|9|♛|Profecia do Ômega|
FALA GALERINHA LUPINA, EAÊ??
Antes que comecem a ler, eu peço a atenção de vocês para algumas coisas IMPORTANTES:
✓ Sei que prometi a aparição de um CERTO personagem no capítulo passado, e neste também, mas vou parar de prometer essas coisas porque nem sempre a linha narrativa da fic sai idêntica ao que eu planejava de início KKKKK PORÉM, NÃO SE PREOCUPEM, ELE VAI APARECER UMA HORA!! Só peço paciência (^u^)
Agora sim, desejo-lhes uma ótima leitura. O cap de hoje está bem leve e calmo (quer dizer, nunca há verdadeira calmaria com Park Jimin, né?), então apreciem com um suquinho de maracujá do lado, ouvindo a playlist da fic (Lembrando que vc pode encontrá-la e encontrar várias outras informações clicando no link que está em meu mural -> K_M_R_Leda!!).
Deixe o seu ⭐VOTO⭐ e Boa Leitura
#LoboDePrata
♛|Profecia do Ômega|♛
Ainda que a temperatura sobre Adwan não estivesse tão elevada naquela manhã, sendo constantemente abrandada pela brisa fria trazida pelo leito do rio ao redor da capital; dentro dos aposentos de Sua Majestade o calor ardia latente.
Park Jimin notou isso assim que Jeon Jungkook apareceu em seu campo de visão, surgindo das sombras do quarto como uma figura intimidante e estranhamente arrebatadora.
Em meio a músculos esbeltos que combinavam com a anatomia alta daquele jovem monarca, a cabelos pretos e embaraçados, como se tivessem se revirado entre os travesseiros da cama, e a lábios sedutoramente convidativos; o que mais chamava a atenção de Park em Jeon era aqueles flamejantes olhos vermelhos, brilhantes como botões luminescentes.
Nesse instante, imerso numa confusão de pensamentos e sensações, o rapaz pensou em como tudo aquilo era, ao mesmo tempo, incrível e assustador. No mundo real, ninguém poderia ter olhos brilhantes, ou sequer se metamorfosear em lobos gigantes. Mas ali, dentro do livro de sua irmã caçula, todas as experiências que ele tinha vivenciado carregavam consigo um toque de magia.
Até mesmo no olhar de Jeon Jungkook podia-se encontrar esse surrealismo...
— Você... — a voz sussurrante do rei também parecia sobrenatural. Ela quase entorpeceu os sentidos de Jimin — Por que é você? — Jeon estremeceu.
Ele parecia frustrado, angustiado.
Park Jimin contraiu o cenho, confuso.
— An?
— Por que entrastes aqui? Não deverias... Você, dentre todas as pessoas, não deveria... — Jungkook puxou o ar para recuperar o fôlego, como se estivesse usando boa parcela de suas forças em algo.
Em seguida, ele se distanciou dando dois passos para trás, retornado às sombras do quarto escuro.
Park Jimin não conseguiu compreender aquela atitude, o garoto se sentiu perdido e um tanto abandonado. Era a primeira vez que Jeon o tratava com tanta ignorância, como se não fosse bem-vindo.
O que havia acontecido com o coração do rei em uma única noite? O rapaz não tinha uma resposta para aquela questão. Ele pensava que seria recebido pelo outro com, ao menos, um pequeno sorriso, ou talvez com uma conversa sobre os seus chifres bizarros.
— Jeon Jungkook... — o garoto murmurou, hesitante, mas ainda sentindo inquilinas faíscas aquecendo a veias de seu corpo — Foi mal pela invasão, eu não sabia que aqui era o seu quarto... Mas por que você 'tá falando assim comigo? Tipo... "Dentre todas as pessoas", por que eu seria a pior opção?
Um instante de silêncio.
— ... Eu me excedi em minhas palavras. Sinto muito... — a voz de Jungkook atravessou a escuridão. Ele não acrescentou mais nada em seguida. Parecia estar evitando prolongar a conversa.
Ao notar isso, Jimin comprimiu os lábios e abaixou a cabeça, chateado.
Por que Jeon não lhe dizia qual era o problema? Por que ficar tão estranho de repente? Se não o queria ali, deveria haver um motivo...
"Dentre todas as pessoas", essa frase ainda pairava em sua cabeça quando ele se virou e começou a caminhar em direção à saída dos aposentos reais. O barulho dos pássaros já havia sumido, então o corredor do lado de fora provavelmente se encontrava livre e seguro.
Porém, assim que tocou a maçaneta da porta, Jimin interrompeu o passo. Sendo movido por um ímpeto irracional, ele disse:
— Já que iria preferir qualquer outra pessoa em seu quarto, eu vou chamar o Choi Ren. Ele deve estar ansioso pra te ver.
Não era do seu feitio agir com sarcasmo e ironia naquele tipo de situação. Jimin se achava adulto demais para se comportar como um adolescente tão enciumado. Mas o que ele poderia fazer? A sensação que pesava em seu peito era mais forte.
Foi então que Jeon Jungkook novamente apareceu ao seu lado, tão veloz e silencioso quanto um carnívoro em caça. Mas, ao invés de olhar para Park Jimin como se o garoto fosse uma presa, ele o encarava com pesar e culpa.
Os olhos vermelhos também tinham sumido.
— O que quer dizer? — o rei perguntou, segurando a mão de Jimin que estava sobre a maçaneta — Você viu...?
— O que você acha? — Jimin revirou os olhos e se afastou do toque dele. Fazer isso curiosamente o deixou ainda mais incomodado.
— É um infeliz mal entendido, e-eu...
— 'Tá bom. Não é grande coisa — o garoto deu de ombros, fingindo não se importar — Temos problemas maiores para discutir, tipo esses galhos esquisitos saindo do meu crânio — ele apontou para a própria cabeça e depois abriu a porta para sair — Quando eu deixar de ser a pior opção, "dentre todas as pessoas", aí a gente conversa...
Mas Jeon Jungkook a fechou antes que Jimin pudesse passar por ela.
O ar ao redor deles de repente ficou rarefeito.
— Eu cometi dois grandes erros noite passada. Primeiro quando permiti que Choi Ren se aproximasse de mim. Segundo quando lhe deixei sozinho, à mercê daquele monstro... — o corpo do jovem rei tremeu — Devo impedir um terceiro erro de acontecer agora... Então, por favor, espere um segundo.
Park Jimin pensou por um momento antes de tirar a mão da porta e ceder ao pedido do outro rapaz.
— O quê? Agora você quer falar direito comigo? — ele soltou o ar pela boca.
— Perdão... Acabei sendo muito afetado pelos... acontecimentos de ontem — a voz de Jungkook parecia tensa, assim como o olhar escuro dele — E-eu pretendia pernoitar ao seu lado depois do que houve, mas... Tive que me recolher em meus aposentos o quanto antes. É por conta disso que estou agindo desta forma. Sinto muito.
Após escutar essa explicação, Jimin contraiu o centro entre as sobrancelhas e se aproximou um passo de Jungkook, com olhos abertos, à procura de feridas no corpo do outro.
— O que quer dizer com "muito afetado"? Você ainda está machucado?
O rei se distanciou mais uma vez. Ele parecia temer a presença do garoto.
— Não... Eu me refiro à minha transformação, Park — Jungkook segurava a respiração — Tornar-se um lupino pela primeira vez marca o pleno amadurecimento de um alfa e de um ômega. Ontem foi o meu momento, então... Alguns detalhes em mim inevitavelmente mudaram. Compreende?
— Oh... — Jimin murmurou, arregalando os olhos — Ah, agora eu entendi! No meu mundo algumas pessoas também passam por algo parecido com isso aí que você tá sentindo.
Jeon inclinou a cabeça para o lado, confuso.
— Isso é verdade? — ele tinha o cenho franzido.
— Sim, sim... De onde eu vim, o nome disso é TPM — Jimin balançou as mãos, relaxando o corpo.
— TPM...?
— É. Toda essa questão hormonal e tal. Imagino que seja mais ou menos isso o que você 'tá sentindo, só que sem a parte do M. A minha mãe também fica meio grosseira nesse período, ah...
Jeon Jungkook silenciosamente processou as palavras do garoto. Algo não parecia se encaixar, por isso, o rei teve a leve impressão de que Jimin e ele não estavam falando sobre a mesma coisa.
No entanto, Jungkook preferiu ignorar isso, por enquanto, porque havia algo mais urgente a ser tratado.
— Park... Sobre Choi Ren, o que houve ontem... — o rei balançou a cabeça de um lado para o outro, esforçando-se para manter os sentidos — E-eu preciso explicar, mas... Será que, mais tarde, um pouco antes do meio-dia, nós poderíamos, ta-talvez... — ele lutou contra a tontura para terminar de falar: — Nós poderíamos passear pela cidade? Eu quero me retratar com a sua pessoa... Pôr as coisas em ordem...
Jimin notou a hesitação na voz do monarca e se incomodou com isso.
Por mais que estivesse ansioso por uma explicação sobre a cena que envolvia Choi Ren, ele estava mais preocupado com o estado de Jeon Jungkook. Pelo visto, transformar-se num lobo imenso naquele mundo não era tão simples quanto parecia.
— Tem certeza de que 'tá tudo bem sair por aí desse jeito? Você parece péssimo... O alquimista Jung não tem algum remédio que possa te ajudar a se sentir melhor? — o garoto sugeriu. Ele quase conseguia captar o estado febril do outro rapaz, mesmo estando o pouco distante.
— Sim, está tudo bem — Jungkook se afastou um pouco mais — E-ele já me receitou algumas... medicações... Agora falta-me apenas um pouco de descanso e... Ficar sozinho. Por favor...
Tudo na voz do jovem rei alfa parecia temer ofender o outro garoto de alguma forma.
— Claro. Eu vou voltar pra o meu quarto... — Jimin não se sentia ofendido, apenas estranhamente desconfortável. Ele não sabia como descrever o que se passava no interior de seu peito.
Quando voltou a abrir a porta dos aposentos reais para então poder se retirar, o garoto tentou observar o alfa escondido em meio à penumbra do quarto e perguntou:
— Você realmente vai ficar bem? — os seus novos instintos remexiam-se, inexplicavelmente agoniados.
— ... ... Eu irei — o silêncio do quarto deixou a voz murmurante de Jungkook um tanto mais alta. Não havia certezas convincentes nela, mas Jimin decidiu que interrogaria aquele alfa mais tarde, quando ele estivesse melhor disposto.
Assim que caminhou para fora do quarto, porém antes de fechar a maçaneta atrás de si, o agora Ômega de Prata escutou um sussurro do soberano de Adaman:
— Estás lindo, Park.
Agora no corredor em frente aos aposentos de Sua Majestade, encostado contra a superfície da porta e recebendo feixes de luz matinal que atravessavam as janelas das paredes diante dele, Park Jimin suspirava fundo e comprimia os lábios. Ele se sentia errado, com uma ansiedade e nervosismo vibrando no ponto mais profundo de seu cerne, pesando em sua respiração.
O garoto desconfiava de que parte desse misto de sensações era resultado da carga pesada que havia recebido dentro do quarto do rei. A outra parte provavelmente vinha dele mesmo, das próprias mudanças pelas quais o seu corpo havia passado, e da reação ao elogio feito por Jeon Jungkook à sua aparência.
Pensar nisso vibrou o sangue nas bochechas de Jimin, aquecendo-o por inteiro, tornando-o tão rubro quanto os brotos escarlates em seus chifres.
Ele então fechou as pálpebras e se afastou daquele lugar um pouco cambaleante, enchendo os pulmões com o ar fresco que entrava pelas janelas para poder recuperar a razão.
Ao longo do caminho, Park Jimin se deparou com soldados e servos do castelo. Todos eles se curvaram quando o viram e sustentaram expressões nervosas e admiradas em suas faces.
Como ainda estava atordoado, o rapaz não soube o que fazer diante daquilo. Por isso, ele apenas saiu correndo, desejando retornar ao quarto onde havia passado a última noite.
Foi então que, na metade de sua trajetória, ele avistou uma figura de cabelos vermelhos muito familiar, ao lado de uma soldado loira que não lhe parecia estranha.
— Lu Keran! — Jimin se sentia bem reencontrando um amigo — Ah, cara, eu precisava mesmo te encontrar, você não sabe o que aconteceu hoje quando...
Assim que o discípulo do alquimista Jung e a soldado avistaram o garoto com chifres, eles rapidamente se ajoelharam no chão e colocaram as suas testas contra o piso, completamente curvados.
— Vossa Magnificência! — Keran e a mulher loira falaram em uníssono. Eles pareciam quase tão nervosos quanto os funcionários do castelo que também tinham avistado Park Jimin.
— E-ei... Não se curvem. Parem com isso, sério... — o garoto se abaixou e tentou puxá-los pelos ombros — E você, Keran? Somos amigos, por que está se curvando pra mim?
— É o protocolo, senhor — o discípulo explicou com um sorriso — O reino aguarda a chegada do Ômega de Prata há gerações. Portanto, devemos tratá-lo com extremo respeito.
— Ah, legal, mas eu só ganhei um par de chifres. Se você não sair do chão agora, eu vou ficar bem chateado — Jimin puxou um canto dos lábios para o lado, sustentando uma expressão contrariada no rosto.
Com isso, Lu Keran finalmente se ergueu, mesmo que um pouco hesitante. a sua acompanhante, no entanto, ainda se via prostrada no chão.
— Você também, er... — Jimin não sabia como chamá-la.
— Miho, senhor. Miho do clã Min — a soldado se apresentou. Ela, assim como Keran, se ergueu do chão com incerteza, e manteve os olhos abaixados o tempo todo.
Min Miho era uma mulher bonita, com olhos verdes e um corpo atlético, e mais alta do que os dois garotos que estavam ali. Ela não carregava feromônios consigo, então Park Jimin, mesmo com a sua pouca experiência com isso, concluiu que Miho era uma beta.
Após olhar um pouco mais para a face dela, o garoto recebeu um déjà vu e disse:
— Eu te conheço de algum lugar...
— Ah, o senhor já a viu antes — Keran tomou a palavra — Ainda no caminho para a capital Adwan, quando as tropas de Eliah cercaram as de Sua Majestade naquele desfiladeiro. Miho e eu conhecemos o senhor quando fomos avisar o rei sobre o cerco.
— ... Ah! Eu me lembrei! Você tinha uma flecha no seu ombro! Foi bem assustador, espero que esteja melhor — Jimin falou para a soldado e coçou as costas da cabeça.
— Agradeço pela preocupação, Vossa Magnificência, mas estou bem recuperada... O Lu é muito bom na arte medicinal, mesmo ele preferindo a criação de maquinarias excêntricas — Miho cutucou Keran com um cotovelo e exibiu um sorriso astuto — No entanto, depois de ontem, ele nunca mais irá largar essa preferência.
Com a fala da soldado, Lu Keran corou até ficar tão vermelho quanto os seus cabelos, destacando os olhos azuis em sua face.
— Ontem...? — Park Jimin parou um instante para se lembrar do que mais tinha acontecido na noite luar do rei, além da aparição da criatura bestial — É verdade! Você se machucou, não foi? — o garoto se aproximou de Keran — Você 'tá legal?
— Si-sim, senhor... — o discípulo do clã Jung pigarreou.
— De certo que sim, já que ganhaste a atenção do general Kim até o dia raiar — Miho não poupou sarcasmo no tom de voz.
Keran então a empurrou, seu rosto agora mais quente do que antes, mas sem conseguir esconder o sorriso que brincava em seus lábios miúdos.
— Espera aí! Que história é essa? — Jimin se agitou com a fofoca. Ele gostava de ouvir esses tipos de conversas.
— E-eu, — Keran se engasgou com o nervosismo — É desconcertante falar sobre isso num local aberto, senhor... — ele se virou rapidamente para encarar uma dupla de servas que limpava um conjunto de estandartes dispostos numa parede ali perto — Boatos distorcidos podem manchar a reputação do general, ainda mais porque ele não estava lá quando o rei precisou de ajuda para acabar com a fera invasora.
O clima da conversa de repente se esfriou.
Miho balançou a cabeça, concordando com a fala do discípulo.
Park Jimin também entendeu o que Keran queria dizer com aquilo.
Como General, Kim Namjoon deveria ter estado ao lado de seu rei num momento tão crítico. Se espalhassem por aí que ele na verdade havia passado a noite nos braços de um ômega, dando as costas aos seus deveres para com Sua Majestade, muitos problemas poderiam surgir.
— Já sei, vamos conversar no meu quarto. Eu 'tava mesmo voltando pra lá agora — Park sugeriu, enlaçando os seus braços ao redor do direito de Miho e do esquerdo de Keran — Quer dizer, eu não tenho certeza se aquele é realmente o meu quarto, mas já que eu dormi nele e ninguém reclamou, então deve estar tudo bem.
Depois de dar de ombros, o garoto saiu arrastando a soldado e o discípulo de Jung Hoseok pelos recantos do palácio, como na cena de "O Mágico de Oz" em que Dorothy e os seus estranhos amigos saltitam pela Estrada de Tijolos Amarelos.
Chegando aos novos aposentos de Park Jimin, o rapaz fechou o rosto com uma careta, pois viu que tinha deixado aquele cômodo num caos.
Toda a mobília estava aberta, com os seus conteúdos saltando para fora, enchendo o chão de bagunça. Sobre a pilha de roupas, sapatos e acessórios, havia uma camada de penas soltas e alguns passarinhos deitados, como se estivessem em seus ninhos.
Miho e Keran arregalaram os olhos, espantados, e se viraram na direção de Jimin, ansiosos por alguma explicação para aquele cenário.
— Ah, é uma longa história, haha... Ai! — o ômega tentou coçar o topo da cabeça, sentindo-se envergonhado, mas acabou batendo os dedos nos chifres.
— Deveríamos chamar alguns servos para limpar o vosso quarto, senhor? — a soldado perguntou.
— Nem... Não precisa. Eu mesmo faço isso. Podem continuar conversando — Jimin balançou as mãos, agachando-se para começar a pegar as coisas espalhadas pelo piso. Depois de sorrir, ele lançou uma piscadela brincalhona — Eu 'tô curioso pra saber o que o Lulu andou fazendo com o general Kim.
Min Miho e Lu Keran, este último bastante ruborizado, acompanharam o Ômega de Prata na arrumação, pois não ousavam deixar que ele fizesse o trabalho manual sozinho.
— Não a-aconteceu nada demais, senhor... — o discípulo do Alquimista real murmurou enquanto dobrava algumas camisas de seda.
— Não minta, Lu Keran — Miho empurrou o menino levemente — Um beijo jamais poderia ser considerado algo medíocre.
— Um beijo!? — Jimin levantou a cabeça num salto.
— Sim, Vossa Magnificência. O General tomou Lu Keran em seus braços e eles trocaram beijos sob a lua nova — a soldado parecia estar narrando um romance de época. A dramaticidade usada por ela fez o discípulo ficar ainda mais constrangido.
— Ma-mas não atravessamos qualquer outro limite...!! — Keran gaguejou, nervoso.
— Então como explica o fato de ter pernoitado nos aposentos do General? Tu tinhas me dito mais cedo que a cama dele era absolutamente confortável... — Miho ergueu uma sobrancelha para o amigo enrubescido. Nessa hora, até Park Jimin ficou perplexo e boquiaberto.
Com as mãos escondendo a face, Lu balançou a cabeça de um lado para o outro freneticamente.
— Dormir na cama do General não é o mesmo que ter tido... Re-relações íntimas com e-ele! — exclamar isso exigiu muito esforço de Keran — Para facilitar a retirada dos estilhaços presos em meu braço, eu tive que ingerir um sedativo do alquimista Jung... Após algum tempo, fui tomado por uma tontura que me deixou deveras inconsequente. Dessa forma, eu acabei declarando todos os meus sentimentos para o General...
— A bebida é sempre milagrosa... — Park Jimin murmurou baixinho, achando graça.
Keran continuou a falar, desta vez com um semblante mais sereno.
— ... A minha sinceridade o fez ser sincero comigo, e assim nós nos compreendemos um pouco mais. O be-beijo veio em seguida — ele pigarreou com um punho sobre os lábios — Depois de alguns instantes, a tontura se tornou mais forte e eu adormeci. Creio que o General me acolheu em seu quarto apenas por mera complacência.
— "Mera complacência" — Miho revirou os olhos enquanto fechava as últimas gavetas abertas de uma cômoda — Para mim está óbvio que o general Kim também nutre bons sentimentos por ti, Keran... Ele só hesita em demonstrar isso porque sempre foi um alfa cheio de honra que age com precaução. No entanto, isso é algo muito bom para você.
— Eu sei disso... — após dobrar as últimas roupas do guarda-roupa, Keran exibiu um pequeno sorriso de felicidade — ... Isso o torna uma pessoa verdadeiramente confiável. Se fosse qualquer outro alfa, eu teria despertado nesta manhã com alguns receios...
Do outro lado, espantando os passarinhos que insistiam em ficar em sua cola enquanto ele organizava os últimos acessórios e joias que tinham se espalhado pelo chão, Park Jimin ouvia aquela conversa com uma expressão intrigada na face.
— O que quer dizer com isso de "Qualquer outro alfa"? — ele quis saber. Nessa hora, dois rouxinóis miúdos pousaram em seus chifres, como se estivessem sobre os galhos de uma árvore pálida.
— Ah, senhor... A vida de um ômega às vezes é um pouco difícil... — Lu Keran respondeu, suspirando — Infelizmente, oferecer muitas liberdades a um alfa não é muito seguro para quem é ômega. E vice-versa, é claro. Mas o nosso caso é mais urgente pelo fato de sermos fisicamente mais fracos do que um deles.
Park Jimin franziu o cenho, achando aquele assunto cada vez mais intrigante e estranho. Assim que terminou de organizar as joias em caixas sobre uma cômoda, ele se virou para encarar Miho e Keran.
— Eu ainda não entendi... Como assim "não é seguro"? É por causa da transformação? Eles ficam diferentes depois que viram lobos enormes...? — Jimin engoliu em seco, pensando em Jeon Jungkook e nas palavras que o jovem rei havia lhe falado momentos antes — Ômegas também se transformam, não é? Eu vi você fazer isso, Keran. Tipo... Não deveria ser um problema.
— Não, senhor. Não é isso... Não exatamente... Andar por aí como um lupino não causa problema algum aos sentidos de alguém — Lu Keran se apressou para explicar.
Jimin rapidamente se sentiu aliviado e alegremente — e também inocentemente — concluiu que o que estava acontecendo com Jeon não tinha relação com aquele assunto, mas, sim, com outro tipo de mudança física bizarra, igual à que havia gerado os chifres em sua cabeça.
— 'Tá bem, então qual é o problema? — ele ainda queria entender as preocupações da soldado e do discípulo.
— São os instintos, Vossa Magnificência — Miho tomou a palavra, os seus olhos verdes se abaixaram, evitando contato visual com Park Jimin — Ômegas e Alfas às vezes sucumbem às necessidades carnais. Em certas ocasiões, nem mesmo medicamentos conseguem impedir tais anseios.
— Sim, sim... — Keran concordou com um movimento de cabeça — Eu, por exemplo, sempre me contive com as ervas Sementes de Lobo. São muito eficazes em quem nunca experimentou o... O ato carnal — ele voltou a ficar ruborizado.
— É por conta desse motivo que o General preza por soldados novos e castos, já que são mais fáceis de controlar com medicação. É assim que ele mantém a ordem nas tropas — Miho passou a mão nos cabelos loiros e balançou as mechas curtas de um lado para o outro.
Park Jimin processou aquelas informações em silêncio, continuamente achando tudo muito estranho e fora do normal.
Contudo, quando ele começou a se relacionar com todas essas questões que envolviam alfas e ômegas, o discípulo de Jung Hoseok fez um comentário interessante:
— Realmente, seria caótico se Vossa Excelência não fosse uma autoridade tão firme... — o olhar de Lu Keran brilhou novamente, como sempre acontecia quando ele falava sobre Kim Namjoon — Basta pensarmos sobre o que houve no baile noite passada.
— Ah... Aquilo — o semblante de Miho empalideceu.
— An? O quê? Aconteceu outra coisa além do rolê do monstro? — Jimin perguntou.
Min Miho e Lu Keran trocaram olhares tensos.
— Sim... Os clãs principais decidiram manter o assunto em sigilo, mas Miho me informou, pois ela estava lá quando aconteceu... — o garoto de cabelos escarlates diminuiu o tom de voz até sussurrar: — Choi Ren, O filho mais novo da linhagem principal do clã, está em seus dias de cio. Por conta disso, ele acabou assediando alguns convidados do baile de Sua Majestade, entre eles o primo do rei, que é primogênito da matriarca do clã Wang.
Ao escutar isso, Park Jimin abaixou a cabeça e refletiu sobre a cena que tinha visto na noite anterior: Choi Ren nos braços de Jeon Jungkook.
Pela forma como Keran falava, parecia que ninguém sabia sobre o garoto dos Choi ter se envolvido com o rei.
Talvez não houvesse testemunhas, ou quem sabe Jungkook preferiu não contar sobre o menino às pessoas por algum motivo.
Sentimentos confusos de repente se aglutinaram no peito de Park, e balançaram com mais força quando Min Miho fez o seguinte comentário:
— Neste momento, a situação entre os Wang e os Choi se encontra instável, pois o filho de Wang Jena estava comprometido com um ômega de outra família — a beta loira apertou as têmporas com os indicadores — Um julgamento privado será iniciado após o Sol a pino. A pobre senhorita Yoojung terá que comparecer à audiência em nome do irmão caçula inconsequente, porque ele não pode vir à público naquele estado...
— Espera um segundo, aí — Jimin ergueu a palma da mão direita, interrompendo a soldado — Se é tudo tão instintivo e inevitável, por que vocês só estão colocando a culpa no idiota do Choi Ren? Olha, eu não gosto daquele cara, mas isso é meio injusto... Pra mim, se você tem consciência do que 'tá acontecendo com alguém, então você também tem um pouco de responsabilidade naquela situação — os olhos de Jimin pesaram, pois ele não conseguia parar de pensar na imagem de Jungkook roçando o nariz contra o pescoço rosado de Ren.
No fim das contas, ele também quis... O garoto pensou com tristeza.
— Senhor... — Lu Keran se aproximou de Jimin, um pouco hesitante. Para ele, a ideia de estar conversando com o Ômega de Prata ainda era muito diferente — Miho foi um pouco mal compreendida. Adaman não condena os seus ômegas dessa forma. O mestre Jung contou-me histórias sobre nações que realmente nos tratam com desrespeito, mas isso não acontece aqui desde o início do reinado da Grande Rainha. Sua Majestade, o rei, herdou o caráter e os ideais de Wang Nara, então estamos vivendo muito bem. O senhor logo verá...
— ... Isso é sério? — Jimin ficou um pouco impressionado.
— Sim, Vossa Magnificência — a soldado Min deu um passo a frente, também um pouco nervosa. Nervosa por aparentemente ter deixando o Ômega de Prata entristecido e por não compreender muito bem onde havia errado em suas palavras.
Após um pigarreio, ela falou:
— Permita-me esclarecer o que eu disse antes... Choi Ren será julgado assim como qualquer outro indivíduo que houvesse cometido um crime durante o seu descontrole. E o crime que ele cometeu foi o de assediar pessoas; pessoas que são, inclusive, da alta nobreza de Adaman. É claro que será levado em conta aquilo que causou o seu descontrole, mas Choi Ren deveria estar ciente de que, quando se chega ao pico do cio, o alfa ou o ômega deve se isolar de todos, para evitar essas situações desconcertantes. Infelizmente, o que se sabe é que, mesmo sentindo sintomas há dias, ele não tomou qualquer precaução.
Finalizada a explicação de Min Miho, Park Jimin balançou a cabeça para cima e para baixo, absorvendo as palavras da soldado e refletindo sobre elas.
Tudo o que a beta tinha dito agora fazia sentido. As coisas se encaixavam. O julgamento aparentemente não seria injusto, no fim das contas. Isso era bom e deixava Jimin mais relaxado, porém não totalmente.
Algumas dúvidas ainda pairavam em sua mente em conflito. Dúvidas sobre as atitudes de Jeon Jungkook, sobre as faíscas que agora serpenteavam em seu peito, sobre os sentimentos que aqueciam o seu coração.
Park Jimin também não pôde deixar de incluir em suas reflexões turbulentas o fato de que tudo parecia mais intenso para ele após os eventos da última noite. Era como se o rapaz literalmente tivesse passado de nível, e agora fosse enfrentar uma nova onda de emoções e circunstâncias que o evoluiriam como um exímio personagem principal.
Em meio a esses pensamentos, ele finalmente se deu conta de um fato óbvio que só agora, após todas as explicações de Keran e Miho, parecia piscar diante de seus olhos.
Se ele era um ômega, e agora mais ômega do que nunca, então isso poderia significar que tais instintos inevitáveis também iriam atormentá-lo no futuro?
Park Jimin passaria por algo semelhante a um "Cio"?
Um frio subitamente congelou a sua espinha e permeou todo o seu corpo até chegar ao topo de seus dois chifres de marfim.
Com o coração acelerado, ele ignorou a presença de Keran e Miho, e buscou mais uma vez o livro de sua irmã caçula. O objeto estava jogado próximo à cama, com a capa virada para cima.
Não pode ser, não é...!?? Jimin pensou.
Ele tremia enquanto passava as folhas de modo desesperado atrás de qualquer coisa escrita que lhe afirmasse o contrário de suas suposições.
Miho e Keran o observaram intrigados, sem entender o que passava na mente do rapaz.
— Senhor? Que livro bonito. Eu posso saber de qual assunto ele trata? — Keran estava curioso.
— ... Ele narra uma história sem graça sobre um cara que 'tá muito lascado na vida — Jimin murmurou, nervoso e hesitante, mas sem tirar os olhos das folhas.
Para o rapaz, seria melhor manter o conteúdo do livro em sigilo. Park ainda queria ter certeza de que não haveria efeitos colaterais caso falasse para as pessoas que o Reino de Adaman só existia porque alguém tinha escrito sobre ele.
Depois de reler parágrafos e parágrafos, o garoto concluiu que não havia nada ali que pudesse salvá-lo daquele destino como ômega.
Park Jimin então fechou o livro e se afundou entre os travesseiros sobre a cama, controlando uma vontade imensa de gritar.
Do outro lado, a soldado Min e o discípulo Lu terminavam de ajudar na arrumação do quarto enquanto trocavam fofocas sobre os eventos da noite passada. Os dois já estavam finalizando tudo quando um deles avistou um pacote interessante jogado num canto do quarto.
O embrulho reluzente e diferente chamou a atenção dos dois.
— O que poderia ser isto? — os olhos de Miho se estreitaram, encarando o objeto em suas mãos.
— Eu nunca vi esse material... — Keran tocou a superfície do pacote — Assemelha-se a um metal, mas é tão maleável...
Jimin ouviu a discussão e se ergueu dos travesseiros, virando o rosto para descobrir o motivo da conversa. Ele percebeu que se tratava do presente que sua irmã caçula, Park Yeseo, iria entregar para uma amiga aniversariante.
Por um acaso do destino, o pequeno embrulho caiu dentro daquele mundo junto com Jimin. O rapaz nunca o abriu, pois em nenhum momento sentiu necessidade de fazê-lo, já que havia coisas demais para ele pensar e se preocupar desde que colocou os pés em Adaman.
— É um pacote de presente — disse, saltando da cama e se aproximando dos dois curiosos.
— Pacote de presente, senhor? — Keran inclinou a cabeça para o lado, confuso. A expressão na face de Miho também carregava incompreensão.
— É... De onde eu venho, a gente põe presentes mais simples dentro desses saquinhos bonitos — Jimin explicou, pegando o pacote com as mãos.
— Oh... E o que há dentro? — os olhos do ruivo brilhavam de interesse.
— Eu também quero saber, hmm...
O Ômega de Prata começou a rasgar a fita adesiva que prendia a abertura da sacola, usando um pouco de força ao puxar as extremidades. Quando finalmente abriu o embrulho, ele tirou de dentro uma pequena caixinha de isopor que vinha acompanhada por uma carta escrita à mão.
A caligrafia de Park Yeseo era evidente já na parte de fora da carta, onde jazia escrito, em grandes caracteres, "Para a minha soulmate, Kang Somi".
Kang Somi deve ser a amiguinha da Yeseo que estava fazendo aniversário, Jimin pensou após ler a primeira mensagem.
Antes de ver o que mais a sua irmã havia escrito para a melhor amiga, o garoto se concentrou em abrir a caixa de isopor.
Assim que puxou a tampa e revelou o seu conteúdo, todos os três que estavam no quarto arregalaram os olhos de perplexidade.
O presente que Yeseo daria à tal Kang Somi não era nada menos do que uma pequenina escultura de argila branca no formato de um lobo com chifres, idêntico às histórias do Reino de Adaman, idêntico ao ser lendário do livro da garota.
— 'Tá de sacanagem, haha... — Jimin riu com incredulidade.
— ... Isso sempre esteve com o senhor?... — Lu Keran questionou, os seus olhos azuis saltavam das órbitas — E pensar que, durante todo esse tempo, a resposta sobre a vossa identidade esteve debaixo de nossos narizes... A nobreza de Adaman realmente lhe deve muitas desculpas.
Tanto o discípulo do Alquimista real quanto a soldado Min adquiriram olhares tensos e culpados em suas faces.
— O-olha, eu queria que vocês parassem com isso. Tirem essas caras de culpa como se tivessem cometido um crime — Jimin passou a mão sobre o rosto, suspirando fundo — Nenhum dos dois me tratou mal, então eu 'tô de boas... E Keran, só continua a me tratar normalmente, por favor. Como eu disse antes, somos amigos, né?
— Si-sim, senhor! — o menino ruivo se agitou, feliz e animado.
Min Miho também relaxou a pose e curvou os lábios num pequeno sorriso.
— No fim das contas, o palpite do rei esteve certo desde o princípio — ela murmurou, apoiando a cabeça sobre a palma de uma mão e olhando para cima de um jeito contemplativo — Ontem à noite, depois que a criatura feroz foi embora, todos ouviram quando ele disse aquelas palavras para Vossa Magnificência, ah...
— ... Que palavras? — algumas das memórias de Jimin sobre a última noite se encontravam sob uma fina camada de névoa.
— "Eu sabia... Era você o tempo todo... Você é o meu Ômega de Prata" — Miho recitou, um tanto dramática e emotiva. Ao seu lado, Keran reprimia um gritinho, colocando uma mão sobre a boca.
Park Jimin virou o rosto para o outro lado, escondendo o rubor iminente em suas bochechas. Em seu peito, o coração pulsou forte e agitado, bastante aquecido.
Sentindo-se sem jeito, ele engoliu o ar e decidiu abrir a carta de sua irmã. Talvez algo escrito ali o distraísse.
Para o seu alívio, e surpresa, algumas coisas escritas por Park Yeseo realmente chamaram a sua especial atenção.
"Feliz aniversário, Soso. Você voltou a ser a minha unnie, porque agora nós temos, oficialmente, um ano de diferença! Mas eu quero continuar te tratando como a minha soulmate nenenzinha... :( Você deixa? Vou fingir que ouvi um sim!"
"É engraçado o fato de que te conheci quando tínhamos a mesma idade. E, nesses últimos tempos, tanta coisa aconteceu... No início eu era meio bobona, então não me toquei que havia motivos para você ser tão quietinha. Depois que descobri esses motivos, eu senti muita vergonha de ter te forçado a ser mais amigável com todo mundo. Me desculpa..."
"Sei que nunca vou poder substituir a presença do seu irmão mais velho, mas te asseguro que vou estar contigo quando você precisar de um ombro amigo! E nós vamos falar muito sobre os nossos BL's, yaois, doramas tailandeses (eu assisti àquele que você me recomendou, 2Gether The Series, e AMEI!)."
"Agora, pra terminar esta carta, eu vou falar um pouco sobre o meu presentinhooo!"
"Sabe o livro que o seu irmão angelical e celestial escreveu? Eu terminei de ler! Ele é muuuito perfeito (Não é justo só existir um único exemplar no mundo, mais pessoas deveriam conhecê-lo!), estou ansiosa para falar sobre o final da história contigo, Soso!! Sei que você adora a obra dele (E agora entendo o porquê), então juntei poupanças para conseguir encomendar uma escultura do Ômega de Prata. Espero que, com ela, você sempre possa se lembrar do seu irmão... É um presente de coração! Amo você"
Quando terminou de ler a carta, Park Jimin soltou o ar que, até aquele momento, estava preso em seus pulmões.
— Poxa,... — ele murmurou, um pouco sentimental com a meiguice de sua irmã caçula, e abalado com as informações que havia conseguido.
Então deve ser isso... Park começou a refletir em sua quietude, O livro é do irmão dessa garota, Kang Somi. Pela forma como a Yeseo falou desse homem, algo deve ter acontecido... Talvez ele tenha morrido.
Hmmm...
Será que isso tem a ver com a existência deste mundo? Já que só há um único exemplar do livro, então poderia ele ter algum tipo de carga mágica ou espiritual por conta dessas circunstâncias...?
Park Jimin franziu o cenho e guardou a carta de sua irmã entre as páginas do livro. As coisas, para ele, pareciam cada vez mais enigmáticas. Ele queria respostas, mas, pelo visto, não as obteria se tentasse raciocinar de forma lógica, como se estivesse no mundo real onde as leis físicas e químicas reinavam da maneira "normal". Dessa forma, ele tinha começado a abraçar ideias e hipóteses um tanto mais mirabolantes.
Mas a sua imaginação ainda não conseguia ir tão longe. O rapaz não era capaz de deduzir qual a sua relação com toda essa confusão.
Por que ele foi puxado para dentro do livro? Por que teve que se tornar o Ômega de Prata? E o que tinha feito para merecer tudo isso? Se é que ele havia feito algo...
Foi destino? Ou talvez mera coincidência?
E, afinal de contas, ele era o único visitante do mundo real naquele universo cheio de lobos? Haveria mais alguém por ali...?
Com tantas questões sem respostas, o garoto sentiu que a sua mente poderia explodir.
— ... Vossa Magnificência? — a voz de Min Miho parecia distante, mas ela conseguiu tirar Jimin de seus devaneios caóticos.
— An... An? — o garoto se virou para a dupla que o observava com expectativa.
— Estávamos nos questionando se o senhor já realizou o desjejum — Keran explicou calmamente.
— Desjejum...? ... Ah, o café da manhã? Eu ainda não comi.
— Então seria bom que o fizesse logo, o dia de hoje será intenso — a soldado falou com um sorriso, colocando as mãos nos quadris bem desenhados, cobertos pela armadura do exército.
— O que vai ter hoje? — Jimin contraiu o rosto — Além do julgamento do Choi, é claro...
— Uma celebração, senhor. Em vosso nome! — Keran balançou a sua toga vermelha de um lado para o outro — Toda a capital está se preparando para o entardecer, quando a festa se iniciará. Por isso, precisa se alimentar bem. Aliás... Eu deveria me juntar ao mestre Jung para produzirmos as bebidas cerimoniais, mas não o encontro em lugar algum.
— Talvez ele esteja com o príncipe... — a soldado Min murmurou com um olhar sugestivo.
Park Jimin olhou para o alto, pensativo.
— Hmmm, É. Eu tenho quase certeza de que vi o alquimista Jung com o irmão do Jeon Jungkook hoje de manhã — Enquanto eu fugia daqueles pássaros endemoniados, ele completou em pensamentos.
Quando olhou novamente para baixo, o garoto notou o semblante perplexo de Min Miho.
— Que foi?
— A-Ah, perdão, Vossa Magnificência... É que eu nunca tinha visto alguém citar, sem qualquer escrúpulo, o nome do rei. Exceto, é claro, os parentes próximos de Sua Majestade — a soldado explicou, desviando o olhar — Por um segundo, esqueci-me que são um casal.
Park Jimin balançou o corpo, um tanto desconcertado.
— Não somos exatamente um... Casal — ele disse, com uma mão sobre a nuca e fechando os lábios num biquinho.
De repente, um clima de curiosidade e excitação rondou Miho e Keran.
— O senhor já trocou palavras doces com o rei? — o rapaz ruivo perguntou a Jimin, unindo as mãos na frente do rosto.
— Er... E-eu não, mas ele falou umas coisas fofas... — a face do Ômega de Prata esquentou.
O que aconteceria se eu dissesse que nós já trocamos beijos?, ele pensou.
— E, se me permite perguntar, já tiveram um passeio romântico? — a soldado Min quis saber.
Jimin balançou os ombros, fingindo não estar envergonhado.
— Ele me chamou pra uma caminhada pela capital... Daqui a pouco...
Os dois curiosos ao seu lado abriram sorrisos animados, adorando saber daquilo. Fofocas sobre os romances da realeza sempre enchiam os olhos das pessoas.
— Por que não nos avisou antes, senhor? Estamos tomando o vosso tempo! — Keran agarrou o braço de Miho com pressa, e, juntos, caminharam até a saída dos aposentos do Ômega de Prata — Chamaremos os servos para ajudá-lo a se preparar. Também notificarei à cozinha sobre o vosso desjejum.
— Bem pensado, Lu! — a soldado exclamou, abrindo a porta do quarto — Perguntarei ao general Kim como anda a segurança das ruelas da capital, para que Vossa Magnificência e Vossa Majestade possam caminhar por elas sem preocupações...
— E-ei! Não precisa disso... Eu acho — Por que parece que eu tô indo pra o meu casamento!? Jimin começou a se sentir nervoso.
— Infelizmente, é bastante necessário... — olhar verde de Min Miho subitamente escureceu — Ainda não encontramos vestígios da fera que invadiu o palácio. Nesse momento, ela pode estar em qualquer lugar.
Num primeiro instante, Park Jimin sentiu vontade de pedir para que relaxassem, pois a possibilidade de uma criatura tão ferida ainda estar viva era minúscula, ainda mais após ela ter caído do alto de uma muralha em direção a um rio profundo.
Mas então o rapaz se lembrou do fato de que se encontrava dentro de um livro.
Esse detalhe, portanto, mudava tudo.
Num mundo onde a fantasia reinava, um monstro não poderia ser considerado morto enquanto o seu corpo sem vida não fosse encontrado. Anos sendo um ávido consumidor de histórias fantásticas deixou Park Jimin bastante ciente deste infeliz e perturbador fato.
🌕🌖♛🌘🌑
Os funcionários do castelo o mimaram mais do que ele imaginou que o fariam.
Park Jimin não soube o que fazer quando uma tropa de servos adentrou os seus aposentos, trazendo consigo uma bandeja com frutas, toalhas e baldes cheios de água quente para encher a banheira onde ele tomaria banho.
O garoto se sentiu como um boneco, tendo o seu corpo cuidadosamente escovado enquanto recebia uvas diretamente em sua boca. Houve momentos em que ele desejou pedir a todos que se afastassem, pois não precisava de ninguém lhe banhando — fora que aquela situação era extremamente constrangedora —; mas, no fim, não falou nada, pois percebeu que aqueles servos estavam extremamente nervosos e sinceramente se esforçavam para agradá-lo.
Acho que agora eu sou um tipo de deus pra eles..., o rapaz refletiu.
Com isso em mente, Park Jimin se deixou levar pela situação.
Pensando melhor, ele só ganharia vantagens.
Terminado o banho, os servos o enxugaram com toalhas macias e cobriram o seu corpo com pó de arroz e perfume de rosas. Depois, eles o vestiram com uma camisa vermelha cheia de renda, folgadas e elegantes calças brancas e um espartilho bege claro, com fios de prata adornando a sua superfície.
Diante do espelho, Jimin recebeu uma leve camada de maquiagem, apenas para ressaltar os seus olhos estreitos e vermelhos, e o rubor em seus lábios. Enquanto delineavam as pálpebras do rapaz, dois outros servos o cobriam com brincos e anéis de prata.
Até mesmo os seus chifres ganharam acessórios.
Em cada haste de marfim, entre os brotos avermelhados, foram colocados finos fios prateados que desciam até chegar aos ombros de Park. O servo que os pôs ali não parava de tremer e de engolir em seco. Ele tinha medo de tocar os chifres e, assim, acabar ofendendo o Ômega de Prata.
Quando finalizaram a últimas arrumações, os funcionários palacianos deram espaço para que o garoto pudesse se observar livremente no espelho.
Jimin arregalou os olhos com o que viu. Aqueles servos realmente tinham feito um trabalho muito bom.
— Obrigado — ele disse aos demais.
— É uma honra, Vossa Magnificência — os outros falaram em uníssono e curvaram as suas cabeças numa reverência.
De repente, após se admirar mais um pouco, na mente de Park pairou uma única pergunta:
Será que o Jungkook vai me achar bonito assim?
Logo em seguida, ele balançou a cabeça, tentando dispersar os sentimentos pulsantes que voltaram a vibrar em seu peito.
— Senhor... A sua mesa com o desjejum já foi preparada no jardim principal — um dos servos disse, capturando novamente a atenção de Jimin.
— ... Ué... Aquela bandeja de frutas não era o meu café?
Os servos se entreolharam com sobrancelhas arqueadas.
— Ah, não, Vossa Magnificência. Aquilo foi apenas um mero aperitivo...
— Sério?? Nossa — Park Jimin se agitou e sorriu — Agora sim eu estou gostando disso, hehe...
O rapaz então saiu do quarto saltitante, com o estômago forrado e sentindo a leveza de suas novas roupas — mas ainda incomodado com o sutil peso dos chifres em sua cabeça.
Enquanto caminhava pelos corredores e descia as escadarias, ele notou que era acompanhado por alguns servos, os quais pareciam estar ali para ficarem à disposição dele. Jimin também viu que os soldados e nobres pelos quais ele passava o reverenciavam até as suas costas estarem inclinadas em noventa graus.
Hmmm, o jeito que essa galera me trata mudou bastante... Interessante, o garoto analisou e um sorriso malicioso brincou em seus lábios carnudos.
Ao chegar ao jardim, ele notou que a mesa do café da manhã fora preparado sob uma área circular coberta por telhado abobadado. Tudo ali era de alto requinte, desde a toalha sobre a superfície plana, com bordados elegantes em cores suaves, até as louças de porcelana. Havia pratos com vários tamanhos, talheres organizados de acordo com a ordem de uso, taças e copos de cristal, e bandejas com farta comida.
— Mas o que é isso? Um banquete? — Park olhou para a mesa com um semblante perplexo — É pra eu comer isso tudo? Tipo... Sozinho??
— Hmm... — um dos servos que o acompanhou até ali hesitou ao falar. Nervoso, ele piscou várias vezes e disse: — A priori, nós planejávamos organizar o desjejum para Sua Magnificência e o rei. No entanto, foi nos informado que ele se encontra indisposto...
— Ah, 'tô sabendo — Jimin se sentiu um pouco solitário ao saber que não poderia compartilhar aquela refeição tão legal com Jeon Jungkook.
Um incômodo nas profundezas de seu cerne tirou um pouco de sua agitação.
— Bem, de qualquer forma, eu não vou conseguir comer isso tudo sozinho... — ele pensou alto, batendo no queixo com o indicador, e então se virou na direção dos servos — Ei, vocês já comeram?
— A-an?... — uma serva olhou confusa para os demais — Ainda não, Sua Magnificência. É costume nós nos alimentarmos somente após os nossos senhores e senhoras.
— Sério? Que chato... Hmm, vocês querem me ajudar a comer isso tudo? Eu realmente acho um desperdício tanta coisa só pra mim.
O grupo de funcionários arregalou os olhos e encolheu os seus corpos ansiosos.
— Não o-ousaríamos dividir a mesa com o Ômega de Prata.
— Ué..., mas eu 'tô convidando vocês — o rapaz se sentou na cadeira localizada em uma das extremidades da mesa e, com um grande sorriso, apontou para os demais assentos.
Os servos se entreolharam, sem saber o que fazer, e se dirigiram às cadeiras que estavam no lado oposto ao de Park Jimin. Com isso, eles tentavam ao menos manter o respeito pela diferença hierárquica.
O rapaz viu que não adiantava forçá-los, então deu de ombros e começou a se empanturrar com os bolinhos e caldos que podiam ser encontrados sobre a mesa.
Cada vez que experimentava um novo prato, Jimin suspirava, deliciando-se com os sabores maravilhosos. Ele também incentivava os servos a experimentarem cada uma daquelas comidas, puxando assunto com eles enquanto isso para que se sentissem mais à vontade.
Aos poucos, os funcionários começaram a sorrir e a respirar normalmente, e até mesmo trocaram algumas palavras tímidas com o garoto, cujo interesse por certos detalhes daquele mundo seguia-se presente.
— E então? Vocês são todos "betas"? ... É assim que se fala mesmo, não é? "Beta" — Jimin quis saber. Ele notou que não havia nenhum aroma peculiar vindo daquelas pessoas e de todos os demais funcionários do castelo pelos quais havia passado.
— Sim, senhor. Serviçais do palácio devem ser betas para que possam prestar serviços em qualquer circunstância... Íntima e pessoal. Já em relação aos guardas, apenas aqueles que protegem a ala do rei e de seus consortes precisam ser betas. Nas demais áreas palacianas, a maioria dos soldados são alfas — um dos servos explicou.
— Hmm, acho que consigo entender o porquê — Jimin murmurou.
Depois da pequena aula de Miho e Keran, ele passou a compreender melhor como funcionavam as peculiaridades de cada tipo de pessoa naquele universo fantasioso.
Se uma ômega que mora no castelo fosse servida por um alfa, haveria grandes riscos em torno deles, por conta dos instintos de cada um. Um beta, contudo, poderia se controlar plenamente, ainda que ele tivesse os pensamentos mais lascivos do mundo.
Enquanto analisava em silêncio todas essas peculiaridades, Park Jimin mal notou que uma figura pequenina corria por ali, arrastando a barra do vestido rodado atrás de si enquanto sentia o vento da manhã bater contra as ondas sedosas de seus cabelos castanhos.
Aquela não é a filha do general Kim?, o rapaz se pegou pensando enquanto enchia a boca com bolinhos de carne.
Sentindo que estava sendo observada, a menina parou e virou os olhos na direção de Jimin. Quando viu que era o Ômega de Prata, ela soltou um gritinho e correu para trás de uma moita.
Um segundo depois, Jina inclinou a cabeça para o lado, querendo observá-lo mais uma vez, cheia de curiosidade. Os chifres de marfim de Park era o que mais lhe chamava a atenção.
— Kim Jina, é o seu nome, não é? — o rapaz perguntou e, depois, mostrou a ela a bandeja de comida sobre a mesa — Você quer um bolinho? Esse negócio 'tá muito gostoso.
A menina, ainda um pouco hesitante e envergonhada, saiu detrás da moita com as mãos nas costas e cabeça abaixada.
Ela se aproximou devagar, mordiscando os lábios miúdos, até finalmente parar perto dele e balançar a cabeça, aceitando o alimento.
Depois de dar uma mordida num bolinho, Kim Jina ergueu os olhos e encarou os chifres sobre a cabeça do ômega em sua frente.
— O senhor é o Ômega de Prata? — ela perguntou, um pouco nervosa.
— Eu acho que sim... — Jimin respondeu, afundando na cadeira.
— ... Papai disse que devemos respeito ao senhor, assim como devemos ao rei... — Jina parecia estar recitando uma fala do general Kim.
— Ah... Olha — Isso é meio engraçado, ele pensou — Eu quero que as pessoas me tratem bem, mas não assim, sabe?
— "Assim"...? — a confusão era clara no semblante da menina.
— Tipo... Eu quero ser amigo da galera, entende? Só amigo.
— "Amigo da gale... galera" — Jina murmurou, adorando a sonoridade daquela estranha e nova expressão.
Em seguida, ela se balançou de um lado para o outro, bastante acanhada, e disse:
— Senhor Ômega de Prata... O senhor deseja ser o meu amigo?
— Claro, por que não? Você me lembra muito uma certa pessoa... — Me lembra a minha irmã caçula, ele completou em pensamentos, soltando um pequeno suspiro.
Com a resposta, os olhos da senhorita Kim se encheram de brilho.
— Então eu posso tocar em seus chifres??
O semblante na face de Jimin paralisou.
Então é isso..., ele quase riu. Ela realmente é parecida com a Yeseo.
Por mais que odiasse a ideia de ter duas hastes tão chamativas sobre a cabeça, e que tentasse a todo instante se esquecer da existência delas, Park Jimin não achou o pedido da garotinha tão ruim assim.
— 'Tá bem, pode tocar — ele disse, inclinando a cabeça para baixo.
Kim Jina deu saltinhos, animada, e começou a passar os dedos pelos chifres do outro de forma extremamente cuidadosa, sentindo a textura do marfim e dos brotos vermelhos que nasciam.
— Igual a uma árvore — ela murmurou, maravilhada.
Jimin fez uma pequena careta e disse:
— Valeu pela ótima comparação.
Ele se ergueu quando ela terminou de admirar as duas hastes. Nessa hora, Kim Jina começou a olhar de um lado para o outro, com uma cara de quem sabia sobre grandes informações.
— Senhor Ômega de Prata, eu preciso lhe contar um segredo... — a menina sussurrou com as duas mãos em concha sobre a boca pequena. Pela expressão fechada em seu rosto, parecia ser algo bastante sério para ela.
Portanto, Jimin ficou curioso.
— O que é?
— Eu acabei de ouvir algumas pessoas dizendo que não apreciam o senhor, mas que iriam baju... baju... — Jina não sabia direito como pronunciar a palavra. Depois de pensar por um segundo, ela finalmente conseguiu: — ... Que iriam bajuláaa-lo!
— Sério? — Park riu com um toque de escárnio. Em seguida, no mesmo tom sussurrante que Jina, ele perguntou: — O que mais você ouviu? Quem são essas pessoas?
— São pessoas de outros clãs. Sei disso porque cada clã tem um símbolo e cores, papai me ensinou tudo! — a garotinha falou com orgulho, e então voltou a murmurar — Eu os escutei repetindo que estavam arrependidos por terem tratado o senhor mal...
Ah, são aqueles nobres idiotas, Jimin concluiu e respirou profundamente.
— Hmmm... Já que estão tão arrependidos assim... — o rapaz exibiu um enorme sorriso — Então vou dar pra eles uma chance de se redimirem comigo, hehe...
Ele buscou um estreito e mediano objeto metálico que havia guardado em seu bolso antes de sair de seus aposentos, e o mostrou para a senhorita Kim, que observava tudo com um olhar interessado.
— Pequena Jina, está vendo isso aqui?
— Sim! O que é? — Jina encarou o objeto fixamente.
— Se chama celular... E eu vou usar ele na minha vingança.
🌕🌖♛🌘🌑
Jeon Jungkook despertou do cochilo num sobressalto.
O seu corpo ainda estava amolecido pelos medicamentos do alquimista Jung, por conta disso, ele facilmente poderia passar o resto do dia em profundo sono.
Mas a sua mente não permitiria que o fizesse, já que, atrelada a ela, estava a promessa que havia feito a Park Jimin. O convite para um passeio pela capital Adwan. Uma caminhada onde poderiam conversar sobre assuntos importantes e corrigir mal entendidos.
Assim, ele se arrastou pelos aposentos reais, sentindo leve tontura, mas bem mais instintivamente disposto do que antes.
A sensação febril havia passado, assim como o suor frio, o pulso rápido e os tremores interiores. Restavam apenas resquícios daquela onda de sensações ardentes, sensações estas que constantemente traziam de volta à mente de Jeon Jungkook imagens de um Park Jimin sorridente, com pele sedosa e aroma de rosas.
Era perturbador e agoniante. Cada nano centímetro de seu cerne parecia desejar aquele ômega.
Mas o rei não queria tomá-lo daquela forma, de um jeito tão selvagem e primitivo, como se fosse um alfa sem honra, sem caráter.
Ele o queria, mas também queria a reciprocidade.
Por isso, o primeiro cio do soberano de Adaman foi mantido em sigilo por duas pessoas: o Alquimista Jung e o príncipe Min. Jeon Jungkook carregaria aquele segredo até quando pudesse, e se esconderia de todos caso não fosse mais forte que os seus instintos interiores.
O rapaz apenas não queria assustar Park com questões que envolviam o cio, e também não queria dar motivos para que os nobres da Mesa de Prata oferecesse a ele a mão dos ômegas de seus respectivos clãs, para formar o harém real.
Jeon Jungkook inclusive acreditava que nenhum ômega poderia fazer cessar aquela intensidade que ardia nas profundezas de seu corpo. E a culpa era disso era de seu vínculo com Park Jimin.
Por isso, ele se sentiu grato à genialidade do Grande Alquimista quando, ao abrir as cortinas de seu quarto, o único aroma que atravessou a janela e adentrou suas narinas foi o do jardim que circulava aquela torre do castelo. Sem os remédios de Jung Hoseok, aquele autocontrole seria impossível de se obter tão rápido.
Está tudo bem agora... Jungkook pensou, relaxando o corpo tenso.
O rei então convocou os seus servos para ajudá-lo com seus preparativos.
Após tomar um banho frio — para ajudar a reduzir o calor em seu corpo —, ele vestiu calças pretas, botas de mesma cor, uma camisa branca com bordados em fios negros e um sobretudo escuro.
Jungkook ingeriu o desjejum ali mesmo, em seus aposentos. Não comeu muito, pois o seu apetite também fora afetado pelas condições corporais, e nem se demorou a ficar pronto para sair porta afora, em busca de seu parceiro predestinado.
O coração do monarca de repente pulsou forte.
"Parceiro predestinado" era uma expressão muito forte, até mesmo para ele que fora criado em meio ao clã Jeon, onde as crianças aprendiam sobre profecias e espiritualismo desde cedo.
Pensar nisso enquanto se dirigia diretamente ao jardim principal do castelo, após ser informado por um dos servos sobre Park Jimin estar lá, o deixou um tanto nervoso.
O jovem rei desceu as escadarias um pouco zonzo, apoiando-se vez ou outra nas paredes que as cercavam, mas recuperando a pose rapidamente assim que alguém aparecia em seu percurso.
Quando chegou aos portões de vidro que o levariam à saída lateral daquela ala, localizada bem em frente ao destino objetivado por ele, Kim Namjoon surgiu em seu campo de visão.
O General de Adaman, trajando as suas elegantes e aerodinâmicas vestimentas do exército, se curvou ao seu rei tão profundamente que faltou pouco para ele se ajoelhar.
Jeon Jungkook encarou o seu honrado súdito com pesar, ciente do que se passava na mente dele.
— Levante-se, Kim... Eu não o culpo por nada, e nem ninguém ousaria fazê-lo.
— Mas a culpa reside em mim... Eu não estava lá quando a fera invadiu o perímetro do castelo — Namjoon cerrou os punhos — Poderia ter havido uma tragédia. Se Vossa Majestade não tivesse alcançado a forma lupina... — a voz dele ficou tensa — ... Mal consigo imaginar um cenário como esse.
— Está errado — Jeon Jungkook pôs as duas mãos nas costas e olhou para cima, altivo — A sua lógica está errada. Durante o baile, você não estava guardando o castelo, pois era o meu convidado. Meu amigo em minha noite luar... Ninguém captou a presença da besta, exceto os soldados que foram silenciosamente assassinados por ela durante a sua invasão — o rei havia recebido o relatório sobre o grupo que fora mutilado ainda na noite anterior — Então é ilógico remoer as coisas por esse sentido.
O General flexionou a mandíbula, ferrenho em suas lamentações.
— Ainda assim... Eu deveria estar presente quando Vossa Majestade lutou contra ela, para auxiliá-lo. Dois contra um, e então seria muito mais simples...
Jeon Jungkook respirou profundamente, abrindo e fechando os olhos devagar.
— Está tudo bem... Por favor, não se culpe pelo que poderia ter acontecido, senão eu terei que me martirizar pelo resto de minha vida.
Ao ouvir isso, Kim Namjoon ergueu a cabeça e encarou o seu rei com o cenho franzido.
— Meu senhor? O que quer dizer?
— ... Se eu não estivesse lá a tempo, Park Jimin provavelmente não mais estaria aqui, entre nós — um nó amargo se formou em sua garganta. O lobo interior do rei comprimiu-se — Se não fosse pela sorte que os deuses me deram ao vinculá-lo a mim, eu sequer teria desconfiado do que estava acontecendo...
O General ergueu-se, ereto e sublime, mas ainda com a cabeça baixa.
Jeon então pôs a mão direita sobre o ombro dele, num gesto de camaradagem, e exibiu um sorriso fraco.
— Por ora, esqueçamos de nossas lamentações ansiosas. Eu tenho um encontro com ele e quero a sua ajuda.
— Um encontro? — o clima entre eles começou a ganhar leveza. A curiosidade de Kim Namjoon brincou em seu olhar.
— Sim, um passeio por Adwan... Dê-me algumas ideias que possam agradar Park.
Eles começaram a caminhar enquanto trocavam palavras.
— Sinceramente, meu rei... Eu não faço ideia do que poderia agradar aquele ômega. Ele é... Exótico.
— Cuidado com a língua, agora Park é, de fato, o Ômega de Prata — Jungkook disse, sentindo um leve orgulho ao falar e um forte sentimento de déjà vu — Mas tens razão. Ele é diferente de todos os demais.
— O senhor o conhece mais do que eu...
— Talvez, hmm... — o jovem monarca coçou o queixo, pensativo — Park Jimin provavelmente deve estar se sentindo um pouco estranho agora, por conta dos chifres... Acredito que ele tenha se assustado bastante quando despertou nesta manhã e os viu... — Jungkook suspirou pesadamente — Eu queria ter estado lá, ao seu lado.
— Então é real o que as tábulas descreviam sobre o Ômega de Prata? Ele carrega chifres, olhos vermelhos...? — Kim Namjoon se via intrigado.
— Sim. E é muito... Muito bonito — os olhos do rei estavam longe, retornando ao momento daquela manhã quando Park Jimin atravessou as portas de seus aposentos, como um ratinho entrando numa ratoeira perigosa sem se dar conta disso.
Enquanto isso, o General tentou imaginar como seria a nova aparência de Park Jimin.
— Hmmm, ele deve estar interessante mesmo — murmurou, pensativo, sem nenhuma segunda intenção em suas palavras.
Porém, o inconsciente turbulento e ativo de Jeon Jungkook interpretou aquelas palavras de outra forma.
Nem os remédios do Alquimista real poderiam ter o efeito completo na racionalidade de um alfa em seus dias de cio. Por conta disso, os olhos de Sua Majestade ficaram vermelhos, incandescentes, e o ciúme se alastrou pelo corpo dele como um veneno altamente letal.
— Calado — a voz de Jeon ganhou uma vibração ameaçadora que fez arrepiar os pelos do General.
Kim Namjoon paralisou de imediato, arregalando os olhos e contraindo as sobrancelhas, sem entender, de início, o que estava acontecendo.
Só depois de alguns instantes, ele compreendeu.
— Meu rei... O senhor está em seus dias?
Jeon Jungkook então se deu conta da irracionalidade de sua mais recente atitude. Ele balançou a cabeça, tentando recuperar os sentidos, e piscou várias vezes, até a luz escarlate de suas íris ser substituída pela negritude natural.
Agora com o controle retomado, o rei olhou para Kim Namjoon com vergonha.
— E-eu sinto muito... — disse.
— Meu rei... O senhor realmente está? ... Essa não seria a primeira vez? — agindo como um irmão mais velho, Kim Namjoon sentiu-se preocupado.
— Sim, é... Mas deixe isso em segredo. Eu estou bem. Algumas coisas apenas me são novas, por isso que agi como um louco enciumado há pouco. Serei mais controlado na próxima vez.
Mesmo com o tom confiante na voz do soberano, o general Kim continuou inquieto.
— Meu rei... Esse ciúmes irracional só ficará mais forte. Confie em mim. Se, durante o seu passeio pela cidade, algum alfa tentar se aproximar de Park Jimin, é capaz de o seu lobo vir à tona de forma descontrolada.
Um frio percorreu a espinha de Jeon Jungkook.
— Isso já lhe aconteceu alguma vez? — o rapaz quis saber.
— Duas vezes. Uma vez no passado, quando minha esposa era viva... Eu quase matei aquele alfa — Namjoon soltou o ar pesadamente — E outra vez no último ano.
— No último ano? — Jungkook se viu confuso — Mas a sua falecida esposa se foi há vários anos, General.
Kim Namjoon olhou para o outro lado, constrangido.
— Ela não foi a causa dessa vez... ... Foi Lu Keran. Ele estava tratando as feridas de alguns de meus soldados. Em minha mente ébria, eu me imaginei matando cada um deles... Acabei descontando essa ira num treinamento que iniciei em seguida. Todos pensaram que eu apenas estava sendo um pouco mais rígido e violento do que o normal enquanto lutava contra os meus subordinados... Deixei que pensassem assim.
Jeon escutou aquela história com uma expressão perplexa no rosto, e engoliu em seco.
— Eu... Está bem — o jovem rei cerrou os olhos, cedendo — Passearei com Park Jimin por pouco tempo, apenas para tratarmos de um certo... Mal entendido. E então eu retornarei rapidamente ao palácio e me trancarei em meus aposentos pelos próximos dias.
— Boa decisão, Majestade.
Eles acenaram com as cabeças e se concentraram na caminhada, passando pela trilha de pedras do jardim, entre os arbustos e roseiras, e entre as árvores altas e coloridas dispostas por ali de forma harmônica.
Depois de algum tempo, Jeon Jungkook notou o vazio incomum naquele lugar. Em dias normais, a nobreza de Adaman se reunia ali para o lazer, ocupando-se com conversas, jogos ao ar livre e romances. Mas, naquele momento, não havia ninguém.
O jovem rei já estava a um passo de questionar sobre isso quando escutou um coro de vozes e música agitada ecoando do outro lado do jardim, atrás dos maiores arbustos.
Kim Namjoon e Jeon Jungkook andaram até lá e se depararam com uma cena incrível.
Nobres de todos os principais clãs do reino estavam reunidos em fileiras, como tropas num treinamento militar, e se moviam organizadamente ao som de uma música cheia de batidas frenéticas e vozes urrantes. Eles pareciam cansados, mas não davam indícios de que iriam parar.
— Mas o que está havendo...? — Jungkook murmurou, aturdido, e varreu os olhos pelas fileiras até encontrar um garoto com chifres e belos olhos vermelhos no meio de tudo. Ele estava sentado sobre um palanque improvisado, ao lado de uma garotinha agitada.
— EU QUERO ANIMAÇÃO! — o garoto, que era Park Jimin, gritou. Ele gesticulava como um maestro e abria um enorme sorriso entretido enquanto assistia aos nobres se balançando — VAMOS LÁ, SEU LOBINHOS FRACASSADOS! Os deuses me disseram que vocês queriam se redimir comigo. POIS AGORA EU QUERO SINCERIDADE, OKAY!? MEXAM OS QUADRIS! MEXAM, MEXAM...
O aglomerado nobre se esforçou para mostrar mais energia.
— Muito beeeem! — Jimin bateu palmas e se virou para a garotinha sentada perto dele — Ei, Jiji, coloca aí outra música no celular.
"Jiji" era Kim Jina, a filha do General, e ela segurava o objeto fino e metálico em suas mãozinhas.
A música vibrante saía dele, mas o seu som não estava tão alto quanto na vez em que foi usado para espantar as tropas do reino de Eliah; pois, na época, Park Jimin utilizou uma geringonça feita às pressas que possibilitava a amplificação dos ruídos da melodia ressonante.
Animada com o pedido do Ômega de Prata, a menina encarou o aparelho, o ergueu acima da altura dos ombros e limpou a garganta para falar:
— Ei, Mobiu! — ela convocou o assistente do sistema do celular. O truque fora ensinado a ela por Jimin.
Após um segundo, a tela do aparelho vibrou, aguardando novas "ordens".
Kim Jina as deu em seguida:
— Passe para a próxima música!
Mobiu a obedeceu, acionando a playlist. Em dois tempos, uma nova batida cheia de guitarras e baterias ecoou pelo jardim.
— Opa! Opa! Bad To The Bone, haha...! Muito bem, Jiji, muito bem! — Jimin elogiou, mostrando o polegar da mão direita, num gesto de "legal".
A garotinha sorriu, extremamente feliz, e copiou aquele gesto de mão. Ela estava aprendendo muitas coisas interessantes naquela manhã.
Voltando-se em seguida para observar as fileiras de nobres, Park Jimin estreitou os olhos, formulando uma ideia em sua mente fértil.
— EI, RAPAZIADA! — ele chamou a atenção de todos — Eu fiquei sabendo que mais tarde vão fazer uma festinha pra mim... O que vai rolar nela?
Um homem carrancudo se aproximou, curvando-se mais a cada passo que dava em direção ao rapaz de cabelos prateados.
— Nada irá rolar, Vossa Magnificência — ele disse após interpretar a palavra"rolar" de forma literal, esperando ser útil para que Jimin o dispensasse daquelas dancinhas vergonhosas.
Ao invés disso, Park caiu para trás, gargalhando. Todos os que o assistiam se entreolharam, confusos e nervosos.
— "Nada irá rolar", HAHA! Cara, foi mal... Sempre me esqueço que vocês falam diferente aqui — o rapaz disse entre uma risada e outra — Eu só quero saber o que vai acontecer nessa festa aí.
— Oh, bem... — o homem se recompôs — Haverá uma ceia farta, em agradecimento a vossa presença entre nós. O rei também abrirá os portões do castelo a todos os cidadãos de Adaman que puderem estar presente, para eles que possam apreciar e louvar a vossa imagem...
— 'Tá, e aí? O que mais?
— Er... A matriarca do clã Min, que é uma anciã de muita virtude e experiência, recitará a profecia do Ômega de Prata, a vossa profecia, na frente da multidão.
— ... Beleza, mas e a parte da festa? — Jimin começou a achar tudo aquilo extremamente entediante.
O homem que o respondia franziu o cenho ao máximo, extremamente inquieto.
— Mas, senhor... Eu já lhe disse tudo o que irá acontecer.
— Quê?? — Jimin se levantou do palanque num salto.
Sua atitude repentina assustou a todos. Eles imediatamente abaixaram as suas cabeças, temendo a ira da entidade divina.
— Olha, beleza que é um evento bem tradicional de vocês, mas tipo... É muito chato. Eu curti a parte da ceia, mas o jeito que você falou dela me deu sono, aigoo — Jimin coçou a nuca e fechou os lábios num biquinho emburrado.
Nessa hora, quando todos se sentiam responsáveis pelo aborrecimento do Ômega de Prata e temiam até mesmo abrir a boca para perguntar a ele o que poderia ser melhorado, uma voz grave e cheia de um vigor alegre atravessou a fileira de nobres.
— E o que sugere que façamos, Ômega de Prata? — a voz arrepiou o corpo de Park Jimin como um vento gelado o faria. No entanto, ao invés do frio, o rapaz sentiu apenas o mais profundo e atordoante calor.
Ele se virou em busca da origem da fala, e encontrou o soberano de Adaman contemplando-o com olhos tão brilhantes e negros quanto ônix.
Jeon Jungkook encontrava-se em pé de forma elegante e silenciosa, tão quieto e contido em sua plenitude que não fora notado ali até ele mesmo permitir que o fizessem.
Assim que avistaram o rei, todos os nobres o reverenciaram de forma respeitosa e abriram caminho para ele.
Com o espaço livre, Jungkook caminhou até ficar a poucos centímetros de distância de Park Jimin, e, com um sorriso que o deixava ainda mais bonito do que o normal, disse:
— Diga-me, o que Vossa Magnificência apreciaria além de devoção e de uma ceia farta?
O monarca parecia brincar com as palavras enquanto falava, usando um sutil tom de sarcasmo mesclado à sua polidez e charme natural.
Park Jimin se sentia um pouco hipnotizado por cada coisa que saía da boca do alfa rei. Pela maneira como os lábios dele se moviam e formavam as sílabas, e pelo aroma de mel que escapava do hálito alheio.
Demorou alguns segundos até o garoto conseguir se afastar dos devaneios de sua mente enevoada por sentimentos.
— ... E-eu... Não me chama assim, por favor — Jimin tentou encará-lo de igual pra igual, mas, assim que sentiu a presença de Jungkook lhe alcançar como um perfume viciante, ele desviou o olhar para baixo, levemente ruborizado.
Jeon notou o efeito que havia provocado e, envergonhado, deu um passo para trás.
— Não aprova ser chamado de Vossa Magnificência? — o rei perguntou, agora sereno.
— É uma expressão muito estranha... E fica ainda mais estranha quando você diz. Eu prefiro que continue a me tratar como antes — Jimin puxou um canto dos lábios e riu — Me trate como Park Jimin, assim como você deixa eu te tratar como Jeon Jungkook.
Jeon sorriu novamente, desta vez com um brilho a mais.
— Está bem, então... Park Jimin, o que devemos fazer para entregarmos uma festa satisfatória a você?
Jimin pensou um pouco, antes de responder:
— Música boa, dança agitada e muita bebida... É isso. Não precisa de muito pra se fazer um evento divertido.
— Entendo — Jungkook balançou a cabeça — Eu irei providenciar.
— Espera... As músicas de vocês são legais, mas eu queria acrescentar umas novas. Ei, Jiji — Jimin se virou para Kim Jina, que agora estava ao lado de seu pai, Kim Namjoon, o qual havia aparecido juntamente com a figura do rei.
— Sim, senhor? — a garotinha virou os olhos para o rapaz.
— Eu vou te dar uma missão.
A menina, achando aquilo muito divertido, tomou posição de soldado, com pernas e braços retos rente ao corpo, e perguntou:
— Qual missão, senhor?
Kim Namjoon ergueu as sobrancelhas, embasbacado com a atitude da filha. Jeon Jungkook assistia a tudo num silêncio entretido.
— Eu já explico — disse Jimin, voltando-se para o grande grupo de nobres — Tem alguém aqui que sabe tocar algum instrumento musical e cantar?
Alguns braços foram levantados, trêmulos e receosos.
— Beleza — o rapaz sorriu satisfeito — É o seguinte: A Jiji vai colocar cinco músicas para vocês escutarem e tentarem reproduzir certinho cada uma delas. Eu quero um show de rock para esta noite, entendido? Se conseguirem fazer isso, eu perdôo vocês.
Os nobres não faziam ideia do que significava "rock", mas compreenderam que o Ômega de Prata desejava um evento de música bastante impressionante.
Como tocar instrumentos e cantar era milhares de vezes mais honroso do que continuar girando e fazendo dancinhas no meio do jardim do castelo, eles rapidamente aceitaram a ordem de Park Jimin.
— Ótimo — o rapaz com chifres falou, cruzando os braços cheio orgulho.
Ao seu lado, Jungkook balançava a cabeça de um lado para o outro, bastante impressionado.
— Incrível... — o rei murmurou. Ele é incrível.
Com um pigarreio, a conversa voltou a se concentrar entre ele e Jimin.
— Desejas caminhar comigo agora? — a simples pergunta provocou um certo nervosismo no corpo do alfa. Ele achou isso deveras curioso, porque quase nunca perdia a calma interior.
— Claro. Mas você 'tá bem de verdade? — Jimin quis saber. Ele não tinha se esquecido do que havia acontecido no início daquela manhã, quando adentrou os aposentos do rei.
— Estou. Estou bem melhor — Jungkook disse uma meia-verdade.
— Ah, que bom, hehe... Então vamos, né?
Os dois rapazes sorriram e saíram caminhando, lado a lado, porém mantendo uma certa distância promovida por seus respectivos inconscientes.
🌕🌖♛🌘🌑
Assim que pisaram fora do perímetro palaciano, as atenções se voltaram para eles. Afinal, tratava-se do rei de Adaman e do Ômega de Prata. Portanto, muitos iriam parar para observá-los.
Isso tanto já era esperado que Kim Namjoon seguia-os logo atrás com alguns de seus melhores soldados, numa medida de precaução.
Porém, Park Jimin não estava gostando nada de ter tanta gente o observando. Ele se sentia nu no meio de dezenas de pessoas, e a sua autoestima perdia vários níveis cada vez que alguém apontava para os seus chifres.
Notando a inquietude na face pálida do garoto, o alfa ao seu lado sussurrou para ele:
— Não está gostando da caminhada?
— ... Mais ou menos... É que não dá pra curtir um lugar com tanta gente te olhando como se você fosse um tipo novo de animal — Jimin explicou baixinho, abaixando a cabeça.
— Então é isso o que se passa em sua cabeça? — o rei riu — Você não é uma aberração para eles, mas, sim, um monumento ambulante e sagrado.
— Com chifres — disse o ômega, carrancudo.
— Não os aprecia?
— Não mesmo... Eu me sinto estranho. Eu estou estranho! E se essas coisas crescerem igual aos chifres dos cervos? Eu não quero andar por aí como um Bambi, carregando galhos na cabeça — o garoto suspirou fundo e tremeu — A filha do general Kim já me comparou a uma árvore. Daqui a pouco todo mundo vai pensar igual a ela.
— Você não escutou o que eu disse esta manhã, Park Jimin? — os olhos do rei sobre ele estavam entristecidos.
— An?
— "Estás lindo"... Nunca fui tão sincero. E todos os que estão lhe observando agora devem pensar o mesmo, porque é verdade... Isso me incomoda um pouco — um rubor atravessou as maçãs das bochechas dele.
Jimin, que já estava enrubescido, o encarou confuso.
— Incomoda você?
— Sim... Queria eu ser o único a admirá-lo.
Jeon disse sem pensar muito no quão constrangido ficaria depois de fazê-lo.
Ambos desviaram os olhares, sorrindo acanhados, ruborizados por inteiro.
— Olha... Hmm — Jimin limpou a garganta — Eu quero mesmo me esconder um pouco, por enquanto, até me acostumar com tudo isso... Ainda mais porque, desse jeito, a gente não vai poder passear em paz de jeito nenhum.
Jeon analisou aquela sugestão e, após pensar um pouco, teve uma ideia.
O rei então fez um pedido aos soldados que os seguiam. Instantes depois, eles trouxeram togas e panos grossos para serem colocados sobre a cabeça.
Jimin e Jungkook adentraram uma guarita próximo aos portões do palácio. Lá dentro, cobriram-se com aquelas vestes, escondendo os seus rostos e os chifres de marfim.
— Hmm, legal, mas os seus súditos não vão nos achar estranhos? Sabe... A intenção era não chamar atenção — Jimin lembrou.
— Está tudo bem. Essas roupas são típicas das ramificações familiares do clã Wang. Essas comunidades se localizam próximo ao deserto a noroeste, mas às vezes recebemos os seus viajantes aqui na capital — Jungkook explicou enquanto escondia o nó do pano em sua cabeça.
— Clã Wang é o clã de uma das suas mães, não é?
— Sim. De Wang Nara.
— Oh... A sua família parece ter uma ancestralidade muito impressionante. Eu sempre ouvi dizer que pessoas que moram em áreas áridas são bem resistentes.
— Está correto. Não é atoa que o clã Wang é conhecido como Os Lobos da Terra... Em todos os meus vinte e três, quero dizer, vinte e quatro anos de idade, nunca vi pessoas mais adaptáveis a situações extremas do que aquelas que compartilham o sangue da Grande Rainha.
— Legal... — Park murmurou, pensando sobre aquelas palavras — Você fez vinte e quatro anos ontem, certo?
— Isso mesmo. Ainda estou me acostumando com essa nova idade — disse Jeon, rindo de si mesmo.
— Hmm, eu não tive a chance de te dizer "Parabéns pra você" — o ômega suspirou fundo, virando o rosto para o outro lado e engolindo um nó na garganta — Eu tinha planejado falar isso durante os fogos de artifício. Mas, quando voltei para te procurar, você...
— "Fogos de Artifício"? Poderiam ser... Aquele brilho no céu? — a voz do alfa falhou um pouco, pois ele se recordou do que estava fazendo quando luzes espetaculares começaram a enfeitar a sua noite luar.
Jeon Jungkook com os braços ao redor do ômega de azul. Essa cena tinha marcado Park Jimin profundamente.
— Er, eu fiquei sabendo sobre o surto que o Choi Ren deu... Mas... — o garoto não soube como falar sobre aquilo sem parecer acusativo.
— Mas metade da culpa foi minha. Eu peço o seu perdão... — os olhos de Jungkook encararam o chão, culpados e envergonhados — Algumas coisas são inéditas para mim. E-estou tentando ganhar mais controle e consciência do que faço. Prometo que sou um bom aprendiz. Prometo que aquela cena jamais se repetirá.
O jovem monarca engoliu em seco e buscou a mão de Jimin escondida pelo tecido da toga.
Segurando-a de forma hesitante, sentindo a maciez e o calor dela contra a sua própria pele, ele murmurou:
— E pensar que a falta de minha razão quase me custou a sua vida... Se aquele mal entendido não tivesse acontecido, você estaria comigo quando as luzes começaram a brilhar, e aquela fera jamais o teria pego sozinho — uma sombra cobriu a face empalidecida do rei — Há pouco falei ao general Kim que não deveríamos nos martirizar pelo que poderia ter ocorrido, mas sou obrigado a me tornar um hipócrita quanto a isso.
A temperatura da mão de Jeon Jungkook enviou faíscas diretamente ao coração de Park. O garoto suspirou fundo, fechando e abrindo os olhos, e entrelaçou os dedos nos dele.
— Pois não se torne. Siga as suas próprias palavras... Está tudo bem comigo porque, no final de tudo, você ainda estava lá, e literalmente morreu para me proteger — disse baixinho, com lábios um pouco sorridentes — Acho que seria muito idiota da minha parte se eu não confiasse em você, no que diz, depois de tudo o que aconteceu.
Um instante de silêncio cheio de respirações entrecortadas.
— Eu realmente quero confiar nos seus sentimentos, porque... Acho que estou gostando muito de você. E, até agora, eu estive tentando mentir sobre isso, encontrando desculpas e razões pra não admitir — Jimin tomou fôlego — Este lugar... Este mundo me deixa muito confuso. É-é por isso...
Quando voltou a encarar Jeon Jungkook, viu que ele o observava intensamente, e seus lábios estavam cheios de indícios de um sorriso ansioso.
Com o interior tomado por alegria e outros sentimentos vibrantes, o jovem monarca diminuiu a distância entre os dois e tocou a face do garoto com cautela, desejando beijá-lo.
Desejando-o.
Ele o teria feito, cheio de ternura e paixão tímida, se estivesse em condições melhores e menos arriscadas.
Mas Jeon estava bastante ciente de que andava sobre um muro delicado. Se atravessasse a linha com Park Jimin, ele seria arrastado por uma onda de instintos que o jogariam para uma queda sem fim, sem retorno. Se isso acontecesse, nem mesmo o seu lado mais racional poderia impedí-lo de tomar o corpo daquele ômega.
Foco. Foco! O rei deu ordens mentais ao próprio corpo.
Ao inspirar fundo, ele se recompôs e tirou a mão sobre a face de Park Jimin.
O ômega, que nada sabia do que estava acontecendo com o alfa, sustentou uma expressão de decepção e tristeza.
— Jeon...? — ele buscou respostas para aquela atitude estranha no olhar do outro rapaz, mas nada encontrou.
Sabendo que deveria dizer pelo menos uma parcela pequena das coisas reprimidas em sua garganta e demonstrar alguma reação à resposta do ômega, Jungkook mordiscou os lábios, segurou a respiração e depositou um beijo terno entre as sobrancelhas de Jimin.
— Eu não seria capaz de descrever o quão feliz e aliviado estou neste momento — ele murmurou, sincero, e se afastou do garoto devagar, com um sorriso genuíno no rosto.
Park Jimin relaxou após o pequeno beijo.
Em seu interior, ele queria mais do que um simples gesto de carinho em sua testa, mas preferiu não fazer nada, pois notou que Jungkook parecia mais contido e acanhado do que o normal.
Pensou que talvez o jovem rei ainda não estivesse se sentindo completamente recuperado depois de ter se transformado em um lobo gigante.
O garoto então decidiu mudar de assunto, e o fez enquanto enlaçava a mão esquerda na da do outro.
— Agora que estamos disfarçados, pra onde você vai me levar? — ele quis saber.
Oferecendo um olhar sereno e iluminado, o rei alfa disse:
— Acompanhe-me.
Eles caminharam pelas vielas meio íngremes de Adwan, formadas por tijolos embranquecidos e bem organizados, e repletas de árvores altas plantadas em suas extremidades ao longo do caminho.
Algumas delas carregavam folhas coloridas, nos tons vermelho e amarelo, além do verde típico.
Essa mistura de tonalidades se unia às cores das construções dispostas pela cidade. Aos telhados dos casarões, à pintura das paredes das lojas, dos bares, das oficinas e à outras tantas coisas mais. Isso oferecia grande harmonia aos olhos e enchia o cenário matinal de beleza.
A população aparentemente era calma e feliz.
Jeon e Park passaram novamente pelos chafarizes que tinham visto quando chegaram em Adwan, dias atrás, após a longa viagem. Jimin não deixou de se impressionar por eles, pois, de perto, eram ainda mais bonitos.
Os detalhes entalhados no mármore da fonte que espirrava água eram extremamente bem feitos e delicados. As estátuas mais elaboradas claramente eram a da Grande Rainha, e a do Ômega de Prata, este último em sua forma lupina.
Quando Jimin passou pelo chafariz que homenageava a mãe de Jeon Jungkook, ele sentiu necessidade de trazer de volta um dos assuntos que haviam debatido naquela manhã.
— Ouvi dizer que Choi Ren será julgado... Julgado por ter assediado algumas pessoas no baile. Mas ninguém citou você na história, só o seu primo.
Jeon Jungkook abriu e fechou a boca.
— Eu prefiro que ninguém saiba do que houve. Aquilo que você viu... Poderia trazer graves problemas ao clã de Choi Ren — o olhar do alfa estava distante — Se as pessoas souberem que ele também se aproximou de mim, elas exigirão que a Lei seja cumprida.
— Que lei?
— Aquela que o condenaria à morte.
Nesse instante, Jimin empalideceu.
— Entendi... Odeio aquele mauricinho, mas eu concordo com você sobre deixar o que houve em segredo... É uma atitude legal a sua.
— Não pense que estou decidindo manter isso em sigilo para poupar Choi Ren da morte certa porque nutro algum sentimento por ele, por favor — Jungkook disse, apressado, temendo criar outro mal entendido.
— Ah, eu não pensei — o ômega sorriu, sincero, e acariciou a mão do alfa com um polegar.
O clima leve pairou entre eles novamente. A caminhava estava bastante agradável.
— Park, o que significa a palavra "mauricinho"? — Jeon achou a expressão intrigante.
— É alguém jovem e esnobe por ser rico.
— Hmm, entendo... Você me amplia o vocabulário.
— Com gírias do meu mundo, haha — Jimin inclinou a cabeça para trás, rindo. Nessa hora, o nó no pano em sua cabeça se desfez e quase revelou os chifres cobertos — Ah, droga...
— Deixe-me arrumá-lo.
Jungkook ficou de frente para ele, bem próximo, sem se dar conta de que não estava respeitando nenhum limite de distância seguro. Em seguida, começou a arrumar o tecido com agilidade, passando uma ponta sobre a outra e dando um nó firme no final.
Quando dava os últimos retoques, o jovem rei notou que estava sendo observado por Park Jimin. Os olhos escarlates do garoto pareciam despir sua alma.
— Você é muito bom dando nós... — o ômega murmurou, devaneando. Ele só foi notar que essa frase e o seu tom de voz poderiam carregar um duplo sentido momentos depois.
Ao cair a ficha, Jimin abaixou o olhar e comprimiu os lábios, sentindo a face ficar quente.
Jungkook pigarreou e tentou controlar os impulsos interiores com alguma coisa que pudesse ocupar sua mente.
— Minha mãe alfa foi quem me ensinou a usar essas roupas — falar sobre Wang Nara era uma boa escolha, pois sempre lhe trazia serenidade ao peito — Às vezes, durante as suas campanhas militares, ela me levava em sua forma lupina até as planícies desérticas localizadas na terra natal dos Wang. E lá, sob a luz das estrelas, me contava histórias de sua vida.
Assim que o alfa terminou de arrumar o pano do ômega, eles voltaram a caminhar lado a lado. Enquanto isso, Jimin o escutava atentamente.
— Ela me contou sobre as suas vitórias durante a expansão de Adaman e sobre o quão irônico era ser tratada como uma vencedora pelos súditos enquanto que, dentro do palácio, a sua vida familiar se tornava uma catástrofe.
— Você 'tá falando do romance dela com a sua mãe ômega e com a mãe ômega do príncipe Min?
— Sim... — Jungkook sussurrou, seus pensamentos viajavam para longe — Park, preciso desabafar um pensamento que venho guardando desde que tomei consciência sobre a vida... Eu não acho que ela tenha sido feliz. Não falo isso por conta da rigidez inerente à Grande Rainha, mas aos problemas que cercavam as pessoas que lhe eram preciosas. O meu avô do clã Jeon raramente foi piedoso com Min Hyuna... Ele odiava a existência dela e, uma vez, tentou matar o meu irmão quando ele ainda era um recém-nascido.
"O caso foi abafado porque o clã Jeon sempre esteve no topo. Ele é mais poderoso, inclusive, do que o clã de Wang Nara. Assim, quem ousaria contrariar o patriarca Jeon?..."
Jungkook soltou o ar pesadamente.
Jimin piscou, atônito.
— Quantos problemas... E Jeon Haerin? Sua mãe ômega é igual ao seu avô em relação ao príncipe Min?
— ... Ela guarda rancor por ter sido colocada em segundo plano no coração de Wang Nara, mas jamais seguiu os passos de meu avô. Por mais que seja um pouco intolerante com Min Yoongi, Jeon Haerin nunca ultrapassou nenhum limite — o rei olhou para o horizonte, avistando a ponte que os levaria para a área rural da capital, localizada na área externa à muralha — Ah, daqui a instantes sairemos da área urbana de Adwan... Eu tomei o seu tempo apenas com histórias de meus problemas familiares.
— Eu gosto de ouvir elas — Jimin balançou os ombros.
— Ainda assim, eu quero conversar sobre nós... — Jungkook olhou para a sua mão unida à do outro rapaz — Fale-me sobre você. Sobre sua família. Eu o conheço tão pouco...
— Certo — o ômega pensou, por um instante, o que poderia dizer — Eu tenho um pai, uma mãe e uma irmã mais nova. Minha mãe trabalha fazendo doces para vender. Os bolos dela são muito bons...
— Eu gostaria de experimentá-los um dia, se possível.
— ... Claro — Jimin hesitou, sentido-se um pouco entristecido porque sabia que Jeon Jungkook provavelmente jamais iria ver a sua família — Er... E o meu pai trabalha numa empresa... Não sei se você sabe o que é isso, mas a empresa é tipo uma grande loja com várias pessoas comandando.
— Acho que compreendi... E a sua irmã?
— Ela ainda não trabalha, só tem 12 anos. Minha irmã apenas estuda e perde boa parte dos dias dela lendo romances entre dois homens — o garoto suspirou — Ela teria adorado você por estar comigo...
— Verdade? — os olhos de Jungkook ficaram felizes.
— Sim. A Yeseo sonhava em me arranjar um bom partido, hmm... Eu já passei tanta vergonha com ela! Perdi a conta de quantas vezes me encontrei com caras esquisitos por causa daquela guria.
Mão de Jungkook petrificou na de Jimin. O jovem rei emudeceu-se e se cobriu de tensão.
A ideia de que Park Jimin já havia se encontrado com outras pessoas antes provocou faíscas de ciúmes irracionais no corpo do alfa.
— Jeon Jungkook? — o ômega notou o semblante tenso na face do outro.
— Você... Já se relacionou com outrem?
A voz de Jeon estava um pouco carregada, como se ele estivesse tentando se conter.
— An, já... — Park, por algum motivo, começou a se sentir ansioso.
A resposta do ômega fez o lobo interno do alfa se erguer, um pouco irado.
Quem poderia ser essas pessoas que se envolveram com o meu ômega? Eu vou matá-las... Matá-las..., os pensamentos do rei pareciam farpas afiadas de metal. Era como se, naquele momento, o inconsciente mais selvagem de Jeon Jungkook estivesse despertado, sem nenhum filtro o controlando, apenas a pequena e instável racionalidade.
Ao seu lado, Park Jimin reparava no desconforto do parceiro e, sem saber o caos violento instaurado na mente dele, mas com a intenção de acalmá-lo, o trouxe para si num beijo cálido.
Lábios contra lábios, doçura e paixão. Uma paixão acalentadora.
— Ei... Eu estou contigo agora, não é? — Jimin murmurou para Jungkook logo após o beijo, olhando fundo nos olhos dele.
Isso trouxe a razão de volta à mente do rei, e a vergonha veio acompanhada.
Que perigo... Eu quase me descontrolei! ele pensou, aflito.
Prometi a Kim Namjoon que o passeio seria breve, e então eu me retiraria para os meus aposentos...
— Park,... Podemos dar meia-volta? — pediu.
Com isso, a face de Jimin caiu.
— Você já quer voltar para o castelo...?
— ... Não, eu... — Jungkook não poderia explicar ao garoto, e, sem uma explicação, ele sentia que o magoaria.
Afinal, o passeio tinha sido tão rápido.
Eu posso aguentar por mais alguns minutos, ele decidiu mentalmente.
Com um sorriso, o monarca voltou a segurar a mão do ômega e disse:
— Vamos. O caminho sobre a ponte oferece uma visão espetacular.
Ainda sendo discretamente escoltados por Kim Namjoon e seus soldados, eles atravessaram os portões da muralha que envolvia Adwan, e subiram na ponte que cortava o imenso rio.
Caminhando ao lado da mureta de segurança, Jimin olhou para a extensão das águas abaixo deles, para o horizonte onde elas surgiam e para aquele onde elas sumiam. Havia barcos pesqueiros e outras embarcações em sua superfície, algumas eram pequenas e simples, outras eram gigantes e traziam consigo pessoas de outros lugares, além de mercadorias vindas de toda Adaman.
Jeon Jungkook tinha razão quando falou que a vista ali seria espetacular, porque, de fato, ela era. Não só pela cor da água e sua imensidão, ou pelo reflexo do céu azul pintando o rio, mas também por causa das florestas que a envolviam e dos campos abertos das fazendas localizadas no outro lado da ponte.
— Nossa — Jimin suspirou, maravilhado, e olhou para cima, sentindo a brisa tocar-lhe o pescoço.
Foi assim que o rapaz viu que, bem alto no céu, grandes pássaros rondavam ao lado de gaivotas. Eles eram bem maiores do que aqueles que tinham perseguido Park Jimin quando o garoto inconsequentemente usou as suas habilidades de Ômega de Prata horas atrás.
Um arrepiou lhe atravessou o corpo ao imaginar aquelas criaturas imensas voando atrás dele.
— Que gigantes — o ômega murmurou, ainda com os olhos nos pássaros.
Jeon seguiu o olhar dele.
— Você se refere àquelas aves? — o rei apontou para algumas que haviam pousado numa guarita acima da muralha.
— Sim. Nunca vi um pássaro tão grande...
— São Condores do deserto¹. As minhas tropas utilizam esses pássaros para transporte urgente de mercadorias entre cidadelas. O tamanho deles os permite carregar grandes cargas.
— Engenhoso... Será que eles conseguem segurar uma pessoa?
A ideia intrigou ambos.
— Se você sugerir isso ao Alquimista real, é capaz de ele começar a fazer testes... — Jungkook riu anasalado — Mas eu também gostaria de saber... De saber como é a sensação de voar.
Park Jimin observou o alfa com um ar pensativo, e depois voltou-se para encarar o céu novamente.
— No meu mundo, temos meios de voar... — disse.
Ao seu lado, Jungkook arregalava os olhos.
— I-isso é possível? Você experimentou o voo?
— Sim. Viajei pelo ar algumas vezes, dentro de um avião... Um avião é um tipo de transporte que voa e tem asas — Jimin explicou, tentando ser o mais claro possível — Não senti o vento do lado de fora, porque aviões são completamente fechados. Mas dá pra ver o céu pela janela.
— E como ele é lá em cima? — os olhos negros de Jungkook pareciam iluminados, cheios de expectativa.
— É impressionante, pra falar a verdade... As nuvens ficam bem próximas de você. É como se pudesse tocar um mar de algodão. Às vezes o avião passava perto de tempestades, nessas horas eu conseguia ver as nuvens completamente unidas, como uma colossal bola de algodão negro, com raios piscando dentro e fora dela. A cor do céu também fica mais viva lá em cima, como uma pintura. O pôr do sol é o evento mais bonito — o garoto suspirou fundo.
Eu queria poder mostrar tudo isso a ele, pensou, lamentando.
E como se soubesse exatamente o que se passava na mente do ômega, o jovem rei sorriu e se permitiu abraçá-lo por trás, colocando o queixo sobre o ombro dele.
O gesto aqueceu ambos.
— Obrigado por me dar tais detalhes... Agora posso imaginá-los em minha mente, e será, assim, como uma experiência não vivida — o alfa murmurou.
Um segundo depois, ele se afastou do ômega e voltou à distância segura de antes. Jimin sentiu um leve vazio quando os braços do outro deixaram o seu corpo.
— Jeon... Como é a sensação de se transformar em lobo? — os seus pensamentos agora giravam em torno disso, pois aparentemente todas as hesitação do jovem rei estavam relacionadas à maturidade que ele havia alcançado.
— Não sei se consigo explicar com palavras, mas... Sinto-me mais ágil quando estou na forma lupina. Os meus músculos ficam mais atléticos e, por isso, tenho a sensação de que poderia correr milhas e milhas de distância sem me cansar. Os meus sentidos também se aguçam. Por exemplo, quando lutei contra aquele monstro, pude saber exatamente em quais pontos acertá-lo para ferí-lo ao máximo...
Jungkook apertou uma das têmporas, cerrando os olhos.
— Eu queria tê-lo matado. Faltava pouco. Muito pouco... A única coisa que me impediu de ir atrás daquela besta, quando ela fugiu, foi você, Park. Eu precisava ter certeza de estava tudo bem contigo, e que se encontrava seguro — ele passou dois dedos pelo pescoço de Jimin, recordando-se dos hematomas provocados pela criatura.
A pele do ômega já não apresentava nenhum ferimento, para o completo alívio de Jeon. Mas o fantasma dos machucados ainda o assombrava.
Jimin sorriu, mostrando ao outro um olhar de quem dizia "Eu estou bem".
— Será que eu também vou me transformar num lobo? — o garoto perguntou, mais para si mesmo do que para Jeon Jungkook.
— Estou ansioso para ver isso.
— Um lobo com chifres... Que coisa mais estranha.
Os dois gargalharam.
— Pergunto-me se seus pelos também serão prateados, iguais aos de seus cabelos, assim como dizem as tábulas — disse Jungkook, encarando os fios platinados de Jimin.
— Talvez... Mas essa não é a lógica? Tipo, os seus cabelos são pretos, por isso que os seus pelos são da mesma cor.
— Na verdade, não é por essa razão. Um lupino do clã Jeon costuma ter pelos embranquecidos, mas os meus são pretos porque herdei a tonalidade do lobo de Wang Nara.
— Aaaah — Jimin processou aquela informação — O seu irmão também herdou isso?
— Não. Min Yoongi é completamente loiro, assim como Min Hyuna foi. Os dois compartilham muitas semelhanças.
— Entendi.
Eles continuaram a caminhar pela ponte, passando ao lado de viajantes e de cidadãos que levavam produtos para dentro da capital. A baixa temperatura da manhã começava a ser substituída pelo sutil calor do meio-dia, provocando ventos mais fortes ao redor deles e levantando água evaporada do rio.
Jimin e Jungkook conversaram mais um pouco sobre as suas respectivas personalidades. Eles descobriram que, assim como o primeiro rapaz era fascinado por jogos, o segundo também tinha boas inclinações para o mesmo tipo de lazer. A dupla então decidiu que um dia iriam competir num jogo de tabuleiro no palácio, com direito a apostas e desafios ao perdedor de cada rodada.
O passeio estava indo bem, tão bem que Jeon Jungkook pensou que poderia passar mais longas horas ao lado do ômega, sem ter nenhum problema ou recaída.
Até que formou-se uma aglomeração de pessoas num canto da ponte.
Todas elas tinham semblantes nervosos em seus rostos enquanto encaravam algo metros abaixo, no meio do rio.
— O que está havendo? — o rei de Adaman contraiu o cenho, enrijecendo os músculos, e tentou acompanhar os olhares da multidão para descobrir a razão de tanta comoção.
Já Park Jimin se manteve parado, inerte, pois algo havia acessado o cerne de sua alma, enviando-lhe informações precisas sobre o que acontecia na natureza ao seu redor, numa linguagem não humana.
E como se estivesse sentindo tudo o que as plantas e as águas próximas a ele sentiam, o ômega captou a presença de uma criança que tinha caído no meio do rio. Ela estava prestes a ser afogada pela correnteza violenta.
— Meu Deus. Meu Deus. Meu Deus — Jimin se apoiou na mureta, inclinando-se para avistar a pequena figura se debatendo na água.
A essa altura, alguns barcos tentavam alcançar a criança, mas a velocidade do leito do rio os superava.
Eles não poderiam salvá-la nesse ritmo.
Park Jimin então planejou uma loucura.
Com o medo sendo substituído pela necessidade de ajudar o pequenino, o ômega ficou em pé sobre a mureta da ponte e olhou para cima, na direção dos condores do deserto.
— Park Jimin...!? — Jungkook ficou estático quando viu o garoto numa posição arriscada. O sangue gelou dentro de seu coração tomado pelo receio.
Ignorando o chamado do alfa, Jimin encheu os pulmões de ar e pensou em alguma música que pudesse cantar.
A primeira melodia que atravessou a sua mente foi Help, dos Beatles. Música perfeita para aquela situação.
— HELP! I NEED SOMEBODY! HELP! NOT JUST ANYBODY! HELP! YOU KNOW I NEED SOMEONE HEEEELP! — o garoto cantou, usando todo o fôlego contido em seus pulmões.
Em dois tempos, os condores que voavam acima dele planaram em sua direção numa velocidade assustadora.
Engolindo em seco, Jimin ergueu os braços e esperou ser agarrado.
Funciona. Funciona. Funciona. Funcionaaaa, ele pediu mentalmente, cerrando as pálpebras e balbuciando um mantra do Budismo.
Ainda de olhos fechados, o rapaz sentiu as patas de um condor agarrando os seus pulsos e o puxando para cima.
Seus pés agora tocavam o ar, e o vento ensurdecia os ouvidos.
Ele estava planando acima do rio, sendo suspenso pelo pássaro gigante.
— Hahahahahaha — gargalhou em desespero, com o coração subindo pela garganta — Vamos lá, passarinho! Me leva até aquele garotinho!
Com as ordens, o condor bateu as asas e se virou na direção da criança que se afogava.
Do chão, as pessoas assistiam à cena boquiabertas. Em suas vidas, elas nunca tinham visto algo tão absurdo quanto um pássaro carregando um homem. Porém, quando a platéia compreendeu que as intenções de Park Jimin se concentravam em salvar a criança do afogamento, uivos e urros de incentivos começaram ser entoados.
Jeon Jungkook era o mais atordoado entre os espectadores. O monarca sempre se assustava com o jeito insano e inexplicável do outro garoto, e sentia que jamais iria se acostumar com esse traço de personalidade dele.
O jovem temia que o pássaro de repente soltasse os braços de Jimin e o lançasse rio abaixo. Se isso acontecesse, Jungkook com certeza pularia da ponte atrás dele.
Tenha calma. Park Jimin pode conseguir fazer isso. Agora ele é o Ômega de Prata, preciso confiar nele..., Jungkook tentava convencer a si mesmo, mas o seu lobo interior remexia-se de preocupação.
— Majestade! — Kim Namjoon apareceu ao seu lado, quase tão perplexo quanto o rei.
— General, prepare o barco mais veloz e chame soldados da linhagem Choi, eles são bons nadadores — falou Jeon, de modo imperativo — Park Jimin mostrou que tem habilidades, mas eu preciso tomar precauções.
— Senhor... Os soldados dos Choi saíram em busca de rastros da besta pelo rio.
A informação fez Jungkook cerrar as mãos em punhos.
— Eu tinha me esquecido disso — ele bufou, ansioso, e engoliu em seco — Ao menos encontre um barco tão rápido quanto o vento.
— Imediatamente — Kim Namjoon se virou para dar ordens aos seus soldados.
Nesse instante, alguém que observava os acontecimentos no céu de repente gritou. Jeon Jungkook rapidamente se virou para olhar, e, quando o fez, o seu coração deu um salto.
🌕🌖♛🌘🌑
Planando metros acima da água, um ansioso Park Jimin e o seu condor aproximavam-se do local onde a criança estava se debatendo. Assim que ficou bem em cima dela, o garoto ergueu os olhos encarando o pássaro gigante, e disse a ele:
— Beleza! Agora desce um pouquinho!
O pássaro o ignorou e continuou voando em círculos naquele mesmo lugar.
— DESCE! — Jimin insistiu, agoniado com a demora. Ele precisava salvar o pequenino imediatamente.
Mas o condor não parecia disposto a obedecê-lo.
— MAS QUE SACANAGEM! DEEESCE! — Jimin começou a se debater, mas nada adiantou — Pelo menos me larga! Assim vou pegar a criança e chamar outro pássaro depois! ME LARGAAA!!
Nada. Completamente ignorado.
Sentindo que iria enlouquecer ali mesmo, e irado pelas coisas dando errado enquanto a criança logo abaixo dele já mostrava sinais de cansaço, Jimin sentiu uma pressão eclodir dentro dele e se espalhar por todo o seu corpo, modificando cada minúscula célula de seus tecidos.
Queimando de forma febril, ele viu o próprio corpo se metamorfosear, ganhando uma anatomia quadrúpede, peluda e platinada.
Agora, o condor não mais segurava braços humanos, mas, sim, patas lupinas cheias de unhas afiadas.
Sem nenhuma outra alternativa, ele mordeu uma das garras do grande pássaro, forçando-o a abrí-la.
O resultado foi imediato.
A ave soltou Jimin no mesmo instante, derrubando-o bem ao lado do menino que se afogava.
Ainda que não tivesse experiência com aquele novo corpo, Park conseguiu se estabilizar dentro da água, nadando como um cachorrinho numa piscina. Foi assim que ele cortou a correnteza até ficar ao lado da criança, a qual encarava, com um semblante assustado, aquela figura platinada de chifres se aproximando.
— Sobe em mim! — a voz de Jimin também tinha se modificado. Ela estava etérea e melódica, com vozes secundárias acompanhando cada sílaba que era dita, como se houvesse ali espíritos repetindo as palavras do rapaz.
A criança não hesitou muito antes de se agarrar às costas do grande lobo. Quando viu que ali era seguro, ela abraçou Park Jimin com força, tremendo dos pés à cabeça e chorando.
— Ei, 'tá tudo bem. Eu vou tirar a gente dessa — o rapaz disse ao garotinho, com seu tom de voz cheio de confiança, e olhou para cima, à procura de outros condores.
Para a sua infelicidade, todos pareciam estar distantes demais, até mesmo aquele que tinha levado o ômega até ali. Além disso, a correnteza era outro grande problema. A força da água tentava sugar a calma e o fôlego de Jimin, puxando-o para o fundo, arrastando-o em direção às rochas do rio.
Ele precisou se concentrar para não perder o controle e acabar afundando com a criança. No meio desse processo, o leito aquoso começou a ficar mais violento e veloz.
Jeon Jungkook assistia tudo da ponte com os nervos à flor da pele, agora em sua aterradora forma lupina.
Foram necessários três soldados alfas, além de Kim Namjoon, para impedir que o rei pulasse da ponte atrás do Ômega de Prata. Por causa desse obstáculo, Jungkook se via irado.
— Pela milésima vez, SAIA DE MEU CAMINHO, KIM NAMJOON — ele rugiu feroz, como um trovão. Seus olhos da cor de sangue brilhavam mortíferos — Eu realmente não quero ter que machucá-lo.
— Os barcos já estão atravessando o rio. O Ômega de Prata poderá se refugiar nas pedras ao longo do leito até ser resgatado. Sua Majestade não precisa pular — Kim latiu de volta, também em seu corpo de lobo. Ele era o único que poderia continuar estável e audaz diante da forma lupina do rei.
— Isso se ele não for jogado contra as pedras! SAIA!
— Não posso permitir que se arrisque. É o meu trabalho mantê-lo a salvo, Majestade — os olhos castanhos de Namjoon suplicavam por compreensão — Ele é o lendário Ômega de Prata, meu rei. A sua mera existência já o torna mais resistente e capaz do que qualquer um de nós. Pense nisso!
— Não faz nem um dia completo desde que ele se tornou o Ômega de Prata! Como podes ter tamanha certeza diante de tantos riscos!? — Jungkook mostrou os caninos afiados — Se queres o meu bem, lembre-se de que, se ele morrer, eu também morrerei!
— E se o senhor morrer no rio, Park Jimin também o sofrerá! E, no fim, o nosso reino ficará sem um rei capaz de governar. Os clãs entrarão em conflito pelo trono, os territórios pelos quais a Grande Rainha lutou serão fragmentados e as nações vizinhas se aproveitarão do caos para infernizar a vida de vosso povo! — o General exclamou, afundando as garras no chão da ponte — Farei o meu papel até o fim, mesmo que esteja me odiando neste momento, meu rei.
Jeon rosnou e cerrou os dentes pontiagudos. Ele sabia que Kim Namjoon estava certo, mas o certo não lhe era importante naquele momento.
Por isso, as suas patas se posicionaram para saltar sobre o General, evitando, assim, um embate desnecessário com o velho amigo.
Porém, um segundo antes do salto, uma faísca piscou nas profundezas de seu âmago. E ele parou, ouvindo um chamado pacífico, sentindo uma calmaria etérea esvaziar as suas preocupações.
Ao voltar à forma humana, o jovem rei olhou para o rio já sabendo o que iria encontrar.
Kim Namjoon, confuso com a súbita mudança de atitude de Sua Majestade, virou-se para procurar o que havia chamado a atenção dele.
Aos poucos, todos os espectadores da cena copiaram o ato e contemplaram o horizonte aquoso.
No centro do rio, uma árvore gigantesca havia brotado. Seu tronco, da cor de marfim, era tão grosso e forte que a água o circulava, subserviente. Seus galhos erguiam-se esplêndidos, repletos de folhas vermelhas, estas bastante semelhantes às da árvore sagrada localizada nos subterrâneos do castelo de Adwan.
E, no topo do tronco, em meio à copa carmesim, como se esta fosse um protetor e aconchegante ninho de sangue, jazia uma criança montada sobre um lupino de prata com chifres de cervo.
Os cidadãos de Adwan, admirados e arrebatados pela visão milagrosa, então se ajoelharam, em devoção ao Ômega de Prata.
~♛🌕🌖♛🌘🌑♛~
Ei, criaturinha divina, deixa um ⭐VOTO⭐ aí pra mim, vai ;-;
[¹Condor do Deserto: Eu tomei liberdade para criar uma raça de Condor, baseando-me nas características dos Condores Andinos e das Harpias (duas das maiores aves do mundo). São pássaros realmente imensos, com comprimento que ultrapassa os 170 cm. Mas, por serem relativamente dóceis, são utilizados pelo exército de Adaman apenas para transporte de cargas urgentes.]
~🌖♛🌘~
O Jungkook ainda vai ter um infarto por causa do jeito maluco do Jimin... Mas é exatamente por causa dessa personalidade que o nosso rei é tão boiolinha por ele, não é mesmo? Enquanto isso, do outro lado, o Jimin não faz ideia do que realmente se passa dentro daquela plenitude toda do JK. Mas quando ele descobrir... 🔥🔥🔥
Agora eu quero saber o que vocês estão achando do ritmo da história. Como nos encontramos numa fase pacífica, eu temo tornar tudo um pouco entediante... Mas, ao mesmo tempo, sei que várias coisas ainda vão acontecer nesse período calmo (sou uma contradição ambulante, talvez?). Sksksksks Aaaaaaah, preciso saber também se as tramas secundárias estão indo bem! Neste capítulo vocês conheceram melhor a Min Miho, então vou deixar um edit aqui embaixo pra mostrar como ela é na minha cabeça:
(Sim, glr, é a guria do Twice. Muito gata mesmo)
Por fim, mas nenhum porcento menos importante, eu queria agradecer a toda a atenção que ultimamente vocês vêm dando à esta história. Isso me incentiva pra crlh e me faz sonhar com algumas possibilidades para o futuro (... livro... quem sabe...). Pse, OBRIGADA MESMO POR TUDO, vocês são muito fofos e doces nos comentários, e muita gente que lê também vota, o que é tão importante...💜💜💜💜 Obrigada 💜💜💜💜
~Agora, guardando o melhor para o final, eu vim deixar essas belezuras que alguns leitores talentosíssimos fizeram para EUVUO (Gente, eu tô passada, chocada, honradaaa). OBRIGADA SEUS GOSTOSOS:
Por hoje, é isso💜 Até a próxima! Beijinho na testa de cada um😘
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