E assim seguiremos
Jack ficou desnorteado, o som do fogo e os grunhidos zumbiram em seu ouvido, a visão, embasada. Sentiu o arder em seu ombro, fogo queimava sua camisa. A mão de Erich bateu em seu ombro repetidas vezes até que se apagasse.
- NÃOOOO! - escutou a voz ecoar a sua esquerda. O zumbido aumentou.
A úmida e quente lágrima desceu de seus olhos, sentindo eles arderem e se encherem. O zumbido diminuiu, começou a ouvir os mortos nitidamente.
- Vamos nessa - Erich puxou ele pela gola. Mortos vinham correndo até o fogo, se jogando na fumaça escura. Erich carregou Jack. Daniel trazia Neiva a força, que chorava e gritava em seus braços.
Avistaram outro desconhecido, todo encapuzado, correndo pela frente com um facão em mãos.
- É meu - disse Daniel. Deixou Neiva no meio fio e tirou a besta das costas. Acertou a coxa do encapuzado. Caiu pressionando a ferida. Neiva levantou e pegou a pistola do coldre de Daniel - Ei, dona! - ela correu, mancando, até o corpo que gemia de dor.
- Não! - o homem se arrastou ao vê-la. - Nunca mais vamos voltar, eu juro - a voz era familiar para ela. Ela atirou na outra perna, ele gritou. Os três se aproximaram.
- Desgraçado - pisou na ferida. Se agachou e tirou a manta do rosto dele. Ela rangeu os dentes, era Jone. - Vai pro inferno!
- Espera... - abriu um buraco em seu olho esquerdo. Atirou, atirou e atirou até não ter mais nada no pente.
- Pare - Jack abaixou seu braço. Ambos choraram.
- Por quê? - caiu ajoelhada.
Daniel e Erich perceberam a situação de ambos, mas era perigoso permanecer ali. Eles se entreolharam.
- Vamos. - tocou no ombro de Neiva. - Não é seguro aqui.
- Me deixem. - fungou - Me deixem aqui.
- Neiva - Jack se agachou - Não é seguro - disse com a voz roca - O Axel vai precisar... - gaguejou - Vai precisar de você. Assim como você, dele. - ela o olhou com os marejados, fechou os olhos e negou com a cabeça.
- A escolha é sua, chefe - disse Daniel.
- Sinto muito - levantou. Os três saíram correndo até um refúgio.
***
Brian e Léo ficaram na sala, a porta da frente, dos fundos e da garagem estavam trancadas.
- Tá um caos lá fora - Léo tremia no chão - Aquela explosão, não foi um bom sinal.
- Se a calma, tá parecendo uma capivara com frio. - a porta da frente era espancada, uma corda na maçaneta e o sofá bloqueavam a entrada. - A gente não pode ficar aqui, parados sem fazer a porra de merda nenhuma.
- E o que quer fazer? Se sairmos, morremos. Eu nunca encarei um monte deles e nem pretendo. Se quiser ir, por favor, lembre-se de fechar a porta.
- Deixa de ser covarde. Tem gente morrendo lá fora, provavelmente meus amigos, e você se preocupa com si mesmo.
- É o que grande parte do pessoal tá fazendo lá fora. Tá ouvindo tiros ou algo parecido?
- A plataforma não vai aguentar - viu pela janela a plataforma balançar conforme os mortos se aglomeravam. - Não posso ficar parado. - foi até a porta da garagem.
- O que vai fazer?
- Vou salvar a vida dela. Você quer ficar, então fique. Só vai me atrapalhar. - abriu a porta. - Cadê as chaves - Léo fixou o olhar no carpete - Cadê a porra das chaves?
- Do lado do interruptor - disse ainda fixo.
Pegou as chaves penduradas em um prego e liberou o carro. Entrou. Olhou para frente, vendo as janelas sujas de sangue e as batidas fortes no portão. Respirou fundo.
- Que Deus... - a porta bateu - Filho da puta - Léo entrou.
- Vamo nessa. Vai atraí-los pra longe, não é? Eu ajudo.
- Porra. Só não me assusta de novo. - ligou o carro.
- Precisamos chamar atenção deles. - mexeu no porta luvas.
- O que tá procurando? - Brian perguntou enquanto o observava.
- Isto - tirou um CD de dentro. Nele, estava escrito com um canetão azul "Drop It"
- Só pode tá brincando.
A garagem se abriu, emitindo a alta música de dentro do veículo. Passou por cima dos mortos ali em frente e seguiu. Parou o carro ao lado da plataforma, buzinou.
- Venham! Venham! - pressionou a buzina com força
Os mortos desviaram atenção em Marian e se debruçaram no veículo. Se aglomerando aos poucos. Brian acelerou, saindo pelo portão escancarado. Parou, para maior atenção e continuou. Nesse ritmo até seguir em alta velocidade.
- Valeu - disse Marian vendo eles se afastarem.
***
Sally parou atrás de um muro de tijolos, Arlin voltou ao vê-la estacionada ali.
- O que está esperando?
- Duane. Ele vai vir.
- Ele tá morto, não podemos fazer nada.
- Ele vai vir, eu sei. Vamos esperar.
- Sally, se ficarmos aqui, vamos morrer.
- Ele vai morrer, se não esperarmos. Não vai conseguir sozinho - olhou na esperança de vê-lo.
- Escuta... - os mortos vieram do mesmo lugar de onde saíram. - Eu disse - Sally olhava indignada para os mortos. Eles a viram de longa distância e foram correndo até eles. - Sinto muito... Sally, temos que ir. - puxou ela.
Correram para o fim da rua. Mais zumbis saiam das casas e lojas ao verem eles no meio do asfalto. Estavam ficando cercados. Sally mirou em um deles e disparou.
- Economize balas. Vem - correu para um beco fechado por um portão grande e acorrentado.
- Merda! - sacudiu o portão.
Os mortos se aglomeraram no beco, eram tantos que outros se prensavam nas paredes. Arlin empurrou o portão, abrindo uma pequena passagem, as correntes impediam que o portão se afastasse ainda mais.
- Venha!
- Você primeiro - Sally atirou com a M4, a potência foi tanta que apenas um teve sua cabeça abertaa, enquanto outros tiveram as pernas furadas.
- Anda logo.
Ela se agachou e passou engatinhando pela fresta. Se arrastou para Arlin passar. A manada se aproximou, os da frente se jogaram no chão para pegarem Arlin na passagem.
Puxaram a perna dele para dentro, Sally disparou, mas eram muitos.
- Te peguei! - segurou seus braços - Eu te peguei!
- Sally... - olhou diretamente em seus olhos assustados - Não atire. - ela negou com a cabeça, seus olhos marejaram. - Ahh... - os mortos o arrastaram para o outro lado.
- NÃO! NÃO! ARLIN! - ele foi jogado contra as barras enferrujadas. Uma mordida forte cravou em seu ombro esquerdo. Sangue jorrou.
- AHHHH! AHHHHHH! - sentiu sua carne ser puxada. A direita os mortos dilaceravam seu músculo. Unhas arranhavam suas costelas, manchando sua camisa branca, agora pintada com seu sangue. - AHHHH... - o sangue saindo pela sua boca o engasgou. Uma mão suja e de unhas grandes furaram seu olho direito, agarrando, também, sua bochecha enquanto ele mantinha a boca aberta. A mão rasgou seu rosto com força, movendo a cabeça para o lado. Arlin parou de reagir.
Encostada no container de lixo, ela mirou em sua cabeça. Fungou. Abaixou o braço, fechou os olhos e chorou silenciosamente. O som da carne sendo rasgada era insuportável, seu estômago embrulhou. Ela abriu os olhos, desviando a visão na hora. Levantou. Em um passo ela despejou todo a culpa no chão, seus olhos arderam, sentiu gosto azedo na boca. Esfregou a mão nos lábios e continuou. Numa olhada rápida por cima do ombro, viu apenas o tronco e as pernas sendo estripadas.
Cambaleando feito morta, Sally andou pelas ruas sujas e vazias, totalmente desolada. A bandoleira balançava conforme andava para o lado e para o outro. Ela parou no meio da rua, se ajoelhou.
O silêncio era estranho para aquele lugar e ela sabia disso, ao seu lado uma cafeteria com a placa pendurada por um prego. Se lembrara do quão lotado era aquele lugar. Sorriu de canto ao lembrar de tudo que uma dia esteve ali, crianças na praça, barulhos de carros, o maldito ar poluído, as pessoas conversando, os passos indo e vindo.
Um ritmo musical soou distante, olhou ao redor a procura de algo que estivesse emitindo a música. O ritmo se aproximou. Um sedan fez a curva a frente, vindo a toda velocidade em sua direção. Acompanhou com os olhos o veículo desacelerar, a janela baixou revelando Brian.
- Não é um bom lugar pra rezar, querida. - ela franziu a testa - Espera - desligou a música -, cê lembra de mim, né? - o vidro de trás baixou. Duane sorriu.
- Mas... - sua expressão mudou - Cadê o Arlin? - ela negou com a cabeça. - Vamos, entre.
Grunhidos vieram de trás. Brian ligou a música, novamente, e deu partida.
(...)
O silêncio tomou conta do carro por longos minutos. Léo suspirou.
- Por que você veio? - Brian quebrou o silêncio - O que te fez mudar de ideia?
- Meu pai... Ainda tá por aí, e nem tô me esforçando pra encontrá-lo. Queria provar que isso era diferente, agora.
- Pra quem?
- Pra mim mesmo.
- Eu fiz ele esperar... - disse Sally, cabisbaixa. Olharam para ela.
- É aqui que os deixamos - disse Duane, olhando de canto para ela.
Pararam o veículo bem na rodovia. Ficaram ali esperando que a manada chegasse até eles. Vieram correndo até o veículo, um grande número de mortos, por sinal. Aceleram mais um pouco até chegarem a frente da cidade, ficando cara a cara com os enormes prédios. Duane saiu do carro e tirou a buzina a gás da mochila, colocou no chão, deixou a buzina pressionada, apitando sozinha. O som ecoou por toda as ruas. Deram meia volta.
***
Um assobio atraiu um zumbi que vagava na ruas da comunidade. Grunhiu para Tony que o chamava, se afastando a cada passo que o morto dava. Marian atirou bem na cabeça, usando o silenciador.
- Tudo bem? - perguntou ela. Tony confirmou com a cabeça.
- Um. Dois. Três - Erich e Jack jogaram o corpo na pilha. - Que droga.
Han e Vanessa arrastaram o corpo de Price pelos braços. Deixaram-no ao lado de outros moradores.
- Vai ficar bem? - perguntou Vanessa.
- Tô mais preocupado com o Harry. O que deve tá passando pela cabeça dele?
- Penso nisso quase sempre.
Jack ficou parado vendo Neiva lá na frente, ainda ajoelhada. Sentiu a mão em seu ombro, era Zack.
- Sinto por você, cara. Sei que gostava dela.
- Vou sobreviver - forçou para não chorar.
- Vai sim.
- Lydia?! Neiva?! - ouviram Axel gritar do portão. Ele correu até o pessoal - Onde elas estão? - seu olhar ameaçador e ainda o rosto com pingos de sangue, eram de dar medo - Onde elas estão?
- Sinto muito - disse Zack. Jack ficou de cabeça baixa.
Ele olhou para o lado, correu até Neiva, ele desacelerou, derrubou a arma. Neiva se virou para ele, com os olhos marejados e o queixo trêmulo. A direita viu sua casa em chamas. Levou as mãos a cabeça e se jogou no chão.
Carter e Katrina se aproximaram de Jack e Zack. Todos assistindo, tristonhos.
***
O sol estava se pondo. As pessoas trabalhavam nas covas. Marian e Katrina queimaram os corpos, incluindo os invasores.
- Não achei que tivéssemos que fazer mais. - disse Han, cavando. Vanessa o olhou. - Desculpa.
- Não. Eu também achei.
Carter olhou rapidamente para a cova de seu irmão.
- Quer saber - se dirigiu a Jack que estava do seu lado, também cavando. - Tem uma coisa é engraçada nisso tudo.
- É mesmo? - perguntou com desprezo.
- É, tem sim. Os irmãos que você encontrou, um deles se chama Erich, certo?
- É. - Jack respondeu confuso.
- Ah - sorriu de canto - Essa é a graça da história. - saiu de dentro da cova - Como de repente aqueles dois sabem exatamente como meu irmão morreu? Sendo que vocês só encontraram eles depois... Detalhe por detalhe. - Jack o encarou - "Ele foi um herói" - mudou o tom de voz - "Salvou a gente" - sorriu. Jogou a pá no chão. - Sabe de uma coisa, eu acho que essa história tá muito mal contada, colega. - saiu com as mãos no bolso.
- Merda - sussurou.
As pessoas ao redor olharam confusos para Jack.
***
- Que merda aconteceu? - perguntou Duane ao ver, distante, o portão arrombado e o ônibus jogado logo a frente.
- A gente explica tudo depois. - disse Léo.
Marian recebeu eles no portão. Pararam o veículo ao entrarem. Notaram seu olhar tristonho ao saírem do carro.
- O que houve? - olhou ao redor.
- Tudo se foi. Ana. A velha do trinta e sete. Price... Lydia. - Brian arregalou os olhos. - E o Arlin? - se curvou para ver dentro do carro. Sally negou. Ficaram quietos.
- Por Deus. - Brian ergueu a cabeça - Não acabou. Não pra nós. Perdemos pessoas, mas não é motivo pra desistir, pelo menos não pra mim. Vamos mexer essas bundas moles e agir. E assim seguiremos - foi andando em direção a área de construção. Ele olhou por cima do ombro - Não vou perder pra este mundo.
Léo encarou o pessoal, respirou fundo e fechou os olhos. Abriu os olhos e foi até ele.
- Eu também não. - parou ao seu lado.
- É. - disse Duane. - Tô nessa.
Marian e Sally ficaram pensativas. Mesmo assim, assentiram.
- Ótimo. - disse Brian - Vamos bloquear esse buraco de boas vindas.
O seguiram, convictos. Brian sorriu de canto ao se ver comandando aquele pequeno grupo. Pela primeira vez se viu unido a pessoas para fazer o certo, tanto para ele, quanto para os outros.
***
Arlin, Lydia e Price... Aí quebra a gameplay.
Os bicho grosso saiu vazado ao som de Drop It. Léo finalmente serviu pra alguma coisa hehehe.
Jone teve o que merecia. Brian reanimou a galera. E Jack ficou sem foda...
Enfim, tudo acabou bem. Agora é só paz e tranquilidade.
RIP Lydia
RIP Arlin
RIP Price
O Jone tá todo mundo cagando...
Até o próximo capítulo.
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