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Isolação

A rua estava deserta, muitos foram para as casas aos arredores para melhor repouso e atendimento.

Harry estava sentado na varanda, cabisbaixo. Vanessa sentou ao seu lado.

- Se machucou? - ele negou com a cabeça - Alguma queimadura? Um arranhão?

- Eu tô bem - disse tristonho, permanecendo de cabeça baixa.

- Sei que não é a melhor coisa de se ver. Deus, eu nem sei como vai ficar sua cabeça depois disso.

- Fui eu - revelou. - Eu disparei o sinalizador... Achei que estavam vindo nos salvar.

- Harry, não foi...

- Foi sim. - atropela sua fala com o tom mais alto. - Se eu não tivesse disparado não estaríamos aqui desse jeito. Eu matei essas pessoas...

- Não tinha como saber, Harry. Ei - pegou em seu queixo - Não se sinta culpado por tentar fazer o certo.

Newt e Marian saíram segurando uma tábua; sobre ela, um corpo coberto. Escorreu uma lágrima no rosto de Harry, motivo o suficiente para ele sair dali correndo.

- Eu cuido dele - Vanessa seguiu-o.

Ambos olharam, preocupados. Foram até os fundos da comunidade, lá estava Erich e Carter preparando as covas.

- Mais três - disse Marian. Ela e Newt depositam a tábua no chão.

- Vamos precisar de ajuda - Carter analisou a pilha de corpos.

- Tô nessa - Newt pegou a pá.

- Isso é uma merda - Marian olhou para a pilha.

- Aí - Erich chamou sua atenção - Não precisa ficar. Sei que eram seus amigos.

- Eu vou ficar legal - saiu com as mãos nos bolsos.

- Ela tá mau, só não gosta de demonstrar - disse Newt - Carter? - percebeu ele fitando a cova do irmão.

- Oi? - desviou o olhar.

- Tudo bem?

- Tô legal.

- Sinto por isso, cara - disse Erich - Não sei como é perder um irmão, mas qualquer um que tem sente o peso... Ele foi um herói - Carter o olhou - Salvou a gente. Ele vai ser lembrado.

- Erich, certo? - Carter indagou. O sujeito confirmou com cabeça - Obrigado.

Os três escutaram um buzina apitar duas vezes, que se seguiu por várias vozes.

- O que tá rolando?

- Vamos lá.

Os três correram até onde o som veio.

A frente do portão estava sendo bloqueada por Lydia e Duane. Vanessa e outros estavam nos fundos, afastando o pessoal. Uma fila de carros tentara sair do local. Um velho discutia com Lydia. Ao se aproximarem, ouviram melhor.

- Eu não vou ficar aqui esperando mais uma bomba cair sobre minha cabeça e da minha esposa, enquanto dormimos.

- É perigoso lá fora, é melhor que fiquem - disse Duane.

- Pra gente morrer? Odeio admitir, mas vou me sentir muito melhor lá fora do que aqui dentro. Eu não vou esperar que os militares voltem e acabem com o resto de nós.

- É isso aí - outro morador concordou.

- Estamos fazendo isso pela segurança de vocês! - exaltou Lydia - Como acha que vai sobreviver lá fora, Jorge? Como vocês todos acham que vão sobreviver lá fora? - elevou o tom. - Os militares ainda estão pela cidades e acreditem, quando eles verem uma fileira de carros, eles não vão hesitar. O que eles pensam é que estamos todos mortos, e graças aos céus a bomba não foi capaz de dizimar este lugar. Estaremos prontos caso eles voltarem. Caso! Só nos encontraram por causa do sinalizador, apenas isso. Estamos mortos pra eles.

- Quem disparou o sinalizador? - Jorge perguntou com fúria.

Vanessa olhou ao redor, disfarçadamente. Fixou o olhar em Erich que fazia o mesmo. Eles se encararam, percebendo que sabiam da mesma coisa.

- Fui eu! - Erich levantou a mão subitamente. Todos o olham com fervor - E aí, vão fazer o quê?

- Seu desgraçado - Jorge avançou nele.

- Aí, não vem não, seu bafo de bosta. - empurrou ele. - Te deito na porrada aqui mesmo, velho escroto.

- Para! Para! Para! - Duane fica entre eles. Han afasta Jorge.

De longe, Daniel ri da situação.

- Não vamos culpar o colega por algo que qualquer um faria - Duane olhou para todos - Ele agiu certo, o que realmente nos surpreendeu foi como eles reagiram. O que precisamos, neste instante, é manter a calma.

- Que porra tá acontecendo? - o vozeirão ganhou os olhares de todos; era Axel chegando com seu típico semblante de poucos amigo.

- Eles querem sair - Lydia respondeu - Acham que é perigoso.

- Perigoso? A gente vai ficar aqui até toda essa merda acabar! - foi até portão.

- E quando vai acabar, Axel? - Jorge se aproximou - Ficaríamos aqui para que eles viessem e nós salvassem. Mas ontem mesmo tudo foi confirmado. Aqueles filhos da puta estão cagando pra gente.

- Eu estive lá fora pela merda de seis dias, me entende?! Eu sei exatamente o inferno que vocês vão passar, principalmente com essa pouca experiência.

- Não precisamos ser do exército pra saber nos defender.

- Jorge, calma - Arlin se intrometeu, afastando ele. - Deixa comigo. - estaoeou seu ombro. Um pouco irresoluto, Jorge apenas assentiu. Arlin olhou para Lydia, depois para Axel - Não tire isso da gente. É nossa escolha e você e nem ninguém pode decidir por nós. Se as pessoas como o Han, Sally ou Marian podem fazer essas coisas, nós também podemos.

Axel respirou fundo antes de falar.

- Arlin...

- Já nos decidimos - afirmou o velho.

Axel olhou para todos.

- Abra o portão! - exigiu.

O portão se abriu atrás dele.

- Obrigado - Arlin disse baixinho.

Todos entraram em seus carros.

Os presentes saíram da passagem. Os carros seguiram em fileira. Jorge nem olhou para Axel ao passar com a janela aberta. O último carro saiu. Eles ficaram ali, vendo a fila se distanciar.

- Você fez bem - disse Axel para filha, ainda olhando para os carros.

- Como é? - ergueu a cabeça para fitá-lo, espremendo o olho esquerdo devido ao raio de sol.

- Eu ouvi seu pequeno discurso. Por um momento achei que era sua mãe - sorriu de canto.

- Valeu. Não fique triste, você fez o que acha que é certo.

- Será? - arqueou uma sobrancelha.

Erich bufou e foi andando, viu Harry o encarando durante o percurso.

- Corajoso, mano. - Daniel elogiu o irmão, que passou reto. Ainda risonho, ele se aproximou de Harry, que se afastou na hora. - Agora você deve a ele.

- Fechem! - Axel se afastou do portão.

A buzina soou lá na frente, seguido de batidas estrondosas. A buzina permaneceu.

- Que merda é essa? - Axel olhou sobre o ombro. - Duane e Sally, comigo.

Os três aceleraram o passo até ouvirem grunhidos. Axel fechou o punho para que os dois parassem. Ele franziu a testa, virou rosto para escutar melhor.

- Axel... - Duane carregou a M4.

Um coro de grunhidos crescia aos poucos, ficando cada vez mais audível em seus canais.

Axel olhou na direção e...

- Fodeu! - bradou ao ver uma manada inteira de mortos vindo disparados ao encontro deles. Os três correm de volta ao portão - Fecha essa porra! Fecha! - ordenou aos berros.

Sally disparou na cabeça de um que já estava perto, antes do portão se fechar por completo.

Os mortos se batiam contra o portão. O som do metal batendo juntamente com os grunhidos era ensurdecedor.

- O muro a oeste, precisamos checar! - Vanessa os lembrou.

- Garantam que o portão vai aguentar. Vanessa e outros venham comigo.

- Harry! - Vanessa gritou, o garoto a olhou desesperado - Volte pra sua casa, eu te encontro lá - ele assentiu e correu.

Erich seguiu correndo até sua casa.

Axel, Vanessa, Han e Duane foram até o muro oeste, o que era suportado por toras de madeira. Ao chegarem lá o muro estava intacta. Os grunhidos estavam distantes, os mortos não haviam chegado alí, ainda.

- Temos que manter este muro de pé - disse Duane.

- E se as toras não aguentarem? - perguntou Vanessa.

- Vão aguentar - Axel garantiu.

- Vamos colocar algo na frente - disse ela. Axel olhou para a mesma - Por garantia.

- Ela tá certa - concordou Han - Duane, me ajuda a encontrar qualquer veículo que possa segurar o muro.

- Tranquilo - ambos saíram.

- Eles não vão chegar até nós - disse ela. Axel se aproximou.

- O que garante isso?

- Temos que nos precaver, Axel.

No portão estavam Carter, Marian, Newt e Katrina. Os quatro estavam com armas em punho, preparados para o pior. Carter e Katrina, equipados com uma MP5. Marian carregava uma Shotgun. Enquanto que Newt tinha um pé de cabra em mãos, cujo tremiam como se estivesse tendo uma crise de parkinson.

- Acham que aguenta? - perguntou Marian.

- Vai aguentar - Carter disse, convicto.

O portão estalou. Newt deu um passo para trás. Os três o olharam.

- Por que não vai chamar os outros, Newt? - Katrina percebeu seu medo.

- Tudo bem - correu.

***

- O que será que eram aquelas buzinas? - Tony fitava a janela da enfermaria.

- Não sei muito bem, mas espero que não seja um mau sinal. - respondeu Yuki enquanto examinava um ferido.

- Desculpe, eu devia estar focado em ajudá-la - saiu da janela - Perdeu demais hoje.

- Não é a mim que você deve desculpas, você sabe - enfaixou o braço do paciente.

Tony franziu o cenho, direcionando o olhar para o corredor.

- Ela tá aí?

Yuki gesticulou com a cabeça, lhe mostrando a porta de onde Kim estara

- Certo. Eu vou lá.

Bastou cinco passos para ficar diante da porta. Sua gigantesca mão negra encostou na maçaneta gélida, a qual firmou pela ansiedade. Olhou por cima do ombro. Yuki fez um gesto com a cabeça para que ele prosseguisse.

Enfim, entrou.

- Licença - fechou a porta.

Kim se levantou achando ser Yuki ou outro alguém que fosse atendê-la. Ao ver quem era, permaneceu sentada, desviou o olhar imediatamente, viajando-os pelo cômodo.

- Eu não espero que me perdoe. - começou ele. - Mas eu tô aqui dando minha cara a tapa. - notou o pulso cicatrizado dela. Engoliu em seco. - Sei que fui culpado por isso e me arrependo imensamente... Bom, a partir de agora eu pretendo consertar as coisas. Eu vou entender se não quiser falar comigo, mas o que eu quero é que pelo menos fiquemos a vontade com a presença um do outro, até essa merda toda acabar. Nem precisamos nos ver... - umedece os lábios, processando as próximas palavras. - Uma resposta, ou aceitação, tiraria todo esse peso de mim.

Com um olhar mórbido e quase tão vazio quanto das criaturas do lado de fora, Kimberly focou no homenzarrão angustiado e soltou um fraco e baixo "tá".

Tony piscou forte, sem saber o que dizer.

O silêncio pairou no cômodo.

- Não importa o que diga ou faça - Kim declarou. Tony lhe encara. - vai carregar isso pelo resto da sua vida. E quando eu morrer, vai se lembrar do que você fez. - profetizou amargurada, sequer fazendo contato visual.

Tony tentava processar o que acabara de ouvir. Encheu o peito e soltou o ar como se espairece seus pecados. Girou a maçaneta e retirou-se sem olhar para trás.

Tony Wall ficou contra a porta, repousando a nuca na madeira clara para fechar os olhos e comprimir fortemente os lábios.

Imbecil, julgou a si mesmo.

Ele escutou um fungo vindo do quarto da esquerda, a qual direcionou olhar; a porta estava aberta. Yuki estava ajoelhada ao lado da cama onde uma das vítimas do atentado repousava.

A enfermeira notou a presença dele e imediatamente enxugou as lágrimas, recompondo-se.

- Mais um - fungou - Não sou capaz - levantou.

- Não diga isso - entrou no quarto. - Você tá fazendo mais do que qualquer um aqui. Pessoas morrem, acontece, não dá pra evitar.

- Eu podia evitar - movimentou a cama de rodinhas. - Com licença. - ele saiu do caminho, ela ultrapassa porta.

Lá fora a movimentação estava agitada, pessoas indo para lá e para cá. Ambos estranharam. Newt viu os dois parados através do vidro e imediatamente estendeu a mão.

- Os mortos estão nos muros! Precisamos do máximo de pessoas!

Yuki virou-se para Tony quase que instantaneamente.

- Vai. Tenho que mantê-los seguros.

- Tá certo - Tony pegou o rifle encostado na parede, colocou-o no ombro - Boa sorte.

- Vai.

***

Harry tá bolado pela escorregada no quiabo. O moleque não tem culpa, produção.

Lydia tá ficando envolvente. Tô gostando da madame.

Tony encarou a fera e tomou uma chibatada.

Agora o povo entrou no B.O fudido. Os bichos grosso tão no lado de fora só esperando o sino do jantar.

O que estão achando?

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