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|19|♛|Efêmera Calmaria|

💜BOA NOITE, CORNOS💜

Não me matem! Sksksksks Vi alguém comentando num tweet sobre os leitores de EUVUO ganharem o nome de "Cornos" por causa dos chifres do Jimin. Ri pra caralho, então não resisti... hehehe

Enfim, vamos às considerações do capítulo de hoje:

• O capítulo está cheio de cenas fofas e calmas. Ele veio pra amaciar o coração de vocês, depois de tantos acontecimentos tristes.

• Perdão por qualquer erro ou furo (se acharem algum), eu estou me esforçando, prometo.

• Não se esqueça de sempre ⭐VOTAR⭐ nos capítulos, isso é muito importante, meus lobinhos!

BOA LEITURA, GOSTOSÕES CHIFRUDOS

  ♛|Efêmera Calmaria|

Jung Hoseok estava meio sentado, meio deitado, na poltrona diante do que um dia fora sua escrivaninha. Agora a mesa extensa mais se assemelhava a um depósito de lixo e poeira, com gavinhas e musgos da estufa colonizando alguns vidros e utensílios de pesquisa. Nunca mais tinha tocado neles, nem feito uma limpeza, e por jamais permitir que os servos limpassem seu ambiente de trabalho ㅡ para evitar que alguma mistura fosse alterada acidentalmente ㅡ, aquilo havia se transformado numa zona feia no meio da bela estufa do palácio.

Em cinco semanas ninguém viera perturbá-lo com assuntos oficiais, coisas comuns que ocupariam os dias do Grande Alquimista real, como criação e produção de remédios. Jeon Jungkook havia lhe dado uma folga do trabalho e permitido a transferência momentânea de seus assuntos para os curandeiros do castelo, que, mesmo sendo menos capazes, ainda conseguiam substituir Hoseok durante algum tempo.

Aos olhos de alguns, essa foi uma atitude solidária do rei para com o amante do falecido príncipe Min, mas, aos olhos do próprio alquimista, foi algo realmente problemático. Ele preferiria estar se ocupando até o último fio de cabelo a passar os dias naquela calmaria irritante e perturbadoramente silenciosa.

A cama estava fria, a estufa estava fria, tudo estava frio.

"O inverno está estranhamente longo este ano", pensou, pois não tinha mais nada para pensar.

Imaginou que aquele seria mais um dia monótono e sem cor, assim como a neve que não parava de cair do lado de fora. Porém, suas especulações encontraram uma rachadura quando avistou um objeto peculiar flutuando até ele.

Uma miniatura de balão, com uma pequena vela no cesto fazendo o ar quente erguer a bolsa miúda de lona.

Aquilo viajou até ele e ficou rodopiando em sua frente. Parecia desejar sua atenção.

ㅡ Vossa Magnificência? ㅡ disse, num murmúrio. Hoseok sabia quem era a única pessoa capaz de criar um objeto daqueles.

Park Jimin, sentado em sua cadeira de rodas e com uma expressão hesitante no rosto, saiu detrás de um vaso enorme no qual brotava uma planta exótica maior ainda.

ㅡ Pode parar de me chamar assim? Por favor, senhor Jung ㅡ pediu o garoto, juntando as mãos na frente da barriga alta.

A expressão dele era de desalento, mas também havia um pingo de ansiedade e agitação, como se estivesse pretendendo fazer algo além de uma simples visita.

ㅡ Sor Park ㅡ murmurou o alquimista, cedendo ao pedido do outro ㅡ, o que o traz aqui?

ㅡ Você 'tá ocupado?

Suspiro profundo. Hoseok afundou na poltrona.

ㅡ Não. Sua Majestade me aposentou temporariamente.

ㅡ ... Então... Se não me odiar tanto, posso te mostrar uma coisa? ㅡ Jimin comprimiu os lábios, apreensivo. Seu olhar era de dar pena, como um animalzinho abandonado.

"Se eu não odiá-lo tanto?", Hoseok pensou por um instante. "Ah, sim... Ele deve pensar que eu o odeio. Eu o odeio?"

ㅡ O rei provavelmente ficará feliz se você mostrar a ele o que quer mostrar. Por que vir até mim?

O ômega enlaçou os dedos das mãos e os contraiu. Parecia nervoso e desconfortável.

ㅡ Eu também quero mostrar pra ele, mas... ㅡ Sua voz vacilou sutilmente, voltando ao normal logo em seguida. ㅡ Mas me disseram que o Jungkook anda muito ocupado.

ㅡ Disseram-lhe? Ele não o disse diretamente?

Jimin abriu e fechou a boca. No final, forçou um sorriso descontraído.

ㅡ Pois é! Ele 'tá tão ocupado que não fala direito comigo, haha... ㅡ Deu de ombros. ㅡ Eu também queria mostrar pra o Keran, mas ele ainda está com o General Kim Namjoon lá na fronteira. O senhor Jung é... a única pessoa presente que se interessaria e que poderia dar opiniões construtivas.

Com essas palavras, Park Jimin conseguiu acender uma pequena chama num local onde anteriormente a curiosidade ardente de Jung Hoseok residia.

"Eu não tenho nada para fazer nesta maldita estufa", refletiu, apertando os apoiadores de braço da poltrona.

Após exalar outro suspiro, o alquimista se levantou e se aproximou do ômega. Ainda sentia aquele incômodo provocado pela desconfiança e pela decepção sempre que via o rosto de Jimin, mas o lado que havia feito amizade com ele desejava perdoá-lo, dar o braço a torcer e voltar a ter a sua excêntrica companhia, como antes tivera.

Mas era necessário tempo. Hoseok precisava se curar antes de tentar curar as coisas ao seu redor.

ㅡ Mostre-me, então, Vossa Magnificência ㅡ murmurou, voltando à estaca zero.

Com um semblante de derrota, mas ao mesmo tempo satisfeito por ter convencido o alquimista a segui-lo, Jimin virou a cadeira e girou as rodas para ir em direção à saída da estufa.

🌕🌖♛🌘🌑

ㅡ Pelos... deuses ㅡ murmurou Hoseok, boquiaberto, assim que atravessou a cabana do ferreiro do exército real e chegou ao que deveria ser o pátio de treinamento de esgrima das tropas de Sua Majestade.

Acontece que não havia nenhum soldado treinando ali, pois o local tinha sido tomado por Park Jimin para sua mais nova e exótica empreitada: A criação de dezenas de balões de ar quente.

Dispostos numa fileira imensa, os balões tinham uma pintura recém-feita, fresca até, com lonas brancas e vazias caindo ao lado de cada um, e cestos enormes estáticos no chão de terra congelada. Eles eram um pouco maiores do que o que fora feito meses antes por Jimin para presentear Jungkook, e pareciam mais resistentes, com queimadores diferenciados.

ㅡ Legal, não é? ㅡ Jimin sorriu, como um pai orgulhoso de seus filhos. ㅡ Passei as últimas semanas aqui, instruindo o tio ferreiro e uns artesãos gente fina pra que essas belezinhas nascessem.

ㅡ Vo-você criou uma tropa de balões. ㅡ O alquimista passou a mão por um dos cestos, sentindo a tinta fria e ainda úmida.

ㅡ Isso aí!

ㅡ Com qual intuito?

ㅡ Eu... ㅡ O ômega apertou os dedos das mãos e encarou o chão. ㅡ Eu queria ser um pouco mais útil. Esses balões vão servir para uma fuga de emergência, caso o castelo sofra outra invasão daquelas. Pedi para que o tio ferreiro enchesse as lonas assim que escutasse os sinos de alarme da capital, e que deixasse os cestos à postos para serem usados principalmente pelos menos capazes de lutar.

Ele moveu a cadeira de rodas para passar ao lado dos cestos e alcançar uma das lonas caídas.

ㅡ Testei umas fibras diferentes pra usar nas lonas. Por causa disso, essas são mais resistentes a altas temperaturas e a objetos cortantes do que aquela lona do primeiro balão. Vai ser difícil derrubar um de nós enquanto estivermos voando no céu, mesmo se nos atacarem com flechas flamejantes. ㅡ Jimin entregou a lona para o alquimista analisar.

Com um simples toque, o outro percebeu as mudanças e arregalou as sobrancelhas, impressionado.

ㅡ Ah, eu também pintei os balões de branco por uma questão de es-tra-té-gia. ㅡ Jimin deu ênfase a cada sílaba da palavra.

ㅡ Hm? Discorra sobre...

ㅡ O branco se camufla nas nuvens. Se os balões fossem coloridos, eles se destacariam, aí seria mais difícil escapar ㅡ explicou, depois pôs as mãos na cintura e encarou o alquimista com expectativa. ㅡ Então, o que achou?

Hoseok o encarou, depois analisou a lona mais uma vez e ergueu os olhos para os balões enfileirados.

ㅡ É muito bom. Ajudará muitas pessoas, eu creio... ㅡ Suspirou e soltou a lona. Não queria admitir, mas desde o primeiro instante em que pôs os pés naquele pátio e viu a tropa de balões, o alquimista sentiu-se acender como uma pequena chama.

ㅡ O senhor não quer fazer nenhuma pergunta sobre os novos queimadores? Não viu que eles estão diferentes? ㅡ Jimin insistiu, sabendo que aquele assunto poderia cativá-lo

Ele finalmente sorriu. Foi um sorriso minúsculo, mas estava ali.

ㅡ O-o que há de diferente neles? ㅡ perguntou, cedendo. Estava cansado de muitas coisas e sentia-se solitário. Park Jimin e seus balões de ar quente poderiam lhe trazer alguma distração.

ㅡ Eles estão maiores! Podem erguer um balão desses em poucos minutos. ㅡ Jimin assobiou e deu tapinhas num cesto. ㅡ Além disso, estou tentando testar combustíveis gasosos pra acelerar o enchimento das lonas, mas ainda não sei como criar reservatórios de alta pressão pra colocar esses gases dentro.

ㅡ Alta pressão?

ㅡ É! Funciona tipo água, olha. ㅡ O garoto pegou um pedaço de gelo que havia se formado no chão frio por causa da neve. ㅡ Gelo é água comprimida, e água é partícula comprimida. Sabe quando fervemos água e ela evapora? Aquilo é o estado gasoso dela. O que eu quero fazer é criar tanques de combustíveis com gases comprimidos dentro. A pressão os forçaria a ir para o estado líquido e....

ㅡ E, no estado líquido, os tanques carregariam muito combustível, porque haveria mais gás em menos espaço ㅡ Hoseok completou, seguindo a lógica do ômega.

ㅡ Isso!

Os sorrisos ficaram maiores.

Sentiam-se como nos velhos tempos, quando tudo parecia bem para todos. Mas esse sentimento durou tão rápido quanto a primavera daquele ano.

Uma sombra transpassou os semblantes dos dois, pesando suas feições.

ㅡ Eu sei que o senhor Jung quer uma resposta para as perguntas que me fez naquele dia, no funeral dele... ㅡ Jimin comprimiu os lábios trêmulos e abaixou o olhar.

Aquelas palavras estavam entaladas em sua garganta desde o início, ele queria soltá-las e arcar com as consequências o mais rápido possível. Por isso, voltou a abrir a boca para contar tudo, assim como fez com Jeon Jungkook. Mas Jung Hoseok, numa calmaria estranha demais, interveio antes que algo fosse dito pelo ômega.

ㅡ Eu já estou ciente do que irá me dizer ㅡ disse, pegando Jimin de surpresa e deixando-o confuso. A explicação veio em seguida, após outro suspiro: ㅡ O rei convocou-me para falar comigo algumas semanas atrás sobre minha aposentadoria temporária. Acabamos entrando na questão do... assassinato e do assassino. Ele me relatou tudo o que foi dito por você e também debatemos sobre o que fazia e o que não fazia sentido.

Os olhos de Jimin saltaram das órbitas.

ㅡ E-então...

ㅡ Sinceramente, naquele dia eu fiquei com tanta raiva que quase cometi um crime contra Sua Majestade, e contra você, sor Park. Agora, contudo, eu não sei mais o que pensar. Quem é realmente culpado nessa situação? ㅡ Hoseok soltou uma risada amarga e penteou os cabelos para trás. ㅡ Eu conheço, quer dizer, eu conhecia Min Yoongi com a palma de minha mão. O desgraçado só precisou de uma pequena oportunidade para se jogar nesse caminho sem retorno. Se há alguém que nunca pensou nas consequências... que nunca pensou em ninguém ㅡ "em mim" ㅡ, esse alguém é ele.

Seus olhos pesaram, marejados. Seu corpo passou a tremer, fraco e hipotérmico.

Teve a impressão de que iria perder o equilíbrio, mas um instante depois foi segurado pelo pulso e abraçado por Jimin, que havia se erguido da cadeira de rodas para oferecer ajuda e apoio ao amigo.

ㅡ Sinto muito, senhor Jung, de verdade... ㅡ balbuciou, também lacrimejando.

Depois de respirar profundamente e engolir algumas lágrimas, olhando para cima como se para impedir que elas caíssem de seus olhos, roubando-lhe toda a compostura, o alquimista deu tapinhas nos ombros de Jimin e o afastou com cuidado.

ㅡ Está bem, tudo bem. Obrigado. Mas é melhor voltar para a sua cadeira estranha o quanto antes.

ㅡ Eu posso ficar um tempinho em pé, senhor Jung.

ㅡ Não é isso ㅡ fungou enquanto soltava uma risada nervosa ㅡ, o seu vínculo com o rei está me dando arrepios. Pelas barbas do ancião do clã Jung! Os feromônios... É como se Sua Majestade estivesse bem atrás de mim, pronto para me agredir.

ㅡ Ah... ㅡ Jimin ofereceu um meio sorriso sem graça e voltou a se sentar. ㅡ Seria bom se ele realmente surgisse do nada e conversasse comigo.

Hoseok franziu o cenho.

ㅡ Vocês não andam se comunicando?

ㅡ Mais ou menos. ㅡ Os lábios carnudos do garoto se transformaram numa linha fina.

Antes que pudesse acrescentar qualquer outra informação, os dois foram surpreendidos por um grito infantil vindo dos balões mais afastados.

ㅡ Mas o que caralh... ㅡ Jimin girou a cadeira e acelerou as rodas com um impulso para se aproximar da origem do som. Quando chegou nele, avistou Soobin pendurando-se na parte mais alta do cesto de um dos balões: um ferro que sustentava o queimador.

Kim Jina apareceu em seguida, rindo e dando pulinhos. Ela se aquietou no instante em que viu Park Jimin.

ㅡ Opa... ㅡ sussurrou a garotinha, pondo as mãos nas costas e abaixando a cabeça, como uma criminosa que havia sido flagrada cometendo um delito.

ㅡ Por quê? Mas o quê? So-Soobin! ㅡ O ômega se desesperou quando percebeu que o menino estava a um passo de cair de uma altura relativamente perigosa.

Já ia se virar para pedir ajuda a Jung Hoseok, quando um vulto azul atravessou o seu olhar e saltou para pegar o garotinho, resgatando-o rapidamente.

Após a situação se normalizar, Jimin viu que era a jovem matriarca do clã Choi, Yoojung. O azul vinha de seu vestido rodado com várias camadas de tecido e pele. Ela parecia exausta, como se estivesse correndo atrás daquelas crianças há horas. Provavelmente estaria suando se não fosse o clima extremamente frio que pairava sobre eles.

ㅡ Nunca mais. NUNCA MAIS me usem para despistar as babás de vocês, criaturinhas cheias de energia. Pelos deuses! ㅡ esbravejou ela enquanto colocava Soobin no chão. Assim que o fez, percebeu a presença de Park e do alquimista, o qual se aproximava a passos lentos e curiosos. ㅡ Oh, olá! Oh, céus, eu perdi totalmente a minha compostura, que constrangedor.

ㅡ O que aconteceu aqui? ㅡ Jimin quis saber, erguendo uma sobrancelha para Soobin.

ㅡ Apenas... Aaaah. ㅡ Yoojung jogou a cabeça para trás e suspirou. ㅡ Eu estava animada demais porque recebi uma carta de Min Miho, e acabei cedendo ao pedido da senhorita Kim para brincar com ela e com Soobin. Eles desejavam se afastar um pouco mais do perímetro do palácio, mas as babás não permitiam, então cá estou, servindo de bode expiatório.

ㅡ Entendi. ㅡ O garoto balançou a cabeça e riu. ㅡ Binbin, menino doido, o que você estava fazendo lá em cima?

ㅡ Ele fugia de mim, senhor Ômega de Prata! ㅡ Jina tomou a palavra. ㅡ Eu fingi ser o monstro.

ㅡ O monstro...?

Soobin correu e abraçou a perna esquerda de Jimin, enfiando o rosto nela e choramingando.

ㅡ Monstro feio, feio ㅡ balbuciou.

"Ah, ele deve estar se lembrando do dia em que o castelo foi atacado. Do momento em que o Taehyung nos perseguiu", pensou o ômega, franzindo o cenho e ficando tenso.

Entre todas as preocupações das últimas semanas, o paradeiro do amigo do outro mundo esteve presente. Enquanto coordenava o ferreiro e os artesãos na fabricação dos balões, Jimin se distraiu não só dos pensamentos ansiosos que giravam em torno de Jeon Jungkook, mas também do dia em que havia encontrado Kim Taehyung e das palavras ditas por ele sobre haver alguém por trás dos acontecimentos estranhos.

ㅡ É melhor vocês não brincarem com isso, porque senão vão ter pesadelos ㅡ aconselhou com um suspiro, penteando os cabelos negros de Soobin. Em seguida, voltou-se para Yoojung. ㅡ A Miho está bem? Eu fiquei sabendo que ela foi para a fronteira com o Lu Keran.

ㅡ Ah, Lulu..., sinto falta do meu discípulo. ㅡ Jung Hoseok balançou-se ao seu lado.

ㅡ Sim, sim. Miho o acompanhou para ser tratada por ele depois que teve o braço cortado em Gwang. ㅡ O semblante da matriarca anuviou-se.

ㅡ Ouvi pessoas do clã Min comentando sobre isso.

ㅡ Eu também. A senhorita sabe se a Miho vai continuar trabalhando como soldado depois disso? ㅡ quis saber o ômega.

Yoojung puxou a carta de um bolso escondido do vestido e encarou as palavras desenhadas ali com uma caligrafia tremida que indicava que Miho tinha utilizado a outra mão para escrever. Um esforço meigo que a matriarca do clã Jung não deixou de notar.

ㅡ Ela enfatizou que eu não precisaria me preocupar com essas questões. ㅡ Um pequeno sorriso brincou sobre os lábios da jovem beta. Ela exibiu um trecho da carta para os dois homens. ㅡ Aqui Miho diz que, para determinadas coisas, a outra mão dela é bem mais habilidosa, e que, por isso, eu ficaria satisfeita. Pergunto-me o que poderiam ser essas coisas, Miho é tão doce...

Hoseok e Jimin trocaram olhares, percebendo os significados implícitos inscritos na carta. Eles reprimiram uma vontade gritante de gargalhar e se mantiveram numa conversa quase telepática.

"Não vamos contar".

"Vamos manter a inocência dela".

ㅡ Então. ㅡ Jimin pigarreou enquanto tentava pensar em outro assunto. ㅡ Ah, é! Antes de sair do quarto, hoje de manhã, Jungkook me disse que teria uma reunião com os líderes dos clãs. Você está aqui fora, então quer dizer que ela já acabou?

Ele a encarou com expectativa. Depois da conversa elucidativa que tivera com Jung Hoseok, esperava ter a mesma sorte com Jeon Jungkook. Sentia falta de antes, dos olhares e dos toques que trocavam quando tudo estava bem.

Tudo parecia tão distante agora...

E essa distância aumentou alguns metros quando o belo semblante de Choi Yoojung exibiu uma careta de confusão, como se Jimin tivesse dito algo sem sentido.

ㅡ Não houve reunião, sor Park. Tivemos uma semana intensa na Mesa de Prata, recebendo comerciantes e fazendeiros que estavam sofrendo com o inverno prolongado. O rei decidiu pausar os assuntos por hoje ㅡ explicou ela, curvando as sobrancelhas para o ômega, olhando-o com pena. ㅡ É possível que Vossa Magnificência tenha ouvido errado.

Jimin ficou estático, processando aquela informação, internalizando cada palavra e pensamento ruim que lhe atravessou.

E mais uma vez o lobo escondido no fundo de seu cerne, já tão acuado pelas circunstâncias, grunhiu baixinho, reprimindo-se e escondendo-se num limbo de sentimentos inseguros e dolorosos. Park odiava como o vínculo que tinha com o rei tornava aquelas sensações ainda piores.

ㅡ Senhor Jung? ㅡ chamou de repente, depois de passar longos segundos em silêncio.

Todos os demais também tinham se calado ao notarem a face triste dele.

ㅡ Já que o senhor não está ocupado, quer me ajudar com os balões? Nem todos estão terminados ㅡ disse, claramente tentando desviar o foco do constrangimento anterior para outra coisa.

Foi tão repentino que o alquimista se embaralhou na hora de responder.

ㅡ Ah, hm, certo... Seria uma distração bem-vinda. Muito melhor que passar os meus dias enfurnado naquela bendita estufa...

ㅡ Beleza! ㅡ Jimin afastou Soobin, que até o momento continuava abraçado à sua perna, e girou a cadeira. ㅡ Binbin e Jina, parem de dar trabalho para a matriarca do clã Choi, vocês estão sendo desrespeitosos com ela. Fiquem comigo daqui por diante e nem pensem em subir nos cestos dos balões, ou vou cantar pra que alguns gaviões venham atrás dos dois, entenderam?

ㅡ Si-simㅡ responderam em uníssono, encolhendo os corpos pequeninos.

ㅡ Ótimo. Agora, Senhorita Yoojung! ㅡ Virou-se para ela de supetão, assustando a todos.

ㅡ Pois não, Vossa Magnificência?

ㅡ Vire minha cobaia de testes com os balões, por favor!

A mulher engoliu em seco. Um canto de seus lábios tremeu.

ㅡ Er, bem, seria adorável, mas...

ㅡ Certo, muito obrigado! Vamos trabalhar. ㅡ Jimin impulsionou as rodas para girá-las e saiu pelo pátio numa rapidez impressionante, resmungando palavras enquanto isso: ㅡ Aonde foi o tio ferreiro? Na última vez, encontrei o velho enfiado num barril de rum...

Parados no mesmo lugar e atônitos com a súbita energia de Park Jimin, Choi Yoojung e Jung Hoseok se entreolharam e exalaram um suspiro.

ㅡ Alquimista Jung, tem ciência do que acomete o Ômega de Prata? ㅡ A matriarca Choi quis saber, estava preocupada.

ㅡ Sim, um pouco.

Nessa hora, algo no chão onde Jimin estava há poucos minutos chamou a atenção do olhar de Hoseok. Ele se agachou para analisar a coisa retorcida e escura e percebeu que se tratava de um arbusto de espinhos afiados. Era tão seco que parecia morto, bem oposto às flores coloridas e radiantes que às vezes surgiam quando o ômega aparecia num lugar.

"Isto brotou aqui por que Jimin está triste?", perguntou a si mesmo, sentido um breve e incômodo arrepio.

🌕🌖♛🌘🌑

Jimin retornou ao quarto no final da tarde, quando o Sol já sumia no horizonte, deixando para trás apenas uma escuridão adoecida pelos ventos invernosos.

Já esperava encontrar os aposentos vazios, mas, naquele dia em especial, depois de ter escutado a verdade sobre a "reunião de Jeon Jungkook", reparar nisso tornava a situação um pouco mais desconfortável. Se não fosse pelos servos que sempre apareciam para checá-lo, Jimin provavelmente teria chorado de agonia e raiva.

Pouco tempo depois, as portas se abriram, e quem passou por elas não foi um dos servos do castelo, mas a figura do rei em seus trajes usuais e majestosos.

Jungkook parou em frente ao portal e observou o ômega, que jazia sentado numa poltrona próxima à varanda do quarto, encolhido em si mesmo e lutando contra sua própria barriga para conseguir abraçar os joelhos dobrados.

ㅡ Você até que voltou cedo hoje ㅡ murmurou Jimin, desviando o olhar para o vidro da janela.

ㅡ Não precisei lidar com tantos assuntos nesta tarde. ㅡ O alfa começou se despir, tirando a capa vermelha e pendurando-a num cabideiro, depois desabotoando o sobretudo e a camisa por baixo dele, deixando o peito à mostra. Por fim, tirou as botas e as colocou num local onde depois os servos viriam pegá-las com o resto das vestimentas descartadas.

Quando terminou, ele voltou a observar Jimin. O silêncio pairava sobre eles como névoa densa.

ㅡ Ficar tão próximo à varanda não é frio demais para você? ㅡ disse o rei, aproximando-se com passos vagarosos, medindo a distância que poderia cobrir.

ㅡ O quarto inteiro tem a mesma temperatura, pra mim, então não importa se estou aqui ou, sei lá, perto da porta. ㅡ Jimin tentou, mas não conseguiu ocultar a irritação na voz.

Isso fez Jungkook interromper o passo e parar no meio do caminho.

Sem saber como reagir em seguida, o jovem rei mordiscou os lábios e varreu o quarto com os olhos.

ㅡ Então... o jantar estava bom?

ㅡ Eu não jantei. Não 'tô afim. ㅡ Os olhos do ômega se estreitaram. Seus feromônios vibraram ao redor de Jungkook, entrando em choque com os dele.

ㅡ Você precisa se alimentar direito, Jimin...

ㅡ Eu como bem todo dia, obrigado. Mas hoje tem um embrulho dentro do meu estômago e ponto final.

Jungkook voltou a andar, desta vez com passos mais longos.

ㅡ As náuseas retornaram? ㅡ Havia preocupação palpável no olhar negro dele, que de certa forma era destacado pela cicatriz ali presente.

Jimin o encarou mais uma vez antes de olhar para qualquer outro ponto do quarto.

ㅡ Depois de mais de um mês, você voltou a se importar um pouco comigo? ㅡ sussurrou tão baixo que imaginou que Jungkook não poderia tê-lo ouvido. A audição do alfa, contudo, conseguia captar até mesmo o coração batendo dentro do peito de Park Jimin.

Jungkook fechou os olhos e exalou um suspiro, depois virou o corpo e, mesmo com suas roupas estando de qualquer jeito, abriu a porta, indicando que sairia.

ㅡ Convocarei os servos para que tragam o seu jantar e depois vamos esclarecer isso ㅡ disse, prestes a atravessar o portal.

ㅡ Espera! ㅡ Jimin ergueu-se da poltrona e caminhou até ele. ㅡ Onde esteve hoje à tarde?

O alfa franziu o cenho, aparentando estar confuso.

ㅡ Na Mesa de Prata. Esta manhã eu lhe avisei que estaria nela, lidando com uma reunião.

Os lábios cheios de Jimin comprimiram-se.

ㅡ É sério? Então vamos mesmo ser esse tipo de casal? Por que está mentindo pra mim?

ㅡ Não estou. ㅡ A testa de Jungkook ficou ainda mais contraída.

ㅡ Choi Yoojung me disse que você pausou as reuniões, Majestade. ㅡ A voz de Jimin elevou-se, cada sílaba jorrando um sarcasmo amargo.

ㅡ Não sei onde Vossa Magnificência quer chegar com isso, mas Choi Yoojung não está totalmente ciente de meu cronograma. Minha reunião deu-se com as representantes do clã Jeon, exclusivamente.

Isso fez as palavras fugirem da boca de Jimin momentaneamente.

Nesses entrementes, Jungkook pressionou as têmporas com as mãos e se sentou sobre a cama, afundando no colchão como se estivesse carregando duas toneladas nas costas.

ㅡ Minha mãe... A consorte Jeon Haerin solicitou uma audiência comigo. Ela pediu minha permissão para retornar às terras do nosso clã. Esse tipo de burocracia é necessária porque Haerin vem sendo a representante principal dos Jeon aqui na capital desde a morte de meu avô, e eu, como rei, preciso avaliar bem como nossas relações ficarão daqui por diante com sua ausência. ㅡ O olhar do alfa encarava um ponto distante enquanto ele explicava tudo. ㅡ Passei a tarde com ela e com a comandante Sirah, Jimin. Não estou mentindo para você.

Foi como receber um pequeno soco no estômago, mas ao invés de dor muscular, Jimin sentiu vergonha e culpa por ter acusado Jungkook daquela forma.

"O que diabos eu estou fazendo?", pensou, o peito murchando. "Já não estávamos bem antes, agora só piorei tudo".

ㅡ E-ela te disse o porquê de ir embora assim? ㅡ perguntou após dar um passo para trás.

Jungkook confirmou com um aceno, e murmurou em seguida:

ㅡ Haerin me confessou que há anos vem desejando sair deste castelo, mas que nunca o fez por causa de nós. De mim e... dele. ㅡ "Yoongi" ㅡ Agora ela sente que não tem mais nenhum dever aqui, nenhuma serventia. Mas nas terras do clã Jeon ela terá, e eu acredito que isso tem relação com a comandante Sirah.

Um quase sorriso pintou a face do rei.

ㅡ Ouvi dizer que Sirah cortejava Haerin antes de ela se casar com Wang Nara, e que, por conta desse casamento, as duas foram um casal que nunca pôde acontecer. Estou feliz em poder mudar isso, sinceramente estou. Também estou chocado, foi tudo tão repentino..., por isso fiz um jantar particular com as duas para me despedir apropriadamente de minha mãe, pois ela deseja partir amanhã. Eu deveria ter lhe convidado para participar, sinto muito.

ㅡ Não, 'tá tudo bem. So-sou eu quem precisa pedir desculpas. ㅡ Jimin balançou as mãos na frente do corpo e deu outro passo para trás. ㅡ Eu fui idiota te chamando de mentiroso. Não sei o que deu em mim.

Com um sorriso sem graça na face, o ômega encolheu-se e se virou, evitando totalmente um contato visual. Ele estava em seu limite.

ㅡ Jimin, eu... ㅡ O alfa saltou da cama e colocou sobre Jimin um olhar penetrante, cheio de palavras não ditas. Acabou eliminando-as após engolir em seco. O clima entre eles ficava cada vez mais desconfortável.

ㅡ Eu vou convocar os servos para que tragam o seu jantar. ㅡ Virou-se outra vez para sair do quarto.

ㅡ Não precisa, sério! Estou com sono, só consigo pensar em dormir, haha... ㅡ Jimin apressou-se para dizer, antes que o outro já estivesse longe. Sua mão pairou no ar em sua frente.

ㅡ Ainda assim, eu irei ㅡ disse o rei, e atravessou a saída dos aposentos, deixando o garoto sozinho.

Com o silêncio torturante, Jimin só pode ouvir a própria respiração que saía alta e acelerada, queimando a garganta tomada por um nó. Não percebeu quando a primeira lágrima caiu. A gota quente e salgada descendo pela sua bochecha parecia uma intrusa irritante, abrindo caminho para suas amigas ainda mais insuportáveis.

Logo um número incontável de lágrimas molhou a face dele e misturou-se aos baixos soluços.

"Pare de chorar. Pare de chorar. Pare de chorar, ele pode voltar a qualquer momento!", a voz em sua cabeça gritou. Alertado, ele se arrastou até a cama e se encolheu debaixo das cobertas, afundando o rosto no travesseiro para fingir que estava se preparando para dormir.

Se Jeon Jungkook o visse deitado assim, talvez o deixasse quieto tempo suficiente para que pudesse recuperar o rosto limpo, sem o inchaço do choro.

Minutos depois, a porta se abriu mais uma vez. O perfume do rei voltou a dominar o quarto.

ㅡ A comida chegará em breve. ㅡ Até a voz dele soava diferente de todas as outras quando chegava aos ouvidos do ômega. Naquele instante, ela provocou um misto de nervosismo e angústia.

Passou-se um instante de total quietude, o silêncio agora criava expectativas. Com os olhos virados para o travesseiro, Jimin não sabia o que estava acontecendo no resto do quarto. O garoto só soube quando sentiu um lado da cama afundando com o peso de um corpo, e as cobertas sendo remexidas.

Sentindo a aproximação de Jungkook, o interior do peito de Jimin bateu ainda mais forte, como tambores enlouquecidos.

Esses tambores cessaram subitamente, em choque, quando ele foi abraçado, os braços fortes do rei envolvendo-o por trás, muito mais quente e confortável do que mil cobertores.

ㅡ Até a sua refeição chegar, precisamos conversar ㅡ murmurou Jungkook, contra a nuca dele. O hálito quente de mel, tão convidativo e doce, somado às suas palavras, as quais pareciam um pedido de um amante necessitado, foi o estopim para que as lágrimas de Jimin voltassem a todo vapor.

ㅡ Que merda, eu não quero chorar. Eu o-odeio chorar! ㅡ balbuciou enquanto fungava e enxugava os olhos descontrolados com as palmas das mãos. ㅡ Não consigo falar direito assim, queria ser igual a você que consegue ter TANTO autocontrole, mas não dá, porque 'tá doendo muito mesmo.

O abraço de Jungkook ficou mais forte, puxando o garoto a ponto de colar as costas dele em seu peito. Nesse momento, Jimin notou que o coração do rei também vibrava com intensidade.

ㅡ Eu sei que você está com raiva de mim por eu ter feito o que fiz, por eu ter facilitado para que as coisas chegassem ao ponto do seu irmão falecer. ㅡ Jorrou, escondendo o rosto molhado debaixo das cobertas. ㅡ Eu sei que você tá confuso com tudo isso, com o que deveria sentir em relação a mim e tudo mais. Juro que estou tentando fazer o meu papel direito.

ㅡ Papel? Jimin, não, não é issoㅡ

ㅡ Si-sim, eu tenho um papel, mas não sirvo pra isso. Ma-mas estou construindo umas coisas legais pra ajudar você enquanto estou deste jeito tão... tão inútil.

ㅡ Não. Não! Pare de falar coisas sem sentido e olhe para mim, agora. ㅡ Jungkook virou o corpo de Jimin com cuidado, puxando-o para si após tê-lo feito. Deitou a mão na lateral do rosto dele para limpar uma lágrima e acariciá-lo, seus olhos contemplando-o o tempo inteiro. ㅡ De onde tirou esses pensamentos absurdos, Jimin? Você, inútil? E eu com raiva? Eu não sinto raiva de você.

ㅡ De onde eu tirei? ㅡ O ômega olhou-o incrédulo. ㅡ O que achou que eu iria imaginar e sentir durante todas essas semanas? Nós mal nos falamos, apenas nos encontramos de noite, quando vamos dormir juntos. Se não estivéssemos compartilhando o mesmo quarto, eu iria pensar que você tinha ido embora.

A vergonha transpassou a face do rei.

ㅡ Não... não deveria ser assim ㅡ Ele chacoalhou a cabeça, seu rosto era agonia pura. ㅡ Muito bem, você está certo num ponto. Fiquei confuso com tudo o que houve e com o que eu senti em relação a você no dia do funeral. Porém, eu nunca quis culpá-lo de algo, Jimin, e eu simplesmente não consigo ficar com raiva de você. Durante algum tempo isso me fez questionar algumas coisas. Poderia o vínculo e os meus sentimentos afetar a minha capacidade de julgamento? Mas não, não é nada disso. Apenas nunca houve um "culpado". Você não é responsável pelo que ocorreu e pelo que poderia ter sido. Não há papéis aqui, há só... dois desgraçados tentando seguir uma profecia nada explicativa e se culpando por não serem aquilo que todos esperavam.

ㅡ Jungkook? ㅡ Aquilo era algo inédito aos ouvidos de Jimin.

ㅡ Eu estava confuso, e ainda estou, para ser sincero. Cresci ouvindo as lendas sobre o rei que desposaria o Ômega de Prata. Um rei forte e implacável que nenhum inimigo ousaria enfrentar. Quem sou eu no meio de tudo isso? ㅡ Um sorriso amarelo manchou o semblante real. ㅡ Passei as últimas semanas inerte porque estamos enfrentando um dos invernos mais rigorosos das últimas décadas. Os cidadãos estão sem conseguir plantar seus alimentos, então tudo o que resta a eles vem dos depósitos que enchemos durante as colheitas. Pelo orgulho do reino e do meu próprio, eu deveria estar concentrando esforços para descobrir que tipo de feitiçaria foi aquela que nos acometeu, e marchando para derrubar Eliah de uma vez por todas, mas não posso reunir milhares de soldados e mantê-los fortes e bem alimentados num momento como este, quando há pouco alimento. Tenho um número incontável de vidas em minhas mãos, preciso ser responsável... E estou cansado de ser.

Ele exalou um suspiro tão logo que foi como se as palavras que havia dito tivessem eliminado um pouco do peso que carregava consigo.

ㅡ Profecias e lendas não falam sobre esses detalhes difíceis. Olhe só para mim, permiti que você se afundasse numa culpa sem sentido e o afastei quando deveria tê-lo mantido o mais perto possível. Se o fiz achar que está sendo um Ômega de Prata errado, então não estou apto para carregar esta coroa e ser seu alfa.

Jimin ergueu as duas mãos e as usou para segurar o rosto de Jungkook. Com os polegares, delineou as pálpebras dele, a ponte do nariz, a cicatriz que atravessava metade de sua face e o desenho dos lábios finos. Admirou e absorveu cada centímetro, como se olhar para aquilo todas as noites jamais fosse ser suficiente.

Em determinado instante, Jungkook segurou uma das mãos dele e depositou nela um beijo profundo, fechando os olhos enquanto o fazia.

ㅡ Eu quero lutar ㅡ murmurou, reabrindo os olhos. A negritude neles agora era letal. ㅡ Lutar em nome dele, lutar em nome de meu povo que também sofreu... Quero vingá-los.

Os feromônios balançaram como chamas invisíveis, ansiando por um incêndio. Essas flâmulas, contudo, não ousaram machucar Jimin. Elas apenas o envolveram como uma camada protetora.

O ômega encostou a testa na dobra do pescoço dele e inspirou aquele aroma tão reconfortante.

ㅡ Então na verdade você tem tantas inseguranças... ㅡ sussurrou, tão baixo quanto um sibilo.

ㅡ Sinto muito por decepcioná-lo.

ㅡ Não. Isso só te torna ainda mais real pra mim. ㅡ Jimin o abraçou e afundou suas mãos na cabeleira preta e sedosa, acrescentando em seguida: ㅡ É o príncipe encantado perfeito.

Sentiu Jungkook rir com os ombros dele vibrando.

ㅡ Não sou mais um príncipe. Deixei esse título aos quinze anos, é estranho ouvi-lo outra vez.

ㅡ "Príncipe encantado" é só uma expressão..., mas espere um minuto! ㅡ Jimin o encarou de supetão, chocado. ㅡ Você virou rei aos quinze anos!?

ㅡ Hm, sim. Fui coroado poucos meses após o falecimento da Grande Rainha. O trono não poderia ficar vazio por muito tempo.

ㅡ Caralho, Jungkook. Você cuida de um país desde os quinze anos? Que doideira! Com essa idade eu estava dando o meu primeiro beijo, experimentando álcool pela primeira vez e surtando com provas.

ㅡ Hm, primeiro beijo? Conte-me mais, Vossa Magnificência. ㅡ Um leve brilho vermelho tingiu as íris negras de Jungkook. O sorriso dele era felino enquanto usava os lábios entreabertos para passear pelo pescoço de Jimin, deixando um rastro de calor fumegante.

O garoto quase revirou os olhos com aquela atitude repentina.

ㅡ Não tem muito o que dizer, porque foi uma merda. Eu não sabia onde enfiar a minha língua e nem onde colocar minhas mãos ㅡ disse, sem conseguir pensar direito em suas palavras.

Jungkook interrompeu sua trilha pelo pescoço dele porque foi acometido por uma emergente vontade de gargalhar.

"Ele é sempre tão...", pensou, passando a mão pelo rosto até cobrir os olhos e contraindo os lábios que tremiam com uma risada muda.

ㅡ Venha cá ㅡ pediu, puxando devagar o rosto de Jimin para beijá-lo logo.

Foi respondido com avidez e com um sorriso cheio de prazer. Sentiu as mãos em seus cabelos puxando algumas mechas com carinho, excitando-o, e o desejo apaixonado do outro inflamando sua corrente sanguínea já aquecida.

Depois de minutos naquilo, com toques e respirações densas, eles se separaram alguns centímetros ㅡ pouquíssimos centímetros ㅡ apenas para que pudessem admirar um ao outro.

ㅡ Parece que agora você sabe muito bem onde pôr a língua e as mãos ㅡ murmurou o rei, lascivo e divertido.

Jimin exibiu um sorriso preguiçoso.

ㅡ Se você deixar, eu posso mostrar um pouco mais das minhas habilidades.

A troca de olhares agora se recheou com expectativa, esta sendo colocada em evidência pelas bochechas ruborizadas, com o sangue entrando em combustão.

Jeon Jungkook abriu e fechou a boca, hesitante, e travou a respiração por um segundo, para pausar a ação inebriante do cheiro de Jimin em seu cérebro.

ㅡ Não podemos ㅡ disse ele, baixinho, franzindo o cenho. Ele sabia que, se não parasse agora, seu lobo interior não poderia ser controlado depois. Não queria arriscar ultrapassar limites com o ômega naquelas circunstâncias.

Contudo, quando deu a entender que se afastaria, Jimin firmou os braços ao redor do pescoço dele e o encarou no fundo dos olhos.

ㅡ Existem outras formas de fazer..., você não precisa colocar dentro. ㅡ O murmúrio do garoto carregou uma doce ambiguidade que fez acelerar os batimentos cardíacos do rei. Agora as íris dele eram duas bolas de fogo vermelho.

Foi então que alguém bateu à porta, interrompendo o que quer que fosse acontecer em seguida.

ㅡ O jantar de Vossa Magnificência! ㅡ anunciou a voz de um servo do outro lado do portal.

Jimin fechou o rosto numa careta.

ㅡ Isso é culpa sua. Eu te disse que não queria comer.

ㅡ Mas precisa. ㅡ Jungkook beijou-lhe a ponta do nariz e, em seguida, dirigiu a voz à pessoa que aguardava do lado de fora: ㅡ Aguarde.

ㅡ Que droga. Jungkook, não... ㅡ Jimin o segurou pelo pulso quando ele começou a se arrastar para fora da cama. ㅡ Juro que depois vou até a cozinha e como tudo que derem pra mim.

A promessa foi feita junto a um olhar tristonho e fofo que quase derreteu a alma determinada e responsável do jovem rei.

ㅡ Você precisa ficar mais forte, por isso é melhor comer primeiro. ㅡ Assim que desceu do colchão macio, ocupou as mãos com a camisa amassada e com a calça desarrumada que exibia um belo volume. Seria um pouco escandaloso se fosse visto daquela forma pelos funcionários da cozinha do palácio.

Enquanto organizava seu vestuário, escutou Jimin murmurar, emburrado:

ㅡ Depois eu como...

Precisou segurar uma risada. Por acaso Park Jimin tinha noção de que se tornava tão fofo quanto um filhote de lobo quando ficava com raiva? Seus lábios cheios arrendondavam-se e seus olhos caídos abriam-se como bolinhas vermelhas afetadas. Além disso, ainda havia a barriga arredondada. Era uma cena incrível.

Jungkook deixou tão evidente o seu divertimento que Jimin, num ato de revolta, encarou a porta e depositou nela toda a sua concentração.

Num piscar de olhos, caules brancos brotaram do chão e das paredes, e cresceram até formarem um emaranhado, travando a entrada do quarto permanentemente.

ㅡ Depois eu como, Majestade. ㅡ Jimin agora sorria, cheio de malícia, e os anéis vermelhos que eram seus olhos revelaram um brilho quase selvagem.

Sob o aroma de feromônios ainda mais doces e viciantes, Jungkook compreendeu que havia testado a paciência do ômega ao limite, atiçando, por conseguinte, seus instintos mais profundos. Ele, como alfa vinculado, e como amante arrebatado, só pôde fazer uma única escolha: Entregar-se.

Tal qual uma fera domada, retornou à cama. Tomou Jimin para si, abraçando-o, beijando-o ardentemente e deitando-o entre os travesseiros. Tirou as roupas dele e as próprias, jogou longe qualquer peça que o separasse da pele nua do ômega. A cada novo centímetro de nudez exposta, o fogo inflamava um pouco mais, aquecendo-os, endurecendo-os.

ㅡ Agora sim... ㅡ As palavras do ômega pairaram sobre a mente alcoólica do alfa.

ㅡ Quando começou a usar tão bem suas ㅡ Jungkook inspirou fundo ㅡ capacidades de ômega?

O sorriso cresceu nos lábios de Jimin.

ㅡ Fica de joelhos.

ㅡ O quê?

ㅡ Eu disse que posso mostrar minhas habilidades. E já que não podemos fazer sexo como fazíamos... Vai, fica de joelhos.

Curioso e hesitante ㅡ porque não queria descolar o corpo do de Jimin ㅡ, Jungkook ergueu o tronco e ficou de joelhos sobre a cama, oferecendo uma visão ampla e deliciosamente enorme ao amante.

Jimin umedeceu os lábios antes de engatinhar devagar e dar as primeiras lambidas em seu prêmio. Usou um travesseiro grande para apoiar o peito e mantê-lo erguido, evitando, assim, que o novo peso do corpo o cansasse fora de hora, e que a barriga não ficasse pressionada contra a cama.

Confortável e excitado, engoliu a primeira metade do pênis ereto, descendo um pouco mais a cada investida. Sentiu-se satisfeito quando escutou os primeiros gemidos atravessando os lábios de Jungkook, e quando reparou no tremor tenso que de vez em quando acometia o corpo dele.

ㅡ Meu amor, não seja tão... Aaah ㅡ O alfa cerrou os dentes quando foi engolido novamente, agora até a base. ㅡ E-eu ainda não tomei um banho, você não deveriaㅡ

ㅡ Foda-se. ㅡ Jimin masturbou a glande com o polegar enquanto desenhava linhas com a língua pelo comprimento pulsante. Estava quente, queimando em sua mão.

ㅡ Que boquinha suja e linda... — Jungkook segurou o queixo dele com os dedos, mostrando-lhe um sorriso ébrio e sensual que o deixava quase selvagem.

"A selvageria combina com ele", pensou o ômega, apaixonando-se pela milésima vez.

ㅡ Foda-me — sussurrou o pedido, aproximando os lábios da boca dele. Queria beijá-lo, queria ser tomado por Jungkook a noite inteira. Queria gritar debaixo de seu corpo suado e se contorcer de prazer.

E como se seus pensamentos estivessem expostos no olhar, feito uma fogueira imensa no centro de uma noite eterna, Jeon Jungkook acatou o pedido, murmurando numa voz profunda de alfa que enfraqueceu todo o seu corpo:

Deite-se e vire-se de costas para mim.

Jimin, atordoado, seguiu a ordem e se arrastou pela cama para deitar o corpo. Em seguida, arrepiou-se ao sentir o calor do hálito do alfa vagando pela sua pele enquanto ele roçava a ponta do nariz nela, subindo pelas coxas, passando pelo quadril, pelos braços e parando no pescoço.

Cruze as pernas. ㅡ Outra ordem vinda de Jungkook. Agora não só sua boca trabalhava para arrancar arrepios e suspiros de Jimin, mas também sua mão aventureira que desbravava o ponto entre as nádegas macias do ômega, mergulhando alguns dedos na umidade inundante.

O ômega pôs uma perna sobre a outra, fechando-as, como lhe foi dito para fazer, e esperou com o peito vibrando.

Não tardou para sentir o membro ereto do outro atravessar a região entre suas coxas fechadas, deliciando-se com a passagem estreita ㅡ infelizmente não tão estreita quanto a entrada de seu corpo ㅡ e com o óleo que era derramado por ali. Em seguida, vieram as estocadas, que começaram com uma doce fricção ㅡ um prelúdio suave ㅡ e que evoluíram para uma atividade frenética incendiante. Entre gemidos entrecortados e arquejos imersos numa luxúria suplicante, ele teve sua razão dobrada pela mão de Jungkook, que passou a tocá-lo numa masturbação.

O ritmo acelerou nos dois âmbitos. Recebendo estímulos em diferentes vias, pois também sucumbia ao enlace de um beijo molhado no pescoço que se concentrava na marca cicatrizada ali, Jimin gemeu alto e revirou os olhos. Seu corpo tremia por inteiro, o lobo interno uivava, comunicando-se com o do parceiro numa dança romântica. Sabia que Jungkook não o fodia com toda sua capacidade, que não depositava em suas estocadas todo o desejo que vinha acumulando dentro do âmago há semanas, e que estava lutando para manter-se como o amante mais gentil e delicado já existente. Amou aquele cuidado maravilhoso, e também pensou nesse detalhe quando atingiu o ápice do prazer.

No momento seguinte, foi a vez do jovem rei explodir. Afundou os caninos na marca do ômega, próximo à dobra do pescoço dele, firmou os braços ao redor de seu peito e ombros, e tensionou o quadril para enfiar-se entre as coxas molhadas uma última vez.

Finalizou com um suspiro trêmulo, a respiração quente e enevoada como a de um bêbado.

ㅡ Eu te amo ㅡ sussurrou.

Jimin, ainda de costas para ele, fechou os olhos e tocou-lhe o rosto com a ponta dos dedos, demarcando suas feições. Queria criar um mapa mental delas para sempre explorá-las.

ㅡ Amo... te amo também. ㅡ Sua voz soou cansada.

ㅡ Não está se sentindo bem? ㅡ Jungkook o virou para analisá-lo. Seu coração voltou a bater rápido, agora por causa da súbita preocupação. Poderia ter extrapolado o limite?

ㅡ Calma, hehe... ㅡ O ômega sorriu, e foi lindo. ㅡ Eu 'tô bem. Você foi muito bom.

Um rubor cruzou a face do rei.

ㅡ Você está fraco. Precisa comer o jantar.

ㅡ Mas eu acabei de comer! Ou fui comido... ㅡ Um sorriso ladino marcou os lábios carnudos de Jimin.

Jungkook balançou a cabeça, incrédulo.

ㅡ Pare com isso, senão eu realmente irei devorá-lo, Ômega de Prata. ㅡ Arrastou-se pela cama atrás das roupas que havia jogado longe.

ㅡ Ei, Jungkook ㅡ chamou o outro rapaz, sentando-se na cama com as pernas dobradas e cobrindo-se com um lençol.

ㅡ Hm?

ㅡ Será que o bebê sabe o que fizemos? ㅡ Jimin cutucou a barriga roliça.

O rubor de antes retornou mais forte, transformando a face do alfa num tomate maduro fumegante.

ㅡ Pelos deuses, eu espero que não ㅡ disse enquanto vestia a calça.

O outro balançou os ombros, fez uma careta e suspirou.

ㅡ De qualquer forma, todo mundo sabe. Desta vez não fomos discretos e nem fomos ao ninho.

Ambos se viraram para observar o jardim que havia crescido pelo quarto do rei. Esse parecia um pouco mais amplo que os anteriores, com flores inéditas que Jimin tinha lido sobre em livros da biblioteca real enquanto Jungkook estava longe da capital.

ㅡ Uma hora ou outra eu acabaria com um jardim no meu quarto. ㅡ Jungkook deu de ombros. Ele parecia radiante e sem nenhuma vergonha na cara.

ㅡ Ah, que droga. Já consigo ouvir as fofocas do pessoal da sua corte.

O rei gargalhou tanto que curvou o corpo para frente.

ㅡ Pare de pensar tão negativamente. ㅡ Aproximou-se novamente do ômega e acariciou-lhe o rosto com uma mão. ㅡ No lugar disso, pense em destrancar a porta.

ㅡ Ah, é... A porta. Eita.

Jimin encarou o portal envolto pelos caules, como uma cela feita pela natureza, e suou frio ao perceber que tirar aquela barreira não seria tão simples assim.

ㅡ Acho que não consigo ㅡ balbuciou após se concentrar algumas vezes, mentalizando uma ordem aos espíritos da natureza. Aparentemente nenhum deles estava disposto a obedecê-lo, pois as hastes continuavam ali, emaranhadas e firmes.

ㅡ Tudo bem. Vamos pensar em outras alternativas...

ㅡ Aquelas espadas servem pra cortar?

O ômega apontou para um estandarte de madeira na parede que era decorado com algumas espadas bonitas demais para serem usadas numa luta. Provavelmente só estavam ali de enfeite, mas não custava a tentativa.

ㅡ Veremos. ㅡ Jungkook desembainhou uma delas e avançou até a porta.

Posicionou-se diante dela, concentrou força nos braços e forçou a lâmina contra a barreira de caules. Cortou as hastes de cima a baixo, em dois retângulos imensos para que fosse possível abrir a porta novamente. No entanto, quando tentou puxá-la pela maçaneta, viu que ainda estava travada.

ㅡ Por que não está abrindo? ㅡ Outro suor frio escorreu pela têmpora de Jimin.

ㅡ Não entendo... ㅡ Jungkook analisou cada parte, buscando algum detalhe que havia deixado escapar. Até que encontrou um. ㅡ Oh, compreendo. Os caules, quando brotaram, enroscaram-se nas dobradiças da porta.

ㅡ Então quer dizerㅡ

ㅡ Que teremos que arrombá-la.

ㅡ Puta merda.

ㅡ Hm, certo. ㅡ Jungkook deu dois passos para trás e alongou as mãos e o pescoço. Depois, com os olhos vermelhos incandescentes, ele saltou e se metamorfoseou.

O peso do lobo somado ao impacto do salto forçou a porta ao limite. Com mais um empurrão, o rei derrubou a superfície de madeira entalhada num baque agudo.

Nessa hora, perceberam que, do lado de fora, não só os servos da cozinha marcavam presença, como também pessoas que tinham sido atraídas pelo barulho alto. Nobres, soldados e outros funcionários do palácio. Todos testemunharam o que aconteceu, e todos pareciam chocados.

Murmúrios não demoraram a surgir, algumas fofocas sendo modificadas aqui e ali.

Em menos de uma hora, boa parte de Adwan comentava sobre como o Ômega de Prata havia prendido o rei dentro do quarto para fazer loucuras de amor com ele, e como saíram de controle a ponto de destruírem seus aposentos pessoais.

Um cômico escândalo para alegrar as últimas horas daquele dia de inverno.

🌕🌖♛🌘🌑

Sem a presença de uma nevasca na noite anterior, o amanhecer surgiu relativamente mais quente, permitindo que uma parcela da neve que cobria a capital derretesse, tornando mais suportável um passeio pelas áreas exteriores.

Por conta disso, eles se sentaram juntos no jardim principal do castelo, num dos bancos de mármore próximos aos arbustos congelados e às estátuas que decoravam o ambiente.

Alguns nobres caminhavam por ali, distantes, também aproveitando a queda de temperatura e o segundo dia de folga que Jeon Jungkook havia oferecido para eles. O rei não queria pensar em reuniões depois de ter feito Jimin chorar, depois de tê-lo feito se sentir rejeitado e culpado por tantos acontecimentos ruins. Ele desejava pagar um pouco pelo tempo perdido, por isso estava ali, sentado no banco e ao lado do garoto, envolvendo-o com seus braços e com um manto grosso de pele densa que o manteria suficientemente aquecido enquanto conversavam.

Colocaram em dia muitas coisas que não foram ditas da maneira correta, assuntos que a corte vinha discutindo nas últimas semanas diante da Mesa de Prata.

Até aquele momento, Jungkook havia escolhido não compartilhar os acontecimentos em detalhes para Park Jimin, pois queria poupá-lo de um estresse desnecessário. Outro erro seu. O ômega sempre fora interessado por essas questões. Ele queria ajudar, e se sentira cego e inútil enquanto vagava pelo castelo como um inválido exilado.

Então o alfa contou tudo. Explicou que, numa medida preventiva, havia feito acordos com comerciantes e fazendeiros para que distribuíssem suas rendas e alimentos acumulados aos cidadãos mais afetados pelo inverno em troca de terras cultiváveis e bens valiosos da coroa, que seriam entregues a eles quando a primavera retornasse. Falou sobre sua decisão em oferecer locais na Mesa de Prata a novos clãs que cresciam pelo Sul, para unir os lupinos deles num conjunto de legiões totalmente leais ao trono que iriam fortalecer a segurança na fronteira ㅡ Local este onde Kim Namjoon montava guarda atualmente. Citou ainda a distribuição de "tônicos" com gotas do sangue Jeon pelos soldados que agora se espalhavam pelas cidadelas do reino como em unidades de guerra, para protegê-los da estranha bruxaria que os colocara na ponta da lâmina meses antes.

Jungkook de fato agia como se já estivesse em guerra novamente, mas seu campo de batalha agora era maior e coordenado pela sua administração fria, executada à distância. Ele se concentrava em manter a força interna de Adaman, o bem-estar do povo, que era o pilar do reino. Se algo acontecesse até a reorganização do exército, as cidades estariam prontas para resistir e ninguém se renderia a um inimigo com tanta facilidade.

Estratégia atrás de estratégia.

Jimin escutou tudo em silêncio, atento e admirado. Em sua mente um pensamento atravessou: Jeon Jungkook realmente não é um príncipe encantado, ele é um rei puro.

ㅡ Eu queria falar sobre o quão anti-higiênico é sair espalhando sangue não estudado pra uma população inteira beber, mas acho que, neste lugar, esse é o menor dos problemas... ㅡ murmurou o garoto, afundando a cabeça na dobra do pescoço do parceiro. Os lábios de Jungkook se inclinaram num meio sorriso.

ㅡ Espero que os tônicos protejam a todos durante muito tempo. Não sabemos quando um acontecimento como aquele das raposas se repetirá. Enquanto não acharmos o culpado, estaremos sempre sob risco.

ㅡ Sim. ㅡ Jimin exalou um suspiro trêmulo, relembrando o fatídico dia em que o castelo se afundou em caos. A memória das pessoas enlouquecendo e se matando era perturbadora. ㅡ Essa pessoa que está promovendo tudo isso... Acho que ela já sabe sobre o sangue Jeon ser imune. Ele sabe. ㅡ "Ele", dissera Taehyung.

ㅡ Também tenho esse pensamento. Se realmente havia alguém controlando aquelas raposas, existe a possibilidade de esse alguém ter visto através delas o momento em que a alcatéia de Sirah chegou em Gwang e acabou com os seus planos. Ele deve ter deduzido algo a partir do que houve.

Jimin concordou com um aceno.

ㅡ Será que é por saber disso que nunca mais ouvimos falar de nenhum ataque? Já faz algum tempo...

Os olhos do alfa encararam o horizonte além do jardim. Nessa hora, a luz do sol destacou pigmentos vermelhos que surgiram nas íris negras dele.

ㅡ Não gosto de silêncio. Não desse silêncio. Está estranhamente quieto, sinto que algo pode extravasar subitamente.

As mãos deles se apertaram debaixo do manto, entrelaçando os dedos fortemente para ter certeza de que estavam ali e bem. Não queriam que aquilo mudasse.

Por favor, não.

ㅡ Estás com frio? ㅡ Jungkook murmurou após sentir a pele fria do outro.

ㅡ Não, eu 'tô bem. É você que é quente demais ㅡ disse Jimin, como se lesse os pensamentos dele. Estava sendo sincero, seu calor não superava o do jovem rei, por isso havia a impressão de que um deles tinha algum problema de temperatura.

ㅡ Ah, Jungkook, olha lá. ㅡ Seus olhos se viraram para um ponto além do jardim, na área ampla que seguia para os portões delimitantes do perímetro palaciano.

Jungkook seguiu o olhar do ômega até encontrar três pessoas se exercitando. Na verdade, duas pessoas, crianças, se exercitando. A terceira pessoa era uma mulher adulta, e ela parecia ditar ordens enquanto batia os pés na neve rasa e apoiava a mão direita no coldre que segurava uma espada.

ㅡ Aquela é a comandante Sirah com Soobin e Jina? ㅡ O cenho dele franziu, confuso e intrigado.

ㅡ Sim. Ela é uma dona bem legal. Veio me perguntar sobre o Soobin hoje, antes de você me trazer pra cá.

ㅡ O que Sirah queria saber sobre o menino?

ㅡ Sobre como o encontramos e de onde ele veio. Pelo que entendi, a sua mãe falou pra ela que o Binbin é um Jeon com sangue da linhagem antiga, por causa dos olhos diferentes. ㅡ Jimin apontou para os próprios, numa encenação. ㅡ Sabe, ele tem um degradê cinzento no fundo deles. É um pouco diferente dos seus olhos.

Jungkook piscou, surpreso. Era a primeira vez que ouvia sobre aquilo.

ㅡ Interessante. Ele... ele veio de uma das aldeias dizimadas na fronteira. Uma um pouco distante das terras do meu clã. Como um Jeon como Soobin poderia nascer ali?

ㅡ Eu disse isso pra ela. Sirah também ficou pensativa e depois sugeriu que algum Jeon puro pode ter se aventurado romanticamente por lá, deixando alguém grávido.

ㅡ ... É possível. Espero, porém, que esse alguém tenha lidado com as consequências de seus atos até o último momento. Não quero saber de um Jeon abandonando um filhote assim, e tão longe do sangue dele.

ㅡ Talvez ele também tenha morrido com os outros da aldeia... ㅡ murmurou Jimin, o peito pesando ao olhar para o pequeno garotinho que, com muito esforço, tentava recriar os movimentos ensinados por Sirah enquanto segurava uma espada de madeira miúda. Ao seu lado, Jina executava o treino muito bem. Aparentemente tinha herdado o gênio de lutadora do General Kim.

Por um instante, pairou um silêncio pesado entre o casal.

ㅡ Uma das coisas que mais desejo saber é a partir de que momento tudo isso começou a perder o controle. ㅡ Jungkook suspirou profundamente, os olhos reluzindo como lâminas. ㅡ Talvez tenha sido naquela noite, quando Eliah invadiu pela primeira vez e acabou com a terra natal de Soobin. Já tivemos conflitos antes com eles, mas nada indicava que seriam tão inescrupulosos a ponto de desafiar as minhas forças. As forças de meus soldados. O rei Chang Sun sempre foi do tipo aproveitador e covarde, ele não faria algo assim sem garantias de que não sofreria as consequências do futuro, ainda mais sob a Lua de Sangue em que estávamos.

ㅡ Foi a noite em que eu apareci aqui. ㅡ O corpo de Jimin ficou rígido debaixo do manto. ㅡ Talvez eu seja o responsável por essa loucura. Talvez eu tenha despertado alguma coisa no liv... neste mundo e virado tudo do avesso.

ㅡ Esperamos pelo seu aparecimento há séculos. Eu o espero desde que nasci. Se o que está acontecendo agora foi realmente desencadeado pela sua chegada, então já estava fadado a ser assim, e ponto final. Não se ponha como culpado, por favor...

O ômega lançou a ele um sorriso reconfortante e agradecido que fez o peito de Jungkook flutuar um pouco.

ㅡ Não estou realmente me culpando, apenas... Será que realmente deveria ser assim?

ㅡ O que quer dizer?

ㅡ As coisas que aconteceram e que ainda estão acontecendo. As raposas enfeitiçando os seus soldados e deixando o castelo caótico, uma pessoa que conheço do outro mundo vindo parar aqui e virando aquele monstro. Este deveria ser o... roteiro? ㅡ Jimin não conseguia pensar em nenhuma outra palavra que pudesse servir tão bem.

Mas Jungkook, em sua ingenuidade já esperada, sugeriu uma expressão mais adequada aos moldes dele:

ㅡ Refere-se aos nossos destinos?

ㅡ Destino ㅡ o garoto pensou alto, refletindo seriamente. ㅡ Todas essas situações foram colocadas pelo destino?

ㅡ Detalhe melhor aquilo que está pensando, meu bem.

Os olhos escarlates de Jimin brilharam afiados. Era raro vê-los assim.

ㅡ Por que o monstro mudou? Por que agora ele é alguém que conheço? Deveria ser assim? O que está acontecendo com a gente e o que vai acontecer faz parte do que já estava... escrito? ㅡ "Do que já estava escrito no livro antes de ele ser apagado e reescrito". Uma ideia estranha lhe atravessou a mente. ㅡ Jungkook, você acha que podemos mudar os nossos "destinos" neste mundo?

O rei franziu o cenho. Jimin parecia tão misterioso naquele momento, como se pensasse muito mais do que explanava em suas palavras.

ㅡ Eu nunca parei para pensar dessa forma, Jimin, mas... ㅡ Ele encarou por longos e reflexivos segundos o manto branco de neve que cobria o pátio. ㅡ Não sabemos qual é o nosso destino até termos alcançado o final dele. Então como poderíamos modificá-lo? Como saberíamos que estamos modificando-o?

ㅡ Você tem razão. ㅡ Jimin exalou um suspiro. Em sua mente, pensamentos criaram caminhos: "Então as coisas realmente devem estar seguindo o roteiro original do livro. Algo diferente pode ter provocado a entrada do Taehyung neste lugar, assim como provocou a minha".

ㅡ Eu queria saber sobre o que vai acontecer. ㅡ "Queria ter lido o livro antes de os capítulos serem apagados", pensou ele. ㅡ Espero que seja final feliz.

ㅡ Como um dos livros da biblioteca que você anda lendo? ㅡ Um canto dos lábios de Jungkook se ergueu.

ㅡ Sim. Isso aí mesmo. ㅡ Jimin riu com a ironia.

O rei acariciou-lhe a lateral do rosto. Os olhos deles novamente se cruzaram.

ㅡ Não haverá um final ㅡ murmurou.

ㅡ Como assim?

ㅡ Esqueceu-se? ㅡ A mão de Jungkook deslizou até viajar para debaixo do colarinho da roupa de Jimin, alcançando o pescoço e a clavícula, parando sobre a marca cicatrizada. A marca da união deles. ㅡ Somos vinculados. Vinculados vão para o mesmo lugar após a morte. Nunca haverá um final para o "nós".

O peito de Jimin balançou e se apertou, e então se afrouxou de novo. Com o coração disparando, ele sussurrou:

ㅡ Eu quero acreditar nisso, Jungkook. ㅡ Mas era complicado. Até que ponto as coisas que moviam as rodas daquele lugar poderiam influenciar o outro mundo, o mundo de onde Jimin veio? Desde o início, quando pisou em Adaman pela primeira vez, o garoto imaginou que, quando saísse daquele lugar, da maneira que fosse, ele iria retornar para o mundo "real". Como as questões e crenças em torno do vínculo poderiam alcançar aquela outra realidade? Jimin não conseguia pensar em nenhuma resposta... E cada vez ficava mais angustiado com isso, com essa promessa do fim.

Ele não queria que as páginas brancas do livro decidissem os últimos dias de sua estadia ali. Ele não suportava mais pensar por esses caminhos.

Então abaixou os olhos e se afundou mais uma vez no colo de Jungkook. Tão quente e seguro... Não poderia ficar sem aquilo outra vez. Odiava a simples ideia.

ㅡ Vamos falar de outra coisa ㅡ balbuciou, engolindo o nó que preencheu sua garganta.

ㅡ Claro. ㅡ A mão de Jungkook deitou sobre os cabelos dele, penteando algumas mechas até achar a base de um dos chifres. ㅡ Eles estão ficando um pouco maiores, algumas novas flores também estão nascendo.

O ômega resmungou e ofereceu um pequeno tapa ao peito do rei.

ㅡ Pior mudança de assunto, Jungkook. Que raiva!

Jungkook riu.

ㅡ Pergunto-me se o nosso filhote nascerá com brotinhos na cabeça. ㅡ O pensamento o divertiu por um segundo, mas logo depois fez seu sorriso hesitar e o cenho se contrair em tensão. ㅡ Espero que não. Não quero que seja doloroso para você.

A face de Jimin se fechou numa careta.

ㅡ Eu realmente queria continuar fingindo que isso não vai acontecer... ㅡ Ele xingou baixinho. ㅡ Mas sobre o bebê ter ou não chifres, fiz umas pesquisas... Fui atrás de pergaminhos bem antigos que contavam histórias sobre a família do Ômega de Prata que se uniu ao rei fundador de Adaman. Quase morri de alívio quando descobri que nenhuma criança nasceu com chifres, elas só herdaram algumas características físicas do ômega, tipo a cor dos olhos e do cabelo. Então 'tô salvo, ou parcialmente salvo.

O rei voltou a sorrir, sem parar com as carícias nos cabelos do ômega.

ㅡ Que nome daremos à criança?

Jimin se calou por um instante, antes de sussurrar contra o peito dele:

ㅡ Eu queria algo que lembrasse o nome do seu irmão.

A respiração de Jungkook travou. Ele engoliu em seco para se recompor da surpresa e da pontada dolorosa que invadiu seu peito.

ㅡ Tem algum em mente? ㅡ perguntou num sibilo baixíssimo. Não queria que a voz tremesse.

ㅡ Não. Quer dizer, pensei em alguns, mas nada parecia tão interessante. Você pode me ajudar a achar um?

A boca dele se abriu e fechou, depois se comprimiu. Os pensamentos rodopiavam em sua mente, a memória de Yoongi, ainda fresca e excruciante, marcou presença.

ㅡ Talvez... Yeonjun.

ㅡ Yeonjun, Yoongi. ㅡ Jimin repetiu os nomes, sentindo a sutil semelhança na pronúncia do início deles. ㅡ É bonito. Eu gostei. Ele tem algum significado?

ㅡ Entre os Wang, são chamados de Yeonjun os bebês que nascem depois de uma tragédia afetar a vida dos pais. O nome remete à luz e renascimento. Foi o que minha mãe, Nara, me contou certa vez.

ㅡ Então é perfeito. ㅡ O garoto pôs a mão sobre a barriga alta e a cutucou com um dedo. ㅡ Ouviu, criaturinha? Seu nome vai ser Yeonjun.

Sentiu um movimento no interior do ventre, um chute leve, como se o bebê realmente estivesse entendendo tudo que era dito a ele.

ㅡ Acho que aprovou o nome ㅡ disse Jimin, sendo tomado por uma estranha felicidade.

Ao seu lado, o sorriso de Jungkook ficou abobalhado.

Nesse momento, passos e o farfalhar de um vestido ecoaram pelo pátio, abafados pela neve do caminho. O perfume da consorte Jeon Haerin tomou o ar, tão cheio de requinte quanto ela.

ㅡ Desculpe-me por atrapalhá-los. Eu precisava me despedir... ㅡ A ômega inclinou o corpo num cumprimento educado e respeitoso, o que fez as joias que usava e a trança negra do cabelo caírem para frente. Ela estava linda, mais bonita do que o normal. Talvez tivesse se arrumado um pouco melhor naquele dia, e talvez a razão disso fosse a pessoa que agora atravessava o pátio e caminhava na direção deles, com duas crianças em sua cola, cada qual segurando suas espadas de madeira.

Um olhar de Sirah sobre Haerin disse muita coisa, mesmo à distância.

ㅡ Pensei que fosse partir em viagem após o almoço, mãe. ㅡ O semblante de Jungkook anuviou-se.

ㅡ Recebemos um corvo esta manhã com uma carta. Jeon Bongha está desaparecido há muitos dias ㅡ explicou ela, com os olhos ganhando uma sombra. ㅡ A comandante Sirah precisa voltar o quanto antes para reunir os lupinos e ajudar com as buscas por ele.

ㅡ Jeon Bongha? ㅡ Jimin buscou uma explicação ao encarar Jungkook.

ㅡ É o irmão de meu avô ㅡ disse o rei, suavemente. Depois, ele voltou os olhos para a consorte. ㅡ O que suspeitam que tenha acontecido com o velho Bongha?

Sirah tomou a palavra:

ㅡ Não se sabe. Aparentemente, o rastro dele evaporou no ar.

Estranho, muito estranho. Em questão de habilidade, os rastreadores do clã Jeon perdiam apenas para os do clã Wang, então, o que poderia ter acontecido para que nem mesmo eles tivessem a capacidade de obter algum resquício do velho Bongha?

Jungkook e Jimin trocaram olhares e franziram o cenho. Palavras silenciosas pairaram entre eles.

"Há pouco falávamos sobre tudo estar quieto demais."

ㅡ Já informaram Kim Namjoon? O General está mantendo a segurança da fronteira, ele pode ter visto algo ㅡ sugeriu o rei.

ㅡ Acredito que nossos familiares tenham enviado cartas a ele, Majestade. ㅡ Sirah estreitou os olhos. ㅡ Suspeitam que tenha sido um sequestro.

Haerin segurou o queixo com uma mão e adquiriu um semblante pensativo.

ㅡ Por que sequestrariam Bongha? Não há nenhuma razão...

ㅡ Ele fazia parte do comando do clã na época do antigo patriarca, mãe.

Jungkook recordava-se bem da face prepotente do velho e de como ele tornava todas as reuniões do clã mais desconfortáveis do que já eram naquela época. Não lhe admirava a ideia de que talvez Bongha tivesse feito inimigos, ele não era alguém muito diplomático. Por conta disso, poderia ter atraído algum grupo mal intencionado que desejava se aproveitar desses tempos de crise para conquistar alguma coisa.

Enquanto pensava nisso, Soobin e Jina se distraíam com suas espadas, brincando num local afastado dos adultos. A conversa sobre sequestro e desaparecimento não parecia tão interessante para eles quanto a luta que travavam.

ㅡ Tomem cuidado. Não sei como o sumiço de Bongha pode estar relacionado com a situação atual, mas, aparentemente, estamos lidando com algo deveras imprevisível. ㅡ A voz de Jungkook reverberou profunda, seus feromônios agressivos queimando ao redor.

Haerin acenou, concordando com ele, e Sirah tomou posição de soldado submisso, batendo continência.

ㅡ A carruagem está pronta? ㅡ perguntou a comandante à consorte, num tom suave peculiar.

ㅡ Acredito que sim. Os servos já terminavam de abastecê-la quando me dirigi para cá ㅡ respondeu a ômega, exalando a mesma suavidade.

Elas realmente tinham algo, pensou Jimin.

Pela forma como Jungkook relaxou o semblante em seguida, ele também devia ter reparado na forma como as duas estavam se comunicando.

ㅡ É o momento do adeus ㅡ disse Haerin, lançando um sorriso fraco para o filho, que era sincero, porém tomado pela tristeza da despedida.

Jungkook se levantou do banco ㅡ um pouco hesitante porque não queria se afastar nenhum centímetro de Jimin ㅡ, e se aproximou da ômega para envolvê-la com um abraço forte. Haerin lhe devolveu o gesto no segundo seguinte, com os olhos marejados e as mãos acariciando os cabelos negros dele, como se aquele homem maduro e imponente fosse apenas seu pequeno menininho.

Jimin achou a cena emocionante e marcante, principalmente porque era raro ver contato físico entre os dois. Mesmo sendo mãe de Jungkook, Haerin era uma mulher fria em vários aspectos. Ela seguia à risca a hierarquia na corte, sempre tratando o filho como o rei que era, referindo-se a ele como se não compartilhassem laços sanguíneos. Parecia que havia se moldado para ser uma senhora palaciana perfeita.

ㅡ Envie-me cartas. Preciso de mais explicações sobre aquilo que conversamos ontem ㅡ murmurou Jungkook após o fim do abraço.

Jeon Haerin olhou para Sirah de soslaio. Um leve rubor tomou suas bochechas pálidas. Outra cena inédita.

ㅡ Minha vida romântica sempre foi uma grande confusão, querido... Cartas não seriam suficientes, mas enviarei algumas.

ㅡ Ótimo. ㅡ Ele sorriu e caminhou até Sirah, em seguida deitou a mão sobre o ombro forte da alfa e lhe lançou um olhar solene. ㅡ Cuide dela.

A comandante abaixou a cabeça, movendo-a num breve aceno que indicava que ela havia captado o pedido implícito na ordem proferida. E quando o seu olhar se reergueu, ele carregava consigo uma determinação feroz.

Haerin também se despediu de Jimin logo depois. Ela foi surpreendida com um abraço forte e agitado do genro.

ㅡ Ver essa criança nascer provavelmente será o motivo que me trará de volta ao castelo daqui a algumas semanas ㅡ disse ela, observando a barriga que despontava sob as vestes claras do ômega.

ㅡ Acho que o Jungkook vai ficar muito feliz com o retorno da senhora. ㅡ A sinceridade brilhante de Jimin deixou a consorte emudecida por um instante, estilhaçando sua pose austera e fazendo seu peito encontrar um conforto inestimável.

"Jungkook ficará em boas mãos", pensou com alívio.

— Sei que o que estou fazendo é um tanto repentino... — Ela desviou o olhar para contemplar o castelo.

— Eu não acho, senhora Haerin. Eu entendo porque está indo embora.

A mulher o encarou mais uma vez, curiosa com as palavras dele.

— Quero dizer... — Jimin coçou a nuca, acanhado. — Eu me lembro do que a senhora me disse naquele tempo sobre seu relacionamento com a mãe ômega do príncipe Min e com a Grande Rainha. Faz sentido ter estado aqui até agora por causa do Jungkook e do irmão dele — ele observou o rei, que trocava palavras com a comandante Sirah a alguns metros de distância —, e também faz muito sentido a senhora querer se afastar daqui depois de tudo o que aconteceu. Este lugar deve trazer lembranças ruins.

Haerin ficou estática, perplexa por alguém ter lhe interpretado tão bem. E também culpada, culpada por não ter dito a ele, um garoto tão sincero, toda a verdade que corroía o interior de sua garganta.

— Este lugar de fato é como... grilhões — balbuciou ela. — Obrigada pela sua gentileza, querido.

Após as despedidas, eles se deslocaram até a entrada principal do castelo, onde a carruagem de Haerin, o cavalo selado de Sirah e a alcatéia Jeon os aguardava ㅡ ou uma parte dela, pois a outra permaneceria na capital para ajudar com as defesas, sob ordem direta de Jeon Jungkook.

Parte dos servos que sempre os rodeava ficou para trás, cuidando das crianças que ainda estavam concentradas nas espadas de madeira, imitando golpes mostrados pela comandante Sirah.

Os adultos trocaram palavras uma última vez antes de o grupo seguir viagem, atravessando os portões e a rua principal de Adwan que levava diretamente à travessia da muralha.

Jungkook e Jimin observaram em silêncio o momento em que os viajantes atravessaram a ponte do rio congelado e correram pela trilha de terra que os levaria ao Sul no reino. A mata densa e coberta de neve os fez sumir das vistas do casal em poucos instantes.

Quando o rei abaixou o olhar para o chão e soltou o ar dos pulmões, sentiu uma mão na sua e, quando virou, viu um sorriso lindo pairando em dois lábios carnudos.

ㅡ Deixa eu te mostrar uma coisa. ㅡ Jimin estava animado por ele. Para aliviar o peso sobre a mente do jovem alfa.

ㅡ O que seria?

ㅡ Balões. Muitos balões de ar quente.

Jungkook voltou a sorrir.

ㅡ Faremos outra viagem pelos céus?

ㅡ Bem..., você pode ser o meu cobaia.

Uma gargalhada alta.

ㅡ Onde estão esses balões, Jimin?

ㅡ Empurre a minha cadeira até o campo de treinamento do exército. Eles estão lá!

ㅡ Claro, Vossa Magnificência.

E com isso, os dois partiram, passeando pelas áreas externas como um simples casal ignorante a tudo o que o destino tinha a lhes oferecer.

~♛🌕🌖🌘🌑♛~

#LoboDePrata

Por favor, deixe o seu ⭐VOTO⭐


E vamos de falar sobre o capítulo:

Vocês estão se sentindo mais leves??? Porque pra mim foi reconfortante escrever cenas fofas e voltar aos momentos de comédia dos Jikook. A cena da porta sendo arrombada... Aaaaa, adoro! skskskskks Mas vou confessar um negócio: A priori, minha intenção era que tivesse mais uma cena depois desse final, só que depois eu pensei bem e vi que ela não se encaixaria na leveza do capítulo. Mas ela se encaixará já no início do próximo, hahaha.

Estou pensando seriamente em tudo o que vai acontecer daqui por diante, minha cabeça não para de trabalhar. Quero entregar muitos capítulos de uma vez na próxima att, estou ansiosa de várias maneiras, preciso jorrar minhas ideias e evitar deixar os leitores esperando, ainda mais com o que vai acontecer no futuro dos personagens. Sim, estou falando de voltar com att dupla, tripla ou mais, não tenho certeza, mas é a única maneira que encontrei ssksksksks Por isso, se eu demorar mais do que normalmente demoro, já fiquem sabendo...

🌖🌘

Quero aproveitar esse último espacinho pra dizer algo que acho importante (por favor, não deixem de ler):

Escrevo e publico EUVUO em tempo real, e vocês, com seus comentários, me ajudam de várias formas, seja apontando detalhes que eu preciso melhorar, ou avisando sobre furos que devo corrigir, ou ainda me incentivando a continuar a história. Mas, exatamente por isso acontecer em tempo real, estou suscetível a vários erros e furos de roteiro (ainda que eu tenha toda a estrutura da fic planejada previamente). Às vezes encontro comentários questionando sobre tal evento ou atitude que, olhando bem, não faz tanto sentido ou que contradiz com certo acontecimento da história. Guardo esses apontamentos com a esperança de um dia voltar e corrigir tudo, pra deixar adequado. É como se vocês fossem meus críticos e amigos ajudantes, os primeiros leitores de algo importante pra mim.

Uma história é como uma rocha, ela precisa ser lapidada corretamente pra virar uma joia bonita. Vocês estão me ajudando a lapidar Era uma Vez um Ômega, por isso, só peço um pouquinho de paciência e tenham essas coisas em mente quando forem fazer uma crítica (tanto para mim quanto para qualquer escritor, tá bom?). Obrigada pelos feedbacks e por permanecerem comigo, mesmo a fic estando em sua fase menos feliz. Como diria o nosso reizinho, Jeon Jungkook, "Baixos existem para que os altos sejam adequadamente agraciados".

💜Até o próximo (ou os próximos) capítulo💜

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