T3:C8 - Frequência X
- A avenida Washington foi devastada pelo que parece ter sido uma queda repentina de um Boeing 737. Bombeiros e médicos agora vão até o loca... - a voz se perdeu na estática.
- Setenta e duas horas. - Duane murmurou, vidrado na paisagem de fora do carro.
- Pai? - Marian o despertou do transe, depois voltou o foco a estrada. - Tudo bem?
Duane se ajeitou no banco, ficando ereto, com um pigarro, seguido de uma olhada para o banco de trás do qual contava com a presença de Yuki, o ex militar respondeu:
- Tô sim, filha. - abriu o porta luvas e puxou o mapa dobrado. - Quanto falta, Yuki?
- Só mais 5km.
- Tá certo. - abriu o extenso mapa.
Marian puxou o walkie-talkie do cinto da calça.
- Rulek, estamos chegando.
- Entendido.
Não demorou para que Marian encostasse o Jeep Grand Wagoneer. Rulek, Cristina e Carly já esperavam na na caminhonete. O anão estava sentado sobre a caçamba junto a Cristina, enquanto Carly esperava escorada na porta do piloto.
- E então? - Cristina levantou, indo até Duane.
- Não muito. E vocês?
- Nada. - Rulek respondeu. - Uma pizzaria vazia. Só tinha maionese. - sacudiu o bote. - Pelo menos teve um recadinho do entregador. Quer ler?
- Vamos andando então. - Marian adiantou. - Talvez o resto tenha tido sorte.
- Fechado.
(...)
A caminhonete guiava o Jeep pela estrada que já deixava a neve por tempos. Parecia que o inverno estava chegando ao fim, deixando apenas as folhas caídas no asfalto e céu cinzento de todos os dias.
- Como estão? - Vanessa indagou pelo rádio.
- Não tivemos muita sorte. - Rulek respondeu. - Já estamos voltando. - deu uma olhada na placa. - Passando pela 62.
- Entendido. Nos vemos em breve.
- Abraços. - desligou. - Não vai demorar, vai?
- Talvez duas horas. - Carly chutou.
Um Jeep preto entrou no campo de visão do passageiro quando a curva foi feita. O veículo bateu contra a lataria e com a velocidade, o Jeep subiu na colisão passando por cima da caminhonete e indo ao chão com as rodas para cima. A lata velha derrapou no centro da estrada e parou.
O carro onde os outro estavam parou. Saíram do automóvel e dirigiram-se aos amigos acidentados. Marian correu até a porta amassada.
- Estão bem?
- Defina bem! - Carly tirou a cabeça do volante. Sua testa sangrava.
Duane desviou o caminho para o Jeep capotado, ergueu a arma quando dois homens saíram do mesmo se rastejando.
- Mãos pra cima!
O primeiro a ficar de pé obedeceu, o outro fez o mesmo.
- Que porra foi essa?
- Estávamos muito rápidos. Não foi intensão. - o mais alto falou.
Grunhidos vieram da mata que rodeava a estrada. Logo os mortos surgiram da direção onde estava o carro estacionado.
Os acidentados foram retirados do carro.
- Pai!
Duane voltou-se para a filha, baixou o braço e correu para ajudar.
A onda de mortos vinham com tudo. Pareciam estar a espreita deles. Sem chances de voltar para o carro, o grupo embrenhou-se na Staffmark próxima. Antes que Marian e Cristina pudessem fechar as portas, os causadores do acidente vinham correndo até o edifício. Com uma troca de olhares entre ambas, permitiram a entrada deles e logo fecharam a passagem. Uma barricada foi feita as pressas, podendo conter a leva de famintos que se aglomeravam no vidro.
- Já que estão aqui, vou dar uma olhada em vocês. - Yuki disse. - Sou médica. Posso ajudar.
- Tá bom.
- Primeiro, vamos revistá-los. - Marian entrou na frente.
A revista foi feita e nada mais que um walkie-talkie e um alicate foram encontrados em seus bolsos. As armas haviam ficado no Jeep, segundo o mais alto que se denominava Tobey. Calvo, olhos azuis, uma postura robusta e sonbrancelha tão grisalhas que eram imperceptíveis em sua feição. Aparentava uns 70 anos, e as vestes sociais contribuíam para a idade.
O outro era mais baixo, cabelo lambido pelo gel e a testa tomada pelo suor e sangue, pele parda, de olhos puxados não de descendência asiática e acompanhado de uma barba feita.
Yuki tratou de seus amigos e então foi-se até os dois culpados que esperavam sentados sobre a mesa do local.
- Mac. - o baixo se apresentou enquanto examinado.
- Yuki. - passou o algodão na ferida.
- É um prazer. Não nessas circunstâncias, mas é sempre bom saber que há mais. Entende? - sorriu.
- É.
Um zumbi caiu no fim do corredor. Cristina saiu da escuridão após derrubar o andador.
- Os fundos dão para um estacionamento. Fizeram uma barragem na porta. Se abrirmos as janelas, saímos.
- E vamos deixar o suprimentos? - Rulek indagou por cima do balcão.
- Não dá pra voltar.
- E não vamos deixar nossas coisas. - Mac se intrometeu, chamando a atenção de todos. - Digo, tem coisas importantes lá. - olhou de canto para Tobey.
- O quê? - Duane saiu de perto da janela.
- Armas, mantimentos. Você sabe.
- E posso saber o motivo da pressa? Vocês fuderam legal com a gente.
- O mundo morreu, não existem normas de trânsito.
Duane encarou o homem, pairando o silêncio nessa troca de olhares.
- Vamos sair logo. - Cristina baixou a tensão. - É melhor do que esperar que o vidro se quebre.
- Claro. - Yuki concordou afim de manter a calmaria.
- Vocês saem. - Duane disse. - Eu e a Marian ficamos aqui no saguão para que os mortos não se desviem. Depois saímos.
Cristina assentiu. Ela, Carly e Rulek dirigiram-se aos fundos com os dois novos amigos. O pai e a filha batiam contra as janelas para manter os mortos ocupados.
Cristina subiu a elevação da janela, checou o estacionamento e quando teve certeza de estar tudo limpo, abriu vagarosamente o vidro.
- Devagar. - cochichou.
Foi a primeira a sair com um pulinho pouco chamativo. Atrás dela vinham Mac e Tobey, enquanto Rulek, Yuki e Carly garantiam a guarda da amiga ficando atrás de ambos.
A loira espreitou por trás da ambulância estacionada e então seguiu. Mac continuaria a caminhada, até que teve seu braço agarrado por um mordedor de dentro da ambulância. O faminto se esticou para fora da janela e abocanhou o antebraço do homem. Seu grito de dor acabou com toda a furtividade do grupo.
Ambos ainda dentro da Agência desviaram-se assustados com o grito. Os mortos nas janelas saíram dali. Duane tentou uma última batida, mas de nada adiantou.
- Merda.
Cristina avistou o monte de mortos entrarem no estacionamento. Deu um tiro no mais próximo.
- Para dentro!
Rulek apagou o zumbi com sua lâmina, deixando o corpo pendurado pela cintura. Mac foi levado por Tobey e Carly, que adentraram o estabelecimento novamente. Duane e Marian apareceram na janela chamando por eles. Cristina levantou Rulek para que pudesse subir e em seguida foi auxiliada por Marian. O vidro foi fechado e os mortos estenderam os braços na janela.
- A entrada! - Duane correu de volta para o saguão.
Quando o militar desfez uma parte da barricada, saiu mas acabou atraindo os que ainda estavam atrás, que logo voltaram-se para ele.
- Pai. - Marian o puxou para dentro.
A barricada foi refeita por ela de forma desesperada.
Mac havia sido deixado sobre o balcão. Um círculo se formou ao seu redor onde Yuki era a principal para a amputação do braço.
Duane manisfestou uma raiva repentina que o fez levantar a arma para Tobey que tentava ajudar o amigo.
- Que isso? - Carly se assustou com o ato repentino.
- Quem são vocês? - Duane elevou seu tom.
- O quê?
- Duane, este homem precisa de ajuda. Podemos saber de tudo depois. - Yuki falou, impaciente. - Rulek, a machadinha.
- Como é? - Mac ergueu a cabeça.
- Só assim estará a salvo. Duane!
Duane baixou a arma e liberou o refém. Tobey voltou para o amigo.
- Vai ficar tudo bem, cara.
- Sai da frente. - Rulek veio, subiu a cadeira e analisou o braço. - Deixa comigo. - preparou a machadinha.
- Vai! - Yuki mandou, colocando a mão sobre a boca do ferido e esticando o braço do mesmo.
Rulek fez sem pestanejar, deliberou um golpe na área próxima da veia, depois outro e mais outro. O sangue espirrava nas pessoas ao redor e o homem gritava abafado sob as mãos da médica. Com um último golpe, o braço foi partido, se mantendo apenas por uma veia de ligação que logo foi cortada. O balcão por inteiro fora pintado com o sangue.
- Tudo bem. Você tá bem, parceiro.
(...)
Nos fundos, Duane observava a janela com marcas de dedos intermitentes. Carly veio com um pacote de amendoim e sacudiu para o segurança vidrado.
- Pega aí.
O homem apanhou cinco do pacote.
- Não quer saber se ele tá bem?
- O que importa?
- Ele é humano. Você também. - riu. - Essa não foi a melhor das justificativas.
- Não, não foi. Conseguiu contato?
- Léo disse que estão a caminho. Vão chegar pela manhã. A gente espera. - comeu mais um amendoim. - Como tá?
- Tudo tranquilo.
- Não a vistoria. Você. Depois do que aconteceu lá na fazenda...
- Eu tive que suportar a morte do meu filho e amigos. - virou o rosto para ela. - Não há palavras pra descrever o que estamos passando. - passou a mão na boca, voltando a olhar o vidro. - A Katrina não merecia aquilo. Nenhum deles. A Angela... Jesus. Ela nem viveu direito. O Steve, eu mal falava com ele, mas perdê-lo foi como ter um parente seu morto. - encheu o peito de ar e então soltou-o. - E saber que a Sally estava grávida... - espremeu os lábios, negando. - Isso tudo nos aproximou.
- É. Não tem palavras. Sinto muito.
Duane, contendo as lágrimas, olhou para a moça dando um sorriso fechado e acenando com a cabeça. Logo se recompôs.
- Vou esvaziar as salas, pra termos onde dormir.
- Quer ajuda?
- Fica com essas e eu limpo as de cima.
- Fechô.
Subiu o andar que já dava acesso ao corredor de escritórios. Limpou cada um deles conforme avançava até o fim do corredor que tinha um janelão para a melhor vista da estrada. Na última porta fez o mesmo processo, bateu para atrair o andarilho e depois o derrubou com uma facada na testa. Adentrou a sala com uma mesa longa e cadeiras devidamente classificadas para membros que correspondiam com o crachá do assento. O redor da sala era composto por mais cadeiras enfileiradas.
O corpo de um segurança estava sentado na extremidade da mesa, a cadeira chefe por assim dizer. A cabeça erguida, barriga dilacerada e um buraco no queixo que atravessa a cabeça jorrante. Um quantidade relativa de sangue na parede que chegou a pintá-la.
Duane aproximou do falecido, puxou a cadeira de rodas, agarrou as pernas do corpo e quando pronto para arrastá-lo, o chiado do rádio no colete do segurança fez ele parar para ouvir.
- Alguém? - a voz soou agonizante. Era uma mulher.
Arregalou os olhos, erguendo o braço e puxando o rádio até a boca já com o botão pressionado.
- Estou na escuta. Quem fala? Alô?
- Você tinha setenta e duas horas. E mesmo assim não fez.
- O quê? Pode me explicar?
- Não é assim que funciona, Duane.
O militar franziu o cenho, distanciou o rádio da boca, negando o que acabara de ouvir.
- Como sabe...
- Cara - Carly surgiu na porta da sala. Duane voltou-se para a moça. -, você fez o rapa no corredor... Tá falando com alguém? - percebeu o comunicador.
- É... - rodou o botão. - Não funciona. - sorriu bobo, ficando de pé, bateu no objeto afim de ouvir algo.
- Ah. O subsolo tá limpo.
- Ótimo.
Carly e Duane desceram juntos. As vozes embaixo foram escutadas e a dupla parou no pé da escada, observando Tobey de costas, conversado com Mac. O ferido deu um tapinha no braço do amigo após ver a dupla próxima, Tobey se virou e ficou de pé com um sorriso amigável.
- Oi.
- Ele tá bem? - Carly indagou.
- Melhorando. - olhou para o amigo. - E vocês?
- Estamos.
- Bom. Se precisarem de nós, estamos dispostos a ajudar.
- Obrigada. Duane? - deu uma ombrada nele.
- É, obrigado. - passou por eles.
- Estamos gratos. - Carly disse. Passou por Rulek que rodava a faca em suas mãos, sentando sobre o balcão sujo. - Ouviu alguma?
- Os prisioneiros tão liberados, por enquanto. - sorriu. - Ele tá legal? - espiou Duane já distante.
- Vai ficar, eu espero. Olhos abertos, baixinho.
- Podexá.
(...)
- Uma sintonia perfeita para acompanhar esta noite fresca de sábado. Too Late to Turn Back Now, senhoras e senhores...
Mais uma vez a voz soava pela cabeça do militar sentando a mesa, girando o botão do rádio por todos os canais possíveis.
A frente da mesa havia uma janela para o estacionamento. O vidro contava com as mãos e rosnados intermitentes das criaturas famintas. Duane desviou seu olhar para eles por um minuto.
- Por que continua tentando? - a voz soou no rádio.
Ele encarou o objeto e o firmou nas mãos.
- Como?
- Por que ainda está aqui, Duane?
- Porque ela precisa de mim. Mais do que eu preciso dela. - encheu os olhos. - Acha que é o certo?
- Ele morreu. Ele morreu e você não fez nada. Assim como eu. Você tinha setenta e duas horas.
- Eu... Eu não pude. - fungou. - Eu tentei.
- Você prometeu. Você falhou como pai e agora nem sabe como continuar com o que resta.
- Eu não falhei...
Uma batida na porta da sala seguido de um "posso entrar?", interrompeu a conversa. Ele permitiu a entrada de Yuki após secar os olhos. Ela puxou uma cadeira no caminho e sentou-se ao lado dele.
- Oi. - ele cumprimentou com um sorriso fechado.
- Como está?
- Bem. De verdade. As janelas estão aguentando?
- Mais do que pensávamos. - deu atenção ao comunicador. - Com sorte?
- Eu encontrei em um dos corpos. Parece que não funciona muito bem.
- Engraçado, agora pouco estava ouvindo você falando. - encostou o queixo sobre as mãos depositadas nas costas da cadeira. - O walkie-talkie está com a Marian.
Duane sorriu, desviando o olhar e passando o indicador sob o nariz com uma fungada.
- Eu me lembro. Lembro de tudo antes disso. Até demais.
- Tipo?
- Quando minha mulher estava grávida, passávamos todo fim de semana no parque. - sorriu. - Ela me disse que gostaria de sentir o melhor da natureza antes do parto.
- Por quê? - aproximou a cadeira.
- Na primeira vez, eram gêmeos, perdemos. Quase a perdi também. Ela pensou que, se fosse pra acontecer, queria que tivesse uma lembrança confortante além do teto de um hospital. - baixou a cabeça. - Então, o Tony nasceu. - abriu um sorriso largo com os olhos brilhando.
Yuki devolveu com um sorriso amigável.
- Depois veio a Marian. - completou. - Estávamos bem. Sabe, ela sempre escutava os irmãos Cornelius e as irmãs Rose enquanto preparava o jantar. Às vezes dançávamos todos na cozinha. - riu. - Prometi a ela que cuidaria deles.
- E você conseguiu.
- Mesmo? - os olhos marejaram, a voz embargou.
- Mesmo. Viu como ele era. A Marian é espelho dele. Ambos tem um reflexo dos pais. Você conseguiu.
- Não tem pilhas. - bateu no rádio sobre a mesa. - Mas ouvi algo.
- O quê?
- A voz dela. A música também.
Yuki pegou o comunicador.
- Não mais.
O afastar dos mortos na janela foi atrativo para eles. A dupla saiu da sala em direção ao saguão que contava com a presença de todos na porta.
Marian encostou no vidro, ficou na ponta do pé para visualizar mais a frente dos mortos. Tobey se aproximou do vidro.
O porta malas do jeep capotado levou um empurrão que o abriu com tudo. Um corpo falecido caiu dali, logo atrás saiu um homem amarrado. O prisioneiro se desesperou com a quantidade de mortos indo até ele.
- Droga. - Marian foi até barricada.
- Não podemos. - Carly a impediu.
- Ele precisa de ajuda.
- Deixe ele. - Tobey disse.
- Por que tem um homem no seu porta malas? - Duane indagou.
- Apenas deixem ele. Os mortos tomam conta do recado.
A impaciência dominou o militar que avançou no homem, deixando-o contra a parede, já com a faca no pescoço do mesmo.
- Duane, não é a hora! - Yuki elevou o tom.
- Vão mesmo se arriscar por alguém que nem conhecessem?
- Podíamos ter deixado seu amigo lá fora! - Cristina retrucou.
- Ele é um cara mau. Fez coisas que não acreditariam.
- Espera que acreditemos? - Duane forçou a lâmina.
- Que seja. - Marian correu para os fundos.
Duane largou o homem e correu atrás da filha.
Tobey correu até o balcão onde Mac se encontrava.
- Temos que ir. Vamos nos encontrar com o Gormax e dizer o que aconteceu.
Os presentes ali voltaram-se para Tobey após ouvirem o nome dito. Mac franziu o cenho, fazendo Tobey se virar e indagar os olhares que o fuzilavam.
- O que cê disse? - Rulek levantou a pistola. - Carly, vá ajudar os dois.
Marian saiu pela janela do estacionamento, deu a volta até a entrada onde não haviam mais mortos. Quando a mesma gritaria para chamar os famintos, Duane pôs a mão em sua boca e a puxou.
- Deixa isso pra lá.
- Ajudamos as pessoas!
- Duane! Marian! - Carly veio correndo. - São os Golders!
Os gritos da moça atraíram os mortos de volta a agência. Antes que o trio iniciasse a corrida, uma sequência de disparos vindos de dentro quebraram a vidraça da frente.
- Vocês duas, pra dentro!
- Nem por um cacete! - Carly saltou a mureta ao lado, correndo na direção do prisioneiro.
Duane e Marian foram até a vidraça em pedaços. Tobey tentava tirar a arma das mãos de Rulek.
Cristina mirou e atirou no ombro do homem, encerrando a briga.
- Temos de ir! Agora!
- Não vai dar não!
Marian empurrou o pai para dentro. Os zumbis vinham com tudo até eles.
- Vamos!
O grupo correu até os corredores. A tentativa de sair pela janela dos fundos foi falha quando mais grunhidos soaram dali.
Yuki abriu a porta da sala ao lado. Eles se embrenharam no cômodo e antes que a porta fosse fechada, Tobey empurrou Yuki para dentro ao entrar. Com a vinda dos andarilhos, Rulek teve de fechar a porta. As batidas e arranhões iniciaram contra a mesma.
Cristina depositou o pé sobre Tobey e apontou a Glock 18.
- O que sabe do Gormax?
(...)
Do lado de fora, Carly chegou até o homem e o soltou. Ele engatinhou de volta ao jeep, puxou uma bolsa grande do banco de trás e voltou até ela.
- Vamos.
- Meu pessoal tá... - viu os mortos se aproximando.
- A gente cuida disso depois.
Se afastaram da multidão faminta. Carly entrou no Grand Wagoneer junto com o indivíduo.
- Vai lá. - Carly girou a chave.
A potranca roncou. Foi dado ré com o Jeep antes da aproximação dos mortos.
- Se formos morrer, gostaria de saber o nome do meu companheiro nesses últimos momentos.
- Thomas.
- Carly. - girou o volante. O carro rotacionou em cento e oitenta graus e seguiu veloz.
A piloto estacionou no acostamento quando distantes dos mortos. Thomas estranhou a parada.
- O que tá fazendo?
- Meus amigos ainda estão lá. - o olhou.
Os cabelos do homem cresciam, pareciam bem cortados para alguém num fim do mundo. Pele parda, barba feita - outro sinal de bom estado -, olhos grandes e castanhos acompanhados de uma cicatriz que cortava a sonbrancelha direita. Seu sotaque entregava uma nacionalidade mexicana.
- Você tá bem cuidado pra um prisioneiro. Saiu do Brasil?
- Escuta, eu não vou ficar aqui nem mais um minuto.
- Ei. Nós te salvamos, falou?
- Só vi você lá, moça.
- Mas meus amigos precisam de mim. Me diga que não pegou esta bolsa atoa?
No colo do homem, a pôs entre os bancos e abriu. Uma quantidade relativa de armas e bombinhas preenchiam a bolsa grande.
- Que saudade. - apanhou um rifle.
- Bonita arma.
- É, sim.
- Fazemos um trato, mexicano. Você me ajuda e pode ficar com elas no fim. São suas, afinal.
Thomas deu uma olhada no volante e suspirou.
- Que tal uma carona?
- Para?
- Te conto mais tarde.
***
- Vanessa, na escuta? - Yuki tentou mais uma vez.
Os vidros desfocados que rodeavam a sala tinham a aglomeração dos zumbis que a marcavam com suas mãos imundas.
Marian circundava a sala com o olhar focado em Tobey sentado sobre a mesa.
- Já tentou no canal 7? - Rulek quis saber.
- Já. Mesma coisa.
- Mesmo que cheguem, não vão nos tirar daqui. - Tobey se pronunciou.
- Quem é que falou com você? - o anão soou ignorante.
- O que estavam fazendo? - Duane tomou voz na extremidade da mesa. - O Gormax e seu pessoal, o que pretendem? Por que aquele homem estava no porta malas?
- Uma de cada vez. Já respondi grande parte.
- Não mesmo. - Cristina discordou, próxima da porta.
Tobey suspirou pesado.
- Olha, eu só sigo ordens. Ponto.
- E o homem que as dá, destruiu nossa casa. - Marian foi até ele.
- Imagino como estão agora. Sinto muito.
- Sente, é? Deixou seu parceiro lá no balcão. O que você entende de perder algo?
- O bastante. Mas veja, vocês não tem que me culpar por algo que outra pessoa fez e que nem eu sabia que havia acontecido. - olhou para todos. - Nem todos do meu grupo são como ele, falou? Tivemos problemas, é isso. E bem... Ainda estou respirando.
- Só porque precisamos de respostas. - Marian ficou a frente dele.
Yuki baixou o walkie-talkie e caminhou até a amiga.
- Talvez tenha razão. - coçou a testa. - Mas nada muda o que ele fez. Você não vai pagar pelo erro dele.
- Ótimo! Tá perdoado, amigo. Mas ainda estamos presos. - Rulek zombou.
- Damos um jeito.
A enfermeira foi até Duane que encarava um zumbi do outro lado da janela. Seu rosto refletia na feição do faminto por trás do vidro.
- Tem que dar um jeito nisso.
- Espera que eu tenha um as na manga?
- Às vezes é bom. - espiou por cima do ombro. - Me refiro a ela. - Duane também olhou. - Aquilo sobre você ser o espelho deles, agora faz mais sentido.
- Por quê? - a olhou.
- Você está com raiva. Ela também. Você quer matar... Você entendeu.
- Yuki, eu acho...
- Acho que o melhor a se fazer agora, é pensar em como sairemos daqui juntos. Todos, sem excessão. - se afastou, erguendo o rádio. - Vanessa?
Um estalo veio de fora, dispersando os zumbis presentes.
Atrás do Grand Wagoneer, Thomas arremessou outra bombinha no asfalto. Seu estalo tirou os mortos da agência, que logo foram para o centro da rua.
- Vai.
Carly locomoveu-se na espreita dos arbustos enfeitados, chegou no estacionamento, adentrou a agência pela janela.
- Pessoal?
O povo saiu da sala com uma euforia. Carly encarou o sujeito que ainda estara com eles.
- Tudo bem. - Cristina apaziguou.
Mac foi revelado no final do corredor se arrastando, ainda vivo e gemendo de dor.
- Porra. - Tobey foi até ele e o levantou. - Aguenta, parceiro.
Duane tomou posição para ajudá-lo a carregar Mac. O restante seguiu para fora da agência. Thomas encarou ambos os indivíduos com fervor, mas se recompôs e todos entraram no jeep.
(...)
A lua já dominava a estrada deserta e cheia de cascalhos.
Thomas e Tobey trocavam olhares outrora. Yuki saiu da caminhonete limpando as mãos.
- Vai ficar bem. Ele é bem forte, aguentou até que os mortos saíssem.
- Ele é durão. - Tobey cruzou os braços.
- Isso não muda muita coisa. - Thomas tomou frente. - Vocês me colocaram lá dentro...
- Estávamos seguindo ordens.
- Foda-se.
- Você matou um de nós.
- Vamos acabar com isso. - Marian engatilhou a Glock.
- Não! - Duane passou a filha e ficou de costas para a arma, encarando o homem. - Vocês vão embora.
- O quê?
- Foi o que ouviu, filha. - manteve-se fixo. - Vão levar o carro e ir embora. Ele não vai muito longe a pé.
Os companheiros do militar o encararam duvidosos com suas palavras.
- Vão agora. Antes que eu mude de ideia.
Tobey assentiu. Carly entregou as chaves à ele quando passou.
- Cuida bem, tá?
- Eu vou. - abriu a porta. - Obrigado, Duane.
- Vai.
Tobey entrou, deu partida na caminhonete com a porta amassada e se afastou na marcha ré. Os faróis altos deixaram de iluminar a área aos poucos.
- Que merda foi essa? - Marian indagou, indignada.
- Estou fazendo o certo. - olhou de canto para Yuki, que retribuiu com um sorriso fechado.
- Eles mataram o Tony. Seu filho.
- Eu sei. Eu sei.
Marian bufou, se afastou deles apanhando uma das sacolas retiradas do carro.
- Parece que eu perdi minha carona. - Thomas comentou.
- Que nada. - Carly diz. - Daqui um tempo, eles chegam. Ventinho gelado né?
- Chegaram! - Rulek avisou.
Uma van com faróis acesos diminuiu a velocidade na curva até parar. Dela saíram Vanessa, Newt, Léo, Han, Erich e Jack.
- Lugarzinho bonito, em. - Erich comentou ao se aproximar.
- Estão bem? - Vanessa perguntou.
- Bem melhores agora. - Yuki a recebeu com um abraço.
- Desculpem a demora. Tivemos uns problemas no caminho.
- O acampamento tá tranquilo?
- Sim. - Han respondeu. - Esperando por nós agora.
- Leonard?
Todos desviaram para o indivíduo até então desconhecido. Léo franziu a testa.
- Desculpa, nos conhecemos?
- Sou Thomas. E não, não nos conhecemos. - passou entre as pessoas com um sorriso crescendo. - Mas conheço seu pai.
Léo ergueu uma sobrancelha, olhou para os amigos ao redor e umedeceu os lábios.
- Walter Harper, não é?
- Isso. - Léo sorriu. - Como... Como o conhece?
- Eu tô ajudando ele a te procurar. Estávamos juntos até eu ser pego pelos caras.
- Que caras? - Jack perguntou.
- Golders. - Duane respondeu. - Demos conta.
- Então... - Léo ficou sem palavras.
- Posso te levar até ele. Temos um lugar com muros, comida, água. Ele deve estar esperando.
Léo riu nervoso, ainda não acreditando.
- Vamos lá, cara. - Erich bateu em seu ombro. - Vamos até seu pai.
- Obrigado.
- Me agradeça quando estivermos lá. - Thomas sorriu.
- Tá legal, pessoal. - Rulek bateu palmas - Pra dentro! Agora temos garantia de um hotel!
Caminharam de volta a van. Léo manteve a conversa com Thomas. Duane ficou mais atrás, ele pediu um minuto ao grupo, desviou para fora da estrada e desceu até o córrego onde a lua refletia sobre a água. Era algo lindo de se ver, o céu estrelado parecia estar no chão naquele instante.
- Está aí? - puxou o walkie-talkie. - Vamos lá. - murmurou, sacudindo-o.
- Duane?
- Oi. Eu consegui, eu fiz.
- Eu vi.
- Olha, o senso de culpa diminuiu bastante, sabia? - sorriu.
- Eu também percebi. - a risada fraca soou.
- Precisava disso. Tanto ela quanto eu. E sabe como é nossa filha, ela demora pra pegar o jeito...
- Ela vai entender. Assim como eu.
- Eu prometi. Então estou fazendo.
- Agradeço.
- Duane. - Yuki o chamou. - Vamos?
Baixou o braço com um sorriso na cara, abriu o compartimento vazio onde ficam as pilhas.
- Vamos achar uma bateria pra isto aqui - sacudiu.
- O que ela disse? - Yuki indagou, soando relutante e estranha com a própria pergunta.
- Ela sabe. - respirou fundo.
- Sabe, sim. - riu.
- Renata. Era o nome dela.
- Ela parecia gente boa.
- Ela era.
Yuki assentiu. Deixou uma mecha atrás da orelha.
- Venha.
Subiram de volta para a estrada.
- 3.08 -
"Frequência X"
Mais outro capítulo na mão!
Perdão pela extensão, mas eu curto uns capítulos bem moldados.
Duane ficou alteradão hoje e tava ouvindo vozes até da Connie. Vamos orar pelo bem do nosso ex-militar favorito.
A música da qual escolhi, encaixa-se bem na situação do capítulo e do personagem. Ouçam, vale a pena.
Crossover efetuado com sucesso! Para quem não manja, Thomas é um personagem de "O Outro Mundo", livro derivado da saga, de Dom_Peletier. Ele surge especificamente no T2:C4: O Click de Babel.
A 3ª temporada está esclarecendo um pouquinho das coisas passadas. Fiquem atentos, pois vão rolar alguns detalhes tanto aqui, quanto lá.
Abraços, Dalaxiz.
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