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Ordem

Neiva foi até o homem e abriu os braços. Eles se juntaram num abraço apertado.

Uma mulher e dois homens deixaram o caminhão militar e pararam logo atrás do casal abraçado.

- Quem são esses? - Axel olhou para os desconhecidos. Separa-se da esposa.

- Seu problema. - brincou.

Katrina, uma mulher de bom porte físico, cabelos escuros enrolados num coque e com um piercing de vaca, se encontrou com Neiva num abraço caloroso. Sua estatura elevada - 1,83m - deixava Neiva muito menor na visão dos outros.

- Bom te ver. - Neiva estapeia as largas costas dela. - É bom ver todos vocês. - diz aos outros dois.

- Igualmente.

- Vão me dizer o que está acontecendo? - o vozeirão de Axel intimidou os presentes.

- Longa história, Axel - disse Newt.

- Bem, eu vou adorar ouvir.

- Filho? - Duane, o sujeito com uma MP5 no ombro, se aproximou de Tony. Era negro, tinha cabelo crespo recém cortado e uma barba rala, cujo escondia uma cicatriz. - O que fizeram com você? - analisou o rosto do filho.

Jack se afastou.

Duane olhou para Axel, que também parecia confuso.

- Onde está o Rafa? - perguntou o outro homem barbudo e cabeludo. Carregava a mochila só com uma alça.

Todos os olhares foram direcionados a ele.

- Temos muito o que conversar, Carter - Neiva falou após uma engolida seca.

***

-... Marian tentou ajudar - contava Neiva -, mas acabou se ferindo também. Haviam muitos mortos. Para impedir que chegassem até os outros, ele os distraiu. Ele bateu a cabeça ao cair. - suspirou fundo. - Se Tony e Jack não estivessem lá, eles teriam o pegado. Vieram aqui as pressas, mas já era tarde - ela se virou para Carter, que mostrava indignação com o que escutara. - Sinto muito. - lamentou.

O silêncio paira sobre a sala.

- E os dois bostas que encontraram - Carter quebrou o silêncio - Eles tem a ver com o que aconteceu?

- Não - Jack respondeu. - Encontramos eles depois.

Carter concordou com a cabeça, olhou para o chão e fungou. Esfregou os olhos, disfarçadamente.

- Sinto muito, parceiro - Axel levou a mão em seu ombro.

- Eu vou ficar bem - a voz saiu embargada. - Me dão licença? - foi em direção a porta.

Neiva, Jack e Brian se entreolharam.

- Agora vão me explicar o por que meu filho tava com a cara amassada? - Duane exigiu.

Neiva levantou, respirando fundo.

- Um problema pessoal, Duane.

- E aquele moleque loiro tem a ver com isso? - cruzou os braços - Eu quero explicações!

- Abaixa o tom, cara - Axel apontou para ele.

- Foda-se. Vou ver meus filhos - prostestou. Esbarrou em Brian que estava escorado na parede e saiu da casa.

- Melhor vocês voltarem para suas casas - Neiva sugeriu.

- Sem problema - Brian foi indo até a porta, parou quando ela foi aberta.

Lydia entrou e de imediato foi até seu pai, recebendo-o com um abraço forte que quase o derrubara.

- Calma.

- Achei que não fosse voltar - escorreu uma lágrima de seus olhos fechados.

- Tô aqui, querida - beijou sua testa - Eu voltei. Eu disse que voltaria.

- Eu sei - ergueu a cabeça - Mas tive medo. Por que demorou tanto? - Lydia se afastou.

- Foi uma merda. A gente tava na cidade, era tudo uma bagunça. Poluição visual, sonora. O exército tava evacuando tudo. Eu e os outros ficamos presos no estacionamento de um dos prédios demolidos. Ficamos lá por dias - olhou para a esposa - Graças aos céus, conseguimos sair.

- Que bom está bem.

Axel sorriu fechado.

- A gente já vai indo, certo Jack? - Brian se afastou.

- É - ambos foram até a porta.

Saíram.

- Aquele cara me dá medo - Jack comentou, descendo a varanda - Ameaça ele que o desgraçado te mata no olho.

- Vou ver o Zac...

- Ei! - o vozeirão paralisou a dupla. Eles viraram na direção do militar sobre a varanda. - Jack, não é?

Axel desceu as escadas e se aproximou.

- Eu mesmo - ergueu a cabeça. Embora fosse alto, Axel parecia ter uns dois metros de altura.

- As coisas funcionam de outro jeito quando eu estou no comando. Então vai ser o seguinte: vou levar vocês e os outros até o outro lado do muro. Quero ver o que conseguem fazer.

- Eu já estive em um ronda, senhor. Acho que não preciso disso.

- Você esteve em uma ronda, mas eu não estava lá. Você vai. A gente se encontra aqui, mais tarde. Eu vou tomar um banho - foi em direção a porta - Apareçam, ou arrasto vocês.


***

- Licença - Neiva entrou no quarto.

- A vontade - disse Yuki.

- Como ela está? - olhou para Kim.

- Melhor. Pelo menos já está falando. Vou ver Tony e Marian aqui ao lado - levantou.

- Eu fico com ela.

- Agradeço - saiu e fechou a porta.

Neiva analisou Kim, estava imóvel, com os olhos paralisados e pálida. Parecia estar morta. Dava pra perceber a força da linha em seu pulso. Por um instante seus três dedos se moveram rapidamente, um reflexo.

- Não sei como começar isso. Mas se matar por causa de um homem é burrice - Neiva foi direta.

Kim mexeu a cabeça, direcionando o olhar a ela.

- Ele era tudo que eu tinha de uma família - falou sem emoção - Depois daquilo, não tinha o porquê eu continuar.

- Continuar?

- Eu não tenho mãe nem pai. Minha família toda está morta. Por que eu iria querer continuar viva?

- Pense nas pessoas que se importam com você. Deus, você é adulta, é independente. Sempre foi assim. Um dia eles teriam que partir e eu sinto muito por não ter sido da forma que você esperava. Mas agora é você, você que tem de tomar as rédeas da sua vida. Cabe você continuar sua própria família.

- Pra quê? Pro meu filho e marido morrem mutilados e eu só assistir? - lhe encara. Os olhos grandes e castanhos fixos a detetive. - Sejamos sinceras, Neiva. É este mundo que você queria para sua filha?

- Não, não era.

- E isso é algo que eu não desejo pra mais ninguém. Este mundo já era e eu não quero mais estar nele.

- E o que te faz acreditar nisso? Estão procurando um jeito de acabar com isso lá fora.

- Eu que te pergunto, Neiva. Você ainda tem a noção dos dias? O pessoal de cima nunca se importou, por que agora? Por favor, não me venha falar de esperança, porque eu perdi isso há muito tempo parada na frente de uma porta.

- Tá bom, Kim - levantou - O nome dele é Zack. Acho que você conhece. Ele lutou contra o Tony por você. Está no outro quarto agora, com curativos no rosto. Eis mais alguém que se importa com você - abriu a porta - Se quisesse estar morta não teria deixado Yuki te trazer até aqui. Teria lutado. Você quer viver como todos nós, só não sabe ainda - saiu.

***

- Me chamou? - Han se aproximou de Vanessa, em frente a casa onde os irmãos foram encarcerados.

- Sim. Eu ia chamar o Price, mas parece que ele está atarefado.

- O que foi? - viu em sua mão uma pistola

- Em meio a tantos problemas, Neiva esqueceu de alertar os dois caipiras sobre nossa historinha. Ela me pediu para fazer isso e me falou quem já sabia de tudo - destravou a arma - Pode fazer isso comigo?

- Posso - olhou para a casa - Quer que eu carregue?

- Não, só preciso de uma companhia confiável. Sabe lá o que eles fariam se eu entrasse sozinha, mesmo armada.

- Então... - vasculhou seus bolsos - Eu não tenho nada.

- Tudo bem, sua presença já me conforta. Pronto?

Eles atravessam a rua.

Vanessa deixou a arma pouco visível para os que ali passavam, escondendo no espaço entre ela e Han. Chegaram na casa. Ela pegou a chave e abriu a porta. De cara, Vanessa levantou a arma e entrou. Han bateu a porta para chamar a atenção deles.

Daniel estava na sala e se assustou com o baque. Não tardou a levantar.

- Quem é o corno... - as palavras esvaem quando vê a arma. Ergue as mãos.

- Mas que porra é essa? - Vanessa vê a farinha sobre a mesa, ao lado estava a sola do tênis dele com um pequeno rolo despejado.

- Vieram me prender?

- Chame seu irmão.

- Tudo bem - se aproximou.

- Daqui mesmo! - balançou a arma - Grita.

- Anda logo! - Han apressou.

- Calma, china. Maninho, desce aqu! Tem algo interessante pra nós!

Os pisões de Erich soaram. Ele apareceu no meio da escada.

- Quê que foi? - desceu resmungando. Travou ao ver ambos parados em frente a porta.

- Do lado dele, agora. - ordenou a armada.

- Sem problema - passou devagar.

- Vai nos explicar ou eu tenho que deixar minhas mãos levantadas? - Daniel questiona.

- Vim para deixar um aviso e espero que colaborem.

- Manda - disse Erich.

- Se qualquer pessoa perguntar, qualquer uma mesma, sobre um tal de Rafa, vocês dirão que ele morreu tentando ajudar os outros do seu grupo, mas acabou com problemas e morreu com uma bancada forte na cabeça.

- Não é só dizer que o cara tá morto?

- As pessoas vão querer saber como, então terá de ser a mesma versão. Agora, repitam - os dois se olharam - Repitam!

- Rafa, morreu com uma bancada na cabeça tentando ajudar os amigos - sintetizou Erich.

Ela apontou a arma para Daniel.

- Isso é brincadeira...

- Fala!

- Tá bom - colocou as mãos no quadril - O aliado morreu tentando ajudar os colegas. Ponto.

- O nome dele.

- Rafa. - olhou para o irmão - Rafa? - perguntou, incerto.

- É, dá pra convencer. E caso um homem chamado Carter, o irmão dele, perguntar, vocês dirão a mesma coisa, certo?

Ambos assentiram.

- Acabamos? - Daniel cruza os braços.

- Não. Me passa a cocaína.

- O quê? Não, é meu barato. Me desestressa.

- Não tô nem aí, me dá.

- Anda logo, cara - cochichou Erich.

- Que merda - despejou tudo no tênis e estendeu para ela pegar.

- Han - Vanessa sinalizou com a cabeça.

- A tá - pegou o tênis.

Ela mira para Erich.

- Tira os tênis, anda.

- Aí, eu não tô com farinha aqui não.

- Tira!

- Porcaria - tirou os dois tênis e bateu na sola, nada caiu. - Satisfeita? - calçou-os de volta.

- Muito. Vamos, Han - deu ré até a porta, com eles na mira. Ela fez cara feia - Tem água aqui, deviam tomar um banho - saiu. Han foi em seguida.

- Ela levou meu tênis. - Daniel notou.

- Você que deu.

O barulho do trinco ressoa.

- Cê viu a bunda dela? Parecia uma cebola. Deu vontade de chorar.

- Cala boca - Erich se afasta. Passa a subir as escadas.

Han e Vanessa desceram da varanda e pararam no meio fio. Ela deu um leve suspiro.

- Você mandou bem. - disse Han.

- Calado. Só fizeram isso porque você tava lá.

- Acho que não, eles nem notaram minha presença.

- Tô mais aliviada do que parece agora. Obrigada.

- Por nada... A gente podia fazer isso mais vezes.

- O quê? Isso?

- Não, nós dois. Fazer essas coisas juntos.

- Tá - sorriu. - Vou falar com a Neiva - foi andando - Obrigada, de novo.

- É - acenou - Por nada.


***

Axel foi até os fundos da igreja. Lá estavam enterrados todos que um dia moraram lá. Katrina lhe contara que Carter ficou por lá a tarde toda, imóvel, a frente do túmulo do irmão. Axel carregava um prato consigo.

Ao chegar lá, viu exatamente essa cena. Carter estavabsentado sobre o solo observando a cruz improvisada. Ele olhou de canto ao perceber a presença de alguém, mas permaneceu quieto.

- Ele era um chato. - começou Carter. - A gente brigava por tudo. Cara, se surpreenderia se eu dissesse cada motivo - sorriu - Uma vez, a gente ficou sem se falar por duas semanas quando moleques. Eu tinha escondido o urso favorito dele, Stanley, em cima do telhado da vizinha. Ele procurou feito louco e quando encontrou jogou meu game boy pela janela. A gente voltou a se falar do nada, como se nada tivesse acontecido. É coisa de irmão, saca? - fungou. Fitou a grama. - Vou sentir falta dele.

- Olha, eu não pude conhecê-lo direito, mas mesmo assim, eu sinto por você, cara. Ele parecia gente boa.

- Ele era.

- Vai ficar bem? Digo, se precisar de alguma coisa eu tô aqui. Tô aqui pra te ajudar.

- Valeu, Axel. Tô bem - olhou para ele.

- Eu trouxe isto - depositou o prato com um sanduíche ao lado dele. - Não é uma puta refeição, mas engana o estômago.

- Obrigado - pegou.

- Eu vou indo. Melhor não ficar aqui fora. Já vai escurecer e parece que vem chuva aí. - deduziu, fitando a imensidão cinzenta.

- Vou ficar alerta. - Carter olhou para cima.

- Tá bom. A gente se vê - se retirou com um paz e amor.


***

Então, estão gostando da história?

Axel chegou e ele vai colocar a boca no trombone. Mostrar que é o pai.

Carter tá bolado, mas pelo menos é normal, para nossa alegria.

O capítulo foi dividido, porque tava gigante.

Espero que continuem acompanhando.

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