Insano
Lendo para avançar suas habilidades em medicina, Yuki averiguava Marian a cada dez minutos. Em seguida, voltava ao seu livro. Para se recompor, tomava doses de café e mais uma não mataria ninguém.
Yuki encheu a xícara e de forma espontânea se virou para a janela. Viu Tony na varanda da casa a frente carregando um buquê. Kim atendera a porta. Se esgueirando mais sobre a janela, quase subindo na pia, pôde ver o estado da moça.
Kim estava com os olhos inchados e vermelhos. Teve pouca visualização em seguida devido a cabeleireira de Tony.
Mesmo de costas, Yuki pôde notar que Kim deu uma tapa em seu rosto, pegou o buquê, o picotou e jogou nele, empurrando o para longe. Fechou a porta de forma grosseira. Tony olhava ao redor, sem entender. Pegou as flores do chão e saiu.
Yuki deixou a xícara no descansa copos e saiu para a varanda. Espreitou a calçada, Tony se distanciava. Desceu da varanda e atravessou a rua. Deu mais uma olhada para a calçada, agora na varanda da casa, via ele se distanciar. Enfim, ela bateu na porta.
- Kim, sou eu Yuki. - deu uma olhada rápida na janela, a cortina estava fechada - Kim, você está aí? - bateu com mais força.
Impaciente, deu uma boa olhada em volta, ficou na ponta do pé para alcançar o número da casa. Balançou o número para a direita e a para esquerda, retirando o algarismo um - ficando apenas o seis. No pequeno espaço que o número ocupava se encontrava a chave reserva. Pegou, colocou o número de volta, destrancou a porta e colocou a cabeça para dentro.
Fechou a porta sem fazer barulho. Andou, calmamente pelo corredor, espreitando as aberturas dos cômodos para encontrá-la. Nada na lavanderia, nem na garagem.
Voltou a cozinha na esperança de vê-la, sem sucesso. Passou pela sala e subiu as escadas para o segundo andar. A porta a esquerda, logo ao lado da escada, estava aberta. Ela checou, apenas um quarto vazio e arrumado. Continuou seu caminho.
Passou pelo quarto de hóspedes, pela sala de livros - que estara o tanto empoeirado -, pela varanda e por fim, não obteve sucesso.
Notou que uma porta era a única trancada, provavelmente o banheiro. Viu a sombra fraca parada a um metro de distância da mesma. Encostou seu ouvido na madeira. Nada escutou.
- Kim, sei que está aí dentro. Sei que está chateada. Me deixe te ajudar. Eu... - parou de falar quando ouviu um vidro se quebrar - Kim! - girou a maçaneta - Kim! Deus!- se afastou da porta, levou a mão a cabeça. Olhava ao redor, pensativa.
Entrou nos cômodos do segundo andar a procura de algo para abrir a porta. Foi até o primeiro quarto que checara, contornou a cama, abriu todas gavetas. Nada pontudo.
Em cima da escrivaninha havia uma carteira. Sem hesitar ela foi vasculhando a carteira enquanto voltava até a porta. Pegou o primeiro cartão que vira.
Colocou entre a pequena fresta da porta, mais a cima, passou o cartão para baixo e girou a maçaneta. A porta se abriu.
Yuki travou com a imagem que via.
- Meu Deus.
- Vai embora - Kim clamou.
Seus olhos estavam vermelhos e marejados, seu pulso com um corte profundo que tingia toda a mão. Atrás, o espelho quebrado com cacos fragmentos caídos dentro da pia.
- Venha - Yuki tirou um rolo do papel higiênico.
- Me deixa em PAZ! - elevou a voz quando Yuki pressionou seu pulso.
- Não vou te deixar aqui. Vamos.
(...)
Yuki fazia pontos no pulso de uma Kim sonolenta.
Han entrou com Zack, ajudando-o a andar devido ao ferimento na perna. Zack parou e ficou assustado ao ver a mesa cheia de lenços ensopados.
- Yuki? - Han passou pelo corredor e a viu.
- Caramba - Zack esbarrou em seu ombro quando avançou até elas - Ela está bem?
- Vai ficar. Perdeu muito sangue, o corte foi profundo.
- Como aconteceu?
- Longa história.
- Kim? - Zack sentou ao seu lado.
- O que vieram fazer aqui?
- Zack estava com muita dor - disse Han - Ele me pediu ajuda.
- Posso ver sua perna depois - olhou.
- Não, fique de olho nela - franziu a testa ao ver os cortes se fechando com a linha - Quem fez isso?
- Ninguém.
- Vai me dizer que ela se cortou sozinha?
Yuki o olhou. Tudo foi o bastante.
Zack estranhou.
- Por quê? - se dirigiu a Kim. A mesma o ignorou, estava alheia.
- Não interpretem mal. Mas ela ficou assim depois que Tony a visitou. Foi o que eu vi.
- Tony? - Zack arqueia a sobrancelha.
- O namorado dela. - Han respondeu, cruzando os braços.
- Talvez tenha sido algo desagradável. - deduziu Yuki, dando mais uma volta com a linha.
- Qual é a casa dele?
- O quê?
- Qual é a casa dele? - Zack exaltou, furioso.
- Zack, relaxa. - Yuki pediu.
- Relaxar? - olhou para ela - Olha o que ele fez com ela.
- Zack...
- Que seja - foi saindo.
- O que você vai fazer - Han entrou na sua frente.
- Dar uma palavrinha com esse Tony.
- Escuta - Han estendeu a mão para frente, sinalizando para Yuki não intervir - Isso não vai levar a nada, cara. Olha só para você, acha que pode contra aquele cara? Porque acredite, eu sei qual é a sua intenção.
- Me diga onde ele mora, só isso.
- Eu não vou.
Zack empurrou Han e o deixou contra porta. Yuki deu dois passos, mas Han negou com a cabeça.
- A gente tá do mesmo lado, cara. - Han disse.
- Me diga ou eu te arrebento aqui mesmo.
- Acho que vai ter que fazer isso.
- Tem certeza? - forçou a gola da camisa.
- É, eu tenho - abriu os braços.
- Onde ele mora, Yuki? - Zack questionou, fixo ao coreano.
- Não vou te dizer - disse ela, ríspida. Zack olhou sobre o ombro de forma intimidadora. - Eu não vou. - repetiu.
Zack voltou para Han que permanecia com os braços abertos.
- Eu me viro - soltou ele e saiu.
No mesmo instante, Yuki correu até a estante. Abriu a gaveta. Dentro havia uma Taurus 817. Seguiu Zack.
- Yuki - Han foi logo atrás.
- Pare! - Yuki apontou mirou.
Zack parou na beira do meio fio. As pessoas na rua ficaram assustadas, todas se afastaram assim que levantada a arma.
- Não vai atirar. - falou o loiro, por cima do ombro.
- Acha? - destravou a Taurus. - Volte.
Zack negou com cabeça. Seguiu seu caminho.
Yuki abaixou a arma, respirou fundo.
- Deixa ele comigo - Han tomou a frente.
- Avisarei os outros. Han - ele se virou -, cuidado.
O coreano assentiu.
(...)
- Ei, chefia. - Daniel chamou a atenção de Zack enquanto ele passava - Você tem a chave desta casa? - sua voz estava abafada por falar através do vidro.
- Não, não tenho - continuou.
- Então fala para o crioulo do lado para ele me liberar, já tô farto de ficar aqui dentro -
Zack parou na hora.
- Crioulo? - levantou a sobrancelha.
- Isso mesmo. Por quê? Alguma coisa contra? Eu não gosto do sujeito.
- Como ele se chama?
- Eu sei lá, moleque. A casa dele é essa aí na sua frente. Vai me liberar? Porque vocês não vão gostar se eu sair daqui por conta própria.
- Vou ver o que eu faço - olhou sério para a porta da frente.
- Zack! - Han vinha a toda velocidade.
Zack subiu a varanda com convicção, espreitou pela janela. Viu Tony e Sandra sentados um a frente do outro. Tony parecia cabisbaixo.
Sem hesitar, Zack abriu a porta. Han subira na varanda. Pegou em seu ombro. Zack o empurrou com toda força que ele quase caiu rolando da pequena escada.
Zack adentra a residência com pisões.
- Te conheço? - Tony pulou da poltrona assim que Zack entrou.
- Não, mas sei o suficiente sobre você.
Han entrou e de imediato ficou entre eles.
- Quem é ele, Han? - Tony indagou.
Zack lhe encarava, elevando o pescoço para ficar olho no olho.
- Zack, o que está fazendo? - Sandra foi até ele.
- Ela se cortou, seu imbecil. Ela ia se matar! - lhe aponta o dedo.
- De quem você está falando?
- Da Kim!
Tony arregalou os olhos, expressando sua preocupação.
A mão de Han seguia os movimentos de Zack que tinha a intenção de avançar.
- Onde ela está? - Tony se aproximou.
Han seguiu seu passo, mantendo a distância entre eles.
- Ela te amava. Por que a decepcionou? - Zack rosnou. Sandra e Tony se entreolharam - É - percebeu ele -, já sabem do que eu tô falando.
- Zack, calma - Han afastou ele.
- E o que você vai fazer, moleque? - Tony fechou o punho - Vai me bater até eu me arrepender?
- Então não há remorso, seu cuzão?!
- Chega! - Tony empurrou Han.
O coreano bateu as costas na escada.
Tony tentou acertá-lo, mas Zack desviou. Ele sentiu um pontada na perna e então recuou, mancando, para a sala
- Que foi? Não foi para isso que você veio? - refutou Tony, partindo em sua direção.
Sandra ficou a sua frente.
- Tony, vamos resolver isso de outro jeito - tentou segurar seu ombro.
- Ele quer resolver do jeito dele.
Zack ficou atrás da mesa, enquanto Sandra tentava convencê-lo. Zack, sem que os outros notassem, pegou um cinzeiro em cima da mesa. Devido a sua altura elevada, Sandra ficava o tanto baixa perto de Tony, deixando do pescoço para cima livre para acertá-lo. O loiro arremessou o cinzeiro que quebrou ao bater na cabeça do grandão.
- Filha da puta - se afastou, pressionando a testa.
Zack avançou. Sandra tentou impedir mas ele praticamente se jogou em Tony. O mesmo estava atento, e pegou Zack pela gola da camisa. Virou o sujeito, quase arremessando ele, mas o deixou contra a parede das escadas. Zack tossiu pela colisão. Tony lhe ergueu com sua força, tirando seus pés do chão.
- Tony, pare - Sandra usava sua força para puxar o braço dele.
Com sua perna boa, Zack chutou a virilha de seu adversário. Tony lhe soltou na hora. Zack sentiu uma pontada maior quando a perna colidiu no chão. Ficou ali por alguns segundos e em seguida se jogou contra Tony novamente. Era a única maneira de ir para cima sem mancar.
Abraçou seu quadril. Tony bateu seu cotovelo nas costas dele. Zack persistiu. Tony agarrou sua camisa e com força, girou em 180° para a direita, arremessando Zack contra a janela.
O loiro foi jogado para fora da casa espatifando cacos e caindo sobre a cerca da varanda. Rolou até o quintal. Sua perna latejava e parecia estar sendo furada por um facão que afundava cada vez mais em seu osso.
O barulho chamou a atenção de todos ao redor. Os construtores estavam mais próximos, então, foram os primeiros a chegar.
Tony saiu da casa. Sandra o seguia ainda tentando afastá-lo. Ele a empurrou para lado. Andou mais rápido até Zack, que pressionava sua perna que já começando a sangrar. Zack se arrastou, tentando se afastar. Tony pisou em sua perna com toda força.
- Desgraçado! - Zack rosnou entredentes. A grande bota forçava contra sua perna como uma bigorna.
Tony ficou sobre ele e começou a espancar seu rosto já cortado. Zack bloqueou o golpe com esquerda e acertou-o com um cruzado de direita. Tony caiu para o lado. Zack tentou ficar em cima dele mas a pontada em sua perna o impediu, culminando em sua queda. Tony usou dessa brecha e repetiu o processo. Prendeu suas gigantescas mãos em volta do pescoço fino do loiro, iniciando o estrangulamento.
Zack sentiu seu rosto ficar avermelhado, o sangue preso na cabeça e os olhos se enchendo, parecia que iam estourar a qualquer momento. O ar estava indo embora. Espontaneamente, espirrou sangue direito no rosto enraivecido de Tony, que chegava a tremer com tanta fúria.
Passos rápidos vieram da esquerda. Num piscar de olhos, uma silhueta se jogou contra Tony. Ambos saíram rolando para o lado.
Era Brian, agora em cima de Tony. Ele deferiu o primeiro soco. Quando Tony bloqueou, Brian usou a esquerda de imediato. Sangue saltou de boca do grandão.
Zack pôde ver, por um milissegundo, seu rosto mudar da raiva para o que parecia desprezo. Em mais um golpe, Brian fora interrompido por Price, que agarrou seu braço.
- Já chega, campeão - o puxou para o lado.
Tony permaneceu no chão, cuspindo sangue.
- Zack. - Yuki se ajoelhou ao seu lado.
Jack veio em seguida.
- Desgraçado - Jack olhou para Tony.
Neiva chegou correndo.
- Levem eles daqui! - ordenou.
Jack e Brian pegaram Zack e colocaram seus braços sobre seus ombros. Price e Newt levantaram, com dificuldade, Tony
- Voltem para suas casas - Neiva disse aos demais - Cuidarei disso - ela olhou de canto para Arlin que observava da varanda com os braços cruzados.
- Neiva...
Sandra foi interrompida com o indicador e um olhar severo da ex detetive.
- Depois conversamos. - Neiva falou. Han, tudo bem?
Ele se aproximou, ainda com a mão nas costas.
- Tô legal.
- Se cuide - olhou para Sandra de relance.
Ao seguir os outros, viu Daniel e Erich observando tudo pela janela. Daniel olhava com um sorriso, enquanto Erich não demonstrava nada. Ela seguiu adiante.
Carregando cada um de seus amigos, os dois grupos iam chegando ao portão para fazerem a curva e chegarem a enfermaria.
- Primeiro o mais necessitado! - Neiva apertou o passo.
Da plataforma de vigia, Vanessa fitou curiosa.
- Acho que nosso amigo aqui é autoexplicativo - disse Brian.
Neiva olhou para Tony nos braços de Newt e Price; ele encarava o asfalto, sem reação.
- Certo. Vão. - Neiva concedeu.
Brian e Jack seguiram em frente.
- Que furada, em Tony - disse Newt.
Tony virou o rosto para ele.
- Eu? - olhou para o trio que se afastava - Ele não. - tirou seus braços sobre os ombros deles e correu em direção ao trio.
No momento da curva, Zack foi ao chão pela vinda de Tony. O grandão parou sobre o loiro espancado e subiu o punho. Brian foi intervir, mas recebeu uma cotovelada no queixo.
Vanessa observava, confusa. Ela desviou o olhar ao ouvir algo do outro lado do muro.
- Droga. - armou o rifle.
Um caminhão parou.
Apontou a arma na mesma hora. Seu olhar de preocupação mudou para um misto de surpreso e alegria.
- Ei - Jack apontou sua M9 para Tony - Eu não vou hesitar - destravou - Saía.
- Tony - ele se virou, era Neiva o encarando com desprezo.
Ele saiu lentamente de cima do garoto. Jack continuou com ele na mira
- Pode abaixar, Jack. - disse Neiva.
- Posso? - firmou a mão no punhal.
- Sim.
- O que garante que ele... -
O arrastar do portão levou a atenção de todos para a entrada aberta por Vanessa.
Saira do veículo militar um homem alto, barbudo e de cabelo cortado. Sua regata, que deixava seus músculos a mostra, estava manchado por cores grená. Em sua mão, uma barra de ferro.
Ele olhou ao redor, estranhando. Franziu a testa e fixou-se em Jack e Tony.
- Mas... Mas que porra tá acontecendo aqui?
***
Zack e Tony caíram no pau.
O macho alpha chegou e agora o bagui vai ficar mais interessante.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro