Hello, Guerreiros de Adaman💜
Perdão pela demora, passei muito tempo ocupada com as atividades e as provas da facul (Os professores realmente se soltaram com o EAD, ein? Credo). Enfim, agora estou de volta com 10k de palavras neste capítulo. Mas vou falar uma verdade para vocês: A minha pretensão inicial era trazer um capítulo bem maior... Só que ele seria beeeem maior mesmo. Porém, eu iria demorar bastante para postar novamente, então preferi dividir o conteúdo em dois capítulos.
Obrigada por surtarem no capítulo passado com os últimos acontecimentos! Alguns comentários de vocês para mim foram tão lindos que eu os li no Dia dos Namorados como se fossem mensagens dos meus amantes rsrsrsrs
~ Deixe o seu ⭐VOTO⭐ e Boa Leitura!! ~
tag da fic: #LoboDePrata
♛|Predestinados no Despertar|♛
Reino de Eliah, fronteira Norte
A comitiva real de Chang Sun atravessava os vales entre as montanhas congeladas num número bem mais reduzido do que de costume, para evitar chamar atenção desnecessária de bandidos andarilhos ou de outros indivíduos que poderiam servir de obstáculo em sua travessia. O frio cortante natural daquela região também permitia um percurso tranquilo, impedindo que se deparasse com animais ferozes, por exemplo, pois eles se recolhiam para as áreas mais quentes da floresta.
No entanto, mesmo após três dias de tranquila viagem, o rei de Eliah se via estupefato. Em sua carruagem elegante e confortável, ele trincava os dentes sempre que observava, através da janela, a figura exuberante e inabalável do homem raposa, enquanto este balançava as suas nove caudas douradas e guiava a comitiva como se fosse o monarca de todos ali.
Seokjin era o nome dele. Belo, misterioso e fatal. Chang Sun o odiava com toda a força de seu cerne.
No início, quando avistou o jovem rapaz atravessando os portões de seu palácio pela primeira vez, o rei de Eliah se viu intrigado com a sua forma bonita e mágica, semelhante a de uma raposa. Poucos eram aqueles que nasciam com peculiaridades distintas, e, sempre que acontecia, acreditava-se que poderia ser uma bênção dos deuses.
Sabendo disso, Chang Sun rapidamente se interessou por Seokjin e pensou em acolhê-lo em seu harém, como um símbolo de sorte, uma graça divina. E esse desejo se multiplicou quando ele viu que aquela jovem raposa trazia consigo a cabeça decepada de um lobo de prata com chifres de marfim.
A partir daí, o rei teve certeza de que Seokjin era a sua chave para a conquista de Adaman e para a glória eterna.
Mas, assim que a raposa pôs os pés no conselho de guerra de Eliah, tudo mudou. Aos poucos, Seokjin tomou a mente dos lordes e ministros de Chang Sun, seduzindo-os com a sua magia maligna, levando-os à profunda submissão, como se eles fossem um bando de alfas apaixonados por um ômega no cio.
O rei então passou a reparar na força perigosa daquela raposa, mas, sempre que a sua consciência ia mais além, ele voltava a pensar nas vantagens de ter uma criatura tão poderosa ao seu lado.
Chang Sun, um rei beta que nada tinha a oferecer, de repente visualizava em suas mãos a cabeça do Ômega de Prata e a possibilidade de invadir Adaman com sucesso. Assim, como ele poderia se sentir intimidado? Como a sua soberba poderia se distrair com outros pensamentos, a não ser os de conquista e de glória?
Chang Sun ficou cego por um longo tempo, até que um dia ele avistou Seokjin se esparramar em seu trono enquanto fodia e era fodido pelos concubinos e concubinas reais, com servos lhes servindo frutas e bebidas ao seu redor. A partir de então, o rei de Eliah recuperou a visão e a clareza mental. No entanto, já era tarde demais, pois quase todo o seu palácio agora obedecia àquele jovem traiçoeiro, e somente alguns de seus generais continuavam sãos e leais à coroa.
A vontade de matar Seokjin cresceu como um parasita pulsante no peito de Chang Sun, contudo, a falta de interesse da raposa pelo título de monarca mudava radicalmente as circunstâncias da história. Seokjin pouco se importava se seria lorde, general ou rei, ele apenas ignorava o povo de Eliah e a coroa, e se satisfazia com algum luxuoso conforto. Além disso, ao que parecia, tudo o que aquele jovem ansiava era invadir Adaman e estraçalhar a realeza do reino vizinho, anseio este que Chang Sun também compartilhava.
Olhando por esses termos, a raposa e o rei de Eliah não eram inimigos. Não. Eles poderiam agir em conjunto, seria bem mais vantajoso dessa forma. Ao menos por enquanto...
Desde então, Chang Sun vinha tolerando o insidioso Seokjin e todas as suas atitudes subversivas. Aquela viagem até a fronteira Sul de Eliah, inclusive, havia sido requerida e planejada pelo jovem raposa um dia após mensageiros trazerem notícias do Norte, sobre a situação das tropas lideradas por Han Untak.
Han Untak estava morto e o Ômega de Prata havia aparecido. Eram notícias terrificantes demais para o orgulho de Chang Sun.
O rei de Eliah ficou irado com Seokjin, e, ao mesmo tempo, acuado e patético. As suas entranhas ferviam ao ouvir o seu povo rir de sua desgraça enquanto o taxavam de tolo.
Só havia uma maneira de resolver isso, e, infelizmente, não era matando Seokjin. Muito pelo contrário, o poder da raposa era tudo o que ele tinha a seu favor. Pois, se de fato as lendas de Adaman estavam se concretizando, o Ômega de Prata tinha que ser morto, já que só assim Eliah teria alguma chance de vitória nesta guerra.
Portanto, Chang Sun, ao ouvir sobre a viagem à fronteira, só pôde abaixar a cabeça e seguir Seokjin ao desconhecido destino.
No quarto dia de percurso, quando a comitiva real finalmente havia chegado ao ponto que dividia Eliah de Adaman, local este marcado por um enorme lago congelado, tão grande que mais se parecia com um pequeno mar, Chang Sun requisitou impacientemente a presença da figura de nove caudas.
— Pois não, Majestade? — a voz calma e suave de Seokjin quase fazia o seu sarcasmo passar despercebido. Os olhos dourados do menino raposa encaravam o rei de Eliah através da janela da carruagem, com um brilho mortífero que sempre arrepiava as entranhas do outro.
— Já chegamos muito longe. Eu lhe dei mais um voto de confiança ao acreditar que as suas intenções em vir até aqui estão relacionadas à resolução de meus problemas. Quero que me diga claramente o que pretende, ou mandarei os meus guerreiros alfas mais fortes arrancarem cada uma de suas caudas — o rei ameaçou com palavras quase tão fracas quanto as de um blefe.
Seokjin o escutou em silêncio, suspirando pacientemente e reprimindo a sombra de um sorriso em seus lábios redondos.
— Que bom que trouxe pessoas tão fortes consigo, Chang Sun, pois irei precisar de cada uma delas na Mata Fúnebre — o jovem virou os olhos para encarar o horizonte não muito distante, no qual se podia encontrar uma floresta que se destacava das coníferas ao redor.
Para começar, as árvores daquele ponto pareciam mortas e secas, e seus galhos se retorciam entre si até formarem uma barreira contra a luz, escurecendo toda a área sob elas. A neve não chegava até aquele ponto, pois algo visivelmente sobrenatural pairava por ali, formando uma cúpula sombria e ameaçadora.
— A Mata Fúnebre!? O que pensa que está fazendo, raposa? Não mandarei os meus soldados irem até lá — o rei rugiu.
— Eles não irão sozinhos. Os seus lobinhos irão comigo e, é claro, com Vossa Grandeza — Seokjin disse, suavemente, e saiu andando pela margem da lagoa enquanto transformava o próprio corpo no de uma grande raposa dourada, cujos pelos brilhavam como ouro branco.
Mesmo sendo uma criatura magnífica aos olhos, que, naquele momento, conseguiu tirar suspiros admirados de todos os membros da comitiva de Chang Sun, um único olhar daquela raposa poderia fazê-los abaixar as suas cabeças de medo.
— Se desejas superar o exército de Adaman, eu sugiro que você não demore muito mais tempo para vir atrás de mim com os seus melhores soldados — a voz feral de Seokjin, ao contrário da humana, não era suave, mas sim rouca, grave e etérea, com risinhos perturbadores acompanhando cada fala.
Mesmo desconfiando, a ambição de Chang Sun o levou a dar os próximos passos em direção à Mata Fúnebre. A ideia de conseguir vantagens que o permitiriam vencer o exército inimigo era como um manjar para o narcisismo agregado ao seu alter-ego interior. Portanto, após um gesto de mão, Sua Majestade de Eliah e seus guerreiros alfas marcharam atrás de Seokjin.
O grupo andou até a neve sob seus pés desaparecer e dar lugar à relva seca e escurecida da floresta amaldiçoada. O Sol a pino de repente começou a ser ocultado pelo conjunto de galhos retorcidos, os quais formavam um teto natural naquela parte da vegetação; e a escuridão se agravou quando uma névoa densa envolveu o ambiente, dando a impressão de que a noite havia chegado antes do momento propício.
Chang Sun engoliu em seco quando, após mais alguns minutos de caminhada, ele avistou uma clareira circular no centro da Mata Fúnebre. De repente, o rei sentiu um solavanco em sua alma, e relembrou as terríveis histórias que explicavam o surgimento daquele lugar perturbador.
Diziam as lendas que, no passado, a Mata Fúnebre havia sido um grande campo aberto, palco de batalhas territoriais seculares entre Adaman e Eliah. Por conta disso, o solo ficou tomado pelo sangue de milhares de vidas perdidas, impedindo o crescimento de uma vegetação saudável sobre ele. Desde então, tudo que nascia naquele chão acabava tendo a própria vitalidade sugada pelos fantasmas dos guerreiros mortos.
Mesmo sendo aterradoras, tais histórias não eram o principal foco de interesse de Seokjin ao adentrar a Mata Fúnebre com a comitiva real de Eliah; mas, sim, o que jazia escondido no interior sombrio daquela floresta.
A raposa de nove caudas atravessou a clareira circular até ficar diante de um portal feito de bronze que trancava a entrada para uma caverna. Ele estava localizado no final do vão entre as árvores secas, e se via coberto por magia milenar, por musgos e por gavinhas que haviam crescido com o tempo. O portal parecia uma cela, pois era formado por grades enferrujadas, mas essa ferrugem não diminuía a impenetrabilidade sobrenatural daquela prisão.
— Consigo ouvir você e os seus soldados tremendo, Chang Sun — Seokjin murmurou depois de notar que o rei de Eliah não havia dado mais nenhum passo depois de o grupo ter chegado à clareira.
— O que há por trás dessas grades, raposa? — Chang Sun pôs a mão direita sobre o punho da espada em sua cintura, se inclinando levemente numa posição de defesa.
Mesmo sendo um beta, os instintos do rei de Eliah conseguiam captar algo perigoso dentro da caverna diante deles.
— Uma criatura que os seus inimigos temem — Seokjin sibilou em resposta.
Em seguida, ele balançou as suas nove caudas e começou a reunir poder nelas. Devido a isso, o brilho naturalmente dourado dos pelos de seu corpo se intensificou, e todo o ar que o envolvia começou a tremeluzir.
Seokjin, com as suas quatro patas, saltou contra as grades e as arrancou completamente, usando um golpe de suas caudas, as quais agiram como laços inquebráveis.
Não demorou um segundo antes de a criatura presa dentro da caverna surgir, correndo na velocidade de um raio cruzando o céu, e atacar o soldado de Eliah mais próximo, arrancando a sua cabeça em seguida.
Chang Sun a encarou terrificado enquanto ela devorava as entranhas de sua vítima, enchendo as presas retorcidas e pontiagudas com a carne humana recém-abatida, e sujando os pelos de seu corpo, escuros como carvão, com o sangue fresco.
Parecia-se com um lobo alfa, mas era maior e cheio de deformidades, com duas patas mais inchadas que as outras duas, veias implodindo acima de sua pelugem, traçando cicatrizes que cobriam metade de suas costas e face, e olhos saltando fora das órbitas normais. Era uma visão monstruosa e petrificante.
Os soldados alfas de Sua Majestade então começaram a rugir, se preparando para atacar. Porém, mesmo eles estavam completamente apavorados.
— Seokjin, o que si-significa isso!? — Chang Sun cerrou os punhos trêmulos. Ele temia fazer movimentos bruscos, pois não queria atrair a atenção da criatura assassina, que ainda se distraía com a carne de sua presa.
— Esse monstro não passa de um homem que foi amaldiçoado séculos atrás, um alfa que perdeu toda a consciência humana e que age guiado pelos instintos — a raposa riu, revirando os olhos brilhantes e balançando as caudas, aparentando animação — Ele foi preso porque estraçalhou inúmeros ômegas depois de estuprá-los. Matá-lo não era uma opção, porque a sua maldição surgia em outra pessoa, e o ciclo de assassinatos recomeçava.
— Vo-você! Seu canalha, pretende matar-nos agora com essa besta!? E os nossos planos!? Invadir Adaman, derrubar Jeon, matar o Ômega de Prata!! — Chang Sun buscou mais uma vez a espada em sua cintura, prometendo a si mesmo que, antes de ser devorado por aquele monstro, ele iria decepar a cabeça de Seokjin.
— Relaxe, Majestade... — Seokjin começou a andar ao redor da fera, caminhando devagar e suavemente, quase sedutoramente — O pobre coitado está apenas matando a própria fome, ele não irá se importar com vossa presença depois que estiver satisfeito...
— O-o que quer dizer? — o rei de Eliah apertou o punho de sua espada, numa ameaça.
Seokjin se cansou de dar satisfações ao rei beta e decidiu continuar agindo para concluir o seu plano.
— Façam fila, queridos alfas — o jovem raposa sussurrou, num encanto que domesticou completamente os soldados de Eliah.
Como se fossem abelhas seguindo sua rainha, os lupinos obedientemente se organizaram numa fila indiana, para o completo terror de Chang Sun.
Após sorrir satisfeito, Seokjin continuou a dar as estranhas ordens.
— Agora aproximem-se.
E assim os alfas fizeram, caminharam ébrios até estarem perigosamente próximos da criatura assassina.
Com isso, Seokjin lhes deu a última ordem de suas vidas.
— Sacrifiquem-se, pois eu preciso dele bem forte — a raposa mandou, quase cantarolando.
Soltando um grunhido de medo, Chang Sun viu todos os seus melhores guerreiros se entregarem para serem devorados pela criatura. E esta o fez numa rapidez assustadora, abocanhando cada um deles com violência, espalhando sangue e tripas ao seu redor.
O rei de Eliah caiu no chão, enfraquecido pelo cenário em sua frente e pelo terror que pairava em seu corpo. Ele não teria chances, havia sido um completo tolo ao se arriscar indo até aquele lugar maligno e seguindo as palavras da raposa traiçoeira.
Porém, para o quase alívio de Chang Sun, quando a fera terminou de comer, ela se manteve parada, sem atacar ninguém, como se estivesse em transe.
E, de fato, estava.
O jovem raposa murmurava palavras a ela, sussurros etéreos semelhantes a canções antigas, encantos recheados de magia sombria que estavam dominando a cabeça daquela fera bestial.
— Estou curioso para saber o que acontece quando eu te envio à caça antes do momento ideal — Seokjin dizia em melodia — Procure pelo Ômega de Prata... Faça o que quiser com ele, mas me traga a sua cabeça...
🌕🌖♛🌘🌑
Reino de Adaman
Park Jimin despertou sentindo uma brisa fresca balançar os fios de seus cabelos sobre a testa. Ele contraiu as pálpebras e depois piscou várias vezes, na tentativa de acostumar os olhos à claridade diurna. Aos poucos, enquanto a sensação enevoada de acordar se dissipava de seu corpo, o jovem começou a reparar no ambiente ao seu redor. Tratava-se de um lugar pequeno, estreito como um carro, mas aconchegante, com paredes revestidas por um tecido acolchoado, travesseiros em todos os lados e pequenas janelas de vidro cobertas por cortinas brancas.
Após um balanço, Jimin soube que estava dentro de uma carruagem, como as que ele tinha visto inúmeras vezes em filmes medievais. Mas aquela parecia ser bem mais elegante e confortável, e os bancos tinham sido substituídos por uma cama, na qual o jovem se encontrava.
Park Jimin também se deu conta de que agora vestia novas roupas, pijamas de seda na cor cinza, e a sua pele parecia limpa e cheirosa.
O meu cabelo está cheirando a rosas...? Ele pensou, depois de fungar.
Após captar o perfume, Jimin percebeu que parecia mais sensível a certas sensações, como a da superfície macia do pijama contra a sua pele e dos cheiros ao seu redor que adentravam as suas narinas. Com tantas coisas novas envolvendo os seus sentidos, a cabeça do garoto começou a latejar levemente, o que dificultou a organização de seus pensamentos embaralhados.
Enquanto Jimin massageava as têmporas com as pontas dos dedos, uma das portinhas da carruagem foi aberta, e por ela entrou a figura de Lu Keran, o curandeiro que o garoto havia conhecido anteriormente.
Lu Keran, como sempre, usava uma toga tão vermelha quanto os seus cabelos; e, no meio de tantos tons rubros, os puxados olhos azuis dele se destacavam.
— Vossa Magnificência finalmente acordou, pelos deuses! — Keran se surpreendeu ao ver Park Jimin sentado, e quase derrubou a bandeja que carregava em suas mãos.
— E-ei, por favor, não fale alto, a minha cabeça 'tá me matando... — Jimin se retraiu entre os cobertores. Todo o seu corpo parecia hipersensível e um calor estranho fervilhava em suas veias.
— Claro, perdão... Com licença — Keran murmurou e se arrastou para dentro da carruagem, colocando a bandeja entre ele e Jimin — Eu estava responsável pela sua alimentação enquanto o senhor dormia, também fiquei verificando a sua temperatura o tempo todo e trocando as suas roupas. Por isso, desculpe-me por entrar aqui sem pedir permissão.
— Ahn, obrigado... — Jimin virou os olhos para baixo e encarou o conteúdo da bandeja. Havia uma colher, duas tigelas, uma com sopa de galinha e a outra com água morna, e um pano limpo dobrado. O cheiro da sopa fez o garoto salivar.
— E-ei não precisa se desculpar er... Keran, certo? Lu Keran? Foi assim que o general Kim te chamou — o jovem Park quis ter certeza.
A menção do general de Adaman trouxe um pouco de cor às bochechas de Keran. O curandeiro respondeu que sim com um balançar de cabeça.
— Okay... Então, obrigado pela comida — Jimin disse, inclinando-se para pegar a tigela de sopa — Nossa, eu estou morrendo de fome, parece até que não como há um século! — Park não fez cerimônia antes de começar a comer o caldo de galinha. O sabor temperado foi a alegria do estômago do jovem.
— Vossa Magnificência realmente não come direito há uma semana, desde que adormeceu profundamente. Estávamos todos bastante preocupados com a sua saúde, principalmente o rei... — Keran murmurou com um suspiro.
O comentário do curandeiro fez Park Jimin paralisar.
Uma semana!? Estou dormindo há uma semana!? Os pensamentos do garoto de repente começaram a girar em sua cabeça, desembaralhando-se até desfazer os nós que ocultavam as lembranças mais recentes.
As memórias do último momento em que esteve acordado vieram à tona. Park Jimin se recordou de quando Han Untak surgiu das sombras da floresta para matar Jeon Jungkook, e de quando matou o general inimigo numa atitude desesperada para salvar o jovem rei.
— E-eu matei uma pessoa — Jimin murmurou, empalidecendo. Suas mãos começaram a tremer tanto que algumas gotas da sopa quente caíram sobre ele, queimando-o.
— Senhor! — Keran se apressou para segurar a tigela e limpar o caldo derramado com o pano que havia trazido na bandeja.
— Eu ma-matei uma pessoa, e-eu... — o jovem Park encarou as próprias mãos, seus olhos se encheram de água enquanto ele tentava recuperar o fôlego.
— Se-senhor, eu não estava presente no momento, mas soube que as suas ações salvaram a sua vida e a do rei... Te-tente pensar por esse aspecto — a voz de Keran saiu suave, na tentativa de acalmar o outro rapaz.
Mesmo que as palavras do curandeiro não amenizassem completamente a gravidade do fato de que Park Jimin havia matado um homem usando as próprias mãos, e nem os sentimentos de culpa que passaram a atormentar o interior de seu peito, o jovem sentiu um pouco de alívio ao pensar que, no fim das contas, Jeon Jungkook estava bem.
— Onde ele e-está? — Jimin murmurou — Onde o rei está...?
O semblante de Keran formou um pequeno sorriso.
— Sua Majestade está liderando a dianteira das tropas. Se quiser, posso informar a ele, neste exato momento, sobre o vosso despertar — o curandeiro sugeriu.
Jimin arregalou os olhos, se sentindo subitamente nervoso com aquela ideia.
— Na-não! Não precisa, eu... Eu nem acordei direito, 'tô deitado aqui há uma semana, não é? Preciso de pelo menos um banho decente, antes de me encontrar com ele... — Jimin disse enquanto coçava a nuca, sentindo-se sem jeito e estranhamente envergonhado — Quer dizer, não que e-eu vá fazer algo com o rei que eu precise tomar um banho! É só questão de educação, 'tá ligado?
— Er... Eu acho que compreendi, sim, senhor — as sobrancelhas de Keran se curvaram num semblante confuso, enquanto ele pensava no possível significado de "ligado".
O curandeiro ainda completou: — Ouvi que faremos uma parada daqui a pouco. Nessa hora, o senhor poderá desfrutar de um banho.
— Ah, ótimo... — os lábios de Jimin se curvaram num meio sorriso tímido e ele voltou a se concentrar na tigela de sopa. O cheiro daquela comida imperava em suas narinas agora tão sensíveis.
Depois de engolir todo o caldo, o rapaz chamou:
— ... Lu Keran,...
— Pois não?
— Como o Ju... O rei está? Eu não me lembro direito do que aconteceu depois que... — Jimin engoliu a amargura em sua garganta antes de terminar de falar — ... Depois que Han Untak morreu.
— Oh — o curandeiro recolheu a tigela vazia e a organizou sobre a bandeja que agora estava em seus braços — Ele teve apenas ferimentos leves, se é com isso que está preocupado.
Com a resposta dele, Park Jimin sentiu o seu interior ficar um pouco mais calmo.
— ... Ma-mas... — Keran acrescentou de repente, porém cerrou os lábios em seguida, e juntou as mãos como se estivesse iniciando uma oração silenciosa.
— "Mas" o quê? — Jimin contraiu o cenho, sem entender nada.
Depois de alguns segundos em transe, o curandeiro exibiu um grande sorriso repleto de gratidão para Park Jimin.
— Perdão, eu estava agradecendo aos deuses por terem lhe enviado aqui, porque lembrei-me do fato de que lenda finalmente está acontecendo, ah... — os olhos do curandeiro brilhavam — O meu mestre com certeza ficará intrigado com o senhor, Ômega de Prata, mal posso esperar para que sejam apresentados quando chegarmos à capital Adwan.
— E-espera aí! Nós estamos indo aonde!? — o jovem Park quase sentiu a própria alma fugir de seu corpo.
— Para Adwan, senhor. A capital de nosso Reino Adaman. É onde fica o palácio de Sua Majestade e onde reside o meu mestre, o alquimista real — Lu Keran respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
O ar então fugiu dos pulmões de Jimin. O garoto começou a se desesperar internamente.
Se estamos viajando para a capital, e esta viagem começou há uma semana, então... Então estou bem longe daquele bosque onde eu apareci pela primeira vez neste lugar. Droga, e agora!??
Enquanto o rapaz refletia sobre o próprio azar, Lu Keran começou a se retirar da carruagem, levando a bandeja consigo. Mas antes que o curandeiro saltasse do transporte e fechasse a portinha, Jimin ergueu uma mão e gritou para ele.
— ESPERA! Por que vocês decidiram voltar para o palácio de repente!?? O Jung... Quer dizer, o rei não tentou atrasar o retorno, ou algo do tipo?? Naquele dia, depois que assustamos os soldados de Eliah, ele prometeu que iria me levar de volta para casa... — o rapaz choramingou.
— Ah, não senhor, foi o próprio rei quem ordenou o retorno imediato a Adwan — Keran encarou Jimin com um olhar confuso.
— O-o quê...?
— Porém, não se preocupe, Vossa Magnificência, pois a sua casa em breve será o palácio — o curandeiro disse com um sorriso genuíno no rosto, como se as suas palavras fossem a solução de todos os problemas de Park Jimin.
No instante seguinte, Lu Keran saltou da carruagem e fechou a porta atrás de si, deixando o outro rapaz sozinho em seu desespero.
Jimin ficou estático durante um longo tempo, repassando as informações em sua mente de maneira infindável. Ele queria rir e chorar ao mesmo tempo, ao pensar no que havia acontecido até aquele momento, e também sentia que estava disposto a enfrentar as tropas reais de Adaman para ter um papo sério com Sua Majestade. Um papo que envolvia punhos e socos.
— Aquele projeto de príncipe encantado me enganou! Ele disse que ia me levar pra casa, aaaaaargh — Jimin esmurrou os travesseiros — Aigoo, o que eu vou fazer agora...? Não acredito... — ele sentiu amargura ao relembrar a última noite em que esteve acordado. A cena de Han Untak sangrando aos seus pés provavelmente iria atormentá-lo para sempre.
De repente a carruagem deu um solavanco e parou de se mover.
"Retornaremos à viagem quando o Sol se pôr!", um soldado gritou do lado de fora, anunciando a parada no meio do trajeto.
Com o transporte estacionando abruptamente, algumas coisas que estavam organizadas numa prateleira presa ao teto da carruagem caíram sobre a cama, ao lado do jovem Park. O garoto viu que se tratava de seus pertences: a roupa que ele vestia antes, o celular, o presente que sua irmãzinha Yeseo iria dar à melhor amiga e o bendito livro da caçula.
Os olhos do garoto então se fixaram no livro de capa dura. Depois de sentir algo apitando em seu sexto sentido, Jimin puxou o objeto para folheá-lo.
— Eu não acredito...! — o rapaz murmurou, seus olhos saltando das órbitas oculares após visualizarem as primeiras páginas do livro.
Para o assombro de Park Jimin, algumas das folhas que antes estavam completamente em branco, agora traziam em si textos escritos e desenhos, que, somados, narravam o que parecia ser o primeiro capítulo daquela história. Só o primeiro capítulo.
O jovem então começou a ler para tentar compreender aquele evento surreal. Talvez as respostas de todos os seus absurdos e misteriosos problemas estivessem ali, entre os parágrafos.
— "Era uma vez um pequeno príncipe alfa que nasceu imperfeito. Ele não foi o primeiro de sua linhagem a nascer assim, mas, por ser a segunda criança da valorosa rainha de Adaman, e a segunda chance para a obtenção de um futuro monarca apropriado, todas as expectativas estavam sobre as suas costas..." — enquanto lia, Jimin passava a mão sobre um desenho que retratava duas mulheres muito bonitas, uma de cabelos pretíssimos deitada sobre uma cama, segurando um bebê recém-nascido em seus braços, e outra em pé ao seu lado, com uma lustrosa coroa adornando os seus cabelos castanhos — "... Quando alcançou a maioridade, o pequeno príncipe alfa acompanhou a grande rainha em suas campanhas de conquista, indo no lugar de seu incapaz irmão mais velho"... Então esse livro realmente está contando a história deste lugar... E o Jungkook parece ser o protagonista — Park constatou, arqueando as sobrancelhas num semblante surpreso.
Jimin continuou a ler, consumindo as informações de cada página de maneira voraz, dando mais atenção apenas a certos momentos, como aquele onde mostrava a morte da rainha e a subida de Jungkook ao trono. Um grande quadro retratando a coroação da nova Majestade ocupava duas folhas inteiras. Jeon Jungkook estava desenhado acima de um pódio, usando trajes cerimoniais negros e prateados e carregando uma coroa de prata e rubis em sua cabeça. O novo rei se encontrava rodeado pelo que parecia ser sacerdotes e pessoas da nobreza, todos usando roupas magníficas em tons cinzentos e vermelhos. Os súditos, logo abaixo do pódio, assistiam ao evento enquanto erguiam lanternas brancas com o brasão do reino de Adaman.
Havia tantos detalhes belos naquela pintura, como a expressão solene e intensa do novo rei e a maneira como a luz era refletida em sua coroa e suas pupilas, que Jimin passou um longo tempo perdido nela.
Páginas depois, o jovem Park arfou ao ler um trecho que descrevia a aparição de um alquimista supostamente maluco.
— "As façanhas do homem desconhecido, que nem cheirava a alfa e nem a ômega, deram ao rei e ao seu general tempo o suficiente para que estes escapassem das tropas de Eliah e salvassem a vida da criança camponesa que havia ficado para trás...". Ca-ra-lho!!! Sou eu! Eu 'tô no livro, meu Deus do céu! — Jimin passou a mão nos cabelos, puxando os fios para trás, completamente desacreditado.
Ao longo de sua leitura, o rapaz viu que, na verdade, tudo o que havia acontecido com ele naquele mundo estava ali, narrado nas últimas páginas daquele primeiro capítulo. Como o momento em que todos confundiram Jimin com o Ômega de Prata, e aquele em que o garoto apareceu no desfiladeiro fingindo ser a tal entidade lendária para poder espantar as tropas de Eliah. Cada uma daquelas hilariantes situações podiam ser encontradas entre as folhas do livro.
— Hmm, até que eu fui desenhado bonitinho — Jimin murmurou, esfregando o queixo enquanto analisava uma das pinturas pequenas no canto de uma folha — Quem quer que tenha feito isso, acertou nos meus olhos. Sim, sim. Muito bom... hmmm — o garoto então balançou rapidamente a cabeça — Okay, esse NÃO é o ponto principal aqui, Jimin. Con-cen-tra-ção!
Jimin cruzou os braços, cerrou as pálpebras e pensou durante um instante, depois voltou a falar consigo mesmo.
— 'Tá legal... Estou aberto a todas as hipóteses possíveis, inclusive as mais malucas... — ele apertou a ponte do nariz e franziu o cenho — Será possível que eu entrei nesse livro depois de desmaiar enquanto ia ver a Yeseo? Não consigo pensar em outra coisa, tudo o que aconteceu comigo está escrito aqui, afinal de contas! E, se essa possibilidade for a certa, então talvez eu não tenha... Eu não tenha tirado a vida de uma pessoa real... — o garoto balbuciou.
Jimin folheou as páginas até chegar na última em que havia algo escrito. Todo o resto do livro permanecia em branco.
A expressão agoniada no rosto do rapaz então se desfez quando ele vislumbrou o último desenho daquele único capítulo. A pintura retratava os fatos narrados pelos parágrafos finais, mostrando uma cena intensa que fez o coração de Park Jimin pulsar fortemente.
Era Jeon Jungkook sob a luz noturna de uma floresta, usando as suas típicas vestes reais negras, cheias de adornos em prata e rubi. E em seus braços havia um rapaz um pouco menor do que o rei, talvez mais franzino e mais pálido, com bochechas enrubescidas e lábios rubros, com cabelos castanhos movidos pelo vento e vestes modernas que não combinavam com o ar medieval daquela história.
Jeon Jungkook contemplava o jovem em seu colo com uma intensidade quase ferina, abraçando-o como se fizessem parte um do outro, e exibia olhos vermelhos feito a lua mais sanguinária.
Jimin, depois de ter perdido o ar com a ilustração, leu os parágrafos próximos a ela:
"Após a morte do general inimigo, algo misterioso sucedeu entre o rei de Adaman e o peculiar alquimista, e foi tão magicamente forte que fez implodir, no cerne de ambos, os lobos outrora adormecidos. O Alfa veio à tona, o Ômega nasceu."
— I-isso... Isso não 'tá acontecendo, né...? Hahahahaha... — uma gargalhada desesperada começou a sair da boca do rapaz — Se-se o que acontece neste mundo passa para esse livro, então... Não, não! Eu não virei esse negócio de "ômega" não! Nem vem, já basta ser viado, agora vou ser um viado mágico? O que vem em seguida? Um chifre de unicórnio enfiado no meu cu??
Ele voltou a folhear o objeto até retornar ao início, onde jazia a introdução e detalhes sobre personagens da história. Jimin fixou o olhar numa gravura que retratava ele mesmo. Ela definitivamente não estava ali antes, senão o garoto teria notado de primeira.
O desenho estava bem feito, deixando Park Jimin com uma aparência apresentável ao delinear as suas expressões de maneira elegante e ao lhe vestir com uma roupa parecida com a de um sacerdote. Logo abaixo da ilustração, havia descrições sobre o menino, e, entre todas as que ele já sabia muito bem — como o seu vício por jogos, por histórias de fantasia e os seus conhecimentos em química — ele achou uma que o deixou ainda mais estupefato: "Ômega".
Park Jimin bagunçou os cabelos com as mãos, como se tentasse desembaraçar os seus pensamentos em conflito.
Em seguida, ele saltou para fora da carruagem, bufando como um touro.
— Eu não vou cair nessa, seu livro maldito! Não mesmo! — Jimin resmungava enquanto atravessava a relva do campo aberto que as tropas de Adaman tinham escolhido para descansar durante algumas horas — Continuo igual, nada mudou em mim! Vou sair daqui, ah se vou! Cadê aquele rei mentiroso? Ele me deve uma viagem de volta para casa!
Por estar tão concentrado em reunir em sua mente todos os xingamentos que conhecia, Park Jimin não notou que, por onde ele passava, alguns soldados alfas sentiam a sua presença e ficavam um tanto hipnotizados com o seu perfume. Perfume este que o rapaz mal tinha noção de que estava exalando.
Só depois de algum tempo, o garoto olhou para trás e se assustou com uma fileira de homens e mulheres contemplando-o com olhares abobalhados e bochechas coradas.
— O quê? O que vocês estão... Olhando...? Hmm...!! — Jimin pôs a mão em concha sobre o nariz e saltou para trás, assustado com a mistura de cheiros que agora tomava o ar ao seu redor.
Ia desde a fragrância sutil da grama sobre os seus pés até o aroma forte e cítrico que vinha daqueles alfas. Este último provocou em Jimin algo que ele nunca tinha sentido antes, era uma sensação agradável que o puxava como uma droga.
O garoto então se lembrou do que havia lido na introdução do livro de sua irmã caçula sobre os feromônios de alfas e ômegas.
— Puta. Que. Pariu. NÃAAAOO! — Jimin se ajoelhou numa dramática cena — Eu não posso ter virado um viado mágico...
— Vossa Magnificência...? — um dos alfas chamou o garoto de maneira educada.
Alertado, o jovem Park puxou um graveto do chão e apontou para os soldados que o encaravam.
— Olha aqui, vo-vocês! Podem tirar o cavalinho da chuva! Só porque e-eu tenho esses... Esses cheiros... Não significa que vocês po-podem ficar cheirando!! EU NÃO QUERO NINGUÉM ME TOCANDO, FALOU!? Essa história de cio e feromônio NÃO é comigo!! — Jimin exclamava, suando frio ao se lembrar de tudo o que havia lido sobre o tal "Universo ABO".
No mesmo instante, todas aquelas pessoas se ajoelharam, curvando suas cabeças, adquirindo expressões envergonhadas, alarmadas e culpadas em seus rostos.
— Mil perdões, Vo-Vossa Magnificência. Por favor, não pense dessa maneira sobre nós — um dos soldados se apressou para falar, ele parecia ser alguém de alto escalão, como um coronel — Não somos selvagens descontrolados, a organização das tropas existe por causa da disciplina militar. Além disso, é regra absoluta sempre nos alimentarmos com ervas para amenizar os nossos... Instintos... Porém, ficamos a-atordoados com a sua... Sua presença, senhor. Ela é muito forte...
Aquela explicação tinha, de alguma forma, feito Park Jimin se sentir extremamente envergonhado. Parecia até que alguém havia descrito o formato de suas partes íntimas em público.
Ele então deu um passo para trás, e depois outro e mais outro, se afastando de todos até finalmente se virar e correr para dentro da floresta.
— "Presença"!? Cheiro!? Nem sou perfumaria pra ficar soltando perfume!! Tenho que fugir dessa gente doida! — Jimin conversava sozinho enquanto passava por entre as árvores, saltando de raízes expostas aqui e acolá, até ter certeza de que estava bem longe de qualquer tipo de feromônio.
Quando parou de andar, ele se recostou no tronco de uma árvore alta e respirou fundo para recuperar o fôlego. A cada inspiração, as suas narinas eram preenchidas pelos odores da mata.
Bem, o meu olfato está muito sensível... Eu não posso ignorar essa mudança, Jimin pensou, soltando um longo suspiro.
— Droga, eu deveria ter trazido as minhas coisas quando saí da carruagem. Não dá pra fugir sem elas — ele murmurou, chutando uma pedra — Até o meu celular ficou lá... Eu só queria saber que dia é hoje, hmmm...
Depois de chutar mais duas pedras, Jimin arregalou os olhos e pôs as duas mãos na cabeça, puxando os cabelos em seguida.
— PERAÍ! Se eu dormi durante uma semana... Então hoje é o início do campeonato de jogo online. PORRAAAAAAAA!! — o garoto bateu a testa no tronco, choramingando — Por quanto mais tempo vou ficar aqui? Preciso voltar para o meu PC...
Park Jimin passou mais alguns minutos assim, chorando em amargura, enquanto batia a testa na árvore a ponto de afundar alguns milímetros da superfície de madeira. Até que ele sentiu uma "presença" que capturou a sua atenção quase de imediato.
Em seguida, Jimin ouviu sons de galopes, assobios e exclamações humanas. Seguindo todos os cheiros e sons, o rapaz andou alguns metros a frente até se aproximar da margem de uma pequena lagoa. Um segundo após avistar os donos do barulho, ele se escondeu detrás de arbustos e os observou.
Era um pequeno grupo de soldados de Adaman que chegavam perto da margem oposta da lagoa. Entre eles estavam o general Kim Namjoon e o jovem rei Jeon Jungkook.
O peito de Park Jimin se esquentou quando ele viu o rosto de Sua Majestade, e então esse calor se espalhou de maneira inescrupulosa pelo resto de seu corpo após se dar conta de que Jungkook usava apenas calças justas e pretas e botas escuras, deixando à mostra todo o resto de sua anatomia perfeitamente desenhada.
— Ah, estás a me dizer que ficou entristecido por eu ter capturado mais lebres do que você, Kim Namjoon? — Jungkook disse, com um sorriso provocativo, e soltou um saco no chão cheio de animais recém-caçados.
— O que me frustra, Majestade, é eu ter sido pego desprevenido desta vez. Não tive o conhecimento da melhoria de suas habilidades de alfa, por isso não usei toda a minha capacidade — o general ao seu lado falou de maneira relaxada enquanto começava a tirar os próprios sapatos.
Depois de alguns risinhos contidos, um dos soldados comentou:
— Somente o grande general Kim tem coragem de falar assim com Sua Majestade.
Jeon Jungkook, com um sorriso afiado e um olhar malandro na face, partiu para cima dos soldados e os empurrou, derrubando-os na lagoa. Os dois alfas e um beta se debateram na água cristalina até retornarem à superfície gargalhando.
— Vou mandá-los à guilhotina — o jovem rei falou de maneira séria, o que assustou os soldados de início, mas depois ele exibiu um grande sorriso divertido e fez a situação voltar ao normal.
Agora virado para Kim Namjoon, Jeon Jungkook estralou o pescoço e os dedos das mãos, e disse: — Por agora, irei me concentrar em derrubar esse lobo desrespeitoso.
Foi então que uma luta começou entre o rei e o seu general. Os dois se empurraram e trocaram golpes mais rápidos do que um piscar de olhos, e tão poderosos quanto os de lutadores num ringue de UFC. Park Jimin começou a ficar em êxtase com o que via, ele nunca tinha assistido a uma luta ao vivo, e aquela, mesmo sendo realizada informalmente e sem o intuito real de machucar, estava boa demais de se presenciar.
Depois de um deslize provocado por uma raiz escorregadia, Kim Namjoon perdeu momentaneamente o equilíbrio do corpo, instante este que foi rapidamente aproveitado por Jeon Jungkook. O jovem rei empurrou seu general e os dois caíram na lagoa, espirrando água para todos os lados. Os soldados gritaram vitórias e aplaudiram.
— Eu gostaria de ter tido tempo para tirar as minhas vestes antes de entrar na água, Majestade — disse Namjoon após emergir na superfície. Ele penteou os cabelos com os dedos da mão e começou a abrir a camisa encharcada para tirá-la, exibindo seu corpo escultural de lutador militar.
— Você também pode tirá-las dentro d'água, Kim — Jungkook balançou os ombros, cheio de sarcasmo. Park Jimin se surpreendeu por estar conhecendo aquele lado debochado e brincalhão do jovem rei.
Então ele não é só um cavalheiro emocionado, o rapaz pensou.
— Hoje está bem mais ensolarado do que os outros dias. Basta estender as roupas que elas secarão rápido — o rei falou em seguida e, assim como os demais já faziam, passou a se despir de suas vestes molhadas.
Depois de ficar completamente nu sob a água, Jeon Jungkook se aproximou da margem próxima ao local onde Park Jimin se encolhia, para poder colocar as vestes úmidas sobre uma pedra virada para o Sol. Com esse ato, o jovem rei, aos poucos, foi saindo da água, revelando muito mais do que apenas um abdômen perfeitamente definido, exibindo também um membro bem dotado entre as suas coxas musculosas.
Meu Deus, Jimin pensou assim que viu o rei ficar totalmente fora da lagoa, em sua nudez completa, revelando cada centímetro de pele.
Ele era lindo, lindo demais, e carregava músculos que somavam grande sensualidade à sua beleza.
Além disso, o perfume de Jeon Jungkook agora era arrasador. Jimin engoliu em seco e pôs as duas mãos sobre o nariz, para tentar controlar a reação de seu corpo àquele feromônio de alfa.
Mas o aroma era tão bom... Ele dava a impressão de que Jungkook, mesmo estando metros longe de Jimin, o envolvia num abraço quente e num beijo cálido. E isso provocou, no corpo do garoto, um aumento de temperatura incomum, com o sangue em suas veias fervilhando levemente.
Park Jimin não se deu conta, mas, ao reagir com a presença do rei, o seu cheiro ficou mais forte. Bem forte. E agiu como uma droga hipnótica em todos aqueles alfas que estavam ali perto.
Jimin notou que, exceto o beta, todos pararam de sorrir na mesma hora, as suas expressões adquirindo um brilho de interesse. Os alfas rapidamente viraram os seus rostos para a origem do aroma, e Jimin viu, com receio, o seu esconderijo ser descoberto.
— Você não irá se mostrar? — foi Jeon Jungkook quem perguntou, virando-se para encarar o arbusto onde Jimin se escondia. O rei também tinha aquele brilho intenso nos olhos, mas parecia um tanto diferente do dos demais. Talvez um pouco mais reluzente.
Park Jimin, sentindo-se constrangido por ter sido pego espionando, ergueu-se do arbusto, cabisbaixo, e coçou a nuca com uma mão.
— Sor Park Jimin!? — Kim Namjoon contraiu o cenho após vê-lo, estranhando o fato de o garoto ter apresentado feromônios pela primeira vez desde que o conhecera. Os soldados se entreolharam, também atordoados com a presença do rapaz.
O único que não parecia surpreso naquele grupo era Jeon Jungkook, e ele encarava Jimin em silêncio, com uma expressão misteriosa na face.
— Eu estava passando, aí vi vocês. Não quis e-espionar, juro! Só fiquei assustado com... — Com as suas presenças, Jimin estava com vergonha demais para completar a sua explicação — Eu vou embora a-agora.
— Espere — Jeon pediu, erguendo a mão como se, assim, fosse alcançar o outro rapaz.
No entanto, ele de fato o alcançou. Não com um toque, mas, sim, com a sua presença de alfa, que parecia ter ficado mais forte desde o momento em que sentiu Park Jimin. Este último acabou paralisado antes mesmo de se virar para sair daquele lado da floresta.
Em seguida, o jovem rei se voltou para os seus súditos guerreiros e, com um olhar incomumente estreito, deu-lhes uma ordem.
— Deixem-nos a sós.
Kim Namjoon arqueou as sobrancelhas, surpreso com a sensação nova e deveras intimidante que Jeon Jungkook estava lhe causando naquele momento. Com um olhar, o general de Adaman concluiu que os demais soldados alfas também pareciam estar sentindo o mesmo, pois suas expressões se viam receosas e tensas. Era como se Sua Majestade estivesse enciumado, e, por isso, ele marcava aquele território com o próprio cheiro, querendo que outros alfas se afastassem do ômega em sua frente.
Em respeito a isso e à autoridade real, o general Kim guiou os soldados para fora da lagoa, levando consigo as suas roupas e as caças que tinham obtido momentos antes, deixando a dupla alfa e ômega sozinha naquele ponto da floresta. Enquanto eles se retiravam, Jeon Jungkook se apressou para recolocar as calças, mantendo os olhos longe dos de Jimin durante todo o processo.
Depois de algum tempo em silêncio, escutando apenas as libélulas voando próximo à superfície da água, e o barulho do vento tocando as copas das árvores, Park Jimin e Jeon Jungkook finalmente conseguiram trocar as primeiras palavras. De alguma maneira, tudo entre eles agora parecia bastante constrangedor.
— Er... Então... — Jimin desviou o olhar para a lagoa, depois para os peixes que nadavam nela e então para um tronco caído na margem do olho d'água.
Como estava sentindo as pernas levemente bambas — e ele jurava que isso se devia ao fato de ter acordado há poucos minutos —, Jimin se arrastou até o tronco, sentando-se nele, e afundou os pés na água cristalina.
O jovem rei, após um segundo de hesitação, decidiu se sentar perto do tronco, sobre a grama molhada que cobria a margem da lagoa, para ficar um pouco próximo do local onde o outro rapaz estava.
— Você está se sentindo bem? — Jungkook perguntou num tom de voz baixo e contido — Esteve adormecido durante vários dias. Eu fiquei... Preocupado.
Ele ficou? Park sentiu o coração dar um leve salto.
— A-ah, pois é, eu dormi mesmo — Jimin também se sentia intrigado com aquilo — Isso nunca aconteceu comigo, é estranho... Mas estou bem, sim.
O semblante de Jeon pareceu mais relaxado depois da resposta do outro jovem.
— Lu Keran esteve cuidando de você enquanto isso.
— É, eu fiquei sabendo. Quando acordei, ele me trouxe comida — Jimin lambeu os lábios se lembrando da sopa que o curandeiro havia trazido.
— Que bom... Eu pedi a ele que fizesse essas coisas, pois imaginei que você se sentiria mais confortável ao lado de um outro ômega...
O rosto de Park Jimin caiu quando ele escutou a palavra "ômega" saindo da boca de Sua Majestade.
— Por favor, não diga isso, senão eu vou surtar de novo — o garoto passou as mãos no rosto.
— Eu acho que não compreendi... — Jungkook carregava um semblante confuso.
— Não diga que eu sou um ômega, pelo amor de Deus. Eu não sou isso aí. Me deixa no meu canto — Jimin se encolheu sobre o tronco e virou o rosto para longe de Jungkook.
— Ma-mas... Não estás sentindo? Sentindo a mim e a si mesmo? — o rei se ergueu do chão, aturdido — Não vê que mudou?
— Mudou o quê? Por acaso nasceu chifres em mim e agora virei o seu Ômega de Prata? Haha, muito engraçado! — Jimin cruzou os braços, emburrado.
Depois de escutar o profundo silêncio do jovem rei, o garoto sentiu um ímpeto de desespero aflorar em sua garganta.
— E-ei! Não me diga que... — ele se inclinou para encarar o próprio reflexo na água, temendo se deparar com a imagem de dois chifres de cervo acima da cabeça.
Para o seu absoluto alívio, tudo continuava igual a antes. Sem chifres, sem cabelos prateados. Apenas o Park Jimin de sempre.
— Aigoo, isso me assustou... — disse o rapaz, com uma mão sobre o peito. Em seguida, ele se virou estupefato para encarar Jeon Jungkook — Olha aqui, Majestade! Beleza que eu 'tô sentindo uns cheiros esquisitos, mas isso não muda o meu plano original, okay? Aliás, foi exatamente por causa disso que eu vim atrás de você!
Jimin se ergueu do tronco e começou a se aproximar de Jungkook, pisando forte na grama molhada e apontando um dedo para o jovem rei. Este último o encarava com um olhar misterioso.
— Naquele dia, você prometeu que me levaria até onde eu poderia tentar voltar para casa. Mas agora, nem sequer esperou eu acordar, antes de decidir voltar para o seu palácio! — Park cutucou o centro do peito de Jungkook enquanto esbravejava.
Foi então que o rei segurou aquela mão atrevida e começou a abrir os dedos dela, acariciando a palma tensa até relaxá-la. Essa atitude fez os pelos do corpo de Jimin se arrepiarem.
— Esqueceu-se do que houve naquela noite? — Jeon perguntou num murmúrio baixo, com seu tom de voz carregando certa tristeza. Ele não deu indícios de que soltaria a mão de Jimin.
Com a pergunta, o jovem Park repassou as lembranças dos últimos momentos que vivenciou antes de apagar durante uma semana inteira, e somou cada memória com o que havia lido no livro de sua irmã caçula.
O sangue voltou a cobrir a sua face, enrubescendo-a, quando o desenho em que ele se encontrava desacordado entre os braços de Jeon Jungkook veio à tona. Aquele momento parecia tão íntimo e intenso que somente a recordação conseguiu terminar de desestabilizar as pulsações do coração de Jimin. Os feromônios de Jungkook tinham feito o resto.
— O que está fazendo...? — Park comprimiu os lábios, tentando manter a calma e a razão.
— Por favor, responda-me — o olhar de Jeon era tão profundo e cheio de expectativas que Jimin precisou desviar o campo de visão para não ceder aos sentimentos estranhos que começavam a nublar a sua mente.
— Eu me lembro de tudo o que aconteceu. Inclusive, me lembro do que houve com o general de Eliah — Park engoliu em seco, abaixando a cabeça.
— Você me salvou.
— E também matei alguém. Eu... — Jimin mordeu o lábio inferior — Eu não me arrependo de ter agido pra te ajudar, mas, sinceramente, aquilo foi um pesadelo... Pra falar a verdade, quando você me perguntou mais cedo se eu estava bem, eu menti. Não estou, não me sinto bem, o que eu fiz é imperdoável, é tudo muito estranho, este lugar é estranho, e isso... Essas coisas que estou sentindo são estranhas. Quero ir para casa. Então, por favor, cumpra a sua promessa e me deixe tentar voltar.
— Jimin... — o semblante de Jungkook parecia ainda mais triste — Eu não posso.
Angustiado, Jimin puxou a mão de volta e deu um passo para trás.
— Por quê? — ele cerrou os dentes — Pra onde foi toda aquela história de que você estava extremamente grato pelo que fiz? Não vai me dizer que mudou de ideia depois que eu... Que eu me tornei isto!?
— Sim, os motivos estão relacionados — uma sombra pairava sobre a face do jovem rei.
Jimin o encarou e riu incrédulo.
— Ha! Por acaso você está pensando que o fato de agora eu ser um "ômega" muda alguma coisa!? Jungkook, eu não sou daqui e não faço parte de nenhuma profecia que te envolve! O meu corpo só deve ter mudado para, sei lá, obedecer às leis biológicas deste mundo...
— Park Jimin — Jungkook interveio a fala do outro com a voz mais grave, como se estivesse contendo um sentimento frustrante em sua garganta.
— O-o quê? — a voz de Jimin vacilou.
— Estás a fugir deste assunto de propósito, vem procurando por soluções que o afastam de mim e de tudo isso que nos envolve desde a primeira vez em que trocamos palavras...
— E o que espera que eu faça?? Que eu sorria e aceite tudo isso com a maior naturalidade? Este mundo nem deveria ser real... Eu não faço ideia de como vim parar aqui e nem sei o porquê. É frustrante! Não tem sentido ou lógica para mim...
— Você me despertou! — Jeon Jungkook exclamou, franzindo o cenho. A altura de sua fala assustou Jimin, pegando-o de surpresa. Ao notar isso, o jovem rei suspirou fundo, fechando os olhos, e tomou a palavra novamente, desta vez num tom de voz baixo — Não compreende o que isso significa? Naquela noite, quando você me salvou, tudo mudou. Você e eu mudamos. Qualquer tolo pode reparar nisso, por ser tão óbvio! Eu não sei se tais mudanças têm relação com alguma lenda ou profecia, Park Jimin. A priori, os pensamentos que mais me afetam são aqueles sobre você, e somente você!
— An...? — Jimin estava pronto para recuar outro passo, quando as mãos de Jungkook seguraram os seus ombros. Com essa proximidade, os feromônios de ambos se conjugaram num só aroma inebriante e cálido, o qual os levou ao estupor.
— Passei todos esses dias monitorando as minhas próprias ações inconscientes, porque, sempre que a minha mente se distraía, eu me arrastava até a carruagem onde você dormia, apenas para ficar lhe contemplado em seu sono — um rubor marcou as bochechas de Jungkook, expondo o seu constrangimento em revelar isso — Naquela noite, quando você salvou a minha vida, eu reagi de uma maneira inexplicável, Park Jimin. Assim que os meus soldados se aproximaram de nós, eu tentei atacá-los. Tentei atacar, inclusive, Kim Namjoon, o homem em quem mais confio! Tudo porque o meu corpo reconheceu o seu, e desejou protegê-lo de qualquer um que chegasse perto!
O jovem rei arfou, como se falar tais coisas estivesse lhe consumindo muito.
Ao observar a face de Sua Majestade, Jimin captou a completa vergonha, e também determinação, brilhando nos olhos dele; e se sentiu abalado por isso e por suas palavras.
— Onde vo-você quer chegar...? — Park inquiriu, balbuciando. Ele temia a resposta do rei, mas, ao mesmo tempo, queria ouví-la.
— Estou dizendo que... Que, muito provavelmente, estou ligado a você — a voz de Jungkook não falhou, mas os sentimentos em seu peito eram tão fortes que ela esteve a um passo de fazê-lo.
Ah, não, Jimin pensou assim que ouviu a resposta do outro. Ele fechou os olhos, balançou a cabeça e conteve um sorriso de desespero.
— Você 'tá falando daquela coisa... De "vínculo", é? — o rapaz tirou as mãos de Jungkook de seus ombros e se virou de costas para ele.
"Vínculos são raros e podem existir apenas entre ômegas e alfas. Ocorrem quando parceiros se identificam como predestinados ao se ligarem emocionalmente e de maneira profunda. Desse momento em diante, as duas almas trabalharão como uma só, o que uma sente, a outra também sentirá. Por fim, Vínculos costumam ser "registrados" instintivamente através da mordida do alfa no pescoço do ômega. A marca dessa mordida jamais sumirá, e isso é uma das provas da existência do vínculo", essa explicação estava escrita na introdução do livro de Yeseo. Park Jimin agora processava cada palavra dela enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro, esfregando os olhos com os dedos.
— Isso é um livro, é uma história, ou pode até ser o sonho mais doido da minha vida. Não importa, no fim não é real, eu não posso estar "predestinado" a alguém, isso... isso... — Jimin murmurava para si mesmo, em estado de negação.
Infelizmente, os bons ouvidos de Jeon Jungkook conseguiram captar a última frase dita pelo outro garoto, e isso o entristeceu novamente.
— Como pode desprezar tudo o que eu falei até agora? Acredita que o que eu sinto não é real?
— Na-não é isso! Pode até ser real, mas... Aaaaargh! É arriscado — Jimin bagunçou os cabelos em agonia.
— O que seria arriscado?
Park Jimin ignorou a pergunta de Jungkook e voltou a se concentrar nos próprios pensamentos perturbados.
Isso é ruim... É bem ruim... Eu preciso sair daqui antes que as coisas ganhem proporções problemáticas. Mas como!? Não dá pra eu tentar cair de novo naquela floresta onde apareci neste mundo pela primeira vez, estou muito longe dela... Pensa, Jimin, o que os personagens de livros fariam...?
Depois de um segundo refletindo, o garoto encarou o lago em sua frente e estreitou os olhos.
— Personagens saem dos livros quando eles... Morrem — Jimin sussurrou com um sorriso insano em sua face. Ele chegou a essa conclusão porque a sua mente já tinha ido pelos ares.
O jovem Park então começou a entrar na lagoa, cortando a água até alcançar a metade do olho d'água.
— O que pretende fazer!? — Jungkook exclamou ainda do lado de fora, contraindo o cenho ao ter um mau pressentimento sobre a atitude repentina do outro rapaz.
— Hasta la vista. Eu vou pra casa! — assim que gritou isso, Park Jimin mergulhou e se permitiu boiar na água, com o rosto para baixo, até não aguentar mais. Ele pensava que talvez assim seria puxado para fora do livro.
Nos primeiros segundos, Jimin se divertiu vendo um peixinho nadando ao redor de sua cabeça. Ele era laranja e da raça Betta — detalhe este que o jovem achou super irônico —, e parecia gostar bastante das bochechas do rapaz. Quando já estava criando um nome para o pequeno nadador, Jimin teve o colarinho de sua blusa agarrado e puxado para trás, num súbito solavanco.
Por causa do susto, Park se engasgou com um pouco de água e começou a se debater até enlaçar os braços na figura de Jungkook. O rei de Adaman o ergueu acima da água, sem o cavalheirismo de sempre, e o obrigou a olhar em seus olhos.
— Estás louco!? O que tentou fazer!? — a voz de Jungkook quase tremia.
— COF! COF!... Eu tentei voltar para o me-meu mundo! — Jimin disse entre tosses. A água que entrou em suas narinas parecia queimar os seus pulmões.
— Cometendo suicídio!? O que há com você?? — Jungkook questionou, amargurado. Seu olhar já havia perdido todo o brilho de antes — Prefere a morte à ideia de estar vinculado a mim, Park Jimin?
— Na-não é isso... COF! GASP! — Jimin ainda tentava recuperar a respiração — Tá bem, o que eu fiz foi loucura. Eu fiquei maluco mesmo...
Jeon Jungkook o observou em silêncio, com um semblante desapontado e triste. Depois de um balançar de cabeça deprimido, o jovem rei passou a mão nos cabelos bagunçados e molhados, e soltou Park Jimin para se virar e ir embora.
Mas o outro rapaz impediu que ele se afastasse ao segurar o seu braço com as duas mãos trêmulas.
— Jungkook... Isso apenas não faz sentido pra mim... Veja bem, nós nos conhecemos, eu te ajudei um pouco e então criamos uma amizade legal. Não estamos apaixonados! Então essa história de estarmos ligados não tem lógica na minha cabeça. Você ao menos sabe como é que essa coisa de se vincular? — Jimin apertou as têmporas com os dedos — Há poucos dias você mesmo me disse que nem sabia como identificar um ômega porque não conseguia sentir os feromônios. De repente eu me transformei nisso e você "despertou". E aí? Eu só estava lá, na hora errada e no momento errado. Fui o primeiro ômega que apareceu na sua frente, isso deve ter te marcado, só isso...
— Como pode fazer essas conclusões com tanta certeza? — a escuridão na face de Jungkook parecia mais profunda — Para mim está óbvio um fato, Park Jimin: Você é tão leigo sobre o meu mundo quanto eu sou acerca de meu futuro. Suas deduções me parecem desculpas e recusas.
— Desculpas para o que, Majestade? — Jimin comprimiu os lábios.
— Para evitar aceitar a verdade. Olhe nos meus olhos e diga-me, com todas as letras, que sabe o que veio fazer aqui, que sabe como surgiu praticamente em minha frente naquela noite de Lua de Sangue, e que tudo isso, desde o nosso encontro até as nossas transformações, pode ser apenas uma mera coincidência! Você não ama lógica e raciocínios? Então fale!
Park Jimin arregalou os olhos e perdeu a fala durante um longo instante.
Nesse meio tempo, o jovem rei relaxou os ombros, suspirou fundo e voltou a ficar de frente para o outro rapaz. Em seguida, num ato repentino, ele o abraçou fortemente, mas sem machucá-lo, criando um tipo de barreira que impedia qualquer frio e desconforto de alcançar a pele encharcada de Park Jimin.
Park tremeu sob o abraço de Jeon, não por medo, mas porque era assustadoramente bom. Os feromônios do outro lhe cobriam como uma manta protetiva, e o corpo de Sua Majestade lhe entregava uma calmaria e um sentimento de segurança jamais sentidos pelo garoto.
Ele quase cedeu ali mesmo.
— Você realmente acredita que eu sou o ser da profecia...? — Jimin engoliu em seco — O Ômega de Prata?
— Não sei, às vezes espero que sim, mas isso não é realmente importante para mim, para o que eu quero de verdade — a voz baixa de Jungkook parecia acariciar os tímpanos de Jimin.
Após piscar os olhos, o garoto Park, sentindo-se um pouco angustiado, decidiu expôr os próprios pensamentos.
— Mais cedo eu disse que era arriscado para mim porque há a chance de eu não ser ele. E essa chance é muito grande — Porque, no livro da Yeseo, eu sou só o "Alquimista maluco", e não um candidato a "Ômega de Prata". Tenho até mesmo uma página com as minhas descrições, e ela é bem distante da página do ser da profecia, o rapaz completou em pensamentos.
Ele queria poder dizer essas coisas, explanar a história do livro para Jeon Jungkook, mas tudo poderia piorar e ficar mais confuso. Além disso, Jimin não sabia se havia algum efeito colateral caso fizesse isso, portanto, ele preferiu ocultar esse detalhe da explicação.
— Então, um dia, quando ele aparecer, e eu sei que ele vai aparecer... — Porque você é o protagonista do livro, portanto, como o seu parceiro predestinado, é claro que o Ômega de Prata vai dar as caras a qualquer instante — ... Eu não terei chances e serei esquecido por você.
O aperto do abraço de Jungkook se intensificou.
— E novamente você está fazendo suposições como se fosse o dono do futuro — Jeon se desgrudou um pouco de Jimin para olhá-lo nos olhos — Como pode concluir que serei um canalha a ponto de esquecê-lo?
Os lábios de Park formaram um sorriso fraco. Com uma mão, ele tirou uma mecha de cabelo grudada com água no centro da testa do jovem rei. Um gesto gentil que fez Jungkook corar levemente.
— Não estou dizendo que isso vai acontecer por culpa sua — É só assim que funcionam os romances. Personagens secundários não têm muito direito no amor... O garoto pensou, e completou em seguida, balançando os ombros — Bem, são possibilidades... Sempre que eu decido fazer algo, eu penso em todas elas e calculo se vale a pena o custo. Como ainda não temos sentimentos profundos nos envolvendo, é melhor pararmos...
Jimin então afastou Jungkook educadamente. O outro jovem estava com o semblante perplexo.
— E tudo aquilo que eu lhe expus sobre os nossos corpos reagirem um ao outro? Simplesmente despreza as minhas palavras?
— É só um evento químico, Jeon, eu já estudei sobre... Existem muitas espécies que se reproduzem assim, mas isso não quer dizer que os animais formam casais eternos depois da ocasião — Jimin disse, entoando como um verdadeiro estudante de ciências exatas.
Se antes Jeon Jungkook achava aquele jeito do garoto fofo e curioso, agora ele só conseguia sentir raiva e frustração.
Após se virar para não continuar encarando Jimin, o rei de Adaman, com os punhos fechados sob a água, questionou entredentes.
— Como pretende voltar para a sua casa?
— Ainda estou esperando pelo cumprimento da promessa que você me fez...
Longe do campo de visão de Jimin, Jeon Jungkook estreitou os olhos.
— Muito bem, se desejas ir embora, então providenciarei isso... Contudo, há algo que precisa saber — a voz do rei adquiriu um tom tenso — Logo após o seu desmaio, há uma semana, eu recebi um corvo com notícias da capital Adwan. A minha mãe enviou-me uma mensagem avisando sobre o meu irmão estar de cama. Ele... — Jungkook hesitou — Enfim, tenho razões para voltar a Adwan com urgência. Estamos a apenas um dia da capital, então espero que compreenda e me ofereça a sua paciência. Quando chegarmos lá, eu resolverei este assunto adequadamente.
— A-ah, sim... Eu... Sinto muito... E obrigado — Park Jimin não sabia para onde olhar. Aquela notícia com certeza era séria e, devido a forma como Jungkook parecia desolado, Jimin se sentiu um tanto miserável por ter reclamado e xingado sobre o retorno ao palácio.
Sem ao menos um aceno de despedida, Jeon Jungkook saiu da lagoa e adentrou a floresta para retornar ao local onde as suas tropas se encontravam estacionadas.
Assim que ficou sozinho, tendo todo olho d'água para si, Park Jimin se viu agraciado pelo silêncio da floresta e pelo aroma suave das plantas ao seu redor.
Ele se arrastou até a margem e se sentou nela, com os pés ainda mergulhados na lagoa cristalina. Depois, Jimin sentiu cócegas quando aquele peixinho Betta de antes reapareceu e começou a brincar com os dedos do rapaz.
— Obrigado por me fazer companhia. Infelizmente tenho que concordar com aquele rei encantado sobre o meu corpo reagir ao dele... Depois que ele foi embora, eu comecei a me sentir um pouco solitário...
~♛🌕🌖♛🌘🌑♛~
Não me abandona antes de me deixar um ⭐VOTO⭐ Y-Y
#LoboDePrata
Se o Jimin fizer mais cu doce, ele fica com diabetes sksksksks... Mas o garoto tem motivos para estar em negação constante. Porém, aos poucos, isso irá se modificar, é claro hehehe.
Já conseguimos ver uma "química" entre os Jikooks, e ela ficará cada vez mais forte à medida em que os sentimentos entre eles também se aprofundarem. Prometo que no próximo capítulo os desentendimentos de hoje começarão a ser resolvidos . Novos personagens também aparecerão, porque, afinal, Jimin e Jungkook estão indo para a capital Adwan. Pode haver dedo no cu e gritaria por conta disso? Com toda certeza, meus amigos.
E uma última coisa antes da despedida: Não se esqueçam dos acontecimentos do início do capítulo, porque eles serão beeem importantes no próximo (de um jeito bom e de um jeito ruim).
Por hoje é isto, muito obrigada pela sua leitura!! Não vou demorar tanto quanto desta vez, pois as minhas provas estão quase no fim.
Até logo, beijões💜
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