos ombros, tendo a perspectiva de vinte ou mais Golders correndo pelas ruas da cidadezinha, invadindo casas, fazendo reféns e outros simplesmente fugindo.
O time deslocou-se para dentro, ignorando o resto do bando de zumbis atrás. Eles são recebidos por saraivadas de uma AK que arranca faíscas do portão e dos carros próximos.
Axel e Phillip tomam cobertura por trás do jipe. Cristina, Jack e Han misturam-se ao gramado, tomando banhos de terra que sobem no fuzilamento.
Deitada na plataforma, Yuki atinge o responsável com uma bala na cabeça.
Dentro da enfermaria, Harry protege Vanessa empunhado de uma semi automática maior que seu braço. Ele tem uma visão ampla do recinto por estar no centro, atento a entrada e os fundos, que então é escancarado por dois fugitivos. Harry dá seis tiros sequência nos invasores.
A porta da frente é aberta. O garoto vira o fuzil na direção da porta.
– Sou eu! - Han intervém o disparo.
Harry respira aliviado.
O asiático joga a G18 para Vanessa, na cama, posteriormente engatilha a Marlins .55 e fica de costas para Harry. Ambos ficam de prontidão em cada entrada.
Phillip avança com Mitt, Kátia e Neiva para a praça, subindo o banco de concreto e acertando um dos prisioneiros com um chute em seu maxilar. Rolou no chão e levantou com a pistola engatilha, disparando nos três Golders que fugiam no lado oposto.
Neiva contorna a praça no tempo certo para surpreender os prisioneiros. Eles brecam ao vê-la.
– Nos rendemos. - Naomi desiste, levantando as mãos.
Ben foge de um Golder em posse da lança do guarda, saltando os corpos mortos no asfalto. Ele passa entre a enfermaria e uma casa chique, faz a curva e se depara com mais outro Golder que contornara a estrutura.
O rapaz leva uma rasteira da lança e cai de cabeça no gramado. Os dois prisioneiros o encaram, risonhos.
– Esse aqui já era. - diz o grandão, levantando a lança para uma enterrada funda no peito do rapaz.
Um estampido curto interrompe tudo; o homem caiu sobre Ben com o buraco no peito, jorrando sangue. O outro olha para os fundos da enfermeira e na mesma hora tem o olho estourado pelo projétil disparado por Harry.
Ben treme compulsivamente, encarando o cadáver sobre si. Virou a cara para expelir todo o choque e nojo no chão. Termina com um pigarro profundo, passando a mão na boca e encarando o menino caolho na entrada da enfermaria.
– Obrigado. - sussurra ele.
Harry lhe deu um aceno de cabeça.
Gormax e Henrique fogem pelo corredor da escola para chegarem aos fundos da comunidade.
Os residentes de School City são fuzilados pelos prisioneiros; corpos caem da escadas, outros baqueam na virada para o corredor.
Gormax pisa numa poça pegajoso de sangue, levanta o pé e o fio volátil sobe grudado na sola. Enquanto sacode a perna, dá uma olhadela para o armário ao lado e acaba vendo os olhos entre os três buracos. Ele cresce um sorriso espontâneo enquanto encara os pares de olhos azuis se enxergando de lágrimas.
– Jesus. - levanta a M911, mira no armário.
Um NÃO! soa tardio e dois tiros são efetuados no metal azul do armário. O som do corpo deslizando é abafando.
Gormax baixa a arma e admira o corredor composto de corpos jogados aqui e ali.
– Então foi assim em Columbine?
Henrique olha para trás após checar o corredor próximo.
– Podemos...
Uma coronhada apaga o sujeito.
Gormax recebe um tapa no braço - que derruba a arma - e posteriormente cai para dentro de sala com o puxão. Ele levanta rápido para que consiga se esquivar do golpe que Duane acaba deferindo na lousa, prendendo o facão no quadro negro. Gormax volta com uma coronha. Duane recua, bate no braço dele e lhe dá um cruzado de esquerda que o joga para a mesa da primeira fileira. Ao avançar, Duane leva um chutão na barriga e dá com as costas na lousa.
Duane se agacha, pega Gormax pela cintura e se atira junto a ele por cima das carteiras. Gormax desce uma cotovelada nas costas do militar e o joga para parede. Duane parou as mãos nas obras das crianças do primário, se apossou de uma régua de madeira e voltou em um golpe que corta o ar pela esquivada ligeira de seu algoz. Ele bloqueia o soco com a canhota e dá uma cabeçada contra sua testa.
Gormax cambaleia para trás com a mão na cabeça, até a janela da sala.
Duane acerta a régua longa no braço esquerdo dele em um giro tão forte que parte a madeira e faz a poeira do giz branco correr no ar. A metade da tábua vai parar no meio da sala e a régua fica pontuda, o que não demora para que seu portador tente enfia-la nos olhos do atingido.
Gormax interferiu com o braço direito. A ponta fica centímetros de seu globo ocular arregalado, que vê a madeira estremecer no ar e os dentes do militar trincaram fortes atrás dela.
Gormax soca a barriga dele, chuta a mão que segura a régua - arremessando-a para a porta - e dá um soco de direita que vira o rosto de Duane. Mais um de esquerda. Outro de direita. Outro de esquerda e um jato de saliva espessa escapa da boca do agredido. E por fim, um soco bem no meio da cara derruba Duane de vez sobre as carteiras.
Debruçado a mesa, ele cospe uma quantia de sangue no chão, ergue a cabeça para ver Gormax avançando em punho de sua faca. Duane firma as mãos nas extremidades da carteira e chuta sua virilha com as duas botas pesadas. Gormax recua pressionado o membro, brecha para que Duane avance e dê uma joelhada em seu queixo. Gormax só consegue processar o soco seguinte que vem em seu rosto, tombando para o lado com a coluna curvada.
Gormax voltou em um giro passando a faca centímetros dos olhos de Duane, que teve o reflexo para se esquivar do golpe; usa a mão livre para jogar o apagador nele e atingir bem na mão usada como escudo.
Duane o vê avançando com o braço erguido e descendo a faca em diagonal, ele agarra seu braço no ar, parando a lâmina. Gormax solta a faca e a pega com a canhota baixada, conseguindo então enterrar a faca no abdômen dele. Duane não sente a dor. Gormax franze a testa em estranheza e acaba levando uma cabeçada que o faz recuar.
BANG!
O tiro atinge Duane bruscamente, que cai contra a prateleira no impulso que, consequentemente, desaba sobre ele.
Gormax olha na direção do tiro e vê Henrique em prontidão na porta, puxando a talha.
– Vambora.
Wellman se apossou da faca do guarda assassinado para então render o Dr. Tyler, obrigando-o a levá-lo até o armazém na companhia de mais cinco Golders. Ao chegarem, o refém é posto contra a parede e só assiste os prisioneiros se armarem.
– Vejam se eles têm granadas. Vamos foder com esse lugar. - Wellman pega uma M1 Grand.
Dr. Tyler vê o cilindro prateado rolar para dentro do cômodo, atraindo atenção dos demais. Num piscar de olhos, a granada estoura fumaça em um lampejo, pairando uma cortina imensa sobre eles. Tiros são dados aleatoriamente no desespero.
Wellman derruba a mesa cheia de munições e peças.
O doutor vê uma flecha atravessar a garganta de um tatuado, que acaba disparando por todos os cantos da sala na queda. Também vê a mulher de jaqueta ter o abdômen aberto pela faca de Marian, que entrou rugindo e atirando na cabeça de um Golder escondido no canto da sala. Wellman levanta com a mira nela, brecha para então Jack surgir da enorme cortina de fumaça e se atirar nele, partindo a janela atrás.
Os dois caem para fora do arsenal, rolam pelo gramado duas vezes até Jack parar sobre ele. Wellman recebe sequências de socos e por fim uma bala na lateral da cabeça, esguichando sangue na face do agressor.
O caos é mais alto agora e Jack pondera o cenário agitado, parando em uma figura específica atrás do sedan: Gormax. Agachado junto a Henrique, esperando a poeira baixar.
Jack apanha a M1 Grand do chão, levanta e atira centímetros do nariz de Gormax, o suficiente para fazê-lo recuar e olhar para a origem da bala.
A dupla foge para os fundos da casa sob tiros pausados do rifle clássico. Jack manca conforme dispara. Parou para estabilizar a mira, mas então se esquiva de um golpe repentino graças aos pisões que ouvira a sua esquerda.
A moça de touca atinge o ar com a chave de grifo. Jack volta dando uma coronhada em sua cabeça e disparando nela depois de ir ao chão. Ele manca para o outro lado da rua, atravessando o quintal e virando de supetão para os fundos da casa, que se mostra vazia.
– Filho da puta.
* * *
Corpos espalhados, vidros e casas arrombadas e muros arranhados pelos escaladores compõem School City nessa manhã. A entrada não é diferente, contendo zumbis abatidos no campo agora organizados em pilhas.
Cristina está na entrada com os demais, tentando mais uma vez contato com Newt e Caroline. Quem a fita é Kátia de braços cruzados, também esperando uma resposta.
Jack se aproxima mancando.
– Muitos fugiram. Acham que...
– Espero que não. - Cristina adianta. – Newt, responda. - diz no bocal.
Jack e Kátia trocam olhares.
– Ele tá certo. - diz Kátia – Talvez tenham rendidos eles.
– Só tem um jeito de saber. - Jack fala.
– Vou com você.
– Melhor ficar e ajudar...
– Ela é minha irmã, Jack. Você quem devia ficar pela sua condição. - indica a perna sangrando.
Jack franze o nariz e dá uma olhadela em Cristina.
– Não vou ficar parado.
– Vai sim. - a loira se intromete. – Eu e a Kátia iremos. Fique e se recomponha, homem.
– Leve mais alguém então. Vou me sentir me seguro sabendo que estão bem.
– Teremos cuidado. - bate em seu ombro e passa.
* * *
Na enfermaria, um grande número de pessoas se encontravam. Os médicos locais iam de um lado para o outro, dando mais atenção aos que estavam numa situação mais grave.
Duane se encolheu na cama no simples toque do pano úmido em sua costela, região inchada em que a bala de Henrique havia atingido.
– Não se mexa. - Yuki pedincha, impaciente. Passa levemente o pano.
– Já disse que estou bem. O colete amorteceu o choque da bala.
Ela ignora.
– Respire. - pede.
Duane revira os olhos e obedece.
A simples subida da barriga faz ele se contrair pela dor pungente.
Yuki arqueia a sobrancelha.
– Precisa de gelo. - ela levanta da cadeira, seguindo para a cozinha da casa.
Marian entra na enfermaria, logo avistando o pai. Ela serpenteia os presentes até chegar no lado da cama.
– Como se sente?
– Como um cadeirante depois de cair da escada.
– Eu riria disso se não fosse tão cruel.
Duane deu uma risada curta a fim de não sentir a dor novamente.
– Eu vou ajudar na busca pelos reféns. - ela conta. – Vou com a Cristina e Kátia. Fica bem sem mim?
– Sim. Mas você fica?
– Sei me proteger. Não tenho mais nove anos, pai. E eles estão desarmados por sinal. Quer dizer, a maioria.
Duane bufou, já sabendo que não conseguiria convencê-la a ficar. Estica o braço até a cabeceira onde está a G18 e entrega à filha. Marian segura a arma e ele a mantém firme na mão.
– Cuidado.
– Vou ter.
Ele solta a pistola em consideração.
– Se cuida. - Marian guarda a G18 e parte para fora.
Yuki passa no campo de visão de Duane, sentando-se na cadeira novamente. Seu foco na filha é interrompida quando Yuki choca a compressa de gelo na costela.
– Ui. - Duane se encolhe.
– É gelo. Fica segurando. - põe a enorme mão dele na compressa.
* * *
– O que mais descobriu? - Gormax insiste em saber, pulando o galho no caminho.
– Naomi disse que o resto foi levado pra outro lugar. Ouviu a palavra terminal na conversa. - Henrique tem a pistola em punho, atento as direções conforme guia seu líder.
– Terminal. Seria o da 85?
– Não tava tomado?
– Creio que sim. Mas nada impede desses merdas terem feito como novo cubículo. Vai demorar muito?
– Já estamos chegando. Sabrina disse que o ponto...
Henrique cai com um buraco na têmpora no mesmo instante em que o estampido da Ruger 55 soa.
Gormax desce o barranco desajeitado, enroscando as pernas umas na outra, o que culmina na perda do equilíbrio e o faz rolar para baixo. Ao dar de cara no chão, ele engatinha até uma árvore e se abriga atrás do enorme tronco poroso. O projétil passa de raspão na casca escura. Gormax ouve clique do pente vazio.
– Venceu! Mas e agora, o que vai ser, cuzão?
– Saia! - a voz rouca e familiar pede.
Espiando atrás da madeira, é vista a pequena figura barbuda de Rulek esticando a 9mm - a Ruger balança na bandoleira. Gormax gargalha, levantando com apoio da árvore.
– Não creio. Jesus! - diz com a voz fraca, rindo. – Eu... - pigarreia. – Eu esperava um oponente a altura.
– Cala a boca. E põe isso. - joga a corda.
– O quê? Vai me levar de volta? Por que não acaba logo com isso?
– Seu destino não está nas minhas mãos. Ponha. - indica com a arma.
– Tudo bem, homenzinho, eu vou me retirar e fingir que isso não aconteceu. - dá meia volta.
Rulek atira na árvore a dois metros do grandão, cessando seu andar instantâneamente. Gormax tampa o ouvido esquerdo e vira-se com uma careta.
– PUTA MERDA!
Outro tiro atinge a perna dele de raspão, derrubando-o e dando tempo para o anão apanhar a corda e amarrá-la nos pulsos do baleado. Ele aperta em um nó que faz Gormax trincar os dentes.
– Qual seu plano brilhante agora, homenzinho?
– Você vai mancar de volta pra lá. De pé.
Gormax obedece. A 9mm é levantada. Mancando, o refém segue esmagando folhas e galhos.
* * *
Depois de passarem a Holly ST, as moças avistam o Motorhome 86 parado no meio da estrada. As vidraças estão quebradas e a carroceria abaixada pelos pneus murchos.
Kátia tira a espada da baia - sol reflete na lâmina impecavelmente limpa -, Cristina destrava a MP5 e em seu lado esquerdo, Marian levanta o fuzil tático.
O trio para 10 metros da traseira do Fleetwood Bounder. Antes de chamar por eles, Marian dá uma olhadela na margem da floresta.
– Newt? Caroline?
As moças se olham, assentem e se dividem pela estrada.
Katia firma o punho da espada, seguindo cautelosa pelo lado direito do utilitário e já podendo ver a porta esburacada e entreaberta. No lado oposto, Marian aperta o passo e deixa o dedo centímetros do gatilho, quando para ao lado da janela do motorista com a MP5 erguida.
Ela assente à loira de cabelo preso, que então segue para frente do trailer para uma visão melhorada do para-brisa rachado por tiros. Kátia sai de dentro do mesmo segurando o rádio da irmã e se encontra com a dupla na frente do veículo.
– Os desgraçados devem ter pegos eles. - deduziu Kátia.
– Deve ter algum rastro. Não roubaram o trailer, então tinham a intenção de levá-los para algum lugar próximo. - Cristina teoriza.
– A questão é onde?
Subitamente, três prisioneiros saem de cada lado da floresta mirando nas moças.
Elas formam um círculo em sinal de resistência, mas notam o número superior e as vantagens bélicas deles. O sujeito portando uma AK-47 sorri por debaixo da barba volumosa, envergando a cabeça e deixando o vento levar seus fios negros e lisos para frente.
– É uma bela manhã, não acham, senhoritas?
Marian o reconhece, era Kurt Wexler, o mais quieto da segunda gaiola, quase que inexistente para os demais. Os outros cinco também estão frescos em sua memória: Ângela, armada de uma caçadeira e deixando os fios crespos amarrados num coque; Bernardo, o mais jovem deles que sorri por trás da Glock; Felipe, um mexicano baixinho de olhos grandes mirando a Beretta 92: Susan, ruiva de colarinho azul que porta a mesma pistola do latino; e por fim Joseph, esbelto e de cabelo lambido pelo gel, tomando agora posse de sua arma.
– Bom te ver de novo, Marian. - Kurt diz, baixando a arma.
* * *
Mais um corpo putrefato é arremessado na pilha, por Axel. Ele faz uma pausa para relaxar os músculos, abrindo então seu velho cantil prateado enquanto fita o amontoado de cadáveres.
– Bebendo em serviço. - Neiva aparece arrastando uma garçonete sem mandíbula. – Que feio. - joga o corpo sobre os outros.
– Só um pequeno intervalo. - dá uma goleada. – Se o Duane não tivesse com a asinha quebrada, já teríamos queimado os corpos.
– Está desmerecendo meu trabalho, soldado? - lhe lança um olhar intimidador. Axel nega imediatamente.
– Só tô dizendo que a parada da ruim. Estamos fora do eixo. Essa porra não tá dando certo.
– Paciência, homem.- Neiva tira o cantil de sua mão e vira o uísque num gole só.
– Uau. Eu sabia.
– O quê? - ela termina de engolir, faz uma careta e limpa a boca com a manga.
– Que por trás do rostinho lindo estava uma mulher que bebe mais que motor de opala.
Neiva riu, dando um soco no ombro dele.
– Vamos terminar o serviço.
– Sim, senhora.
O rádio no cinto dele chia.
– Axel, tá aí?
– Fala, Rulek.
– Encontrei o boi. Tô voltando pra aí.
– Me diz onde tá. Eu vou até você.
– Chegando na 26.
– Ótimo. Guenta aí. Câmbio. - desliga, voltando-se para a esposa que ficou para ouvir. – O dever me chama.
Neiva se aproxima, desce sua cabeça para baixo e lhe dá um selinho.
– Então é melhor se apressar. - sussurra. – Eu fico com isto. - balança o cantil.
– Como é?
– Vai precisar estar sóbrio. - diz, se afastando.
– Beleza! Só não bebe tudo!
* * *
Cristina é posta no chão entre Kátia e Marian, todas amarradas com as mãos nas costas.
O QG do quinteto é um de seus postos avançados. Elas estão encostadas na mesa do escritório da grande empresa de contabilidade, o chão coberto por um carpete índigo de fios soltos e um espaço a frente onde se concentra os escritórios dos chefes.
Ângela sai da porta a direita segurando Newt pela gola da blusa, atrás Felipe vem carregando Caroline. Os dois são jogados para os demais.
– Te machucaram? - Kátia ajuda a irmã.
– Não. Estou bem. -Caroline senta-se ao seu lado.
Newt é recepcionado pela loira e a morena de dreads, sentando-se entre elas e levantando as mãos amarradas por cima dos joelhos.
É Kurt quem aparece agora com a MP5 no ombro parecendo um soldado marchando para a guerra. Ele masga um chiclete de boca aberta, causando um som pegajoso e irritante.
As mãos de Caroline escondem o caco pontiagudo que roçam na corda, cada movimento friamente calculado para que não notem.
– Conseguiu contato, Ângela? - Kurt indaga, não tirando os olhos de Cristina.
– Ninguém responde. - ouve a estática no rádio. – Devemos estar fora de alcance.
– Que seja. Vamos levá-los logo. - Bernardo aparece no fundo, dizendo.
Enquanto conversam, mal percebem Caroline partindo as cordas e passando o vidro para Kátia, que apalpa o carpete até alcançá-lo e iniciar o processo. Cristina vê de canto o ato das irmãs e então ajeita a postura numa umedecida de boca.
– Acham que eles ainda estão lá? - Ângela pergunta.
– O Gormax fugiu. A essa altura já deve ter chegado lá. - argumenta Kurt.
Felipe, Susan e Joseph chegam no escritório repleto, balançando as armas nos braços.
– O perímetro tá limpo. - anuncia Susan, parando próxima a Kurt.
– Ótimo. Vamos levá-los então.
Cristina ri compulsivamente, fazendo o sujeito brecar com a testa franzida. Ela ganha atenção até dos amigos na gargalhada.
– Qual a graça, vadia?
– Estão procurando fantasmas. - alarga o sorriso. – Eu recomendo que se rendam agora.
– Vai se foder.
– Posso propor um acordo. Vocês se entregam e tudo fica de boa.
– Posso calar a boca dela? - Ângela toma a frente, fazendo questão de mostrar a Berretta 92.
– Vamos. - Cristina insiste. – Por qual outra razão teríamos deixado vocês presos?
– Bem, foi um erro. - Kurt diz. Ele se aproxima, agachando-se.
Cristina chuta sua virilha e levanta envolvendo suas mãos no pescoço dele, virando-o no processo e se apossando a MP5 pendurada a frente do corpo. Tudo é muito rápido e quando os demais erguem as armas, a ponta da metralhadora já está afundada no queixo de Kurt.
– SOLTA ELE! - Susan vocifera.
Cristina mira na direção do quinteto com o gatilho pressionado, iniciando uma chuva de balas que começa da esquerda e vai para a direita quebrando vidros e esburacando paredes.
Todos se jogam no chão e os reféns sentados engatinham para dentro das cabines.
Kurt dá uma cotovelada no abdômen da loira, que recua e bate contra o balcão. Ele vira-se com a faca em punho, cortando o ar quando ela se esquiva e atira em sua pélvis. Ela rola para a cabine do qual está Marian e Newt.
Os demais se levantam atirando nos balcões, fazendo papeladas voarem e buracos pequenos nos monitores. Um dos disparos arrebenta a corda sustentando a lâmpada de sódio, espatifando tudo no carpete a dois metros de Kátia e Caroline.
Cristina levanta e consegue atingir Felipe no braço, mas acaba com uma bala no ombro esquerdo que a derruba de bunda.
No fogo cruzado, Kurt se arrasta pressionando a região atingida, tentando chegar ao lado dos parceiros.
– Felipe, vaza...
Joseph é interrompido quando a lâmpada cai sobre sua cabeça. Um tiro certeiro de Newt que se apossou da MP5 caída. Eles olham para o desmaiado e essa é a brecha para então Marian avançar em Ângela, envolvendo-a em um abraço no quadril que leva as duas para dentro do escritório particular.
Felipe vê a mesa ser empurrada pelas irmãs na direção de Susan, que acabara entretida no ataque da morena contra sua parceira. Quando avisa, a mesa já colidiu na moça que caiu de cabeça no chão.
Kátia se arrasta por trás do balcão, alcança a pistola no chão e volta a se esconder bem na hora do tiro dado por Felipe.
Marian acabou por cair ao lado de Ângela no ataque. Ângela puxa a espada caída a sua frente e vira-se cortando o anelar e o dedo do meio de Marian, que solta um grito e revida com um soco na cara. A atingida rola para o lado com o nariz sangrando, então Marian engatinha veloz até a caçadeira.
Ângela lhe dá um puxão no tornozelo que faz a morena cair de queixo no chão, rendendo um corte na língua. Marian contra atacar com um chute. Isso não impede Ângela de escalar o corpo dela e chegar até seu rosto e lhe dar um cruzado de direita. Uma sequência de socos leva a cabeça de Marian para um lado e para o outro.
A espancada bloqueia o soco seguinte, ainda desorientada, e delibera um golpe forte em seu maxilar. Ângela cospe no processo de dar com a cara no chão. Marian rasteja até a arma e com a mão de três dedos puxa a escopeta, virando na direção de sua algoz que levantara bem na hora.
A talha é puxada e o gatilho apertado, abrindo um buraco enorme no peito de Ângela. Sangue respinga por toda a parede de trás. Ela amolece as pernas e cai de cara no piso.
Felipe ainda dispara contra a mesa em que as irmãs se escondem, conforme arrasta-se para o corredor. Leva sua atenção ao ruivo que tenta surpreendê-lo na diagonal, atirando no mesmo. Newt recua, olha para o corpo desacordado de Joseph e puxa a bandoleira. A arma é parada no processo pela mão gigante de Joseph, que então ergue a cabeça e dá um chute no rosto do ruivo.
Joseph se levanta destravando a AK.
Newt sobe em posse da lixeira, acertando a arma que acaba escapando da mão do grandão. O mesmo puxa o facão e corta o ar nas recuadas em que o ruivo dá. Ele acaba prendendo a lâmina grande quando Newt usa a lata como escudo. Um chute na barriga faz o garoto recuar, espaço para que Joseph avance e o levante pelas axilas.
O grandão ruge conforme corre segurando o ruivo, até que bate suas costas contra a porta com o nome Donald Draper e o derrube no chão do escritório chique.
Joseph curva-se para recuperar o fôlego, avança em Newt quando o mesmo se levanta. Agarra ele pelas costas e o prenden numa chave de braço. Eles quase caem sobre a mesa, o agressor recua puxando o ruivo consigo. Newt luta para conseguir respirar, levando o grampeador que pegou da mesa direto no olho esquerdo de Joseph, que o solta na hora.
Newt recupera o fôlego quando no chão, vê o sujeito de um lado para o outro tentando retirar o grampo do olho e então levanta correndo em sua direção, lhe dando chute no peito quando pula.
Joseph cai na janela pelo empurrão, levando a cortina junto. Cacos vão por todo o chão e o baque do corpo no asfalto soa como uma bexiga d'água colidindo na parede. Newt ofega, se aproximando da janela e vendo o grandão de tronco saltando tripas e uma poça enorme se espalhando sob ele.
No lado de fora, Susan desperta erguendo a cabeça. Kátia lhe dá um tiro na testa que a faz deitar novamente, passa por cima do corpo e desliza no chão, disparando contra o mexicano no fim do corredor. Felipe cai de joelhos e depois vai ao chão.
Cristina pressiona o ombro e vê Kurt ainda se arrastando. Ela pega a AK-47 caída, vai até ele, virando-o de barriga para cima e podendo notar a boca escorrendo um fio de sangue.
– Vai queimar no...
TUM. TUM. TUM.
Três tiros na cabeça o calam.
— 4.07 —
"Fora do eixo"
Desculpem, rapaziada. Estou mais perdido que cego em tiroteio nesses últimos dias. O próximo capítulo já está disponível.
Resumidamente, o pessoal conseguiu lidar com a fuga dos reféns. Duane x Gormax foi interessante. Aliás, o anão adquiriu o teleporte supremo igual uma certa Judith em TWD, e tá fazendo o vilão de refém. Veremos o rolê que dá.
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