|17|♛|Broto de Vilania|
FALA AÊ, MEUS NENÉNS, KAKA VOLTOU💜
Espero que ainda não estejam querendo me matar como estavam no final do capítulo passado sksksksksksk. O de hoje é breve, menor do que geralmente entrego, mas há razões para isso: 1º- Adoeci nesse meio tempo, fiquei com pneumonia e estava com suspeita de COVID, que graças a Deus acabou não sendo o caso, mas ainda assim fiquei vários dias de cama, inerte e me sentindo horrível, sem poder escrever ou desenhar. 2º- Acredito que tudo aquilo que era necessário para este capítulo está nele, desde os conflitos até as mais rápidas conversas, então espero explodir a cabeça de vocês com algumas coisas, hehehe.
Tragam os lencinhos, a garrafa d'água e a playlist da fic (link no meu mural), não se esqueçam do ⭐VOTO⭐ e de comentar muito (para me incentivar e ajudar esta história), leiam as notas finais, fiquem a postos e BOA LEITURA💜
#LoboDePrata
♛|Broto de Vilania|♛
Os resquícios do caos marcavam cada canto do castelo. Era possível vê-los nos olhares atordoados dos soldados, nos corpos caídos em meio aos corredores, no sangue espirrado pelas paredes altas e lustrosas, e nas raízes de marfim da Árvore Sagrada que haviam brotado do chão pelo poder do Ômega de Prata.
Se antes a redoma palaciana via-se imersa num limbo de hipnose, com o tilintar das lâminas das espadas e os rugidos dos lupinos soando como estrondos ensurdecedores, agora podia-se ouvir apenas o grito daqueles que tinham matado seus próprios amigos, irmãos e amantes.
Gritos de lamúria e de incredulidade, o único barulho que momentaneamente ludibriaria o silêncio da morte.
Porém, naquele instante, Jeon Jungkook estava ainda mais silencioso que a morte. Com Park Jimin nos braços, carregando-o velozmente até os aposentos reais, seu coração pulsava numa frieza calculada, sua respiração presa quase passava despercebida, e sua pele empalidecia-se mais a cada segundo. Calado e mergulhado numa quietude repleta de tensão, a única coisa que atravessava sua mente era o cheiro forte do sangue do ômega e em como aquilo poderia significar tudo de ruim.
Assim que o deitou sobre a cama confortável, forçou-se a dar espaço para que os curandeiros fizessem o seu trabalho.
Jimin foi despido para facilitar o exame em seu corpo, e ganhou um cobertor apenas para ocultar a maior parte da nudez. Enquanto os curandeiros se dividiam entre analisar os batimentos cardíacos do bebê e do ômega, e estudar o sangue que havia escorrido por entre as coxas deste último, o rei de Adaman contraía a mandíbula com o sentimento nervoso que eclodia dentro do peito.
Não conseguiu permanecer longe de Jimin por muito mais tempo, então se ajoelhou no chão, ao lado da cama, e usou as duas mãos para segurar a esquerda do outro rapaz. Aproximou a testa até encostá-la no pulso dele e inspirou fundo para absorver o seu perfume.
Talvez o aroma doce de Jimin o acalmasse ao menos um pouco.
Após alguns minutos, um dos curandeiros finalmente concluiu algo sobre a situação do ômega.
ㅡ Majestade ㅡ chamou ele, atraindo a atenção de Jungkook de imediato ㅡ, acreditamos que Vossa Magnificência tenha se esforçado mais do que poderia em seu estado atual. Seu corpo está perigosamente fraco.
O corpo do rei tremeu.
ㅡ O sangue... ㅡ disse, numa pergunta implícita recheada de urgência.
ㅡ Foi uma reação à fraqueza. Para se carregar um filhote é necessário cuidado e força... ㅡ O curandeiro encarou seus colegas de serviço antes de prosseguir com sua explicação. ㅡ Se Vossa Magnificência ainda estivesse no início da gestação, provavelmente teria perdido a criança. E ele ainda corre o risco de perdê-la, por isso deve descansar muito até o nascimento.
Jungkook exalou um suspiro de alívio que poderia ter sido mais longo se ainda não houvesse riscos pairando sobre Park Jimin.
Com nervos tão anestesiados pelas ondas de nervosismo, ele demorou alguns segundos para perceber os dedos do ômega enrolando-se nos seus. Ao erguer os olhos, viu que Jimin despertara e que o encarava com um semblante sonolento.
ㅡ Droga... não vou poder correr por aí com o Binbin ㅡ disse o garoto, num murmúrio baixo e carregado. Ao que parecia, ele havia escutado as palavras do curandeiro.
Mesmo naquele estado, Jimin ainda não agia de forma séria. Isso tirou um pequeno sorriso dos lábios de Jungkook.
ㅡ Eu correrei em seu lugar. Portanto, descanse... ㅡ Beijou-lhe a testa carinhosamente.
ㅡ Sim, senhor. ㅡ Jimin virou o rosto para o lado com o intuito de se aconchegar no travesseiro e fechar os olhos para um cochilo.
Jungkook encostou a cabeça na extremidade da cama e, com as pálpebras pesadas pela exaustão, contemplou o ômega em silêncio. Vê-lo dormir ao seu lado, tão próximo de si depois de terem passado meses distantes um do outro, era como presenciar um cenário reconfortante.
E esse mesmo conforto era sentido por Jimin, que, mesmo imerso num cochilo, ainda conseguia perceber as reações provocadas em seu corpo pelo alfa. A ausência daquele vazio horrível dentro do peito, da fraqueza estranha, da frieza latente... Tudo isso se fora, como cinzas ao vento, tirando um peso acumulado em seu âmago.
Portanto, ao fechar os olhos e se entregar ao descanso, ele imaginou que dormiria muito bem.
Só não sabia que seria içado de volta às cruéis circunstâncias daquele mundo quando as portas dos aposentos reais foram escancaradas por um homem desesperado.
ㅡ Majestade! ㅡ Jung Hoseok adentrou o recinto como um tufão, fazendo o seu manto flutuar atrás de si.
Assim que todos olharam para o alquimista real, notaram que ele carregava um corpo. Agora a cor vermelha não se dava apenas por conta das roupas típicas do clã Jung, mas também pelo sangue que coagulava-se entre as vestes brancas do príncipe inerte em seus braços.
Jimin sentiu um revirar no estômago no segundo em que reparou na face anormalmente pálida de Min Yoongi.
Ao seu lado, Jungkook ficou branco como papel.
ㅡ Irmão? ㅡ chamou o rei num balbucio hesitante. Suas mãos voltaram a tremer.
ㅡ A-a fera... Aquele monstro feriu Yoongi gravemente, Majestade. Quando o encontrei, ele já estava assim. ㅡ Hoseok tentava não engolir as sílabas enquanto se apressava para falar, mas as lágrimas que desciam de seus olhos tornava tudo ainda mais difícil.
Jimin assistiu a Jungkook se arrastar pelo quarto, cambaleando por estar em choque, e verificar o corpo perturbadoramente quieto do irmão mais velho.
Tocou-lhe a face e se assustou com o frio que irradiava dela. Buscou pelo pulso do príncipe Min na região superior do pescoço, mas nada encontrou.
O rei soltou um arquejo engasgado. Um nó rompendo em sua garganta. Foi tão triste que Jimin sentiu a mesma dor, as mesmas vibrações melancólicas e o luto instantâneo de seu alfa.
Em dois tempos, percebeu que a visão estava nublada, marcada pelo véu das lágrimas que já manchavam o travesseiro debaixo de sua cabeça.
ㅡ Ma-majestade, ainda pode haver uma chance de salvá-lo! ㅡ exclamou Hoseok com um brilho de esperança nos olhos.
ㅡ Como...? ㅡ A sugestão parecia completamente surreal para Jungkook, um fruto da mente desolada de um indivíduo que havia perdido o amante. ㅡ Jung Hoseok, o Yoongi... ele já está morto. ㅡ A voz embargada mostrava o quanto estava sendo difícil para ele manter a postura e a razão diante dos demais.
Hoseok não aceitou aquela resposta e chacoalhou a cabeça com veemência.
ㅡ O Ômega de Prata. ㅡ O alquimista virou-se na direção de Jimin. ㅡ Sor Park pode curá-lo, assim como o fez antes. E-ele pode tentar!
A face do rei ficou sombria. De soslaio, ele observou Jimin deitado sobre a cama. Havia suor nas têmporas do ômega, que se acumulavam nos fios prateados, e a ausência do rubor típico que costumeiramente poderia ser vista em suas bochechas.
"Seu corpo está perigosamente fraco", dissera um dos curandeiros sobre o estado do garoto.
Jungkook cerrou os punhos.
ㅡ Alquimista Jung... Eu jamais seria capaz de agradecê-lo pelos sentimentos que tem pelo meu irmão, e também por não desistir dele mesmo após... ㅡ Sua voz falhou. Uma lágrima escorreu pela lateral do rosto. ㅡ Desejas que Min Yoongi seja curado, contudo, não há cura para aqueles que já se foram. O que estás pedindo é uma ressurreição.
ㅡ E-então vamos ressuscitá-lo! ㅡ Hoseok se apressou para andar até Jimin, mas seus passos foram interrompidos pela figura do rei, que se pôs no meio do caminho.
ㅡ Jimin está muito fraco. ㅡ Os cantos dos olhos de Jungkook estavam vermelhos, pois guardavam um choro crescente. Agir daquela forma, tendo que fazer uma escolha tão injusta e cruel, feria-lhe a alma.
ㅡ Majestade? ㅡ O semblante do alquimista entrou em desalento. Ele percebeu que o rei não iria permitir aquilo. ㅡ Ma-mas é o seu irmão! É da vida de Min Yoongi que estamos tratando!
ㅡ E também é da vida de meu parceiro e de meu filho! ㅡ Os instintos protetores de Jungkook tomaram de conta de seu tom de voz, o qual se elevou automaticamente, fazendo todos do recinto se encolherem.
De volta à razão, o rei baixou o olhar para o corpo do irmão morto e contraiu os lábios. Com o coração em pedaços, acrescentou num murmúrio desolado:
ㅡ E-eu não posso arriscar perder todos os três.
Foi como se Jung Hoseok tivesse recebido um soco no estômago. Aquelas palavras marcavam uma decisão, uma conclusão horrível que iria obliterar todas as suas esperanças.
Num choro engasgado e silencioso, ele abraçou Yoongi com mais força, recusando-se a aceitar a ideia de que em breve teria que se desvencilhar da figura do amado, que teria que dar as costas e seguir com sua vida sem a presença dele.
Antes que alguém tirasse o príncipe de seus braços, ele andou de costas até alcançar a porta, com o intuito de fugir dali. Assim que se virou, viu a consorte Jeon Haerin entrar nos aposentos reais de supetão. Pela expressão lívida em sua face, com os olhos negros saltando das órbitas, alguém devia tê-la informado sobre a morte do enteado.
Com a confirmação escancarada em sua frente, Haerin soltou um sibilo assustado e pôs as duas mãos sobre a boca rubra. Para a confusão de alguns, ela começou a chorar com soluços.
Isso deixou Jung Hoseok cheio de raiva.
ㅡ Limpe suas lágrimas, madame. Não é necessário fingir que sente alguma perda ㅡ disse, num tom frio e afiado. Ele nunca havia falado assim com alguém em toda a sua vida.
O alquimista então atravessou a porta a passos pesados e vagou pelos corredores como um fantasma perturbado, em busca de algum local vazio e quieto onde poderia fazer aquilo que mais temia: Dizer um adeus adequado a Min Yoongi. Sem pressa e sem o olhar de terceiros, apenas os dois, como sempre havia sido.
De volta ao quarto, Park Jimin viu Haerin titubear para trás até se apoiar na porta aberta, com a mão fina contraindo-se sobre a superfície de madeira entalhada. O garoto não conseguia ler o que se passava na mente da consorte, pois, fora as lágrimas, o semblante dela era uma incógnita completa.
Num contraste absoluto, Jeon Jungkook exalava pura desolação. Jimin o viu se aproximar e segurar sua mão, como fizera antes da aparição do alquimista Jung. Agora, no entanto, o alfa escondia o rosto enquanto mantinha a cabeça baixa, e seus dedos entrelaçavam-se aos do ômega como se tentassem criar raízes ao redor da única coisa que poderia mantê-lo firme naquele momento.
Num balbucio entrecortado, Jimin pediu aos curandeiros para que deixassem o quarto, pois ele sabia que o rei precisava de espaço para jorrar tudo aquilo que estava preso em sua garganta.
E, de fato, Jungkook jorrou, mesclando lágrimas, soluços e murmúrios onde dizia "Perdão, irmão. Perdão".
Jimin, em sua quietude sonolenta, tentou se manter desperto por ele. Queria estar acordado para dizer algumas palavras de conforto. Contudo, como as diria? Consciente de que, em outras circunstâncias, poderia ter tentado reanimar o príncipe Min; e consciente do fato de que seu amigo do mundo real era a besta assassina, lá no fundo ele sentia que tudo aquilo também era sua culpa.
🌕🌖♛🌘🌑
Luto foi decretado naquele mesmo dia, em homenagem ao falecimento do príncipe Min Yoongi e de todos aqueles que se foram durante o conflito que se instaurou na capital real e no resto do reino.
À medida em que as notícias se espalhavam por Adaman, lojas e áreas de lazer iam sendo fechadas, e velas brancas eram acesas nas entradas das moradias dos cidadãos. Igual cenário foi presenciado anos atrás, quando Wang Nara e sua concubina Min Hyuna deixaram este mundo. Pensar nisso trouxe um sentimento ainda pior ao peito de Jeon Jungkook, uma sensação de inércia e de incapacidade.
Enquanto os servos o vestiam com as roupas fúnebres para a cerimônia de enterro ㅡ um sobretudo bege simples e calças de mesma cor ㅡ, o rei observava a movimentação do castelo pelos vitrais das janelas de seus aposentos. Lá fora, todos pareciam apáticos, assim como ele.
Voltou então os olhos para dentro do quarto. Jimin dormia na cama ali ao lado com Soobin deitado em seu ombro, respirando profundamente depois de ter atravessado uma longa e inquieta noite. Jungkook tinha a sensação de que o ômega escondia uma preocupação além de todas as que eles tinham conhecimento, mas preferiu deixar para questioná-lo sobre isso noutra hora.
ㅡ Estamos prontos, Majestade ㅡ murmurou um dos serventes quando terminaram com as vestes reais.
ㅡ Sairei em breve. Aguardem lá fora.
Com a ordem, o quarto foi esvaziado.
Jungkook caminhou até se sentar na extremidade da cama, com muito cuidado para não despertar o parceiro. Logo viu que isso não era necessário, porque Jimin já havia despertado alguns segundos antes.
ㅡ Quem vai estar lá com você, Jungkook? ㅡ quis saber o ômega. ㅡ O general Kim ainda não voltou... Talvez a sua mãe?
ㅡ Não. Haerin ficará com você. Ela achou melhor não aparecer...
ㅡ Então o alquimista Jung?
O rei chacoalhou a cabeça, negando.
ㅡ Jung Hoseok está... Ele precisa de espaço. Não permite que ninguém se aproxime. E eu o entendo bem.
Jimin captou ainda mais tristeza no olhar dele, nas olheiras que haviam se formado numa única noite, na exaustão e melancolia acumulada pelo peso de carregar tantas responsabilidades nas costas. Até mesmo sua cicatriz parecia apagada diante de tantas linhas de expressão.
Ele vai enterrar o próprio irmão sem ter alguém do lado segurando a sua mão, pensou, e logo depois se imaginou em seu lugar, tendo que enterrar a irmã que havia ficado no outro mundo. Não sabia se conseguiria ser tão forte.
ㅡ Tenho que ir, Jimin ㅡ sussurrou Jungkook enquanto beijava a testa do ômega. Em seguida, repetiu o ato com Soobin, que ainda dormia profundamente, alheio a tudo ao seu redor. ㅡ Chame os curandeiros se você se sentir mal de alguma forma, por favor. O cemitério não fica muito distante do perímetro do castelo, então chegarei cedo.
Jimin concordou com um aceno vagaroso.
Depois, viu o rei virando de costas e caminhando até a saída do quarto, tentando manter a pose ereta e nobre que sua posição exigia.
Pelo que o garoto havia escutado sobre a cerimônia de enterro, Jungkook teria que liderá-la enquanto carrega a coroa do príncipe Min em suas mãos. Quando chegasse ao túmulo, deveria colocar o acessório na cabeça do irmão para que então o caixão fosse fechado e mergulhado na terra. Jimin queria poder estar lá com ele nesse momento, mas sabia que o melhor era obedecer o repouso absoluto e não correr o risco de causar mais nenhuma outra preocupação a alguém.
Para se distrair, pediu aos servos que trouxessem os presentes que tinha ganhado meses atrás, no chá de bebê improvisado. Tentou ocupar a mente com os mapas e com as ampulhetas, mas, depois de algum tempo, viu que era inútil.
O que realmente atraiu sua atenção foi o silêncio profundo que pairou sobre o castelo, permitindo aos ouvidos sensíveis do ômega a possibilidade de captar até mesmo os menores ruídos que atravessavam aquela ala.
Aparentemente a maioria dos moradores do palácio tinha se dirigido ao enterro, ficando para trás somente aqueles mais enfermos, os soldados, os curandeiros e os servos pessoais de Jimin. Esses mesmos servos aproveitavam os instantes de folga para papear sobre assuntos aleatórios, trocando fofocas e rumores entre si sem terem noção de que estavam sendo escutados pelo garoto.
ㅡ Não achas um absurdo? A consorte Jeon era a madrasta, antes de qualquer coisa... Deveria ter ido ao enterro do enteado ㅡ disse um serviçal.
ㅡ Seria constrangedor, isso sim ㅡ comentou outro. ㅡ Nunca aceitou o garoto. Ela provavelmente deve estar satisfeita com esta situação.
ㅡ Ouvi dizer que Jeon Haerin chorou quando soube da morte do príncipe.
ㅡ E você acredita nas lágrimas daquela mulher?
ㅡ Talvez haja alguma solidariedade debaixo daquela pose pomposa e arrogante dela.
ㅡ Silêncio! Ela está vindo.
Houve uma agitação apressada e pigarreios ao lado dos aposentos reais, como se os servos estivessem tentando ocultar o assunto de suas conversas por meio de gestos. Logo em seguida, saltos bateram contra o chão de verniz e as portas foram abertas, dando passagem à Consorte Haerin.
Era a primeira vez que Jimin a via sem seus vestidos vermelhos luxuosos. Agora vestia um simples e bege, respeitando o luto da ocasião. Até mesmo sua maquiagem estava mais discreta, sem os tons rubros marcantes.
Além de tudo isso, Jeon Haerin parecia fora do ar, com um olhar negro sem brilho.
ㅡ Olá, querido... ㅡ murmurou baixinho, sua voz era quase um sibilo fraco. ㅡ Como se sente?
ㅡ Eu 'tô bem, obrigado. ㅡ Jimin tentou sorrir para ela.
ㅡ Ah, que bom. Que bom... ㅡ Haerin ficou parada na frente da porta fechada, como se estivesse pensando em algo para conversar ou fazer.
Nessa hora, as vozes dos servos fofoqueiros retornaram.
ㅡ Viu aquelas roupas?
ㅡ Sim. Ela parece estar disposta a mostrar que também ficou de luto.
ㅡ Qualquer um que tiver boa memória não será convencido com isso.
ㅡ Concordo.
Tudo podia ser ouvido de dentro do quarto, e isso claramente deixou a situação desconfortável para Jimin e Haerin.
ㅡ Ah, eles não fazem ideia de que posso escutar cada uma de suas respirações. ㅡ A consorte suspirou, cansada. Depois, ela remexeu o corpo e encarou o futuro genro. ㅡ Você está com fome, querido? Ou quer um copo d'água?
ㅡ Não, eu... Só um copo com água 'tá bom.
ㅡ Claro. ㅡ Ela se dirigiu rapidamente a uma mesinha no canto do quarto, na qual havia uma bandeja com uma jarra de vidro cheia de água fresca e copos de cristal à disposição. Encheu um dos copos e o entregou ao ômega.
Enquanto bebia, Jimin escutou mais uma onda de conversas vinda do lado de fora. Cada palavra era mais desrespeitosa do que a outra.
ㅡ Se a senhora deixar, eu jogo aquela jarra com água em cima deles.
Haerin arregalou os olhos e conteve uma risada. Pela primeira vez o seu semblante se suavizou.
ㅡ Obrigada, querido, mas não... Eu acho que mereço algumas das acusações.
ㅡ Ninguém tem o direito de falar que a senhora está fingindo luto.
Comprimindo os lábios, Haerin virou o rosto para o lado, na direção de uma parede coberta por um véu antigo. Ela andou até lá e puxou um pouco do tecido para que fosse exibido o que havia por baixo.
Era um quadro da família real, da antiga família real, de quando todos ainda estavam vivos. Wang Nara no centro com seus dois filhos pequenos sentados em seu colo, e as esposas Min Hyuna e Jeon Haerin ao redor dela.
ㅡ Infelizmente, algumas das palavras que estão dizendo sobre mim não são exagero. Eu nunca estive realmente presente para o príncipe Min, nem mesmo quando ele precisou de alguém quando Nara e Hyuna faleceram. ㅡ Ela exalou um longo suspiro e passou a mão sobre o rosto pintado da concubina Min. ㅡ Você deve imaginar que eu odiava essa mulher, mas é tão mais complicado do que isto... Antes de tudo, antes de virmos para este castelo e de fazermos parte do jogo de poder dos clãs, ela era a minha melhor amiga.
Essa informação pegou Jimin completamente de surpresa. Interessado, ele se concentrou em ouvir a consorte. Percebendo que tinha a atenção dele, a ômega prosseguiu com sua história. Sempre quis compartilhá-la para alguém em algum momento de sua vida, mas nunca pensou que tivesse o direito de dizê-la.
ㅡ O clã Jeon sempre foi muito rígido com seus herdeiros, e, por ter sido o patriarca, o meu pai fazia questão de impor sobre mim todas as suas expectativas. Eu sabia que um dia teria que sair das terras dos Lobos Noturnos para vir à capital e me casar com Wang Nara apenas para a manutenção da honra do clã. Não seria um evento realmente romântico. Sendo assim, eu teria que ser a rainha consorte perfeita.
Haerin deu mais uma olhada no quadro antes de voltar a escondê-lo debaixo do véu, pois vê-lo era como trazer à tona memórias difíceis de um passado enterrado.
ㅡ Min Hyuna tornou-se uma amiga muito próxima por volta da minha décima quarta noite luar. Éramos duas adolescentes, eu com poucas esperanças para um futuro brilhante e ela com inúmeros sonhos que com certeza poderiam se realizar, se quisesse. O clã Min sempre foi mais livre do que nós, afinal de contas... Por causa desse contraste de realidades, eu me sentia sendo salva por ela quando visitava-me. Hyuna fazia questão de acalmar os meus pensamentos quando nós começávamos a falar sobre o castelo e a Grande Rainha.
A consorte juntou as duas mãos na frente do vestido bege, seus dedos se apertando sutilmente.
ㅡ Então eu me casei com Nara e me apaixonei perdidamente... ㅡ A chama de um sorriso brincou em seus lábios, mas isso durou muito pouco. ㅡ Nara era muito mais do que as histórias contavam. Ela poderia ser a "Grande Rainha" no campo de batalha ou na Mesa de Prata, mas era uma mulher doce e gentil com aqueles que lhe eram preciosos. Contei sobre todos os meus novos sentimentos para Hyuna e ela ficou feliz por mim. Durante algum tempo eu realmente imaginei que minha vida seria perfeita, com minha esposa e minha melhor amiga ao meu lado. Mas é claro que o destino fez questão de estilhaçar tudo.
O semblante da ômega se afundou numa sombra. Ela tentou esconder as bolsas vermelhas debaixo dos olhos e os lábios afinados para que não tremessem, mas Jimin conseguiu ver, pelo canto dos olhos, cada mudança na face feminina.
ㅡ Eu imaginava que o vínculo entre Nara e eu viria depois de algum tempo, quando estivéssemos mais certas sobre as coisas que sentíamos, mas essa teoria parou de fazer sentido quando, depois de um resgate no campo de batalha, Hyuna e ela se vincularam com um único olhar. Um único e mísero olhar. E um ano depois elas tiveram um filho... Como eu poderia competir com isso? Estava cada vez mais óbvio que o meu lugar não era ali, mesmo que, depois de tantas decepções, eu ainda amasse Nara como jamais amei qualquer outra pessoa no mundo. E Hyuna ㅡ Haerin soluçou baixinho ㅡ, Hyuna não poderia continuar sendo minha grande amiga, pois nossos instintos, esse maldito vínculo... nos tornou competitivas e ciumentas. Era doloroso. Eu queria fugir deste castelo enquanto ainda tinha alguma razão, mas ainda havia os meus deveres para com o clã Jeon, e a ideia de nunca mais poder amar Nara criava grilhões ao redor de minhas pernas.
A consorte deu a si mesma um segundo de silêncio para tentar recompor a firmeza da voz, que, a essa altura, já se via trêmula e fraca. Park Jimin sentiu muita pena dela e se colocou em seu lugar. Recordou-se dos seus primeiros dias em Adaman quando começou a nutrir sentimentos por Jeon Jungkook. A insegurança ao redor da ideia de que não seria ele a pessoa com quem o rei ficaria no final, o medo em criar expectativas num relacionamento incerto e surreal... O jovem rapaz conseguia sentir um gostinho do que a mãe de Jungkook havia passado, e era realmente um sabor amargo.
ㅡ Jungkook nasceu algum tempo depois, para a satisfação de meu pai. Ele queria que eu desse um herdeiro à coroa para tentar competir com o filho de Hyuna... ㅡ A voz de Haerin retornou apática e vazia, assim como seus olhos negros feito ônix. ㅡ Com a influência elevada do clã Jeon, rixas começaram a surgir no castelo, o clã Min foi afastado e a minha situação com Hyuna piorou. Nara se viu de mãos atadas por um tempo, porque queria manter a segurança dos dois príncipes..., mas estava óbvio para todos que ela tinha certa preferência pelo primogênito, principalmente após a descoberta de que ele seria doente. Isso me deixou completamente instável. Já não bastava eu estar em segundo plano? O meu filho também teria que ver a mãe alfa dando as costas para ele constantemente? A única vantagem que Jungkook teve foi a de poder acompanhar Nara em suas campanhas militares, mas ele sempre foi gentil e altruísta demais para perceber ou se importar com isso. E então...
Ela se interrompeu com um arquejo e correu para beber um copo d'água. Parecia prestes a explodir em lágrimas.
ㅡ Quando Hyuna foi morta e Nara não resistiu à perda, e-eu senti como se tivesse perdido tudo. Culpei Hyuna por ter aparecido na hora errada, por ter me tirado o amor que eu poderia ter tido. Culpei Min Yoongi por se parecer tanto com ela e por ser o preferido da rainha. Culpei a mim por não ter ido embora enquanto ainda não era doloroso demais... Esses sentimentos mesquinhos me perseguem até hoje, Sor Park. Eu não sou uma pessoa realmente boa e congruente. ㅡ Ela limpou uma lágrima que caía na lateral do rosto. ㅡ Sou tão incongruente que, depois de anos tratando Yoongi como um incômodo, pois ele era tão absurdamente parecido com aquelas duas mulheres, sempre me lembrando daquilo que nunca pude ter; quando soube que havia morrido e, pior, da mesma forma que Hyuna, e-eu... Eu percebi que havia perdido um dos últimos resquícios de duas das pessoas que mais foram importantes em minha vida. Minha melhor amiga e minha esposa.
Haerin soltou outro arquejo embargado e engoliu em seco, antes de lançar um último sussurro:
ㅡ E eu não tenho o direito de derramar estas lágrimas...
Virou-se de supetão, jogando para debaixo dos pés toda a sua elegância e altivez. Ela segurou a maçaneta da porta, murmurou um "Sinto muito, com licença", e saiu corredor afora, como se estivesse fugindo não de Jimin ou dos servos que aguardavam por novas ordens ali perto, mas de si mesma e de seus próprios carmas.
Mergulhado na solidão e no silêncio do quarto, Park levou alguns minutos para internalizar tantas informações. Enquanto fazia isso, ele abraçava o pequeno Soobin que ainda dormia em seu ombro, depositando alguns beijos e carícias nos cabelos macios e negros da criança. Essa calmaria entrava em choque com o carrossel de pensamentos que pairava na mente do rapaz. Ele se sentia cada vez mais envolvido com as histórias das pessoas daquele lugar e nem mais conseguia dizer se ainda permanecia dentro de um simples livro de fantasia.
Não, não poderia ser. Aquilo era outro patamar. Eram vidas, almas verdadeiras repletas de sentimentos e de contradições, e não simples personificações de pessoas reais.
Se havia um destino naquele mundo movendo todas elas, e esse mesmo destino poderia ser tão cruel como havia sido com Min Yoongi e Jeon Haerin, então Jimin teria que prestar atenção e tomar muito cuidado dali por diante, consigo e com aqueles que mais lhe importava.
Agora mais do que nunca.
🌕🌖♛🌘🌑
O funeral passou rápido diante dos olhos de Jung Hoseok. Ou talvez tivesse sido demorado, mas o tempo andava alterado para ele desde o dia anterior. Desde quando encontrara o corpo no jardim secreto.
Anestesiado pelas circunstâncias, pelo vazio agudo e estranho que invadira a parte mais profunda e sensível de seu âmago, ele assistiu a tudo como um telespectador distante. Sem voz, sem respirar, tal qual um espectro atormentado.
Ver Yoongi ali, naquele caixão cheio de flores brancas, pálido como nunca havia estado, com olhos fechados como um simples sonhador, era demais. Era esquisito e sem sentido. Não fazia parte do futuro que Hoseok havia planejado para eles depois de tudo o que tinha acontecido. Sentia-se como se tivesse pegado a via oposta, o atalho errado, e agora encontrava-se perdido e sem algo para se apoiar ou lhe dar um norte.
Quando Jeon Jungkook fez todo o seu papel de irmão, guiando o caixão até a boca da cova e depositando a coroa de príncipe em Yoongi, e depois de todos os amigos e representantes dos clãs que estavam presentes deixarem seus respeitos na forma de flores e de objetos preciosos, o alquimista se dirigiu até o amante e lhe entregou a única coisa que não poderia guardar consigo dali por diante. Um colar matrimonial. O melhor dos que tinha feito, aquele cheio de fiapos e lantejoulas que Yoongi havia adorado.
No final, a multidão ainda escutou um discurso trêmulo e emocionante da Matriarca Min, no qual foi contado um pouco da trajetória do príncipe em vida. Não foi nada realmente profundo sobre ele, sobre os sentimentos dele, porque, no fim das contas, somente Hoseok tinha tido o privilégio de saber de tudo o que se passava na mente de Min Yoongi. Só ele sabia o que o atormentava de verdade, as suas inseguranças, incertezas e raivas.
O alquimista, contudo, nada disse. Ele preferiu a quietude, pois só assim poderia continuar se mantendo em pé e com a aparência estável até o fim da cerimônia.
Quando tudo acabou, o aglomerado se dispersou ordenadamente, deixando para trás apenas as gramíneas pisadas do cemitério congelado e um silêncio sepulcral que era cortado pela brisa fria.
Hoseok manteve-se parado diante do túmulo recém-fechado, encarando a terra fresca revirada, a cor escura que indicava umidade. Ele sabia que em breve os coveiros construiriam uma estátua ali com o formato do rosto do príncipe falecido, o que seria mais uma marca de que toda aquela situação não passava de um mero pesadelo.
Antes de ficar plenamente sozinho, o alquimista sentiu a mão de Jeon Jungkook em seu ombro esquerdo. Um peso que o lembrou de puxar o fôlego mais uma vez.
ㅡ Senhor Jung... ㅡ O rei hesitou. ㅡ Volte ao castelo e aqueça-se. Hoje cairá uma nevasca difícil.
Hoseok sabia. Ele tinha visto as nuvens pesadas pairando na atmosfera.
ㅡ Agradeço pela preocupação, Majestade, mas peço vossa permissão para continuar aqui por mais um tempo.
ㅡ Eu não o impediria. ㅡ Jungkook abaixou os olhos para o chão e comprimiu os lábios. ㅡ O meu irmão tomou uma decisão sozinho. Sempre foi do feitio dele fazer isso...
O alquimista concordou com um aceno.
ㅡ Agora somos nós quem decide o que será daqui por diante. ㅡ As pupilas do rei se contraíram numa raiva acumulada. ㅡ O que aconteceu não passará batido. Precisarei dos seus conhecimentos para uma retaliação.
ㅡ Terá todos os que precisar, Majestade.
ㅡ Então, por favor, mantenha-se forte e lúcido. ㅡ Foi muito mais um pedido amigo do que a ordem de um rei.
Jeon deu um passo para trás e depois outro, antes de se virar e de se retirar para fora do cemitério. Agora plenamente sozinho, Hoseok abaixou-se de joelhos para tocar a terra da cova e fechou os olhos. Permitiu-se alguns instantes de delírio ao reviver lembranças antigas em sua mente e deixou que elas fluíssem pelo seu corpo livremente. Viu, por baixo das pálpebras cerradas, o dia em que conheceu Min Yoongi.
Ocorreu num verão escaldante logo após ter se graduado na escola de alquimia do clã, quando seus pais ainda eram vivos.
Os Jung visitavam a capital real para presentearem Wang Nara com as novas descobertas medicinais que haviam feito, e também para apresentar o futuro novo Alquimista Real.
Min Yoongi estava sentado à esquerda da Grande Rainha e bem próximo da concubina Min Hyuna, vestindo roupas mais grossas do que o normal para um clima tão quente como o daquele momento.
Ele quer esconder o corpo franzino, Hoseok concluiu em pensamentos. Não achou engraçado, apenas curioso.
Tentou trocar algumas conversas com o príncipe, mas Yoongi vivia num constante estado de defesa, sempre fugindo de todos, como um animalzinho escondido em sua concha.
Isso acendeu um interesse imediato no herdeiro dos Jung. Ele gostava de coisas peculiares, e nada mais peculiar do que o primogênito de Wang Nara.
Começou então a tentar chamar sua atenção, seja criando poções explosivas, seja inventando geringonças sem sentido. Não importava o método, Hoseok queria conquistá-lo de alguma forma.
As coisas finalmente mudaram de rumo quando Yoongi teve sua noite luar da maioridade.
ㅡ Coloque algo alucinante na minha bebida. Não aguento mais passar todas as festas sentado, sem fazer nada. ㅡ Ele pediu ao aprendiz de alquimista.
A ideia insana animou Hoseok, que prometeu entregar o melhor alucinógeno já feito. Ofereceu ao príncipe e bebeu um pouco por conta própria, pois sempre testava em si mesmo suas criações.
O resultado só foi percebido no dia seguinte, quando ambos acordaram abraçados em algum canto aleatório do palácio. Não se lembravam bem do que tinham feito, mas as poucas memórias nubladas indicavam cantoria, conversas engraçadas e sem sentido, e talvez um beijo ou dois.
Passaram a se encontrar mais vezes a partir desse dia, e se tornaram inseparáveis até o último.
Agora, com os flocos de neve caindo sem piedade sobre a cabeça de Jung Hoseok, arrastando suas tranças e o manto bege como num vendaval, tudo parecia ter ocorrido em outra vida.
O frio congelante chegou até seus ossos, mas ele decidiu que experimentaria daquela dor por mais alguns minutos, pois ela refrearia aquela que estava instaurada em sua alma. Era uma substituta quase agradável até.
Quando teve forças para se mover daquele lugar melancólico, ergueu-se do chão e saiu andando com o corpo curvado, arrasado.
Numa última olhada para trás, imaginou ter visto uma figura encapuzada no canto mais afastado do cemitério, encarando-o tão fixamente como uma estátua.
O indivíduo sumiu um segundo depois.
Vi uma alucinação?, pensou Hoseok, e foi embora em seguida.
🌕🌖♛🌘🌑
Algum lugar nos arredores de Adwan.
Kim Taehyung retornou no último segundo, quando sua consciência já estava por um fio. Jogou o capuz num canto empoeirado da carroça e se ajoelhou no chão, com as mãos segurando a cabeça, puxando seus cachos numa tentativa de amenizar a agonia que rodopiava dentro do cérebro.
Grunhiu como uma fera descontrolada, exibindo as presas pontiagudas sedentas por sangue, e voltou a ter ódio de si, do que se tornara. Ele não entendia por que havia caído naquele inferno.
ㅡ Você se arriscou indo lá fora. ㅡ A voz de Seokjin soou como um badalar agudo de sinos nos neurônios do rapaz.
Movido pela ira, Taehyung saltou sobre ele, jogando-o ao chão e cercando-o no piso de madeira com uma mão cheia de garras afiadas no pescoço do homem raposa.
ㅡ Já... chega... Eu não aguento mais. E-eu quero corrigir o que fiz. ㅡ Lágrimas caíram de seus olhos, entrando em contraste com o semblante feral que ele exibia na face. ㅡ Por favor.
ㅡ Não dá pra voltar atrás, Taehyung.
Frustrado, o garoto se jogou para trás e abraçou as próprias pernas. Começou a chorar e a soluçar, como uma criança desesperada.
ㅡ Não vou mais fazer parte disso! Faça sozinho! Mate sozinho, já que é tão simples pra você!
ㅡ Quantas vezes vou ter que repetir que eu NÃO POSSO agir por conta própria!? ㅡ As caudas de raposa bateram contra o chão, como serpentes enraivecidas sibilando para uma presa. Os olhos dourados de Seokjin brilhavam como fogo. ㅡ Não posso interferir tão diretamente no destino de personagens, porque sou um bug no sistema! Um erro! Um ponto fora da linha!
Taehyung chacoalhou a cabeça desesperadamente, tentando afastar as palavras que lhe eram proferidas, resistindo a elas e ao que significavam.
ㅡ Eu ia matar o meu amigo... E-eu quase matei o meu amigo. Por quê? Por que ele? E-ele era só um cara normal, co-como eu.
Depois de o caos ter sido provocado no castelo em Adwan, e de terem retornado de lá com uma imensa falha nos planos, Kim Taehyung jorrou tudo o que aconteceu nos ouvidos de Seokjin, desde a perseguição ao Ômega de Prata até a morte do irmão do rei. Cada detalhe do que sabia foi dito, e algumas coisas conseguiram ajudar o homem raposa a formular um raciocínio.
ㅡ Não sei por que seu amigo está neste mundo, mas sei que ele entrou aqui e se tornou o Ômega de Prata depois de eu ter matado o Ômega de Prata original. E você! ㅡ Seokjin apontou para o garoto. ㅡ Você entrou aqui porque EU matei o monstro original! Compreende o meu problema?? Eu não posso simplesmente chegar naquele castelo e matar o protagonista da história! Preciso de você pra me ajudar com isso, porque suas ações têm consequências reais e severas aqui dentro, ao contrário das minhas.
ㅡ E por que não manda aquele rei de Eliah fazer as coisas no meu lugar!? Ele também é um personagem! Você pode usá-lo assim como está tentando me usar agora!
ㅡ Usar...? ㅡ Até pouco tempo atrás essa palavra não incomodava o homem raposa. Mas agora, em se tratando de Taehyung, era um pouco diferente.
Não é como se realmente quisesse usá-lo. Admitir isso para si mesmo irritava-o de alguma forma. Por isso, desviou sutilmente o foco da conversa ao falar:
ㅡ ... Chang Sun é inútil para mim. Ele é fraco e é um mero personagem secundário sem importância. Não poderia provocar nada grandioso neste momento da história.
Kim Taehyung voltou a balançar a cabeça, como se isso o permitisse fugir de tudo.
ㅡ Não quero saber. Não quero saber. Não quero saber! Minha cabeça 'tá um inferno, eu não consigo continuar com isso, não dá...
ㅡ Taehyung... ㅡ Seokjin engatinhou até ele e tentou tocar suas mãos para afastar as garras afiadas de seu rosto, mas foi grosseiramente empurrado para longe.
Agora com o peito inflado, falou sem pensar muito bem:
ㅡ Taehyung, não dê as costas para mim... Eu ainda preciso que você seja meu aliado, então não me obrigue a tirar a sua consciência.
O garoto arregalou os olhos.
ㅡ Você é louco!
ㅡ ESTAMOS NUM LIVRO! Não espere que eu vá agir como uma pessoa normal, garoto, porque minha sobrevivência aqui depende disso... ㅡ Seokjin ficou em pé num salto e apertou a ponte do nariz com força.
Tentou respirar fundo e reorganizar as ideias. Ele nunca soubera como lidar direito com as outras pessoas, ainda mais estando num mundo como aquele. Não sentia a necessidade de ser cuidadoso quando tudo ao seu redor tecnicamente era falso.
Agora vendo o estado do rapaz amaldiçoado ao seu lado, tão miserável e perdido, Seokjin sentiu-se responsável e pesado. Ele não pretendia se importar tanto com alguém.
ㅡ Taehyung, não se vire contra mim, por favor, você é a única pessoa de verdade com quem falo depois de muito tempo. ㅡ O homem raposa se arrastou pela parede da carroça até voltar ao chão e se sentar de qualquer jeito. ㅡ Você é o último resquício que tenho do mundo real.
Eles se encararam em silêncio durante longos segundos, analisando seus respectivos semblantes, os olhares cansados e atormentados, os segredos escondidos dentro da escuridão das pupilas. Taehyung viu um poço profundo debaixo das órbitas de Seokjin e imaginou que, se mergulhasse ali sem cuidado, poderia acabar afundando.
ㅡ Mesmo que você diga isso, eu não posso simplesmente aceitar um plano em que o meu amigo se machuque — murmurou o rapaz, cerrando os dentes. — Não vou fazer com ele o que fiz... o que fiz com aquele príncipe. ㅡ Ele encarou as próprias mãos, trêmulas, e quase conseguiu ver o sangue de Min Yoongi nelas. Suas dores de cabeça se intensificaram com pontadas, tirando a pouca razão que lhe restava, roubando-lhe grunhidos como se fosse um animal ferido.
Seokjin moveu-se outra vez para se aproximar do rapaz. Ignorou os empurrões e os braços se debatendo freneticamente até finalmente envolvê-lo num cubículo de magia laranja relaxante. Aos poucos, o corpo de Taehyung se entregou àquela leveza hipnótica e se acalmou, deitando no colo do homem raposa como já havia feito várias vezes antes e entrando num estado de semi-adormecimento.
Enquanto acariciava os cachos do rapaz, Seokjin murmurou os pensamentos que atravessavam sua mente.
ㅡ Eu deveria saber que haveria alguma coisa protegendo o protagonista da história da minha magia... É sempre assim, eles sempre têm algo escondido. Eu não deveria me surpreender tanto com o fato de que Jeon Jungkook se safou do caos na cidadela de Gwang. ㅡ Exalou um longo suspiro e fechou as pálpebras. ㅡ Estávamos tão perto... Mas nunca estarei perto o suficiente nesse ritmo. Muita coisa mudou do roteiro original, não tenho certeza sobre o que devo fazer agora para controlar o futuro.
Os olhos dourados observaram Taehyung momentaneamente, e por trás dele ideias ganhavam estruturas, como teias sendo tecidas com muito cuidado para que fossem capazes de capturar uma presa grande.
ㅡ Você aceitaria um plano onde apenas o protagonista seria sacrificado, sem tocar no seu amiguinho do mundo real? ㅡ Claro que se um morrer o outro será afetado pelo vínculo que carregam, mas Taehyung não precisa saber disso, pensou, pois só o que lhe importava era manter o garoto ao seu lado, sem mais brigas e desentendimentos.
Após escutar as palavras do homem raposa, Taehyung se calou durante alguns instantes para pensar. Sua confiança para com o outro homem tinha sido ferida, ele não queria voltar a agir como uma máquina assassina e sem razão, por isso avaliou cada detalhe do que sabia.
ㅡ Você uma vez me disse que mexer diretamente com o destino do protagonista é muito difícil ㅡ disse o rapaz, hesitante.
ㅡ É muito difícil para mim, que não sou um personagem da história, e para você, que não pode ser considerado um vilão à altura de Jeon Jungkook.
ㅡ Onde quer chegar com essa conversa?
Seokjin o encarou pensativo, como se também não tivesse certeza sobre o que iria fazer.
ㅡ Venha comigo. ㅡ Foi tudo o que disse, antes de se erguer do chão e arrastar o garoto para fora da carroça.
A nevasca que caía lá fora era capaz de diminuir a maior parte da visão de uma pessoa comum. Se estendesse um braço na frente do corpo, metade dele seria engolido pela enxurrada branca que se desfazia no céu escurecido pela tempestade. O frio era outro fator que dificultava a travessia naquele momento, tão horrivelmente congelante que fazia as respirações se transformarem em um véu de gelo no mesmo segundo em que saíam de dentro do corpo quente.
Sendo assim, nenhuma alma racional estaria andando por ali naqueles entrementes. Uma dádiva para Seokjin, que não queria ser interrompido por ninguém.
Ele testaria sua hipótese em paz, com Taehyung como única testemunha.
Se desse certo, os planos poderiam funcionar. Seria o início definitivo de uma nova era.
ㅡ Por que viemos para cá? ㅡ A voz trêmula de Taehyung soou a poucos centímetros de distância das costas do homem raposa. O tremor não era causado pelo frio, mas porque estavam de volta ao cemitério do castelo, bem diante da cova mais recente.
A cova do príncipe Min Yoongi.
ㅡ Deixe-me contar alguns detalhes interessantes sobre o enredo original do livro em que estamos ㅡ Seokjin começou a dizer. ㅡ Como eu já havia dito antes, tudo o que consegui fazer de realmente grandioso foi ter adiantado a separação do protagonista, o rei Jeon Jungkook, de seu par romântico, o Ômega de Prata. Originalmente isso viria a acontecer daqui a alguns meses, pois, sem a minha intervenção, o rei de Eliah realmente iria tentar invadir Adaman com suas tropas. Jungkook seria obrigado a deixar o parceiro ômega na capital do reino porque ele estaria carregando um filho e a qualquer momento poderia dar a luz. Claro que o idiota do rei Chang Sun iria ver suas tropas perdendo facilmente bem diante de seus olhos, porque o exército de Adaman é muito forte.
Com um movimento de mão, o homem raposa dispersou alguns metros da nevasca, criando um espaço circular amplo e calmo ao redor deles e da cova.
ㅡ Devido a essa chacina na fronteira, ocorrendo bem próxima à Mata Fúnebre ㅡ local onde o alfa amaldiçoado deveria estar preso até o presente momento ㅡ, a terra se tornaria instável e libertaria o monstro. Sedento pelo sangue de ômegas, ele vagaria pelo reino em busca daqueles mais saborosos até encontrar o Ômega de Prata.
Seokjin então se virou para encarar o garoto ao seu lado.
ㅡ O príncipe Min Yoongi, aquele que você matou, Taehyung, estaria ao lado do Ômega de Prata no momento da aparição do monstro. No entanto, ao invés do que houve durante o seu encontro com ele, o príncipe usa a inteligência para matar o invasor e sai vitorioso após dar um golpe final usando uma adaga. É claro que essa não seria uma vitória completa, pois quem mata o alfa amaldiçoado logo recebe a maldição dele. E foi o que aconteceu com o Min Yoongi original.
Suas nove caudas roçaram contra as pernas de Taehyung enquanto ele caminhava em círculos e explicava a história do livro.
ㅡ Depois de dar a luz ao príncipe herdeiro, e depois que o rei retorna com suas tropas, o Ômega de Prata usa seus poderes para tentar trazer de volta a consciência do príncipe. Ele consegue em partes, mas uma ira ainda permanece dentro de Yoongi.
Seokjin parou de andar quando ficou bem em frente ao túmulo recém-feito. Chamas laranjas piscaram em seus olhos quando ele usou sua magia para tirar a terra da cova e puxar o caixão fechado do fundo do buraco. Com um movimento sutil dos dedos, o local de descanso do príncipe foi aberto, revelando seu corpo frio, belo e ainda intacto, com as flores brancas que continuavam frescas ao seu redor.
Taehyung, que assistia a tudo num silêncio assombrado, caiu de joelhos com lágrimas nos olhos. Seokjin tocou-lhe o ombro e, num raro evento, encarou-o com pesar.
ㅡ Você me disse que o príncipe te atacou sem hesitar, então acho que essa foi a diferença entre a vida e a morte dele. Min Yoongi só poderia ter vencido a luta se tivesse usado a razão...
Voltou-se para a cova aberta e soltou lá dentro para se aproximar do príncipe morto. Sem muito cuidado, abriu a frente da roupa do falecido com um rasgo e buscou a ferida que deveria estar no estômago. Assim que encontrou o grande corte ㅡ o qual havia sido fechado e limpo para a cerimônia de enterro ㅡ, ativou seus poderes e jorrou filetes dourados pelo corpo de Yoongi.
Aos poucos, as células perdidas foram sendo recuperadas, os órgãos internos destruídos ganharam uma estrutura novinha, como uma máquina recebendo peças recém-fabricadas. Mas uma máquina sem alma ainda não poderia viver, e, por isso, o príncipe continuou parado e frio.
ㅡ Gostaria de tentar corrigir o que fez, Taehyung? ㅡ Seokjin perguntou por cima do ombro. De soslaio, viu o garoto balançar a cabeça, mas havia dúvida e medo em seus grandes olhos.
O homem raposa então puxou uma adaga de dentro de suas roupas e a colocou na mão endurecida do príncipe, com a ponta afiada erguida para cima.
ㅡ Então vou precisar de um pequeno sacrifício seu, rapaz. ㅡ Numa nova onda de magia alaranjada, Taehyung foi empurrado para dentro da cova, caindo bem em cima da adaga, perfurando a lateral de seu peito. Não seria um corte fatal, e não precisaria ser, então Seokjin foi rápido ao agir.
Com flâmulas douradas saindo de seus olhos, e um brilho ofuscante sendo emanado por cada centímetro de sua pele, ele entoou palavras que eram revestidas por risadinhas malignas, como se estivesse num ritual vilanesco e maldito. Enquanto isso, Taehyung grunhia e se debatia, sentido parte de sua vitalidade sendo sugada pela adaga e absorvida pelo corpo de Min Yoongi. A agonia durou alguns minutos e foi terrificante, mas gloriosamente eficiente.
Vendo que tinha acabado, Seokjin puxou o garoto para fora da cova e o colocou em seus braços, pois ele estava fraco e à beira da inconsciência.
Olhou para dentro do caixão com um sorriso satisfeito quando percebeu um movimento ali. Era conclusão de que as coisas finalmente poderiam dar certo.
ㅡ Veja, Taehyung... Era isso o que deveria ter acontecido se a história não tivesse sido alterada. Min Yoongi teria vivido e ficado mais forte do que nunca pôde ser.
O indivíduo dentro do caixão pulou para fora, caindo de pé na beirada da cova aberta com uma força descomunal que afundou o chão congelado.
ㅡ Se numa história existe o protagonista, também existe o vilão principal. E cá está ele, o vilão que pode mudar tudo. Bem-vindo de volta, Min Yoongi ㅡ disse Seokjin, triunfante.
Os olhos do príncipe ressuscitado piscaram ferozes, anunciando a mudança dos tempos.
~♛🌕🌖♛🌘🌑♛~
#LoboDePrata
Não se esqueça do ⭐VOTO⭐, ele é muito importante!
Eu prometi uma reviravolta. Minha promessa foi cumprida? O que acharam da conversa que a Jeon Haerin e o Jimin tiveram? E esse final? Algumas peças estão se encaixando? Estão pressentindo o que vem pela frente? Aaaaaah estou tão curiosa para saber as reações de vocês! Se puderem, comentem sobre o capítulo usando a tag no twitter, estarei respondendo-os muito ansiosa!
Agora eu quero trocar um papo sincerão: Sei que muitos ficaram tristes com a morte do Yoongi no capítulo passado, e que provavelmente estarão aliviados com o retorno dele a partir de agora. Espero que saibam que esse retorno já era planejado, eu não iria mudar os rumos do que planejei mesmo depois das mensagens que recebi skskksksks Eu sei que as ameaças de morte foram brincadeiras, mas tiveram aquelas mensagens bem verdadeiras em que alguns ameaçaram dropar a fic se eu não revivesse o Yoongi. Isso é um pouco desestimulante pra mim? Sim, mas tudo bem, sigo firme com o meu roteiro. Minha pretensão é entregar algo que não seja óbvio, algo diferente, surpreendente, triste e, ao mesmo tempo, feliz; porque, para mim, essas são as melhores histórias.
Enfim, é isto. Para finalizar, eu quero dizer um enorme, um imenso, um colossal (sasageyo) OBRIGADA! Era uma Vez um Ômega passou dos 40k votos e das 300k leituras, eu nunca imaginei que fosse conseguir nem metade disso... Eu só queria poder abraçá-los e dizer obrigada a cada um que esteve e que está aqui comigo, nessa "jornada". Ainda vou entregar muitas coisas para vocês, promessa de dedinho!
Até o próximo capítulo, nenéns. Amo vocês💜
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