|34|♛|História Sem Fim|
AAAAAAAAAA CHEGAMOS AO ÚLTIMO CAPÍTULO
Gays chifrudos, cá estamos no cap 34, o finaaaal. Ele é grandinho, tem umas 15k palavras, então esta não vai ser uma despedida tão rápida. O que prometo para hoje é risos, alguns momentos de emoção e de dorzinha (bem pequenininha, tá?). Nunca escondi que Era uma Vez um Ômega teria final feliz, então podem ter certeza de que é algo assim que irão encontrar nos próximos parágrafos.
Vou guardar minhas palavras de adeus e de agradecimento para o capítulo "Agradecimentos", que vem depois do Epílogo (não se esqueçam de ler o epílogo, descobri que tem gente que acha que essa parte não conta na história KKKKK), mas já vou deixar aqui que sou muito grata por tudo o que vocês fizeram, pelo apoio e pelo carinho para com a minha história. Obrigada também à minha leitora beta mvixey e à AnnaD-2 que me ajudaram a conseguir confiança para postar esses últimos capítulos!
Não se esqueçam de deixar seus ⭐VOTOS⭐ e, por favor, comentem ao máximo, pois estou LOUCA para saber suas reações neste final❤️️
Peguem alguns lencinhos e Boa Leitura!
#LoboDePrata
♛|História Sem Fim|♛
Os dois permaneceram na praia por mais algum tempo, sentados lado a lado na areia e virados em direção ao oceano calmo.
As notícias sobre a tomada de Hayang vieram pelas vozes dos pássaros e foram captadas por Jimin. Após isso, desenrolou-se entre o casal uma breve conversa sobre o fim que o feiticeiro raposa havia recebido depois de invadir o acampamento das crianças. O ômega se limitou a contar que Seokjin havia morrido e que nunca mais iria aparecer naquele lugar.
Quando concluíram que tudo estava acabado, voltaram a encarar o horizonte em silêncio, respirando fundo a brisa fresca proporcionada pelo término da tempestade. De toda a tempestade.
Jimin escutou um suspiro pesado sendo exalado por Jungkook e o observou de soslaio. Analisou os olhos negros do marido, tão escuros que refletiam perfeitamente a cor púpura do pôr do sol, quase deixando passar despercebido o véu de tristeza que havia neles.
Sabia que, dentro da mente dele, não só pairava uma profusão de sentimentos melancólicos, como também a dúvida sobre ter tomado a decisão certa em relação ao destino do irmão. Não que Jungkook realmente quisesse ser mais rigoroso, mas é que havia aquela pesada e interminável bagagem de sangue Jeon derramado pulsando em suas costas, exigindo justiça e uma atitude verdadeiramente filial de sua parte.
Com isso em mente, Jimin encostou a lateral da cabeça no ombro do marido e murmurou:
ㅡ Você não se esqueceu deles.
ㅡ Hm? ㅡ Os olhos do alfa se viraram em sua direção.
ㅡ Quando decidiu deixar o seu irmão vivo, não foi porque se esqueceu do resto da sua família. Não pense assim.
Jungkook piscou, compreendendo o que Jimin queria dizer com aquilo. Um pequeno sorriso se fez em seus lábios, mas Jimin notou que não havia alegria nesse gesto.
ㅡ É serio... ㅡ insistiu o ômega, empurrando-o levemente. ㅡ Você não é uma pessoa cruel. Você é gentil, solidário e compreensivo. É uma pessoa justa.
Outro suspiro atravessou a boca do alfa.
ㅡ Toma-me como justo, mas não tenho certeza se proferi justiça de fato ao povo de Rangkee e a todos os outros.
Jimin encheu as bochechas de ar e contraiu o cenho enquanto media suas próximas palavras.
ㅡ O que eu acho é que... nem sempre os vilões das nossas histórias precisam receber o pior destino possível para conseguirem pagar pelo que fizeram, ou para saírem do lado sombrio da força, saca?
ㅡ Lado sombrio da força?
ㅡ É. Um lance de yin-yang. Lado de luz e lado de sombras. Todo mundo tem um pouco dos dois, mas, às vezes, somos corrompidos pelo lado sombrio e blah blah blah...
Jungkook balançou a cabeça e, aos poucos, seu sorriso cresceu até se abrir numa alta e gostosa gargalhada que jogou sua cabeça para trás.
ㅡ Suas palavras de conforto são tão incompreensíveis e absurdamente cômicas...
ㅡ E-ei, 'tô tentando ser sério aqui, ôh! ㅡ Jimin desferiu um peteleco na testa do alfa. Com isso, ele controlou a risada e deitou o corpo em seu colo.
Os dois voltaram a olhar para o Sol no horizonte, que já sumia por trás do oceano azul. Com uma mão acariciando os cabelos negros do marido, o ômega continuou a falar:
ㅡ O que eu quis dizer antes é que nem sempre "olho por olho" vai resolver a situação e deixar a gente em paz de verdade. Este lugar... Adaman... ㅡ Ele inclinou a cabeça para cima e fechou os olhos. Seus lábios carnudos se curvaram num sorriso. ㅡ Este mundo deveria ser reerguido com coisas boas.
Jungkook o observou atentamente, totalmente envolvido pelo semblante dele. Um instante depois, foi pego em sua contemplação. Jimin arqueou uma sobrancelha em sua direção e, de um jeito faceiro, abaixou o rosto para sussurrar:
ㅡ Eu sei que você pensa como eu. Pensa até com mais gentileza do que eu, tanto é que escolheu aquela condenação para o Yoongi. Nem precisava escutar essas palavras que eu disse agora.
ㅡ Eu aprecio ouvi-lo dizê-las ㅡ respondeu para o ômega, inclinando a cabeça e erguendo a mão para acariciá-lo na bochecha. ㅡ É como se pegasse toda a confusão de minha mente e a organizasse, dando algum sentido aos meus sentimentos e pensamentos.
Fixou os olhos escuros nas órbitas rubras de Jimin e se deixou viajar nelas. Ainda que momentos antes, depois da partida de Min Yoongi, o ômega tivesse curado seus ferimentos, Jungkook seguia um tanto cansado pela luta, então se perdeu no conforto do colo dele e no perfume doce e calmante que ele exalava inconscientemente.
Ficou assim vários minutos, navegando em profunda quietude. Com um sorriso preguiçoso, beijou os lábios do marido e segurou o rosto dele, acariciando-o para sentir a maciez de sua pele alva.
ㅡ Acho que está na hora de reencontrarmos nossos aliados e súditos. Eles estão esperando por nós ㅡ murmurou. ㅡ Nossos filhos também.
Jimin concordou com um balançar de cabeça e um grande sorriso, e se ajeitou para erguer-se do chão. Jungkook o acompanhou nisso e, com a ajuda dele, ficou em pé.
O vento da praia de repente se tornou um inimigo irritante. Com o corpo encharcado, o alfa recorreu à agradável barreira que era a camisa dada mais cedo pelo marido. Para a sua felicidade, o cheiro e o calor dele ainda estavam no tecido.
No entanto, logo se deu conta de que agora Jimin andava sem suas roupas superiores, expondo o peito, a barriga e os braços. Qualquer um podia ver as articulações e os mamilos rosados, a marca do vínculo próxima ao pescoço e a pequena e peculiar tatuagem de lobo que havia no final de suas costas pálidas. Se o ômega aparecesse em Hayang daquele jeito, todos os alfas do lugar ficariam loucos.
O lobo no âmago de Jungkook se revirou e grunhiu.
ㅡ Pegue, eu não preciso mais ㅡ disse, devolvendo a camisa.
Jimin cruzou os braços.
ㅡ Você precisa se cobrir com alguma coisa. O inverno ainda não acabou totalmente.
ㅡ Nós dois estamos encharcados pela chuva. Seu corpo é mais franzino que o meu, portanto, você é quem mais precisa desta vestimenta. ㅡ Antes de ouvir mais recusas, o alfa jogou a camisa sobre ele e começou a vestí-lo como se fosse uma criança.
ㅡ Jungkook, eu não estou com frio.
Jungkook pigarreou, controlou um estremecimento e disse:
ㅡ Impossível, sinta esse vento.
O ômega conteve uma risada.
ㅡ Eu não queria apelar, mas tenho que te lembrar de que sou um deus da natureza. Esse ventinho não é nada pra mim.
ㅡ Shh... ㅡ Beijou os lábios de Jimin para silenciá-lo e passou a abotoar a camisa no corpo dele. ㅡ Pronto, o vento não irá tocá-lo outra vez.
ㅡ Aigoo. Acabamos de ganhar uma guerra e você 'tá aí, com ciúmes.
A face do alfa enrubesceu levemente. Quando terminou com o último botão, ele apertou a bochecha de Jimin e segurou sua mão direita.
Os dois trocaram sorrisos confidentes e cheios de carinho. Antes de iniciarem a travessia pela praia em direção à cidadela Hayang, encararam mais uma vez o horizonte. Tudo fora tingido de vermelho e púrpura, as nuvens eram pinceladas fofas e rosadas, pois o Sol já se despedia.
ㅡ Os olhos do Yeonjun têm a cor desse céu ㅡ murmurou Jimin depois de um instante.
Jungkook notou uma leve ansiedade nele. Talvez fosse por conta das horas que passou separado do bebê.
ㅡ Ele os herdou de você ㅡ disse, reconfortante. Com dois dedos no queixo do ômega, virou o rosto dele e o encarou no fundo dos olhos. ㅡ O próprio pôr do sol de Adaman.
Agora era Jimin quem enrubescia.
ㅡ Vamos trazer as crianças aqui amanhã, neste mesmo horário. Acho que o Binbin vai gostar de ver isso. ㅡ Ele apontou para o horizonte.
ㅡ Conversar assim com você me traz a sensação de que não teremos ocupações pelos próximos dias. Há tanto o que fazer... Mas viremos, com certeza.
Em resposta, o ômega sorriu, animado.
Os dois se viraram e começaram a caminhar de mãos dadas para retornar a Hayang. Jimin não disse, mas Jungkook percebeu que ele havia modificado levemente o percurso do vento oceânico para que não o alcançasse. Portanto, quando chegaram na cidadela, a noite já se iniciava, mas o frio noturno parecia distante deles. Havia apenas o calor dos dois e da multidão que os aguardava ansiosamente.
🌕🌖♛🌘🌑
Logo após o retorno do casal de reis, os remanescentes dos soldados enfeitiçados do homem raposa e as ramificações traidoras do clã Choi foram levados às masmorras para aguardarem por seus devidos destinos que seriam decididos nos próximos dias, durante julgamentos públicos. Com Hayang reorganizada pela presença dos novos monarcas e suas tropas de soldados, Choi Yoojung restaurou seu domínio como Matriarca dos Lobos do Mar, impedindo assim que o clã terminasse em desgraça por causa das ações do avô.
Depois de tudo isso, uma festa na cidadela eclodiu e durou a noite inteira.
Estandartes coloridos representando todos os clãs presentes foram erguidos, fogueiras foram acesas e barris de bebida foram retirados dos fundos das tavernas para serem distribuídos.
Park Jimin percebeu que a maneira como os cidadãos de Hayang festejavam era mais contida e cheia de etiquetas se comparados ao povo dos Templos de Areia ㅡ seu último local de estadia ㅡ, com tradicionais rodas de dança e performances eloquentes de cantores da região; mas ela ainda carregava alegria genuína e envolvente.
Balançando-se com Yeonjun no braço, o garoto assistiu a Soobin dançando ao lado de Jina e de crianças do clã Choi. Os dois tentavam com muito esforço aprender a coreografia regrada da música que tocava no momento, girando e pulando de maneira desengonçada.
Seus olhos então foram para um ponto mais além, onde Jungkook jazia parado ao lado de Kim Namjoon. Ambos conversavam discretamente, com semblantes sérios e envoltos por um ar de melancolia.
"Devem estar falando sobre a condenação de Min Yoongi", pensou Jimin, deitando a lateral do rosto na cabecinha miúda de Yeonjun.
O bebê se agitava em seus braços, entretido com os detalhes prateados da roupa que o ômega havia recebido dos servos de Hayang. Jungkook tinha ganhado uma vestimenta similar que carregava as cores do clã Jeon: preto, branco e vermelho. Por isso, ele se misturava à escuridão da noite, como sempre.
Em determinado momento, o alfa sentiu que estava sendo observado, então virou-se e cruzou olhares com o marido. A imagem do ômega carregando o bebê no colo diminuiu em vários níveis a melancolia sobre a face dele.
ㅡ Logo irei até você ㅡ disse Jungkook, sem fazer sons, apenas movimentando os lábios para formar as palavras.
Jimin acenou com um movimento de cabeça.
O ômega então se virou para observar os arredores com Yeonjun. Eles estavam no pátio aberto e maravilhosamente decorado da fortaleza Choi. Havia muitas pessoas e a grande maioria delas vestia-se com trajes azuis e joias de mesma cor, então Jimin se sentia atravessando um pequeno oceano resplandecente que se curvava com sua aproximação.
Todo esse brilho agitado sumiu de seus olhos quando ele avistou a figura murcha de Lu Keran sentada num canto do pátio.
ㅡ Lulu? ㅡ chamou quando chegou perto dele, e se sentou no assento mais próximo ao do amigo.
ㅡ Ah, senhor. ㅡ Keran abaixou os olhos para Yeonjun e abriu um sorriso meigo. ㅡ Olá, pequena Alteza.
Yeonjun balbuciou algo incompreensível para o rapaz e ergueu as mãos na direção dos cabelos vermelhos dele. Parecia fascinado com os fios ruivos de Lu Keran.
ㅡ Se ele pegar o seu cabelo, você vai sair daqui careca. Ou pior, calvo ㅡ disse Jimin, afastando as perigosas mãozinhas miúdas. ㅡ Yeonjun gosta muito de vermelho.
ㅡ Então... Eu agradeço pelo fascínio, Alteza, mas terei que me afastar um pouco. ㅡ Keran soltou uma risada e apertou levemente a bochecha do bebê.
ㅡ O que 'tá fazendo aqui sozinho, Lulu? ㅡ quis saber o outro ômega.
ㅡ Ah. ㅡ Um suspiro profundo. O corpo de Keran ficou ainda menor. ㅡ Estou pensando no que Vossa Majestade me disse hoje mais cedo sobre o mestre Jung, depois de voltar para a cidadela. Ele realmente me transferiu o cargo de Alquimista Real...
Jimin meneou a cabeça, compreendendo.
ㅡ Você não queria?
ㅡ Na-não é isso. Sinceramente, sempre foi o meu sonho, mas eu não sou como o mestre Jung. Eu sequer sou um Jung. O clã dos Lobos de Ferro está repleto de mentes geniais. Ah, se o senhor visitasse a terra natal deles, iria concordar comigo. Eu ainda me vejo apenas como um discípulo.
ㅡ Hmmmm. Então acha que não está preparado?
ㅡ Isso mesmo, senhor...
ㅡ Que pena, porque só você pensa assim. O senhor Jung foi bem claro quando elogiou o discípulo dele e disse que seria um substituto satisfatório. Eu também concordo bastante com essa opinião. Você é foda, Keran.
ㅡ Eu sou fo... o-o quê? ㅡ Lu Keran ruborizou.
ㅡ Eu quis dizer que você é dez por dez. Bom demais. Muito capaz. ㅡ Jimin deu tapinhas nas costas do amigo.
O ômega ruivo conseguiu sorrir um pouco. Seu olhar nervoso carregava gratidão.
ㅡ Eu já sinto muita falta do mestre Jung. Ficarei bastante perdido sem ele...
Ambos se encolheram em seus assentos, pois compartilhavam dos mesmos sentimentos. Porém, um momento depois, Keran respirou fundo, saltou para ficar em pé e, de repente, exclamou:
ㅡ Mas prometo que irei me esforçar como Alquimista Real de Adaman! ㅡ Fechou as mãos em punhos e as ergueu no ar.
ㅡ Isso aí, haha! ㅡ Jimin também ficou em pé e ajeitou Yeonjun nos braços. O bebê babava e brincava com as bolhas que fazia com a boca. ㅡ Agora a gente tem que comemorar a sua promoção de cargo, fazer tipo um churrasco de firma, encher a bunda de álcool e afins.
ㅡ I-isso parece muito divertido, senhor, mas eu não sou muito forte para álcool. Desconheço o termo "firma", mas talvez a parte do churrasco seja suficiente...
ㅡ Nada disso. Vencemos uma guerra e você foi promovido. Quero que saiamos daqui vendo papagaios de saia. Só preciso que as crianças durmam, aí iremos até aquela mesa acolá para enchermos a cara. ㅡ Jimin apontou para a mesa principal que fora colocada no centro do pátio para os anfitriões da noite.
ㅡ A mesa onde está a elite Choi, a Matriarca Kim e o seu amigo?
Nessa mesa, Taehyung, Choi Yoojung e Kim Nabi trocavam conversas com Choi Ren e seu marido, o almirante Baekho, enquanto viravam grandes taças de vinho em suas bocas ㅡ apenas Ren se servia com um néctar de uva não-alcoólico por causa da gestação.
ㅡ Exatamente ㅡ respondeu Jimin, com olhos brilhando. ㅡ Andei monitorando os serviçais e descobri que a maior variedade de bebidas está sendo entregue para eles. ㅡ O ômega lambeu os beiços.
ㅡ Oh...
Nessa hora, um choro infantil alcançou os ouvidos dos dois. Jimin reconheceu de imediato os soluços de Soobin, e viu a criança se aproximando numa correria desenfreada que, por um instante, quase o levou ao chão.
Quando chegou perto do pai ômega, Soobin abraçou a perna dele e berrou mais alto.
Logo em seguida, Jina apareceu trotando sob as várias camadas de seu vestido bufante.
ㅡ O que aconteceu?? ㅡ Jimin perguntou às duas crianças e se agachou para acariciar o filho mais velho.
ㅡ Binho! Binho! Binho, papa... ㅡ o menininho balbuciou.
ㅡ Binho? O que é isso?
ㅡ É vinho, Vossa Magnificici...cicência. ㅡ A língua de Jina se embolou. ㅡ Eu encontrei um copo de vinho numa mesa vazia e bebi um pouco. O Soobin viu e também quis, mas eu não deixei porque meu papai me disse que crianças não podem tomar, então ele começou a chorar e veio para cá.
Jimin e Keran arregalaram os olhos e se encararam com olhares perplexos.
O novo Alquimista Real se aproximou da garotinha e cruzou os braços. Seu pé passou a bater no chão.
ㅡ Jina, querida, você entende o que acabou de dizer?
A menina ficou pensativa por um momento, até que sua face empalideceu e seus olhos dobraram de tamanho.
ㅡ Oh-oh... ㅡ Jina deu um passo para trás, depois outro e mais outro, e então se virou para correr e se esconder dentro da multidão.
Lu Keran puxou os cabelos para trás e exalou um suspiro que se misturou a uma risada.
ㅡ Senhor, podemos nos embriagar depois? Eu tenho que ir atrás dela. O General parece estar bastante ocupado com Sua Majestade no momento ㅡ disse.
ㅡ Claro. Boa sorte, Lulu.
Sem mais delongas, Keran voou para o meio da multidão em busca da garotinha, deixando outro ômega sozinho com suas próprias crianças.
Jimin enxugou as lágrimas de Soobin e deu-lhe alguns beijos carinhosos para acalmá-lo. Quando isso funcionou, o menininho bocejou, e isso influenciou um bocejo de Yeonjun, que assistia a tudo com seus esbugalhados olhos carmesins.
ㅡ Hm, alguém aqui está com sono. ㅡ O ômega deu uma risadinha.
Em seguida, virou o rosto para ver onde estava Jungkook e percebeu que o alfa realmente ainda parecia bastante concentrado numa conversa com Kim Namjoon.
Quando entregasse os filhos para os cuidados de Utah e dos demais servos pessoais que o aguardavam dentro da fortaleza Choi, ele voltaria ali para perguntar ao marido o que tinha acontecido.
ㅡ Vamos lá, vamos dormir...
Com Yeonjun no colo e segurando o pulso de Soobin com a mão livre, Jimin se dirigiu aos portões da fortaleza. Em sua cola, servos prestativos que haviam se aproximado o acompanharam mesmo sem o seu pedido. Alguns tentaram ajudá-lo a carregar as crianças, mas o ômega só cedeu a guarda de Soobin ㅡ que praticamente se arrastava de sono pelo chão ㅡ, pois não conseguia segurar o menino tão bem com o braço livre.
Eles se dirigiram à ala que Choi Yoojung tinha reservado para os novos monarcas, a qual continha um quarto para o casal real e um para os príncipes. O ambiente era amplo e coberto por uma atmosfera salina trazida pelos ventos oceânicos que entravam através das grandes janelas de vidro. Um dos servos viu que a brisa fria poderia prejudicar as crianças, então se apressou para fechar todas as aberturas daquele andar.
Com a interrupção da forte ventania, Jimin sentiu a presença de um alfa a uma distância considerável. Talvez ele ou ela estivesse no início da ala, ainda próximo à escadaria que levava até ali. Parecia hesitar em se aproximar. Não era Jeon Jungkook, mas o cheiro também não lhe era estranho.
Jimin decidiu entregar os filhos aos servos, que eram betas e não faziam ideia de que havia um intruso por ali. Em seguida, deu a eles instruções:
ㅡ Utah, a amamentadora do Yeonjun, está lá no quarto esperando por ele e pelo Soobin. Por favor, digam pra ela que eles precisam dormir. Daqui a pouco eu apareço por lá.
ㅡ Sim, Vossa Magnificência.
Quando se afastaram, Jimin virou o corpo, cruzou os braços e encarou a escuridão do fundo da ala, tentando desvendar, com suas capacidades lupinas, quem estava por trás dela.
Com um assobio melódico, convocou Hana, sua condor do deserto favorita, e o enorme pássaro abriu uma das janelas com um forte empurrão.
ㅡ Beleza, quem 'tá aí? ㅡ perguntou o ômega ao intruso desconhecido após Hana pousar no chão ao seu lado.
As sombras deram forma a Jeon Sirah. Ela parecia um tanto nervosa, desviando o olhar e com um semblante envergonhado no rosto, e claramente tentava reprimir a própria presença por alguma razão.
ㅡ Majestade, eu não quis assustá-lo... ㅡ disse a alfa, curvando o corpo.
ㅡ Por que estava me seguindo? Aconteceu alguma coisa?
ㅡ Não, eu apenas... ㅡ Sirah desviou o olhar mais uma vez. Seus lábios tremeram levemente. ㅡ Escutei choro de criança, então fiquei preocupada.
ㅡ Ah. ㅡ Jimin sorriu. ㅡ Foi o choro do Soobin. Ele só está com sono, por isso, já foi dormir.
ㅡ Sono? Oh, sim. Está tarde, de fato, hm... ㅡ A comandante abriu e fechou a boca, como se estivesse ansiosa ou escondendo algo.
ㅡ Senhora Sirah, tem certeza de que é só com isso que está preocupada?
O olhar perdido da alfa se fixou nele.
ㅡ Majestade, e-eu... eu posso... O Soobin...
Antes que ela pudesse formar uma frase inteligível, a voz de Jeon Jungkook atravessou aquela ala.
ㅡ Sirah. ㅡ Os olhos vermelhos dele piscaram na escuridão antes que todo o seu corpo fosse acolhido e revelado pela luz dos castiçais.
Com as mãos presas às costas, numa pose altiva, Jungkook passou ao lado da comandante Jeon até parar entre ela e Jimin. Ele cravou os olhos nela, sustentando uma face fria e até bastante intimidadora.
Sirah ainda o encarou um pouco, como em desafio, mas logo cedeu e abaixou o olhar.
ㅡ Já que está tudo bem, eu irei retornar agora ao meu posto de vigília. Com licença, majestades.
Ela os reverenciou e se apressou para ir embora. Hana bateu as asas e a seguiu, sondando-a com seus olhos afiados.
Quando restou apenas o casal naquela ala, Jimin encarou o marido com uma sobrancelha erguida e disse:
ㅡ Você vai me dizer o que rolou aqui.
Jungkook fechou as pálpebras por um longo segundo e suspirou. Depois, ele se aproximou do outro e o puxou para perto da janela, numa parte mais isolada daquele espaço onde poderiam conversar mais à vontade.
ㅡ O que rolou é que a comandante Sirah está agindo possessiva e superprotetora com Soobin ㅡ ele explicou, apertando as têmporas.
Ao seu lado, o ômega piscou e contraiu o cenho.
ㅡ Mas, por quê? É por ele ser um Jeon...? Ou... ㅡ A face de Jimin ficou lívida quando um pensamento cruzou sua mente. ㅡ Jungkook...
O alfa não precisou confirmar a suspeita, pois o olhar apreensivo dele já dizia muita coisa.
O coração de Jimin errou uma batida.
ㅡ Há quanto tempo vocês guardam isso?
ㅡ Eu tive a certeza apenas no dia do nosso casamento. Esperei passar essas tempestades para conseguir trazer o assunto numa de nossas conversas. Já Sirah... Acredito que não faz muito tempo desde que ela descobriu o parentesco com o menino.
ㅡ Ela não sabia que tinha um filho?
Jungkook negou com um movimento de cabeça.
ㅡ Suspeito que Jeon Sirah jamais pensou que teria filhos com uma ômega que não fosse a minha mãe. Mas suas viagens ao Sul de Adaman lhe deram a prova de que algo assim poderia acontecer.
ㅡ Ah, Soobin nasceu num vilarejo sulista, é verdade... ㅡ Cabisbaixo, Jimin juntou as duas mãos na frente do corpo e as apertou para reprimir os sentimentos internos que ele mesmo considerava egoístas. Com uma tentativa de sorriso, murmurou: ㅡ I-isso é bom, não é? Nem todo mundo da família dele morreu. Soobin ainda tem uma mãe.
O sorriso acabou falhando e dando lugar a algumas lágrimas. Jungkook se colocou diante do ômega para enxugá-las e o beijou rapidamente. Em seguida, o encarou no fundo dos olhos e disse:
ㅡ Sirah não tem culpa de ter vivido alheia à existência do menino, mas... ele ainda é nosso filho.
Jimin balançou a cabeça, concordando, e fungou.
ㅡ Talvez poderíamos tentar uma guarda compartilhada ou algo do tipo.
ㅡ Está tentando sugerir que Sirah seja mantida por perto?
ㅡ É... ㅡ Jimin abraçou o próprio tronco. ㅡ Seria cruel separar os dois, não? O que você iria sentir se fosse impedido de ser pai do Yeonjun?
Isso fez o peito de Jungkook pesar uma tonelada. Por um segundo, foi como se tivesse voltado para a época em que não sabia se o pequeno Yeonjun tinha conseguido nascer, um período sombrio e demasiadamente doloroso. Pensar em vivenciar algo assim outra vez parecia pior que um pesadelo.
ㅡ Tem razão. ㅡ Ele suspirou e abraçou o ômega. ㅡ Eu preciso controlar o meu lado territorialista completamente desnecessário...
Com a face acomodada em seu peito, Jimin riu baixinho, balançando o corpo.
ㅡ Pois é, acho que vai ficar tudo bem.
ㅡ ... Mas temo que ela acabe ansiando por algo mais.
ㅡ Tipo o quê?
Jungkook ficou em silêncio por um momento antes de responder:
ㅡ Não... Esqueça. Estou pensando muito. Meus instintos estão gritando em minha mente. Vamos falar de outra coisa, por favor.
Ainda com Jimin nos braços, ele o balançou no ritmo baixo e distante da música que vinha lá de fora.
ㅡ Certo... Hm... ㅡ O ômega pensou um pouco. ㅡ Então, o que tanto conversou com o General Kim? Você demorou. ㅡ Encheu as bochechas de ar e deu soquinhos fracos no ombro do alfa, desferindo uma falsa punição.
ㅡ Desculpe-me. ㅡ O peito de Jungkook balançou com uma risada. ㅡ Foram várias coisas. Conversamos sobre a organização das tropas pelo território de Hayang, sobre a retirada delas daqui a alguns dias para retornarmos a Adwan, sobre o casamento que ele planeja realizar assim que retomarmos a capital do reino...
ㅡ Casamento!? ㅡ Jimin encarou o marido com olhos arregalados. ㅡ O Keran não me falou que já estão organizando a cerimônia!
ㅡ Acho que nosso general começou a fazer os arranjos por conta própria por enquanto.
ㅡ Hmmm. ㅡ O ômega voltou a encostar a lateral do rosto no peito de Jungkook. ㅡ E o que mais falou com o General Kim? Vocês dois pareciam bem sérios lá embaixo.
ㅡ Eu estava pedindo a opinião dele sobre como nós deveríamos tratar a situação de Yoongi daqui por diante.
ㅡ E então?
ㅡ Acho que cheguei a uma decisão, mas preciso que você a ouça antes... ㅡ Eles pararam de se balançar e cruzaram olhares. Jungkook prosseguiu: ㅡ Divulgaremos a informação de que Min Yoongi faleceu durante a tomada de Hayang, no lugar de contar a todos que ele teve a vida poupada. Assim, ninguém tentará ir atrás dele por motivos de vingança, e a recuperação da honra do clã Min será facilitada. Evitaremos muitos problemas políticos se o considerarmos como morto...
ㅡ Entendi. É uma opção realmente boa. ㅡ Jimin contraiu um canto dos lábios e segurou o rosto melancólico do marido. ㅡ Mas você está bem com isso?
ㅡ Eu deveria estar, já que é o único meio de evitar grandes prejuízos e consequências negativas ㅡ "mas é como se eu estivesse matando totalmente a existência do meu irmão", ele completou em pensamentos, carregando dentro do peito uma culpa inquilina um tanto pesada.
Jimin conseguia decifrar o que se passava na mente de Jungkook nesse momento, então não insistiu em fazer perguntas, apenas o acalentou com outro abraço.
O alfa devolveu o gesto e aconchegou a testa no meio da cabeleira platinada do marido. Acabou triscando num dos chifres dele, fazendo com que uma pétala vermelha caísse bem sobre seu nariz. O perfume de Jimin dominou suas narinas nesse momento e viajou pela corrente sanguínea de seu corpo.
ㅡ Ah... ㅡ suspirou alto como um ébrio apaixonado. Se estivesse sob a forma lupina, seu rabo estaria balançando.
ㅡ O que foi? ... An!? ㅡ exclamou Jimin ao ser girado repentinamente pelo alfa.
ㅡ Ainda estamos numa festa, devemos dançar um pouco.
O ômega gargalhou e tentou segurá-lo.
ㅡ Eu 'tô cansado... Só aceito convite se for pra me embriagar numa mesa lá no pátio.
ㅡ Que tipo de cansaço é esse que mantém o desejo pela perdição alcoólica? ㅡ A voz de Jungkook soou como um ronronar baixo no ouvido de Jimin, provocando faíscas no peito do ômega.
ㅡ É do tipo que passou meses sem receber uma gota de álcool porque tinha um bebê à caminho. Agora eu... só quero me acabar. ㅡ As pernas de Jimin cederam levemente quando o alfa passou a roçar a ponta do nariz pela extensão de seu pescoço. A respiração quente dele percorreu sua pele por baixo das roupas.
Naquele momento, a ala foi recheada pelas presenças fervilhantes e eróticas de Suas Majestades.
ㅡ A gente 'tá no meio do corredor...
ㅡ Ninguém ousaria vir para cá, eu lhe asseguro. ㅡ Jungkook começou a abrir a parte superior da roupa do marido enquanto beijava a marca na clavícula dele.
Um rubor tomou a face de Jimin.
ㅡ Jungkook, os servos dos Choi também são betas. Eles não vão sentir a barreira de feromônios antes de nos pegarem aqui. Vou morrer de vergonha e virar uma árvore de novo.
ㅡ Será rápido. Ainda pretendemos nos alcoolizar, não é mesmo? ㅡ Os sorriso do rei alfa brilhou e os olhos dele queimaram um inferno vermelho.
Jimin conteve um gemido quando sentiu dois dedos percorrendo o caminho entre suas nádegas, por baixo das calças de seda branca. A umidade já se fazia presente e transbordava pela mão de Jungkook.
ㅡ Nem pense que vai ganhar um jardim. Você virou um completo sem-vergonha ㅡ murmurou o ômega com a voz rouca.
ㅡ Muito bem. Nada de jardins ㅡ Jungkook então virou o corpo de Jimin e enfiou os dois dedos onde mais desejava ㅡ, mas só desta vez ㅡ murmurou contra o ouvido dele.
Abaixou as calças do ômega, posicionou-o contra a grade da janela de vidro e passou a masturbá-lo pela frente e por trás. Deliciou-se com os gemidos baixos e contidos dele e precisou se controlar para não ceder ao desejo por provocá-lo um pouco mais.
Com a ardência se acumulando em sua virilha, o alfa libertou o membro duro e o enfiou com uma estocada. Imediatamente sentiu Jimin estremecer em seus braços e se retesar para recebê-lo com mais conforto. Escutou-o grunhir e arfar com os movimentos seguintes de entrada e saída, sentindo toda a sua extensão agindo numa velocidade acelerada.
Jungkook então segurou os braços dele e o puxou para trás, para mais perto, pois queria beijá-lo de ombro a ombro, na nuca e nas laterais do pescoço, enquanto o preenchia freneticamente, com impulsos profundos e quentes. Depois de se aventurar pela pele das costas de Jimin, o alfa foi atraído até a marca do vínculo próxima à clavícula do marido, e a abocanhou com carinho.
Jimin tremeu em seus braços e cerrou a boca para não exclamar alto, pois, nesse momento, ele alcançou o ápice e se derramou de prazer. Agora, fraco e corado, deitou a cabeça no peito de Jungkook. O alfa o segurou e continuou a desferir estocadas, pois faltava pouco.
Quase lá. Quase... lá.
Com um sibilo baixo e rouco, e segurando os quadris de Jimin firmemente, Jungkook liberou sua febre.
Assim que o pulsar acabou, ambos se apoiaram na janela, agarrados um ao outro. Ali não era nada confortável, mas eles sorriram, ruborizados, e se beijaram outra vez.
ㅡ Precisamos de um banho... ㅡ sugeriu Jungkook, beijando o canto dos lábios do marido.
ㅡ Concordo. Que tal um banho de mar para resfriar o corpo?
ㅡ Seria ótimo, mas aí teríamos que passar por toda a multidão reunida no pátio da fortaleza. Nossos cheiros iriam alertar a todos.
ㅡ Você tem razão. ㅡ Jimin fez uma careta. ㅡ Banho de banheira então?
ㅡ Banho de banheira ㅡ concordou o alfa.
ㅡ E, depois disso, beber até cair?
Os sorrisos cresceram.
ㅡ Beber até cair.
Os servos, depois de convocados, aprontaram uma grande banheira na suíte do casal e prepararam novas roupas para eles. Jimin e Jungkook prometeram a si mesmos que iriam aproveitar aquele momento apenas para a limpeza de seus corpos, porém, com a vista paradisíaca que tinham do oceano ㅡ oferecida pelas enormes janelas do quarto ㅡ, e com o conforto da água morna e das velas aromáticas espalhadas pelo recinto, eles não resistiram a outra rodada de sexo e beijos calorosos. Precisaram de mais um banho depois, dessa vez um frio para que mantivessem algum controle.
A Lua já estava caindo no céu quando saíram limpos do quarto, trajando novas roupas e acessórios. De mãos dadas, foram até onde os filhos dormiam para uma rápida visita, antes de seguirem em direção à festa que ainda acontecia na cidadela. As pessoas estavam muito felizes e aliviadas com o fim da guerra, então as comemorações provavelmente ainda iriam durar mais alguns dias consecutivos.
Em silêncio, o casal rodeou os berços das crianças e depositou alguns beijos nelas. Com isso, Soobin nem se moveu, pois estava completamente imerso em seus sonhos. Já Yeonjun se revirou e piscou, meio torpe, mas rapidamente voltou ao sono profundo.
Com o fim da visita, Jungkook e Jimin se entreolharam sorridentes e orgulhosos. Havia algo sereno ali, naquela pequena bolha de amor, que puxava os dois e os fazia sentir uma calma absoluta.
Se tivessem passado mais alguns minutos ali dentro, teriam esquecido a festa e todo o resto, e então deitado numa das namoradeiras próximas aos berços dos filhos para uma noite de sono ㅡ já que Utah, a amamentadora de Yeonjun, descansava na única cama do quarto que ficava na saleta lateral.
Porém, eles foram surpreendidos por sons de correria e murmúrios vindos do exterior, ao longe.
Lá fora, a música havia parado. Algo estava acontecendo, e o dia seguinte nem tinha começado.
Ainda de mãos dadas, Jungkook e Jimin saíram do quarto para buscar informações.
ㅡ O que está havendo? ㅡ questionou o alfa ao primeiro servo que cruzou o caminho do casal. Seus nervos já estavam à flor da pele e mil pensamentos lhe atravessavam a mente.
ㅡ Vossa Majestade, Vossa Magnificência. ㅡ Ele os reverenciou e respondeu: ㅡ É o irmão da Matriarca Choi.
ㅡ O Ren? O que tem ele?! ㅡ Jimin deu um passo para frente, aturdido.
ㅡ Ah, ainda é tão cedo, mas... ㅡ O servo suava frio. ㅡ O filhote está vindo! Ele vai nascer!
🌕🌖♛🌘🌑
Convidados e parentes de Choi Ren reuniram-se com ele e Baekho numa piscina natural localizada a uma curta distância da cidadela, conectada ao oceano e rodeada por um alto rochedo. O céu já não estava mais tão escuro por causa do fim da noite, mas a água parecia tão sombria naquela área que Jimin ficou admirado ao ver o ômega dos Lobos do Mar se aproximando dela sem medo algum.
ㅡ Ele vai ter o bebê lá dentro? ㅡ perguntou baixinho a Jungkook, que o tinha acompanhado até ali depois de os dois serem chamados por Choi Yoojung para participarem do que ela chamou de cerimônia de nascimento.
ㅡ Sim. É um ritual para os Choi. Esta é a primeira vez que presencio. ㅡ Jungkook observava com curiosidade.
ㅡ Mas isso aqui 'tá congelando. ㅡ Jimin se encolheu contra o peito do marido. ㅡ Nesse frio, minha bunda trancaria. Como diabos ele vai liberar um neném por lá?
O alfa travou o semblante e abaixou a cabeça, mas não conseguiu controlar os tremores em seu corpo provocados pela gargalhada que tentou reprimir.
ㅡ Jimin, pelos deuses, meu amor... ㅡ Ele passou a mão pelo rosto. Se não mantivesse a compostura por mais um tempo, acabaria soltando uma risada alta.
Quando conseguiu se controlar, pigarreou e, num gesto brincalhão, apertou a bochecha do ômega e o aconchegou com um braço.
ㅡ Pelo que sei, a água desta área é morna por alguma razão ㅡ explicou. ㅡ Mas não é só isso...
ㅡ O que tem mais?
ㅡ Observe com atenção.
Jimin seguiu a orientação e se concentrou nos acontecimentos seguintes.
Choi Ren, que cobria-se apenas com um roupão elegante e azul, foi guiado até o meio da piscina pelo almirante Choi Baekho. Lá, os dois se entreolharam com ternura. Baekho beijou o ômega na testa por um longo instante, antes de se afastar dele e entregá-lo para as águas oceânicas.
Ren continuou mergulhando até imergir completamente na água. Nessa hora, Jimin avistou a aproximação de algo e arregalou os olhos, estupefato.
ㅡ Golfinhos?! ㅡ arfou, deslumbrado. Nunca tinha visto golfinhos ao vivo em toda a sua vida.
Os mamíferos aquáticos soltaram barulhos animados e começaram a criar um círculo na água onde Ren havia afundado. Algo muito incrível devia estar acontecendo lá embaixo.
ㅡ Jungkook, o que eles estão fazendo? ㅡ perguntou o ômega, ansioso, sem tirar os olhos do mar.
ㅡ O clã Choi é bastante reservado com esse assunto, mas, em minha época de príncipe, eu fiz alguns estudos sobre isso... Eles têm uma ligação muito antiga com o mar. Assim como a Lua guia os lupinos na terra, ela guia a água no oceano, junto com suas criaturas. Quando um lupino Choi está pronto para nascer, grupos de golfinhos se aproximam para ajudar com o processo. Eles emanam algo como vibrações para facilitar o nascimento e diminuir a dor do parto.
ㅡ Vibrações? ㅡ Jimin piscou, totalmente maravilhado. ㅡ Ah, ondas sonoras, é claro! ㅡ Já tinha visto algo sobre o assunto num livro de biologia durante a época de colegial. ㅡ I-isso é genial... é realmente incrível.
O círculo de golfinhos continuou por mais algum tempo, até os primeiros raios de Sol romperem no horizonte, pintando o céu de púrpura. De vez em quando Ren erguia o rosto sobre a água para respirar, e então voltava para o acolhimento das profundezas. No momento em que todo o céu clareou, a figura do ômega emergiu da água carregando nos braços um pequeno e frágil bebê de olhos azuis e cabelos escuros.
Baekho correu até ele e o envolveu com uma manta grossa e seca, então o ajudou a sair da piscina. Os olhos do almirante estavam vermelhos e marejados de emoção, contemplando Ren e o filho recém-nascido.
Após alguns instantes de conversa com o marido, Baekho enunciou:
ㅡ Nosso filhote se chamará Beomgyu, assim como a estrela que, em dias ruins, guia as embarcações do clã para a baía segura.
As testemunhas do nascimento aplaudiram e exclamaram bênçãos. Choi Yoojung era a tia mais feliz do mundo.
Park Jimin e Jeon Jungkook, colados um ao outro, abriram enormes sorrisos e se encararam. Os pensamentos dos dois fluíram para Soobin e Yeonjun ㅡ que foram deixados descansando sob os olhares de Utah e de Hana, a fiel condor do deserto ㅡ, e depois se aventuraram por ambientes mais longínquos de suas imaginações, onde a ideia de família parecia maior, mais numerosa...
ㅡ Quem sabe um dia... ㅡ Jimin soltou a ideia sem promessas, apenas para que Jungkook soubesse que não seria o fim do mundo se acontecesse outra vez.
O ômega não iria assumir, mas ele tinha muita vontade de saber se Jungkook teria carregado o mesmo olhar que o almirante Baekho se tivesse visto Yeonjun nascer.
Na verdade, nenhum dos dois pôde ter aquele momento que Ren e Baekho tinham agora, aquela intimidade serena trazida pelo novo integrante da família, e um instante de reflexão sobre o que seriam dali por diante. As circunstâncias os separaram de tantas formas cruéis que Jimin e Jungkook só conseguiram perceber a total gravidade delas naquele instante, com aquele ritual, depois de um dia de vitória.
ㅡ Um dia, quando você quiser ㅡ disse o alfa, em resposta, e os dois entrelaçaram as mãos.
As preparações para o retorno à Adwan iniciaram-se na manhã seguinte, pois o trono os aguardava ansiosamente.
🌕🌖♛🌘🌑
Quando eles avistaram as muralhas de Adwan, Park Jimin se lembrou da primeira vez em que contemplou aquele cenário e mergulhou numa gostosa nostalgia.
Com o fim do inverno e os primeiros indícios de uma nova primavera, o rio fluía azul sob a ponte que ligava os portões da parte urbana da capital à sua área rural, e as fazendas dos arredores pareciam cheias de plantações recém-nascidas. As cores imperavam e cobriam a extensão de floresta até as encostas das montanhas mais próximas, e, mesmo com o imenso muro reduzindo a vista do interior de Adwan, era possível notar que a cidade parecia mais viva do que antes.
Cavalgando lado a lado com Jungkook, ambos sobre dois corcéis malhados resistentes à longa viagem, sendo acompanhados por extensas fileiras de carruagens e de súditos ㅡ refugiados e guerreiros que participaram da retomada de Adaman ㅡ, eles rapidamente chamaram a atenção dos cidadãos da capital, que os receberam com gritos eufóricos de alegria.
Enquanto atravessavam a rua principal que cortava a capital e seguia direto para o castelo, Jimin observou a destruição causada pelos imensos espinhos que ele mesmo havia convocado sem se dar conta. Colossais hastes de madeira retorciam-se pelo circular perímetro de Adwan, imergindo e emergindo da terra como ervas daninhas.
ㅡ Você está bem? ㅡ Escutou a voz de Jungkook ao seu lado. Estavam separados pela distância entre os cavalos. Mesmo com a multidão gritando ao seu redor, não poderia deixar de ouví-lo.
ㅡ Hm. ㅡ Jimin voltou a olhar para os espinhos. Quanto mais próximos ficavam do castelo, maior era a concentração daquela floresta pontiaguda. ㅡ Eu realmente fiz tudo isso?
O semblante de Jungkook hesitou. A mão que segurava a sela do cavalo tremeu.
ㅡ Foi me dito que sim...
Até o momento, o alfa não tinha concentrado sua atenção naquele mar de espinhos. Ele o via, mas não enxergava o seu significado, pois estava mais concentrado no povo e na alegria que era retornar a Adwan ao lado de sua família. Agora, com o comentário de Jimin, Jungkook se dava conta de que, até o momento, ignorava o que estava por trás daquele atordoante cenário.
Os poderes do ômega sempre o surpreenderam, mesmo no início, quando não passavam de um sopro do que futuramente viriam a se tornar. Mas eles também sempre apareceram em momentos de alegria ou de bravura, demonstrando a força de vontade existente no cerne de Jimin.
Aqueles espinhos, no entanto, eram a representação mais excruciante da dor que o ômega enfrentou no dia em que foram separados pela morte.
Tudo aquilo, toda aquela imensidão feia e retorcida de madeira morta e afiada havia sido convocada por um grito ensurdecedor, Jungkook ouvira dizer.
Em seus pesadelos, ele conseguia escutá-lo.
ㅡ Ei. ㅡ Jimin o trouxe de volta à realidade. O sorriso dele iluminou um pouco a escuridão de seus pensamentos. ㅡ Agora sou eu que pergunto. Você está bem?
ㅡ ... Estou. ㅡ Jungkook tentou sorrir, mas suas emoções estavam bastante aparentes sobre a face. ㅡ Eu... ㅡ Apertou as rédeas do cavalo.
Jimin o observou em silêncio por um momento, até que, com um impulso de coragem ㅡ pois ainda tinha um certo pavor de lidar com cavalos ㅡ, incitou sua montaria a ir um pouco para o lado e diminuir a distância entre o marido e ele.
Quando estavam próximos o bastante, Jimin se inclinou, mostrou o maior sorriso que tinha e disse:
ㅡ Ei, eu 'tô bem.
A expressão de Jungkook se tornou menos miserável.
ㅡ Sabe o que é pior? ㅡ disse o ômega, com um tom de voz que incitava brincadeira.
ㅡ ... O que é pior? ㅡ Um canto da boca do alfa se curvou num meio-sorriso.
ㅡ Vou ter que limpar tudo isso. ㅡ Jimin fez uma careta brincalhona e melodramática enquanto apontava para o horizonte de espinhos. ㅡ É terrível ser o rei do drama, veja as consequências... Não posso mais ter um instante de surto que algo nasce em algum lugar, sinceramente! Ah, Jungkook, e se um dia eu me estressar com algum daqueles nobres que enchem seu saco na Mesa de Prata? Corro o risco de transformá-lo numa bananeira.
Jungkook fechou os olhos e respirou fundo. E então pensou "Eu verdadeiramente o amo", pois não importava a situação, Jimin tinha uma capacidade inata de aliviar as coisas.
ㅡ Se um dia você fizer isso, pedirei à cozinha que faça doces de banana e distribua para os cidadãos da capital ㅡ disse, divertindo-se.
ㅡ Ah, credo. ㅡ Jimin gargalhou, e assim a atmosfera entre os dois voltou a ficar calorosa durante o percurso até o castelo, mesmo que, dentro de Jungkook, ainda persistisse certa melancolia.
Já no castelo, foram recebidos pelos nobres que haviam permanecido na capital após a saída de Min Yoongi com suas tropas enfeitiçadas. Os que estavam ali eram como Kim Nabi, a matriarca substituta do clã dos Lobos de Aço que, por obrigação e sob ameaças, representou o nome de sua família na Mesa de Prata durante a última dinastia. Tratavam-se de lupinos leais ao primeiro reinado de Jeon Jungkook, os quais estavam dispostos a provar essa lealdade a ele e a Jimin.
A primeira prova que entregaram foi manter a ordem na capital enquanto os novos monarcas ainda não estavam presentes. Com uma olhada ao redor, era possível perceber que fizeram um bom trabalho, pois não havia o caos esperado de uma cidade que foi deixada à sua própria sorte.
Depois das formalidades e burocracias ㅡ que foram muitas, pois havia muito trabalho a ser feito até a verdadeira recuperação do que tinha sido perdido ㅡ, e após todos os antigos e novos residentes do castelo se instalarem apropriadamente pelas alas das torres, Jungkook se alegrou com um pensamento.
ㅡ Amor... ㅡ sussurrou a Jimin após puxá-lo para a varanda de um corredor. O ômega enrubesceu como sempre fazia quando era chamado por ele dessa forma.
Sorrindo prosseguiu:
ㅡ Acho que está na hora de Yeonjun conhecer o ninho.
O rosto de Jimin se iluminou.
ㅡ Ah! Verdade! A casinha... Sinto falta daquela casinha. ㅡ O ômega segurou a mão do alfa e o puxou para uma correria pelo castelo.
Alguns corredores depois, Jungkook perguntou, curioso:
ㅡ Aonde está me levando, Jimin?
ㅡ Ué, para a ala dos aposentos reais que... Ah, haha. ㅡ O ômega freou a correria subitamente quando se deu conta. ㅡ Esqueci que não vamos poder usar a ala antiga por causa da barreira de espinhos. Os meninos foram colocados em outra ala, é verdade... Oh.
Jungkook percebeu um leve empalidecimento na face de Jimin.
ㅡ Há algo de errado? ㅡ perguntou.
Jimin rapidamente piscou e tentou afastar o olhar atônito.
ㅡ Não... na verdade, você pode levar o Yeonjun antes, sem mim? ㅡ Ele parecia atordoado. ㅡ E-eu... eu já volto! ㅡ Sem mais nem menos, soltou a mão do alfa e saiu correndo rumo à área onde os espinhos reinavam.
Jungkook o observou sumir por entre os arbustos no corredor.
🌕🌖♛🌘🌑
Park Jimin se sentia como o príncipe encantado de A Bela Adormecida enquanto desbravava aquela floresta de espinhos, mas sem espada e sem cavalo, usando apenas as mãos e seus poderes para afastar os caules retorcidos do caminho.
Mais cedo, numa reunião com Jungkook e o conselho real, ele tinha sugerido eliminar todos os espinhos de uma única vez. Não seria difícil fazer isso, mas, ao longo do debate, concluíram que poderia ser perigoso, pois agora não se sabia como a estrutura do castelo iria reagir com o sumiço instantâneo dos enormes troncos cheios de hastes pontiagudas. Havia o risco de desabamento de algumas partes da estrutura. E, não só no castelo, como em toda a capital, o que afetaria os moradores de Adwan. Portanto, o trabalho deveria ser realizado aos poucos e com muito cuidado.
ㅡ Ah, que desgraça que eu fiz ㅡ balbuciou para si mesmo enquanto tomava cuidado para não acabar mexendo num caule que mantinha uma das paredes em pé enquanto abria caminho pela antiga ala dos aposentos reais.
Seu objetivo final era o quarto onde dormia no passado, o que fora preparado para ele logo depois que se confirmou sua identidade divina. O ômega atravessou alguns lances de escada e uns corredores infestados pela floresta espinhenta, antes de chegar onde desejava.
O antigo quarto de Jimin era uma zona fria tumultuada pelos espinhos. Com um olhar, ele buscou um armário específico, e lá estava, logo atrás de um arbusto afiado.
Após um gesto de mão, seu caminho se tornou limpo. Jimin correu até lá e abriu a portinha, depois esvaziou o fundo até encontrar... o livro.
ㅡ Por favor, não me assuste. Por favor, não me assuste... Não me assuste... ㅡ murmurou enquanto folheava as páginas atrás da última que havia sido preenchida. ㅡ Por favor, por favor...
No momento em que Jungkook o lembrou sobre a infestação de espinhos naquela parte do castelo, Jimin se deu conta de uma sequência de coisas: Primeiro, nunca mais alguém havia pisado ali, o que eliminava as chances de algum curioso ter ido ao antigo quarto dele e visto o livro. E, segundo, O LIVRO.
O que tinha acontecido com o livro? Depois dos eventos que afastaram Jimin de Adwan, a história daquele mundo continuou sendo transcrita nas folhas? Se sim, o que isso poderia significar dali por diante? Quantas folhas faltavam para que todas elas fossem preenchidas?
E, o principal, o que iria acontecer quando o livro estivesse completo?
Memórias pairavam em sua mente.
"Quando chegar a hora de partir, você e seu amigo, Taehyung, irão retornar para onde pertencem", Song havia lhe dito, mas qual seria a hora de partir?
"Song disse algo sobre uma história começar num lugar quando outra acabar noutro lugar...", essa tinha sido uma mensagem de Seokjin. Poderia a conclusão do livro decidir o final da história de Jimin naquele mundo?
Ele não fazia ideia se suas teorias tinham algum fundamento, se tinham lógica ou se eram apenas exageradamente alarmistas. Mas não importava mais usar a razão, pois, quando Jimin abriu as duas últimas páginas, viu que a penúltima estava totalmente preenchida com os eventos da batalha em Hayang, e que agora só restava uma única folha em branco.
O coração do garoto murchou dolorosamente.
Quanto tempo demoraria até uma folha ser preenchida? Um dia? Um mês? Um ano?
Uma hora?
Um minuto?
E depois? Apareceria um "FIM"?
Mas a vida naquele lugar existia muito além do que era contado no livro, Jimin tinha absoluta certeza disso, e uma das razões era que ele havia visto as memórias de Seokjin, de quando o feiticeiro havia caído nesse mundo numa época do passado muito anterior ao que começava a ser narrado por aquelas folhas.
Então, sim, Adaman e todo o seu povo iriam seguir suas vidas pela eternidade que lhes cabia.
Mas e ele?
ㅡ Não, não... Espera! ㅡ Um nó se rompeu na garganta de Jimin, suas lágrimas borraram a vista. ㅡ Eu preciso de mais tempo. Eu quero ficar aqui por mais tempo!
Os sussurros em seus ouvidos retornaram, dispersos, ecoantes e, nesse momento, irritantes demais.
ㅡ Para! Para! Ainda não, po-por favor! Preciso de mais folhas... ㅡ Pensou em Soobin e em Yeonjun, e em tudo o que ainda gostaria de viver com Jungkook. Seu rosto se tornou um rio de lágrimas.
Com raiva e olhos vermelhos brilhantes, Jimin arremessou o livro de volta para seu esconderijo e deixou fluir sua ira. Do chão ao redor do armário, fez brotar mais caules espinhentos, que abraçaram o objeto, perfurando-o e transformando-o numa cela intransponível de madeira e pontas afiadas.
Jimin deu meia-volta e saiu correndo para fora daquela ala, fechando o caminho aberto atrás de si com uma nova torrente de espinhos. Estava com raiva, frustrado, angustiado. Eles finalmente conseguiram a paz, e agora Jimin supostamente corria o risco de ir embora a qualquer momento?
"Não, não... Jungkook! Preciso ver o Jungkook..."
Mas o que faria se o visse nesse instante?
Seus passos foram interrompidos no meio do percurso.
O que diria ao marido? Como iria lhe explicar sobre o livro e sobre suas teorias? Jimin queria dizer tudo a ele, cada detalhe, cada pequeno absurdo! No entanto...
Resignado, ele se afastou da área de espinhos e vagou sem rumo pelo castelo. Só parou quando sentiu a presença de Taehyung ali perto. O amigo estava sentado no banco de um dos pátios laterais, contemplando a vista com um olhar pensativo. Quando captou a aproximação de Jimin, ele acenou.
ㅡ E aí? ㅡ disse, num cumprimento.
ㅡ Hm, não curtiu o quarto que te deram no castelo? ㅡ perguntou Jimin, sentando no outro banco que havia por ali. Suas mãos ainda tremiam por causa da recente onda de sentimentos e pensamentos, por isso, ele as escondeu entre as roupas.
ㅡ Ah... é bem legal. Eu não consigo parar de me sentir dentro de uma série medieval.
ㅡ Hehe, pois é...
Os dois soltaram risinhos, mas logo se encolheram e suspiraram fundo.
Levou algum tempo até um deles abrir a boca.
ㅡ Park... eu não sei se quero continuar aqui ㅡ murmurou Taehyung.
Jimin piscou e o encarou com um questionamento no olhar.
O amigo continuou:
ㅡ O quê? Por acaso você não sente falta da sua família do outro mundo? De seus pais e de Yeseo?
ㅡ Hm... ㅡ Jimin encarou os próprios pés e refletiu um pouco antes de responder àquela pergunta: ㅡ Sinto falta de vez em quando, é claro. E eu gostaria de poder compartilhar certos acontecimentos com eles, principalmente com a Yeseo... não conseguir fazer isso me deixa triste. Mas, Taehyung...
O garoto respirou fundo, dobrou as pernas sobre o banco e abraçou os joelhos.
ㅡ Eu passei a amar este lugar e as pessoas daqui. E, quando falei com Kang Song naquela época e descobri que o tempo neste mundo passa diferente do tempo do nosso mundo, parei de me preocupar com a ideia de estar desaparecido para os meus pais, ou de passar um período muito longo longe deles. As chances de nem terem percebido que sumi são grandes, então... Digamos que eu só estou focado em vivenciar isso.
Ele abriu os braços e gesticulou para o ambiente ao redor. Para Adaman.
ㅡ Eu também tenho uma família neste lugar. Pra mim, ela é importante demais. ㅡ Voltou a abraçar os próprios joelhos. Suas mãos tremeram outra vez. ㅡ Não quero ir embora. Ainda não...
Taehyung balançou a cabeça, mostrando que agora o compreendia.
ㅡ Pois é, pra você faz sentido ficar aqui. Pra mim, não.
ㅡ Como assim?
ㅡ Vamos lá, eu vim pra cá com o objetivo de ser um vilão, você se lembra? ㅡ O tom de voz do amigo soou brincalhão. ㅡ Não sou exatamente bem-vindo aqui.
ㅡ Isso não é verdade. Eu te curei daquela maldição.
ㅡ Eu sei, estou brincando... é só que... sinto falta da minha casa, e tenho uma coisa para fazer lá. ㅡ O olhar de Taehyung voltou a ficar distante. Seus pensamentos vagaram até uma promessa que tinha pendente.
ㅡ Ah, entendi... ㅡ murmurou Jimin, e, com a voz embargada, acrescentou: ㅡ Talvez não demore tanto até sairmos daqui.
ㅡ O que quer dizer?
Jimin enfiou o rosto entre os joelhos e intensificou o abraço no próprio corpo. Suas lágrimas voltaram a cair incontroláveis.
ㅡ Jimin...?
ㅡ É o livro, o livro de que tanto ouvimos falar, aquele que nos deu acesso a este lugar... acabei de enterrá-lo debaixo de várias camadas de espinhos.
ㅡ Espera aí, você estava com ele? Nós o tínhamos aqui o tempo todo? ㅡ Taehyung piscou, surpreso.
ㅡ Si-sim, mas ele não era muito útil, tanto que me esqueci completamente da existência dele depois que Adwan foi invadida e tudo aquilo aconteceu em seguida. No início, quando cheguei neste mundo, as páginas do livro estavam em branco, como se a história tivesse sido reiniciada. Acontece que, de lá pra cá, elas foram sendo preenchidas pelos acontecimentos. Eu ficava acompanhando esse processo de vez em quando, só que então fui mandado para Hayang e depois para os Templos de Areia... ㅡ Jimin soluçou. ㅡ Eu me esqueci! Só agora me lembrei dele, então fui vê-lo... Descobri que falta apenas uma página para todo o livro ficar completo.
O cenho de Taehyung se contraiu.
ㅡ O que exatamente isso significa...? Quer dizer que vamos embora quando essa tal página for preenchida?
ㅡ E-eu não sei. Eu nem sei quanto tempo tenho até isso acontecer! Não quero ir embora ainda...
O amigo o observou com um semblante pesaroso.
ㅡ Jeon Jungkook sabe disso, Jimin?
Sua pergunta foi um golpe no peito do garoto.
Jimin balançou a cabeça em negativa. Depois de fungar e de controlar alguns soluços, balbuciou:
ㅡ No início, não contei para o Jungkook porque, se eu contasse, teria dito basicamente que ele não passava de um protagonista de um livro e que este mundo é falso. Ou eu soaria como um louco, ou ele iria acreditar em mim e provavelmente terminaria algum trauma muito grande. Imagina só, toda a vida que você viveu sendo reduzida a uma história escrita por alguém... Fora que eu não sabia quais seriam as consequências de revelar algo assim ao Jungkook, então apenas guardei as coisas para mim. ㅡ A voz do garoto tremeu e se tornou mais urgente. ㅡ Mas aí descobri que a existência deste mundo e de todas as coisas dele não são inerentes a um simples livro, o que é ótimo e maravilhoso e aliviante... Só que já estávamos metidos no meio de uma guerra, um caos provocado por questões que vieram lá do outro mundo. Diz pra mim, eu deveria jogar nas costas do Jungkook que o inferno que ele e o irmão passaram foi causado por conflitos que nada têm a ver com os dois? Eu deveria dizer para ele que, durante uma grande parte do tempo, ele e todo mundo que vive aqui foram tratados como pessoas irreais que não sentem e que não têm vida, como brinquedos num joguinho de guerra? Quando o Jungkook fala do Yoongi e de Rangkee... eu sinto toda a dor dele. Todinha. Cada farpa. Sinto cada coisa que ele sente, e, pra ser sincero, dói pra caramba. Ele evita falar sobre essas coisas, mas a ligação que nós temos deixa tudo claro pra mim.
Jimin pôs a mão no peito e apertou a camisa que vestia. Com a outra mão, limpou as lágrimas enquanto tentava controlar a respiração acelerada.
Quando conseguiu respirar fundo de novo, prosseguiu:
ㅡ Taehyung... eu fechei os olhos pra tudo o que aconteceu e mandei aquele cara ㅡ Seokjin ㅡ embora com a intenção de, principalmente, permitir que Adaman seguisse em frente e se recuperasse. Também fiz uma promessa pra alguém, e nela eu disse que iria trazer este mundo de volta ao que era antes. É o que estou tentando fazer, e é o que quero fazer ao lado do Jungkook daqui por diante... ㅡ Jimin arfou. Uma dor pungente apertou seu coração. ㅡ Então, diz pra mim, Tae, como eu vou explicar pra ele toda a história que sabemos sem citar esses detalhes? E como vou conseguir dizer que a porra de uma folha em branco é supostamente capaz de decidir quanto tempo continuaremos juntos? Eu odeio não ter certeza de alguma coisa. Queria um manual, um caminho lógico, um planner com instruções!
Taehyung comprimiu os lábios e voltou a encarar o horizonte.
ㅡ Sinto muito... Acha que vai conseguir falar tudo isso pra ele algum dia?
ㅡ E-eu não sei. Eu nem sei se vou ter tempo de sobra pra contar uma história tão grande. Aquela folha em branco virou o meu maior pesadelo.
ㅡ Então, acho que você deveria parar de perder tempo aqui comigo. ㅡ Taehyung exalou um suspiro e se levantou do banco. Após esticar os braços e estalar as costas, se virou na direção de Jimin e lhe mostrou um sorriso nervoso. ㅡ Quero que me mande de volta para a minha casa, Park.
ㅡ An? Tae... Sabe que pra isso acontecer, eu vou ter que te... ㅡ Jimin sentiu um gosto amargo no fundo da garganta.
ㅡ Olha, você mesmo disse que não sabe quanto tempo essa folha vai demorar até ser preenchida, e nem tem certeza se algo realmente vai acontecer depois disso. Pode demorar semanas, anos, séculos... Talvez nunca voltemos para o outro mundo se não interferirmos nisso.
Jimin piscou para ele, dando alguma atenção para essa outra possibilidade pela primeira vez.
ㅡ E tenho mais duas razões para você me despachar deste lugar ㅡ acrescentou o amigo.
ㅡ Quais?
ㅡ Se eu sou um vilão, então, nada mais coerente do que você, o mocinho, me dizimar em nosso enfrentamento final.
ㅡ E com "enfrentamento final" você se refere à minha meia hora de choro e discurso lamentoso que acabou de presenciar?
ㅡ Claro. Uma vibe meio dramática e emotiva, né?
Os dois riram um pouco.
ㅡ E qual a segunda razão? ㅡ Jimin quis saber.
ㅡ Nós dois deixamos o nosso grupo de RPG completamente abandonado. Park Jimin, tínhamos um campeonato para participar em poucos dias...
Os dois empalideceram, depois se encararam e então acabaram jorrando uma onda de gargalhadas.
ㅡ Não é engraçado? Uma coisa dessas teria me deixado maluco antigamente... Hoje nem ligo mais. ㅡ Jimin deu de ombros.
ㅡ O que é um RPG diante da guerra real que enfrentamos, afinal? ㅡ esnobou o amigo.
Empinando o nariz e usando o mesmo tom brincalhão, Jimin acrescentou:
ㅡ Que enfrentamos e na qual eu fui um dos líderes, haha.
ㅡ Exatamente, Vossa Magnificicitânia! ㅡ Taehyung soou exagerado de propósito. Ambos agora não conseguiam parar de rir.
Mas essa risada se amenizou quando perceberam que já estava na hora da decisão.
ㅡ O que prefere? Decapitação, degolação ou empalação? ㅡ perguntou Jimin ao outro. Quando viu que o amigo ficou mortalmente pálido e assustado por um segundo, riu e disse: ㅡ Cara, é brincadeira. Não vou deixar que você sinta nadinha.
Taehyung respirou aliviado e trocou o peso dos pés.
ㅡ Beleza. Pode vir. Estou pronto.
ㅡ Está pronto pra morrer?
ㅡ Morrer é uma palavra muito forte. Que tal "perder a vida"?
Jimin meneou a cabeça, abriu e fechou a mão direita e então a ergueu na direção de Taehyung.
Estava ciente de que tremia, afinal, fazer isso não era fácil, de um jeito ou de outro se tratava de algo... horrível. Mas o garoto sabia que iria dar certo e que não seria um fim real para o amigo. Com um piscar de olhos, Taehyung estaria em sua casa, no mundo deles, sem magias, manipulações, guerras e obstáculos difíceis.
ㅡ Antes que eu vá, tenho uns pedidos: Manda um beijo pra o Yeonjun e pra o Soobin. Não diz pra o Yeonjun que chamei ele de coisa, beleza? ㅡ Taehyung parecia nervoso. ㅡ Ah, e curta bastante o seu marido. Jeon Jungkook me dá medo às vezes, mas é gostoso.
ㅡ Você não vai calar a boca? ㅡ O rosto de Jimin estava uma mistura pálida e nauseada de nervosismo, tensão e divertimento. Ele não sabia se ria ou se voltava a chorar.
Fechou os olhos para se concentrar e tocou a ponta do indicador na testa do amigo. Engoliu em seco, sentindo o coração pulsar acelerado em seus ouvidos.
ㅡ Até depois, Tae.
ㅡ Até, cara, mas não se apresse pra ir embora.
Jimin sentiu um bolo pungente na garganta ao murmurar:
ㅡ Vou tentar não me apressar.
O profundo silêncio de Taehyung veio em seguida.
Jimin não teve coragem de abrir os olhos imediatamente, então, o que fez depois disso foi às cegas, sendo guiado apenas pelo tato e pelos instintos: Ele se agachou e tocou chão, então murmurou à terra um pedido para que ela acolhesse o corpo vazio que fora deixado para trás por Taehyung. Sussurros tomaram seus ouvidos, junto com o som da grama e do solo úmido se movendo.
Quando terminou, Jimin ergueu as pálpebras. Seus cílios estavam úmidos pelas lágrimas e seu olhar tremia, temendo ter feito um trabalho incompleto. Mas ele acabou se surpreendendo. No lugar onde antes estava o amigo, agora jazia um brotinho de árvore pronto para crescer naquela nova primavera.
ㅡ Jimin!? ㅡ A voz de Jungkook ecoou pelo céu do pátio.
Quando o garoto se virou, viu o alfa se aproximando rapidamente com uma expressão apreensiva sobre o rosto.
Assim que chegou perto, Jungkook tocou-lhe a face e a analisou. Depois, virou os olhos para observar o broto de árvore.
ㅡ Jimin... ㅡ Ele engoliu em seco e encarou o ômega novamente. ㅡ E-eu senti você chorando, com angústia, então vim procurá-lo. Assim que cheguei, vi quando ele... O que houve aqui?
ㅡ Ah... Eu o mandei de volta para casa.
O alfa piscou.
ㅡ Casa?
ㅡ Sim, no outro mundo. Taehyung queria ir embora, então dei uma ajudinha.
Expressando sua compreensão com um menear de cabeça, Jungkook olhou de Jimin para o broto sucessivas vezes. Em cada vez, seu semblante perdia um pouco do brilho e da leveza que lhe eram inerentes.
ㅡ Então até esse tipo de coisa você é capaz de fazer. Basta querer ir embora...
A sugestão foi solta no ar junto a uma pergunta implícita.
"Basta querer ir embora", Jimin poderia acabar tendo os mesmos desejos que o amigo do outro mundo?
Ao perceber isso, o ômega se apressou para corrigir a situação.
ㅡ Espera. Ei. ㅡ Segurou o rosto de Jungkook e, depois de mostrar a ele um sorriso sincero, o abraçou com força, deitando a cabeça no topo de seu peito. ㅡ Fique sabendo que o que eu quero é ficar assim por muito, muito, mas muito tempo mesmo.
ㅡ Para sempre?
O calor e a felicidade contidos naquela pergunta fizeram Jimin se sentir ainda mais incerto e pesado, por isso, sua resposta veio só após um instante de hesitação:
ㅡ Para todo o sempre que eu puder viver aqui.
Jungkook notou a incerteza naquelas palavras, a pulsação apertada no peito de Jimin. Ele puxou o rosto do ômega para cima, querendo avaliá-lo outra vez, querendo desvendá-lo. Enquanto isso, seus olhos carregavam uma indagação dolorosa que temia ser respondida.
Jimin se manteve em silêncio, mas o que havia dentro de seu peito estava agora ecoando na alma do alfa, cada pequeno detalhe oculto exposto pela ligação que tinham.
"Por favor, não me peça para explicar", o ômega implorou em pensamentos e Jungkook sentiu aquele pedido, assim como todo o resto.
Desde que verdadeiramente passaram a trabalhar como um só, tudo o que um sentia, o outro também passava a sentir depois de um pouco de esforço mental. Eram como a extensão de seus corpos ou como a sombra de suas fisionomias: conectados intrinsecamente. Portanto, Jungkook não precisava perguntar para saber; às vezes, ele simplesmente sabia, e imediatamente compreendia, como durante a leitura de um livro, quando compreendemos plenamente os estímulos de nossos heróis favoritos por meio da descrição de seus sentimentos.
Sendo assim, com o ômega nos braços, beijou-lhe a testa e murmurou:
ㅡ Quando estiver seguro com o deseja me dizer, e quando acreditar que serei capaz de lidar com aquilo que vem guardando, eu vou ouvi-lo e vou amá-lo como sempre o amei desde o primeiro olhar que pus sobre você. ㅡ Sua voz soou profunda e abraçou toda a alma de Jimin, estabelecendo ali um novo ninho, um espaço privado onde nada mais existia ao redor deles. Nem tempo, nem espaço, nem vida nem morte, nem coisas físicas ou metafísicas.
Segurando as lágrimas, o ômega balbuciou contra o peito dele:
ㅡ Eu te amo tanto, você não faz ideia.
Na verdade, ele fazia. Os dois faziam total ideia.
Mas tudo o que Jungkook disse em seguida, carregando um pequeno sorriso nos lábios, foi:
ㅡ Eu te amo para todo o sempre que você puder viver aqui e depois.
🌕🌖♛🌘🌑
No início, Jimin atravessou os seus dias em Adaman com ansiedade, vivenciando cada um deles como se, a qualquer momento, fosse se deparar com o último.
Durante a manhã e a tarde, ele se juntava a Jungkook nas reuniões da Mesa de Prata e nas viagens pelas regiões mais próximas da capital para auxiliar na reorganização do reino. Durante os intervalos do dia e à noite, ele se reunia com o marido e os filhos para o descanso e o lazer. E, por fim, durante a silenciosa madrugada, ele se fechava em seu antigo quarto para verificar o estado do livro, sempre com uma sensação aterrorizante batendo no peito antes de folheá-lo.
Quando encontrava a última página em branco totalmente imaculada, respirava fundo de alívio, e retornava para os braços de Jungkook ㅡ que às vezes dormia na cama deles nos aposentos reais, e outras vezes se entregava ao sono no ninho.
Jungkook sempre reparava quando Jimin saía escondido, reparava também na aceleração apertada do coração dele, e inconscientemente compartilhava de sua angústia. Incapazes de descansar, seus olhos encaravam o teto até o retorno do ômega. Nesse momento, fingia dormir ㅡ e fingia muito bem ㅡ, até Jimin se deitar em seu colo e adormecer com o rosto colado ao seu peito.
Apenas quando sentia o alívio e a leveza permeando todo o corpo do marido, Jungkook se permitia voltar ao sono.
Dias se passaram assim, nessa mesma rotina, até que eles viraram semanas e as semanas se transformaram meses.
Em determinado momento, as visitas de Jimin ao antigo quarto se tornaram menos frequentes. Noite sim, noite não. Semana sim, semana não. Um mês ou outro...
A vida em Adaman era agora colorida e agitada, por isso, aos poucos, o garoto foi se esquecendo do livro.
Kim Namjoon e Lu Keran se casaram no auge da primavera, e, duas semanas depois, Jimin e Jungkook decidiram realizar a quarta Noite Luar de Soobin ㅡ pois não sabiam o dia exato do nascimento do menino.
Foi um mês inteiro de comemorações por causa das festividades da nobreza.
Não muito tempo depois, Jimin conseguiu tirar de Adwan a última leva de espinhos que faltava para que os cidadãos pudessem continuar suas vidas normalmente. Após isso, reformas foram feitas, simbolizando os novos tempos.
No mesmo período, o casal de reis deu início a uma série de viagens pelo reino para averiguar a situação dos vilarejos e das cidades mais distantes, algo pelo qual Jungkook já era conhecido por fazer em seu primeiro reinado.
Depois de visitarem todo o Leste de Adaman, eles estacionaram num vilarejo bem próximo a uma extremidade da fronteira com Eliah ㅡ o reino caído que em breve seria anexado ao governo adamantino como uma colônia.
Esse vilarejo era rodeado por rios e administrado por uma ramificação do clã Jung. Passariam cinco noites ali, reabastecendo as carroças de comida e recuperando as energias das tropas militares que os acompanhavam, antes de retornarem à viagem. Jimin também pretendia aproveitar o espaço aberto dos campos infinitos para treinar seus poderes sem se limitar a nada. Enquanto Jungkook se concentrava nos assuntos mais burocráticos, o ômega, por exemplo, vagava com Yeonjun e Soobin pelas plantações da população, transformando as safras medíocres em colheitas cheias de fartura.
Após um dia inteiro fazendo coisas assim, e fugindo de cidadãos que insistiam em enchê-lo de adoração exacerbada ㅡ como quando alguém chegou a lhe oferecer um rebanho de cabras como presente de agradecimento ㅡ, ele se sentou numa colina afastada do vilarejo e ficou observando os dois príncipes brincando na grama com algumas borboletas.
Em determinado momento, seus olhos se ergueram para o horizonte sulista e ficaram ali, pensativos.
Não muito longe dessa colina, Jungkook andava ao lado do líder Jung, um alfa centenário que cuidava da ordem daquele vilarejo. O jovem rei discutia com sua companhia de passeio algo sobre impostos à coroa, quando reparou no ômega e em seu semblante distraído.
ㅡ Líder, com sua licença, podemos ter essa conversa mais tarde? ㅡ pediu ao outro alfa, sem desgrudar os olhos de Jimin.
ㅡ Claro, Majestade.
Depois de receber uma reverência de despedida, Jungkook caminhou até a colina onde o ômega estava. Ao parar na base dela, um pouco atrás do marido, perguntou:
ㅡ Os pensamentos de Vossa Magnificência estão muito distantes? ㅡ Seu tom era quase galanteador.
Jimin piscou, tendo um leve susto. Estava tão disperso que não tinha reparado na aproximação do alfa.
Quando virou os olhos para Jungkook, eles voltaram ao brilho normal, e um sorriso apareceu em seu rosto.
ㅡ Você não está mais ocupado?
ㅡ Agora não... ㅡ Jungkook subiu a colina e se sentou ao lado dele. Depois de beijar-lhe a lateral do rosto, murmurou: ㅡ Aconteceu algo? Parece intrigado com alguma coisa.
ㅡ Hm... eu tenho quase certeza de que já vi aquelas montanhas ㅡ explicou Jimin.
ㅡ Sim. ㅡ Jungkook sorriu, compreendendo. ㅡ Mais adiante, em poucas milhas ao Sul, fica o lugar onde nos encontramos pela primeira vez, lembra-se?
Os olhos do ômega se arregalaram.
ㅡ A floresta onde eu... Oh.
ㅡ Isso. ㅡ O alfa exalou um suspiro nostálgico que balançou os fios platinados do cabelo de Jimin. Com a boca roçando próxima ao ouvido dele, murmurou: ㅡ Gostaria de visitar aquele lugar comigo, a sós?
As bochechas do ômega ficaram coradas e ele o empurrou levemente.
ㅡ O que você acha que vamos fazer lá? ㅡ questionou, contendo um sorriso maroto.
Jungkook riu e se deitou na grama.
ㅡ Nada, Vossa Magnificência está pensando muito ㅡ disse, todo cínico. Com uma risada, agarrou a cintura de Jimin e o puxou para que ele deitasse sobre seu peito. O ômega sorriu e se aconchegou em seu calor, fechando os olhos para suspirar fundo.
Depois de alguns instantes, Jungkook voltou a ver as duas órbitas rubras do marido brilhando em sua direção. Havia algo nelas, talvez uma sutil profusão de tensão e nervosismo.
ㅡ Podemos deixar essa visita pra depois? Eu não quero ir lá... ㅡ sussurrou Jimin. Sua voz tremeu por um instante.
ㅡ Claro. ㅡ O alfa franziu o cenho e acariciou o rosto dele com uma mão. ㅡ Você está bem?
ㅡ Sim, é só que... Aquele lugar foi onde tudo começou. Você se lembra da vez em que te pedi para me levar lá, para que eu tentasse... ir embora?
A luz da compreensão recaiu sobre a mente de Jungkook. Ele engoliu em seco e se sentou de novo.
ㅡ Não quero voltar lá, não quero... arriscar ㅡ acrescentou o ômega, saindo de seu colo.
"Ah...". Faziam tantos meses desde a última vez em que havia sentido essa incerteza pesada dentro do peito, mas de repente ela estava de volta, firme e forte, lembrando-o de que nem mesmo Jimin sabia se o "para sempre" deles era eterno.
Por causa disso, a atmosfera entre o casal perdeu parte de seu calor. Cada um se fechou em si mesmo, encolhidos sobre a grama, sem saber o que falar um para o outro. Até que Jungkook viu indícios de espinhos brotando no chão atrás de Jimin e puxou o ômega de volta para o seu colo, então o envolveu com seus braços e o manteve ali, local onde pertencia.
O que os fez relaxar totalmente foi ver Yeonjun engatinhando desengonçadamente ㅡ mas com uma determinação impressionante ㅡ pela grama até se aproximar deles.
Quando bebê se deitou na perna de Jungkook, ele balançou uma mãozinha fechada, agitando-a como se houvesse um prêmio ali.
ㅡ Você achou algo, Yeonjun? ㅡ perguntou Jungkook, tentando abrir os dedos do filho. A miudeza deles não refletia a força que eram capazes de exercer. E quanta força!
ㅡ Espero que não seja uma borboleta esmagada ㅡ disse Jimin, e se virou para ver Soobin, que ainda estava correndo atrás de alguns dos insetinhos voadores.
ㅡ Hm, não é uma borboleta... ㅡ Concluiu Jungkook, depois de conseguir abrir a mão de Yeonjun e ver o conteúdo dela. Com uma careta divertida, acrescentou: ㅡ Mas isso também não é uma boa notícia.
Jimin voltou o olhar para o bebê e avistou a deplorável cena de uma minhoca vermelha retorcida na perigosa mãozinha. O ômega sentiu o estômago voltar para a boca.
ㅡ AH! QUE NOJO! ㅡ exclamou, rolando para trás por sobre o ângulo íngreme da colina.
ㅡ Eu acredito que Yeonjun será um ótimo caçador. ㅡ A voz de Jungkook revelava o seu orgulho. Depois de limpar a mão do filho com um lenço que havia trazido consigo no bolso do sobretudo, deitou o rosto na barriga estufada dele e passou a lhe fazer cosquinhas com a boca e o nariz.
Yeonjun se revirou em risadas gostosas.
Atraído pelos sons do bebê, Jimin voltou para o lado do alfa. Agachado, observou-os com um sorriso.
Jungkook ergueu o rosto e o pegou encarando. Encarou-o de volta e o puxou para um beijo profundo, eliminando completamente a atmosfera fria do momento anterior.
Ainda saboreando os lábios do ômega, inspirou fundo todos os perfumes impregnados nele: o cheiro da grama fresca, dos feromônios doces que lhe eram inerentes, e do forte aroma de bebê de Yeonjun e de Soobin. Seu peito se aqueceu.
ㅡ Eu levarei Yeonjun para lavar a mão no rio que corta o vilarejo ㅡ murmurou.
Jimin balançou a cabeça e disse:
ㅡ Ótima ideia. Vou ficar aqui mais um pouco, pra olhar o Binbin com as borboletas e impedir outro assassinato.
Jungkook soltou uma risada e se afastou com Yeonjun no colo.
ㅡ Volto logo.
Ele desceu a colina com o filho nos braços ㅡ que agora tocava com muita atenção o colar matrimonial no pescoço do pai ㅡ, e caminhou em direção ao centro do vilarejo.
Um pouco antes de se afastar demais, virou-se para observar Jimin de soslaio. Jungkook percebeu que a atenção do ômega não estava em Soobin, nem nas borboletas, mas naquele ponto distante entre as montanhas, onde tudo o que existia entre os dois teve início.
Naquela noite, o jovem rei alfa teve um sono conturbado que o fez despertar de repente, suando frio.
Sua mente parecia ter viajado de volta àquela floresta onde havia encontrado Jimin pela primeira vez, mas os sonhos lhe pregaram uma peça e modificaram suas memórias, dando a entender que o ômega havia ido até lá e desaparecido para sempre.
Quando abriu os olhos, demorou alguns instantes para perceber que estava deitado sobre a cama de um aposento confortável oferecido ao casal real pelo líder do vilarejo. Num gesto involuntário, ele buscou por Jimin entre os lençóis, onde o marido deveria estar dormindo.
Mas não estava.
Ao sentir o vazio, Jungkook se sentou num impulso e ativou seus instintos lupinos. Os olhos vermelhos reluziram pela escuridão do quarto atrás da figura do ômega. Não obteve sucesso. Além dele, só havia Yeonjun e Soobin ali dentro. Os dois príncipes dormiam profundamente num enorme berço ao lado da cama.
Sua busca migrou para os cheiros na atmosfera. O perfume do ômega ainda estava ali, pairando ao redor dele, mas não com tanta força, indicando que já fazia algum tempo desde que Jimin tinha saído.
Assustado e marcado pelo sono ruim, Jungkook se cobriu com um roupão e correu para fora do quarto ㅡ Deuses, o roupão do ômega ainda estava preso ao cabideiro, e a noite lá fora parecia tão fria para andar sem ele... Jimin só havia se esquecido de vesti-lo, certo? Jimin não poderia ter simplesmente sumido, certo?
O rastro do marido pela mansão do Líder Jung foi o que manteve a sanidade de Jungkook controlada. Se o cheiro estava ali, então acabaria em algum lugar.
"Que Jimin esteja nesse lugar...", pensou, aflito.
Havia soldados pelo caminho, guardando seus respectivos postos, mas o alfa não se atentou a perguntar pelo paradeiro de Jimin a nenhum deles, e nem dirigiu a fala aos servos que correram para atendê-lo. Não lhes explicou por que estava acordado, apenas continuou andando e mantendo todos afastados com sua presença intimidadora. Parecia um animal louco buscando uma presa preciosa.
O perfume de Jimin de repente ficou mais forte em suas narinas, o que deveria ser um sinal de que ele estava próximo. No entanto, depois de andar por toda a mansão sem encontrar nem a sombra do ômega, começou a imaginar que seus próprios instintos amedrontados o colocaram sob uma ilusão.
"Jimin, não desapareça outra vez, por favor..."
Foi só quando atravessou a porta que dava para o quintal lateral da grande casa que ele reparou na fumaça que vinha do forno à lenha da cozinha externa.
Porque alguém estaria assando comida àquela hora da noite? A não ser que...
Com passos incertos, Jungkook se dirigiu até lá e parou em frente à porta de entrada da cozinha. Ele sentiu o forte cheiro doce de Jimin mesclado aos aromas de temperos um segundo antes de ver a figura do ômega sendo iluminado pela luz amarelada dos castiçais.
Jimin estava todo sujo, seu rosto e seu pijama eram uma mistura de farinha e cinzas do forno à lenha. Ele parecia concentrado em bater uma massa de pão em cima de uma mesa de pedra. Também havia auxiliares ao seu lado. Dois empregados da mansão cortavam verduras e um pedaço de carne em cima de um balcão próximo.
ㅡ Pronto! Acho que consegui o ponto certo. O que me dizem? ㅡ perguntou Jimin aos auxiliares enquanto exibia o bolo branco que havia deixado sobre a mesa.
ㅡ Muito bom, Vossa Magnificência.
ㅡ Sim, sim, muito bom.
ㅡ Obrigado, obrigado. Agora eu vou transformar isso aqui numa circunferência bonitinha e... An? ㅡ Ele ergueu os olhos para a entrada da cozinha quando enfim sentiu a aproximação do alfa. ㅡ Jungkook?
Jungkook atravessou a porta e, com ele, o vento frio da noite. Sua face lívida assustou os empregados, que o reverenciaram se afastaram da cozinha.
Ele circulou a mesa e parou diante de Jimin, então tocou o rosto do ômega com uma mão trêmula.
ㅡ A cama estava vazia ㅡ murmurou, controlando a respiração.
ㅡ Ah, foi por isso que você acordou? Eu pretendia voltar depois de fazer isso... ㅡ Jimin apontou para a massa sobre a mesa. ㅡ É pra ser uma pizza. Estou usando massa de pão para fazer a base porque não sei a receita direito. Você quer experimentar quando estiver pronto?
ㅡ Pizza? ㅡ Esse nome não lhe era estranho, mas sua mente ainda estava atordoada demais para pensar em comida. ㅡ Você deixou o roupão no cabideiro... Por que saiu sem ele se está tão frio?
ㅡ Ah, hehe. Foi sem querer. Eu acordei pensando naquela minhoca que o Yeonjun esmagou e... ㅡ O rosto do ômega ficou verde. ㅡ Enfim, corri pra fora do quarto o mais rápido que consegui e vomitei assim que saí da mansão. Fiquei um tempo aqui fora esperando a sensação ruim passar pra poder voltar ao quarto, mas aí bateu uma fome de pizza...
Jimin passou a mão pelo rosto, o que deixou suas bochechas ainda mais cheias de farinha.
ㅡ Desculpa, eu sei que 'tô agindo feito um maluco, mas juro que não teria inventado de assar algo a essa hora da noite se não fosse pela insistência super gentil daqueles empregados. Eu só ia pedir alguma fruta pra matar a fome, mas eles sugeriram fazer algo mais elaborado e... e... Ei, por que você está chorando?
Jimin limpou as mãos numa parte do pijama que não estava sujo com farinha e cinzas, e usou um polegar para secar a lágrima que caía pela lateral do rosto de Jungkook.
O alfa o segurou nessa hora e acariciou a palma dele com os lábios.
ㅡ Por um momento, foi como se tivesse sumido. ㅡ Suas palavras fizeram Jimin se encolher. ㅡ Por um instante, toda a mansão foi tomada pelo seu cheiro, e eu pensei que tivesse ficado louco depois de tê-lo perdido...
ㅡ De-desculpa, eu não queria...
ㅡ Mas agora eu compreendi tudo. ㅡ Um sorriso trêmulo se abriu no rosto do alfa. Ele pegou a outra mão do ômega e as colocou juntas sobre o peito. Sua emoção era palpável, mas também carregava um misto de insegurança. ㅡ Jimin, meu amor... nossa família vai ficar maior.
Jimin levou um minuto inteiro para entender o que ele estava dizendo.
Depois de um estremecimento, o ômega se afastou um pouco de Jungkook e apoiou as duas mãos na mesa, então abaixou a cabeça e fechou os olhos com força.
ㅡ Jimin...
ㅡ Você vai me afastar de novo, como fez naquele tempo? ㅡ a voz do garoto saiu embargada.
ㅡ Não. Nunca mais. ㅡ Jungkook o puxou para um abraço forte. Contra seus cabelos, continuou sussurrando: ㅡ Nunca mais, nunca mais, nunca mais...
Jimin enfiou o rosto no peito dele e soluçou. Permaneceu assim por alguns minutos antes de enxugar os olhos e se separar do alfa. Lavou as mãos com uma bacia de água limpa que havia sobre a pia e voltou a manusear a massa de pão em silêncio.
ㅡ Pode me ajudar a cortar o queijo? Ele está ali. ㅡ Apontou para o cubo branco de queijo ao lado das verduras cortadas pelos empregados.
ㅡ Claro. ㅡ Depois de lavar a mão, Jungkook pegou uma faca e passou fazer o que lhe foi pedido.
Enquanto cortava o queijo em tiras pequenas, ele observava o ômega de soslaio, verificando seu semblante contraído e concentrado. De vez em quando percebia a face dele ficar vermelha, como se estivesse prestes a chorar.
ㅡ Jimin, se você não se sente bem com...
ㅡ Não diz isso! Eu... eu já superei essa parte há muito tempo ㅡ Jimin largou a massa e começou a socá-la com os punhos fechados. ㅡ Só estou com fome e com medo, e também nervoso. É muita coisa passando pela minha cabeça neste momento!
Nessa hora, Jungkook viu algumas corujas e outros pássaros noturnos se aglomerando no parapeito da janela da cozinha. Pelos sons que ouviu no telhado, a cozinha externa devia estar coberta por aves.
Com um pequeno sorriso no rosto, ele acariciou as costas do ômega para acalmá-lo e confortá-lo.
Jimin se entregou à esse toque e encostou a cabeça no ombro do alfa. Em seguida, virou-se na direção dele e o encarou no fundo dos olhos.
Em sua mente, um pensamento angustiado pairou:
"Isso significa que minha história aqui ainda está muito longe de acabar, não é?"
Jimin tocou o ventre inconscientemente.
"Não faz sentido este mundo me oferecer algo assim duas vezes se eu não for ficar para ver o futuro com você, Jungkook. Certo?"
Seus olhos se encheram de lágrimas, mas a maior parte delas era fruto de suas esperanças felizes.
Jungkook as secou com ternura, e limpou todo o rosto do ômega com o tecido do roupão. Depois, encostou a testa à dele para acalmar os lobos no interior de ambos.
Alguns instantes de silêncio se passaram, antes de ele murmurar:
ㅡ Hm... será que é suficiente?
ㅡ O-o quê? ㅡ Jimin contraiu as sobrancelhas.
ㅡ O queijo que eu cortei é suficiente para a sua... hm... pizza?
ㅡ Ah.
Os dois relaxaram e se desgrudaram.
ㅡ É sim. É suficiente. ㅡ Jimin voltou a se concentrar na massa. Agora ele a abria para colocar as verduras, a carne, o queijo e um improvisado molho de tomate.
Quando terminou a preparação, o garoto empurrou a mistura para dentro do forno à lenha e ficou ali, observando as chamas, com Jungkook abraçando-o por trás e apoiando a cabeça na curva de seu pescoço.
ㅡ Você está feliz com essa... notícia? ㅡ perguntou baixinho, encolhendo-se.
Os braços de Jungkook o envolveram com mais força e uma das mãos dele desceu até a sua barriga.
ㅡ Não está óbvio que sim? ㅡ Os feromônios do alfa vibravam ao redor dos dois. ㅡ Mas... e quanto a você?
ㅡ ... eu vou me acostumar com a ideia. Mas, estou bem. ㅡ Eles entrelaçaram as mãos. ㅡ Não vou fugir como naquele tempo... ㅡ Os ombros de Jimin chacoalharam com uma pequena risada ao se lembrar do passado, e Jungkook compartilhou de seu divertimento.
A comida ficou pronta não muito tempo depois.
Às sós na cozinha, aproveitando a companhia um do outro, o casal saboreou a pizza improvisada e descobriu que a receita de Jimin era, na verdade, muito deliciosa. Pizza se tornou o novo prato favorito de Jungkook.
Mais tarde, voltaram ao quarto com os estômagos satisfeitos. O ômega despiu-se das vestes sujas de farinha e se aconchegou com o marido na cama, os dois enrolados sob um mesmo cobertor pelo resto da noite. Eles não conseguiram adormecer de imediato, pois, em seus âmagos, uma profusão de sentimentos agitava-os.
Quando isso se tornou um pouco sufocante para Jimin, o garoto contemplou a imagem que tinha do rosto relaxado de Jungkook, iluminado pela luz do luar, e, com um suspiro, sussurrou:
ㅡ É, tudo bem... estou feliz.
Os olhos do alfa se abriram na escuridão. Depois de um segundo, suas órbitas negras se transformaram em dois fragmentos de uma noite estrelada, cheia de brilho reluzente.
ㅡ Está mesmo? ㅡ Jungkook perguntou, e Jimin conseguiu sentir o lobo dele dando cambalhotas.
Nervoso e, de certa forma, animado, o ômega abriu um sorriso enorme ao dizer:
ㅡ Estou. Estou sim.
No final daquela semana, a caravana real se retirou do vilarejo e partiu para completar a viagem pelo reino. Ela passou próximo à floresta entre as montanhas ㅡ o local onde Jimin e Jungkook se conheceram pela primeira vez ㅡ, mas, por não existir mais nenhuma comunidade humana vivendo por aquelas bandas, sua rota rapidamente se desviou de lá, e o casal jamais voltou àquele lugar.
As semanas se passaram e a primavera deu lugar a um verão escaldante, que passou rápido e se transformou num outono de fartura.
A primeira noite luar de Yeonjun ocorreu exatamente no início da época das maiores colheitas, quando todas as florestas de Adaman começavam a ganhar folhas avermelhadas, e a população realizava festivais com os frutos que suas plantações conseguiram produzir.
Nesse mesmo período, a viagem dos reis chegou ao fim e eles retornaram para a capital real, que também se movimentava com os ganhos das últimas colheitas.
Aos poucos, contudo, essa agitação foi se dissipando com a chegada do inverno.
As sequelas do último período invernoso ainda pairava na memória das pessoas, atormentando-as. Então, como que para amenizar o clima não acolhedor, um príncipe e uma princesa nasceram na noite mais fria daquele ano, gêmeos que aqueceram as notícias do reino e os corações da família real.
Jungkook não saiu do lado de Jimin em nenhum instante. Foi uma longa e dolorosa noite para ambos, mas, quando o choro da princesa Yeji e, minutos depois, do novo príncipe, Hyunjin, reverberou pelo castelo, toda a dor foi esquecida. Só restou alegria e um sorriso abobalhado na face do rei alfa.
Quando o inverno acabou, a neve derreteu e os dias em Adaman continuaram num ciclo interminável.
Meses se transformaram em anos, que rapidamente viraram décadas. A vida no castelo real nunca mais voltou a ser monótona, não com o crescimento do novo clã Park ㅡ que agora contava com sete integrantes ㅡ, e sua inerente hiperatividade e criatividade para virar tudo de cabeça para baixo.
Jimin testemunhou o tempo passar, as crianças crescerem e se tornarem lupinos adultos com vidas e desejos próprios; viu Adaman aumentar seu território e pacificar todo o continente com seu poder, e Jungkook envelhecer serenamente enquanto reinava da melhor forma que um monarca seria capaz.
Às vezes, pegava o alfa encarando o horizonte com um semblante distante, provavelmente lembrando-se do irmão. Nessas horas, ele o abraçava e os dois ficavam assim por longos instantes, até tudo se dissipar.
Jimin nunca mais voltou a pensar no livro e naquela última página em branco, ele agora só aproveitava os seus dias e vivia intensamente aquela louca e completamente maravilhosa aventura. Mas, percebeu que, diferentemente daqueles ao seu redor, o tempo não o alcançava. Depois de vinte, trinta, quarenta anos, ele continuava o mesmo garoto de sempre, imutável e jovial, apenas sua mente ia amadurecendo com as circunstâncias, transformando-o num ancião com um corpo de menino.
No início, isso o preocupou, pois, o avanço das idades ia marcando Jungkook e seus filhos, e a velhice deles se aproximava juntamente com o que viria depois dela.
Toda noite ele se deitava ao lado do marido e o observava adormecer. Nesses momentos, verificava as linhas em sua pele, as marcas da idade, e tentava usar os poderes que tinha para manter seu corpo jovem e saudável por mais tempo. Não queria perdê-lo, não queria dizer adeus a nada...
Até que, certa vez, durante um desses episódios, Jungkook despertou e segurou a mão dele. Os olhos negros continuavam os mesmos, nem mesmo o tempo seria capaz de modificá-los. Ainda que todos os universos existentes decidissem entrar em choque e mudar suas relatividades, aquela negritude cálida ainda abraçaria Jimin com a mesma intensidade de sempre.
"A história precisa acabar", um sussurro atravessou a janela do quarto e chegou aos ouvidos do ômega.
Nesse instante, ele entendeu e se resignou.
Estava na hora.
No dia seguinte, bem cedo da manhã, Jimin levou Jungkook para os campos abertos de Adwan. Seus filhos e netos se sentaram ao redor deles e os assistiram.
O ômega então puxou de dentro de seu manto um velho e familiar livro, e o mostrou ao marido.
ㅡ Quero te contar uma história maluca ㅡ murmurou, encostando a cabeça nos cabelos grisalhos de Jungkook.
O alfa sorriu, compreendendo o que estava acontecendo.
ㅡ Ela tem um final feliz?
Uma lágrima escorreu pelo rosto de Jimin.
ㅡ Tem sim. Tem o melhor final de todos.
ㅡ Então... conte-me.
Enquanto Jimin lhe contava, a folha em branco que restava ia se preenchendo com um resumo de todos aqueles anos que viveram em Adaman.
A última frase surgiu acompanhada pelo último suspiro de Jungkook, que também se tornou o último de Jimin, pois a alma de um não poderia ir embora sem a do outro.
Nesse momento, os dois caíram num pacífico sono eterno, e foram envolvidos pelas forças da terra até se tornarem uma grande e pálida árvore com folhas vermelhas radiantes, a qual deixaria aquele mundo marcado pela história de amor dos dois reis da profecia.
Quando Jimin acordou em seu mundo de origem, em meio às árvores de uma praça deserta, vestindo roupas que não reconheceu num primeiro momento e se sentindo fisicamente diferente do que havia sido durante o que foram décadas em Adaman ㅡ mas que aparentemente só foram minutos nessa realidade ㅡ; ele se deparou com duas cópias do livro de Kang Song jogadas no chão ao seu lado. A original, que pertencia à irmã de Song, e uma idêntica, que trazia consigo os eventos vivenciados por Jimin e uma pequena mensagem deixada pelo autor na primeira folha:
"Obrigado por viver a minha história da melhor forma".
ㅡ E-eu que agradeço... ㅡ O garoto abraçou forte a réplica do livro antes de começar a folheá-lo.
Na última folha, seus dedos acariciaram o papel preenchido, delineando todos os detalhes entre as letras e os locais onde jaziam os nomes dele e de Jungkook, e pararam nas palavras finais do livro:
Eles viveram felizes para sempre... Fim.
(Da esquerda para direita: Hyunjin, Jungkook, Jimin, Nini, Yeonjun, Soobin, Niki, Yeji)
Fiz esse desenho para mostrar a família do nosso casal real aos leitores da fic. Ela ficará aqui e nas outras plataformas onde posto EUVUO, apenas. É meu presente a vocês💜
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