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T4:C5 - Ataque Marshall

Tic tac. Tic tac.

Os olhos castanhos de Derick acompanham o ponteiro de seu relógio, absorvido no silêncio da escada para o porão do navio.

Um chiado vem do rádio em seu cinto.

Alguém na escuta? Câmbio.

Ele puxa o walkie-talkie.

– Aqui é o Derick. Quem fala?

Era você mesmo que eu queria conversar. - diz a voz desconhecida.

Derick franze a testa e encara o comunicador.

(...)

Trevor, Beneke, Sabrina, Henrique e Hope fitam o rádio sobre a mesa no meio da cabine do navio como um artefato divino. Derick está apoiado no painel e roendo a unha do dedão, processando o fato de que seu líder fora raptado de forma tão profunda que quase não deu atenção ao restante das palavras.

Estamos de olho em vocês o tempo inteiro. Então, cooperem. - Nelson exige. – Essa é uma chance que estamos dando para que se rendam. Mas caso reajam, sabem as consequências. - seu suspiro parece de um robô pela estática. – Vocês têm vinte quatro horas. Câmbio, desligo.

O silêncio domina a sala.

– Filhos da puta. - Trevor se pronuncia. – É um blefe!

– Claro que não! - Hope discorda, do outro lado da sala. – Eles descreveram corretamente os navios e o endereço de cada posto avançado que temos. Onde está o blefe, Trevor?

– Eles não podem estar com ele. - diz Beneke, duvidoso e com a mãos na cintura. – Improvável.

– Já faz sete horas que ele saiu. - Sabrina pontua. – Só se ele tenha encontrado um laguinho pra pescar, eu creio que não há outro motivo pra ele não estar entre nós agora. - encara Trevor. – Eles têm o Gormax, sim.

Trevor vira para a parede, leva as mãos a cabeça de poucos cabelos e bufa.

– E O QUE FAREMOS? - questiona em alto tom. – Nos rendermos?

– Longe de mim. - diz Sabrina. – Eu vou lutar por esse lugar com unhas e dentes, com ou sem o Gormax aqui. Quem garante que eles não vão nos matar quando nos rendermos?

– Não farão isso.

Derick ganha atenção ao falar, pairando o silêncio novamente na sala.

– Não são assim, caso contrário - ergue a cabeça, afasta a mão da boca. – não estaríamos aqui.

– E qual sua ideia? - Trevor dá um passo.

– Democracia.

Trevor solta uma risada debochada.

– Quer que espalhemos para os outros? - aponta para fora.

– Se você tiver alguma passagem secreta que eu não saiba, Trevor, então por favor, me mostre que eu saio na hora e acabo com essa palhaçada! - diz num tom autoritário, cruza os braços. – O que vai ser?


* * *

De portões abertos, School City está mais movimentada que feira de sábado. Carros entram, amontados de pessoas fortemente armadas vão e vem e mesas estão espalhadas na rua, com ferramentas.

Em fileira, os que se renderam ao massacre na rua Lennmord entram no longo reboque do caminhão com espaço suficiente para uns cinquenta homens. Conforme sobem, Vic faz a contagem numa caderneta.

Axel fuma um charuto cubano sentado ao meio fio, admirando a apreensão. Duane para ao lado do amigo e observa a mesma cena.

– Já está comemorando?

– Cê sabe, eu sou bem ansioso. - sorri, prendendo o charuto entre os dentes, ergue a cabeça para fitá-lo. – Ele já tá lá? - espreme o olho esquerdo devido ao sol.

Duane assente sem desviar a atenção para a fileira.

– Deve ter sido um caos e tanto.

– Nada que e eu não aguente. - baixa a cabeça e ri.

Axel se contagia e ri também, tirando o charuto da boca e soprando a fumaça.

Vanessa tem a companhia de Harry e Han na enfermaria, cada um de um lado da cama. Han acaricia os fios castanhos da namorada, que abre um micro sorriso com os olhos fechados, apreciando o cafuné.

– Não precisam ficar. - diz ela com a voz baixa.

– Se estivermos incomodando, pode falar. - Han sorri.

– Você parece estar pior. - analisa cada corte no rosto dele.

– Estou bem.

Harry salta da cama.

– Vou deixar vocês a sós.

– Espera. - Vanessa estende a mão. Harry para. – Foi muita coragem ter ido pra lá. Se eu não estivesse acabada, teria forças pra te dar uma bronca agora. - sorri. – Mas fez bem.

– Valeu, eu acho. Melhoras.

– Obrigada.

Harry dá meia volta e segue até a porta. Ao sair, o monte de vozes invadem seus canais auditivos e da varanda vê a movimentação de soldados. Desliza a mão no corrimão de madeira conforme desce os quatro degraus, parando ao ouvir uma voz próxima quase como um sussurro. Desce o último degrau e vai para a direita do casarão branco, vendo Ben conversar com alguém bloqueado pela parede da casa vizinha.

Quando Ben some de seu campo de visão ao dar mais um passo, Harry avança em passos minuciosos, as vozes ficam mais nítidas. Ele acaba por reconhecer o tom suave de Cassie.

– ... não sabe se vai funcionar.

– Nós esperamos por isso! - Ben atropela sua fala. – Agora que ele está aqui e você pensa em desistir?

– Ben...

– Você desiste?

Harry franze a testa e estica o pescoço. Um silêncio paira por segundos e o garoto cogita a ideia de que talvez saibam de sua presença.

– Não. - responde Cassie.

Harry fica mais aliviado e solta um suspiro curto.

– Ótimo. Eu faço.

– Espera. Não acha que pode estragar o plano?

– Não vai. Com ou sem ele, vão matar todos os Golders mesmo.

O bisbilhoteiro entende na hora e se afasta na ponta dos pés, dando uma última olhada sobre o ombro afim de saber se não fora visto. Quando confirma, parte pela rua movimentada.

* * *

– Como está indo? - Suleiman pergunta no rádio.

Tudo tranquilo. Até demais, vale ressaltar. - diz Maia.

– Bom saber. - anda em círculos na entrada da escola grande.

A três metros se encontra o caminhão onde a jaula mantém o felino preso. Suleiman observa o leão mordiscar a mão de um zumbi até arrancar o dedo anelar. O nódulo branco fica visível entre a carne. O leão mastiga e olha direto para seu cuidador.

Você faz falta aqui. - Maia comenta.

Ele volta sua atenção ao rádio.

– Eu sei. Em breve estarei aí e tudo vai ficar bem. O plano foi um sucesso.

Isso é ótimo. Agora tenho garantia de que vai voltar inteiro.

– Pode crer. - garante, vê Yuki saindo da escola. – Preciso ir. Câmbio.

Suleiman guarda o comunicador no cinto e recebe a arqueira grisalha com um sorriso fechado, devolvido na mesma hora por ela. Yuki vira-se para a jaula.

– É um belo leão.

– Sim. - admira, as mãos estão na cintura. – Avati é como se chama.

– Mesmo?

Ele confirma sorridente.

– Cuidar de todos eles foi um deleite. Digo que foi um imenso prazer continuar lá depois do fim.

– Isso foi bom pra você.

– Pode crer que foi.

– Então - olha para ele. – vai continuar?

– Irei para o Terminal com os demais. Não espero que usemos o plano C, mas se ocorrer eu quero estar presente. Só irei embora quando meu objetivo for cumprido.

– Você é um homem de palavra.

– Com certeza. Quais são as chances de você ir embora comigo depois disso acabar? - dá um sorriso malicioso e descontraído.

– São grandes, cuidador. São grandes. - se afasta.

Ela retoma a caminhada sorrindo para si mesma, sabendo estar sendo alvo do olhar desejado dele.

* * *

O cubículo só tem a entrada de luz pela janela no topo da parede e ainda sim é precária. O recinto é frio e nenhum pouco convidativo, principalmente pelo colchão desconfortável em que Gormax está deitado.

Com a boca aberta, cutuca o espaço onde seu dente se encontrava antes da bela surra que levou. Ele já está acordado há horas apenas encarando o teto que tem a teia do canto soprado pela leve brisa que entra no retângulo pequeno. Encosta os dedos dos pés no piso gélido, apoia os cotovelos nos joelhos e fica na beira do colchão com a coluna curvada. Forçando a vista, ele percebe o rosto sereno de lábios grossos na escuridão oposta. Num movimento rápido, conclui ser Duane com seus braços grossos cruzados.

– Jesus. Você tava aqui o tempo todo? - Gormax arqueia a sobrancelha. – Se eu estivesse afogando o ganso você ia ficar aí olhando? - debocha, rindo do próprio comentário em seguida.

Duane se mantém fixo, não pisca e nem esboça nada. Gormax desmancha a risada.

– Tô vendo que não tá de bom humor hoje.

– Tony Wall. Esse era o nome do garoto assassinado pelo seu capanga. - diz intimidando com o vozeirão.

– Tony? Desculpa, eu nunca paro pra perguntar o nome da vítima.

O militar se aproxima da grade, tendo o rosto enfurecido clareado no facho que ilumina as barras enferrujadas.

– Meu filho.

– Ouuuu... Que coisa chata. Olha, isso não é comigo.

– Você entrou na nossa casa, deu uma de espião e depois destruiu tudo e todos. E agora você me diz que não lembra?

– Sabe, a rotina tira a atenção de qualquer um. Eu fico ocupado fodendo várias bundas pra me lembrar de uma específica.

Duane fica quieto, não tirando os olhos dele. Gormax fica incomodado e levanta, tentando não deixar isso claro.

– Olha, o passado é passado. E por mais plausível que seja você ficar aí me encarando com a fome de sete leões, eu devo dizer, pare. Pare antes que isso te consuma...

– ISSO JÁ ME CONSUMIU! - soca a grade.

As ferrugens estremecem, o portão range e o prisioneiro recua.

– Você sabe o que é perder alguém? Não. Não sabe. - trinca os dentes. – E é por isso que tá aqui. E vai continuar até o fim da sua vida.

– Isso eu não discordo.

Duane deixa a raiva e altera-a para uma dúvida junto a franzida no nariz.

– Digamos que tem um pessoal lá que não me quer no topo da cadeia alimentar, e esse meu sumiço pode ser uma puta brecha fodida pra que o filho da mãe possa atuar.

– Quem?

Gormax chega até a grade de mãos juntas, agarra-se numa barra e põe o rosto entre elas.

– Um loiro fodido chamado Derick. Antes de eu estar no pódio, ele era um líder de merda com decisões merdas que eu tive de dar um basta pra evitar que mais merdas acontecessem. E olha agora, ele é um dos meus principais. Mas é só os gatos saírem que os ratos fazem a festa, não é? - lambe os lábios, sorrindo de canto. – Eis a parte do seu plano que não funciona, negão, porque tenho certeza que ele vai fazer de tudo pra manter esse meu sequestro em segredo.

– Bem, você tá na merda nos dois lados. Obrigado pela sua contribuição.

– Jesus. Agora eu vejo que são os verdadeiros monstros aqui.

Duane deixa o prisioneiro sem resposta, virando para a saída da porta de janelas quadrilhas. Gormax só ouve o bater dela, sendo consumido pelo silêncio do recinto frio durante o tempo em que fita o nada.

* * *

Trevor está vidrado no microfone do painel, as mãos repousadas no mesmo e os olhos espiando outrora a vidraça que proporciona uma vista ampla do mar e o resto do navio, com pessoas indo e vindo. Mal sabem elas estarem sendo vigiadas por atiradores escondidos entre a enorme floresta que cerca a praia. E era isso em que ele pensava agora.

Valeria a pena apertar o botão e anunciar no mega fone? Não. O alvoroço já foi significativo entre os sábidos, espalhar isso para o resto do navio é querer ver o circo pegar fogo.

O homem careca e de bigode se afasta do aparelho, respirando fundo e endireitando a coluna no processo. Coça o bigode numa imitação moderna do pensador, só que este de pé e fixo ao exterior.

Mais um braço é atirado no balde enlameado, já preenchido pela metade com membros com orelhas, pernas com nódulos brancos para fora, pés de unhas enormes e amareladas e uma única cabeça contando com uma cratera na região dos olhos. Stefan tem seu avental lambuzado e as luvas pretas sujas de sangue seco, levanta a machadinha e antes que possa partir mais um perna da cadáver nua, Trevor chama por ele, fazendo parar a arma no ar.

– Trevor? O que faz num cubículo como esse?

– Eu sei. É uma surpresa. - examina o local cheio de aparatos científicos que ele mal entende. – Eu vim aqui pra esclarecer algo totalmente sigiloso entre o conselho. - parou do lado oposto da mesa, olha o corpo contando apenas com tronco e perna direita.

– Pensei que assuntos do conselho ficassem só entre o conselho.

– Esse é diferente. - levanta o olhar ao estudioso. – Notou que Gormax ainda não voltou?

– Perdão? - arqueia a sobrancelha.

– Ele foi pego.

Stefan franze a testa, surpreso mas ainda duvidoso.

– O que quer dizer?

– Phillip e seus compadres armaram uma cilada e ele caiu como pato. Recebemos um aviso e estão mantendo ele de refém e talvez, eu disse TALVEZ - ressalta. –, eles o libertem se nos rendermos.

O baixinho põe a machadinha na mesa e deposita as mãos enluvadas nela, processando o que ouviu.

– Quem mais sabe?

– Além do conselho? Só você.

– Ma-Ma- Mas - balbucia. – se atacarmos, vão matá-lo, não é?

– Não tenho dúvidas. Mas eu não dúvido que já não tenham feito isso e que só estejam gozando da nossa cara. É por isso que vim aqui. - contorna a mesa e para ao seu lado. – Veja Stefan, você é bem mais sábido do que muitos por aqui. E eu gostaria muito de agir em prol do nosso líder. Então me diga, há alguma forma em que eu possa sair sem chamar atenção do nosso pessoal e dos atiradores lá fora?

Stefan engole em seco, pisca várias vezes, também não esperava estar preso na própria casa sem ao menos saber, até que ergue a cabeça para encará-lo como se uma ideia brotasse de última hora.

– Ainda temos as cargas no segundo navio?

Trevor sorri amarelo.

* * *

Escondida atrás da escada da varanda, a ruiva Cassie grifa a madeira branca dos degraus com sua faca inglesa. Assim que Harry se aproxima, consegue ver o coração torto onde as letras B+C se encontram. Sem dizer nada, ele senta-se no gramado ao lado dela. A falta do olho direto faz o garoto virar o rosto completamente para olhá-la.

– Oi.

– Oi. - ela não o olha, continua a grifar o coração torto.

– Bela faca.

– Era do meu pai. - admira a lâmina.

– Não tive a oportunidade de falar, mas você sabe...

– Que sente muito? Eu sei. - o olha.

– Então, voltaram? - indica para o desenho.

Ela confirma.

– Vi vocês dois conversando. - joga o assunto de vez. – Pareciam querer manter algo em sigilo.

– Sabe Harry, você devia cuidar mais da sua vida. - levanta.

Ela sai em passos largos nem ousando olhar para trás, deixando claro sua frustração no modo em que anda. Harry a fita, muda seu semblante para uma convicção que parece desabrochar do nada.

– Cassie!

A ruiva para bruscamente pelo tom do garoto, mas não o olha.

– Não faça nenhuma besteira, ouviu?

Ela ergue a mão mostrando o dedo do meio e volta a andar.

* * *

A diretoria da escola, usada majoritariamente para reuniões, conta com Axel, Phillip, Gale e Nelson debruçados a longa mesa pinho na sala ladrilhada. Toda a atenção vai para Duane que entra sem cerimônias, fechando a porta em seguida e dirigindo-se a extremidade da mesa.

– Tava te procurando. - diz Axel, desvencilha-se da madeira e leva as mãos aos bolsos.

– Eu estava na cela.

– Falou com o Gormax? - Nelson indaga.

– É. Eu precisava. Acontece que ele me falou poucas e boas sobre o pessoal dele.

Os ouvintes se mostram interessados. Ele prossegue.

– Parece que ele dominou aqueles navios e manteve as pessoas que lá vivam como trabalhadores. Talvez nosso ataque possa custar a vida de inocentes.

– Ataque? Não iríamos esperar eles se renderem? - Gale questiona, olhando para cada um.

– Eles não vão. - afirma Phillip. – O que o Duane ouviu pode ser verdade, mas não vamos o ignorar o fato de que ele tem muitos capangas leais lá, caso contrário não teríamos tido aquele alvoroço todo só pra pegá-lo.

– E eu não duvido nada que os rendidos não tenham segundas intenções. - comenta Axel.

– Exato.

– Então o que vai ser? - pergunta Duane.

(...)

O silêncio domina as ruas vazias de School City, que só tem movimentação no centro da praça do lugar onde três jaulas trazidas de West Zoo mantêm os rendidos dos postos avançados. Marian e Léo quem ficam sob vigia deles, acomodados em cadeiras de praia e degustando de um salgadinho.

Grilos cantam no luar e as poucas árvores nas calçadas farfalham na leve brisa. Mitt, toma conta da porta para a cela, sopra a fumaça que tragara do cigarro. Nuvens transparentes espalham no ar escuro e são levadas para cima. Então o guarda dá atenção a Cassie, que aparece com seus fios ruivos clareados pelo satélite natural cheio no céu.

– Cassie? O que foi? - desencosta da cadeira.

– Phillip quer te ver. Ele disse que é importante.

– Certo. - levanta. – Fica de vigia pra mim?

– Claro. Ele tá na direção. - desce a escada.

– Valeu. - passa por ela, deixando um rastro de incenso ao subir os degraus para a calçada.

Cassie espera que ele se afaste, fica quieta por minutos até que solta um assobio agudo. Não demora para que o garoto franzino de cabelos negros apareça contra a lua e desça rapidamente até ela. Ben chega a porta com um garfo - com as pontas dobradas e a do meio levantada - e agacha-se, enfiando o talher na tranca.

– Tem certeza que consegue? - ela cochicha.

– Com toda certeza. - roda a ponta.

De cabeça baixa, Gormax enrola o cinto de couro em seu braço e envolve os dentes prateados em seus dedos. Ao ouvir o trinco da porta, larga o couro que se desenrola como uma serpente de seu longo braço, esconde o cinto debaixo do colchão e fixa-se na sombra refletida no piso de entrada.

A silheuta de cabelo volumoso fica parada por segundos que se parecem horas para o prisioneiro o tanto assustado em vê-la. A porta range no caminho de se fechar, sumindo com a sombra mórbida aos poucos. Somente os passos lentos são escutados.

Gormax encosta-se na parede e deixa a canhota na beira do colchão forrado.

Ben surge nas sombras balançado os braços conforme anda até a grade. A semi automática em sua mão ganha foco pelo diáfano da janela dentro da cela.

– E você seria?

– O órfão cujo o pai você matou.

– Pelo amor. Vocês me prenderam pra eu ouvir desabafos?

Ben destrava a arma.

Gormax olha para pistola e sente seu coração pular na hora. Seu semblante debochado esconde o medo e ele ousa ficar de pé.

– Pelo que vejo, você veio fazer o serviço sujo. Quantos anos tem, garoto?

– O suficiente pra me lembrar do que fez. - fica centímetros das grades, trincando os dentes.

– Certo. Você me mata e depois o que acontece?

– Me sentirei bem com isso.

– Com toda a fodendo certeza, mas não vai trazê-lo de volta. E olha, eu não sei não, moleque, mas acho que você vai jogar todos seus amigos na merda se puxar o gatilho. Mas você não vai desistir, pelo que vejo. - parou no meio da cela. – Se deu o trabalho de despistar o guardinha, entrar no arsenal as escondidas... Aliás, você pegou essa arma por que achou legal?

Ben levanta a Glock.

– Você fala demais.

– É. Você tem culhões.

– Últimas palavras?

– Abaixa a arma. - diz a voz atrás do garoto.

Ben sente o cano da M9 em sua nuca, a espinha arrepia e o coração acelera.

– ABAIXA A PORRA DA ARMA!

Ben obedece e tem a pistola retirado de sua canhota. Ao se virar, vê Harry guardando a semi automática e Cassie parada no canto, também rendida.

– Pra lá. - Harry aponta.

– Você não vai atirar.

– Não mesmo. Mas você já entregou a arma, não?

– Harry...

– Eu disse pra não fazer nenhuma besteira!  - impede Cassie de falar.

Atrás das grades, Gormax observa risonho.

– Tão bom presenciar uma tensão adolescente. - comenta. – Se isso fosse na minha época, eu cresceria com os culhões do tamanho que esse caolho tem.

– Cala a boca! - Harry muda a mira.

Ben bate no braço do garoto, empurrando-o contra a parede. A M9 cai e ligeiramente o rapaz a pega do chão.

– BEN!

CLICK. CLICK. CLICK. CLICK.

As balas não saem.

Ben para de apertar o gatilho e olha para a arma com a testa franzida.

O prisioneiro solta um suspiro de alívio e arrasta as costas na parede até que chegue ao colchão.

Harry se levanta sob o olhar da dupla que arquitetara a façanha. Mas então todos os olhares vão em direção a porta quando os pisões são escutados, logo Phillip e Mitt se manifestam ofegantes, brecando na entrada e analisando o cenário de jovens.

– Que porra vocês tão fazendo?!

* * *

Derick permite a entrada em seu quarto quando batem na porta. Hope se apresenta e vê o loiro vestir a camiseta cinza no processo, escondendo as cicatrizes do abdômen.

– Vi como você estava na reunião. - ela começa.

– O quê? - põe o pé sobre a cadeira e amarra os cadarços.

– Parecia contente, mas com medo.

– Por que acha isso? - dá um nó e sorri.

– Você sabe.

Derick desce o pé e vira-se para ela, levando as mãos nos bolsos.

– Talvez esteja pensando em usar essa brecha pra retomar o controle.

– E se eu quisesse, você me ajudaria? - Derick pondera cada micro-expressão em seu semblante, quase espremendo os olhos.

– Sim, só que...

– O quê? - dá um passo. – Se acostumou com isso?

– Não.

– Então por que contesta? - aumenta o tom. – Vamos me diga. Está do lado deles?

– Eu não quero que você morra, Derick! - fala mais alto que ele. O loiro desmancha a breve raiva do rosto. – Acho melhor deixar assim. Deixe que o Trevor e os outros tomem a decisão. Não precisa agir, só... Só fique na sua.

– Eu não posso. Não suporto mais ter que ver pessoas com quem me importo sofrerem. O Nylon tentou me avisar e eu ignorei. Agora onde ele tá, Hope?

– Se fizer vai acabar como ele. - se aproxima, ficando perto o suficiente de seu rosto para sentir a respiração quente. – Por favor...

TODOS NO SALÃO. - a voz robótico reverbera no corredor. – REPITO. TODOS NO SALÃO.

Eles se entreolham.

(...)

O casal passa pela porta dupla, já ouvindo o amontoado de falas aleatórias na aglomeração abaixo.

O salão é grande o suficiente para caber mais um dobro dos cem habitantes do navio. Os cantos contém cortinas separando os quartos improvisados, iluminados por lâmpadas de sódio e lamparinas. Todo o salão ganha mais claridade devido aos feixes que adentram as janelas no topo das paredes.

Derick estica o pescoço para ver o resto da plateia falante e só depois dá atenção aos presentes ali em cima: Stefan, Cindy, Luis na direita próximos a porta; Charlie, Cassidy e Sharon no lado oposto. Ele se vira para Stefan.

– Cadê o resto?

– Não sei, devem estar vindo.

Lá fora, passando sob a enorme sombra do navio na areia, Trevor lidera a fila com Sabrina, Henrique e Beneke. As ondas estão ferozes e fazem um som alto e espumoso, como se a natureza estivesse a favor do ato que a trupe planeja. Cada dupla carrega o corpo de um zumbi entre eles, estes que estavam à espera de serem desmembrados por Stefan em seu laboratório clandestino.

Eles sabem que estão sob as miras dos guardas que espreitam nas colinas escuras e nas copas grandes das árvores, mas andam com convicção.

É Pitt que os observa as figuras minúsculas na luneta. Ele afasta o rosto e chama por Spencer que aproveita seu intervalo na picape branca escondida nos arbustos. Spencer deita-se ao lado dele e Pitt lhe passa a arma.

– Devemos abatê-los?

– Não. - nega Spencer, a sniper acompanha o quarteto. – Pode ser um teste pra saberem de onde o tiro vem. Avise aos outros.

Pitt vira de lá, puxa o walkie-talkie no cinto, deita a barriga no processo em que leva o aparelho até a boca.

– Colina B, não atirem. Repito. Não atirem.

Entendido. - Janet soa.

Spencer os perde de vista pela broa enferrujada do segundo navio encalhado.

Trevor deixa Beneke com todo o peso do falecido, roda a válvula úmida com cipós enrolados nas extremidades e abre o portão de ferro. Seu ranger ecoa por todo o ambiente escuro. Quando todos entram, deixam os corpos no chão e ligam lanternas. Os fachos prateados destacam o monte de contêiners que compõe o navio abandonado.

Trevor abre a blusa volumoso de um dos cadáveres, retirando o rifle silenciado maior que seu braço. Ele assente para Sabrina e depois segue para as escadas.

Eles abrem o estômago de cada corpo e se sujam com entranhas e sangue preto oleoso da cabeça aos pés. Cobertos e fedidos, o trio anda pelos corredores entre os contêiners até chegarem no final. Sabrina bate no metal com força, iniciando a orquestra de rosnados lá dentro. Cada um deles para em frente a um contêiner, trocam olhares e quando assentem, puxam os trincos em sincronia.

O primeiro errante sai esbaforando vapor na cara suja de Sabrina. O morto olha nos fundos de seus olhos verdes, enverga a cabeça e vira na direção do corredor largo.

Spencer volta a luneta quando vê a primeira sombra.

– Estão sa...

– O quê? - Pitt força a vista para ver lá de cima.

Logo o que eram seis se tornam uma dúzia.... Não. Três... Cinco... O número de mortos só aumenta e os grunhidos enchem a noite. Os atiradores procuram pelos vivos entre a multidão, mas a precária iluminação não lhes permite distinguir.

Quando a manada se encontra no centro, seguindo direto para fora da praia, os contêineres espalhados são abertos magicamente. Spencer mira no contêiner C, vendo assim um dos camuflados levantar o trinco e puxar o portão consigo.

Ele atira.

A supressão do silenciador desacelera a bala, que atinge o contêiner e faz faíscas no metal da porta.

– Porra.

Um tiro surpresa sobe a terra centímetros de seu ombro. Spencer e Pitt se encolhem na hora, recuando deitados.

– Nos descobriram. - Pitt anuncia no walkie-talkie. – Estamos saindo. Estamos saindo.

Ambos engatinham em direção a picape. Poeira continua a subir do local donde vigiavam, em tiros persistentes de Trevor na escotilha do navio encalhado.

Na colina oposta, Janet e Stewart não tem muito o que fazer a não ser observarem o conglomerado de podridão ambulante se deslocar para fora da praia, espalhando rugidos no ar da noite de lua cheia.

— 4.05 —
"Ataque Marshall"

Alegria de pobre dura pouco.

Trevor fez um bem bolado pra despistar o próprio grupo e confundir os cornos na espreita. Além disso, o casalzinho emburrecido quase fedeu ainda mais os planos de Phillip.

Quem seríamos nós sem um Harry em nossas vidas, não?

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