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|33|♛|Almas Quebradas|

Bem-Vindos ao PENÚLTIMO CAPÍTULO, HAHAHA

E não, isso não é uma mentira de 1º de Abril, nós realmente estamos no penúltimo capítulo. Depois daqui, teremos o último e um epílogo!

Enfim, agora sobre o que vocês vão encontrar nos próximos parágrafos: MORTE, SANGUE E DESTRUIÇÃO (brincadeiraaaa, ou será que não?). Falando sério, estamos no meio de um desfecho de arcos de dois personagens importantes para a fic, e, por causa disso, eu infernizei os dias de duas amigas (Mvixey, minha maravilhosa leitora beta, e a AnnaD-2, meu bolinho) que me ajudaram a não jogar tudo pra cima por causa das inseguranças que de repente apareceram (jamais pensei que finalizar algo fosse tão difícil hahaha). Sobre esses personagens, eu escolhi mudar o final original de um deles, pois era o que me parecia ser mais justo. Espero que gostem dos rumos que tomei para EUVUO...

Antes de ler, deixe o seu ⭐VOTO⭐, comente sempre que puder e compartilhe para seus amigos fanfiqueiros e adoradores de ABO💜

Tenham uma BOA LEITURA!

#LoboDePrata

♛|Almas Quebradas|

Oceano nos entornos de Hayang

Preso num silêncio atormentado, Jeon Jungkook assistiu ao irmão mais velho se debater e grunhir sobre a areia como um animal que sofria torturas. Diante do corpo deitado de Jung Hoseok, Yoongi perdia-se na própria irracionalidade, sofrendo com uma tormenta de sentimentos e pensamentos incontroláveis depois do que tinha feito com o amor de sua vida.

Jungkook arfou quando viu lágrimas jorrando dos olhos do irmão e um poço de tristeza revestindo o semblante dele. Aquilo era uma reação humana, a primeira que via em Yoongi desde o dia em que o encontrara morto nos fundos do castelo de Adwan.

Ficou ainda mais perplexo quando percebeu que, de súbito, o mais velho lutou para se mover até um dos troncos de árvore quebrados pela briga e pegar uma haste de madeira afiada. Em seguida, ele continuou a lutar, mas dessa vez para enfiar a ponta na própria garganta. Era uma batalha contra seu próprio corpo, contra a besta que residia nele.

Jeon Jungkook viu o mundo parar nesse instante. O tempo não existia mais em sua mente, apenas a cena de Yoongi prestes a cometer suicídio.

Depois disso, o irmão estaria morto, junto com sua maldição. Não era isso o que todos eles mais desejavam? Não foi por isso que aquela luta na praia aconteceu? Para que encontrassem um fim definitivo naquilo tudo?

Mas, sem perceber, Jungkook voltou à forma humana e se moveu por conta própria na direção de Yoongi para então segurar a haste na mão dele.

O jovem Jeon não sabia direito como havia chegado àquela situação, ele apenas piscou e se viu segurando a mão do irmão mais velho. Suas palavras seguintes, jorradas num murmúrio embargado, também saíram sem que o rapaz pensasse muito:

ㅡ Jung Hoseok não está morto. Escute o coração dele batendo ㅡ disse, como num alento, recheado de uma solidariedade que não lhe era estranha, mas que também não deveria existir naquele momento e muito menos com aquela pessoa, não depois de tudo o que ela havia feito a ele.

Petrificado, porém, atento, Yoongi encarou o corpo de Hoseok e se permitiu ouvir os sons ao seu redor. O pulsar ritmado no peito do alquimista fez suas mãos tremerem e outra torrente de lágrimas cair.

Logo em seguida, contudo, ele afastou bruscamente o toque de Jungkook e voltou a posicionar a haste na própria garganta. Estava determinado a enfiá-la.

ㅡ E-em algum momento eu o matarei, assim como matei você ㅡ disse, engolindo em seco. ㅡ Preciso fazer i-isso. O sangue que derramei precisa acabar em mim e pelas minhas próprias mãos.

Sua fala foi o mesmo que arremessar a alma de Jungkook num precipício. Engolindo em seco, o caçula piscou, afastando algumas lágrimas, e tentou outra vez segurar a haste. Yoongi saltou para longe, tremendo como numa convulsão.

ㅡ Não posso... não posso permitir que o meu irmãozinho seja manchado pelos meus demônios internos ㅡ disse o rei loiro, o príncipe morto. Seus olhos de ouro eram o Sol do amanhecer mais triste.

"Então ele tem noção do que pode acontecer...", pensou Jungkook, com o peito destroçado. "Ele sabe que, se eu matá-lo, herdarei a maldição, então quer me poupar disso... e, talvez, de outras coisas mais", concluiu, afundando-se num silêncio mortal.

Mas as palavras que Yoongi soltou em seguida foram o fundo do poço para ele:

ㅡ E-eu sinto muito, Jungkook.

E se preparou para enfiar a ponta de madeira na garganta.

Teria sido o final que todos ansiavam e que precisavam urgentemente. A queda de uma dinastia fracassada, o desfecho de um ódio hereditário e de uma praga que não poderia ser parada com simples magia. Com o fim de Min Yoongi, Adaman não teria outros conflitos envolvendo a realeza, as coisas retornariam à linearidade de antes de Wang Nara ter permitido a existência de um harém instável, e tudo seria pacífico outra vez.

E também nada de julgamentos para acusar os culpados de tanta dor, apenas a rápida condenação oferecida pela morte.

Mas Jeon Jungkook sempre odiou a morte. Ele a odiava muito mais do que um dia chegou a odiar o irmão mais velho, então como lhe daria tal poder de decisão?

Não... O único que tinha o direito de decidir e condenar era Jungkook, dentre todos. O peso estava em suas mãos, pois tinha sido uma das maiores vítimas. Ele perdeu pessoas amadas e sofreu as consequências de algo que não escolheu.

"Mas qual de nós dois escolheu alguma coisa, no fim das contas, Yoongi?", pensou, sentindo amargura.

"O que devo fazer conosco, Yoongi?", queria gritar.

No lugar de gritar, ele destruiu em mil pedaços a haste que o irmão segurava e o agarrou pelo pescoço, erguendo-o no ar. Em seguida, encarou-o com olhos em chamas.

ㅡ E-eu tenho... que morrer... antes que seja tarde ㅡ balbuciou Yoongi. Seu corpo já voltava a se contorcer, cedendo o controle à besta em seu interior.

ㅡ Mortes desnecessárias devem ser evitadas. ㅡ Jungkook recitou um mantra antigo que sempre ouvia a mãe alfa murmurando. ㅡ Eu não vou deixar você morrer outra vez. Já chega para mim. Já basta.

ㅡ Mas mo-mortes necessárias devem ser realizadas. ㅡ Em sua reles sanidade, Yoongi reconheceu e completou a citação dita pelo caçula. ㅡ Nara teria me de-deixado morrer.

ㅡ Ela está morta. Todas elas estão, junto com suas desavenças. Acabou, Yoongi.

Com um golpe brutal, Jungkook jogou a cabeça do irmão mais velho contra a parede de rochas. Por uma pequena diferença de força, não rachou-lhe o crânio, apenas o deixou preso na inconsciência mais profunda de todas. Um nocaute certeiro que o apagaria e apagaria o monstro que ainda residia dentro dele por um bom tempo.

Depois disso, Jungkook afastou-se e caiu na areia, de joelhos. Cabisbaixo e tremendo, ele tentou respirar fundo, mas havia um bolo desconfortável em sua garganta.

Em seguida, olhou para o irmão desmaiado ao lado do alquimista Jung, para as feições suaves que lhe eram dolorosamente familiares.

Teria tomado a decisão certa? Em sua vida de príncipe e de rei tinha tomado inúmeras decisões pelo bem daqueles ao seu redor. Dessa vez não seria diferente, porém, essa parecia mil vezes mais difícil.

Agora só lhe restava uma opção, a mesma que já tinha em mente muito antes de começar a lutar contra Yoongi: Aprisionar o irmão num lugar onde ele nunca mais poderia voltar a ferir alguém, assim como o portador original da maldição fora aprisionado. O mais velho não teria uma vida digna, mas também não morreria. Jung Hoseok seria grato e as coisas poderiam voltar ao normal em Adaman.

No entanto, Jungkook se sentiu novamente vazio ao pensar nessa opção. Um incômodo crescente que provavelmente iria acompanhá-lo pelo resto de sua vida.

Ele então olhou para os pássaros sobre os coqueiros da praia, e, como se sentissem sua atenção, logo foi encarado de volta por eles. Depois, murmurou:

ㅡ Tragam-me o Ômega de Prata. Seu marido o chama.

Os pássaros bateram suas asas e alcançaram voo no mesmo instante.

🌕🌖♛🌘🌑

Park Jimin precisou se segurar muito e cantar alguns versos de Back in Black, do AC/DC, para não perder a cabeça e arrancar fora cada uma das nove caudas felpudas e douradas de Seokjin, pois seus instintos paternais de ômega apitavam em sua mente.

Ele se aproximou devagar do monte de caules que envolviam o feiticeiro raposa e o encarou com olhos estreitos, avaliando-o.

Seokjin o encarou de volta, com o olho que restava, e disse, sarcástico:

ㅡ Finalmente o protagonista que eu queria apareceu.

Os olhos de Jimin ficaram ainda mais estreitos.

ㅡ Parece que a Hana acabou com o seu olho ㅡ ele falou, dando uma risadinha sádica.

ㅡ Posso recuperá-lo com minha magia. ㅡ O feiticeiro balançou as mãos, indiferente. ㅡ Hana é o nome daquela ave violenta?

ㅡ Sim, curtiu? Peguei esse nome da vovó Min que me ajudou a fugir de Hayang quando eu estava muito... muito mal. ㅡ Jimin deu um passo à frente e tocou o caule. Com isso, a madeira se abriu e libertou Seokjin. ㅡ Eu estava muito mal por causa das coisas que você fez. E Min Hana se sacrificou para me proteger dessas coisas.

Estranhando a nova liberdade, Seokjin se afastou de sua pequena prisão e franziu o cenho para Jimin.

O outro rapaz continuou a falar:

ㅡ Não precisa me olhar assim, eu não te libertei de verdade. Só estou te dando tempo pra você fazer o que disse e curar o seu olho lascado.

O homem raposa piscou de novo, sem entender aquele esquisito ato de piedade de Jimin, mas aproveitou a deixa para recompor as estruturas do corpo. Ele invocou sua magia interna ㅡ ou o pouco que restava dela ㅡ, e deixou que ela fluísse para os membros que mais precisavam de cura no momento, pois não tinha poder o bastante para restaurar os inúmeros machucados que carregava.

Concentrou as forças no olho lacerado e, depois de um minuto, voltou a enxergar através dele.

Quando a magia acabou, Seokjin se virou para Jimin.

ㅡ Acabou? ㅡ Jimin quis saber.

ㅡ Digamos que sim. ㅡ O feiticeiro arqueou uma sobrancelha para ele e voltou a usar seu tom afiado de sempre. ㅡ Hm, não foi tão difícil conseguir uma audiência com...

Não teve tempo de terminar a fala, pois logo foi acertado pelo punho de Jimin e viu estrelas.

ㅡ Ótimo. Eu não queria encarar o seu olho e ter pena na hora de quebrar a sua cara ㅡ disse o ômega, estalando os dedos da mão.

Suas íris piscaram, repletas de raiva, e, logo em seguida, hastes de madeira brotaram do solo debaixo de Seokjin, empurrando-o para cima e fazendo-o voar pelo céu da floresta.

Ao longe, ouviu-se o grito do homem raposa atravessando as nuvens. Antes que ele voltasse a tocar o chão, uma nuvem de pássaros o capturou no ar, ou, mais precisamente, capturou suas caudas e o manteve suspenso acima das copas das árvores, de cabeça para baixo, como um animal abatido.

ㅡ Pare com isso! ㅡ Seokjin já sentia todo o sangue descendo para o cérebro. ㅡ Eu não vim para lutar com você!

ㅡ Claro que não veio para lutar ㅡ Jimin surgiu entre as árvores, sendo erguido por uma que nasceu apenas para elevá-lo do solo.

Quando chegou bem perto do feiticeiro, sorriu, malicioso, e se inclinou para encará-lo no fundo dos olhos.

ㅡ Você não é idiota, eu já saquei. Pelo menos não é estrategicamente idiota. Então é óbvio que não viria até aqui sem magia alguma e sem nenhum reforço para se arriscar numa briga comigo ㅡ murmurou com dentes trincados. ㅡ Se bem que até trouxe uns reforços, mas eu já prendi cada um daqueles soldados que você enfiou no acampamento das minhas crianças.

ㅡ Das suas... crianças? ㅡ Seokjin riu, cheio de escárnio.

O brilho vermelho ficou mais forte nos olhos de Jimin.

ㅡ É, exatamente. Minhas crianças.

ㅡ Certo. E o que mais? Você é um rei que governa pessoas fantasiosas em um reino fantasioso? ㅡ O hematoma estufado no canto da boca do feiticeiro não o impediu de abrir um imenso sorriso sádico.

Mas o sorriso de Jimin foi ainda maior.

ㅡ Neste mundo, eu não sou só um rei. Eu sou um deus. E você é um monstrinho fracassado. ㅡ Ele deu tapinhas no rosto de Seokjin. ㅡ E, como eu disse antes, você não é estrategicamente idiota. Mas você é muito idiota em outros pontos. Muito mesmo. Um idiota por não aceitar que este lugar é real, que está machucando pessoas reais e que está destruindo a maior criação de alguém que te amou de verdade, lá atrás, quando sua vida era realmente uma merda.

O semblante de Seokjin travou e perdeu totalmente a cor.

ㅡ O-o quê?

ㅡ Kang Song, conhece esse nome? Vou chacoalhar o seu cérebro pra te ajudar a lembrar.

Jimin assobiou e, como se isso tivesse sido uma ordem, os pássaros que seguravam as caudas de Seokjin o lançaram de volta ao chão, não sem antes rodá-lo no ar.

Ele tentou se segurar nos galhos das árvores, mas, por causa da velocidade da queda, acabou se espatifando inteiro na madeira, nas folhas finas e, por fim, no chão duro de terra.

Com o corpo dolorido, o feiticeiro tentou se sentar e recuperar o equilíbrio. Seus olhos observaram Jimin enquanto ele era descido pela árvore que o sustentava, mas não o viam realmente, pois sua mente viajou para outro plano.

ㅡ Isso é algum tipo de brincadeira? ㅡ perguntou num murmúrio seco quando o outro rapaz se aproximou alguns passos.

ㅡ Não, você é o único que acha que estamos brincando por aqui. ㅡ Jimin se agachou na frente dele. ㅡ Na verdade, você quer acreditar que estamos apenas brincando, que este lugar é apenas uma grande encenação ou sei lá o quê. 'Tá desesperado porque acha que foi otário o bastante durante sua vida no outro mundo a ponto de ser condenado a viver num lugar criado pelo cara que amava, onde você aparentemente não existe. Ou, se existe, é um monstrinho sem passado, presente e futuro.

Nervoso e confuso, Seokjin se arrastou para trás, tentando se afastar, mas suas costas bateram no tronco de uma árvore.

ㅡ Cala a boca, não tem como você saber disso...ㅡ A voz dele falhou.

Jimin não calou a boca.

ㅡ Você 'tá apavorado com a ideia de não existir na criação da pessoa mais próxima que já teve na vida, e sente ciúmes de todos que vivem aqui, principalmente dos supostos protagonistas deste mundo. Seokjin, você é um coitado ridículo porque, quando chegou aqui, fez a pior escolha por causa de um mal entendido enooorme. Um mal entendido causado por você mesmo, por nunca ter sido sincero com ele, com o Kang Song.

Com dentes trincados e olhos marejados, Seokjin puxou o fôlego repetidas vezes para tentar se acalmar.

ㅡ Que merda você está falando? ㅡ ele ralhou. ㅡ Co-como conhece o Kang Song!?

ㅡ Ah, eu falei com ele um tempinho atrás. ㅡ Jimin deu de ombros.

Seokjin piscou, em completo choque, e começou a tremer. Seu rosto perdeu totalmente a cor.

ㅡ Que porra você está dizendo...? Ele está morto. ㅡ Lágrimas começaram a cair pelo seu rosto. ㅡ Eu estava lá quando ele morreu. Fui atrás dele depois que discutimos na universidade e encontrei o carro virado no meio da estrada. Eu vi o corpo, eu vi o funeral, eu vi toda a merda, então COMO CARALHOS...???

A voz dele falhou e foi tomada por um choro esganiçado de alguém que parecia estar perdendo o fôlego.

Jimin abaixou o olhar e, pela primeira vez desde que tinha aparecido ali, decidiu ceder um pouco da raiva e respirar fundo.

ㅡ Ele está aqui, neste mundo. O Kang Song veio para cá assim como você, e viu tudo o que aconteceu. Ele sabe o que rolou contigo lá fora e também aqui dentro, e 'tá triste pra caramba, sabia?

ㅡ MENTIRA. Que merda é essa!? ㅡ Seokjin começou a rir, incrédulo e miserável. Suas lágrimas não paravam de cair. ㅡ O que você quer com tudo isso, an? Quer que eu me sinta mal e, sei lá, me renda? Pois, sabe? Eu te atraí até aqui porque já deu pra mim. Foda-se tudo, eu não ligo mais pra o que vai acontecer comigo ou com este lugar. Já consegui o que eu queria, já mexi no que eu pretendia mexer, agora só quero morrer de vez. Eu. Quero. Sumir. Ha!

Ele arregalou os olhos injetados e úmidos e aumentou o sorriso. Parecia ter perdido um pouco da sanidade naquele momento.

ㅡ Mas não quero morrer por um maldito personagem ㅡ acrescentou ㅡ, quero que seja por alguém real. Eu sei que você me odeia por conta das coisas que fiz, e também é forte, então pode me matar rapidinho. Vamos! ㅡ Ajoelhou-se e abriu os braços, expondo-se totalmente.

Jimin o observou em silêncio e se levantou. Havia uma sombra em sua face apagando o brilho etéreo que agora lhe era inerente.

Depois de se afastar um pouco, murmurou:

ㅡ Eu vi a história de vocês dois, e, ao contrário do que esse seu raciocínio lento pensa, o Song te amava pra caramba. Ele construiu a ideia deste mundo com a intenção de se refugiar de alguma forma, de esconder esses tipos de sentimentos que só gente como a gente sabe como é difícil de ter, de guardar e de vivenciar...

O feiticeiro engoliu em seco.

ㅡ Pare de perder tempo com historinhas e me mate.

ㅡ Era pra ter sido você e ele no lugar de Jungkook e eu.

Seokjin comprimiu os lábios.

ㅡ Pa-pare com isso. Para de falar essas coisas sem sentido...

ㅡ Você não quer me ouvir porque sabe que errou demais, e sabe que, se eu estiver falando a verdade, tudo o que fez até agora foi apenas uma grande auto sabotagem sem sentido que vem machucando aquele que ama.

Os braços de Seokjin se abaixaram, suspensos, e ele se inclinou para frente ao reprimir outra torrente de lágrimas.

ㅡ Po-por que ele falaria com você, afinal de contas? Por que o Song não falou comigo quando eu apareci a-aqui? Ou quando eu fui capturado e vendido e estuprado... Quando todas aquelas pessoas morreram depois que eu me desesperei e explodi tudo? ㅡ A voz dele não passava de um balbucio trêmulo. ㅡ E-ele me odeia tanto assim, por isso não quis... não quis aparecer pra mim?

ㅡ Ele apareceu, você só não sabia que era ele. ㅡ Jimin sentiu um peso ruim no peito quando acrescentou: ㅡ O Song foi o primeiro Ômega de Prata, antes de mim.

Demorou um instante para que o feiticeiro pudesse ligar os pontos e receber o choque da compreensão. Quando isso aconteceu, ele sentiu o coração errar uma batida e sua alma se fragmentar. Curvou-se ainda mais e abraçou o próprio tronco.

ㅡ E-está dizendo que... que eu o matei duas vezes? Primeiro, quando brigamos na universidade ㅡ arfou ㅡ, e, segundo, naquela campina... Aquele lobo...

Ele começou a soluçar. Seu corpo parecia prestes a se quebrar.

ㅡ Ma-mas você disse que falou com ele há pouco tempo, e-então como...? Isso não faz sentido. Nada disso faz...

Jimin desviou o olhar porque, por mais que carregasse rancor pelas coisas que tinha sofrido nas mãos de Seokjin, solidarizava-se pelo que tinha acontecido na vida dele. Também sentia a necessidade de corrigir a raiz do problema, por isso, fechou os olhos e tentou se conectar com as vozes que de vez em quando murmuravam ao seu redor.

"Kang Song, você está aí?", seus pensamentos reverberaram para longe, conquistando distâncias sobrenaturais.

Recebeu ecos em resposta:

"Estou. Sempre estou aqui."

"Sabe quem 'tá aqui? Seu amigo problemático."

Uma risada fraca e embargada ao fundo, como se Song estivesse chorando.

"Eu gostaria de falar com ele... Mas nunca descobri uma forma."

"Vou testar alguma coisa."

Jimin se ajoelhou na frente de Seokjin e, depois de o feiticeiro permitir sua completa aproximação, colocou as mãos nas laterais da cabeça dele. Em seguida, fechou os olhos e tentou transmitir-lhe qualquer coisa, qualquer vibração que pudesse fluir.

Nestes entrementes, ramos de marfim brotaram e se enrolaram em seus braços, atraídos pelo poder que pairava naquele ato, e viajaram até a face de Seokjin, transformando-se em fios de ligação que levaram o homem raposa a um outro plano.

Quando piscou, Seokjin não estava mais na floresta, ao menos não a sua consciência. Ao seu redor, havia apenas um amplo campo aberto com um olho d'água no meio, e o Sol brilhava forte, mas o calor era apenas morno e bastante harmônico com a calmaria do ambiente ao redor.

ㅡ Oi. ㅡ Ouviu uma voz familiar correr pela relva do campo, envolvendo-o como a brisa serena.

Ele se virou e avistou a figura de um rapaz parada ali perto, vestindo roupas claras e soltas, e observando-o com um semblante nervoso.

Seokjin sentiu as pernas ficarem fracas e o peito esfriar ao reconhecer o rosto que não via há tanto, tanto, tanto tempo.

ㅡ O que ele disse é verdade? ㅡ Foi a única coisa que conseguiu sair de sua boca nessa hora.

ㅡ Cada palavra, Jin ㅡ sussurrou Kang Song. Ele abriu um pequeno sorriso. ㅡ Senti sua falta.

O feiticeiro engasgou-se com um soluço e estendeu as mãos trêmulas, como se tentasse alcançar o outro rapaz à distância.

Ao notar isso, Song tentou se aproximar, dando um passo na direção dele. No entanto, para a sua completa surpresa, Seokjin pulou para trás e começou a se afastar, e de novo e de novo, até que se virou e saiu correndo para longe em alta velocidade.

O homem raposa ㅡ que, naquele lugar, não tinha mais suas nove caudas, ele percebeu ㅡ atravessou o campo e se enfiou na floresta. Sem parar e sem olhar para trás, continuou correndo sem rumo, desviando das árvores e dos obstáculos naturais. Subiu montes íngremes, escalou uma encosta com as mãos e os pés descalços, então voltou a correr quando chegou a terrenos retos, correu e correu pelo que pareceram ser horas, voltou a adentrar florestas e, por fim, chegou a outro campo aberto.

Mas não era outro campo aberto. Aquele era o mesmo campo de antes, com a mesma relva e o olho d'água. Kang Song estava sentado na margem da pequena lagoa, abraçando seus joelhos dobrados e observando o horizonte.

Seokjin se deu conta de que aquele lugar lhe pregara uma peça.

ㅡ O primeiro que apareceu aqui tentou me acertar com pedras e galhos, e o segundo saiu correndo desesperado depois que me viu. Fico me perguntando o que pode acontecer comigo se uma terceira pessoa vier para cá ㅡ disse Song, com uma pequena risada que fez seus ombros chacoalharem.

Ele olhou Seokjin de soslaio e o chamou com um movimento da mão.

ㅡ Pare de fugir e venha falar comigo, seu idiota.

Hesitante, o feiticeiro obedeceu o chamado e caminhou até ele. Quando ficaram próximos o bastante, Song se levantou e deu um peteleco na testa do rapaz.

ㅡ Você foi tão arrogante e confiante lá em Adaman, enquanto fazia todas aquelas coisas, porque está sendo esse covarde agora? ㅡ murmurou, e viu a face de Seokjin anuviar-se.

Os olhos dele, que não mais carregavam o dourado mágico de antes, de repente ficaram injetados e pesados, cheios de lágrimas. O pomo de Adão do feiticeiro subiu e desceu, nervosamente, revelando um nó frouxo em sua garganta que estava prestes a se romper.

ㅡ É realmente... é realmente você, Kang Song? ㅡ balbuciou, trêmulo e empalidecido. Ergueu as mãos outra vez na direção de Song, mas não conseguiu tocá-lo. Foi o outro rapaz quem teve a atitude de se aproximar e encostar a bochecha na palma dele.

O toque fez o corpo de Seokjin estremecer. Ele então se entregou às lágrimas.

ㅡ Pensei que tudo estivesse acabado. Quando eu vi o seu carro na estrada, e-eu...

ㅡ Não vamos falar disso agora... ㅡ O semblante de Song escureceu. Havia dor e constrangimento por trás de seu olhar. ㅡ Temos outras coisas para resolver aqui, não acha?

ㅡ O-o que é este lugar? Estamos no céu? O-ou talvez no inferno?

Song riu alto.

ㅡ Não sei, mas eu gostaria que fosse o meu céu. ㅡ Deu de ombros e se afastou do outro, depois, com um gesto, o convidou para uma caminhada. Enquanto andavam lado a lado, Song ia dizendo: ㅡ Talvez aqui seja um retiro espiritual, ou uma fenda entre uma realidade e outra. Ou talvez só exista na minha mente, ou na sua, ou na daquele garoto que está me ajudando.

ㅡ Park Jimin?

ㅡ É, ele é uma figura. Não me surpreenderia se tudo isso fosse algo da cabeça dele, e não da minha.

ㅡ Se fosse da cabeça dele, eu já teria sido evaporado.

ㅡ Hm, você tem um ponto.

Chegaram a uma área do campo onde a relva era baixa e podia-se ver o corpo decapitado de um lobo prateado caído e rodeado por ramos de marfim repletos de folhas rubras. Seokjin engoliu em seco e paralisou ao reconhecer o animal morto.

Song reparou no choque dele, mas continuou andando até se agachar numa parte da relva e pegar duas pás escondidas entre a grama alta. Em seguida, entregou uma delas ao outro rapaz.

ㅡ Ajude-me a enterrar isso, por favor ㅡ pediu, apontando para o corpo do lobo.

Um pouco hesitante, Seokjin segurou o objeto e acenou, depois, acompanhou Song e começou a cavar um buraco no chão.

Os dois trabalharam em silêncio por longos minutos. O feiticeiro sentia-se estranho com aquele reencontro, por mais que, por dentro, estivesse eclodindo com uma profusão de felicidade e emoção. Ora, Song estava vivo. Não vivo vivo, mas vivo de alguma forma, em algum lugar. Mas não sabia direito como agir, ou o que dizer para ele, e nem como expressar a vergonha e a culpa que vinha carregando há tanto tempo.

A verdade é que Seokjin se sentia como aquele lobo: Morto, frio e com uma parte essencial faltando. Deveria pedir desculpas? Isso poderia ser suficiente? Como explicaria suas atitudes desde que entrara naquele mundo? Havia agido como um psicopata, descontando seus sentimentos instáveis e seus rancores diversos, por motivos aparentemente equivocados, em algo que era apenas de Kang Song .

No fim das contas, voltar para o lado de Park Jimin e pedir outra vez para que fosse destruído por ele seria a melhor opção.

ㅡ Você está pensando em besteiras de novo, não é? ㅡ A voz de Song quebrou seu devaneio e o fez deslizar para dentro do pequeno buraco que já tinham feito, caindo em cheio na terra.

ㅡ Ah...

ㅡ O que aconteceu contigo? Onde está o meu amigo super atlético, fisicamente equilibrado e habilidoso? ㅡ Song zombou enquanto o ajudava a se levantar.

ㅡ Ele está sem as nove caudas dele. Aquelas coisinhas ajudavam com o equilíbrio, sabe? ㅡ explicou Seokjin, limpando as calças.

Song gargalhou.

ㅡ Parece que gosta bastante de ser uma raposa mágica.

ㅡ Eu odiava no início, mas depois vi que ser uma criatura assim é muito... útil. ㅡ Os olhos de Seokjin tremeram, lembrando de todas as vezes em que usou e abusou daquela magia.

Pelo semblante que surgiu na face de Kang Song, o outro rapaz também pensou pelos mesmos moldes.

Eles voltaram a trabalhar em silêncio, mas agora a face entristecida do amigo latejava na mente de Seokjin. O feiticeiro começou a ficar com a visão embaçada por lágrimas, e as mãos perderam um pouco da firmeza.

Depois de um tempo, não aguentou mais aquele silêncio torturante e largou a pá.

ㅡ Por quê? ㅡ balbuciou, tentando reprimir um soluço. ㅡ Por que não disse que o lobo era você? Por que não tentou me impedir de... De fazer isso? Por que só se permitiu morrer?

ㅡ E você? Por que só se permitiu morrer, Jin? ㅡ Song continuou cavando e jogando terra para longe.

Seokjin permaneceu estático ao seu lado, apenas ouvindo-o e encarando-o.

Song finalmente parou de cavar e olhou para ele.

ㅡ Eu estava com medo de como você iria reagir, e também estava confuso com o que havia acontecido contigo. Conosco. Naquela época, eu não fazia ideia do que tinha ocorrido no outro mundo. ㅡ Suspirou fundo, cravando a pá no solo e soltando-a. ㅡ Sempre existiu uma barreira entre a gente. Depois que viemos para cá, ela se tornou física e metafísica. Não consegui te acessar, não consegui fazer nada, exceto assistir...

ㅡ Você assistiu...? ㅡ Seokjin desviou o olhar para o chão. De repente pensou em se enterrar no lugar do lobo.

ㅡ Jin, olhe para mim ㅡ pediu o outro rapaz, mas não foi atendido. Então decidiu pular o buraco para se aproximar dele e erguer o seu rosto usando as duas mãos. ㅡ Olhe para mim... ㅡ murmurou, bem próximo. Só assim conseguiu fazer com que o amigo reerguesse os olhos. ㅡ Eu sinto muito. Eu queria ter estado lá em vários momentos, e impedido várias coisas, inclusive você mesmo.

ㅡ Não faz sentido ㅡ Seokjin balbuciou, suas lágrimas passaram a se acumular nas mãos de Song.

ㅡ O quê?

ㅡ Não faz sentido você dizer que sente muito para mim, como se não devesse me odiar pelas coisas que eu fiz. ㅡ Fungou, soluçando. ㅡ E-eu sabia o tempo todo que aquele mundo era real de certa forma, que estava machucando pessoas reais, mas não queria pensar assim, eu não queria ligar para mais nada, porque nada mais deveria importar para mim. Manipulei, matei e torturei a sua criação, Soso. E-eu também sempre estive mentindo, desde que te conheci, sempre menti para você sobre... sobre...

ㅡ Eu sei. ㅡ Song soltou o ar pesadamente e engoliu algumas lágrimas. ㅡ Não estou dizendo que te perdoo pelo que você fez a outros, porque a vida deles não é algo meu. Meu perdão não poderia falar por eles. ㅡ Com um polegar, limpou a lateral da face úmida de Seokjin. ㅡ Meu objetivo com esse nosso encontro é para esclarecer as coisas, e para dizer que já chega... Entendeu? Já chega, Jin. Você sabe que sim. Nossas almas precisam descansar, e não ferir outras.

Seokjin balançou a cabeça como uma criança desolada que compreendia suas ações erradas.

ㅡ E também já chega de você ficar vagando por aí sozinho, se sentindo fora dos trilhos como se não devesse existir no meu mundo... ㅡ Um pequeno sorriso se formou nos lábios de Song. Ele acariciou os cabelos do amigo com ternura. ㅡ É a primeira vez que consigo te ver e te tocar assim desde a universidade. Não deveríamos desperdiçar a segunda vida que ganhamos.

Em seguida, Song diminuiu a distância entre os dois e beijou os lábios de Seokjin. O sabor salgado das lágrimas de ambos se misturou ao de suas bocas. Perceberam, nesse instante, que era a primeira vez que se permitiam ficar assim e não tinham medo de possíveis consequências. Estavam livres.

Depois de uns instantes, eles se afastaram alguns poucos centímetros. Ainda estavam tão próximos que mesclavam suas respirações.

ㅡ Você nunca deixou de ser ruim com números, Soso ㅡ murmurou Seokjin. ㅡ Esta é a sua terceira vida, e não a segunda...

Song riu e revirou os olhos.

ㅡ Que cara irritante ㅡ disse em resposta, e os dois sentiram uma leveza doce no peito.

Mas Seokjin sabia que ainda não tinha terminado.

ㅡ O que vou fazer agora? Não há mais nada para mim lá no nosso mundo original, e nem no mundo que você criou, exceto me responsabilizar pelos crimes que cometi, entregando-me. ㅡ Ele encarou as próprias mãos e sua face adquiriu um semblante resignado que não lhe era muito comum, mas que poderia passar a ser. ㅡ Acho que acabei de responder a minha própria pergunta... É, é isso mesmo...

O olhar de Song caiu, entristecido, mas ele ainda sustentava um sorriso.

ㅡ Vou ficar aqui, esperando por você, enquanto termino de cavar esse buraco. ㅡ O rapaz voltou a pegar a pá e a exibiu para Seokjin.

O cenário ao redor do feiticeiro começou a ficar translúcido e borrado, e a imagem de Kang Song de repente se tornou um sonho distante.

ㅡ Como vou te ver outra vez!? ㅡ gritou Seokjin antes que tudo aquilo desaparecesse.

ㅡ Tudo o que sei é que, quando uma história acaba, outra começa em outro lugar. Foi assim comigo... também vai ser assim com você, creio eu.

A última coisa que Seokjin viu foi o sorriso nervoso de Kang Song e, em seguida, tudo ficar escuro.

🌕🌖♛🌘🌑

ㅡ Você disse que não iria matá-lo! ㅡ A voz grave e jovial de Taehyung reverberou à distância, denunciando o receio do rapaz.

ㅡ E eu não matei, ôh, desgrama ㅡ disse Jimin, em resposta ao amigo.

As duas vozes ficaram mais próximas para os ouvidos de Kim Seokjin, que despertava depois de seu reencontro com Kang Song.

ㅡ Então por que ele 'tá assim, cheio de sangue e parado feito um cadáver? ㅡ Taehyung insistiu.

Pôde-se ouvir um longo suspiro sendo exalado por Jimin.

ㅡ Ele 'tá num lance espiritual tipo o de Avatar, quando o Aang vai conversar com os avatares anteriores, sabe?

ㅡ Ah, sim.

ㅡ Taehyung...? ㅡ Seokjin abriu os olhos e enxergou o rapaz bem ao seu lado, observando-o com um misto de receio e preocupação.

Sentindo certa dificuldade, ele mexeu o corpo para se sentar encostado a uma árvore próxima.

ㅡ Viu? Eu disse que não tinha matado o maluco ㅡ falou Jimin, dando um cutucão no amigo.

Após alguns resmungos, a conversa entre os dois rapazes acabou, e todos caíram num silêncio apreensivo.

Seokjin viu Taehyung curvar os ombros e se afastar, evitando contato visual a todo custo. Sentiu-se mal por ele e, pela primeira vez, permitiu-se aceitar que se arrependera amargamente por ter perdido sua confiança e companhia.

Soltando o ar pela boca, virou-se para encarar Jimin. Esse sim não tirava o olho de cima dele, calculando cada mínimo movimento que Seokjin fazia sem disfarçar sua completa falta de confiança.

O homem raposa curvou os lábios num sorriso fraco e resignado. É, ele sabia que merecia o que estava por vir.

Por isso, relaxou os ombros, deitou a cabeça no tronco da árvore e, com um semblante apático, entregou as duas mãos unidas para Park Jimin.

ㅡ Eu me rendo ㅡ disse.

ㅡ An? ㅡ Jimin arqueou uma sobrancelha para ele.

ㅡ Prenda-me e leve-me para ser condenado pelo que fiz.

Jimin e Taehyung se encararam com o cenho franzido.

ㅡ Parem de me olhar como se eu tivesse enlouquecido ㅡ resmungou Seokjin.

Jimin voltou a encará-lo, inclinou a cabeça e soltou uma risada seca.

ㅡ 'Tá tudo bem, Tae. Eu já entendi o que aconteceu... ㅡ Ele se aproximou, inclinando o corpo na direção do feiticeiro. ㅡ Hehe, Kang Song te deu um puxão de orelha, não foi? E aí? Ele te bateu? Ele usou algum galho ou umas pedras?

Seokjin virou o rosto para o outro lado e se encolheu. Suas caudas, antes vigorosamente serpenteantes, agora jaziam esparramadas no chão ao seu redor, sem brilho e sem vida. Não entregou uma resposta em palavras, mas ela estava ali, em sua face culpada e constrangida, na tristeza palpável e na atitude ansiosa em querer se entregar para receber sua devida punição.

Depois de um tempo de séria quietude, viu o ômega se agachar em sua frente, analisando-o com olhos intensamente rubros, e então dizer:

ㅡ Eu não te quero como prisioneiro, Kim Seokjin. Se eu quisesse, não teria te ajudado a falar com o Song.

O feiticeiro piscou, perplexo com as palavras que havia escutado. Sem entender direito a razão de Jimin ter dito aquilo, murmurou:

ㅡ As pessoas deste lugar vão querer que eu seja condenado. Você e Jeon Jungkook devem dar isso a elas e a si mesmos...

ㅡ As pessoas deste lugar precisam de comida, de paz e do fim do inverno. E Jungkook e eu também temos planejamentos mais interessantes do que torturar uma raposa perturbada. ㅡ O ômega deu um soquinho no ombro de Seokjin.

Com um semblante totalmente confuso, o feiticeiro o encarou como se Jimin estivesse falando loucuras sem sentido. O garoto percebeu e suspirou fundo, então acrescentou:

ㅡ Você não precisa ficar aqui em Adaman pra pagar por alguma coisa. Eu prometi ao Song que iria trazer de volta o paraíso que ele criou, e vou. Com os poderes que tenho, não preciso torturar ou matar alguém pra isso... Eu só quero que tudo volte para a paz de antes, e, por mais que nós não tenhamos nenhum vínculo, também desejo que você se liberte de uma vez do seu próprio inferno.

Seokjin balançou a cabeça e encarou as próprias mãos. Sua visão estava borrada.

ㅡ Como pode falar tão amigavelmente comigo? ㅡ Riu secamente. ㅡ Eu quase destruí a vida das pessoas que você ama. Eu tentei reduzir a existência delas a nada.

Eu sei. ㅡ Os olhos de Jimin piscaram, afiados. Ele agarrou o colarinho da blusa do feiticeiro e o puxou.

Nessa hora, a natureza ao redor deles ficou profundamente calada.

ㅡ Eu sei muito bem o que você fez e, sinceramente, ainda dói lembrar de vários acontecimentos, 'tá legal? ㅡ Os caninos do ômega se afiaram levemente. ㅡ Não ache que relevei algo. Ainda sinto cada coisinha que você e seus planos provocaram naquele tempo. Se quer que eu te trate da maneira como merece, posso fazer isso facinho.

Com um pouco de brutalidade, Jimin o soltou, jogando-o contra o tronco de uma árvore próxima. Seokjin estremeceu com a dor do impacto, mas aceitou calado.

ㅡ Mas eu não quero isso ㅡ completou o ômega, inclinando a cabeça para trás. ㅡ Eu só... não quero mais. Não faz mais sentido brigar. Ainda não entendeu?

O feiticeiro encarou o chão e comprimiu os lábios.

ㅡ Pensei muito no que iria fazer quando me encontrasse contigo de novo. ㅡ Jimin passou a mão pelo rosto e apertou as têmporas. ㅡ Pra falar a verdade, eu não tinha certeza do rumo que isso aqui ia dar, então esperei pelo pior... Mas você veio com esse papo de se entregar e querer que eu te destrua, aí me lembrei do que o Kang Song me mostrou quando o conheci, então acho que consegui tomar uma decisão. ㅡ Virou-se para encarar Seokjin outra vez. Com um tom cortante, murmurou: ㅡ Não é como se você merecesse receber perdões, mas, sinto muito por dizer isso, já acabou pra você, então essa nossa briga nunca fez sentido, pra início de conversa.

O feiticeiro encolheu o corpo e cobriu a cabeça com as mãos.

ㅡ Eu não posso... Não posso voltar a ver o Song sem ao menos...

ㅡ Ah, você vai sim. ㅡ Resmungando, Jimin o segurou pelo braço e o arrastou para que ficasse em pé ao seu lado. ㅡ Vamos, me diz como te envio pra lá de uma vez por todas.

Seokjin piscou, atônito.

ㅡ Depois de tanto discurso... Tenho a impressão de que você só quer se livrar de mim.

ㅡ Interprete como quiser. Agora desembucha. ㅡ Jimin o empurrou.

Quando recuperou o equilíbrio, o feiticeiro refletiu sobre tudo aquilo e encheu os pulmões de ar para oxigenar o cérebro. Após comprimir os lábios, ele finalmente respondeu:

ㅡ ... Song disse algo sobre uma história começar num lugar quando outra acabar noutro lugar, assim como aconteceu com ele.

Park Jimin dobrou um indicador sobre o queixo e adquiriu um semblante pensativo.

Sua face ficou estática quando concluiu algo.

ㅡ Então... você tem que morrer?

ㅡ O quê? ㅡ Taehyung, que ouvia tudo ali perto, porque não queria intervir e correr o risco de proteger o lado errado, deu um passo à frente num impulso nervoso.

ㅡ É. Morrer. Não foi assim que o Kang Song passou a viver naquele lugar? Ele era o Ômega de Prata, aí "PUF", morreu e só então foi pra lá ㅡ explicou Jimin.

A compreensão alcançou a mente de todos e deixou suas faces pálidas.

Ainda pensativo, o ômega cruzou os braços e estreitou os olhos. Algo martelava em sua mente enquanto encarava o homem raposa. Reparando nisso, seu amigo o questionou:

ㅡ Jimin, o que foi...? ㅡ Taehyung estava apreensivo.

ㅡ Só estou pensando no que significa uma história acabar num lugar e começar em outra. ㅡ Jimin o encarou de soslaio. ㅡ Nós dois, Taehyung, não saímos do nosso mundo porque morremos. Nós só fomos puxados para cá, então ainda temos uma vida lá. ㅡ Ele então se virou para o feiticeiro e, sentindo um nó incômodo no fundo da garganta, acrescentou: ㅡ Mas Kim Seokjin e Kang Song não têm uma vida para a qual voltar, por isso permanecem neste mundo de uma outra maneira...

Os olhos dourados de Seokjin se arregalaram, então olharam para cima, para as nuvens cinzentas do céu. A sombra de um sorriso se formou em seus lábios carnudos.

ㅡ E pensar que cheguei a perguntar para ele se este lugar era o céu ou o inferno... ㅡ ele murmurou mais para si do que para Jimin. Em seguida, voltou a se ajoelhar como antes e abriu os braços, expondo-se outra vez como um condenado à execução. ㅡ De um jeito ou de outro, eu acabaria dessa mesma forma na sua frente. Fique à vontade...

Jimin o observou em silêncio por alguns instantes, sua mente trabalhando numa ideia que, aos poucos, fez seu olhar costumeiramente brilhante se apagar.

ㅡ Mas e se não der certo? ㅡ ele disse, repentinamente. ㅡ E se nossas teorias estiverem erradas e este mundo não te tratar da mesma forma que tratou o Song? Song criou este lugar, já você... ㅡ Interrompeu-se, pois todos ali sabiam muito bem o que Seokjin tinha feito. ㅡ Se isso acontecer, você pode sumir pra sempre.

Mas o homem raposa não pareceu ter se assustado com essa possibilidade.

Sua face estava quase serena quando, em resposta, murmurou:

ㅡ Então eu só vou me arrepender de não ter tido muito tempo para me desculpar com ele.

ㅡ ...

Vendo que aquela seria a conclusão de tudo, Park Jimin aproximou-se do feiticeiro devagar e ergueu a mão na direção dele. Hesitante, encostou os dedos em sua testa, que estavam levemente trêmulos por conta das incertezas que envolviam a situação.

O que faria a seguir, contudo, foi rapidamente interrompido por uma exclamação desesperada de Taehyung.

ㅡ Jimin, para! Espera só um segundo, por favor...

O outro rapaz se colocou entre o ômega e o feiticeiro, e pigarreou. Sua face estava tensa, seus olhos, vermelhos e um pouco perdidos. Ele encarou Seokjin com pesar, sentindo um aperto ruim no peito.

Com a voz embargada, balbuciou:

ㅡ Eu não me esqueci do endereço que você me deu, e nem da promessa que te fiz.

Isso desestruturou Kim Seokjin por completo. Se ainda havia alguma parcela de firmeza ou orgulho dentro dele, isso se desfez em cinzas assim como o nó pungente na garganta. Ser lembrado da doçura de Taehyung naquele momento era a maior punição que poderia receber em seu ato de despedida.

ㅡ Em outra época e em outras circunstâncias menos... difíceis e abusivas, nós teríamos sido muito mais do que isto, Taehyung. ㅡ Ele disse, num tom descontraído que poderia soar como uma brincadeira, mas as batidas de seu coração e do de Taehyung expressaram outro sentimento, e foi silenciosamente doloroso.

Trocaram olhares uma última vez, antes de Seokjin desviar o rosto e murmurar:

ㅡ Eu... sinto muito.

Não foi preciso dizer mais nada, pois Taehyung já tinha compreendido. O garoto então deu espaço a Jimin para que ele fizesse o que tinha que fazer. Ele se arrastou para longe e se escondeu entre as árvores para não ver o que aconteceria a seguir.

Quando restou apenas Jimin e Seokjin naquele ponto da floresta, este último acenou para aquele, e fechou os olhos, entregando-se ao destino incerto.

Respirando fundo, Jimin voltou a tocá-lo na testa.

ㅡ Vai ser rápido. Vo-você não vai sentir nada ㅡ balbuciou, e uma lágrima inquilina escorreu pela lateral de seu rosto.

Seokjin abriu os olhos, encarou Jimin e aquela lágrima piedosa ㅡ de alguém que não conseguia ser cruel mesmo com a mais cruel das pessoas ㅡ, e viu algo no garoto que se manteve em mistério, pois, logo depois, no último instante, murmurou:

ㅡ Entendi... Você e ele são mesmo parecidos.

Então raízes minúsculas brotaram como raios que se quebram entre as nuvens, e tudo se apagou dentro da mente do feiticeiro.

O corpo dele ficou paralisado naquela mesma posição, de olhos fechados e carregando a sombra de um semblante pacífico.

Tremendo, Jimin deu alguns passos para trás até que esbarrou em Taehyung, que havia retornado. A face do outro garoto estava toda vermelha e molhada de lágrimas.

ㅡ Acha... acha que funcionou? ㅡ ele perguntou num sibilo.

ㅡ E-eu não s... ㅡ Jimin interrompeu-se quando viu que o corpo inerte de Seokjin começava a irradiar uma luz pálida.

Em seguida, vinda de todos os lados, uma brisa cortou a floresta e rodopiou ao redor de todos eles, depois, se concentrou apenas no feiticeiro. As extremidades dele passaram a se desfazer em fragmentos translúcidos, que foram arrastados pela ventania serena até sumirem em algum ponto da atmosfera.

Murmúrios reverberaram nos ouvidos de Jimin. O ômega fechou os olhos, tentando distinguir alguma coisa, mas, no lugar de receber uma mensagem vocalizada, ele sentiu alguém lhe enviando um agradecimento à distância.

Após respirar fundo, pôs a mão sobre o ombro do melhor amigo e, num consolo, disse:

ㅡ Funcionou sim.

Taehyung relaxou ao seu lado e fungou, limpando o rosto com as costas da mão.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes, antes de murmurar:

ㅡ O que vai acontecer agora? Se Seokjin se foi, então a magia acabou. A guerra acabou também, não é?

Os olhos de Jimin foram de Taehyung para as copas das árvores ao seu redor, pois tinha avistado um movimento. O ômega assistiu, ansioso, a uma enorme ave amarela planar entre as folhagens e pousar num grosso galho nas proximidades.

Era Hana, a sua condor do deserto favorita. Ela provavelmente tinha se afastado para se recuperar dos machucados que recebera enquanto lutava mais cedo com o feiticeiro.

Jimin percebeu que Hana estava ali com algum propósito, ele sentia.

ㅡ Jungkook... ㅡ murmurou, recebendo o chamado do marido que vinha da floresta.

Tentou sentí-lo pela ligação do vínculo, e, quando o fez, foi jogado contra uma parede de gelo, como se o alfa tivesse se fechado dentro de suas próprias dores.

Lutar contra o próprio irmão devia tê-lo afetado mais do que esperava, pensou Jimin, com o peito pesado.

ㅡ Ainda não, Tae. Tenho que ir ㅡ disse o ômega, engolindo em seco. ㅡ Pode cuidar da segurança das crianças por mais um tempo?

ㅡ Claro.

Jimin acenou para ele, agradecido, mas, antes de se virar para ir até Jungkook, lembrou-se de que tinha que fazer algo importante.

ㅡ Taehyung, agora que terminamos aqui, preciso testar uma coisa em você.

🌕🌖♛🌘🌑

Oceano nos entornos de Hayang

Quando Jimin chegou à praia, ele reparou primeiro na destruição. Nas árvores caídas, na areia remexida, na ponta rachada da falésia e nas imensas rochas quebradas à beira do mar. Depois, seus olhos se fixaram na figura ajoelhada e curvada de Jeon Jungkook diante dos corpos inertes e inconscientes de Min Yoongi e Jung Hoseok.

Em sua forma lupina, o ômega correu até o marido a toda velocidade.

Aquela tinha sido uma luta feia e brutal. Quanto mais próximo ficava de Jungkook, mas sentia o cheiro do sangue nos machucados dele e dos resquícios dos feromônios violentos que pairavam ao seu redor.

Ao parar um pouco atrás do alfa, voltou à forma humana e o observou com pesar. Jungkook com certeza tinha sentido sua aproximação, mas ele não se moveu ou demonstrou alguma coisa. Os olhos dele, vermelhos e úmidos, estavam presos no irmão adormecido e machucado, e seu corpo estremecia levemente debaixo das vestes rasgadas.

Jimin tirou a própria camisa e a usou para cobrir as costas do marido, então o abraçou com carinho e cuidado, evitando pressionar os ferimentos. Suas mãos pentearam os cabelos bagunçados dele, tirando alguns fios da frente do rosto cansado. Nessa hora, Jungkook entrelaçou os dedos aos do ômega.

ㅡ Jungkook... ㅡ murmurou Jimin.

O alfa o encarou de soslaio e beijou sua mão por um longo minuto.

ㅡ Eu não sei se tomei a decisão certa ㅡ disse, num sussurro fraco. ㅡ Pela primeira vez... ㅡ Sua voz quase falhou. ㅡ Pela primeira vez eu o vi recuperar a consciência, e, quando isso aconteceu, ele agiu para se destruir sozinho. Mas eu o impedi... Eu o mantive vivo.

Jimin apertou o abraço, demonstrando seu apoio. Sabia que Jungkook ainda tinha coisas para dizer, então apenas ficou em silêncio e o escutou com atenção.

ㅡ Ainda o quero de volta, mesmo depois de tudo. Não seríamos como irmãos outra vez, porque não é possível apagar tudo o que houve entre nós, mas se ele ao menos vivesse bem em alguma parte do mundo... ㅡ Jungkook arfou e contraiu a mandíbula. Seus olhos estavam opacos, como o nanquim seco e sem brilho.

ㅡ Então essa foi a sua escolha, não é? Ter o Yoongi de volta. ㅡ Jimin rodeou o alfa e o beijou no alto da testa, então, segurando o rosto dele e o encarando intensamente, disse: ㅡ Agora posso dizer que consigo fazer isso.

Jungkook piscou, atônito e sem voz.

O ômega se levantou e caminhou até onde Yoongi e Hoseok estavam deitados lado a lado, e se ajoelhou entre os dois.

Primeiro, pôs a mão sobre o peito do alquimista e se concentrou nas feridas profundas que ele carregava, então fechou os olhos e acessou a vitalidade contida na terra debaixo dele. Com seus poderes, Jimin fez brotos de marfim se enrolarem em Jung Hoseok, e, através deles, transferiu essa vitalidade para as células machucadas do alquimista. Foi um processo de cura semelhante ao que tinha acontecido com Jungkook, mas numa escala muito menor.

Acontece que havia descoberto muitas coisas sobre suas capacidades depois que havia despertado seu poder total. Não só sua ligação com os animais, com a floresta e com as vozes que sussurravam em seus ouvidos, mas também com a vida que existia em tudo aquilo.

Existia muita vida naquele mundo, ele concluiu com um misto de emoção que achou engraçado. Será que Kang Song sabia disso?

Enfim, quando começou a pensar nesses detalhes, passou a se perguntar se seria capaz de curar pessoas amaldiçoadas, como Yoongi e Taehyung. Essa hipótese foi levantada durante a viagem até Hayang, umas semanas antes da batalha no porto.

Comentou a ideia com Jungkook e tentou obter alguma resposta através de insistentes e constantes contatos com os sussurros dispersos que ouvia ㅡ pois nem sempre era capaz de acessar esse lado sobrenatural daquele mundo, era necessário que ambos os lados desejassem isso.

No final, a única certeza que conquistou foi a de que nenhuma magia obscura poderia superar a força de uma divindade. Jimin já tinha teorias que levavam a essa mesma conclusão, como o fato de a hipnose de Seokjin jamais ter dado certo nele e nas pessoas que carregavam o sangue do Ômega de Prata ancestral. Coisas um tanto mais malignas poderiam até afetar populações como a do clã Jeon, mas uma entidade com poderes já seria outra coisa.

Sendo assim, o ômega ficou aliviado com a conclusão afirmativa de sua hipótese, mas ainda não era suficiente, pois ele queria saber sobre poder curar, e não só sobre superar alguém que está amaldiçoado.

Ele agora sabia que era capaz de destruir Min Yoongi sem ser contaminado pela sombra maligna que o cunhado carregava, mas não se poderia separá-lo dela como curaria um machucado seu.

Foi então que pensou em Taehyung e na pequena parcela da maldição que ainda existia no garoto. Ela ainda estava ali, dentro dele, latente como uma doença controlada.

Poderia usar o amigo para testar suas teorias. Ah, eram tantas! Mas Jimin também tinha tantas incertezas!

E se não funcionasse e acabasse prejudicando seriamente o melhor amigo no processo? Naquela época, o ômega ainda estava inseguro sobre o que iria acontecer com Taehyung caso o garoto morresse naquele mundo. Então, Jimin esperou pelo momento em que teria certeza de que poderia usá-lo como sua cobaia.

Esse momento veio logo depois de resolver suas questões com Seokjin.

Com respostas em mãos, restava apenas sanar a última e mais vital das dúvidas. E, usufruindo da ajuda do amigo, ele sanou.

Na praia, após perceber que os batimentos cardíacos e a respiração de Jung Hoseok já haviam normalizado, Jimin se voltou totalmente para o corpo inconsciente de Min Yoongi e pôs as duas mãos sobre a face dele.

Depois disso, fez o que antes havia feito com Taehyung, mas com bem mais intensidade. Fechou os olhos e buscou trazer à tona o lado obscuro de dentro de Yoongi, liberando sua presença de ômega para primeiro atrair a camada bestial de face rançosa que se revirava no interior dele, e depois sugá-la para o fundo da terra.

O odor dos feromônios da fera acordaram e explodiram pela praia, atordoando levemente os sentidos de Jimin e acendendo um alerta na mente de Jungkook.

Até o momento, o alfa assistia seu ômega concentrado no que estava fazendo, e percebia como tudo no entorno dele ㅡ o vento, a água do mar e os pássaros ㅡ o rodeava, submisso, atraídos pela sua presença e energia.

Com aquela onda violenta de feromônios sendo exalada, Jungkook imediatamente se tornou um lobo negro, cravou as garras no chão e mudou o foco de sua atenção para o irmão ainda adormecido.

Sua mente logo foi preenchida por uma profusão de receio e ira. Ah, não deveria ter permitido que a situação chegasse àquele ponto, quase se sentia voltando para o dia de sua noite luar, quando deixou o ômega vulnerável sob as garras da besta que havia aparecido no castelo. Se Yoongi fizesse um movimento na direção de Jimin, por menor que fosse, iria atacá-lo, com certeza iria e...

ㅡ PARA! ㅡ exclamou Jimin. O ômega tremia, pois o cheiro estava muito forte, muito mesmo. Seus instintos gritavam de terror puro, mas ele precisava ser mais forte do que tudo aquilo. ㅡ Eu consigo. Jungkook, eu consigo. ㅡ Virou-se e encarou o marido de soslaio. Seus olhos brilhavam, vermelhos e marejados. ㅡ Vo-você não tomou a decisão errada. Confia em mim agora, 'tá bom?

O casal trocou olhares intensos e cheios de palavras não ditas.

Hesitante, Jungkook abaixou a cabeça e escondeu as garras, mas não baixou a guarda. Confiava nas capacidades de Jimin com toda a sua existência, mas o amava muito mais do que qualquer coisa, então não poderia relaxar enquanto aquilo não acabasse.

Imerso numa tensão controlada e estremecendo de ansiedade, ele assistiu ao momento em que a ventania oceânica mudou de direção e obliterou todo aquele odor que fervilhava no ar. Um brilho nascido em Jimin ofuscou o do Sol, que mal se exibia por conta das nuvens de tempestade acima deles. Por fim, a chuva migrou para o mar, deixando apenas a atmosfera limpa para trás.

Jungkook avançou quando percebeu Jimin se afastando de Yoongi e titubeando para trás. Ele voltou à forma humana e o agarrou antes que o ômega atingisse o chão.

Jimin piscou, um pouco zonzo e olhou para cima, na direção dele, então sorriu, puxando os lábios carnudos de maneira a contrair suas bochechas e diminuir seus olhos estreitos.

ㅡ Acho que deu certo ㅡ murmurou.

Algumas gotas de chuva pingaram dos cabelos de Jungkook e caíram sobre o seu rosto. O alfa as limpou com um polegar e o encarou com ternura.

Em seguida, com uma expressão apreensiva, ele novamente ergueu os olhos para o irmão e esperou.

A praia estava silenciosa quando Yoongi deu os primeiros sinais de que iria despertar.

Ele contraiu o rosto e moveu os dedos, depois contraiu as pálpebras e piscou, desgrudando os cílios loiros que estavam unidos pela água da chuva. Quando abriu totalmente os olhos, revelou pupilas negras, íris amarelas e um brilho humano familiar.

Yoongi se sentou, um pouco torpe, e encarou as próprias mãos. Aos poucos, seu semblante clareou, como se estivesse assimilando a ideia de que estava de volta. Tremendo, ele respirou fundo e rápido, tão rápido que tossiu.

ㅡ Como...? ㅡ balbuciou, virando o rosto levemente até reparar em Hoseok deitado ao seu lado.

Aturdido, e com um nó na garganta, balançou o alquimista em busca de algum sinal de vida. Seus ouvidos recém-acordados levaram um tempo até repararem no vigoroso coração batendo no peito dele.

Agora mais calmo, olhou para cima e viu Jeon Jungkook. Foi quando começou a chorar.

Com a mente livre e recuperada, todas as memórias vieram à tona e a ocuparam de maneira pungente, lembrando-o do que havia feito com o irmão caçula.

O sangue derramado, as palavras cruéis, as acusações injustas, tantas ações e decisões erradas jogadas contra as costas de um garoto que apenas o amava, sua única família de sangue que um dia o havia considerado mais do que qualquer coisa.

ㅡ E-eu... eu sinto m... ㅡ Interrompeu-se ao se dar conta de que nenhuma palavra de perdão iria resolver o que existia entre eles naquele momento. Então ajoelhou-se, inclinou o corpo, apoiou-se com as duas mãos na areia úmida, e abaixou a cabeça de maneira vulnerável. Depois, aguardou pela sua sentença.

Ouviu os passos de Jungkook se aproximando e sentiu a presença dele pairar com mais força ao seu redor.

O irmão caçula parou em sua frente, em pé e silencioso, e se manteve assim por longos e intermináveis segundos. Até que voz dele veio, profunda e apática:

ㅡ Min Yoongi, filho primogênito da Grande Rainha de Adaman, príncipe representante do clã da Alvorada, regicida e fratricida, usurpador do trono real, genocida responsável pelo extermínio de Rangkee e dos Lobos Noturnos, e cúmplice de numerosos crimes, eu o condeno... ㅡ Uma pausa. Uma respiração decisiva. ㅡ ... ao exílio eterno e completo apagamento de sua legitimidade como nobre, príncipe e herdeiro de Adaman. Será desvinculado formalmente de seu clã, de sua residência e de seus familiares para sempre.

Jungkook deu as costas para ele e observou o horizonte oceânico. Então, num murmúrio rouco, acrescentou:

ㅡ Para Adaman, você estará morto. Para mim, você será um estranho. Esta é a sua sentença.

Yoongi encarou o chão e as lágrimas silenciosas que pingavam de seus olhos formando círculos úmidos na areia. Elas não caíam porque ele se sentia injustiçado ou algo assim. Nada disso. Jeon Jungkook poderia tê-lo condenado a algo muito pior, mas seu irmão estava ali, dando-lhe uma chance de viver em outro lugar, e, ao mesmo tempo, estava cuidando do equilíbrio do reino ao eliminar a figura do rei que os destruiu.

Suas lágrimas então eram de orgulho pelo caçula, e também de tristeza, pois não tinha o direito de se levantar e abraçá-lo, nem mesmo para agradecer pelo gesto misericordioso, pois um exilado sem nome não poderia tocar o rei de Adaman.

Sendo assim, Yoongi aceitou sua sentença em silêncio, com uma reverência profunda, e também reverenciou Park Jimin, tanto por causa do protocolo real como também porque suspeitava que o ômega tinha sido responsável pela quebra de sua maldição. Ele concluiu que essa seria mais uma das dezenas de coisas que devia gratidão ao cunhado, mas que jamais poderia recompensá-lo.

Depois disso, virou-se para Hoseok e o observou com pesar.

De todas as memórias que tinha do tempo em que esteve descontrolado, as que continham o alquimista eram as mais vívidas e estavam entre as mais difíceis de se lembrar. Seu coração doía no peito ao olhar para o rosto adormecido dele e pensar nelas.

Tocou-lhe a face com dois dedos ternos, numa carícia, e balbuciou baixinho:

ㅡ Hoseok, eu preciso ir embora... ㅡ Sua voz ficou embargada, mas ele segurou a nova onda de lágrimas. ㅡ Não sei se tenho o direito de levá-lo comigo.

Quando posicionou o corpo para se afastar, sentiu a mão do alquimista apertando levemente a barra de sua camisa. O rosto dele estava contraído e parecia lutar para despertar. Provavelmente tinha escutado as palavras de Yoongi, mesmo imerso num sonho, e agora se irritava com elas e com a estúpida ideia de ficarem separados quando finalmente poderiam ficar juntos.

Por um segundo, o alfa quase conseguiu sorrir.

ㅡ Perdoe-me... ㅡ Aproximou a testa na dele e suspirou fundo. ㅡ Eu não me atreverei a deixá-lo outra vez.

Após dizer isso, Yoongi se afastou um pouco e posicionou os braços ao redor do corpo de Jung Hoseok. Nessa hora, viu um sorriso torpe surgindo nos lábios do alquimista.

ㅡ Eu realmente não iria perdoá-lo se partisse sozinho ㅡ ele murmurou baixinho, com a voz rouca e embargada. Seus olhos piscaram, torpes e úmidos de lágrimas e chuva, então encararam Yoongi com um brilho recuperado que não aparecia há muito tempo. ㅡ Meu amor, meu príncipe, eu o tenho de volta... E-eu finalmente o tenho...

Com as mãos fracas, Hoseok o puxou pelos ombros e o envolveu no abraço mais apertado que conseguiu dar naquele momento.

Tremendo, Yoongi afundou o rosto na curva do pescoço dele e também o abraçou. Num sussurrou, disse:

ㅡ Não sou mais um príncipe. Nem um Min. Por minha própria causa, eu não poderei te fornecer o que antes podia. Tem certeza de que vai dar as costas para sua vida em Adaman assim?

Ainda no abraço, Hoseok ergueu o olhar para a figura de Jimin e Jungkook parados à distância. Jimin o observava com um olhar triste, mas sereno e aliviado, e Jungkook encarava o mar, evitando mostrar sua tristeza profunda.

O alquimista não precisou perguntar para entender o que tinha acontecido: enquanto estava adormecido, a vida de Yoongi tinha sido poupada a um alto custo.

Ele então respirou fundo, desvinculou-se dos braços do outro alfa, arrastou o corpo pela areia para ficar mais próximo do casal real e se ajoelhou.

ㅡ Senhor Jung...? ㅡ Jimin se assustou com a atitude dele.

ㅡ Eu gostaria de pedir a vossas majestades para que eu seja deposto do cargo de Alquimista Real e substituído pelo meu excelente e competente discípulo, Lu Keran. O garoto aprendeu muitas coisas comigo e é genioso por conta própria, mesmo não carregando o sangue do clã Jung... ㅡ Hoseok juntou as mãos na frente do rosto e as abaixou na areia numa profunda reverência. ㅡ Peço também que minha saída do reino não seja interpretada como uma atitude de traição ou de desprezo, e que isso não recaia nas costas de minha família. Por favor...

Os olhos de Jimin foram dele para Jungkook, que ainda prendia a atenção no mar e tentava se manter distante para não voltar a encarar ou a se dirigir ao irmão. Portanto, após um suspiro, o ômega decidiu cuidar daquela situação por conta própria. Ele se agachou na frente de Hoseok e lhe ofereceu um sorriso amigável.

ㅡ Não precisa se preocupar com essas coisas, senhor Jung ㅡ disse. Depois, enfiou os dedos na areia, contraiu o cenho e, com as mãos em concha, puxou algo do chão. ㅡ Isso é para quando vocês acharem um lugar legal para morar. ㅡ Fungando, entregou o conteúdo das mãos para Hoseok.

O alquimista analisou o presente e se deu conta de que se tratava de sementes.

ㅡ I-isto...?

ㅡ São sementes das plantas que o senhor cultiva na sua estufa. Ou, pelo menos, de algumas delas. ㅡ Jimin coçou a nuca e exibiu um sorriso nervoso. ㅡ Foi mal, senhor Jung, eu não me lembro de todas, só dessas aí... mas espero que sejam uma recordação boa.

Hoseok piscou, atordoado, e pressionou as sementes contra o peito enquanto engolia algumas lágrimas. Sua face era pura felicidade.

ㅡ Será a melhor recordação de todas, sor Park. Muito obrigado, meu amigo ㅡ balbuciou.

Imediatamente foi pego num súbito e apertado abraço de Jimin, que ignorava todos os limites sociais entre alfas e ômegas para dar aquele último gesto de despedida.

ㅡ Vou sentir falta do senhor. Muita falta ㅡ disse, aos soluços.

Hoseok conteve um nó que se desmanchava em sua garganta enquanto dava tapinhas nas costas dele.

Quando se separaram, o alquimista se curvou mais uma vez para o casal real e tentou equilibrar o corpo para ficar em pé. Quando seus joelhos falharam, Yoongi apareceu ao seu lado e o impediu de cair. Eles deram as mãos, entrelaçaram os dedos, e se encararam.

ㅡ Você virá comigo, mas saiba que sempre estará livre para ir embora ㅡ murmurou Yoongi, e suas órbitas de ouro nunca pareceram tão sinceras, gentis e sóbrias.

Ele colocou Hoseok em suas costas, sustentando-o de uma maneira segura e confortável, e saiu andando para longe, sem destino certo. Mas, antes de se afastar muito mais, passou pelo elmo jogado na areia ㅡ o elmo de sua mãe ômega que havia descartado junto com o resto da armadura ㅡ, recolheu-o como uma lembrança de sua vida em Adaman, e virou-se para Jungkook, que ainda mantinha os olhos no cenário à distância, para lhe dar uma última olhada.

Após um instante de despedida silenciosa, o príncipe Min Yoongi desapareceu para todo o sempre.

~♛🌕🌖🌘🌑♛~

#LoboDePrata

Opa! Já deixou o seu ⭐VOTO⭐? Não vai embora antes de fazer isso(≧▽≦)

Meus queridos chifrudos, acho que vou ter uma síncope de nervoso HAHAHAHA. E aí, curtiram o capítulo? O que estão sentindo depois desse desfecho dos SOPE e do Seokjin? Os sentimentos do Jungkook ficaram claros e sua decisão ao exilar o irmão pareceu coerente?

Espero que tenha sido uma boa leitura e uma boa conclusão. MAS AINDA NÃO É A CONCLUSÃO COMPLETA, então aquietemos os cus e os corações. Já estou escrevendo o capítulo 34 e posso dizer que não falta muito até concluí-lo, contudo, meu objetivo é trazê-lo junto com o epílogo, então peço a vocês mais um pouquinho de paciência.

Obrigada por terem lido e me aguentado até aqui💜 Vejo vocês em breve (gostariam de uma live no IG antes do final oficial? Estou pensando... ps: meu IG é kaka.leda). Até mais!!

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