|3|♛|Chama Incandescente Queima Escarlate|
Olá, meus lobinhos💜
Eu fiquei tão, tão feliz quando vi os comentários positivos de vocês... De verdade, obrigada pelo carinho, obrigadaaaaaa! Eu adoro fantasia, então escrever esta história está sendo muito divertido, principalmente quando temos um protagonista tão doido quanto o Jimin ashuashuashuas Fiquei ansiosa para postar este capítulo, então não serei muito longa nesta introdução. Desejo-lhes uma ótima leitura!!
~ Deixe o seu ⭐VOTO⭐, e eu te dou um beijo hihi~
tag da fic: #LoboDePrata
|3|♛|Chama Incandescente Queima Escarlate|
Entre as escarpas que se erguiam acima das baixas nuvens cinzentas, como picos montanhosos de uma cordilheira, desenrolava-se uma luta agitada e sangrenta. O silêncio da floresta de coníferas ao redor do desfiladeiro formado por dois altos montes, foi oprimido pelos sons metálicos de espadas em confronto, pelos uivos dos guerreiros alfas em ira e pelos gritos daqueles que tinham a fuga como único meio de sobrevivência.
O General Kim Namjoon liderava os soldados de Sua Majestade, Jeon Jungkook, enquanto esta última não se encontrava presente. Exibindo a forma intimidante de um lobo alto e cinzento, o general organizou as tropas reais em três grupos: Alfas na dianteira, pois o uso de sua força bestial estilhaçaria o inimigo; Betas com armamentos pelas laterais, para impedirem o avanço das tropas opostas; e Ômegas atrás, para protegerem os civis indefesos. Juntos, eles formavam uma barreira na entrada do desfiladeiro. Seria uma manobra absolutamente eficaz, se o lado inimigo não estivesse em grande vantagem numérica.
A batalha se desenrolou até o Sol se inclinar a oeste, migrando para um lado do céu onde as nuvens limitavam a força de seus raios luminosos. Dessa forma, a leste, já se podia ver relances da escuridão azul e de estrelas longínquas.
Onde ele está?? Kim Namjoon pensava no jovem rei, que, até aquele momento, não havia aparecido. Mas o general não queria Jeon Jungkook ali, naquele antro de sangue e luta, pois o considerava muito, como um irmão e um amigo; no entanto, enquanto abocanhava dois ou três soldados inimigos e os matava com os seus caninos afiadíssimos, a preocupação pairava em sua mente por não saber a localização de Sua Majestade.
— Onde está o seu rei!? — rugiu uma voz feral, que se elevou acima dos demais sons.
Após derrubar mais uma fileira de inimigos, os olhos castanhos do lobo Kim Namjoon varreram o campo de batalha atrás daquele que ousou provocá-lo, e encontrou uma fera alfa quase tão grande e intimidante quanto ele próprio. A pelagem amarronzada e heterogênea, como se tivesse crescido de maneira irregular, denunciava a identidade daquele lobo.
— General Han Untak, o meu rei não precisa estar presente numa luta para ganhá-la — Kim rugiu, em resposta ao general da tropa inimiga, e mostrou os caninos sujos com o sangue de seus oponentes mortos.
Untak gorgolejou uma risada e franziu a ponte do focinho escuro.
— De fato, uma criança imperfeita como aquela não faria diferença num confronto — ele disse, o que atiçou a fervura no sangue de Kim Namjoon.
— Vai se arrepender de tamanha afronta, Untak! — o general de Adaman impulsionou as patas fortes e saltou para atacar o oponente impetuoso, expondo as garras pontiagudas e abrindo toda a boca para exibir os dentes fortes, capazes de arrancar a cabeça de um homem apenas abocanhando-a.
Entretanto, Han Untak não tinha a intenção de ser um honrado guerreiro alfa, ele preferiu ficar quieto, dando espaço para que os seus soldados avançassem primeiro contra o general Kim, distraindo-o até finalmente chegar a hora de matá-lo pelas costas.
A força de Kim Namjoon era conhecida pelos quatro cantos do continente, portanto, seria arriscado entrar num embate corpo a corpo contra ele. Untak então preferiu recorrer à artimanhas a enfrentar o general de Adaman diretamente.
Namjoon não teve opção exceto derrubar cada um dos soldados lupinos que se jogaram ingênua e corajosamente sobre ele, crentes de que poderiam tirar-lhe ao menos um tufo de pelos cinzentos. Mas nem isso eles conseguiam, pois o general rapidamente mordia as suas jugulares e quebrava-lhes o tórax, sem um segundo de hesitação.
Em meio à dança de sangue, Han Untak viu a oportunidade de saltar para cima de Kim Namjoon e enfiar os caninos nas costas do pescoço alheio. Seria fatal. Seria rápido.
Untak então se preparou para o salto. Depois que lambeu os dentes afiados e expôs as garras das patas dianteiras, ele pulou.
O general de Eliah, contudo, não alcançou o seu objetivo; pois, no momento do salto, um cavaleiro atravessou o seu caminho, atropelando-o com o cavalo.
Depois de ser jogado metros longe, o alfa Han Untak se arrastou no chão de terra batida, machucado pelo incidente repentino. Ele levou um minuto para conseguir erguer a cabeça lupina e ter o vislumbre do rei de Adaman, Jeon Jungkook, montado em seu cavalo e girando uma espada de prata em suas mãos fortes e hábeis.
— O que há com o decoro no exército de Eliah? Se até o grande general Han se utiliza de táticas tão... Reprováveis — Jungkook mostrou os dentes e saltou do cavalo. Em seguida, ele se posicionou com a espada, pronto para um combate — Lute como um alfa, seu covarde.
Com o orgulho ferido, o general Han se ergueu do chão e disparou contra o rei do país de Adaman, usando as quatro patas para ser mais veloz do que a espada que lhe era apontada, desviando dos movimentos de esgrima do jovem monarca.
Ao contrário do que as más línguas espalhavam, a jovialidade de Jeon Jungkook não lhe dava imaturidade ou inexperiência na guerra, mas, sim, lhe proviam destreza e celeridade corporal. Ele se movia como o vento e atacava com a força de uma besta. Portanto, Han Untak teve dificuldade naquela luta, subestimar o seu oponente lhe causou machucados logo nos primeiros minutos do enfrentamento. Ele sentia despeito por estar perdendo para um alfa que nem sequer havia mostrado a forma de lobo.
Depois de escapar, por um fio, de mais um golpe da espada de Jeon Jungkook, o general Han decidiu que deveria recorrer a um outro meio de vitória: Desestabilizando o inimigo.
— Vossa Majestade de Adaman é realmente habilidosa... Alguns boatos a seu respeito provavelmente serão abafados depois de hoje... — o lobo marrom dizia enquanto andava ao redor do rei. Jeon Jungkook estreitou os olhos, estranhando aquela conversa.
O alfa inimigo continuou a falácia.
— ... Mas há outros boatos que parecem ser bastante reais, como o que diz que Vossa Grandeza é um alfa incompleto... Que é um garoto deficiente, assim como o irmão degenerado — Untak riu anasalado, sentindo prazer ao disparar cada sílaba repleta de veneno.
As últimas palavras ditas pelo general Han fizeram Jeon Jungkook apertar o punho da espada com mais força. O canto de seus lábios se contraíram, e as pupilas negras de seus olhos encararam o outro alfa com um ódio frio.
Com o cérebro inundado pela ira, o jovem rei demorou a reagir quando Untak avançou contra ele. Em um segundo, o grande lobo marrom conseguiu abocanhar a espada de Jeon e ferir as mãos dele, chegando a rasgar um dos pulsos e a perfurar os ossos do braço direito do rei. Han Untak jogou a espada real longe e se virou para mostrar os caninos brilhantes.
Jeon Jungkook contraiu os lábios, em dor, enquanto usava a mão menos ferida para tentar parar o sangue que escorria do braço direito. No instante seguinte, ele rasgou o tecido das vestes e usou o pano para cobrir os machucados, dando um nó rápido sobre eles. Depois, Jungkook puxou um punhal que carregava em sua cintura e, ignorando a dor latejante em suas mãos, ergueu a pequena arma para continuar enfrentando o oponente.
— Então é verdade! O rei de Adaman é incapaz de se transformar, Hahaha! Vejam que grande piada: Um alfa incompleto! — a gargalhada do general de Eliah parecia um relinchar perturbador, cheio de uivos, como uma hiena sorrindo.
Os soldados ali perto, que eram subordinados de Han, escutaram as exclamações do general e riram com ele, zombando do jovem rei Jeon.
— General Han Untak, está assim, tão agitado e inseguro, apenas porque eu estou conseguindo lutar de igual para igual com você, mesmo sem ter me transformado? — Jeon Jungkook curvou os cantos dos lábios para cima, num sorriso relaxado e superior — Se o seu reino vive de 'boatos', então seria uma pena se os boatos de amanhã fossem sobre o grande general Han Untak ter sido derrotado por um alfa jovem e incompleto.
As gargalhadas cessaram. Han Untak contraiu a ponte do focinho e mostrou os dentes dianteiros.
— De fato... Há muitas histórias que percorrem os ouvidos do povo de Eliah. E há uma em específico que, durante muito tempo, preocupou os meus reis e rainhas: a lenda do Ômega de Prata... Essa preocupação também encheu os corações dos meus soldados, tanto é que, noite passada, eles voltaram para mim com os rabos entre as pernas, alegando que haviam visto a tal entidade — o general Han gargalhou mais uma vez — Eu os matei, é claro, pois não tolero crentes medrosos em meu exército, Majestade, principalmente porque sei que tal entidade divina não irá aparecer milagrosamente para salvar a vossa bunda real. Durante gerações vocês usaram o Ômega de Prata para proteger as suas fronteiras, mas agora... Agora não mais.
Han Untak falava com tanta certeza que, por um instante, o rei Jeon imaginou se haveria alguma razão oculta para isso.
No entanto, Jeon Jungkook não poderia discordar do general de Eliah naquele momento. O Ômega de Prata não estava ali para ajudá-los, e, provavelmente, não iria aparecer milagrosamente, como dizia a lenda. Para ser sincero, a sua fé encontrava-se agora um tanto fragilizada. Por isso, o jovem rei só poderia contar consigo mesmo e com a força de suas tropas.
Enquanto se preparava para mais um avanço do general inimigo, levantando o punhal e tentando manter firme a mão que o segurava, Jungkook viu, de soslaio e rapidamente, um movimento estranho no pé de uma das encostas que iniciavam o desfiladeiro. Um grupo de curandeiros de Adaman jogava um líquido escuro sobre amontoados de palha e arbustos.
Como a luz no horizonte oeste já se enfraquecia, e o inimigo em sua frente já preparava as garras para atacar, o jovem rei não teve muita certeza do que se desenrolou em seguida com os curandeiros, porque, antes de mais nada, ele precisava se concentrar para não morrer.
Foi então que, no momento em que Han Untak avançou para cima do rei de Adaman, chamas ardentes surgiram ao redor das encostas, queimando arbustos e coníferas altas, expelindo nuvens de fumaça escura que conseguiam alcançar os picos rochosos mais próximos, como se os portões do inferno tivessem sido abertos de repente.
Em seguida, um som estranho ecoou de cima de um desses picos. Era melódico, pois carregava certo ritmo, mas as batidas estranhas que se misturavam a sons estridentes assustaram todos os indivíduos que estavam no desfiladeiro, a ponto de paralisar a batalha.
— AÊ, SEUS CUZÕES!! — gritou uma voz, a qual vinha do mesmo pico. Ela chamou a atenção de todos e arrepiou os pelos dos soldados de Eliah.
Antes mesmo de Jeon Jungkook olhar para cima, ele soube quem era o dono daquela voz. Com um sorriso incrédulo no rosto, o jovem rei ergueu a cabeça para então avistar aquela figura de branco que estava sobre a alta elevação rochosa, envolta por um fogo incandescente que fazia a sua pele, olhos e cabelos brilharem.
Ao som de "Rock You Like a Hurricane" dos Scorpions, Park Jimin interrompia a luta de maneira triunfante.
— É O SEGUINTE, SOLDADOS DE ELIEN... ELIAH! — Jimin pigarreou — O CÉU NÃO CURTIU NADINHA VOCÊS AQUI EM ADAMAN, ENTÃO EU FUI CONVOCADO PRA PARAR ESSA PUTARIA! QUERO TODO MUNDO FORA DAQUI ATÉ EU CONTAR 10! SE NÃO SAÍREM, EU VOU CARBONIZAR VOCÊS, HAHAHA!
Assim que terminou de ameaçar, Jimin discretamente jogou pedaços de magnésia no fogo que queimava a base da encosta, provocando faíscas brancas brilhantes, tão fortes que machucaram os olhos daqueles que tentaram encará-las.
Assustados, os soldados de Eliah começaram a recuar, esperando apenas o aval do General Han Untak para então fugir daquele lugar.
Mas Untak não aceitava se render. Ainda que estivesse tremendo até o último fio de seus pelos corporais, ele se recusava a dar meia volta.
— I-isso... Eu não temerei! Não é possível que ele seja o Ômega de Prata!! — o general de Eliah berrou, uivando.
— Como pode ter tanta certeza, general Han? — Jeon Jungkook disse, balançando o punhal entre os seus dedos. Mesmo machucado, ele poderia fazer aquilo facilmente.
Nessa hora, os guerreiros de Adaman se reuniram logo atrás de seu rei, cercando o general inimigo, deixando-o acuado. Han Untak olhou para trás e viu que os seus soldados estavam tão apavorados que mal conseguiam se manter na poderosa forma lupina, ou erguer as espadas e as lanças em suas mãos trêmulas.
Do alto do pico, Park Jimin reparou na insistência das tropas inimigas em se manter ali, então ele chutou mais algumas gramas de magnésia nas coníferas que queimavam logo ao lado da encosta, provocando um incêndio branco e explosivo.
— QUEM É O MALUCO QUE AINDA TÁ QUERENDO ME DESAFIAR!?? — Jimin gritou.
Toda aquela cena, somada à voz de Park Jimin e aos sons estridentes da guitarra dos Scorpions, fez os soldados de Eliah retrair os seus corpos e recuar vários metros para trás. Han Untak se manteve no mesmo lugar, mostrando os dentes numa tentativa de sustentar a pose corajosa, mas isso foi o máximo que ele conseguiu fazer, pois todo o resto de seu corpo lupino denunciava o terror que sentia.
Foi então que uma nuvem carregada e passageira atravessou o céu acima deles, sendo convidada pelos ventos sulistas. Jeon Jungkook notou que, em pouquíssimo tempo, uma chuva começaria. O jovem rei olhou para Park Jimin com receio.
Não sei como fez tanto fogo rapidamente, feiticeiro Park, mas a chuva poderá apagá-lo... E Han Untak deixará de ficar assustado, ele pensou, engolindo em seco.
Para a sua infelicidade, o general de Eliah teve semelhante pensamento ao vislumbrar as nuvens cinzentas acima deles. Ele até mostrou os caninos num sorriso lupino, recuperando a confiança.
No entanto, o que eles não sabiam era que Park Jimin já contava com o início daquela chuva. O jovem acadêmico de Química também quase gargalhou de ansiedade quando se deu conta de que a água que cairia daquelas nuvens não seria muita, apenas o suficiente para dar o clímax ao seu show pirotécnico
— HAHAHA — Jimin retornou com a voz dramática, com uma confiança que pegou de surpresa Jeon Jungkook e Han Untak — EU JÁ CONTEI ATÉ 10 E VOCÊS AINDA ESTÃO AQUI... ACHO QUE ESTÁ NA HORA DE INVOCAR AS MINHAS... er... AS MINHAS FORÇAS DIVINAS!!
A chuva começou a cair e, assim que os primeiros pingos de água tocaram o fogo incendiário, uma explosão em cadeia foi iniciada, atordoando os sentidos de todos e finalizando, de uma vez por todas, a coragem que ainda resistia no peito orgulhoso do general Han. Com um uivo, ele fez suas tropas recuarem, e todos saíram correndo de volta à Nação Eliah.
— É ISSO AÍ, CORRE CACHORRINHO, CORRE MUITO! PORQUE SENÃO O MEU FOGO VAI SEGUIR VOCÊS ATÉ AS SUAS CAMAS QUANDO ESTIVEREM DORMINDO!! ... — ... Espera, isso soou meio errado, Jimin continuou em pensamentos.
Com a fuga das tropas inimigas, os guerreiros de Adaman uivaram animados e gritaram vitória, enquanto a chuva limpava os seus corpos suados e ensanguentados pela recente luta.
O jovem rei Jeon também não pôde conter a alegria e o alívio. Ele correu até o sopé da escarpa onde Jimin estava e começou a escalar o pico rochoso para conseguir alcançá-lo.
— E-ei, cuidado...! — Park Jimin falou quando viu Jungkook se aproximando.
Quando faltava pouco para o rei alcançar o pico, eles deram as mãos e Jimin puxou o outro jovem para cima. Tal impulso fez ambos caírem, lado a lado, agitados, com os corações saltando devido à adrenalina que ainda fervia em suas veias.
— Isso foi louco! — Jimin exclamou, arfando e passando as mãos nos cabelos encharcados pela chuva que já passava.
— De certo que sim... — Jungkook suspirou profundamente, recarregando as energias — Como... Como você conseguiu fazer aquilo? Aquele fogo brilhante e a explosão... Foi muito impressionante!
— Ah, o fogo brilhante é resultado da queima da magnésia pura. Eu queria ter feito fogo azul, mas é difícil achar cloreto de cobre por aqui, e também não tive muito tempo pra ir atrás dele ou de fazê-lo. Até que dá pra fazer com eletrólise, mas demoraria muito e... — Park Jimin falava avidamente, sem se dar conta de que o rapaz ao seu lado não compreendia muita coisa. Jeon Jungkook, contudo, o escutava admirado, achando-o incrivelmente peculiar.
Quando reparou que havia extrapolado no falatório científico, Jimin limpou a garganta e sorriu sem jeito.
— Desculpe, er... — Park coçou a nuca, constrangido, e decidiu responder à outra questão — Aquela explosão aconteceu porque eu pedi para que os seus curandeiros jogassem muito óleo nas plantas. Misturar óleo, fogo e água dá nisso: BOOOM! — Jimin abriu os braços, encenando — Por isso nunca se deve apagar fogo em óleo com água. Não, não.
— Espantoso — Jungkook disse, arregalando os olhos enquanto observava Jimin.
— Hmm... Pra quê o espanto?
— Na-não, eu quis dizer que você é incrível — o rei disse, com um sorriso brilhante, erguendo-se do chão.
Park Jimin sentiu-se enrubescer e desviou o olhar para baixo, enquanto também se levantava. Com isso, ele notou, pela primeira vez, os machucados nas mãos e braço do outro jovem.
— Meu Deus, isso 'tá horrível! Cara, você precisa urgentemente de um médico! — Jimin disse, apressando-se para buscar o celular, que estava preso numa geringonça feita às pressas cuja função era servir de alto-falantes, e desligar a música que ainda tocava no aparelho. Depois de feito, Park o guardou e puxou Jungkook para eles descerem juntos daquele pico — Se você é rei, deveria ficar mais preocupado com a sua saúde. Vamos atrás de um dos seus curandeiros.
— Eu estava tão eufórico que acabei me esquecendo das feridas, ha... — Jungkook murmurou, encarando a mão de Jimin sobre o seu pulso saudável. O jovem rei achava engraçado o fato de que aquele garoto, além de tratá-lo com tanta informalidade, ainda o tocava sem fazer cerimônia.
Por mais estranho que fosse, Jungkook estava começando a gostar daquilo.
— Sei, 'tô ligado que eu fiz um show, hehe... Mas os seus soldados lutaram bem demais. E eu vi lá de cima quando você enfrentou aquele lobão. Cara, foi melhor do que em filme, sério... Não sei se você sabe o que é isso, já entendi que este mundo é diferente do meu... — Jimin disse, diminuindo o tom de voz. De repente a sensação ruim de estar bem longe de casa começava a voltar para o seu peito.
Jeon Jungkook então parou de andar quando chegaram à base do desfiladeiro, interrompendo também a caminhada de Park Jimin.
— Agradeço os seus elogios, mas, neste momento... — o jovem rei falava com seriedade, colocando-se diante de Park Jimin, encarando-o profundamente com os seus reluzentes olhos negros — Neste momento eu preciso concentrar os meus agradecimentos nas suas ações deste dia. Você me ajudou a proteger o meu povo, os meus soldados, e, pela segunda vez em menos de vinte e quatro horas, apareceu bem no momento em que a minha vida estava em risco. Posso estar ficando louco, mas eu comecei a... Orar para que você seja o prometido... O Ômega de Prata — a voz de Jungkook vacilou por um instante. Ele se sentia constrangido por revelar profundo anseio.
E o rei não foi o único a se sentir envergonhado, os olhos de Park Jimin quase saltaram de suas órbitas quando ele ouviu as palavras do outro rapaz.
— E-ei... Calma aí, nós já saímos dessa fase, eu não sou nenhum ser divino não — Jimin se afastou de Jungkook devagar, exibindo um sorriso forçado e nervoso.
— Sim, eu sei, perdão... Mas, como pode ver, não sei o que farei com eles — Jungkook apontou para atrás deles, mostrando a Jimin que todos os soldados de Adaman e os civis ali presentes se encontravam ajoelhados, com as testas tocando o chão — Não importa o que direi ao meu povo, eles viram com os próprios olhos o que você fez hoje. Em seus corações, o Ômega de Prata está aqui, diante de nós.
Park Jimin engoliu em seco e piscou várias vezes, sem saber o que fazer.
— Ma-mas eu não sou... Eu não sou! Eu sou uma pessoa comum, Jeon Jungkook... Quer dizer, rei, Majestade, sei lá! — Jimin balbuciou, frustrado — Eu quero ir pra casa...
Jeon Jungkook observou o outro rapaz com um traço de tristeza em seu olhar, algo que pegou o jovem rei de surpresa. De alguma forma, a presença do esquisito e peculiar Jimin lhe era agradável, e perdê-la não seria tão animador.
— Desculpe-me, fui muito impetuoso... Apenas... Apenas se junte a nós nesta noite. Acamparemos mais ao norte e eu farei um banquete, em comemoração pela recuada de Eliah — Jungkook disse, abaixando o olhar — Amanhã, assim que romper a aurora, eu o levarei até aquele ponto da floresta onde você poderá retornar ao seu mundo.
"Romper a aurora". "Romper a aurora". Porra, ele fala tão bonito, ele é bonito e ainda me olha desse jeito, isso não é justo... Pensou Park, num lamento silencioso.
Bem, nada me diz que conseguirei ir pra casa se eu tentar me jogar de novo naquele mato neste exato momento. Além disso, um banquete me cairia muito bem, hmm...
— 'Tá legal, seu rei. Negócio fechado — Jimin ergueu a mão, esperando que o outro a apertasse. Mas Jeon Jungkook só olhou para ela, confuso — Você tem que apertar com a sua mão — Jimin explicou, mas logo se deu conta de um detalhe urgente — Aigoo, deixa pra lá, olha o estado das suas mãos! Vem, eu vou atrás de um curandeiro pra você neste exato momento!
Park Jimin então voltou a arrastar Jeon Jungkook, agarrando o pulso saudável dele; e o jovem rei, reprimindo um sorriso nos lábios, se permitiu ser carregado para cima e para baixo pelo outro rapaz.
🌕🌖♛🌘🌑
As tropas de Adaman acamparam próximo a um bosque cheio de árvores frutíferas, banhado por um riacho que recebia água fria da nascente localizada numa montanha ali perto. O céu já se pintava de azul escuro quando os soldados e civis terminaram de montar as barracas e de acender as fogueiras para, então, o cozinheiros começarem a fazer o banquete.
Enquanto os curandeiros se revezavam entre os alfas e betas feridos pela luta daquele dia, oferecendo-lhes poções medicinais e tratamentos herbalistas, os ômegas se responsabilizaram pela caça daquela noite, trazendo, algum tempo depois, bons quilos de carne e frutas para serem assados nas fogueiras.
Quando o banquete enfim começou, alguns civis animados iniciaram uma roda de música agitada, cantando e tocando os seus instrumentos rústicos. Park Jimin, enquanto saboreava, pela primeira vez na vida, carne de cervo assada, observava sorridente algumas pessoas dançando enquanto esbanjavam felicidade. Mesmo parado, sentado sobre um tronco próximo a uma das fogueiras, os pés do rapaz acompanhavam o ritmo da melodia, batendo no chão à medida em que os músicos batucavam os seus tambores.
Era engraçado para o jovem Park presenciar aquele tipo de evento tão "medieval", ele estava acostumado às festas dadas pelas pessoas de sua universidade, as quais eram cheias de música eletrônica no último volume, luzes piscantes, misturas alcoólicas para beber e drogas... Bem, Jimin decidiu que preferia a agitação rústica em sua frente, pois era mais aconchegante. Com ela, o garoto conseguia sentir o calor entre as pessoas.
E, de repente, um calor a mais envolveu Jimin, porque ele viu, entre as pessoas que dançavam ao som do grupo de músicos, Jeon Jungkook girando e saltando, acompanhando a coreografia dos demais, sorrindo de orelha a orelha enquanto os seus súditos se animavam com ele.
Com os machucados já devidamente tratados, o jovem rei conseguia segurar a mão dos seus parceiros de dança, elegante e cavalheiro como sempre.
Nessa hora, o rapaz teve o seguinte pensamento: Jeon Jungkook é realmente bonito, era o que pairava na mente de Park Jimin naquele momento. O rapaz então se pegou sorrindo feito um bobo pela segunda vez naquele dia.
Enquanto tentava abafar aquele sorriso inquilino, ele percebeu, com certo nervosismo, que o seu olhar havia entrado no campo de visão do jovem rei.
Jeon Jungkook parou de dançar no mesmo instante e começou a se afastar do centro da festa, onde a música estava mais alta e as pessoas se divertiam com coreografias improvisadas. Ele passou por alguns súditos sentados ao redor de fogueiras e dispensou as reverências deles com palavras educadas, sem jamais tirar os olhos de seu objetivo final.
— Gostaria de dançar um pouco? — Jungkook perguntou a Jimin no instante em que ficaram próximos o bastante.
Jimin encarou o rei, com sobrancelhas arqueadas, e se lembrou dos contos de fadas que leu em sua infância, como a história de Cinderela, que havia sido convidada para dançar pelo príncipe, durante o baile real.
Estou começando achar que acabei entrando, magicamente, naquele livro estranho da Yeseo, o rapaz pensou, por fim, sentindo os pelos do corpo se arrepiarem. Desde o momento em que começou a se dar conta de que aquele mundo não era o "seu" mundo, Park Jimin vinha formulando teorias e hipóteses de como havia parado naquele lugar. Até o momento, qualquer ideia era válida, mesmo se aparentasse ser surreal.
Depois de um segundo em devaneio, o jovem Park desviou o olhar para o chão, coçou a nuca com uma mão e decidiu responder ao convite do rei.
— E-eu não sei como se dança isso..., é melhor eu só ficar aqui, comendo — Jimin disse — Sou ótimo em comer.
Jeon Jungkook o achou engraçado e riu.
— Nenhum de nós sabe como se dança "isso". Apenas seguimos o ritmo — disse ele, estendendo uma mão para o rapaz sentado.
Jimin encarou aquela mão e contraiu os lábios carnudos. Após um instante de hesitação, o garoto a segurou, e Jungkook o ajudou a se levantar.
Os músicos rapidamente notaram a aproximação do rei e do "Ômega de Prata", e recarregaram as energias da roda de dança com uma música ainda mais animada. Ao notar os olhares sobre si, Park Jimin se sentiu intimidado, ficando com a face vermelha de vergonha e com o corpo endurecido como pedra.
— Eu não sei não... Te-tem muita gente olhando — o garoto murmurou para Jungkook, encarando-o com um olhar aflito.
— Se sente constrangido por dançar, mas não vacila quando faz uma encenação como a que fez hoje? — Jeon Jungkook gargalhou, lembrando-se de se sentir em júbilo quando viu o garoto Park em cima daquele pico repleto de fogo.
Com a provocação, Jimin teve a impressão de que iria soltar fumacinhas de seus ouvidos.
— Aquilo foi diferente! Eu 'tava me concentrando em te ajudar, não pensei em mais nada, por isso deu certo — ele cruzou os braços, bufando.
O jovem rei se pegou sentindo um cálido prazer após ouvir tal declaração do outro rapaz. Ele saboreou isso em silêncio, como algo que não deveria ser feito, e pigarreou.
— Então... Concentre-se só em mim, de novo, e dance — Jungkook puxou Jimin para o centro da roda de dança, e este último não teve escolha a não ser acompanhar a coreografia.
Com a música agitando os seus nervos, e com o rapaz em sua frente exalando uma animação tão cativante, Park Jimin, aos poucos, foi se deixando levar. Primeiro, ele balançou a cabeça e bateu palmas ritmadas, depois, ele deu alguns saltinhos aqui e acolá, sendo incentivado pelas demais pessoas que também curtiam a música. No fim, Jimin se sentia como num filme antigo, em meio a um baile barroco cheio de gritos felizes, segurando um copo de cerveja artesanal e brindando a vitória com Sua Majestade e seus soldados até, enfim, perder a noção do tempo.
A Lua já se inclinava no horizonte quando o jovem se retirou da roda para se sentar e descansar. O coração ainda fervia em seu peito quando ele se afundou num tronco macio e terminou de engolir toda a cerveja que havia no copo.
— Aaah... — Jimin soltou o ar, olhando para o céu acima, e falou consigo mesmo — Cara, essa vai ser a maior loucura que eu vou contar para os meus netos.
— Você tem filhos? — perguntou uma voz a sua direita. Jimin virou o rosto e reparou na presença do general Kim Namjoon. Ele estava sentado naquele mesmo tronco que Park Jimin, mas um pouco distante do jovem, e tinha uma tala amarrada ao braço esquerdo com um tecido branco.
— An... Ah, não. Não tenho filhos, só foi um modo de dizer... — Jimin explicou com um sorriso. Em seguida, ele arregalou os olhos ao se dar conta de algo — Ei! Você não está mais falando "Vossa Magnificência" pra mim, finalmente...
— O meu rei já me explicou o que está havendo. É constrangedor pensar nisso... Vamos beber — o general se apressou para buscar uma jarra de cerveja e um copo limpo na mesa que havia ali perto.
Jimin já estava ajudando o outro com a bebida, quando ambos foram interrompidos por uma figura vestida em vermelho-vinho. Os olhos azuis de Keran, o curandeiro que Jimin conheceu no início daquele dia, se estreitaram para Kim Namjoon.
— Meu senhor, eu já lhe informei que bebidas alcoólicas não o ajudarão com os seus ferimentos. Por isso, por hoje, não beba — Keran cruzou os braços e bateu um pé no chão. O ômega parecia disposto a desafiar o general de Adaman se fosse necessário.
— É apenas um gole, Lu Keran, eu não vou morrer — Namjoon revirou os olhos e apontou para a multidão que ainda dançava — Olhe lá o rei, ele está com os dois braços feridos e mesmo assim pode desfrutar de um pouco de cerveja, porque eu não posso?
— Eu não tenho autoridade para parar o rei, general Kim.
— E nem para me parar — Namjoon então esvaziou um copo de cerveja num único gole, e ainda sorriu no final — Sou o seu general, curandeiro.
Lu Keran suspirou pesadamente.
— Apenas estou tentando curá-lo antes que cheguemos à capital. Ou o senhor quer que a sua filha o veja assim, em tal estado? — o curandeiro ômega abaixou o olhar, entristecido. Parecia que a cura de Kim Namjoon não era importante apenas para a filha dele...
Sentindo-se confrontado, o general de Adaman fechou os lábios e cerrou a mandíbula. Quando falou novamente, a sua voz grave saiu baixa e fria.
— Você se dirige a mim com mais intimidade do que é bem visto. Eu não irei tolerar isso novamente, Lu Keran...
O semblante do curandeiro se fechou e os seus olhos azuis ficaram opacos. Aqueles que se encontravam ali perto e que podiam sentir feromônios, ficaram arrepiados com o intimidante e ameaçador cheiro exalado por Kim Namjoon naquele momento. Park Jimin, mesmo estando completamente alheio a tais sensações, conseguia reparar na tensão que havia entre o alfa e o ômega ao seu lado.
A situação parecia tão estranha e desconcertante que o rei Jeon apareceu para intervir. Jungkook colocou uma mão no ombro do general e apertou, como num pedido silencioso para parar. Kim Namjoon então relaxou e desviou o olhar de Lu Keran para o fogo crepitante da fogueira mais próxima.
— Eu também estou errado. Vamos parar de beber por hoje, amigo... — Jungkook disse a Namjoon — Irei buscar um pouco de água para nós.
— Majestade — Keran se apressou — Não precisa se dar o trabalho. Permita-me trazer água para os senhores.
— Obrigado, mas eu quero me mover um pouco mais... — Jungkook insistiu. No entanto, ele rapidamente se deu conta de que Lu Keran queria arranjar urgentemente uma tarefa que o ocupasse e que, ao mesmo tempo, o permitisse ajudar o general Kim — Porém, se quiser me acompanhar, então tudo bem.
O rei saiu andando floresta adentro, carregando uma garrafa em suas mãos para enchê-la com a água do riacho que havia a alguns metros dali. Lu Keran, após observar o general Kim durante um rápido instante, acompanhou Sua Majestade logo atrás, apressando-se para não perdê-lo de vista entre as árvores.
Jimin observou toda a cena em silêncio, achando que seria intrometido demais dizer ou sugerir algo para aquelas pessoas que só conhecia há menos de um dia. Mas a sua boca grande não conseguiu conter o comentário que ele fez em seguida, quando ficou a sós com o general de Adaman.
— É impressão minha ou aquele curandeiro gosta de você?
Kim Namjoon quase se engasgou com a própria saliva. Ele começou a tossir, batendo no próprio peito até, enfim, recuperar o fôlego.
— 'Cê 'tá bem? — Jimin já se arrependia de ter aberto a boca.
— E-eu estou... — o general piscou, recompondo-se aos poucos.
Vendo que as coisas ficariam estranhas para ele se o assunto da conversa não mudasse, Park Jimin se apressou para comentar sobre outra coisa.
— Então você tem uma filha?
— Ah, tenho sim — os lábios de Namjoon então se curvaram num sorriso, e os seus olhos estreitos brilharam pela primeira vez naquela noite.
— Nossa... — Jimin arregalou os olhos. Mas ele é tão novo, Jimin pensou, e perguntou em seguida — Ela está te esperando junto com a mãe dela na capital?
Essa questão infelizmente deixou o clima entre eles dois ainda mais pesado, porque a face de Kim Namjoon ficou sombria.
— Não, a mãe... Morreu há alguns anos. Minha filha está sob os cuidados da governanta — o general disse, encarando, com muito desejo, uma jarra de cerveja sobre a mesa mais próxima, pensando na possibilidade de se perder na bebida durante aquela noite.
Aigoo, eu só estou piorando a conversa, bem que o Jungkook poderia voltar logo..., Jimin pensou, num lamento, e tentou recorrer a um assunto mais leve.
— Você parece gostar muito da sua filha. Posso saber o nome dela?
E magicamente o semblante do general Kim voltou a ficar alegre.
— É Jina. Kim Jina.
— É um nome bonito... — Jimin disse, sentindo-se aliviado por ter acertado uma — De onde eu venho, você é bem jovem pra ser pai, por isso fiquei surpreso — ele explicou, arrastando os pés na grama do chão — Na verdade tem muita gente jovem aqui. Os soldados, os médicos, o rei... Eu sempre pensei em pessoas assim como sendo mais velhas, mais experientes, sei lá...
Kim Namjoon observou o rapaz ao seu lado durante um momento de reflexão.
— Infelizmente a guerra não permite que as nossas crianças sejam... Crianças. E o rei, bem... Vossa Majestade também tem receios quanto a própria posição — o general pegou um graveto no chão e começou a queimá-lo no fogo. Jimin assistiu à superfície de madeira arder até se tornar brasa e cair sobre a grama úmida, enquanto ouvia Namjoon murmurar solenemente — Digo isso apenas porque ele parece confiar em você, sor Park Jimin... O rei também não se acha experiente e apto o bastante para carregar a coroa. É por isso que ele sempre se sacrifica, mesmo quando não é necessário, mesmo quando a própria vida está em risco.
— Realmente... Eu reparei que ele é meio afobado — Jimin murmurou com um sorriso.
Kim Namjoon o encarou com o cenho franzido, o semblante coberto de confusão.
— "Afobado"? — o general não compreendia.
— É tipo "impaciente" e, ao mesmo tempo, "inconsequente", só que de um jeito menos ruim. E-eu não 'tô xingando o seu rei, viu? — Jimin disse rapidamente, vendo que o rosto de Kim Namjoon já começava a ficar tenso.
— Hmm... Eu acho que entendi... — o general relaxou e voltou a contemplar a fogueira.
Depois de algum tempo, Lu Keran retornou com uma garrafa cheia de água e a entregou ao general de Adaman. Este último agradeceu cordialmente e ingeriu o líquido fresco em silêncio, mantendo-se frio e indiferente para com o curandeiro até que ele finalmente se afastasse, cabisbaixo.
A situação entre os dois ainda se via estranha, principalmente porque, na mente de Kim, as palavras de Jimin sobre o curandeiro nutrir sentimentos pelo general começavam a perturbá-lo. Não que Namjoon já não soubesse de tais sentimentos, mas ele preferia fingir que eles não existiam, seria mais fácil para ambos. Seria mais seguro para aquele ômega jovem e ingênuo no amor.
O general Kim silenciosamente clamava para que Lu Keran lhe desse as costas e fosse atrás de outro alfa. Um alfa que já não estivesse profundamente marcado pelo passado.
Quando saciou sua sede, Kim Namjoon se virou novamente para dialogar com Park Jimin, porque isso distraía a sua mente com eficiência.
— Noite passada, quando Sua Majestade encontrou você naqueles bosques, ele ficou quase eufórico. Você o deu esperanças.
Jimin virou o rosto para encarar o general.
— Esperanças...?
— Sim. Não cabe a mim dizer muito, mas as circunstâncias que o levaram a carregar a coroa lhe tiraram quase toda a fé de que poderia vir a ser um rei digno. Porém, ontem, quando pensamos que o Ômega de Prata finalmente havia surgido, Sua Majestade recuperou as esperanças — Kim Namjoon disse com um ar pensativo, sustentando um sorriso solene nos lábios carnudos.
Ouvir isso deixou Park Jimin incomodado e um tanto triste. Ele engoliu um sentimento de culpa que começava a aflorar em sua garganta.
Por que estou me sentindo culpado? Não fui confundido por uma entidade milagrosa porque quis... O jovem debatia consigo mesmo, em pensamentos.
— Fique calmo, sor Park Jimin — o general disse assim que notou a reação abatida do garoto — Mesmo depois que o rei descobriu a verdade, ele continuou a acreditar que a sua aparição foi uma espécie de "bom sinal", principalmente depois de você tê-lo ajudado.
— Ah, e-eu... Agradeço, eu acho — Jimin se sentiu acanhado — Por que está me dizendo essas coisas legais?
— Porque ele é o meu amigo. Sou grato a você, assim como ele é — o general explicou. Park Jimin reparou que, mesmo sendo muito jovem, Kim Namjoon carregava uma aura de sabedoria e experiência ao seu redor. Até mesmo o olhar castanho dele brilhava como rochas que haviam presenciado anos e anos de sedimentação e erosão, até se formarem o que hoje são.
Por falar em Sua Majestade, Park Jimin encarou a floresta escurecida pela noite e se perguntou por que Jeon Jungkook ainda não havia retornado de lá.
— Ele deve estar admirando a Lua — Namjoon disse, respondendo aos questionamentos explícitos na face do outro jovem — O rei Jeon faz isso desde a infância.
— Ah... — Jimin compreendeu, movimentando a cabeça levemente.
De repente, ele sentiu vontade de ir atrás do jovem rei.
— Er, eu estou com sede... Acho que vou atrás de um pouco de água fresca, hehe... — o garoto se levantou do tronco com uma mão na nuca e com um sorriso envergonhado na cara.
— Claro... — o general Kim sorriu, sabendo muito bem que Jimin não estava indo até a floresta atrás de água — Diga à Vossa Majestade que não é seguro ficar distante do acampamento por muito tempo.
O rosto de Jimin então se encheu de sangue quente.
— Ah, an... C-claro — ele falou, e atravessou os primeiros arbustos da floresta, se sentindo o maior bobo do mundo.
🌕🌖♛🌘🌑
Jeon Jungkook já havia saciado a própria sede momentos antes, quando a Lua ainda se via apenas levemente inclinada. Agora, ele olhava para cima e a contemplava em sua descensão, rodeada por bilhões e bilhões de pontos luminosos longínquos e maravilhosos. Um cenário que sempre roubou suspiros do jovem rei alfa.
Se pudesse, ele uivaria para as estrelas naquele instante, tão alto que alcançaria os ouvidos de seus súditos na capital, de seu irmão, que o aguardava para reencontrá-lo, e de sua mãe, que sempre orava aos ancestrais para que seu filho retornasse são e salvo.
Jeon Jungkook, ao pensar nisso, repensou nas próprias atitudes dos últimos dias, nos momentos em que se pôs em risco, como sempre fazia. Tão desastrado, tão impetuoso. Mas o que ele poderia fazer? Se não agisse assim, Jungkook não se sentia verdadeiramente útil. Ele não se sentia digno.
— O que tem de tão bom em olhar bolas explodindo a milhões de anos-luz daqui? — a voz de Park Jimin o pegou de surpresa. Jungkook estava tão distraído que não viu aquele rapaz baixo e moreno aparecer em seu campo de visão.
Quando virou o olhar para encará-lo, o jovem rei notou que, com aquela pálida iluminação lunar, Park Jimin parecia bonito como um anjo das histórias de sua mãe.
— Bolas explodindo? — Jungkook franziu o cenho, mais uma vez confuso com o falatório científico de Jimin.
— É o que as estrelas são: bolas de gases que explodem. A explosão resulta no brilho, que é o que a gente vê. E tudo isso acontece bem longe daqui. Seria bem sinistro se acontecesse perto, a gente iria morrer rapidinho — Jimin explicou, usando o seu tom de voz relaxado caricato. Ele se sentou ao lado do jovem rei enquanto este último processava a informação que acabara de receber.
— Intrigante... O alquimista real também fala coisas semelhantes, mas ele usa termos um pouco mais compreensíveis a mim — Jungkook disse.
— Hmm, desculpa, eu vou parar de falar assim a partir de agora. Não gosto de ser esses caras que se acham os "sabe-tudo" e ficam se exibindo por aí só porque conseguem calcular uma fórmula de química — Park se remexeu, enfiando as mãos nos bolsos do moletom de corrida. Desde o dia anterior ele não havia trocado de roupa por conta das circunstâncias. O cheiro de uma falta de banho estava começando a incomodá-lo.
Espero que o Jungkook não tenha um bom nariz... Ele pensou.
— Não pare — o jovem rei disse, de súbito, pegando Jimin de surpresa. Sustentando um sorriso branco em sua face, que o outro rapaz achou deveras bonito, Jungkook explicou — Eu me divirto quando você fala dessa forma, é engraçado e curioso.
— Oh... — Jimin mordiscou os lábios e riu sem jeito. De repente o seu coração começou a bater com mais força, enviando sangue quente às suas bochechas que, rapidamente, começaram a corar.
Ainda bem que está escuro, Park Jimin agradeceu em silêncio
— Pergunto-me quantas coisas intrigantes deve haver em seu mundo — Jeon Jungkook murmurou, contemplativo, observando o reflexo do céu na superfície límpida do riacho.
— Você parece lidar bem com a ideia de que não sou deste lugar — Jimin comentou — Na verdade vocês lidam bem com várias coisas aqui, tipo com os relacionamentos entre pessoas do mesmo gênero, com indivíduos trans, e com as transformações em lobo. Cara, aqui é tipo um paraíso gay, só que sem unicórnios e com lobisomens! — Park estava impressionado.
Sem compreender boa parte das palavras ditas pelo rapaz ao seu lado, Jeon Jungkook se concentrou na parte em que o outro citava as transformações lupinas realizadas por alfas e ômegas.
— Park Jimin, eu acho que lhe devo uma explicação, depois de hoje... — o jovem rei começou a dizer, o seu tom sério, porém tranquilo, capturou a atenção de Jimin — Quando você me perguntou sobre eu ser um alfa e sobre as transformações, entre outras coisas, eu não lhe dei uma resposta. Confesso que por receio, medo e vergonha. Receio e medo porque essa informação pode ser usada por inimigos contra mim, e vergonha porque... Porque de fato sou um alfa incompleto. Isso não é orgulhoso. E um rei alfa incompleto certamente é algo decepcionante...
— Ah, nem vem. Eu te vi lutando contra aquele lobão enorme hoje. Você quase venceu ele! Talvez tivesse vencido, se eu não tivesse aparecido. Só apareci porque fiquei com medo de... Er... — Jimin se embolou todo, as suas orelhas queimavam — Enfim, eu deveria ter esperado um pouco mais, você teria ganhado!
Jeon Jungkook encarou Park Jimin com olhos enormes e paralisados. Depois de um instante, ele piscou, desviou o olhar e sorriu. Sorriu constrangido.
— A sua confiança me... Me é lisonjeiro, eu agradeço — as palavras quase escaparam do jovem rei. Depois de limpar a garganta, ele continuou — Enfim, respondendo à sua questão: Não, eu não posso me transformar, e nem consigo sentir feromônios como um alfa normal. Durante boa parte de minha infância eu fui tratado como um beta, mas então comecei a sentir os cheiros dos alfas ao meu redor e eles sentiram o meu. A minha mãe ficou alegre ao pensar em mim como um garotinho que ainda não havia amadurecido o suficiente. Porém, para a decepção dela, esse nunca foi o caso — os lábios de Jungkook se contraíram num sorriso triste — Só sei que sou um alfa porque os outros dizem que o meu cheiro é de um, mas não tenho a capacidade de nem mesmo encontrar um parceiro, pois o meu faro não capta o aroma dos ômegas...
O jovem rei suspirou profundamente, como se falar sobre isso lhe custasse todo o fôlego.
— Foi então que, um certo dia, enquanto eu lutava contra os bárbaros do leste, ao lado da rainha anterior, minha outra mãe, já falecida; deparei-me com uma xamã do lado inimigo, a qual me encarou e disse palavras que me acenderam as esperanças: "O Ômega de Prata será o milagre que te trará o lobo" — Jungkook recitou a fala da xamã, usando o mesmo tom que ela havia entoado na ocasião, enquanto mantinha um olhar distante a frente — Desde então eu nunca me esqueci daquilo...
— Foi por isso que você agiu daquela forma quando me viu pela primeira vez? — Jimin perguntou, sentindo o peito ficar um tanto pesado.
Jungkook sorriu em resposta, confirmando.
— Para ser sincero, boa parte de mim nunca acreditou naquela mulher, porque ela profetizou aquilo no momento em que a falecida rainha ordenou o assassinato dos prisioneiros de guerra. A minha condição de "alfa incompleto" já era muito debatida pelas bocas do povo, a tal xamã provavelmente estava ciente disso antes de me encontrar no campo de batalha.
— Acha que ela inventou isso sobre você para se safar de morrer? — Jimin se sentia cada vez mais concentrado naquela história.
— Sim... No fim, ela realmente foi poupada. Minha mãe gostou de suas palavras e lhe deu a liberdade. E eu fiquei com as tolas esperanças — Jungkook sorriu novamente, desta vez com mais amargura.
Talvez fosse a bebida fazendo efeito em seu cérebro, ou agitação louca daquele dia insano, mas Park Jimin começou a se sentir verdadeiramente culpado por não ser a tal criatura divina.
— Desculpa, cara! — os olhos de Jimin lacrimejavam — DESCULPA POR EU SER EU, E NÃO O ÔMEGA PRATEADO.
Jeon Jungkook então desatou a gargalhar alto, até sentir o estômago doer de tanto rir.
— Pa-Park Jimin, você é-é realmente uma graça! — Jungkook tentava formular palavras entre uma risada e outra. Inconscientemente ele alcançou o ombro do outro e o segurou enquanto se recuperava das gargalhadas — E-está tudo bem. Você apareceu no momento perfeito, eu jamais diria que estou triste pela sua aparição. Muito pelo contrário, eu... Eu gostei de você.
Park Jimin arregalou os olhos e emudeceu, e Jeon Jungkook fez o mesmo ao se dar conta de suas palavras. O sangue de ambos começou a fluir em suas bochechas, enrubescendo-as por completo, até esquentá-las. Os dois jovens não sabiam onde concentrar os seus olhares e nem o que fazer em seguida. Tudo parecia tão desconcertante!
Mas eles não precisaram pensar muito mais em como agiriam dali por diante, porque, logo depois, uma figura bestial apareceu do outro lado da margem do riacho. Os olhos brilhando através da penumbra noturna, os pelos marrons heterogêneos cobrindo todo o corpo do imenso animal, os caninos afiados reluzindo como lâminas assassinas.
O general de Eliah, Han Untak, dava as caras novamente, e ele parecia completamente irado.
— Eu sabia! — ele rosnou, como um cão enraivecido — Eu sabia que o Ômega de Prata não tinha aparecido! Foi um truque! Encenação! Feitiçaria! Você, rei Jeon, é uma farsa, todos vocês são! Eu vou matá-lo! Vou matá-lo e entregar a sua maldita cabeça para aquela raposa!
Raposa!? Jimin pensou, mas não teve muito tempo para refletir sobre aquela palavra, porque, na velocidade de um piscar de olhos, Han Untak saltou, erguendo as garras para perfurar os dois rapazes.
Jungkook e Jimin desviaram por um triz com um pulo, caindo direto num conjunto de raízes duras das árvores ao redor deles. O rei aproveitou uma delas e a puxou, para usar como lança.
— Corra para o acampamento e chame os meus soldados. Han Untak pode não estar sozinho — Jeon disse para o outro rapaz, enquanto erguia o pedaço de madeira e se posicionava como um esgrimista.
Mesmo temendo deixar Jungkook sozinho, Jimin sabia que ele estava certo, então começou a correr para atravessar a floresta o mais rápido possível. Porém, antes mesmo de dar dois passos, Han Untak correu e se colocou em seu caminho.
— Não vou deixar que impeça os meus objetivos, jovenzinho — o general abriu a boca cheia de saliva e de dentes pontiagudos, e latiu antes de tentar morder Park Jimin.
No entanto, Jeon Jungkook foi mais rápido do que o general e o acertou fortemente com a raiz.
— Fique atrás de mim. Lidarei com ele — Jungkook disse a Jimin, cheio de determinação. Mas o outro jovem viu que as mãos de Sua Majestade tremiam, pois ainda se recuperavam dos machucados recentes.
Park então começou a caçar algo que pudesse ajudá-los naquela luta. Um galho, uma pedra afiada, qualquer coisa.
Han Untak avançou de novo, com mais cuidado desta vez, e tentou agarrar o pedaço de raiz das mãos de Jeon Jungkook. O rei aproveitou a brecha na defesa do oponente e acertou o seu pescoço com um chute forte, que fez o outro alfa tossir como se estivesse morrendo. No ataque seguinte, Untak se jogou em cima do rei, usando o próprio peso como arma.
Infelizmente a investida foi eficaz para o general de Eliah, porque o jovem rei, mesmo com o físico forte e saudável, não conseguiu barrar um quadrúpede de altura e peso tão superiores. Jeon Jungkook caiu de cabeça no chão, mas continuou segurando o lobo com a raiz enfiada em sua boca canina, impedindo que este alcançasse a sua cabeça e a estraçalhasse.
Park Jimin assistia à cena com terror. Quando finalmente viu uma pedra pesada e cheia de desnivelamentos pontiagudos no chão em sua frente, ele não pensou duas vezes antes de pegá-la e arremessá-la diretamente na cabeça do maldito alfa, usando toda a força que tinha em seus braços.
O arremesso foi fatal para a fera. Han Untak teve o crânio quebrado pela pedra e caiu morto ao lado do jovem rei Jeon.
Jungkook encarou o general de Eliah com perplexidade, enquanto o corpo deste, aos poucos, retornava à forma humana.
— Vo-você está bem!? — Jimin perguntou, aflito. Ele tremia por inteiro, assustado demais, quase terrificado, pois nunca antes havia matado um ser vivo como aquele.
Minha nossa, ele tinha matado uma pessoa! Park Jimin sentia que poderia morrer ali mesmo.
Vendo o pavor na expressão do outro, Jeon Jungkook saltou para se aproximar dele.
— Está tudo bem. Está tudo bem. Você salvou a minha vida — o rei dizia, também tremendo. Muitas emoções invadiam sua mente naquele instante.
Jimin balançava a cabeça com as palavras do outro, tentando se concentrar nelas para não ter um ataque de pânico.
Mas tudo foi por água abaixo quando Park subitamente começou a sentir um desconforto imenso no fundo de seu peito, que depois se alastrou para o seu estômago e, por fim, infectou o resto de seu corpo inteiro. Ele se retesou para frente, arfando, como se estivesse sendo vítima de uma calamidade sobrenatural, e se agarrou em Jeon Jungkook, a única coisa que havia por perto para se apoiar.
— O-o que é isso!? — Jimin arquejou, sem fôlego.
— Você se machucou!? Ele te atacou em algum momento, Park?? — Jungkook o segurava com preocupação, varrendo-o com os olhos, atrás de algum ferimento visível. Mas não havia nada.
Foi então que Park Jimin recobrou o fôlego, mas, com isso, um conjunto de cheiros novos e intensos também lhe inebriaram, como uma droga que causa queimação em todo o sistema sanguíneo.
Ele se sentia confuso e fraco, feito um doente dopado com morfina e outros narcóticos. Narcóticos deliciosos.
Depois de um minuto em profundo transe, Park Jimin caiu inconsciente, bem nos braços de Jeon Jungkook, que o segurou no mesmo instante.
Momentos mais tarde, o general Kim Namjoon e outros guerreiros de Adaman surgiram na clareira do riacho, já transformados em lobos, pois eles haviam sentido um cheiro inquilino de alfa.
O general Kim mal pôde acreditar que aquele cheiro na verdade não era de um indivíduo estranho, e nem mesmo vinha do corpo morto de Han Untak.
A origem do feromônio ameaçador e extremamente intimidante se encontrava no jovem que abraçava Park Jimin e que o contemplava com olhos tingidos no mais intenso escarlate, como o vermelho do crepúsculo após o pôr do sol.
— Majestade...? — Kim Namjoon tentou chamá-lo, hesitante, sentindo um frio percorrer suas espinhas.
Jeon Jungkook encarou o general com uma frieza mortal, ainda que os seus olhos carregassem as chamas do inferno.
O jovem rei abraçou Park Jimin com mais força, mostrando que o rapaz em seus braços era dele, advertindo sobre uma morte tortuosa a qualquer um que tentasse se aproximar do alfa que havia escolhido o seu ômega.
🌕🌖♛🌘🌑
Reino de Eliah, Capital Elong
Os corredores do palácio pareciam permeados por uma inquietação crescente. Murmúrios dos servos e dos soldados espalhavam, em boatos, as informações urgentes daquele dia que haviam chegado do Norte, além da fronteira.
O rei, Chang Sun, um beta de grande estatura, sentia a raiva corroer suas entranhas enquanto passava pelas alas do imenso castelo e remoía, em seus pensamentos, as últimas notícias de seu exército trazidas pelo mensageiro real.
"As tropas recuaram". "Han Untak está morto". "O Ômega de Prata apareceu".
Quando alcançou o último andar da torre mais exilada do palácio, Chang Sun empurrou as grandes e pesadas portas que o separavam dos aposentos que existiam ali. O brilho das luzes "mágicas", vindas de lamparinas esquisitas espalhadas pelo grande e luxuoso quarto, irritou ainda mais o rei de Eliah, como faíscas perto de pólvora.
Entre os tapetes pomposos e os sofás em cores chamativas, diante da lareira quente, feita de cobre e madeira nobre, estava o indivíduo que Chang Sun queria estrangular até espremer sua carne desprezível, liquefazendo-a em suco.
— A que devo a honra de receber Vossa Grandeza em meus aposentos nesta noite? — o indivíduo falou, se remexendo entre os travesseiros, erguendo as suas nove caudas douradas que, mesmo ele estando sob a forma humana, se recusavam a deixá-lo.
Chang Sun hesitava toda vez que se dirigia a ele, mesmo se estivesse coberto pelo ódio, como era o caso daquela noite. O indivíduo em sua frente, além de carregar uma beleza estonteante, com um rosto limpo e claro, olhos arredondados e dourados como as suas caudas e cabelos, e lábios desenhados como pétalas de flores; ele também emanava uma aura mortífera ao seu redor, como uma flor belíssima que exalava toxinas fatais para arrebatar aqueles que tentassem colhê-la.
— Achou que eu jamais descobriria sobre a sua FARSA!? — o rei de Eliah brandou, irado — Acabo de receber notícias sobre a invasão em Adaman. O meu general está morto e o meu exército está acovardado, e sabe por quem!? Pelo maldito Ômega de Prata!
O indivíduo de nove caudas franziu o cenho e paralisou o olhar.
— O que disse...? — ele mostrou os caninos levemente pontiagudos.
— Não se faça de tolo, pois o tolo sou eu! — o rei andou até o outro lado daquele recinto e puxou a cortina que protegia e cobria um expositor de cristal e o seu conteúdo.
Dentro da vidraça, jazia a cabeça empalhada de um lobo com pelos de prata e chifres de cervo. Os olhos vermelhos da criatura eram opacos, sem vida, e as flores rubras que saltavam de suas hastes já se viam secas e murchas, como plantas num inverno.
— Quando você apareceu aqui com essa falsificação, eu fiquei cego e te acolhi... Agora os meus súditos zombam de mim!— Chang Sun puxou o expositor para o chão, fazendo-o estilhaçar em mil fragmentos de vidro — Vou matá-lo, Seokjin! Vou matá-lo, sua raposa traiçoeira!
O rei de Eliah então puxou a espada que carregava em sua cintura, e se virou para correr até o indivíduo no centro do quarto.
Mas assim que deu o primeiro passo, Seokjin o lançou longe com uma de suas caudas, fazendo-o cair bem ao lado da lareira.
— Você não é capaz de me matar e nem é digno disso, Chang Sun — a raposa lambeu os lábios perfeitos enquanto se aproximava do rei caído. Depois, Seokjin apontou para o lobo prateado dentro do expositor quebrado — Aquela cabeça não é falsa, você e os seus já constataram isso dezenas de vezes antes. Saiba que ainda sinto o sangue do Ômega de Prata manchando as minhas mãos quando o estripei. EU O ESTRIPEI! — ele rosnou, os olhos dourados brilhando como lâminas, os dentes ficando maiores, ameaçadores — Ou o seu exército foi completamente enganado pelo reizinho de Adaman, ou há algo de errado nesta história...
— Hi-história...? — Chang Sun balbuciou, o seu corpo doía por inteiro.
Ignorando o rei, a raposa Seokjin se virou para encarar a fogueira crepitante. As flâmulas do fogo o iluminavam ardentemente, refletindo-se em seus fios dourados de maneira quase mística.
— Mas se a lenda de Adaman realmente está se concretizando, e se há um Ômega de Prata de verdade entre nós, então eu terei que agir rápido... — Seokjin murmurou, estreitando os olhos brilhantes — Rápido e com inteligência.
~♛🌕🌖♛🌘🌑♛~
#LOBODEPRATA
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Demorei, mas voltei com uma bíblia sksksksks, este capítulo tem mais de 9k palavras, então, se você chegou até aqui, eu te agradeço e te proclamo um Guerreiro de Adaman! Espero que você esteja gostando da história e que tenha sentido o coração bater mais rápido em algum momento deste capítulo, como quando o Jimin surgiu com o show de fogo, ou quando ele e o Jungkook tiveram aquele momento intenso perto do riacho, ou ainda com a aparição do Seokjin... Será essa raposa um vilão? Você já está formulando teorias? Hihihi, me conte tudo! Use a tag #LoboDePrata no Twitter para conversar comigo sobre os acontecimentos da história, isso também vai ajudar a trazer mais leitores para a fic💜
[Por falar em Seokjin, olha só como o nosso maravilhoso raposão é lindo:]
Obrigada pelo seu apoio💜 Nos veremos em breve ^^, até lá: VIEWS EM DAECHWITA
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