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|22|♛|O Rei da Alvorada|

GALERA estou nervosa... Deixe-me dizer que algumas cenas deste e do próximo capítulo foram uma das primeiras que elaborei antes de iniciar a escrita da fic. Eu tinha um plot em mente, um acontecimento e uma reviravolta, e agora finalmente estou mostrando essas coisas aos leitores. QUE NERVOSO, MEU DEUS sksksk. Enfim, tenham piedade de mim, e confiem em mim...

Boa Leitura! Deixa o votooooo

♛|O Rei da Alvorada|

Park Jimin odiou aquele remédio, ele queria chutar o curandeiro que havia lhe entregado a gosma amarga e arremessar o recipiente pela janela. Por causa das substâncias medicinais, seu corpo via-se ainda mais pesado e lento, e sua mente não processava rapidamente as informações e acontecimentos que o envolviam.

Ele era oficialmente uma bola, não se moveria até alguém vir para lançá-lo em algum gol.

ㅡ Hora horrível pra provocar um alarme falso, seu pedacinho de cocô! ㅡ Encarou a barriga redonda e inchada. ㅡ Park Yeonjun, você ainda não nasceu, mas já está de castigo!

Com o passar dos minutos, e com um leve esforço interno, Jimin começou a notar algo estranho no ar. As pessoas que entravam e saíam do quarto, como servos, curandeiros e soldados ㅡ que estavam ali para manter a segurança daquele espaço ㅡ, todas pareciam tensas e nervosas, encarando o ômega discretamente, depois desviando os olhares e murmurando entre si. Essa impressão passou a ficar mais forte momentos mais tarde, coincidentemente no mesmo instante em que os espíritos voltaram a murmurar nos ouvidos dele.

Foi aí que a senhorita Choi Yoojung apareceu, acompanhada por dois brotinhos de gente. Um deles era Soobin, a outra era Jina. Ambos correram na direção de Jimin quando o viram sobre a cama.

ㅡ Senhor Ômega de Prata!!!

ㅡ Papaaa!!!

ㅡ Opa, haha! ㅡ O rapaz acariciou a cabeça dos dois e deixou que Soobin se sentasse perto dele na cama, pois o menino queria se aconchegar em seu colo. Depois, olhou para a jovem Matriarca Choi e buscou algo no rosto dela. ㅡ Yoojung, o que está acontecendo lá fora?

Ela piscou e juntou as duas mãos na frente do vestido anil. Tentou disfarçar a hesitação com um semblante relaxado.

ㅡ O rei avisou os cidadãos sobre os riscos e colocou todos para dentro da muralha da capital. Ele ordenou que os portões fossem fechados ㅡ disse, e era verdade, mas não a verdade completa.

ㅡ Ah, então o Jungkook vai iniciar um cerco. Isso é bom... Pode dar tempo pra eu me recuperar e tentar alguma coisa com os meus poderes. O problema é que a gente não sabe se o outro lado vai se submeter a esse cerco, já que eles não são normais. Não sei o que o cara das raposas vai fazer... ㅡ Jimin vocalizou seus pensamentos, colocando-os em ordem já que não conseguia fazer isso apenas dentro da mente. O estado ébrio no qual os remédios o tinham colocado dificultava tudo. ㅡ O Jungkook está pensando nisso, certo? Ele também está prevendo que um cerco pode não ser suficiente pra barrar esse povo, não é?

ㅡ A-ah sim, ele está bem ciente de vários detalhes. Hm, sor Park, notei que os remédios lhe deixaram muito zonzo... ㅡ Yoojung se virou e caminhou na direção da mesa onde os curandeiros deixavam os frascos de remédio à postos. Ela tentava mudar de assunto.

ㅡ Deixaram sim, mas pelo menos agora eu 'tô bem. Hm... hm? ㅡ Jimin sentiu Jina puxando a manga de sua camisa.

ㅡ Senhor Ômega de Prata, o papai está lá fora da muralha? ㅡ A garotinha o observava atentamente com seus enormes olhos, tão parecidos com os de Kim Namjoon. ㅡ Sinto falta dele. Posso vê-lo?

ㅡ Ah, não, Jina. Ele não está lá fora. Quem está lá não são nossos amigos.

ㅡ Mas o papai está fora da cidade, então, se o rei fechou os portões... Papai ficou preso com essas pessoas que não são amigas? ㅡ Os cantos dos olhos de Jina ficaram vermelhos e lacrimejaram.

Jimin se apressou para explicar:

ㅡ Não, não! Não se preocupa, Jiji, o General Kim está muito longe daqui, muito longe daquelas pessoas também. Sabe, o reino é muito grande! O seu pai está lá na fronteira, cuidando de várias pessoas e de cidades ㅡ ele assegurou, trazendo alento ao coração da menina.

ㅡ Então... quando poderei vê-lo? ㅡ perguntou ela, cabisbaixa, mas menos preocupada.

ㅡ Hm, não sei. Mas aposto que o Jung..., quero dizer, o rei deve estar contando com as forças do General para ajudar a gente a lidar com os nossos problemas. A qualquer momento ele pode aparecer.

ㅡ Oh... ㅡ Jina conseguiu sorrir.

No outro lado do quarto, próxima à mesa de remédios, Yoojung ouvia tudo com o coração apertado e um peso imenso no peito. Pensamentos então atravessaram sua mente e isso fez suas mãos tremerem de repente. Ela acabou derrubando um dos frascos de vidro sem querer. O objeto se quebrou em dezenas de pedaços num som agudo.

ㅡ Me-me perdoe, eu... ㅡ A Matriarca se agachou ao mesmo tempo em que um servo se prontificou para limpar o estrago. Ela acabou se atrapalhando com suas mãos trêmulas, sem saber direito como agir e o que fazer. Sentia os olhos de Jimin lhe observando.

ㅡ Senhorita Choi, por que está chorando? ㅡ perguntou o rapaz, sinceramente preocupado.

Chorando? Yoojung nem havia notado as lágrimas rolando pela bochecha...

ㅡ Que estranho. ㅡ Ela forçou uma risada, piscando violentamente para dispersar a inundação nos olhos. ㅡ A-apenas é tão lamentável a pobre menina sentir falta do General. É tocante.

ㅡ Senhorita Choi... ㅡ O semblante de Jimin escureceu. ㅡ Somos amigos, não é? Por favor, me diz. Me diz a verdade.

Ele havia notado que a jovem mulher estava agindo de um jeito estranho, quieta demais para alguém que costumava conversar de maneira extrovertida, tremendo como se estivesse assustada com algo e carregando um olhar que não combinava com seu jeito de dama refinada. Entre vários detalhes que o tornavam um ômega, a capacidade de percepção e o faro para notar medo e outras reações estavam presentes.

Yoojung viu que não adiantaria continuar escondendo. Ela nem sequer queria, pois Jimin, de fato, era um amigo. Mas não poderia falar na frente das crianças.

O ômega notou o motivo da hesitação dela e se virou para os dois brotinhos.

ㅡ Ei, será que vocês podem esperar lá fora? Eu preciso conversar com a senhorita Choi um assunto de gente grande.

ㅡ Eu sou grande ㅡ murmurou Soobin.

ㅡ Haha, claro que é, mas não é gente. Você é só um terço de gente. Daqui a oito ou dez anos você vira gente completamente.

ㅡ Ah...

E assim os dois saíram do quarto.

Bastou isso para que as lágrimas de Yoojung transbordassem. Ela correu e se sentou ao lado de Jimin na cama, encarando-o com um olhar apavorado.

ㅡ Recebemos informações de que o General Kim está sob o poder das tropas inimigas. O posto dele na fronteira foi atacado... Miho estava lá, eu não tenho notícias dela. Não tenho nada ㅡ balbuciou, quase soluçando. Os olhos de Jimin saltaram das órbitas.

ㅡ Calma, senhorita Yoojung, respira fundo. Pense o seguinte ㅡ ele acariciou as costas dela ㅡ, esses caras estão falando por aí que o príncipe Yoongi voltou e que está tomando a frente desta situação. Não quero insinuar nada, mas isso favorece um pouco o clã Min. Se eles querem que as mentiras funcionem, provavelmente estão poupando os parentes do príncipe. Miho deve estar salva.

Um brilho de esperança afastou as nuvens cinzentas do olhar azul da Matriarca, como raios solares descongelando parcialmente o oceano. Ela conseguiu respirar fundo e parar o tremor no corpo. Ficou agradecida pelo raciocínio rápido e lógico do ômega.

A gratidão impulsionou seu desejo em ser completamente honesta com Park Jimin.

ㅡ Sor Park, nós fomos informados sobre a situação do General pelo porta-voz do falso príncipe Min, que parece estar no controle de muitas coisas... ㅡ Ela engoliu em seco e sustentou o olhar de Jimin. ㅡ Ele provocou e coagiu o rei para que constatasse a identidade de Min Yoongi. E se fosse provado que o farsante na verdade é o príncipe em pessoa, então que Sua Majestade aceitasse o duelo real.

ㅡ O que é esse duelo real? ㅡ Jimin não sabia o significado daquilo, mas já conseguia sentir calafrios dentro do peito antes mesmo de Yoojung explicar.

ㅡ É quando parentes próximos lutam numa batalha corporal pela posição de soberano. Essas lutas geralmente só ocorrem em casos extremos, pois tirar um rei do trono de Adaman é complicado, já que ele está lá principalmente por ter influência e apoio na Mesa de Prata. Mas, sor Park... Nossa corte está dividida desde a morte da concubina Min Hyuna. E o rei sabe disso. Então, se provarem que o príncipe Min está vivo, alguns nobres vão discutir sobre...

ㅡ Esses filhos da mãe não olham pra o que o Jungkook fez por eles esse tempo todo?? ㅡ Raiva ferveu o sangue do ômega.

ㅡ Infelizmente alguns deles sequer se lembram que estamos com o Ômega de Prata... Oh, pelos deuses, o que estou dizendo!? Mil perdões, eu não tive a intenção de diminuir a suaㅡ Yoojung balbuciou com a mão nos lábios. Jimin balançou a cabeça e ofereceu a ela um sorriso melancólico.

ㅡ Tudo bem. Eu não te culpo... Na verdade, não culpo ninguém. Não sirvo direito pra isso, mal consigo fazer umas plantas nascerem e alguns pássaros voarem na minha direção. As lendas de vocês falam sobre um cara poderoso de verdade, eu não sou... não sou nada daquilo. ㅡ Ele não se surpreendia que estivesse sendo esquecido, por isso suspirou e se remexeu na cama, expulsando os pensamentos desnecessários no momento. ㅡ Enfim, a gente lida com isso depois. Eu quero saber quando vão averiguar a identidade do príncipe.

ㅡ Deve ter acontecido há pouco tempo. Os braseiros da muralha incendiarão com chamas vermelhas se for constatado que é realmente ele, e com chamas azuis se for um farsante.

Com isso, o ômega encarou a janela mais próxima que havia no quarto. Sentindo uma leve dificuldade, ele se arrastou para fora da cama, apoiou-se numa poltrona até chegar ao parapeito que dava para a vista aberta.

A muralha se erguia ao longe, cortando o horizonte ao meio e permitindo que apenas o céu do outro lado fosse visto. O Sol erguia-se firme e sua luz era refletida pela neve branca que cobria tudo, o que dificultou, de início, a observação dos imensos braseiros sobre o grande muro.

Quando viu as chamas vermelhas adornando os arredores das guaritas de soldados, Jimin sentiu a própria alma escapar pelas extremidades do corpo.

ㅡ Senhorita Yoojung, aquelas chamas... Elas estão vermelhas.

Yoojung acompanhou o olhar dele e, quando viu, seus olhos ficaram sombrios.

ㅡ Sor Park, a razão para eu ter vindo até aqui foi um pedido feito por Sua Majestade. Eu deveria agir caso este momento chegasse.

ㅡ O que o Jungkook falou pra você?

ㅡ Ele quer mantê-lo longe daqui temporariamente, apenas até resolvermos toda esta situação na capital. Sua estabilidade emocional e mental e seu conforto são vitais.

Jimin apertou o parapeito da janela.

ㅡ Ele quer que fiquemos afastados outra vez!? E como diabos eu vou sair da capital se está tudo fechado por causa do cerco?? ㅡ Sua mente deu voltas. ㅡ Ah, os malditos balões. Droga! Ele vai usar os balões pra me despachar pra longe.

ㅡ Sor Park não vai sozinho. As crianças e os inválidos também irão. Eu irei para acompanhá-lo até a fortaleza dos Choi e...

ㅡ Vamos para o litoral!?? O que o Jungkook tem na cabeça? ㅡ Hayang, região do clã Choi, era quase tão longe quanto a cidadela Gwang. Seriam semanas de distância, semanas tendo que se comunicar através de cartas que nunca eram suficientes para matar a saudade. O ômega não queria experimentar aquilo outra vez, ainda mais em meio a uma situação tão alarmante e incerta. ㅡ Por que ele acha que não consigo lidar com as coisas também? Sempre me afastando, sempre, como se isso não nos fizesse mal... Eu já sei que não posso fazer muita coisa, e que sou praticamente inútil, mas... Argh!

O rapaz então visualizou os servos e soldados que o observava parados diante da porta, como se aguardassem algo, talvez alguma ordem da senhorita Choi.

Provavelmente estavam ali para levá-lo aos balões.

ㅡ Não tenho outra opção, não é? ㅡ perguntou ele.

ㅡ Sua segurança e saúde são essenciais. ㅡ O rosto de Yoojung era um poço cheio de culpa e lamentação.

Jimin voltou os olhos para o cenário além da janela, para o muro alto que circulava toda a Adwan. Ele suspirou fundo, franziu o cenho e tomou uma decisão.

ㅡ Duas palavras pra tudo isso: Meu. Cu. ㅡ Rapidamente colou-se ao parapeito, jogou o rosto para fora e gritou Help!, dos Beatles, o mais alto que pôde: ㅡ HEEEELP! I NEED SOMEBODY! HELP!

Essa música tinha funcionado na primeira vez, meses atrás. Ele esperava obter o mesmo resultado naquele momento crítico. Não seria levado para longe por ninguém e nem ficaria quieto como uma ameba inerte sem tentar alguma coisa antes.

Para o seu alívio, um imenso condor do deserto adentrou o quarto pela janela, assustando todos que estavam lá dentro, exceto Jimin. O rapaz sorria satisfeito e cheio de adrenalina.

ㅡ Muito bem, garotão, era exatamente algo como você que eu queria! ㅡ Jimin se aproximou do animal sem medo e ergueu os braços para facilitar o trabalho dele.

ㅡ Sor Park?? ㅡ Yoojung perdeu toda a cor do rosto.

ㅡ Desculpa aí, senhorita Choi, mas 'tá na hora de eu interferir nesse rolê. Adiós, goodbye e sayonara. ㅡ A ave agarrou Jimin pelas axilas e flutuou para fora da janela, carregando-o céu afora.

Um momento depois, foi possível ver uma bolinha branca e prateada com chifres flutuando sob as garras de um pássaro imenso e passando perto das torres do castelo. Se não fosse pela atual situação, a cena absurda seria deveras cômica para todos aqueles que a observaram.

🌕🌖♛🌘🌑

Quando Jeon Jungkook avistou as chamas vermelhas sobre a muralha, como adornos de rubi numa coroa de ferro escuro, ele foi coberto por uma onda mordaz de sentimentos em profusão.

A constatação de Min Yoongi estar vivo foi a primeira coisa que atravessou sua mente, lhe jogando boas doses de felicidade que aqueceram seu peito num instante. Mas então vieram os pensamentos sobre o que aquilo poderia significar, e a lembrança do que havia acordado alguns momentos antes.

Um duelo real. Um duelo que, na maioria das vezes, acontecia até a morte de um dos oponentes.

O calor no peito do rei sumiu tão logo quanto brotou, e deixou para trás uma amargura confusa, um sentimento de insegurança profundo.

Jungkook não entendia. Por que aquilo estava acontecendo? Por que seu irmão voltou do mundo dos mortos e exigiu tal coisa, chegando a trazer um exército para que seus desejos fossem escutados?

E, pior, se era realmente Min Yoongi, então seu próprio irmão estava envolvido no ataque ao clã Jeon?

Por quê?

Ele voltou à sala do trono para esperar pelo príncipe revivido lá, como era de praxe no início dos duelos reais. A luta teria que acontecer diante do trono de prata, como uma forma de mostrar aos deuses que o vencedor era digno para ocupar o assento poderoso. Os soldados deveriam ficar por ali apenas para observar o desenrolar do duelo e impedir que alguém interferisse. A nobreza participava como testemunha, e ela teria que aceitar aquele que estivesse de pé no final como seu novo soberano.

Os minutos se arrastaram, os murmúrios ao redor dele se intensificaram cada vez mais, sua mente era um turbilhão de pensamentos, hipóteses e sensações. O lobo em seu cerne sentia a aproximação dele, mas, no lugar de calor fraterno, enviava flâmulas ardentes para suas veias. Seus instintos captavam uma energia estranha, uma criatura perigosa... Ou talvez duas. Três.

Os portões do salão foram abertos.

O silêncio se instaurou, restando apenas os sons dos passos do grupo que se aproximava. Eram sete pessoas ao todo, sem contar com a guarda real de Adaman que Jungkook havia enviado. Dois soldados de Eliah seguiam atrás de três homens jovens, altos e visualmente intimidantes, com olhares e traços marcantes. A Matriarca Min acompanhava-os e Jung Hoseok andava ao lado daquele que tinha um rosto familiar demais.

Os murmúrios retornaram massivos.

ㅡ É realmente ele.

ㅡ O príncipe Min de fato está vivo!

ㅡ O príncipe está diferente... Ele voltou dos mortos saudável e forte.

Jungkook engoliu em seco diante da imagem do irmão. Suas narinas captaram um aroma estranho ao redor dele, mas era sutil demais, como se houvesse um véu ocultando alguma coisa. Fora isso, ele sentiu todos os tipos de emoções possíveis e um crescente desejo de abraçá-lo.

Precisou se conter.

ㅡ Você está vivo ㅡ murmurou após a aproximação de Yoongi. O rosto do príncipe era sombrio.

ㅡ Sim.

ㅡ Eu... o que está acontecendo, irmão? ㅡ O olhar de Jungkook para o príncipe foi tão penetrante e doloroso que conseguiu quebrar parte do semblante frio dele. Um fragmento relutante dentro do âmago de Yoongi se agitou.

Notando isso, Seokjin se aproximou e tomou a palavra, usando sua lábia envolvente e influenciadora.

ㅡ Sua Alteza Real está aqui para conquistar sua posição como legítimo soberano de Adaman. É isso o que está acontecendo.

Jungkook estreitou os olhos para o homem raposa, reparando nas nove caudas que se agitavam atrás dele. O rei sentiu o cheiro esquisito vindo daquela pessoa e percebeu que aquele aroma pairava com muita força sobre Yoongi. Isso somado às lembranças do cerco de Gwang e das armadilhas das raposas no castelo fizeram Jungkook raciocinar rapidamente.

Os olhos dele se tornaram dois infernos incandescentes.

Mas antes que perdesse um pouco da compostura, todos escutaram um estrondoso e desesperado grito que parecia se aproximar.

ㅡ ESPERA AÍ! ESPERAAAAAA! PAROU TUDO! ㅡ Jimin surgiu como uma folha sendo arremessada pelo vento. Mas no lugar do vento, um imenso condor do deserto o carregou para dentro da sala do trono a toda velocidade. O rosto do pobre ômega variava entre verde e azul, mas carregava uma determinação implacável.

Ele pousou no chão perto de Jungkook e, quando foi solto pelas garras do pássaro, andou cambaleante até onde o grupo estava parado observando tudo com faces boquiabertas.

ㅡ Jeon Jungkook, eu vou arrancar um pedaço do meu chifre e rebolar ele na sua fuça. ㅡ Jimin não calculou direito seus passos até o rei, então começou a se desequilibrar até o ponto em que esbarrou no peito dele.

Jungkook o segurou firmemente.

ㅡ Jimin, aquilo foi perigoso. Você não deveria...

ㅡ Não deveria uma ova! Você pretendia me afastar e lutar com seu... Com seu irmão. ㅡ O olhar do ômega se dirigiu a Yoongi, e ele, assim como Jungkook, também notou que havia algo de estranho no príncipe. Os olhos amarelos, que no passado lhe ofereceram gentileza e amizade, agora eram frios como esferas de gelo dourado. Os murmúrios dos espíritos também voltaram a beliscar seus ouvidos.

E como se não bastasse isso, uma voz vinda de trás de Yoongi lhe chamou:

ㅡ Jimin?!

O rapaz sentiu todo o corpo tensionar. Com o cenho franzindo ao máximo, ele virou o rosto e encarou o dono do chamado.

Kim Taehyung não tinha mudado desde o dia em que se encontraram naquele mundo pela primeira vez. As veias sutis nas laterais do corpo eram um detalhe pontual que não alterava o reconhecimento dele. A única discrepância visível era o olhar sóbrio e estável, sem tremores ou medos aparentes. Taehyung não parecia estar à beira de perder o controle, assim como naquele fatídico dia.

ㅡ O que 'tá acontecendo aqui? ㅡ Jimin questionou incisivo, analisando o amigo do outro mundo e em seguida os demais que faziam parte do grupo dele.

O ômega desceu os olhos para as caudas do estranho perto de Taehyung e seu raciocínio trabalhou paralelamente ao do rei. Porém, diferentemente de Jungkook, o conflito dele não se resumia a Min Yoongi.

ㅡ Foi esse cara quem gerou o caos no castelo com aquelas raposas, não é? ㅡ Jimin exigiu saber, sem tirar os olhos de Taehyung. ㅡ Foi sobre ele que você me avisou naquele dia, certo? Por que parecem estar trabalhando juntos agora?

ㅡ Jimin...

ㅡ E foi por causa desse cara que ele morreu ㅡ Jimin apontou para Yoongi. A atenção do príncipe, que parecia distante e focada unicamente em Jungkook, lentamente notou Jimin ali, introduzindo-o à discussão.

Jeon Jungkook paralisou ao seu lado, revivendo o dia da morte de Yoongi e sendo corroído pelas memórias.

ㅡ Como diabos vocês três se tornaram um grupo? Isso não faz sentido. ㅡ Jimin ainda buscava uma resposta no olhar de Taehyung.

ㅡ Não é pra fazer sentido, nós só queremos acabar logo com essa merda.

ㅡ O quê?

ㅡ Estou falando de ir pra casa! Jimin, Seokjin também é do nosso mundo. ㅡ Taehyung referia-se ao homem com nove caudas. ㅡ Nós dois precisamos nos juntar, buscar um meio de voltar, e não agir como se fôssemos... ㅡ personagens, era o que ele queria dizer, mas sua consciência o impediu de fazer isso na frente de Yoongi, de Jungkook e dos demais.

Ainda que não estivesse entendendo as entrelinhas na fala do estranho rapaz que discutia com Jimin, Jungkook compreendeu o significado de "voltar" e de "ir para casa". Uma pontada dolorosa o atingiu no fundo do peito, e ele logo buscou a mão do ômega para segurá-la fortemente.

Em resposta, Jimin entrelaçou seus dedos entre os dele, numa mensagem silenciosa que dizia "Tudo bem, estou aqui e não pretendo sair".

ㅡ Obrigado pelo convite, mas não. Essas pessoas e ele... ㅡ O rapaz apontou para o rei ao seu lado. ㅡ Não é tão simples assim. Não vou agir com indiferença diante de tudo isso só porque vim de outro lugar.

Taehyung olhou para Seokjin de soslaio rapidamente e engoliu em seco ao notar a impaciência no semblante dele. O homem raposa era imprevisível e definitivamente não tinha nada a perder, absolutamente nada. Ele estava cansado e a um passo de conquistar seus objetivos, sendo assim, se Jimin continuasse relutante daquela forma, as coisas poderiam acabar mal.

Por isso, o garoto insistiu ao amigo:

ㅡ Jimin, nada disso aqui é real. Este lugar... Pensa só, vamos tentar achar um jeito de sair daqui assim que você se livrar desse... dessa coisa. ㅡ Taehyung apontou para a barriga alta do ômega.

"Dessa coisa". Para Jimin, foi como receber um banho de água fria, ou um forte e constrangedor tapa no rosto. Numa fração de segundo, ele teve vergonha da própria imagem, do que havia aceitado para si e todos os seus sentimentos em relação à sua "nova" vida. Acabou se retraindo um pouco para trás de Jungkook, usando o alfa como um tipo de escudo. Essa atitude impulsionou a fala seguinte do amigo:

ㅡ Eu soube o que aconteceu com você. Essas coisas que está sentindo, elas só existem aqui, Jimin. Vai ficar tudo bem quando formos embora.

ㅡ Você está errado ㅡ o ômega balbuciou.

ㅡ Estou?

"Não está", uma vozinha relutante que fazia parte de seu lado cético a tudo gritou do fundo da mente de Park Jimin. Ele já sabia dessa possibilidade, e também já tinha pensado em todas as coisas que agora Kim Taehyung trazia à tona, mas preferiu lançá-las para alguma parte inacessível de seu cerne durante toda a sua estadia em Adaman. Não queria aceitar, mas agora, enfrentando Taehyung, ele mais se parecia com alguém que havia fechado os olhos para a realidade e mergulhado profundamente num mundo surreal, admitindo para si até o mais absurdo dos eventos. O livro escondido em seu armário era uma prova gritante de que ele um dia teria que parar aquela grande brincadeira. Os papéis estavam acabando, as folhas restantes vinham sendo preenchidas cada vez mais. E quando chegasse ao final, tudo o que Jimin cultivou ali dentro... O que restaria?

Então Jimin não se abalou com a proposta do amigo do outro mundo, ele definitivamente não iria sair do lado de Jungkook para fazer parte do que quer que fosse aquela cena toda. O que realmente fez o garoto se encolher e se fechar como uma concha atrás do rei foi a sórdida lembrança de que uma hora ele realmente precisaria se despedir de tudo e acordar.

Jungkook, percebendo e sentindo o desconforto do parceiro, esqueceu-se momentaneamente do choque causado pelo reencontro com o irmão e lançou uma fúria abrasadora na direção de Kim Taehyung.

ㅡ Faça seu cachorro parar de latir, antes que eu o faça por ele ㅡ disse a Yoongi.

O príncipe piscou, distante e com raiva, comportando-se de forma estranha novamente. O cheiro da raposa ficando mais forte, como se a influência ao redor dele estivesse mantendo algum tipo de controle ali.

O rei então não perdeu tempo com o fantoche em sua frente e disparou direto para o homem com nove caudas.

ㅡ Você. Identifique-se e diga as suas intenções.

Seokjin forçou um sorriso e atuou de acordo com seu papel naquele momento:

ㅡ Minhas ações foram realizadas apenas para a ascensão do verdadeiro rei. ㅡ Ele reverenciou Yoongi numa pose teatral.

Jungkook não engoliu aquela ladainha.

ㅡ Eu vi meu irmão morto. Esse que está diante de mim é diferente. Respira e cheira diferente. O que foi feito com ele? ㅡ Seus apontamentos fizeram as pessoas que escutavam a conversa se enrijecerem. Jung Hoseok foi uma delas. Ele tremeu em silêncio, um lado seu se recusando a ver aquela verdade.

Afinal, Min Yoongi estava vivo, nada mais deveria importar...

ㅡ Quantas interrupções... Quanta conversa desnecessária... ㅡ o príncipe falou, pela primeira vez agindo ativamente desde o reencontro. As atenções se voltaram para ele, para seus olhos luminosos. ㅡ Eu sou eu, Jeon Jungkook. Ou uma versão menos submissa de mim. ㅡ O olhar dele sobre o irmão foi lento, como se seus pensamentos estivessem sendo montados e organizados devagar, sob um raciocínio linear quase doentio.

ㅡ "Menos submisso"? ㅡ O semblante do rei escureceu. O único brilho era o vermelho de seus olhos. ㅡ Eu soube sobre o que houve em Rangkee com minha família. A viagem da carta pode ter sido manipulada por esse... homem ㅡ ele encarou Seokjin de soslaio rapidamente ㅡ, mas o selo, os códigos e a caligrafia inseridos nela pelo General Kim eram reais. Sendo assim, o seu conteúdo também era. Então, dizimar um clã inteiro é estar menos submisso para você?

ㅡ O clã Jeon cometeu crimes.

ㅡ Foi isso o que esse estranho lhe disse? ㅡ Seokjin ainda era pauta da discussão, e ele se divertia com isso enquanto estava calado em seu canto. ㅡ Não se deu conta de que você apenas facilitou o que quer que ele esteja planejando ao matar as únicas pessoas capazes de resistir aos encantamentos dele?

O raciocínio de Jungkook surpreendeu até Park Jimin. O garoto, em seu silêncio lânguido, percebeu pela primeira vez, com a fala do jovem rei, a profundeza da manipulação existente ali.

Sua mente voltou a trabalhar: Se o homem de nove caudas era realmente do outro mundo, quais as razões para agir daquela maneira? Teria ele vestido o papel de um vilão e agora trabalhava para que seu personagem conquistasse glórias através do príncipe Min? Seguindo por essa lógica, todos aqueles que resistiam à hipnose das raposas poderiam interferir em seus planos, e isso não só incluía os com sangue Jeon como ele mesmo, que era o Ômega de Prata naquele mundo. Pois, afinal, o clã dos Lobos Noturnos havia herdado a proteção do Ômega de Prata de centenas de anos atrás.

Sendo assim, seria por essa razão que Taehyung insistira para que Jimin fosse com ele, pois sabia que, se não o fizesse, o homem raposa poderia fazer algo?

O ômega agora interpretava várias coisas ao ver a aflição na face do amigo.

ㅡ Bem como o seu tio-avô havia dito... ㅡ O tom decepcionado e ameaçador na voz de Min Yoongi trouxe Jimin de volta à discussão que ocorria entre ele e o Jungkook. ㅡ Aquele maldito Bongha... Você não ligaria, ele assegurou... Você ignoraria as coisas que seu sangue fez.

ㅡ Eu não sei do que você está falando. ㅡ Jungkook flexionou a mandíbula ao notar os feromônios agressivos de Yoongi criando uma atmosfera densa ao seu redor. Ele também viu o homem raposa, Taehyung ㅡ em hesitação ㅡ e os soldados de Eliah dando alguns passos para trás. Em seguida, a Matriarca Min tendo a bondade de andar até Jimin e arrastá-lo para longe. Jung Hoseok foi o único que resistiu à presença sufocante do príncipe e permaneceu ao lado dele até não suportar mais e recuar.

Os cantos dos olhos de Yoongi acumularam uma vermelhidão lamentável, uma frustração palpável e lágrimas. Pensou-se que era a ira e a impaciência lhe consumindo por completo, e que por isso ele reagia assim; mas, na realidade, era o seu interior entrando em conflito, tentando lutar contra aquilo que o transformara numa fera selvagem

ㅡ Sua mãe nada lhe contou, então. Mas por que é sempre assim? Por que, ainda que não tenha sido o príncipe mais frágil, sempre foi o mais protegido em todas as circunstâncias, ein, Jungkook? ㅡ A voz de Yoongi tremia e se deformava mais a cada palavra. ㅡ Enfim. Não importa mais. Estou cansado de tantos falatórios... Vim reivindicar o que é meu, então o farei.

A dor atravessou o semblante do rei. Mesmo com a alma ferida por saber que Min Yoongi tinha envolvimento na morte de seus familiares, talvez até na morte de sua mãe, ele ainda resistia em manter os laços fraternos que o ligava ao outro.

ㅡ Então realmente acabaremos assim, num duelo?

ㅡ Por acaso estou hesitando, Jeon Jungkook?

ㅡ Não. Não está. ㅡ Mas Jungkook viu as lágrimas rolarem pela face do irmão, e elas não pareciam ser recheadas de ódio. Porém, o que haveria de ser feito? Nenhum dos atos do príncipe poderia ser ignorado ou simplesmente perdoado. O duelo real era, na verdade, o meio mais simples e menos torturante de resolver os dilemas nascidos entre os dois irmãos.

Com isso em mente, o jovem rei lançou um olhar cheio de pesar para Park Jimin.

"Sinto muito", seus lábios moldaram as palavras. Em seguida, ele moveu dois dedos num sinal aos seus soldados, que agiram obedientes ao soberano.

ㅡ O-o quê? ㅡ Jimin se debateu sob as mãos fortes da guarda real e tentou se livrar delas ao invocar seus poderes, mas mal conseguiu fazer brotar alguns centímetros de plantas frágeis que foram arrasadas pelas botas dos soldados.

O olhar desesperado do garoto fez Jungkook se sentir péssimo e angustiado, seus instintos queriam libertá-lo do que ele mesmo havia provocado, numa contradição causticante.

ㅡ Jungkook! ㅡ gritou o ômega enquanto era levado para longe pela guarda. Sua recusa em cooperar na fuga acabou deixando-a lenta. Ele não parava de tentar se desvencilhar daquelas mãos que cuidadosamente o seguravam para que não voltasse à linha de fogo.

Foi então que a Matriarca Min interviu. Ela se aproximou dele, tocou em seu rosto e disse, lamentosa:

ㅡ Os espinhos da rosa estão fortes demais. É necessário podá-los, mas você ainda precisa aprender a fazer isso, meu jovem deus.

Em seguida, apertou as têmporas de Jimin. O garoto sentiu como se a anciã tivesse injetado um sedativo apenas pelo toque da pele, o que lhe causou uma fraqueza súbita e o fez desmaiar.

Depois de ter o trabalho facilitado, a guarda real levou o ômega para fora do castelo, com a Matriarca Min em seu encalço. Por ser a avó do príncipe responsável pelos eventos daquele dia, sua presença ali era uma incógnita para os soldados, mas eles decidiram lidar com as circunstâncias depois que tivessem obedecido à ordem real de levar Park Jimin aos balões. Então seguiram em frente.

🌕🌖♛🌘🌑

Jeon Jungkook arrancou a corrente de prata que prendia sua capa aos ombros da vestimenta real e a jogou para longe. O som abafado do tecido caindo no chão e das botas dos dois irmãos andando devagar pela sala do trono, circulando-se como dois predadores que analisavam o oponente antes de agirem, foram os únicos barulhos presentes no início, pois todos aqueles que assistiam à cena jaziam numa quietude tensa e ansiosa.

Quando o rei e o príncipe se metamorfosearam, foi dado início ao duelo.

A figura lupina de Jungkook era enorme, negra como a noite e carregava duas luas vermelhas, seus olhos em chamas. Sua aparição nessa forma sempre arrancava tremores de todos aqueles que o viam ㅡ com exceção de Jimin, que sentia tudo menos medo quando ficava perto do jovem rei ㅡ, e seus feromônios, que jorravam com maior liberdade assim, eram como a brisa que anunciava uma tempestade brutal, ou como a fumaça que previa uma erupção vulcânica. Ilusoriamente suave no começo, implacável e mortal no fim.

E em sua frente, numa aparição oposta à de Jungkook, Min Yoongi revelava-se algo que jamais teve a chance de ser no passado. Seu corpo quadrúpede de lobo era talvez duas vezes maior do que o antigo, com pelos amarelos brilhando feito ouro puríssimo e afiado, patas tonificadas com músculos que saltavam, e caninos e garras enormes que seriam capazes de decapitar alguém com um simples golpe. Era uma máquina mortífera com feromônios corrosivos que fediam a sangue.

Após um impulso das patas traseiras, os dois saltaram com garras expostas e mandíbulas abertas, e então desferiram os primeiros golpes um no outro. Latidos e rugidos soaram enquanto eles mordiam suas carnes, arrancando tufos de pelos negros e dourados e várias gotas de sangue. Do sangue que ambos dividiam.

Jungkook percebeu o impacto da nova força de Yoongi e se deu conta de que não poderia pegar leve. Na verdade, agora o príncipe Min claramente era um oponente à altura. Talvez fosse até mais do que isso, com o peso esmagador que as suas patas conseguiam oferecer, os dentes poderosos feito navalha e a agilidade de um monstro incansável.

Porém, ainda que tivesse ciência disso, ele cometeu o erro de erguer sua atenção para um murmúrio num ponto distante, proferido pelo rapaz chamado Taehyung.

ㅡ O que diabos está fazendo? ㅡ questionou ele ao homem raposa, que observava a luta com interesse.

ㅡ É arriscado demais deixá-lo fugir. Preciso trazê-lo de volta, convencê-lo por conta própria, já que você não conseguiu.

ㅡ Não mande os seus soldados atrás do Jimin!

"Soldados? Soldados de Eliah atrás de Jimin?!", a mente de Jungkook foi tomada por uma névoa de selvageria e perdição, arrancando-lhe o foco daquilo que estava fazendo, abrindo uma brecha enorme para que Min Yoongi viesse e arremessasse uma das patas em seu rosto lupino.

A força do impacto foi brutal e empurrou Jungkook direto no chão.

Para onde está olhando? Vocês gostam tanto de me subestimar... ㅡ O príncipe rosnou, mostrando os dentes.

O erro de Jungkook causou ferimentos na lateral de sua cabeça e no interior de sua boca. Ele cuspiu sangue enquanto se erguia e recuperava os sentidos.

A conversa entre Taehyung e Seokjin continuou:

ㅡ Eu vou atrás dele. Não confio em você e na sua maneira de convencer as pessoas.

ㅡ Pois é bom que o traga de volta, Taehyung... ㅡ A face do homem raposa estava sombria, e escureceu ainda mais após o garoto lhe dar as costas e ir atrás do amigo.

Com parte da atenção ainda naquela rápida discussão, Jungkook se forçou a não seguir o rapaz. Ele ficou um tanto aliviado por soldados inimigos não terem sido enviados atrás de Jimin, e queria acreditar nas palavras do ômega quando ele certa vez disse que Taehyung era seu amigo. Se realmente compartilhavam uma amizade, não fariam mal um ao outro... Certo? De qualquer forma, precisava confiar na força de sua guarda real, ainda mais porque havia guerreiros da alcatéia do clã Jeon entre eles, lupinos que a comandante Sirah tinha deixado sob as ordens do jovem rei quando se separaram naquele dia antes de ela retornar às terras dos lobos noturnos com Jeon Haerin.

O rumo de seus pensamentos acabou jorrando um gosto amargo em sua garganta que nada tinha a ver com o sangue do machucado na boca. Jeon Haerin e Sirah provavelmente estavam mortas àquela altura, assim como o resto da alcateia Jeon. Assim como o resto de todo o clã dele. Todos os seus parentes, desde as crianças mais jovens até os anciãos mais velhos...

Que maldição horrível e excruciante. O luto no peito de Jungkook trouxe de volta sua concentração na luta. Ele desviou no último segundo de ter a jugular abocanhada pelos caninos de Min Yoongi. Após um impulso furtivo, girou e arranhou profundamente as costelas do príncipe.

Ele notou a musculatura grossa e borrachuda da carne do irmão, uma coisa anormal que suas garras nunca tinham tocado antes.

Ou tinham... Naquele tempo, em sua noite luar, há vários meses. Quando Jungkook defendeu Park Jimin da besta que havia invadido o castelo. O alfa ainda conseguia se lembrar da substância estranha que revestia o corpo da criatura, uma carne endurecida como se fosse uma armadura natural incrivelmente resistente.

Com essa lembrança, o jovem rei se tocou de mais uma coisa, e ele desejou trazer isso à tona quando seu irmão e ele voltaram a caminhar em círculos, encarando-se.

Veja o que se tornou. O seu cheiro, o seu olhar... O que fizeram com você? ㅡ Jungkook contraiu a ponte do focinho, irritado com aquele miasma maldito que havia se revelado após a transformação de Yoongi.

Concentre-se na luta, Jungkook ㅡ avisou o príncipe, afiando as garras ensanguentadas no piso do salão.

Está fedendo igual a besta que matou sua mãe. Não se preocupa com isso? ㅡ Na verdade, era Jungkook o mais preocupado entre os dois.

Mas Yoongi, em sua consciência deturpada, interpretou aquela questão como se fosse uma odiosa provocação.

Que ironia... Você também fede como ela... Igualzinho à desgraçada que matou minha mãe. ㅡ Ele rosnou. ㅡ O perfume da consorte ainda apodrece em minhas narinas.

O escárnio na voz do príncipe e a informação lançada por ele fizeram o corpo de Jungkook tremer. Uma pontada dolorosa latejou na região mais interior de seu cerne. Ele avançou noutro ataque, dessa vez usando a mandíbula forte para atingir as patas do irmão, para enfraquecê-lo um pouco.

Após alguns minutos de luta, Jungkook e o irmão compartilhavam cortes pelos corpos e derramavam sangue pelo chão cinzento. O rei percebeu que sua respiração estava um pouco mais ofegante que a de Min Yoongi.

Por quê? Dê-me uma razão para estar falando e fazendo tantos absurdos! ㅡ A tristeza arrasava-o. ㅡ Você não é assim, nunca foi!

Yoongi latiu, passando a língua longa pela fileira dianteira de dentes pontiagudos.

Eu era fraco demais para ser. Para ver! ㅡ disse ele, rosnando.

Então a fraqueza era a única coisa que o permitia me ver como irmão?!

Cale-se! ㅡ Os cantos vermelhos dos olhos do príncipe ficaram mais evidentes e cheios de lágrimas. Um conflito intenso acontecia dentro dele.

Você realmente a matou? ㅡ A pergunta de Jungkook foi como um sopro de desespero. ㅡ Você realmente matou todos eles? ㅡ Ele não queria acreditar que aquilo era real.

ELES ME MATARAM PRIMEIRO! Jeon Haerin, seu avô... todos eles... todos em conluio! Eles arrancaram de mim o sangue do meu sangue. ㅡ Yoongi deu um passo à frente, os olhos amarelos brilhavam com ira e mágoa. ㅡ Você se tornou rei porque o clã Min foi humilhado. Sua coroa está manchada pelo sangue de Min Hyuna, Jeon Jungkook! VOCÊ NÃO É DIGNO!

Min Yoongi lançou a garra mais forte numa velocidade que Jungkook não estava preparado para lidar. Ele teve o peito rasgado violentamente, mas sua mente não estava mais tão preocupada com aqueles ferimentos.

O-o quê? ㅡ A voz do jovem rei foi um sopro de incredulidade e tristeza. Ele ficou tão perplexo que deu alguns passos para trás e voltou à sua forma humana. Seu corpo inteiro carregava hematomas e cortes do duelo, e sangue manchava e ensopava suas roupas, mesmo o tecido delas sendo grosso demais.

Min Yoongi também voltou à forma humana. Ele tinha muitos ferimentos, mas não tantos quanto Jungkook, pois sua carne, como foi notado antes, era uma armadura natural difícil de se romper.

Eles se encararam em silêncio, ofegantes e espiritualmente distantes. Os laços fraternos mortos como as flores de primavera sob aquele inverno difícil.

🌕🌖♛🌘🌑

Quando Jimin despertou, ele já estava num dos balões que iriam seguir viagem para Hayang, a terra dos Choi. A movimentação ao seu redor era frenética, então, a priori, foi difícil para o garoto compreender o que estava acontecendo e se situar. Porém, assim que seguiu a familiar voz de Choi Yoojung, a qual dava ordens enquanto organizava todos os tripulantes nos cestos dos balões, Jimin se lembrou do que tinha que fazer.

ㅡ Eu preciso... ir. Eu preciso parar aquele duelo ㅡ balbuciou, forçando o corpo a se erguer para conseguir pular para fora do cesto enorme.

Mãos evitaram que ele fizesse isso.

ㅡ Me soltem! Me soltem! ㅡ Ele se debateu e gritou com a voz embargada. ㅡ Por favor, eu preciso ir! Estou com um pressentimento ruim. Por favor...

Soobin, que também estava naquele cesto, percebeu a angústia de Jimin e o abraçou, chorando silenciosamente. O garotinho via-se assustado com tudo aquilo.

ㅡ Park Jimin! ㅡ Sobre a comoção caótica em meio às dezenas de balões, foi possível escutar o chamado de Kim Taehyung. Ele tinha seguido o rastro de Jimin até ali e agora tentava trocar algumas palavras, mas foi impedido de se aproximar pela guarda real.

ㅡ Esperem! Eu quero falar com ele ㅡ disse Jimin. Ao menos esse pedido foi acatado pelos soldados.

Com o caminho aberto, Taehyung parou diante do balão onde o amigo estava.

ㅡ Jimin, por favor, para com isso. Volte comigo e coopere com a gente. ㅡ Ele chacoalhou os ombros de Jimin e o encarou com um olhar urgente. ㅡ Aquele cara, o Seokjin, eu não sei o que ele pode tentar fazer contigo depois de hoje. Eu só sei que ele não tem nada a perder, é completamente imprevisível. Você tem a capacidade de estragar os planos dele, então, se fugir, aquele cara não vai parar de te perseguir...

ㅡ Taehyung, eu não vou só ficar olhando enquanto vocês prejudicam o Jungkook...

ㅡ Escuta! Escuta! Vamos tentar arrumar uma saída daqui. Seokjin tem muitos poderes e sabe de muitas coisas sobre este lugar, é a nossa melhor chance. Vamos só deixar ele conseguir o que quer eㅡ

ㅡ O que ele quer é pôr Min Yoongi no trono, mas pra isso o Jungkook tem que morrer! ㅡ Jimin empurrou Taehyung, seus olhos pesavam.

ㅡ O Jungkook não é real, Jimin... Agir assim não é saudável...

Chacoalhando a cabeça e contendo os lábios para que parassem de tremer, o ômega segurou o manto ao redor de Taehyung e murmurou:

ㅡ Agora escuta você! Se realmente se importa com minha saúde ou o que caralhos for. Ou melhor, se quer que eu viva, então volte pra o castelo e ajude o Jungkook. Eu estou vinculado a ele, então, se um morrer, o outro morre. ㅡ O mero pensamento fez o nó na garganta de Jimin se romper. Ele tremia por inteiro. ㅡ Se é só com isso que você se importa, então, por favor... E-eu não sei se ele vai conseguir ganhar, tem alguma coisa errada, estou sentindo...

ㅡ OS BALÕES SAIRÃO AGORA! ㅡ A voz de Yoojung anunciou o início da retirada. Os balões já começavam a flutuar acima do chão.

Taehyung, atordoado com a recente informação dada a ele por Jimin, encarou-o atônito.

ㅡ Vinculado? I-isso... eu não sabia. Eu... Mas isso não deveria ser real. Algo como isso não deve te afetar de verdade...

ㅡ Assim como virar uma besta irracional não te afetou, Taehyung? ㅡ Os olhos vermelhos de Jimin estavam mergulhados numa dor fria. O cesto dele começou a se distanciar do chão.

Sem saber como agir, Taehyung deu dois passos cambaleantes para trás e abaixou o olhar para encarar a neve debaixo de seus pés. Seus pensamentos flutuaram até as breves explicações que Seokjin havia dado a ele sobre aquele mundo. Em nenhum momento o homem raposa tinha lhe dito algo sobre as consequências após a morte de uma das duas pessoas vinculadas. Ele não tinha lhe dito várias coisas... Isso o encheu de raiva. Foi a gota d'água definitiva.

Virou-se rapidamente para retornar à sala do trono e tentar impedir a conclusão dos planos de Seokjin. Parte dele odiava ter que tomar aquela atitude, ele simplesmente não gostava da ideia de virar um empecilho ou inimigo para o outro, tanto por questões estratégicas quanto por motivos sentimentais. Mas alguém tinha que pará-lo naquele momento. O teatrinho precisava ser interrompido.

Os balões já podiam ser vistos alguns metros céu acima quando Taehyung chegou à sala do trono.

O duelo real ainda acontecia, cheio de violência e sangue. Duas criaturas imensas se mutilando horrivelmente no centro do salão, preenchendo o ar com o odor ferroso dos ferimentos expostos. Jungkook e Yoongi trocavam rosnados e palavras dolorosas naquele momento.

Taehyung se concentrou em Seokjin. Assim que o viu, transformou-se num lupino e saltou sobre ele, prendendo-o no chão.

ㅡ Hm, que déjà vu... ㅡ As caudas se balançaram no mesmo ritmo vagaroso que a voz dele. Em contraste, os olhos dourados encararam o lupino com uma promessa ameaçadora.

Impeça o príncipe Min. Pare tudo isso agora!

ㅡ Não.

Se aquele rei morrer, o meu amigo vai ser afetado. Você sabia disso! Eu sei que sabia! ㅡ Os dentes de Taehyung estavam a poucos centímetros da garganta de Seokjin. ㅡ Use os seus poderes e faça o Yoongi parar, senão...

ㅡ Senão o quê? Vai mutilar o meu pescoço? Fique à vontade. ㅡ A sugestão quase suicida de Seokjin pegou o garoto de surpresa. Por uma fração de segundo, ele se arrependeu de ter oferecido aquela alternativa e sentiu culpa, pois sabia que o peso daquela proposta seria diferente para o outro. Essa culpa atravessou o olhar do lupino como um feixe de luz, e foi captada pelos olhos afiados do homem raposa.

Ele odiou aquela pena na face de Taehyung e o jogou para longe com um empurrão de poder.

ㅡ Esqueça. Você perdeu sua chance de me parar. ㅡ Seokjin reuniu o resto das forças que tinha, formando uma densa névoa laranja ao redor de seus braços. ㅡ Vou precisar acorrentar o cachorrinho até ele se acalmar.

A névoa voou até se enroscar no corpo de Taehyung e o puxou para baixo. Após alguns segundos, ela ganhou a forma de correntes que se amarravam ao redor do garoto e o prendiam ao piso, imobilizando-o.

Seokjin caminhou até ele e, num gesto contraditório, lhe acariciou os pelos da cabeça.

ㅡ Kim Taehyung, é só uma história... ㅡ murmurou com um olhar frio.

Você apenas está tentando se convencer disso.

ㅡ Durma. Depois conversamos. ㅡ Pôs o indicador entre os olhos do lupino e, com um feitiço de hipnose, o deixou inconsciente.

Em seguida, os joelhos agora enfraquecidos de Seokjin cederam, levando-o ao chão. Meio deitado sobre um Taehyung adormecido, ele observou a luta que acontecia no centro da sala do trono e murmurou um pedido:

ㅡ Acabem logo com isso.

🌕🌖♛🌘🌑

Na mente abalada de Jeon Jungkook, restava apenas ele e Yoongi naquele recinto, nenhum outro alguém, nenhum som exceto o eco infinito proferido pelo irmão.

"Sua coroa está manchada pelo sangue de Min Hyuna."

Levemente cambaleante por conta do choque, ele encarou a figura do príncipe e buscou em sua face alguma evidência de que aquelas alegações eram achismos ou mentiras, ou ainda falácias de uma mente ensandecida.

Naquele instante, contudo, o olhar do irmão sobre ele carregava uma sobriedade aterrorizante.

ㅡ Não olhe para mim com incredulidade. Foi Jeon Bongha quem assumiu tudo, e depois Jeon Haerin. Todos eles sabiam, todos eles agiram... ㅡ Yoongi cuspiu as palavras, suas órbitas amarelas chamuscavam.

Jungkook engoliu em seco e contraiu o cenho completamente. Sentiu o peito mergulhar num mar de decepção e tormento, uma tristeza profunda mesclada à culpa pelos crimes de sua família.

Durante anos ele viu Min Yoongi se isolar pelos cantos do castelo, sozinho enquanto o clã Min passava sua temporada exilado das terras da capital. Ele se recordava do olhar solitário que o irmão mais velho lançava quando o via abraçando Haerin, achando aconchego no colo da mãe. O príncipe por vezes pareceu um fantasma silencioso e frágil caminhando pelos corredores frios. E mesmo que Jungkook tentasse oferecer algum alento, ainda havia um muro invisível dividindo-os.

"Você não pode entender o que estou sentindo", era o que Yoongi parecia lhe dizer naqueles momentos, na sua mudez usual.

Então toda essa tristeza havia sido causada pelo clã Jeon. O quão miserável Jungkook se sentia agora? Ele não poderia colocar em palavras a amargura que preenchia sua garganta, a vergonha em seu olhar.

ㅡ O trono atrás de você não lhe pertence. A influência que sua família tinha até agora no reino, uma influência falsa e manchada de sangue inocente, evaporará como água sob o Sol. Meu Sol. O Sol da alvorada. ㅡ Yoongi fervia como fogo, sua presença causticante assemelhava-se ao próprio astro em questão.

Ele voltou a atacar, saltando e transformando-se em lobo outra vez. Jungkook se forçou a agir, ainda que o peso de seus sentimentos desejassem prendê-lo ao chão, tornando-o letárgico. Desviou do primeiro ataque do irmão e depois do segundo, sabia que precisava sair do modo defensivo se quisesse ganhar aquilo, ainda mais com todos os ferimentos que o cobriam, mas erguer as garras afiadas para Yoongi naquele momento, depois de descobrir algo tão terrível... Ele sequer tinha o direito de lutar por um trono?

"Você não é digno", Jungkook sempre soube disso, bem lá no fundo. E também sabia que o poder de sua coroa não havia sido conquistado por ele, mas pela rainha anterior e pelos seus parentes cheios de capacidades. Atualmente a Mesa de Prata não lhe era completamente leal, apenas alguns grandes lordes verdadeiramente acreditavam nele, enquanto isso os demais observavam-no como abutres que aguardavam a queda de um cervo para devorá-lo. Tudo bem, não era orgulhoso em relação a isso. Tanto é que, no passado, quando foi coroado, ele não imaginou um futuro cheio de glórias, apenas desejou se tornar um governante adequado, pois, para início de conversa, além de na época ter subido ao trono no corpo de um alfa incompleto, Jungkook também sentia como se tivesse roubado aquela posição do irmão mais velho. E no final, provou-se que ele de fato o tinha feito.

Talvez tenha sido por isso que Park Jimin não conseguia expressar tudo o que ele era, tendo os seus poderes limitados por alguma força oculta. Provavelmente o destino e as entidades que regiam a profecia tinham se dado conta do erro que cometeram ao enviar o Ômega de Prata para um rei falso.

Jimin merecia alguém melhor, mais forte e com um sangue limpo de crimes.

Pensar no ômega e na face preocupada dele de repente foi a única coisa que o moveu para desviar do ataque seguinte das garras de Yoongi. A mente confusa e abatida do jovem alfa queria ceder e se entregar, oferecer a coroa e limpar o que tinha de ser limpo, mas Jimin permanecia ali dentro, incentivando-o a persistir e lhe oferecendo palavras de incentivo como sempre o fazia.

Ah, Jimin era tão precioso... Com ele, Jungkook conseguia ver formas menos traumáticas de resolver os problemas. Era como uma clareira cheia de brilho prateado no centro de uma floresta densa e sombria criada pelo rei.

Então foi por ele que, mesmo com sangue jorrando de todo o seu corpo, com a dor lacerante na lateral do rosto, nas costelas e nas patas feridas, Jungkook saiu de seu entorpecimento e agiu implacável. Os olhos injetados em vermelho foram a última coisa que Yoongi viu antes de caninos poderosos entrarem em seu campo de visão e atingirem seu pescoço. A pressão na jugular poderia ter matado um lupino normal em questão de segundos, mas o príncipe amaldiçoado resistiu, se impulsionou na direção da boca do irmão e pressionou aquele ponto para que Jungkook se visse forçado a abrir a mandíbula, assim como se livraria da mordida de uma cobra.

A manobra rápida e triunfante, no entanto, não paralisou o rei, que já havia mentalizado uma série de ataques sucessivos e preparado seus músculos para eles. Ele contraiu o corpo quadrúpede, depois saltou e usou a força do impulso para derrubar Yoongi no chão. Os dois saíram rolando, desferindo mordidas e arranhões um no outro. O príncipe cravou as garras no peito e no tronco do rei, e o rei enfiou suas unhas e dentes na área um pouco abaixo das costelas do príncipe. Sangue jorrou, grunhidos de dor e fúria ensurdeceram os espectadores. Tudo era vermelho, negro e dourado, uma dança rápida e mortal no centro do salão.

Jungkook era noite, uma escuridão que oferecia destinos miseráveis aos seus alvos; no entanto, naquele momento, Yoongi era um Sol escaldante que não permitia espaço às outras estrelas. Que não teria piedade em obliterar o céu noturno erguido pelo irmão. Enquanto o primeiro estava se cansando e tremendo por causa do esforço e do sangue perdido, o segundo continuava com a mesma força de antes, com o corpo e a mente focados em matar o oponente.

Mas o jovem rei resistiu, pois ele precisava. Não pela coroa ou por ter súditos ao seu serviço, mas por causa de Jimin e do bem estar dele. Jimin era seu combustível, a força para reabastecê-lo naquele momento. Se Jungkook caísse, o que aconteceria com o ômega? Pesadelos flutuavam sobre sua mente, opções horríveis e dolorosas demais o atravessaram.

Ele transformou essa dor num golpe violento que arremessou a cabeça de Yoongi contra o chão. O impacto contra o piso foi tão forte que apenas o corpo anormal do príncipe o protegeu de ter ganhado rachaduras fatais no crânio. Em compensação, o colocou num atordoamento momentâneo, trazendo-o de volta à forma humana e deixando-o à mercê do que poderia vir em seguida.

Vendo a brecha diante de seus olhos, Jungkook ergueu a pata com as garras para fora e se preparou para descê-la.

Mas não o fez.

Ele não conseguiu.

Min Yoongi o encarava com olhos distantes e zonzos, de repente tão parecido com o príncipe que era antes. Seu irmão querido... Como poderia matá-lo? Mesmo depois de tudo, Jungkook não conseguia vê-lo como o mais errado da situação. E ainda que fosse, matá-lo ainda seria difícil.

Então ali estava a razão principal que o tinha levado a mandar Park Jimin para longe. Ele não sabia se teria coragem de dar o golpe final em Min Yoongi... E se de fato não o fizesse, a situação no palácio ficaria complicada demais, pesada demais. Jungkook só queria o bem estar do ômega, então enviá-lo para longe, ainda que todo o seu cerne gritasse de dor por ter feito isso, foi um dos seus maiores atos de amor.

Vamos acabar com isso ㅡ murmurou, saindo de cima de Yoongi e lançando um olhar na direção de Seokjin, que observava tudo a alguns metros dali, enfraquecido demais até para se mover.

Depois de voltar à sua forma humana, Jungkook estreitou os olhos para o homem raposa e disse:

ㅡ O primeiro que deve pagar pelos crimes que cometeu não é Min Yoongi.

Passou pelo corpo caído do irmão e começou a caminhar na direção do novo alvo. Seu corpo fervia, seus dentes saltavam pontiagudos e seu olhar era duas luas de sangue. Estava pronto para segurar o feiticeiro raposa pelo pescoço e arrancar todas as suas caudas até que ele libertasse Min Yoongi de qualquer que fosse a magia imposta em sua mente.

Até que ele sentiu um um empurrão seguido de uma dor aguda que rapidamente deixou seu corpo inteiro dormente e fraco. Quando olhou para baixo, para o peito, Jungkook viu pontas de unhas em garra atravessando o local onde estava seu coração. Sangue escorria numa hemorragia irreversível.

Ele virou o rosto para ver, de soslaio, Min Yoongi parado atrás de si, com a mão cravada em suas costas e uma face mais fria que o inverno lá fora.

Não me despreze dando as costas para mim ㅡ rosnou o príncipe, sustentando os olhos injetados de uma fera irada.

Jungkook jorrou sangue. Sua visão desaparecia, tudo se tornava um grande borrão.

ㅡ Eu nunca... te desprezei, irmão ㅡ balbuciou, escutando a própria voz sumir numa letargia que migrava para o silêncio profundo.

Tudo ficou vazio.

Ele caiu de bruços no chão, afogado em seu próprio sangue.

Min Yoongi, num silêncio atônito, observou o que tinha feito. A parte ainda humana dele, que era a mais fraca e também a mais oprimida dentro de seu espírito, se quebrou em dor e desespero, eclodindo um conflito no âmago do príncipe, trazendo à tona lágrimas de luto em seu rosto manchado e machucado.

O duelo real havia acabado. O trono iria receber um novo rei.

Todos os espectadores levaram alguns minutos para assimilar o que tinha acontecido. Seus joelhos dobraram para cumprimentar o novo soberano, mas algumas testemunhas apenas caíram no chão por estarem chocadas demais com o desenrolar dos eventos.

Jung Hoseok era o segundo caso. Ele encarou tudo com assombro, com a bile amargando sua boca e o peito acelerado. Seu recente estado de alegria por encontrar Yoongi vivo de repente se dispersou como uma nuvem soprada por um tufão. Os acontecimentos diante de seus olhos eram como um tipo de pesadelo absurdo.

Movido por algo inexplicável, Yoongi caminhou friamente até as escadas que levavam ao trono. Suas botas manchavam o chão de sangue por onde ele andava.

Quando se sentou, o assento de prata oxidou e teve seu brilho cinzento substituído por uma doentia cor escura, como se tivesse entrado em contato com veneno e toxinas. Mas ninguém ousou questionar sobre o mau presságio que aquela reação do trono trazia consigo, ninguém tinha coragem de dizer algo contra o príncipe banhado no ouro da ressurreição. Então aquela coroação foi praticamente silenciosa.

Mas havia um grito ecoando pelos céus naquele momento, que soava com a força de um trovão, estilhaçando o gelo nas nuvens e invocando a tormenta.

Sendo carregado pelo cesto de um dos balões que voavam para longe de Adwan, Park Jimin contorcia seu corpo ao lado da mureta de proteção e soluçava num choro alto e angustiante, cheio de sofrimento, pois metade dele tinha sumido como se fatiado ao meio por uma guilhotina enferrujada que havia desferido um corte torturante.

Jimin segurou o peito com uma mão trêmula e sentiu dor, muita dor. E vazio.

"Jungkook, eu não te sinto mais...", sua mente era uma redoma preenchida pela névoa do desespero. O lobo dentro dele tremia e cambaleava como se tivesse sido fisicamente machucado.

Não havia mais conexão, ela estava fraca... inexistente.

O ômega gritou mais uma vez, tão alto que poderia romper suas cordas vocais. A dor foi sentida por todos, pelos céus e pela terra abaixo dele. Uma nevasca começou a cair, a mais fria de todas, e, do chão, fileiras intermináveis de imensos espinhos brotaram, enchendo a capital com arbustos ressecados e pontiagudos.

Feito ervas daninha, os espinhos cobriram a muralha, as ruas de Adwan e o perímetro do castelo, enfiando-se pela terra congelada e transformando aquele lugar outrora belo num cenário funesto e desolador, assim como o coração partido de Park Jimin.

~♛🌕🌖🌘🌑♛~

EUVUO NÃO É SAD FIC, eu sei que virá gente me perguntar se o final vai ser feliz, então já adianto que SIM, VAI SER FELIZ SIM, OS JIKOOK VÃO SER FELIZES (então plmds sem ameaças de morte, minha mente é fraca skskskks). Confiem em mim, há um motivo para tudo isso. O Jk não morreu em vão e o que o Jimin vai sentir agora também não será um sofrimento gratuito.

Okay, chega de spoiler. 

Mentira, vou dizer só mais um porque eu já disse ele antes, no twitter: A história do livro precisa acabar DENTRO dele. Quem pegou, pegou.

Para dizer xingamentos ou ouvir palavras de conforto, conversem comigo sobre EUVUO usando a tag #LoboDePrata

Vejo vocês no próximo e último capítulo da att💜

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