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T4:C1 - 23.09.11

No calendário pendurado ao azulejo da cozinha – entre o balcão e o armário – a data é 23 de agosto de 2011. Antes da casa ser ocupada, Phillip e os demais moradores procuravam manter todos os calendários em dia para que quando houvesse moradores, não se esquecessem do tempo, que convenhamos, não era mais importante fora dos muros.

Vestida com o raglan longo de seu parceiro, que cobria até a região da virilha e as pernas sem calças, Vanessa depositou o calendário no balcão. Os números em negrito marcados em "xis" feito a canetão eram encarados pelos olhos verdes dela. Seu tronco foi envolvido nos braços de Han, que repousou a cabeça em seu ombro direito.

– É dia de feira? - brincou, fazendo a moça rir.

– Não, só... Só me ponderando nos dias. Vai agora? - o olha. Ele afirmou. – Quer mesmo que eu fique?

– Sim, tenho certeza. Assim eu me sinto melhor.

Ele lhe dá um selinho e desvencilha-se dela, passando pelo balcão ajeitando o coldre.

– Vai ficar bem?

– Vou.

A moça se aprontou com uma camisa bege e blusa preta, um jeans com barras dobradas e suas casuais botas de couro, deixando o cabelo preso num rabo de cavalo.

A calmaria dominava as ruas de School City. Nenhum vizinho passava pela manhã e o silêncio era absurdo. A casa do casal ficava na diagonal do cemitério atrás da igreja com torre, sendo o tanto perturbador na hora de apreciar a noite pela janela e dar de caras com túmulos enfileirados. Mas para Vanessa pouco importava agora.

Ela saiu para a varanda com o calendário em mãos, se apoiou na extremidade da madeira branca e com a canhota puxou o isqueiro.

– Eu não faria isso. - diz a voz tranquila.

Vanessa olha na direção, vendo o careca com trajes militares se aproximar do quintal com as mãos nos bolsos. Era Mitt, com um charuto na boca, agora tirado para melhor movimentar dos lábios.

– Foi ideia da Judy. Creio que ela ficaria chateada se visse isso.

– Não a conheço e pouco me importa. - acende.

– Se vai mesmo fazer, pode me entregar? Talvez tenha alguma casa faltando. - indica ao redor. – Saber os dias é importante.

Vanessa fecha o isqueiro e estende o calendário na direção dele. Mitt exala a fumaça, se aproxima e pega os folhetos.

– Agradecido. - dá meia volta.

– Diga a ela que isso não é mais relevante.

– Se você encontrá-la, eu direi. - disse sem olhar para trás.

– Como assim? - cruza os braços.

Mitt para na calçada e olha por cima do ombro. Ele umedece os lábios e vira-se para ela.

– Ela foi exilada. Foi bem no começo. Não me surpreende o Phillip não ter contado.

Silêncio.

Vanessa mantém os braços cruzados.

– Bem, tenha um bom dia. - acena, deixando o quintal.


* * *

No portão, a van tinha as portas abertas na traseira onde os coletadores deixavam suas tralhas para a saída. Janet deixou a mochila no compartimento e se afastou para apanhar o pé de cabra na mesa próxima ao meio fio. Mas a jovem de touca que deixava apenas a franja e as pontas rosas para fora paralisou ao ver o asfalto sujo com a cor grená de sangue impregnada.

– O da toquinha. - Léo a toca, tirando-a do transe. Ela o encara com os olhos arregalados. – Tudo bem?

– Tá.

– Legal. Pode me dar isto? - indica ao pé da cabra em sua mão.

– Claro. - lhe entrega e sai dali em passos apertados.

Léo a fita com o cenho franzido. Ele então percebe a mancha na visão periférica e logo lembra-se do acontecido com Tyrone. Na noite daquele mesmo dia aterrador, Phillip lutava contra o asfalto num conjunto de sabão e álcool, mas no fim a mancha permaneceu ali como uma lembrança de mau gosto.

O rapaz jogou a ferramenta para dentro do veículo e entrou junto com Han. Juntos fecharam as portas em sincronia.

O utilitário deixou a comunidade. O portão fechou assim que passaram na velocidade que afastava os cascalhos e folhas secas ao redor.

Marian assumia o volante com as mãos enluvadas e sem dedos. A blusa com touca a aquecia naquela manhã fria e seus dreads estavam amarrados, algumas mechas encostando no tecido verde escuro.  Já Erich, no banco carona, era totalmente o contrário. Usava uma regata cinza com um pequeno buraco no ombro direito, calças largas e tênis sujos de areia que estavam apoiados no painel do veículo.

– Sente falta da besta? - Marian puxa assunto.

– Não. - abre uma bala de menta e a oferece.

– Não era do seu irmão? - aceita a bala.

– Por isso não sinto falta. Passei anos da minha vida reutilizando as coisas dele. Mas se for pra eu tê-la de volta, vai ser só pra enfiar uma flecha no rabo daqueles desgraçados. - diz, referindo-se claramente aos Golders.

– Entra na fila. - muda a marcha na curva.

(...)

A van foi deixada num barranco, escondida por folhas e galhos. O grupo seguiu pela pequena cidadezinha Murray 134th. Estruturas comercias ficavam grudadas umas as outras como uma vila de faroeste, distinguidas por fachadas desbotadas de diversas cores. Uma indicava um mercadinho, outra uma drogaria local e assim por diante.

O lado direito da cidade tinha espaço para tonéis grandes e redondos onde um dia moradores de rua viveram dentro. Cercado por grades com arames em cima que agora se encontravam pendurados pelo caos que instaurou-se no início da epidemia. Havia corpos dentro do terreno, mutilados ou ainda servindo de prato para alguns esfomeados que não notaram a presença deles.

Rulek parou a frente do grupo e a mão com o pé da cabra apontou para a confeitaria na esquina.

– O que acham? - o homenzinho pergunta.

– Pra quê? Não é pra gente mesmo. - retruca Marian. – Estamos aqui nos arriscando pra dar aos outros. Isso que é palhaçada.

– Ele disse metade. - diz Han. – Ele não vai nos tirar um monte de doces pra deixar o pessoal dele diabético. Vamos tentar.

– Vocês que sabem.

Léo toma a frente deles, encarando o prédio de tijolos à dez metros. Um Mustang prateado está estacionado no meio fio, com o porta-malas aberto. Como se não bastasse, a frente do carro clássico estava um caminhão com o reboque coberto pela cortina de PVC transparente.

– Alguém tá vendo isso?

Todos atentam-se na mesma direção. O receio bate neles ao verem o veículo.

– Fiquem perto. - disse Erich, empunhando sua faca de caça.

O quarteto dirige-se na direção dos automóveis, olhando em volta à procura de movimentação. O besteiro que lidera parou de repente, cessando assim o andar dos demais. O motivo foi a saída de dois indivíduos musculosos que carregavam uma mesa.

O careca alto e negro era Beneke. Ele percebeu na hora a presença deles e abriu um sorriso mostrando os dentes esbranquiçados. A blusa de manga curta rosada deixava a tatuagem no braço esquerdo à vista.

O outro encarregado de segurar a frente da mesa usava uma boina, uma blusa vermelha sob o colete preto e calças rasgadas. Ambos reconhecidos de imediato por eles: Golders.

– Querem dar uma mãozinha? - Beneke zomba.

Marian trincou os dentes e cerrou os punhos, contendo sua raiva.

– O que fazem aqui? - Erich pergunta.

– O mesmo que vocês. - leva a mesa para dentro do caminhão. O outro homem a empurra mais para o fundo. Beneke bate nas mãos empoeiradas e as leva na cintura em seguida. – Mas eu recomendo que vasculhem em outra área, essa já tá coletada.

– Parece que nossos serviços não são necessários, então. - Léo retruca.

– Bem, entendam-se com Gormax. - sorri. – Melhor procurar no quê? - franze o nariz. – Um raio de 50km, Bruce? - pergunta ao amigo.

– Não sei. Acho que é mais. - Bruce encara Marian.

Erich comprime os lábios, força o punho da faca e ergue a mão que a segura. Ele a trava no ar, pensativo, até que concorda com a cabeça, alterando seu semblante.

– Tá certo. Vambora, pessoal. - Erich dá meia volta. Os demais fazem o mesmo.

– Muito bom. - Beneke diz atrás deles. – Continuem procurando, senão a barriga de vocês vai ficar mais vazia que a do Tyrone.

Isso foi o suficiente para Marian virar puxando sua faca e correr na direção do sujeito. Beneke se assustou com o avanço repentino e quando deu por si, estava contra a parede de tijolos e a ponta da lâmina parada centímetros de seu olho esquerdo.

– Marian!

– Opa! Opa! Opa! - Beneke adverte o besteiro com a mão, a canhota também é estendida impedindo Bruce de puxar a G23 do coldre. – Ela é corajoso. - sorri.

Os olhos castanhos da moça estão fixos aos dele, fumegando de raiva. Seu rosto treme com os lábios comprimidos e a faca rodeia o ar. 

– Por que não termina?

– Vai se foder, babaca. - murmura ela.

Han percebe que mais seis pessoas surgem atrás da estrutura da calçada oposta, todas carregando caixas e mochilas pesadas.

– Marian. Vamos. - indica com a cabeça.

A enraivecida olha na direção do sexteto que diminui o passo ao ver a cena.

Beneke solta uma risada.

– A escolha é sua.

Ela volta a olhá-lo, muda a posição da lâmina e a passa rasgando levemente a bochecha do sujeito. Um arder é sentido por ele e o alívio é imediato quando ela se afasta guardando a faca.

Beneke passa os dedos na região e os vê sujos de sangue.

– Bon voyage. - Bruce se despede.

O grupo se afasta, alvos dos olhares dos Golders.

Sem olharem para trás, o quarteto chega a van. Marian bate a porta com tudo. Eles se acomodam no utilitário e ficam num longo silêncio, apenas encarando o grupo pelo para-brisa.

Não demorou para que os veículos partissem. O caminhão bambaleou com os buracos na estrada e saiu em alta velocidade depois da curva.

– Filhos da puta. - resmunga ela, girando a ignição. – Vamos, me xinguem.

– Pra quê? Eu teria feito o mesmo. - diz Han.

– Sei que sim. - dá ré na van.

Han volta para trás e senta-se no travesseiro que amortece o atrito, que estreme pelo ronco do motor.

– Espera! - Léo adverte. Marian solta o volante na hora. Todos olham para o rapaz. – Cadê o Rulek?

Eles percorrem olhar pelo interior do veículo, mas nada do paradeiro do anão. Erich olha para o para-brisa e encara a estrada vazia.

– Desgraçado.

*  *  *

Entre as árvores enraizadas o andarilho de maxilar pendurado recebeu um golpe da sola de Phillip. A têmpora foi danificada e a cabeça bateu direto contra o tronco próximo, matando de vez a coisa que deixa parte de seu tecido podre na madeira úmida ao deslizar. Phillip agacha-se e revista o corpo.

Os arbustos se remexem. Por reflexo, ele levanta o facão na direção da vegetação agitada. Dali então sai Jack com uma pá ensaguentada em mãos.

– Disse que tinha deixado aqui? - Jack franze a testa, olhando para o monte de pastos na área aberta.

– Isso. - Phillip levanta, limpa a sola no gramado e dirige-se para as gramas altas. – Mais ou menos... - bate o facão no solo. – Aqui!

Jack crava o metal da pá no solo, empurra com o pé e tira o primeiro monte de terra dali. Ele repete o processo que aumenta gradativamente aos olhos de Phil. Em cinco minutos o que procuravam já podia ser visto.

Phillip se ajolheou e ambos puxaram a bolsa larga e preta. Depositaram-na ao lado do buraco, partículas de terra voaram na colisão. O zíper foi aberta, revelando duas espingardas calibradas em conserva.

– Eu e o Gale fizemos isso por quando começamos erguer os muros. - Phillip conta, pegando a arma. – Só usaríamos em emergências.

– Espertos. Mas duas armas não vão dar cabo de um grupo inteiro.

– Eu sei. Ao menos temos uma garantia maior do que só facas.

Jack baixou a cabeça, manteu a mão apoiada no joelho erguido e soltou uma fungada.

– Sinto pelo que aconteceu. Tanto com o Tyrone, quanto com o Gale. Talvez se não estivéssemos aqui...

– Não faça isso com você. Foi escolha minha trazê-los. E acredite, me sinto bem com a presença de vocês.

O grunhido chamou atenção deles. A dupla levantou e assim viram a velha de vestido longo e sujo nas pontas cambalear na direção deles.

Ela abriu a boca com dentes podres, liberando bílis preta. Isso permitiu que a ponta da flecha que cortou o vento fosse vista no fundo de sua goela. A criatura caiu de joelhos e deu de cara no chão. Yuki foi revelada com o arco em mãos.

Jack assentiu a ela.

A bolsa foi pega e ambos seguiram em direção a arqueira.

– Devia estar na enfermaria. - disse Jack.

– Clara e Tyler dão conta do lugar. E eu precisava treinar. - diz ela, ajeitando o coque nos fios grisalhos.

Eles vão juntos para dentro da floresta, caminhando de volta para casa. A serenidade de não haver nenhum zumbi presente não incomoda o trio, nem mesmo o som predominante dos grilos e pássaros. É nesse momento de calmaria que a pessoa que os observa dá uma passo meticuloso para manter sua discrição.

Axel se recuperou rápido da ferida, sustentado pelo doação de sangue vinda da esposa e do melhor amigo, Duane. Ele não demorou a voltar a atividade após acordar, mais motivado do que antes.

Nesse momento ele assumia a vigia da comunidade. As mãos apoiadas na viga de madeira da plataforma e o cantil prateado com uísque na destra. Em volta de seu ombro estava pendurada a bandoleira do rifle de longa distância.

Os curtos intervalos da madeira rangendo o fizeram olhar para a escada, onde então viu os primeiros fios ruivos sobressairem no sol da manhã. O rosto sardento de Cassie se materializou, os olhos redondos foram direto ao militar de vigia. Axel sacudiu o cantil em cumprimento e a menina subiu. Ele voltou o olhar para fora dos muros.

– Achei que eu ficaria até a noite. - brincou ele.

– Eu só quis dar uma olhada. Não dá pra ver muita coisa lá de casa. - põe as mãos no bolso do moletom.

– Sinto muito pelo seu pai.

– Estou bem com isso. É perca de tempo ficar chorando.

Axel dá uma risada e toma um gole do uísque.

– Sabia que eu tinha uma filha? - ela o olha. – Quando eu acordei depois do tiro, eu disse a minha esposa o sonho que tive. Era num canteiro de flores, algo estranho porque eu odeio flores. Mas então eu lembrei de quem gostava. A minha doce Lydia. E ela estava lá, a Neiva também. E eu chorei como um bebê. No sonho e depois. - funga, toma mais um gole da bebida. – E foi bom. - vira-se para a ruiva. – Não lembro de ter chorado há tempos. Eu precisava disso.

– Por que me disse isso?

– Sei lá. Parece que tem medo de mim. - seu comentário tira uma risada da ruiva. – Mas saiba que sou tão Maria mole quanto qualquer outro. E pode achar que ficar choramingando por aí é coisa chata, mas às vezes é a melhor coisa que se tem no momento. Porque quando não sabemos o que dizer, as lágrimas falam por nós.

Cassie compreendeu em um aceno de cabeça.

Ela desvia para o exterior e o que vê a faz se aproximar. Axel seguiu seu olhar, curioso.

Pequenas figuras distantes no horizonte de entrada saem dos arbustos, três ao todo. Na mira do rifle ele vê Jack, Phillip e Yuki. A direção da arma muda, centímetros das cabeças do trio. Oss arbustos ainda se mexiam. Se fosse um andador, ele os abateria dali mesmo.

No visor circular e ajustável, o formato da cabeça grisalha passou por um instante entre as folhagens, motivo o suficiente para Axel apertar o gatilho. O estampido percorreu o grande campo esverdeado. As árvores farfalham pelo susto das aves.

O trio se encolheu e em sincronia olharam para trás. A figura que os observava correu para dentro do matagal. Eles não demoraram para levantar e seguir o curioso, atropelando os arbustos pontudos.

Jack correu balançado a pá, saltando galhos e desviando dos troncos grossos. Mais a frente avistou o sujeito agarrar-se a uma árvore para auxílio na curva. Jack saltou o riacho, subiu o barranco desajeitado e deu uma olhadela no cenário nebuloso. Ele voltou a correr em linha reta e por puro reflexo, desviou do golpe que o atingiria. Seus joelhos deslizaram no solo esburacado, rendendo ralados e tecidos da calça rasgados.

O agressor escondido atrás da árvore tentou outro golpe com sua espada. Jack girou para o lado bem a tempo da lâmina colidir contra a terra arrastada, assim ele passou a pá sob os pés do homem, fazendo o cair de barriga para cima. Imediatamente, Jack pôs seu joelho ralado sobre o tronco do mesmo e ameaçou cravar a pá em sua face. O homem ousado engatilhou a Colt .45 e a parou bem na cara de Jack.

– O que vai ser? - sorriu.

– Isso! - Yuki veio armando o arco.

Do lado oposto da árvore, Phillip saiu puxando a telha da espingarda e mirando o cano duplo na cara bronzeada e de fios grisalhos nas extremidade da barba. O detido engoliu em seco.

– Venceram. - baixa a .45.

*  *  *

Caixas de madeira com engradados de cerveja, potes de pimenta – tomate e milho –, tapetes felpudos, uma mesa de ping-pong e até o quadro da Monalisa retirado de algum lugar chique se encontrava no reboque coberto pelo PVC. Entre essas tralhas e conquistas, Rulek esgueirava-se por trás do colchão da água no canto do compartimento, balançando a cada solavanco do móvel. Ele conseguira entrar no momento em que Marian atacou Beneke, e sua baixa estatura contribuiu para sua furtividade.

A carroceria parou abruptamente, derrubando alguns pertences e quase fazendo o passageiro indesejado dar de cara na parede.

– Seu idiota. - o resmungo vem da cabine. – Pode ter quebrado algo lá atrás. - diz a voz abafada.

– Desculpa. Olha lá.

Rulek espera a próxima fala, apreensivo.

– Porra. O resto do comboio já passou a 38?

– Já.

Passos são escutados no exterior, mas vindos da traseira. Rulek vê o Mustang parado atrás do caminhão com a porta aberta.

– O que tá havendo? - pergunta outra voz.

– Lá na frente. - respondeu o mesmo sujeito que resmugara.

Acontece que um bando de andarilhos atravessava a estrada como uma matilha em uma espécie de migração. O dono do Mustang deu a ideia de passarem o tempo num jogo de cartas e assim dirigiu-se para trás do reboque.

Rulek puxou sua faca e se encolheu no pequeno espaço. Na fresta entre o colchão d'água e a parede, ele viu a cortina ser amarrada pelo sujeito calvo e de bigode.

O homem subiu, foi até o final do reboque e tirou uma caixa de cima da outra e arrastou a base da pilha, que sustentava o colchão ao lado. Isso fez com que o modelo deslizasse sobre o anão, revelando-o nas sombras.

– Mas que porra....

A faca rasgou a coxa do homem, manchando sua calça desbotada. Ele soltou um grito na hora de recuar. Rulek conseguiu pegar a arma no coldre do esfaqueado e num piscar de olhos, disparou nele, abrindo um buraco em seu queixo. Matéria do lóbulo cinzento respingou no teto e o corpo derrubou as caixas ao cair.

O anão ouve a corrida no lado esquerdo da parede e logo atira centímetros a frente, fazendo um buraco no reboque. Disparo certeiro no homem da carona que baqueou contra o asfalto. O buraco de bala esfumaçava.

– Parado! - Bruce surgiu no lado oposto, mirando a M1.

Ele não viu ninguém dentro do reboque escuro, mas manteve a mira. Percorreu o olhar em cada canto da lataria, chegando a ver o corpo do amigo falecido entre as caixas.

– Aparece, filho da...

Um tiro atinge seu ombro.

– AHHHHH.

Bruce cai de cabeça no asfalto, fica zonzo e apalpa o chão em busca da arma. Rulek deixa o reboque num salto, chuta a M1 para longe, pisa no ombro atingido com o pé esquerdo e mira entre os olhos do agonizado.

– Não, por favor! - leva a mão a frente do rosto.

– Vamos dar um passeio, bichinha. - Rulek diz entredentes.

(...)

Na colina alta, onde a paisagem do mar proporcianava uma vista ampla do horizonte extenso por um tipo de cortina branca, o Mustang parou. Dali os dois navios cargueiros, tendo o direito maior aglomerado de pessoas, foram avistados.

– Quantos de vocês? - Rulek pergunta, fitando a paisagem.

– Mais de cem. Eu acho. A última contagem registrou isso.

– Bom saber.

– O que vai fazer agora? - questiona o amarrado de nariz sangrando.

– Algo que não é da sua conta. Se vira. - Bruce obedece. – Andando. - indica para o carro.

Bruce seguiu até o Mustang numa vontade intensa de correr, mas sabia que o tiro seria fatal caso fizesse.

– Seja lá o que tá pensando, vocês não tem chance alguma. Somos... - cai de joelhos ao levar um chute nas pernas, bem ao lado da porta do carona aberta. – Filho da puta.

O ajoelhado ficou na altura ideal para o anão apagá-lo com uma coronhada da arma.

– Falei que não é da sua conta, miserável. - guarda a arma e pega o sujeito pelos braços.

*  *  *

Phillip abriu a cela onde o sujeito visto mais cedo era mantido, que por garantia tinha braços e pernas amarrados. Junto ao líder, Jack e Neiva se apresentaram com o sujeito na escuridão do recinto.

– Trouxeram algum alicate pra cortar minhas unhas ou o quê? - ele zomba.

Ninguém respondeu.

Phillip puxou uma cadeira e sentou-se na frente do prisioneiro. Os outros dois ficaram na porta da cela.

– Seu nome.

– Suleiman. - responde de imediato.

– Árabe? - Jack pergunta, ganhando o olhar do apresentado.

– Isso. Árabe. - volta o foco a Phillip.

– Gormax te mandou não foi?

– Quem? - franze a testa.

– Corta essa. - Phillip insiste. – Por qual outra razão estaria nos vigiando?

– Por que têm uma aparência boa. Não se encontra muitas pessoas assim hoje em dia. Digamos que eu estava curioso. E vocês têm um bom guarda, isso eu admito. Olho bom. - umedece os lábios. – Mas sugiro que me deixem ir, antes que meus homens comecem a me procurar.

– Seus homens?

– Eles precisam do líder, não? - sorri.

– Então tem um acampamento.

– Não, um zoológico. - pontua. – Sei que parece estranho, mas sim. É bom lá. Posso levá-los se quiserem.

– Que tipo de cara leva desconhecidos pra própria casa? - Neiva indaga.

– O tipo que analisa bem o fato deles não terem o matado ainda. Pode ser sinal de pacifismo ou só querem algo mesmo. - olha ao redor. – E o fato de terem uma cela. Uma, não duas, não três. Só uma. Não sou um psiquiatra nem nada, mas creio que pessoas com más intenções teriam mais que isso. Uns instrumentos de tortura na parede, talvez. - aponta. – Algo assim.

– Tem mais alguma coisa a dizer? - Phillip cruza os braços.

– Ele tem sim. - diz Neiva. – Seu bolso.

Phillip e Jack estranham, chegando a olhar a velha ao mesmo tempo.

Suleiman deu uma risada, negando. Lentamente ele retirou o canivete suíço do bolso direito da blusa.

– Tínhamos revistado o desgraçado. - Jack disse.

– Sim, mas não o tênis. - disse ela, apontando. Os cadarços do calçado esquerdo estavam desamarrados. – Eu devia ter previsto.

– Policial? - sorriu ele.

– Malandro?

A área clareou no abrir da porta. Janet apareceu na entrada.

– Tem gente no portão. - disse breve, ofegante pela corrida.

Phillip recolheu o objeto, deixou a cela e a trancou no mesmo instante.

Eles foram guiados pela jovem até a entrada da comunidade. A dez metros, Axel foi visto sobre a plataforma mirando seu rifle para fora.

– Axel, o que foi? - Neiva indagou.

– Visita inesperada. - olha para a esposa.

– Eu só quero conversar. - disse a voz do outro lado, família para Phillip.

O líder destravou a entrada e arrastou o portão. O luar azulado revelou a loira de blusa militar com mangas arregaçadas, acompanhada a uma caminhonete de faróis ligados.

– Samora? - arqueou a sobrancelha.

– Eu posso atirar?

– Um momento, Axel. - adverte Neiva com a palma.

– Só quero conversar. - Samora insiste.

Eles não deixaram de notar a carroceria ocupada por três indivíduos: Spencer, Hannah e Wenger.

– O que fazem aqui? - indaga Phillip.

– Aquilo tudo que aconteceu foi compreensível. Quer dizer, você explodiu. Detonou a cara do Gale. - olha sobre o ombro. – Nós te entendemos. - volta a olhá-lo. – Viemos ajudar.

– Como?

Samora olhou para os parceiros no carro e assentiu. Eles desceram e despacharam duas bolsas grandes - onde uma precisou ser carregada por Spencer e Wenger em cada alça.

– Nossa contribuição.

Jack passou pelo líder, ajoelhou-se e abriu a bolsa larga. A M4A1 destacou-se primeiro no monte de armas sob ela. Jack olhou surpreso para os visitantes, apoiando o braço no joelho.

– Gale sabe?

– Não, mas vai. Considerem como um adiantamento.

– Isso... Obrigado. - agradece Jack.

– Lutaremos também.

– Isso já é demais. - Phillip intervém.

– Não, é o que faremos. Tyrone e Domingo eram nossos amigos também. Gale pode ser egoísta o bastante, mas nós não.

– Só aceitem. - diz Spencer. – Vão precisar de gente, não é?

Phillip respirou fundo, concordando. Se aproximou e estendeu a mão. Samora aceitou o cumprimento, abrindo um sorriso de canto.

– Obrigado. - Phillip dá sua gratidão com um sorriso tímido. – Sobre o que eu disse antes, me desculpa.

– Tá tudo bem.

– E ele tá melhor?

– Se recuperando. Você sabe, é o Gale.

– Sei bem.

– Muito bom. Agora temos garantia. - diz Axel, apoia a perna na viga da plataforma. Todos olham para ele ali em cima. – Mas qual o plano?

*  *  *


Sem os faróis ligados, guiada pela luz natural, a van seguia pela rua comercial. Algumas silhuetas mórbidas de desfalecidos surgiam no caminho. A piloto evitava qualquer atropelamento. Passou pela placa indicando a saída da cidade e logo mais adentraram a estrada arborizada. No fim dela, o par de faróis altos destacou as árvores farfalhando na ventania noturna.

– Reduz. Reduz. - Erich manda, puxando a faca de caça.

A velocidade diminuiu gradativamente, e a do veículo a frente também. Logo a van parou de vez no meio da linha que separa as mãos da estrada. O carro anônimo pelos faróis altos parou cerca de quatro metros da van que roncava o motor.

– Acha que são eles? - Marian pergunta sem tirar os olhos das luzes.

– E por que não atiraram? - Han joga a questão por cima.

Os faróis piscaram num sinal, assim o índigo do Mustang foi visto por eles.

Um sorriso foi se abrindo no semblante de Marian, que virou-se para os demais. Erich focou no esportivo novamente, abaixou a lâmina e não deixou de se contagiar com a empolgação da moça.

— 4.01 —
"23.09.11"

VOLTAMOS DEPOIS DE SEI LÁ QUANTO TEMPO! Saudades?

Demos uma engrenada interessante nesse primeiro capítulo. Foi mais um rewind do que rolou anteriormente.

Tivemos Chuck, o boneco assassino, em atividade (o anão é brabo), um árabe que surgiu do além trazendo uma proposta interessante e uma lembrancinha vaga da Lydia.

Ainda lembram dela, né?

AS NOVAS:

Teremos capítulos no sábado e no domingo, às 22hrs. Isso vai compensar o tempo sem o livro e ainda fica muito melhor para acompanhar.

É isso. Abraço por trás.

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