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|23|♛|Sangria da Prata|

Este é o último capítulo da att quádrupla! 

♛|Sangria da Prata|

Ele gritou até perder todo o ar de seus pulmões.

Completamente abalado e enfraquecido, seu corpo entregou-se a um estado de inconsciência profunda.

O tempo passou rapidamente. Dias naquele balão se tornaram horas, e as horas viraram minutos debaixo dos cílios prateados de Jimin.

Quando despertou, era como se ainda estivesse dormindo. Sentado dentro do cesto, sendo acolhido e alimentado pelas matriarcas Choi e Min, ele se movia alheio a tudo, sedado pela dor no peito e sem voz alguma. Praticamente um boneco vazio feito de carne.

Às vezes Yoojung precisava verificar o pulso do rapaz para ter certeza de que ele continuava vivo. Quando sentia o latejar fraco, ela suspirava aliviada, mas depois lançava um olhar triste aos demais, consciente de que a qualquer momento o Ômega de Prata poderia deixá-los.

A jovem matriarca perderia um amigo, os demais perderiam a esperança e a fé em muitas coisas.

Soobin não saía de cima dele, sempre mantinha-se em seus braços, abraçando-o com seu corpo miúdo e transferindo calor e alento. O garotinho, mesmo tão pequeno, conseguia notar a tristeza em Jimin, por isso, se recusava a soltá-lo.

Quando o cheiro salino do oceano passou a fazer parte dos ventos que os cercavam, Yoojung exclamou:

ㅡ Chegamos a Hayang! ㅡ E assim os condutores dos balões começaram a se organizar para pousar numa praia vazia próxima às fortalezas litorâneas do clã Choi, dos Lobos do mar.

O inverno ali não era tão intenso quanto em Adwan, talvez por estarem no extremo Norte do reino, mas as ondas do mar pareciam vidro se quebrando devido ao congelamento, e a areia era uma mistura de neve e barro úmido embranquecido debaixo dos pés dos recém-chegados.

O pouso foi tranquilo, mesmo com a típica presença da ventania oceânica que às vezes ameaçava arrastar tudo em seu caminho. Naquele dia até a brisa parecia tranquila, ou melhor, quieta demais. Amortecida de alguma maneira.

Não demorou muito até a aparição de uma comitiva dos Choi para receber os fugitivos da capital.

ㅡ Matriarca Choi, seja bem-vinda de volta ㅡ disse o líder da comitiva quando ele parou diante de Yoojung.

A voz familiar fez Jimin erguer levemente o olhar para ver quem era, ainda sem sair de seu estado dormente.

Ele reconheceu Choi Baekho, o alfa alto e robusto que meses atrás o visitou no castelo com outros membros do clã dos Lobos do Mar para lhe entregar presentes e felicitações devido à gestação. Era o rapaz que tinha dado a Jimin o pote de creme de baleia.

Baekho vestia-se com um grosso casaco de pele branco que tornava seus ombros ainda mais largos. Por baixo, um uniforme azul escuro repleto de emblemas prateados cheios de safiras.

ㅡ Almirante Baekho, obrigada pela recepção. Preciso que me ajude a estabelecer os nossos convidados nas torres residenciais. Principalmente ele... devemos arranjar o quarto mais confortável. ㅡ Yoojung encarou Jimin de soslaio com pesar.

Baekho franziu o cenho, intrigado com a face apática do ômega.

ㅡ Ainda não recebemos informações sobre o que está acontecendo em Adwan... ㅡ disse ele, numa sugestão implícita para que a matriarca explicasse.

ㅡ Sim, claro, a carta que enviei através de um corvo enquanto viajávamos nos balões não foi suficientemente explicativa. Irei relatar tudo o que houve o mais cedo possível, mas, por enquanto, precisamos assegurar o máximo de conforto ao Ômega de Prata.

ㅡ Sim, senhora. ㅡ Mesmo dizendo isso, a inquietação ainda pairava sobre a comitiva dos Choi. Eles conseguiam sentir o peso ao redor de Jimin. ㅡ Matriarca, o que está acontecendo com ele?

Yoojung comprimiu os lábios. Sua expressão era sombria.

ㅡ Ainda não há confirmações, mas, pela maneira como sor Park está e pelas circunstâncias que nos trouxeram até aqui... acreditamos que o rei tenha falecido.

Silêncio frio recaiu sobre todos, e não era por conta da baixa temperatura que os envolvia. A comitiva se entreolhou com olhos vítreos e semblantes sombrios. Baekho limitou-se a abaixar a cabeça para que seus pensamentos não fossem expostos.

ㅡ Trouxemos uma liteira. Vamos transportar o Ômega de Prata até a segurança da fortaleza ㅡ disse o alfa, virando-se e se distanciando.

Após ser deitado dentro do estreito transporte de madeira, Jimin se viu sendo carregado até o castelo à beira mar por quatro soldados Choi. Atrás de si, os recém-chegados o acompanhavam, e ao seu lado, Yoojung segurava sua mão. Um calor amigável e bem-vindo que, infelizmente, não mudava muita coisa.

O grupo foi recepcionado pelos cidadãos de Hayang um pouco antes da entrada da fortaleza. A cultura local os tornava diferentes de moradores de outros cantos do reino, eles não vibravam com a visão de visitantes e nem mesmo com a do Ômega de Prata. No lugar disso, erguiam bandeirolas e cantarolavam músicas de boas-vindas.

Jimin, em sua quietude profunda, escutou o coro de vozes como se ouvisse ecos distantes. Talvez fosse sua percepção atualmente perturbada, mas parecia que aquela música carregava um tom melancólico demais, bem adequado ao que acontecia dentro do coração dele.

De repente ele se lembrou da voz suave de Jungkook cantarolando a melodia de Send Me An Angel, e então essa memória se sobrepôs a toda cantoria que o envolvia.

Foi a segunda vez que chorou desde o dia em que sentiu que tudo havia acabado.

🌕🌖♛🌘🌑

O castelo do clã dos Lobos do Mar era alto, e por se localizar sobre uma falésia diante do mar, suas torres atravessavam as nuvens. Comparado ao castelo em Adwan, este era bem menor, mas o seu tamanho definitivamente não o tornava mais simplório, não com uma construção tão bem feita e uma decoração cheia de luxo.

Azul era a cor que reinava ali dentro, desde os tapetes tecidos com mil fios até os lustres de vidro anil presos ao teto. Havia muitas pinturas de pessoas recheando os corredores, rostos de antigos matriarcas e patriarcas, almirantes notáveis e líderes de alcateias ㅡ mesmo o clã Choi não se especializando muito na caça por terra.

Em outros tempos, Jimin teria visto toda aquela riqueza e compreendido as razões de Jungkook ter aturado o jeito atrevido e malicioso do antigo patriarca Choi nas reuniões da Mesa de Prata. Os Choi eram poderosos demais para serem ignorados.

ㅡ Avô ㅡ chamou Yoojung assim que o grupo de recém-chegado pisou no salão principal da fortaleza e se deparou com um grupo de nobres residentes. As jóias e os mantos azuis nos corpos deles balançavam com a ventania que entrava pelas dezenas de janelas espalhadas pelo recinto.

O antigo Patriarca Choi marcava presença, com sua carranca enrugada e olhar azul arrogante.

ㅡ Yoojung, querida... Ou melhor, Matriarca Choi. ㅡ Ele segurou a mão da neta e lhe ofereceu um sorriso. ㅡ O almirante Baekho já me notificou sobre o seu pedido. Os quartos estão sendo organizados neste momento, separamos os melhores para os líderes de outros clãs que chegaram com você, e, claro, o melhor dos melhores para o Ômega de Prata.

A cordialidade do ancião não parecia falsa, mas também não era absolutamente convincente, ao menos não para aqueles que conheciam a sua personalidade rancorosa e afetada. Da última vez em que Jimin e ele trocaram palavras, quando o rapaz o condenou ao exílio, o velho tinha ódio nos olhos e uma promessa de que as coisas não terminariam daquele jeito.

Mas todos estavam cansados demais para pensar nisso naquele momento. Dias de viagem nos céus deixou o grupo exausto e abatido. E Jimin... ele não tinha vontade de pensar sobre maquinações ou desconfianças. O ômega apenas olhou languidamente para cada nobre vestido em azul até parar sobre a figura de um jovem magro e bonito que apoiava uma mão sobre a barriga relativamente alta.

Aquele jovem, que também era um ômega, já o encarava desde o início. Os familiares olhos azuis feito lagoas de safira o analisavam. Seu semblante carregava tensão e um sutil nervosismo, os quais eram disfarçados pelas mechas de cabelo negro-azulado que caíam pelas laterais do rosto fino e corado.

ㅡ Ren? ㅡ Yoojung se aproximou, hesitante, encarando a barriga do irmão com surpresa. ㅡ Pelos deuses, terei um sobrinho? Por que não fui informada?

Como se tivesse acabado de sair de um transe, o rapaz virou a cabeça na direção da irmã e tentou mostrar um sorriso a ela.

ㅡ Eu pretendia enviar-lhe uma carta, mas aconteceram algumas coisas e... ㅡ Choi Ren olhou rapidamente para o avô e depois piscou, abaixando a cabeça. Tentou disfarçar ao acariciar a barriga. ㅡ Desculpe, tudo aconteceu muito rápido.

ㅡ Realmente! Eu sequer tive tempo de visitar Hayang para testemunhar o seu matrimônio com o almirante Baekho. Foi uma grande surpresa para mim quando recebi seu convite. ㅡ Yoojung acariciou a cabeça do irmão com ternura. ㅡ Estou feliz por você, sinceramente...

Os lábios rosados do ômega inclinaram-se num meio sorriso inseguro, mas honesto. Em seguida, os olhos dele buscaram os de Baekho, que estava parado próximo a uma das janelas, observando tudo em silêncio. O almirante enrubesceu levemente quando teve seu nome mencionado na conversa dos irmãos Choi e quando foi o foco da atenção de Ren.

Enquanto isso, Jimin, cuja mente vagava dispersa para todos os lados, captando estímulos sem necessariamente processá-los ou internalizá-los, observou a maneira estranha como Choi Ren estava se comportando. Ele tinha quase certeza de que, no passado, aquele ômega bonito e de nariz arrebitado era tão arrogante que jamais teria abaixado a cabeça ou rido com tanta timidez e nervosismo. Havia alguma coisa diferente. Talvez fosse a presença do alfa Baekho, ou talvez fosse outra coisa...

ㅡ Os quartos estão prontos, Matriarca ㅡ murmurou um servo ao se aproximar de Yoojung.

ㅡ Ótimo. ㅡ Ela se virou para o grupo que a acompanhou até ali. ㅡ Foram dias difíceis e cansativos. Por favor, fiquem à vontade nos aposentos que oferecemos. Nossos empregados estarão presentes para servi-los como nossos hóspedes, caso necessitem de algo... Depois do desjejum de amanhã, eu gostaria de convidá-los para uma reunião nesta sala. A situação atual nos obriga a discutirmos sobre o futuro.

ㅡ De fato, a jovem Matriarca Choi está certa. Precisamos debater sobre... ㅡ Disse um lorde de um clã do oeste. Os demais concordaram com murmúrios e gestos.

ㅡ Nossas posições na Mesa de Prata e as terras de nossos clãs podem estar em jogo. Temos que saber se Min Yoongi realmente venceu o duelo real. Se o rei foi... morto ㅡ murmurou uma mulher nobre, seu tom de voz não passou de um sibilo ao dizer a última palavra.

Outro membro da nobreza disse em seguida:

ㅡ A única forma de termos certeza do que houve é seㅡ

Ele interrompeu a própria fala e se virou para encarar Jimin.

"A única forma de termos certeza do que houve é se ele nos confirmar a morte do rei."

De repente todos os olhos do salão se voltaram para o ômega sentado sobre a liteira, com face abatida e olhar vazio.

Por dentro, Jimin se contorcia de dor.

Se fosse obrigado a pôr em palavras o que o seu coração sabia e sentia, a informação que sua alma lutava para não admitir como certa, ele provavelmente iria desabar ali, em lágrimas, em sangue e em espírito. Estava no limite, até falar era difícil.

Reparando na angústia contida no olhar dele, Yoojung se apressou para interromper qualquer tipo de interrogatório que poderia ter acontecido em seguida.

ㅡ Já sabemos o bastante. Mais respeito, senhores... Não estamos tratando de uma pessoa qualquer aqui. ㅡ Ainda que fosse apenas uma beta, o tom da voz dela calou todas as sugestões e fez os atrevidos se sentirem constrangidos, colocando-os em seus devidos lugares.

Jimin não disse nada, mas gostaria de ter agradecido.

ㅡ Enfim... ㅡ A Matriarca Choi ainda acrescentou após suspirar: ㅡ Esta noite os servos entregarão refeições em seus aposentos. Nos encontraremos aqui amanhã. Tenham um ótimo descanso até lá.

Os murmúrios retornaram, mas dessa vez era uma massa de despedidas temporárias e de agradecimentos pela hospitalidade acolhedora. Apenas uma voz se destacou das demais, cheia de desconfiança e tom acusatório:

ㅡ E quanto a ela? ㅡ O nobre apontou para a velha Min, que estava quase tão quieta quanto Park Jimin desde o instante em que pisaram no solo dos Choi. ㅡ Ela é avó do usurpador e líder do clã Min. Afinal, por que a anciã veio conosco?

O ar na grande sala ficou pesado de repente. Todos a encararam como se estivessem notando-a pela primeira vez. Sua presença havia passado despercebido durante a fuga do castelo em Adwan, ninguém teve tempo para questionar a entrada de uma idosa num dos balões, pois estavam mais preocupados em salvar suas próprias peles. E durante a viagem pelos céus, ninguém ousou pensar em iniciar um conflito ao redor disso estando a milhares de metros de distância do chão. Só agora estavam seguros o bastante para apontar os dedos na direção dela.

Pela primeira vez a idosa disse algo:

ㅡ Minha posição como Matriarca Min e como avó de Min Yoongi me foram entregues pela natureza das circunstâncias de minha vida. O meu papel aqui não deve ser influenciado por isso... ㅡ A serenidade dela contrastava com o clima de desconfiança que pairava sobre os demais.

ㅡ Que papel, Matriarca Min? ㅡ Yoojung ergueu uma sobrancelha para ela.

ㅡ Ficar ao lado do Ômega de Prata e concluir o meu dever.

Outra torrente de murmúrios e exclamações ressoou, várias falas sobre aquilo ser um absurdo romperam pelos cantos.

ㅡ E qual seria o vosso dever, Matriarca? Matar o único salvador que nos resta? ㅡ O escárnio na voz de uma líder insuflou a agitação e a raiva no resto do grupo.

ㅡ Ela deveria ser colocada em custódia até descobrirmos suas intenções... ㅡ sugeriu outro nobre. Vários concordaram com a proposta, até Yoojung se inclinou para ela.

No entanto, um segundo antes de convocarem os guardas para prenderem a anciã, eles viram Jimin segurar a mão dela num ato urgente e energético, o primeiro depois de dias agindo como um boneco sem vida.

Se o garoto estivesse com disposição para falar, ele diria que confiava naquela senhora e que os espíritos, quando ela se aproximava, relaxavam em segurança. Matriarca Min sempre teve uma aura diferente das dos demais e um comportamento muito similar aos dos sacerdotes que oravam para os deuses de Adaman. Pensando nesses aspectos, suas palavras não pareciam tão absurdas.

Então Choi Yoojung tomou uma decisão.

ㅡ Não vamos prendê-la. ㅡ Suspirou. ㅡ Ela ficará sob minha atenção. Não a deixarei sozinha com o Ômega de Prata nem por um segundo.

Alguns tentaram persuadir a jovem matriarca, mas no final o que foi decidido vigorou. Em pouco tempo, cada um se dirigiu ao seu respectivo quarto para descansar e receber a refeição que foi prometida. Jimin foi alocado para um quarto no alto de uma torre que ficava em frente ao mar. O cenário através da janela era lindo, mesmo com o gelo e a névoa do inverno cobrindo tudo. A infinitude do céu oceânico simplesmente arrancava suspiros.

O garoto se sentou próximo ao parapeito para observar o horizonte enquanto tudo era organizado por outras pessoas. Entre ele e os servos arrumando as roupas de cama e preparando uma mesa para pôr o jantar sobre ela, e Choi Yoojung monitorando a velha Min que o tinha seguido até ali, havia um tipo de parede imaginária de vidro fosco abafando os sons e as imagens. A dormência em seus sentidos seguia cada vez mais firme, distanciando-o de tudo. Por exemplo, ele sabia que tinha fome e que estava cansado da viagem, mas a dor da fome se mesclava à dor latente em seu peito, e o cansaço ao vazio em seu espírito.

Seu único jeito de voltar à realidade naquele momento acabou sendo Soobin e Jina, que seguraram suas mãos e chacoalharam seus dedos. As crianças tentavam chamar a atenção dele através desses estímulos. Mal sabiam elas que aquele pequeno ato foi bastante eficaz.

Terminada a arrumação no quarto, Yoojung se aproximou, agachou-se ao lado dele e murmurou:

ㅡ Sor Park, coma um pouco. Os servos trouxeram sopa... ㅡ Jimin não respondeu, ele continuou encarando o cenário sem fim através da janela. A mulher insistiu: ㅡ Os alimentos ressecados que comemos durante a viagem não são nutritivos o suficiente para alguém em seu estado.

Alguns segundos de silêncio se passaram. Nesse meio tempo, apenas a brisa do fim do dia roçou em seus ouvidos.

Então Jimin sussurrou, com a voz rouca e lânguida:

ㅡ Para onde vão os mortos deste mundo?

Yoojung fechou a boca em choque, seu peito murchando.

Jimin continuou:

ㅡ Eu acho que nunca perguntei sobre isso pra o Jungkook...

A jovem Matriarca abaixou o rosto. Sentindo a desolação naquelas perguntas, os olhos dela ficaram pesados. Ela abriu e fechou a boca enquanto tentava buscar alguma resposta feliz, qualquer coisa... No final, escolheu um desvio.

ㅡ Eu lhe conto se Vossa Magnificência comer a sopa.

Uma barganha, como se Park Jimin fosse uma criança precisando de cuidados especiais.

A ideia funcionou. O ômega moveu a cabeça para observar a sopa e então a balançou numa afirmação silenciosa. Yoojung se apressou para pegar o prato quente e nutritivo, e entregou a ele algumas colheres cheias para que se alimentasse. Jimin engoliu tudo tão quieto que nem parecia estar sentindo o gosto dos temperos.

Quando o conteúdo foi totalmente ingerido, os olhos vermelhos dele se voltaram para a amiga, pedindo uma resposta para a sua questão.

ㅡ Para onde vão os mortos. Bem... ㅡ Yoojung suspirou e calculou as palavras que diria em seguida. Mas antes que pudesse fazer isso, alguém o disse por ela:

ㅡ A carne é absorvida pelas raízes da Árvore Sagrada, que estão espalhadas pelo chão onde pisamos. A alma vai para o céu e se torna uma estrela, ela nos zela lá de cima. Em noites de Lua Cheia, algumas almas nos visitam e et cetera... São coisas que nossos anciãos e sacerdotes dizem. Não sei se são reais, mas esta é a resposta que podemos oferecer para você, Ômega de Prata.

Choi Ren estava parado perto da porta com os braços cruzados sobre o ventre levemente inchado. Os olhos dele encaravam Jimin com um brilho cortante nada amigável. Ele parecia estar com raiva de alguma coisa. Provavelmente guardava rancor dos acontecimentos antigos.

Os passos do ômega vestido de azul se dirigiram ao outro, aproximando-se devagar como um lobo avistando uma presa em plena caça.

ㅡ Quem deveria nos dar respostas para questões como essa é você, ó Ômega de Prata. O deus da Árvore Sagrada, da floresta e dos espíritos. O deus da profecia, o nosso salvador... ㅡ Se fosse um pouco menos educado, Ren cuspiria no chão ao lado de Jimin. O escárnio em sua voz era palpável. ㅡ Mas, no final, Vossa Magnificência se mostrou ser bom apenas em dar palestras e em fugir.

ㅡ Ren, retire-se agora! ㅡ Yoojung ralhou, furiosa. Se o irmão não estivesse carregando um filhote, já o teria tirado do quarto aos chutes.

ㅡ Não, não. Eu vou falar o que ele precisa ouvir. ㅡ Ren inclinou-se para encarar o fundo dos olhos de Jimin. ㅡ Como assim o rei está morto? Que tipo de situação absurda é esta? Não engulo nenhuma fatia dessa história de que você está fraco demais para salvar alguém...

ㅡ Ren!

ㅡ Carregar um filhote não deixa um ômega fraco. Na verdade, é o contrário. Você deveria estar forte como um alfa comum, forte como uma fera... Então o que aconteceu com Vossa Magnificência, an? ㅡ Os olhos azuis dele eram um mar turbulento. ㅡ Você é uma fraude, Park Jimin. O rei morreu nas mãos daquela raposa maldita por culpa sua.

Jimin recebeu aquilo como se tivesse sido apunhalado no peito. Lágrimas silenciosas rolaram pelas suas bochechas e pensamentos ruins pulsaram em sua mente.

Ren estava certo, e a dor dessa constatação foi tão absurdamente intensa que quase distraiu o ômega de um detalhe que ele jamais deixaria passar em branco.

Enquanto isso, irada com o comportamento grosseiro do irmão, Yoojung o agarrou pelo pulso e começou a arrastá-lo para tirá-lo dali.

ㅡ Essa foi a gota d'água! ㅡ gritou ela.

Teria lançado Choi Ren porta afora se o almirante Baekho não tivesse dado as caras e trancado a maçaneta do portal, obstruindo a única saída.

Algo não estava certo ali, e o primeiro a notar foi Jimin.

ㅡ "Raposa maldita", você disse... ㅡ balbuciou o garoto, sua voz soou tão baixa e fraca que apenas o súbito silêncio do quarto permitiu que ela fosse ouvida. ㅡ Como sabe que foi aquele cara das raposas? O almirante falou... vocês ainda não sabiam do que aconteceu em Adwan...

A clareza finalmente chegou à mente de Yoojung. Ela franziu o cenho e encarou Baekho e Ren.

ㅡ O que está acontecendo aqui? ㅡ questionou, enrijecendo o corpo.

O casal Choi se entreolhou, a tensão aumentando no quarto.

ㅡ Ren... ㅡ O almirante parecia preocupado com algo, sua voz carregava um tom de aviso.

ㅡ Vamos seguir com o plano. Sem discussões outra vez, por favor, Baekho ㅡ pediu o ômega. Ele parecia cansado, como se tivesse brigado várias vezes com o outro por causa do assunto que guardavam em suas gargantas.

Baekho cedeu, virou o rosto sombrio e cerrou os dentes.

Ren então se dispôs a explicar:

ㅡ É uma armadilha. Hayang é uma armadilha para capturar o Ômega de Prata.

ㅡ O... quê? ㅡ O estômago de Yoojung se revirou.

ㅡ Nosso avô traiu o rei logo depois de ser exilado. Ele recebeu uma proposta de um homem chamado Seokjin, um feiticeiro com nove caudas de raposa que prometeu nos devolver o poder que tínhamos antes do reinado da Grande Rainha. Não colocamos muita fé naquilo, mas fomos encontrá-lo mesmo assim, você sabe como é o vovô... ㅡ Ren suspirou. ㅡ Enfim, o homem raposa acabou sendo bem convincente e cá estamos nós... Rei morto, Ômega de Prata enfraquecido e todos os planos dele dando certo.

Todos os presentes no quarto piscaram atordoados, até as crianças perceberam a seriedade daquela história.

ㅡ Aqueles do clã Choi que não concordavam com o exílio do nosso avô e com a mudança forçada de liderança formaram uma aliança e acabaram decidindo ajudar o tal de Seokjin quando ele precisasse. Não sabíamos quando teríamos que agir, ele apenas nos disse que, se um dia Park Jimin se refugiasse em nossas terras, deveríamos capturá-lo. ㅡ Ren já não ligava mais para a regras da corte que impediam as pessoas de proferir o nome do rei. ㅡ Não sei como a raposa previu até mesmo essa rota de fuga de vocês...

ㅡ Hayang é a região mais segura do Norte que também a mais próxima da capital. Se a corte precisasse fugir para algum ponto, teria que ser para cá. É uma questão de estratégia. ㅡ O coração de Yoojung acelerava no peito.

ㅡ Isso explica. ㅡ Ren deu de ombros e então se virou para Park Jimin. ㅡ Enfim, o nosso avô pretende mantê-lo aqui até receber respostas de Seokjin. Entregar o Ômega de Prata aparentemente é vital para ele. Park Jimin é nossa moeda de troca para conseguirmos obter nosso poder de volta e a cessação do exílio. Do meu e do vovô.

Yoojung empalideceu.

ㅡ Você... Você quer agir como um desertor?!

ㅡ Nós dois somos desertores, irmãzinha. Eu traí o antigo rei e você está traindo o atual. Agora eu lhe pergunto... qual lado vale mais a pena?

A jovem chacoalhou a cabeça em negação e andou para trás, colocando-se entre ele e Jimin, como se tentasse proteger o garoto apático. Aquela reação já era uma resposta.

ㅡ Eu sabia que você agiria assim. ㅡ Estranhamente, todo o corpo de Ren tremeu. Havia medo sincero no olhar dele. ㅡ Nosso avô não pretende poupá-la se você se voltar contra ele, Yoojung. Ele vai matá-la na hipótese de isso ser necessário para recuperar o posto de patriarca... Eu não quero que isso aconteça.

Yoojung franziu o cenho, não entendendo direito onde o irmão caçula queria chegar com aquela conversa.

Após uma rápida troca de olhares entre Ren e Baekho, o ômega disse:

ㅡ Vocês precisam sair daqui esta noite. Baekho atracou o navio mais rápido que temos no porto aqui ao lado da fortaleza. Ele vai navegar contra a correnteza do rio que deságua no mar e seguir pelo afluente Norte que, em determinado ponto, muda a direção da corrente. Quando mudar, vocês seguirão para terras estrangeiras até pegar um desvio e descer para o extremo Norte de Adaman, onde fica a região do clã Wang. O caminho é longo e hostil, mas ainda se trata de uma opção melhor do que ficar aqui, porque lá eles ainda são leais a Jeon Jungkook.

ㅡ E-espere. O quê? Está nos ajudando a escapar?

ㅡ Sim. Escute... Há comida e bebida suficientes para dois meses de viagem, para uma tripulação de vinte pessoas. Há mapas e roupas de frio no porão do navio. Baekho também os acompanhará, ele é o melhor navegador que temos.

ㅡ Ren, um instante! ㅡ Yoojung segurou os ombro do irmão. ㅡ Você está se esquecendo de um detalhe. Tudo bem, o porto fica num rio que deságua na praia e que é banhado por um afluente nortenho. Entendi que seguiremos pelo curso do afluente, pois a corrente dele é mais fraca, menos desvantajosa para navegar; mas ali há uma ponte impedindo a livre passagem dos navios e barcos. Precisamos de alguém que acione os mecanismos e abra o caminho para nós.

ㅡ Eu não me esqueci desse detalhe. Acionarei os mecanismos.

ㅡ Como? Não! Quando a ponte for elevada, eles irão perceber a fuga, então não haverá tempo para que você embarque no navio. Teremos que fugir o mais rápido possível!

ㅡ Eu não pretendo embarcar, Yoojung. ㅡ A mão de Ren segurou a direita da irmã. ㅡ Apenas Baekho e eu sabemos sobre este plano. Não confio em mais ninguém... Além disso, qualquer um que ficar para trás, exceto eu, será punido até a morte pelo vovô. Por isso Baekho vai. Por isso eu não irei com vocês.

ㅡ Não diga absurdos! Nosso avô te favorece, disso eu tenho noção, mas não o favorece tanto assim... Ele não te pouparia de nada, Ren. ㅡ A voz da jovem matriarca ficou embargada.

ㅡ Ele me pouparia porque estou carregando o próximo herdeiro do clã. ㅡ A mão do ômega buscou a barriga arredondada. ㅡ Até o nascimento dele eu estarei à salvo.

A compreensão atingiu a jovem matriarca. Yoojung precisou se controlar para que lágrimas não caíssem de seus olhos.

ㅡ I-isso... não...

ㅡ Yoojung. ㅡ O ômega encheu os pulmões de ar e depois exalou. Ele também sentia um nó na garganta. ㅡ Quando a Lua estiver no ponto mais alto do céu esta noite, você e os outros devem pegar as passagens dos criados para saírem da fortaleza. Baekho vai lidar com os vigias noturnos da saída oeste e irá encontrá-los lá. Eu os verei no porto.

Depois de repassar o plano mais algumas vezes, pontuando detalhes extras aqui e acolá, eles se despediram e esperaram a noite cair.

🌕🌖♛🌘🌑

Yoojung conhecia os corredores do castelo e sabia que naquele horário os empregados só apareciam se fossem chamados por algum hóspede ou residente, então foi relativamente simples passar um grupo de mais ou menos dezenove pessoas pela ala vazia dos aposentos e seguir em direção às escadas de serviço.

Nem todos aqueles que tinham chegado em Hayang através dos balões estavam presentes naquele momento, pois os estoques do navio deixado por Baekho não poderiam lidar com tantas bocas. Sendo assim, foram escolhidos a dedo quem seria chamado para fugir das terras do clã Choi: Crianças e adultos cuja família tinha rixas com os Lobos do Mar, pessoas que se permanecessem para trás definitivamente iriam sofrer quando o velho Choi tirasse sua máscara cheia de hospitalidade.

E mais uma vez sacrifícios estavam sendo feitos, Jimin pensou enquanto era arrastado para cima e para baixo pelos outros. Sua face não denunciava nada, mas dentro de seu cerne a culpa lhe causava queimaduras profundas.

O grupo chegou à saída dos empregados localizada na área Oeste da torre. Lá fora o som da ventania e das árvores balançando com a brisa era alto, ótimo para ocultar os passos dos fugitivos. Eles aguardaram pela aparição de Baekho sob o céu noturno, com suor frio escorrendo pelas têmporas.

"E se de repente decidirem nos entregar ao velho Choi?", pensamentos como esse pairavam sobre a mente de todos, e até Yoojung chegou a ficar um pouco tensa diante da possibilidade. Ela conhecia Ren e confiava nas palavras dele até certo ponto, mas Baekho... Baekho era o almirante dos Lobos do Mar, se os ajudasse, ele apenas teria prejuízos. Seria separado do marido, do filho que estava sendo gestado e perderia o posto de líder das tropas marítimas do reino.

ㅡ O caminho está livre. ㅡ A figura do almirante surgiu das sombras de um coqueiro congelado. Pela expressão no rosto de Baekho, Yoojung teve certeza de que ele sabia que iria sacrificar muitas coisas. Isso não a deixou mais calma.

ㅡ Vamos para o porto. Ren já nos aguarda lá ㅡ disse o alfa, virando-se e mostrando a direção para o grupo. Sem ter outras escolhas, todos o seguiram rapidamente.

Para evitar atrasos e imprevistos, o próprio almirante transportou Jimin ao local onde o navio estava atracado, carregando-o nos braços enquanto corria pelos atalhos cobertos de areia e cascalho. O ômega se sentiu desconfortável com aquilo, com a presença de outro alfa enquanto sofria pela ausência da de Jungkook, mas se manteve calado e quieto o caminho inteiro. Sua mente era com a de um enfermo sedado, afinal de contas.

No porto, eles avistaram o navio. Era menor que outros atracados ao redor, mas esse tamanho reduzido e o formato aerodinâmico da proa provavelmente eram os detalhes que o tornavam o mais rápido de todo o arsenal dos Lobos do Mar.

Ren aguardava o grupo na frente da prancha de subida, segurando uma bolsa visivelmente pesada. Não havia mais ninguém, o porto parecia vazio como um cemitério em dias felizes.

ㅡ Não foram vistos, certo? E nem seguidos? ㅡ O ômega de azul perguntou, agitado. Ele estreitou os olhos quando viu Jimin no colo de Baekho, mas não comentou nada sobre isso.

ㅡ Não, saímos do castelo pacificamente ㅡ disse Yoojung.

ㅡ Também não senti o cheiro de ninguém pelo caminho ㅡ Baekho acrescentou, e em seguida colocou Jimin no chão. ㅡ Todos subam a bordo. Eu vou em seguida.

ㅡ Vamos. ㅡ A matriarca Choi colocou o braço de Jimin ao redor dos ombros dela para ajudá-lo a atravessar a prancha. A velha Min, que tinha insistido em ficar ao lado do ômega até o final, também se prontificou a ajudar com a subida íngreme e difícil.

Só que antes de começarem a andar, o garoto segurou um pedaço do manto de Choi Ren e travou o passo.

ㅡ ... Por quê? ㅡ murmurou Jimin, de repente.

ㅡ "Por quê" o quê? ㅡ O cenho de Ren se contraiu.

ㅡ Por que está me... ajudando?

ㅡ Eu já expliquei as minhas razões. Pare de nos fazer perder tempo e suba logo.

ㅡ Mentira. ㅡ Pela primeira vez a voz de Jimin não saiu baixa como um sussurro. A rouquidão em sua garganta pôde ser ouvida por todos. Ele tremia, esforçando-se ao máximo. ㅡ Se só quisesse salvar a sua irmã, bastaria... bastaria mandá-la para algum lugar longe de Hayang. O que te põe em risco nessa fuga é o fato de que está me ajudando a escapar do seu avô. Então... por quê?

Eles se encararam em silêncio, o azul frio e afiado contra o vermelho opaco e quase sem calor. Ren revirou os olhos e suspirou.

ㅡ O meu avô é um homem ambicioso demais, tão ambicioso que chega a ser um tolo. Ele foi um tolo egoísta quando me obrigou a... ㅡ Engoliu em seco, recordando-se do vexame na noite luar de Jeon Jungkook, da sua falta de controle quando o cio bateu à porta. ㅡ Enfim! Fazer esse acordo com aquela raposa... Eu não gosto disso. Não gosto do golpe que foi planejado, também não gosto do que pode vir a acontecer no futuro. Nada nos dá certeza de que estaremos a salvo nesse novo reinado. Minha única certeza é você.

Jimin piscou, atônito. Ren continuou:

ㅡ Você é o Ômega de Prata, é aquele que deveria nos ajudar em tempos difíceis... Não acredito em você, mas quero manter minha fé nas profecias, no que o meu povo crê. Além disso ㅡ o ômega soltou um suspiro ㅡ, eu sei que você salvou a minha vida naquela época. Eu teria sido executado, mas recebi apenas um exílio no lugar. Meu avô não se deu conta disso, já eu, sim...

A compreensão atravessou a mente do jovem Park. Ele abriu e fechou a boca, sentindo a necessidade de agradecer, mas nada parecia correto ou suficiente. Então, no final, sua mão soltou o manto de Ren e tocou a barriga um pouco inchada dele, depois tocou o próprio ventre alto.

ㅡ Tomara que eles se tornem amigos um dia ㅡ sussurrou, e se virou para atravessar a prancha com Yoojung e a velha Min ao seu lado.

Ren ficou parado no chão do porto, estático e com os olhos pesados. Não sabia por que sua garganta começava a criar um nó.

Ele sentiu a mão de Baekho acariciando a lateral de seu rosto. Agora restava apenas os dois ali.

ㅡ Por que ainda está aqui? Você precisa se apressar, Baek ㅡ disse num balbucio.

ㅡ Eu não quero me separar de você.

ㅡ Fez uma promessa. Vá antes que eu me arrependa.

ㅡ Então se arrependa logo.

O ômega abaixou a cabeça e a chacoalhou numa veemente negação. Vultos de lágrimas reluziram sob o luar pálido.

ㅡ Estou indo mover os mecanismos da ponte. Adeus. ㅡ Ele girou para correr em direção à torre que controlava a ponte do afluente Norte, mas antes de dar um passo para longe, foi puxado pelas mãos de Baekho.

O alfa segurou o rosto dele e juntou as testas. Respirando fundo, absorvendo o perfume de Choi Ren e cerrando os dentes, Baekho disse:

ㅡ Eu retornarei antes de essa criança nascer. Virei buscá-lo, não importa o custo... É minha outra promessa, entendeu?

ㅡ E-entendi. ㅡ As lágrimas borravam a visão de Ren.

ㅡ Fique vivo e saudável até o meu retorno.

ㅡ Eu ficarei. Suba logo no navio, Baek. Tenho que ir.

Os dois se despediram com um beijo rápido, porém intenso e cheio de sentimentos. Choi Baekho subiu a prancha a contragosto e tomou sua posição como capitão do navio, organizando as velas e liderando a ponte de comando. Choi Ren correu até a torre e se recompôs para fazer sua parte no plano.

Antes de o grupo chegar ao porto, Ren já tinha visitado o interior do anexo da ponte para jogar soníferos nas saletas dos vigias e deixá-los desacordados. Ele pôs boas quantidades de líquido do sono em bombinhas de fumaça e as arremessou lá dentro. Três minutos depois a movimentação dentro da torre cessou.

Agora com a certeza de que o navio estava pronto para zarpar, Ren deveria retornar ao local para acionar os mecanismos que faziam a ponte ser erguida. Precisava ser naquele momento, pois no instante em que o afluente Norte estivesse livre para ser navegado, todos os vigias de Hayang seriam alertados, e o velho Choi com certeza viria ao encontro deles.

Com um lenço no rosto para não ser afetado pelos resquícios da fumaça, Ren abriu a porta da torre e subiu a escadaria até a saleta principal. Assim que girasse as manivelas e concluísse sua parte no plano, o ômega iria jogar o conteúdo da bolsa que carregava ㅡ pedras e hastes de metal bastante resistentes ㅡ bem onde as correntes de sustentação da ponte se enrolavam, impedindo que alguém tentasse reverter o que ele tinha feito.

Porém, logo após chegar ao topo da escadaria, ele foi surpreendido por soldados do clã que surgiram das sombras e o imobilizaram, obrigando-o a cair de joelhos no chão enquanto seguravam seus braços nas costas.

ㅡ Soltem-me! Ora, como ousam!? Esqueceram-se de quem sou?! ㅡ Ren se debateu. Seu coração estava acelerado, prevendo o pior.

ㅡ Você é o meu neto, Ren. Meu neto. Deveria pensar nisso corretamente. ㅡ A voz ralha que soou em seguida arrepiou todos os pelos do corpo do ômega.

O antigo Patriarca Choi apareceu sob a luz da lua que atravessava uma janela da torre.

ㅡ O que pensou que iria fazer, menino? ㅡ questionou o velho, estreitando os olhos. ㅡ Ia erguer a ponte para o nosso trunfo conseguir fugir? Pretendia perder tudo assim, de bandeja?

Ren não disse nada, apenas encarou o avô com raiva enquanto ele tagarelava.

ㅡ Muito bem... De qualquer maneira, eu consegui entender o que vocês estavam fazendo a tempo de impedi-los. Nossos soldados já estão tomando posição. Ninguém vai fugir.

ㅡ O-o quê?

Lá fora, sobre o navio que estava de partida, aguardando apenas a elevação da ponte, Jimin escutou murmúrios vindo da água escurecida pela noite. Sussurros etéreos movendo-se com a corrente que seguia em direção ao mar logo adiante. O garoto acompanhou esses barulhos até avistar algo flutuando nas sombras do rio.

ㅡ Estamos cercados! ㅡ exclamou Baekho, trincando a mandíbula. A visão apurada do alfa conseguiu ver a dezena de pequenos barcos ocupando a saída do porto que dava para o oceano. Além dela, o único outro caminho acessível era o afluente diante deles, mas a ponte ainda estava abaixada, impedindo a passagem.

ㅡ Não me diga que o Ren... ㅡ Yoojung se virou na direção da torre e a encarou com olhos vidrados, esperando por qualquer sinal. Ela engoliu em seco após um instante de anormal quietude.

ㅡ Vamos, Ren, apareça... Apareça, por favor ㅡ murmurou Baekho, batendo as mãos ansiosas no leme. A preocupação transbordava de seus olhos claros.

Jimin, em seu silêncio, assistiu a tudo e percebeu que mais e mais soldados surgiam pelos deques, e que em breve o porto estaria cheio de lupinos do clã Choi prontos para prender o grupo de fugitivos. Não havia saída, nem pelo afluente e nem em direção ao mar. A única passagem livre era aquela que ia contra a correnteza do rio principal, mas a força das águas logo os sucumbiria, os deixaria lentos demais para fugir e assim seriam pegos no meio do caminho pelos barcos menores, com menos peso.

Sem escapatória.

Ou pensou que assim fosse.

Enquanto todos os seus pensamentos se retorciam debaixo do fantasma da desistência, uma figura branca e pequena subiu o parapeito do navio. Ele arregalou os olhos e encarou assustado a velha Matriarca Min em pé naquela estreita mureta.

A idosa cega parecia estar observando algo além da escuridão da noite.

ㅡ O-o que está fazendo, vovó Min? ㅡ A voz do ômega mal superou um sibilo.

ㅡ Meu jovem deus, espero que não se culpe pelo que farei agora. Saiba que o meu destino sempre foi esse... ㅡ Ela disse, e foi como se cantasse para o vento. Uma lágrima desceu de seus olhos. ㅡ Antes de ir, peço desculpas em nome de meu neto pelos atos que ele cometeu. Sinceramente... sinto muito.

Em seguida, a anciã se jogou no rio e foi abraçada pelas águas enegrecidas.

Jimin mal teve tempo de inclinar o corpo para fora do navio e gritar por ajuda antes de a pressão atmosférica ao seu redor ser modificada e o sangue em suas veias fervilhar.

Os demais também captaram algo diferente ao redor deles. O frio, por exemplo, foi momentaneamente substituído por uma brisa de calor vinda de lugar nenhum. Em seguida, eles sentiram o navio se mover, mas Baekho não estava controlando o leme naquele instante. Jimin foi o único que compreendeu de cara o que estava acontecendo, pois ele escutou os espíritos do rio, os murmúrios e sua intensa movimentação.

Acontece que a velha Min, com suas capacidades espirituais quase tão fortes quanto às do ômega, havia se entregado às entidades do rio para ser parte dele, em troca de ajuda, de uma escapatória para todos. Agora aquelas águas começavam a se mover para realizar o desejo dela.

Primeiro, um muro de água se ergueu entre o navio e os barcos dos Choi. Uma imensa, maravilhosa e aterradora cortina translúcida cortando toda a largura do rio. A Lua refletida em sua superfície dançava entre as cascatas.

Depois, numa manobra milagrosa, a corrente mudou de direção, impulsionando o navio para longe do porto e do oceano que banhava o lado Leste do reino. O rio inteiro havia modificado seu fluxo para que eles pudessem navegar rumo a Oeste, na direção contrária, deixando o velho Choi e todos os seus subordinados boquiabertos e perdidos, de mãos atadas.

Antes de sua tripulação ficar ainda mais distante de Hayang, Baekho olhou para trás, para a torre da ponte do afluente. Ele conseguiu ver Choi Ren preso por dois soldados ao lado do avô, mas o ômega sorria cheio de deboche, com seu jeito de sempre.

Jimin escutou o almirante murmurar "Fique vivo..." com um semblante atormentado pairando sobre a face. Nessa hora, o garoto repassou mentalmente as últimas palavras da anciã Min, sentindo o apeito no perto piorar e a respiração pesar enquanto seu corpo inteiro era arrebatado pela ventania da viagem.

"Espero que não se culpe pelo que farei agora", os sussurros dos espíritos imitavam a voz da idosa. Mas como Jimin não se culparia, se a cada instante que passava uma nova pessoa se sacrificava pela vida dele? E ele nada conseguia fazer para ajudar ou recompensar? Sentia que, quanto mais tempo vivia naquele mundo, maior era sua carga de responsabilidade. Assim como nos primeiros dias em Adaman, quando acordou bem longe de sua casa, Jimin era um personagem sem força, sem conseguir atingir seus propósitos.

O que estava fazendo ali, no fim das contas? O que ainda o segurava naquele lugar? Se apenas sumisse, ninguém teria que continuar lutando por algo tão sem sentido quanto ele. Toda a dor em seu espírito, a saudade que sentia de Jungkook e o vazio sufocante... tudo o puxava para uma despedida.

Mas ainda havia algo mantendo o seu coração pulsante. Uma pequena coisa, uma promessa calorosa dentro dele.

Jimin sustentou essa sensação durante todo o caminho do rio.

O navio cortou o Norte de Adaman, passou por entre montanhas e florestas congeladas, e chegou ao deserto do Oeste no qual caía precipitações de neve pelas dunas lisas. Com a alta velocidade do fluxo das águas, levou pouco menos de uma semana para que os tripulantes conseguissem avistar novos sinais de civilização.

ㅡ Os Templos de Areia do clã Wang! ㅡ Baekho, de pé na ponte de comando, apontou para o horizonte por trás das dunas onde jazia uma cidade quase tão grande quanto aquela que rodeava a fortaleza do clã Choi, cheia de casebres construídos ao lado de dois grandes templos com colunas altas e centenárias, e imensas estátuas de lupinos espalhadas pelo perímetro.

Park Jimin havia lido sobre aquele lugar não muito tempo atrás. Ainda podia sentir o cheiro de Jungkook ao seu lado enquanto ele o observava folheando o livro da biblioteca do palácio que contava sobre a terra natal da Grande Rainha.

ㅡ Sua mãe nasceu aqui? ㅡ perguntou o garoto na época, apontando para uma pintura no papel que retratava um dos templos.

O jovem rei beijou-lhe o pescoço antes de responder:

ㅡ Sim...

ㅡ Hm, legal. É bonito. ㅡ Jimin tinha pensado no quão parecido aquele templo era com fotos da Roma e da Grécia. ㅡ Você já foi lá?

ㅡ Fui. ㅡ Jungkook estava mais interessado em continuar beijando o pescoço do ômega, mas continuava se esforçando para responder as perguntas dele sem atraso.

Ao notar isso, Jimin corou e sorriu, mas não se entregou à tentação.

ㅡ Ah, é claro que você foi. Você é o rei, precisa visitar o reino inteiro, não é?

ㅡ Sim.

ㅡ Só tem palavras monossilábicas nessa sua boca sem-vergonha?

Jungkook desatou a rir e encostou a testa no ombro do amado.

ㅡ Desculpe-me. Hm,... sim, eu precisei visitar todas as principais cidades após minha coroação. Porém, viajei até os Templos de Areia bem antes disso. Lembra-se de que certa vez eu lhe falei sobre acompanhar Wang Nara nas campanhas militares dela? ㅡ Ele penteou uma mecha prateada dos cabelos de Jimin. Depois de o ômega acenar, confirmando que se lembrava de ter tido a tal conversa, o alfa prosseguiu: ㅡ Então... eu comecei a fazer isso aos doze anos. Foi a primeira vez que viajei tão ao Norte do reino. Naquela época a fronteira ainda não estava tão bem estabelecida.

ㅡ O que você fez nesse lugar? Era muito jovem...

ㅡ Apenas observei os passos de minha mãe e conheci o povo dela. Nara não me deixou entrar numa luta até os meus quatorze anos.

ㅡ Ah sim ㅡ murmurou Jimin, aliviado ㅡ, e como é lá?

ㅡ Repleto de areia, seco, com exceção do rio que passa lá perto, e quente. ㅡ Jungkook fez questão de murmurar a última palavra na nuca de Jimin, espalhando o hálito cálido pela pele dele. O ômega sentiu um arrepio e muito calor.

ㅡ Quente? Não tem nada de bom pra falar da terra natal da sua mãe?

ㅡ Mas ser quente não a desqualifica, hm. ㅡ As mãos do jovem rei se aventuraram por baixo do manto que mantinha Jimin aquecido naquele momento. O garoto tremeu outra vez sob o toque. ㅡ Muito bem, estou exagerando. Os Templos de Areia do clã Wang não se resumem a calor, areia e aridez. A cidade é cheia de construções bonitas e o comércio de especiarias, de tecidos e de joias é rico. Um dia lhe presentearei com as opalas de lá.

ㅡ A-ah, é? ㅡ Nesse momento, contudo, Jimin não ligava mais para o que havia na região do clã dos Lobos da Terra, pois as mãos de Jungkook tomaram toda sua atenção.

No fim, o livro que ele estava lendo foi jogado para o lado, e os sons de beijos e gemidos ecoaram pelas paredes daquela parte do palácio.

Jimin piscou, retornando ao presente, encarando o imponente templo que se erguia a poucos metros de distância do porto, tão alto que sua sombra alcançava o navio recém-chegado.

Assim como Jungkook havia lhe dito, o calor ali era notável. Nem mesmo as nuvens que carregavam o frio conseguiam cobrir toda a região com nevascas. No lugar de neve, chuvas torrenciais os cobriam e transformavam o chão de areia num piso de barro e lama. As construções amarelas eram todas decoradas com tapeçarias exóticas e desenhos entalhados nas superfícies. As pessoas tinham pele bronzeada, cabelos castanhos e olhos verdes como a floresta mais viva, e vestiam-se com poucas cobertas, usando apenas tecidos esverdeados cobrindo as partes essenciais do corpo, acessórios como togas e turbantes e adornos com pedras preciosas.

Aquele lugar era muito diferente de todas as outras partes de Adaman.

Jimin gostaria de ter feito essa visita antes, com Jungkook, para conhecer o ambiente e ouvir as histórias do alfa, de quando ainda era um príncipe pré-adolescente subindo em dunas pela primeira vez. Gostaria de ter usado um turbante dos Wang como os dois fizeram uma vez há vários meses, após os chifres surgirem em sua cabeça e seu mundo virar de cabeça para baixo.

Ele queria tantas coisas, e ao mesmo tempo se arrependia disso e de ter tido o que teve, porque simplesmente foi um imenso erro. Um erro de cálculo do livro, daquele lugar. Eles escolheram o cara errado para realizar um papel grande demais.

Um zumbido passou a preencher a mente de Jimin no momento em que o navio atracou.

ㅡ Patriarca Wang, sua família está nos recepcionando. A mensagem de nossa chegada deve ter sido recebida ㅡ disse alguém, talvez Yoojung ou outra mulher do grupo de fugitivos, o ômega não sabia dizer.

ㅡ Vamos para o templo principal. Todos nós precisamos de um descanso digno antes de uma reunião séria, principalmente ele. ㅡ A voz grave e robusta devia ser do homem beta de meia-idade que os tinha acompanhado até ali desde a fuga da capital Adwan. Ele provavelmente se referia a Jimin com sua última fala.

ㅡ O que está havendo com o Ômega de Prata!? ㅡ Uma terceira pessoa exclamou, aproximando-se do ômega.

Jimin via tudo borrado, parecia anestesiado em absoluto.

ㅡ Sor Park!

Não havia chão, apenas uma queda infinita.

Mãos o tocaram, mas era como sentir lascas de madeira em sua pele.

Ele se encolheu, escolhendo sumir.

Fechou os olhos com força, ou imaginou que estivesse fechando. Não conseguia separar realidade de ilusão.

Quando abriu as pálpebras novamente, estava em outro lugar, deitado numa cama, talvez. Não tinha certeza... a sensação ruim ainda permanecia. Vultos de pessoas caminhavam ao redor dele, vozes ressoavam, mas Jimin não conseguia entender nada.

Dor. Dor. Dor.

Era como um ébrio, com sentidos adormecidos pelos machucados invisíveis.

Alguém tentou falar com ele, olhos azuis familiares e amigáveis que, por alguns instantes, foram substituídos por uma miragem negra cheia de estrelas.

Dor. Dor.

E então um alívio momentâneo.

Um choro infantil acompanhado de uma onda calorosa que abraçou o peito do ômega, restaurando levemente aquele vazio insuportável.

Por fim, a escuridão da inconsciência o absorveu.

🌕🌖♛🌘🌑

Jimin acordou devagar, piscando sonolento e com a mente completamente vazia. Estava deitado de bruços naquela cama desconhecida, porém confortável, e a luz do dia entrava por uma janela em arco, irritando suas pupilas sensíveis.

Ele moveu a cabeça, apertando a bochecha contra o colchão, despertando os sentidos com o passar dos segundos. Logo se arrependeu de ter acordado, pois o desconforto no peito retornou não muito tempo depois.

Até que sentiu um toque suave numa das mãos.

ㅡ Hm? ㅡ Jimin contraiu o cenho e tentou focar a visão em algo perto dele e sobre a cama. Eram duas pequenas figuras humanas.

A maior e mais afastada era Soobin. Ele dormia profundamente, com o peito subindo e descendo no ritmo suave do sono. Suas roupas tinham sido trocadas por uma túnica leve e esverdeada do clã Wang que combinava bastante com os cabelos negros dele.

A figura menor deitada bem ao lado do rosto de Jimin era um bebezinho que ele não conhecia. Ou achava que não, a princípio. Mas bastou a mão miúda, pálida e delicada segurar o dedo mindinho do ômega para tudo fazer sentido. Aquele cheiro jovem e familiar rapidamente lhe entregou todas as respostas.

A visão de Jimin borrou novamente, porém, desta vez, isso se devia às lágrimas que se acumularam.

ㅡ Você... é o Yeonjun? ㅡ sussurrou com os lábios tremendo. Tentando lutar contra o corpo pesado em martírio, ele se arrastou até ficar agachado diante do bebê e o analisou dos pés à cabeça com um sorriso fraco no rosto.

Yeonjun estava acordado e se balançava, contraindo os dedos minúsculos das mãos e agitando as pernas pequenas. Seus olhos inchados de recém-nascido abriam e fechavam, observando tudo ao redor. Eram vermelhos como os de Park Jimin e brilhavam curiosos como os de Jungkook.

Os cabelos? Fios pequeninos cujas raízes carregavam o mais negro tom de nanquim e que terminavam da cor da platina mais pura. Outra marca da mistura de seus pais.

ㅡ Vo-você é de verdade? ㅡ A voz de Jimin se quebrou ao meio.

Ele acariciou o rosto pequeno do filho com dois dedos trêmulos. Quando sentiu a textura macia da pele de Yeonjun, o ômega se desfez em lágrimas.

ㅡ É real. É-é verdadeiramente...

Essa constatação não se referia somente ao pequeno Yeonjun, mas a absolutamente tudo o que ele tinha vivido naquele mundo. Não que antes já não tivesse constatado dezenas de vezes, após longas crises existenciais e confusões sentimentais, que sua vida ali dentro não se tratava apenas de uma grande miragem. Mas, de alguma forma, estar diante daquele bebê era a conclusão de tudo.

O fim, o começo e o fim novamente.

Isso o deixou aterrorizado, pois assim como Yeonjun, a existência e a morte de Jeon Jungkook também eram absolutamente reais, muito mais do que sua mente dopada conseguia assimilar. E tudo aquilo que Jimin perdeu, desde amigos até o homem que ele mais amou na vida, não poderia ser superado ou recuperado como se fosse uma simples ilusão. Isso simplesmente estava fora de questão.

O ômega abraçou o bebê com cuidado enquanto soluçava baixinho. Seu coração em destroços.

ㅡ Jungkook, no-nosso Yeonjun é muito bonito. ㅡ Ele penteou os fios macios do cabelo da criança. ㅡ Mas acho que... não consigo...

Beijou a testa de Yeonjun durante longos minutos, absorvendo o infanto perfume e o calor doce do filho para conseguir recuperar alguma força de vontade. Em seguida, chamou Soobin com uma carícia em seus cabelos negros.

ㅡ Binbin?

ㅡ Hm... Pah? ㅡ O menino abriu os olhos devagar, sonolento.

ㅡ Pode vir pra cá? Eu preciso da sua ajuda.

Soobin engatinhou até se deitar bem ao lado de Yeonjun, abraçando-o.

ㅡ Binbin, e-eu preciso sair. Você promete que vai cuidar do Yeonjun?

ㅡ Sair? Papa... volta logo? ㅡ O menino balbuciava, lutando contra a vontade de dormir.

Jimin engoliu o nó na garganta.

ㅡ Promete, 'tá bom?

ㅡ ... Prometo ㅡ depois de dizer, Soobin voltou mergulhar no sono profundo.

O rapaz se inclinou na direção da criança adormecida e depositou um beijo cheio de ternura em sua testa, acariciando a maciez dos cabelos dela com uma mão enquanto isso. Em seguida, repetiu o ato com Yeonjun. Suas lágrimas não paravam de cair.

Jimin se levantou e moveu o corpo para fora da cama vagarosamente, cada parte dele parecia vidro quebrado que poderia se estilhaçar em milhões de pedaços a qualquer momento. Ele cambaleou até uma porta que levava a uma varanda, e da varanda caminhou até um percurso de areia que terminava no alto de uma duna.

Quando chegou lá, seus joelhos cederam. Sentado no chão úmido pela chuva torrencial, Jimin contemplou o horizonte infinito e sem vida do deserto, sentindo um leve déjà vu, como se já tivesse visto aquela paisagem em algum sonho antigo.

"Você quer ir embora?", a brisa calma trouxe um sussurro etéreo.

ㅡ Eu posso?

"Bem, você deseja isso?"

ㅡ Não sei... Estou cansado.

"Certo. Venha descansar."

ㅡ Espere... ㅡ Jimin quis erguer a mão, como se estivesse chamando alguém. Mas quem? ㅡ Para onde vão os mortos deste mundo?

Ele precisava de respostas concretas e acreditava que a origem daquela voz poderia revelá-lo a verdade. Sentia no fundo de seu âmago.

Mas o sussurro que o alcançou em seguida soou como um lamento, um pedido de desculpas implícito em palavras repetidas:

"Venha descansar."

Como se convencido pela voz e pelo vazio doloroso em seu espírito, Jimin fechou os olhos e se entregou à brisa. Numa reação em cadeia, seu corpo ajoelhado na terra molhada passou a ser coberto por caules que brotaram do chão debaixo dele. Caules da cor de marfim que cresceram e se enroscaram no pobre ômega, feito uma segunda pele, transformando-o numa escultura feita pela natureza, embalsamando-o em repouso.

Um caixão eterno.

Antes de a escultura tomar a forma de uma árvore e ganhar folhas rubras como os tons do céu no início da manhã, Jimin sussurrou: "Eu queria senti-lo uma última vez".

Foi seu derradeiro suspiro antes de tudo ficar mortalmente silencioso.

A chuva que caía fraca paralisou e foi substituída por neve pesada, algo que nunca antes havia acontecido naquela região. A mudança climática catastrófica não se tratava de um simples mal presságio, mas, sim, da consagração do pior dos eventos: A profecia da Árvore Sagrada fora quebrada.

O rei e o Ômega de Prata estavam mortos. E suas almas, separadas.

~♛🌕🌖🌘🌑♛~

#LoboDePrata

Deixe o seu ⭐VOTO⭐ antes de ir xingar até o último dos meus ancestrais

Então, meus chifrudinhos, nunca foi tão difícil escrever uma cena... Entenderam agora por que eu insisti em trazer uma att tão grande? Pse, eu queria lançar todos os acontecimentos mais tristes logo de uma vez, para que daqui por diante tudo se concentre nos acontecimentos bons. Se não fosse pela minha exaustão mental e minhas ocupações acadêmicas, eu estaria postando um 5º capítulo, e nele haveria um alívio imenso... Bem, na próxima att isso com certeza virá, pois não acabamos ainda...

E fiquem calmos com essa parte "Almas separadas". Há um motivo e há uma resolução. Reiterando: Era uma Vez um Ômega terá final feliz.

Obrigada por lerem até aqui, obrigada pelos votos, pelos comentários e pela paciência de vocês. Obrigada mil vezes💜 Eu queria ser capaz de escrever muitos capítulos rapidamente para toda semana estar atualizando, não sabem o quão ansiosa estou para entregar esta fic completinha e começar a escrever extras, fazer ilustrações... Um dia vai dar certo!

Bem, até a próxima, pessoal! Sigam-me nas minhas redes sociais para se manterem informados sobre atts das minhas histórias, ou se só tiverem interesse em trocar uma ideia comigo (tt: @Kakaguinho ; ig: @kaka.leda)

Beijo na boca e tchau💕


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