|14|♛|Cartas de Amor|
OIE, SEUS GOSTOSOS
Para os desavisados, hoje estou trazendo ATT TRIPLA (o que explica a minha demora), resultado de uma promessa doida que fiz semanas atrás!
Como já estarei enchendo vocês de palavras até o final desses três capítulos, serei concisa aqui:
1- A FIC ALCANÇOU 200K LEITURAS, EU ESTOU TÃO FELIZ E AGRADECIDA AAAAAAA MUITO OBRIGADA!! VOCÊS SÃO INCRÍVEIS, SEUS COMENTÁRIOS E APOIO ME AJUDAM TANTO, VELHOOO😭😭Vou me esforçar pra continuar seguindo em frente com EUVUO💜💜
2- Como estou sem o meu PC, a maravilhosa da kimaahy (twitter: @kimaahy) ficou responsável pela arte dos banners deste capítulo e do próximo. Apreciem o talento delaaa💕
3- Preparem o suco, a pipoca, o coração e os lenços, pois meu objetivo com essa att imensa é atingir o máximo de sentimentos possíveis dos meus leitores. Por favor, comentem suas reações e compartilhem por aí o que acharam das cenas (Se for no Twitter, usem a tag #LoboDePrata. Se for no Instagram, marca o meu user @kaka.leda). Estou muito animada com tudo, mas também nervosa kkkkk, então as respostas de vocês serão muito importantes para mim💜
Já ⭐VOTOU⭐ no capítulo e pôs a playlist pra tocar? Então BOA LEITURA!!
♛|Cartas de Amor|♛
Para o meu rei,
Não faço ideia de qual é o jeito certo de se fazer uma carta, porque estou acostumado a mandar mensagens rápidas que chegam em outras pessoas no mesmo segundo em que as envio — vantagens que você poderia encontrar no mundo de onde vim.
Ah, só para deixar claro, as pessoas também enviam cartas por lá, mas isso não é tão comum assim. Então, quando acontece, nós tratamos como algo incrível e, às vezes, extremamente romântico.
E por saber disso, eu meio que fiquei travado um pouco antes de começar a escrever esta carta, porque, afinal, nossa despedida não foi cheia de romance.
Eu estava assustado. Ainda estou, mas agora é meio diferente. Não sei como explicar com palavras, Jungkook. Se existisse uma fórmula química que explanasse o que rola na minha cabeça, eu estaria enviando ela para você ao invés deste texto.
Em resumo, acho que fiquei maluco e simplesmente passei a tentar ver a situação por outros ângulos. É que não quero surtar de novo, principalmente num momento como este. Acho que existem coisas mais preocupantes do que carregar alguém dentro da minha barriga (ou será que não?).
Posso nunca ter visto uma guerra pessoalmente, mas aquilo que sei na teoria já me deixa receoso o bastante. Imagino que você esteja muito ocupado e com a mente fritando neste momento tendo que lidar com inúmeros soldados e problemas no campo de batalha, então não sei se devo ficar escrevendo para você informações úteis e sérias sobre o que está acontecendo por aqui ou se seria melhor se eu te enviasse fofocas fúteis e engraçadas sobre o meu dia a dia no seu enorme castelo para te fazer sorrir.
Quando puder, envie uma carta com a resposta, beleza?
Já faz duas semanas desde a última vez em que nos vimos. Estou sem notícias suas por causa da distância, mas sei que você está bem. Essa coisa de lobo me dá essa certeza.
É estranho, mas eu até gosto muito de ter esse "instinto".
Será que conseguimos enviar sinais um para o outro pelo vínculo? Algum tipo de sentimento ou coisa assim? Vou perguntar para alguém, porque agora fiquei curioso.
Estou com saudade. Confesso que é a primeira vez que sinto tanto a falta de alguém que não é minha mãe, meu pai ou minha irmã.
Carinhosamente (que brega),
Park Jimin.
🌕🌖♛🌘🌑
Para o meu Ômega de Prata,
Sempre me fascina ouvi-lo falar das peculiaridades do local de onde veio, e sinto-me ainda mais intrigado agora ao saber que poderíamos estar nos comunicando constantemente se estivéssemos nele.
Tal informação torna a situação atual alguns níveis mais angustiante para mim, porque a distância que nos separa é de, pelo menos, três semanas.
Foram três semanas de viagem para que minhas tropas se posicionassem nas terras ao redor da cidadela Gwang e começassem a avançar contra a cavalaria do lado inimigo. Sua carta chegou em minhas mãos apenas alguns dias depois e, pela graça dos deuses, justamente num momento de trégua provocado pela nevasca comum do inverno.
Aproveito essa breve pausa para escrever uma resposta a você, meu bem.
Também o sinto por conta de nosso vínculo, Jimin. Notei que, quanto mais longe um do outro estivermos, mais esse sentido extra se amplifica. Sou particularmente grato a isso e carrego a mesma curiosidade em saber se somos capazes de enviar sinais.
Consigo saber que você se encontra saudável, mas ainda assim preciso que me diga se está tudo bem, que não está se isolando no ninho, como fez naquele dia, e que vem se alimentando corretamente. Não me importo com a seriedade do conteúdo de suas cartas, pois todas elas me são importantes, então conte-me tudo o que quiser.
Quanto a mim, eu devo me restringir em relação a alguns assuntos que enviarei a você por conta dos riscos existentes se caso uma de nossas cartas acabar em mãos erradas. Sei que era a sua intenção me ajudar neste momento, estando ao meu lado e dando conselhos de batalha perspicazes que nenhum de meus melhores estrategistas seria capaz de mentalizar, mas me vejo na obrigação de não dizer detalhes do que vem ocorrendo aqui, em Gwang.
Sinto muito, eu gostaria de compartilhar tudo. Espero que essa limitação não amplie ainda mais a rachadura existente entre nós.
Com amor,
Jeon Jungkook
🌕🌖♛🌘🌑
Para o meu rei,
Jeon Jungkook, o que surgiu entre a gente não foram rachaduras, mas uma confusão resultante de uma certa falta de diálogo. Nós até conversamos bastante quando estamos sozinhos, mesmo que ainda dediquemos o nosso tempo juntos pra fazer outras coisas — coisas bem legais, inclusive —; mas nem um e nem outro chegou a se aprofundar o bastante em assuntos extremamente urgentes como aquele que envolve ômegas como eu.
Sim, fiquei com raiva naquele momento quando descobrimos o que estava acontecendo dentro de mim, mas a raiva era só uma máscara do meu medo e da surpresa.
Percebi isso melhor um dia depois da sua viagem.
Não vou mentir, eu cheguei a me isolar no ninho naquela época. Tinha muita coisa que necessitava ser pensada. Eu precisava ficar sozinho com a minha cabeça, as minhas ideias e os meus sentimentos.
O que escrevi no bilhete enviado a você no último segundo, antes que sumisse completamente da minha vista e fosse para Gwang, não foi um surto meu. Ou talvez tenha sido, mas foi um surto lúcido.
Eu queria, mas ao mesmo tempo não tinha certeza.
Nem sei se tenho agora, na verdade. A diferença é que, naquela primeira semana em que passamos separados, tudo ainda parecia muito surreal e inacreditável. Hoje já consigo olhar pra minha barriga sem pensar "Puta merda" e começar a entrar numa crise existencial.
Então... Sem rachaduras. Inclusive, eu entendo esse lance de não poder me contar sobre as estratégias militares. É inteligente da sua parte fazer isso.
E eu também não falaria algo útil para você estando a quilômetros de distância do campo de batalha.
Só toma cuidado, por favor. Sei da sua experiência com esse tipo de coisa porque acompanhou a Grande Rainha durante as lutas dela, mas agora é realmente diferente. Ando escutando aqueles benditos espíritos da natureza — que amam invadir a minha cabeça quando estou sozinho —, e eles não param de avisar sobre uma "turbulência" no equilíbrio.
Nem adianta me perguntar o que é esse equilíbrio, Jungkook, porque eu também estou confuso.
Agora, pra não fazer desta carta um compilado de parágrafos sérios e tensos, eu vou contar uma coisa engraçada que aconteceu comigo nestas últimas semanas.
Quando falei que minhas crises existenciais pararam, não contei o principal motivo. Meio que foi graças ao Soobin.
De repente comecei a levá-lo para o nosso ninho — levo apenas o Binbin, porque desenvolvi um ciúme irracional daquele lugar, Jungkook —, ele fica me fazendo companhia lá enquanto eu leio alguns livros que pego da biblioteca real e nós comemos bolo de morango.
Um dia o Soobin parou de comer do nada e ficou encarando a minha barriga com aqueles olhos enormes dele. Perguntei o que tinha acontecido, mas ele só abraçou a minha cintura e ficou cutucando a minha pele.
Será que o Binbin sentiu alguma coisa dentro de mim? Essa ideia me deixou muito pensativo e fez a "ficha cair". Estou com vergonha de dizer isso, mas eu posso ter chorado um pouco na hora.
Comecei a pensar nos meus pais naquele dia e doeu de verdade. Sinto falta da minha família e queria pedir ajuda para a minha mãe. Queria perguntar para ela se foi legal estar grávida de mim. Mas ela com certeza ficaria louquinha se soubesse sobre o bebê.
Não estou escrevendo isso porque desejo voltar para casa. Não, eu definitivamente quero ficar aqui até o final, seja qual ele for. E é justamente por ter enfiado essa decisão na minha cabeça que sinto muita falta deles.
Virei um melodramático, Jungkook. Adivinha só! Estou chorando neste exato momento enquanto escrevo estas linhas. Ouvi dizer que durante a gravidez as pessoas ficam mais sensíveis e eu definitivamente estou assim.
E por falar em sensibilidade, estou realmente preocupado com a minha imagem, Jeon Jungkook! Nossas cartas demoram semanas para chegar e para serem respondidas. Passei a usá-las com o intuito de medir o tempo em que ficamos distantes um do outro, e, pelos meus cálculos, quando você receber esta eu já estarei entrando no terceiro mês de gestação. Caramba, quando nos reencontrarmos, vou estar parecendo um balão de gás chorão e com chifres floridos.
Você vai rir de mim, com certeza. Que ódio.(ಥ﹏ಥ)
Recebi notícias sobre o exército de Adaman ter tomado o controle da situação em Gwang, e que você está mantendo o inimigo num cerco dentro da cidadela. Cercos são difíceis, mas espero poder vê-lo logo, antes que eu me transforme em algo irreconhecível.
Nossa, acho que desta vez escrevi uma carta enorme. Bem, depois de tanto tempo, eu tinha muitas palavras para colocar numa folha.
Sinto sua falta. Sinto mesmo. E toda vez que penso nisso eu começo a me sentir mal. A consorte Jeon Haerin me avisou que isso iria acontecer e que o meu corpo passaria a ter um pouco de fraqueza, pois somos vinculados.
"Vinculados devem ficar perto um do outro, porque trabalham como se carregassem uma única alma", ela disse outro dia para mim quando reclamei de cansaço, e depois fez os servos do palácio me encherem de sopa, verduras e frutas.
Isso me fez ficar pensativo.
Você anda bem, Jungkook? Espero que não esteja exagerando por aí e que as suas refeições sejam suficientes para eliminar algum cansaço irritante. Lembra de tudo o que me prometeu, por favor.
Enfim, vou finalizar esta carta por aqui. Fica bem, beleza?
Carinhosamente (deixei de achar brega),
Park Jimin.
🌕🌖♛🌘🌑
Park Jimin encarava o teto com os olhos entreabertos enquanto lutava para não dormir durante uma curiosa cerimônia que ocorria ao seu redor.
Ele jazia deitado sobre a cama de seus aposentos, vestindo roupas simples e folgadas com flores e ramos cobrindo-o dos pés à cabeça. Em seu entorno, uns cinco ômegas cantarolavam numa língua ancestral de Adaman e jogavam pétalas sobre o garoto, dando giros de vez em quando.
"Ritual da preparação" era o nome daquele evento, e, pelo que explicaram a Jimin, tratava-se de uma cerimônia tradicional para entregar boas energias a um ômega que carregava um filhote. As cantigas ancestrais entoadas falavam sobre paz, força, saúde e sabedoria, e as pétalas simbolizavam a bênção dos deuses.
Era bonitinho e interessante, mas Park Jimin não conseguia pensar em outra coisa exceto no fato de que aquela cama estava extremamente confortável e ótima para tirar um cochilo prolongado.
Quando tudo acabou, ele imaginou que poderia se virar, abraçar um travesseiro, fingir que aquilo era Jeon Jungkook e fechar os olhos para um descanso mental.
Mas estava enganado.
Após ser deixado sozinho pelos ômegas xamãs, o quarto foi invadido pela consorte Jeon Haerin em seu vestido vermelho bufante, sendo acompanhada por alguns servos que usavam uniformes festivos.
Ao que tudo indicava, aquele dia seria longo.
— Vossa Magnificência, por favor, acompanhe-me até o salão de festas. Estamos prontos para recebê-lo — disse a mulher com um grande sorriso.
Park exalou o ar pela boca enquanto se sentava na extremidade da cama. Seu corpo parecia pesado e ele mesmo não se sentia muito bem para aparentar estar tão animado quanto a outra ômega, mas fingiu um sorriso.
— O que vai acontecer agora, consorte Jeon? Vou ganhar mais chuva de pétalas? — perguntou num tom descontraído.
A ômega riu baixinho e ofereceu a dobra do braço para o rapaz colocar a mão ali. Ele aceitou e se apoiou nela para erguer-se da cama.
— Não. Na verdade, ao invés de pétalas, ganhará presentes dos clãs de Adaman. Todos se prepararam para parabenizá-lo adequadamente pela gestação. — Haerin começou a guiá-lo pelos corredores do castelo, com os servos acompanhando-os poucos passos atrás.
— Ah... Então é tipo um chá de bebê — murmurou o garoto, tão baixo que Haerin interpretou aquilo como um suspiro.
— Não se sente bem disposto, Sua Graça? Caso seja a vossa vontade, convocarei os presentes para que venham até aqui, ao invés de irmos até eles.
— Ah, nem. Não precisa mesmo... Pensando bem, vai ser bom pra mim sair de cima de uma cama, haha.
Depois de escutá-lo, Haerin voltou a encarar o horizonte cheio de paredes altas do castelo com um olhar distante e apreensivo.
— Dizem que o meu filho ainda passará outro mês longe de Adwan. — Ela engoliu em seco. — Esta situação é preocupante de diversas formas. É preocupante para ele e, principalmente, para Vossa Magnificência.
Jimin refletiu sobre aquilo silenciosamente. Ele já imaginava que Jungkook iria demorar para retornar depois que o castelo recebeu a notícia sobre as tropas inimigas em Gwang terem se refugiado dentro das muralhas da cidadela. Antes mesmo de olhar no livro de sua irmã caçula, o qual vinha relatando magicamente alguns dos acontecimentos ao redor de Jeon, o rapaz soube que o rei formaria um cerco para forçar Eliah a uma rendição.
Era uma estratégia militar clássica e muito boa.
No entanto, cercos costumam durar semanas e até meses. Longos meses.
Sendo assim, Jeon Haerin não era a única preocupada com o que estava acontecendo.
Com uma mão discreta sobre o peito, Park Jimin comprimiu os lábios e tentou enviar sinais ao lobo dentro de si para talvez dar a ele alguma energia, alguma movimentação.
Desde a partida de Jungkook, aquela região no interior mais profundo de sua alma parecia ter esfriado porque sentia falta do alfa. E essa falta era muito mais dolorosa do que qualquer saudade que Park Jimin já havia sentido em toda a sua vida.
Seu coração batia um pouco mais forte e se aquecia novamente quando uma notícia ou carta chegava, e logo depois essa reação se esvaía como a miragem de um oásis num deserto escaldante, ressecando as pulsações do ômega, deixando-o com apenas algumas gotas de orvalho para resfriar a saudade fervilhante.
Era absurdamente exaustivo buscar o contato do outro em seus sonhos, encontrá-lo em meio a névoa de pensamentos e, na manhã seguinte, perceber que tudo não passou de uma ilusão de uma mente solitária. Tal solidão veio sendo acumulada durante todas aquelas semanas, assim como são formadas as avalanches; mas, em certos instantes, Jimin pôde respirar fundo e se distrair com as pessoas e as atividades do palácio.
Pessoas como o Soobin, a Matriarca Choi, o alquimista Jung Hoseok e o príncipe Min; e atividades como aquela para a qual Jeon Haerin o arrastava naquele momento.
A mãe ômega de Jungkook parecia ter noção do que estava fazendo, ela não deixava o jovem Park quieto e com a mente desocupada por muito tempo, mesmo em dias onde ele só desejava o conforto de uma cama e o isolamento depressivo.
— A senhora também já passou por isso? — O garoto apontou para si mesmo, dando a entender que se referia ao cansaço constante e à dor da separação.
Haerin piscou os olhos duas ou três vezes antes de respondê-lo.
— Eu jamais... vinculei-me a alguém, então... não. Não passei. — O olhar dela tremeu levemente. — Contudo, no passado, tive uma... hm, amiga que sofreu exatamente a mesma coisa que Vossa Magnificência, então tenho certa experiência com esta situação, e a melhor maneira de lidar com ela é buscando distrações. — Haerin segurou a mão esquerda de Jimin com suas duas mãos e se agitou, abrindo um sorriso aparentemente energético, mas que claramente estava ali apenas para mudar o clima da conversa. — Distração! Isso mesmo! Todos nós devemos distrair Sua Graça o máximo que pudermos até o retorno de Jeon Jungkook. E não vamos encher nossas mentes com preocupações extras que envolvem o meu filho, pois tenho certeza de que o General Kim deve estar tratando o rei da mesma forma que eu venho tratando o nosso Ômega de Prata.
Ela acariciou as costas de Park Jimin de um jeito maternal enquanto caminhava ao lado dele.
Assim que chegaram ao salão de festas, foram recebidos com reverências profundas por dezenas de nobres. Os serviçais guiaram o garoto até uma poltrona lustrosa e confortável localizada no centro de todos os demais assentos, como se uma reunião fosse começar naquele espaço e Jimin estivesse fazendo o papel de anfitrião.
Primeiro, os representantes dos clãs que ali estavam se organizaram em filas para se apresentarem ao ômega e entregarem os seus presentes a ele.
Jimin os recebeu em grupos de três ou quatro pessoas, e tentou prestar bastante atenção em tudo depois de perceber que algumas delas tinham atravessado distâncias continentais para agraciá-lo.
O garoto conheceu clãs que nunca tinha visto antes no palácio, famílias cujas terras se localizavam nas regiões mais longínquas do reino, carregando brasões exóticos com combinações de cores diferentes daquelas padronizadas dos clãs que mais se destacavam em Adaman.
Ele se surpreendeu também com os presentes que recebeu. Ao que tudo indicava, a notícia sobre o Ômega de Prata ser fascinado por alquimia e coisas lógicas havia se espalhado para os quatro cantos da Nação, e isso se refletiu diretamente nas coisas que Park Jimin ganhou naquele grande encontro.
Livros, mapas bordados em tapeçarias, ampulhetas de ouro, lunetas, telescópios e jogos de tabuleiro feitos de cristal. Presentes ostensivos em demasia, mas que com certeza faziam o tipo do garoto. Por isso, ele se alegrou e falou obrigado várias vezes, sendo sincero o tempo inteiro.
— Clã Choi, dos lobos do mar — anunciou um mestre-sala logo depois de outro clã nortenho ter se apresentado ao ômega.
Como esperado, a matriarca do clã, Choi Yoojung, compareceu ao evento. Ela estava linda como sempre, usando suas vestes e joias azuis e carregando o seu sorriso honesto, bem elegante. A novidade da vez foram os seus acompanhantes, parentes que viajaram do litoral até ali para conhecer Park. Eram rostos novos que nunca tinham pisado na capital real. Estavam em Adwan para mostrar que, mesmo depois de todos os desentendimentos, os lobos do mar ainda se portavam como súditos fiéis à coroa.
Yoojung e os demais se curvaram — a essa altura, Jimin já tinha desistido de pedir para as pessoas pararem de reverenciá-lo —. Depois, a jovem matriarca se aproximou com um embrulho de seda e o entregou ao garoto.
— Espero que Sua Graça aprecie. Trata-se de uma especiaria muito rara de nossas terras. Foi trazida de Hayang pelo meu primo, Choi Baekho. Ele é o almirante de nossas tropas marinhas. — disse ela enquanto apresentava o alfa ao seu lado, um jovem alto e musculoso, mas de semblante gentil e bonito que fez Jimin pensar em ursos fofos.
Hayang era a cidadela governada pelos Choi no nordeste de Adaman.
Choi Baekho aproximou-se devagar e, após uma mensura educada, falou:
— Vossa Magnificência, é uma honra conhecê-lo e é uma honra ainda maior encontrá-lo neste momento de felicidade. — Ele era charmoso, mas havia um toque de timidez que o fazia desviar o olhar constantemente.
Foi aí que Jimin se deu conta de que todos os alfas que vieram cumprimentá-lo agiram quase da mesma forma, só eram mais discretos que Baekho. Só depois o garoto viria a descobrir que isso se devia ao fato de ele já ter sido marcado por um alfa. O cheio de Jungkook impregnado em seu corpo conseguia ser um tanto intimidante para outros do gênero.
— Ah, muito prazer e... obrigado! — Começou a abrir o embrulho para ver o que havia dentro, e arregalou os olhos quando avistou um jarro de porcelana com um pavão azul e uma baleia pintados à mão em sua superfície branca. Jimin arrancou a tampa do jarro com cuidado e sentiu o cheiro adocicado de seu conteúdo. Pela textura, assemelhava-se bastante a um creme hidratante.
— É um tônico para a pele. Ômegas de nossa família usam isso ao menos uma vez durante a gravidez para se sentirem revigorados. É feito com óleo de baleia e conchas do mar muito difíceis de serem encontradas — explicou Baekho, passando a mão pelo sobretudo azul escuro e colocando um dos braços dobrado em suas costas.
— Óleo de... baleia? — Jimin murmurou e encarou o desenho da baleia na superfície do jarro. Um animal tão bonito, tão grande, tão inocente...
Antes que os Choi piscassem os olhos, o Ômega de Prata disparou a chorar.
— Pelos deuses, o que houve!? — algumas pessoas exclamaram pelo salão quando viram Jimin chorar. As faces de Baekho e de Yoojung caíram.
— É que... Sniff... as baleias... as pobrezinhas só estavam nadando, sabe? Elas não atacam ninguém, 'tá ligado? Não precisam morrer pra virar... Sniff... creme hidratante — Jimin balbuciou entre lágrimas.
Os membros do clã Choi, que até o momento se entreolhavam com os semblantes assustados e hesitantes, agora conseguiam respirar normalmente.
Foi Baekho quem acalmou o Ômega de Prata com uma rápida explicação:
— Não matamos baleias para a produção desses tônicos, meu senhor. A pele que obtemos é daquelas que encalham e morrem naturalmente em nosso litoral. Por isso o vosso presente é considerado uma especiaria rara, já que é bastante difícil encontrar o animal em boas condições.
Jimin enxugou as lágrimas e logo viu que tinha feito uma cena exagerada, e ainda por cima para nada. Encolheu-se na poltrona, envergonhado, e engoliu em seco.
Sua cabeça doía e parecia quase esgotada. Nas últimas semanas, qualquer situação vinha sendo motivo para ter uma reação como essa. Ele tremeu.
— Desculpa de verdade, eu... gostei mesmo do presente, é só que... — Tentou controlar o nó em sua garganta, mas estava prestes a explodir de novo.
— Sor Park — Yoojung tocou-lhe a mão e sorriu gentilmente para ele —, nós compreendemos. Direi à consorte Jeon que Vossa Magnificência precisa de uma pausa por hoje.
O ômega comprimiu os lábios e balançou a cabeça num aceno. Em seus olhos carmesim havia gratidão genuína. Aquela moça era uma verdadeira amiga.
Momentos depois, os presentes foram comunicados que o Ômega de Prata tiraria o resto do dia para descansar, e por isso não iria receber mais nenhum convidado. Por conta das fofocas que rapidamente se espalhavam pelas rodas de conversa da nobreza, em questão de minutos todos já estavam cientes do choro de Park Jimin e de seu estado melancólico. Rapidamente concluíram que a ausência do soberano de Adaman, somada à gravidez, era a causa. E não estavam errados.
Essa situação, contudo, trouxe tanto um sentimento de solidariedade quanto de medo. Ficaram tensos quando perceberam que nem mesmo uma divindade poderia escapar da força do vínculo e se perguntaram se estariam seguros, já que o rei provavelmente devia estar sentindo o mesmo que Park Jimin enquanto lutava no Sul.
O garoto escutou alguns murmúrios e fechou os olhos pesados. A preocupação retornando para a sua mente.
Permaneceram no salão apenas os mais próximos de Jimin e aqueles que o deixavam confortável. Depois de tomar chá e de comer tortas enquanto os outros conversavam sobre coisas fúteis e engraçadas do dia a dia, a Matriarca Min, com sua fala mansa e doce, perguntou algo que finalmente conseguiu tirar o garoto de seu silêncio inquieto:
— Sua Graça, já começou a tecer os colares matrimoniais?
— Tecer? — Jimin ergueu os olhos para ela. Havia uma enorme tulipa branca presa ao coque no alto da cabeça da idosa, o que a deixava com um ar jovial, contrastando com as feições idosas.
— Sim. É tradição o ômega tecer o colar dele e de seu alfa. Vê o meu? — Ela desabotoou o colarinho da bata branca, revelando o acessório ao redor de seu pescoço enrugado. — O meu alfa faleceu há muitas luas, mas nunca senti o desejo de me desfazer deste símbolo.
— Vocês devem ter se amado muito — Jimin supôs.
— Ah, ele era um grande companheiro, de fato. Nunca tivemos algo intenso a ponto de nos vincularmos, mas nutríamos uma amizade profunda — explicou ela, e depois voltou a tocar o acessório, desenhando os padrões tecidos nele com a ponta dos dedos finos. — Quando produzimos esses colares, colocamos neles o que desejamos para os nossos parceiros. No meu, pus o padrão xadrez, que simboliza constância e, por conseguinte, paz. Os deuses me ouviram, então um relacionamento pacífico foi o que tive.
Park Jimin não era supersticioso. Não mesmo! A razão o fazia duvidar de muitas coisas, inclusive da fé; mas, naquele momento, o mesmo ímpeto racional que o movia achava bastante lógico crer em tudo o que aquela velhinha lhe dizia. As coisas naquele mundo funcionavam assim, afinal de contas.
E, por isso, ele se interessou bastante.
— Qual é o padrão para segurança? E para saúde? Ah, eu queria saber também o padrão para força! — falou num sobressalto.
— Vossa Magnificência está confundindo o colar matrimonial com uma armadura — disse Jeon Haerin, entre sorrisos. Ela ouvia tudo ali perto.
Todos que escutavam a conversa acharam graça, até Park Jimin sentiu vontade de rir de si mesmo com os demais presentes. As coisas pareciam mais leves agora.
— Eu conheço um padrão que simboliza uma união forte até o fim da vida. — Choi Yoojung tomou a palavra. Ela parecia animada por estar falando de um acessório. — Mesmo eu não sendo uma ômega, o meu pai ensinou-me a fazê-lo para o dia do meu casamento.
Min Yoongi, que também participava da roda de conversa, logo comentou:
— Hm, minha prima Miho com certeza apreciará. — Ele usou um tom malandro na voz.
— A-Alteza! — Yoojung enrubesceu. Todos riram de novo.
— Isso é muito legal, mas eu... não sei tecer nadinha — murmurou Jimin.
A matriarca Min soltou uma risada cheia, daquelas muito agradáveis de se ouvir, e virou os olhos brancos na direção dele, mas sem encará-lo.
— Ah, e quem nasce sabendo de algo? Veja-me, Sua Graça, sou uma velha cega que sabe tecer porque passou anos praticando. Eu não vejo o que faço, mas conheço as dobras do tecido, os desenhos e as texturas pelo toque das mãos que já sentiram muita coisa. Daqui a pouco estará como eu, tecendo sem ao menos olhar.
— A senhora pode me ensinar? — Os olhos de Jimin brilharam um pouco. Ele gostava de aprender coisas novas.
— Seria uma honra.
E foi assim que todos os ômegas presentes, com a matriarca Choi sendo a única beta no meio, começaram a praticar e a ensinar tecelagem a Park Jimin usando fibras de árvores semelhantes às da Árvore Sagrada, as quais foram trazidas pelos serviçais do castelo.
O menino quase se sentia participando de um grupo da universidade bastante diversificado, ou de um curso aleatório que fazemos quando queremos ocupar a mente e descobrir novos passatempos.
Não muito distante daquela roda, o príncipe Min assistia a tudo enquanto fingia estar conversando com alguns nobres e Baekho, o primo da Matriarca Choi.
Hoseok não estava por ali. O Alquimista Real não gostava muito de marcar presença em reuniões sociais e já tinha dado um presente de congratulações para Park Jimin. Sendo assim, Yoongi se sentia muito entediado naquele ambiente.
Caso a monotonia não cessasse, o príncipe iria tentar sair de fininho para ver o amado na estufa do castelo.
— Cunhado! — Ele foi chamado de repente, sendo pego completamente de surpresa.
Quando viu, Park Jimin erguia a mão para ele, convidando-o.
O príncipe se aproximou com uma curiosidade cautelosa, e sentou-se entre o ômega e a avó.
— Você também já fez isso para o senhor Jung? — Jimin apontou para os nós tortos de fibras em suas mãos. Ainda não se parecia com um colar, e nem poderia ser considerado bonito, mas já era alguma coisa.
— Eu... — Yoongi demorou tanto para responder que outra pessoa tomou o seu lugar.
— Não é bem visto um alfa tecer o colar matrimonial — disse Jeon Haerin, com sua dicção perfeita. Enquanto isso, suas mãos trabalhavam agilmente num padrão complicado de tecelagem.
— Consorte Jeon é sempre tão agradável... — ironizou a velha Matriarca Min.
Jimin já havia percebido que, quando ela e Haerin ficavam juntas em reuniões não oficiais, ambas trocavam farpas e liberavam feromônios agressivos.
Se fossem alfas, as coisas provavelmente se tornariam mais violentas.
— Por que não é bem visto? — Park quis saber.
Com um suspiro discreto, Yoongi explicou:
— Hm, durante os primeiros reinados, ainda não havia nenhuma regra como essa. Entretanto, após o final da dinastia de Jeon Siwoo, a tradição sofreu modificações.
— Meu pequeno, deixe que esta parte da história seja falada pela sua madrasta. Afinal, tudo começou com um Jeon. — Era muito raro ver uma mulher tão serena como a avó de Yoongi usar sarcasmo em suas palavras.
Todos se viraram para encarar a Consorte Haerin.
Com um pigarreio, e um quase revirar de olhos, ela tomou a fala:
— Jeon Siwoo, o meu tio avô. Creio que já citei esse nome a Vossa Magnificência. — Ela se dirigiu a Park Jimin.
Depois de pensar um pouco, o garoto percebeu que ela tinha razão.
Há alguns meses, após o julgamento do clã Choi, Jimin e Haerin conversaram sobre um rei alfa que nunca conseguiu se vincular ao seu amado ômega, então acabou virando uma pessoa paranoica e perigosa.
— É verdade, eu me lembro — disse Jimin.
— Em seu reinado, Siwoo não ficou marcado como "O Insano" à toa. Entre os absurdos que realizou, um deles foi macular a tradição dos colares matrimoniais. Ao invés de criar um acessório que simboliza a parceria entre duas almas que se amam, o meu tio avô usou fibras da Árvore Sagrada para fazer amarras a Jung Young, o seu rei consorte. Ele queria manter o ômega preso para si mesmo, para que jamais se aproximasse de outras pessoas.
Jimin engoliu em seco. Haerin continuou:
— Depois que Jung Young se suicidou, e Jeon Siwoo sumiu para sempre, seu filho mais velho, que havia presenciado todo o terror dentro da família, declarou alguns direitos para nós, ômegas, e propôs que jamais fosse permitido o casamento sem que houvesse aceitação das partes envolvidas. Para recuperar a sacralidade do colar matrimonial, também propagou-se a ideia de que são os alfas aqueles que devem esperar para serem escolhidos e, por conseguinte, serem dignos de receber tal presente. — Ela pausou rapidamente para recuperar o fôlego. Seus olhos se viraram na direção de Min Yoongi. — E essa é a razão de termos uma má impressão dos alfas que vão na contramão da tradição.
O clima da conversa imediatamente esfriou. Todos se entreolharam com sobrancelhas arqueadas e lábios selados. Min Yoongi abaixou o olhar.
Park Jimin, no entanto, abriu sua boca grande.
— Foi mal aí, mas isso não faz muito sentido. — O rapaz coçou a nuca e balançou os ombros. — Cara, a história dos reinados de Adaman é bem complexa. Eu 'tô realmente impressionado! Mas esse lance de nenhum alfa poder fazer um objeto de casamento só porque um idiota do passado deturpou completamente o significado dele é muito... Hm... sem pé nem cabeça.
Murmúrios e exclamações silenciosas. Jeon Haerin piscou os olhos enquanto se mantinha estática. O mesmo semblante de surpresa e assombro podia ser visto na face de Min Yoongi, mas em suas íris douradas uma felicidade singela também marcava presença.
— Essa regra não é justa com casais de alfas — Jimin continuou a falar —, deveria existir uma exceção nesses casos. Alguém pode propor isso?
— Vossa Magnificência tem esse poder — disse a Matriarca Min após um pigarreio. Ela não fazia questão de reprimir seu sorriso enorme.
— Ah, é sério? Então... o que a senhora acha? — Jimin se virou para Jeon Haerin, aguardando, sem nenhuma outra pretensão, pelo aval dela. Ele acreditava que era importante escutar a opinião da mãe do rei e antiga rainha consorte.
Com tal expectativa sobre si, a ômega achou melhor ceder. Na verdade, ela não tinha nada contra casais formados por alfas, sua implicância se concentrava em outro aspecto. Em outra pessoa.
— Vossa Graça é livre para modificar o que desejar.
— Então, tudo certo — Jimin esfregou uma mão na outra e se remexeu na poltrona. Sentia-se mais energético agora, talvez por estar vendo um brilho de alegria na face do irmão de Jungkook.
Yoongi e Hoseok tinham virado seus amigos, por isso ele queria que os dois fossem felizes. Era o tipo de felicidade que dificilmente poderia ser conquistada se todos estivessem no mundo real, então Jimin amou o fato de ter a capacidade para mexer uns pauzinhos ali em Adaman.
— Acho que isso aqui ficaria mais animado se estivéssemos bebendo. — O velho Jimin estava de volta.
— Mas, Sor Park, o senhor não pode beber — Yoojung sussurrou para ele, com o dedo apontado para o ventre levemente roliço que estava elevando a camisa do ômega.
— Ah, é. — Ele fez uma careta. — Hm..., mas vocês podem. Aliás, eu quero tentar fazer uns coquetéis. Cansei de ficar parado e vegetando, vou seguir o que a consorte Jeon disse mais cedo pra mim e me distrair pra valer.
Ele se ergueu da poltrona e pôs as mãos nos quadris.
— Vou continuar a tecer o colar mais tarde, senhora avó do meu cunhado — falou para a Matriarca Min, que parecia levemente perdida com o surto de serotonina do garoto, e então se voltou para um dos servos responsáveis pela cerimônia daquele dia. — Ei, ahjussi, chama aquele povo dos clãs de volta pra cá e me traz umas frutas, leite, açúcar e todo tipo de bebida alcoólica que a adega do castelo disponibilizar. Ah, e convoca também uns músicos. Eu pretendo salvar o meu chá de bebê.
Em dois tempos o castelo entrou numa súbita agitação.
Já era fim de tarde quando Jimin se enchia de bebidas não alcoólicas repletas de cafeína, enquanto embebedava os convidados com seus coquetéis de fruta, que, por sinal, estavam deliciosos.
— Eu nunca tomei algo tão saboroso! — exclamavam alguns nobres.
— Viva o Ômega de Prata!
— Viva o filhote real! — O tom embriagado já podia ser notado pelo ar.
Em determinado momento, até os mais anciãos chegaram a virar copos e copos de bebida em suas gargantas, para depois se agrupar com os demais e dançar desengonçadamente ao som dos músicos contratados. A Matriarca Min, por exemplo, era a atual parceira de dança de Yoongi. Jimin não conseguia saber quem estava mais bêbado. Talvez o príncipe estivesse.
O alquimista Jung vai ter algum trabalho hoje à noite, o garoto pensou consigo mesmo e riu.
— Posso ajudá-lo em algo, meu senhor? — Era o alfa Choi que havia lhe presenteado com o tônico de baleia, Choi Baekho. O jovem se aproximou educadamente da bancada onde Jimin preparava as bebidas e aguardou pela permissão do ômega para se colocar ao lado dele.
— Ah, sim, obrigado. — Jimin deu espaço ao convidado do Norte. — Pedi para os funcionários do castelo me deixarem fazer isso sozinho, mas agora estou me arrependendo um pouco. Nunca pensei que cortar frutas e balançar garrafas de álcool pudesse ser tão cansativo. — E de fato não era. A culpa jazia na exaustão que já se acumulara em seu âmago.
— Deixe-me fazê-lo, então. Com licença — Baekho despiu-se do sobretudo e arregaçou as mangas longas da camisa para que ficassem dobradas um pouco acima dos antebraços fortes.
Será que é coisa de alfa ter um corpo de academia?, refletiu Jimin, após reparar na anatomia bem desenhada do homem ao seu lado, e se lembrou dos braços musculosos de Jungkook, recordando-se então de todas as coisas que aquele corpo atlético era capaz de fazer.
Quase ignorou a fala seguinte de Baekho por causa dos devaneios luxuriosos que começou a ter. Maldita saudade...
— Eu nunca experimentei essa modalidade de bebida. Nossos destilados do Norte não carregam frutas consigo, mas deveriam, porque é deveras saboroso — O alfa começou a fatiar um abacaxi com facilidade.
— Ah, pra fazer isso basta ter criatividade. — E algumas aulas práticas de alcoolismo nas festas da universidade, usando meu melhor amigo como cobaia, pensou logo em seguida, com o sorriso se desfazendo. Como será que aquele doido do Taehyung está?, era estranho lembrar do amigo, pois parecia que todas as pessoas que conhecia no mundo real tinham existido numa outra vida, eras atrás.
— Esta quantidade é suficiente, senhor? — Baekho mostrou dezenas de pedacinhos de abacaxi bem cortados.
Jimin assobiou.
— Que rápido! É sim, muito suficiente. Agora só falta colocar naquela jarra ali. — Apontou para o recipiente de vidro que estava perto deles e cheio de uma mistura doce e ébria.
Nessa hora, viu tudo ficar embaçado e uma tontura lhe atravessar a mente.
A dor no peito estava de volta. Mesmo com tantas distrações, a alma ainda se lembrava do que estava faltando.
— Eu a-acho... — O garoto ficou bambo e seu corpo ameaçou cair por um segundo, mas Baekho o segurou rapidamente.
— Vossa Magnificência! — exclamou o alfa, com uma expressão assustada. Procurou ao redor por ajuda, mas todos pareciam bêbados demais para notar alguma coisa. Até os servos da cerimônia tinham sido embebedados por Park Jimin.
— Só preciso me sentar... Valeu — disse o ômega depois que Baekho puxou uma cadeira para ele. — Nossa, eu causei muitos problemas hoje.
— Minha prima elucidou-me sobre o vosso estado agora há pouco. — Baekho se abaixou com um dos joelhos dobrados sobre o chão para ficar na mesma altura que Jimin. — Vossa Magnificência não deveria pensar tão negativamente.
— Obrigado por ser gente boa comigo, mesmo depois de eu ter feito aquela cena e chorado igual a um esquisitão com o creme de baleia — murmurou Jimin, arrancando uma risadinha do alfa. — Vocês Choi devem me odiar depois de tudo.
Park não pareceu ter percebido, mas o semblante do outro hesitou. Seu olhar foi tomado por uma sombra discreta.
— Odiá-lo? Nós não... não ousaríamos — proferiu ele, abaixando o rosto sutilmente.
— Eu exilei dois dos principais membros da família de vocês e os envergonhei hoje cedo por causa de uma recaída minha. A senhorita Choi é muito legal comigo, mas eu sei que não é todo mundo assim...
Baekho abriu e fechou a boca. Ele estava medindo as palavras que diria a seguir.
Mas Jimin falou antes:
— É, é uma droga essa situação. Eu não gosto de intriga nem nada disso, e queria de verdade que a gente só seguisse em frente, principalmente a partir de agora.
— Refere-se à batalha na qual o rei se encontra, meu senhor?
— Também... — Jimin apertou a têmpora direita, aquela que mais latejava. Com as pálpebras cerradas, suas íris carmesim brilhavam por baixo delas. — Eu não sou nenhum mestre de guerra ou coisa do tipo, mas já liderei algumas pessoas em certos tipos de confrontos — Benditos sejam os jogos de RPG —, por isso 'tô bem ciente de uma coisa: Em momentos assim, se não tiver união e foco, tudo vai cair. E não cai só para a coroa, mas também para todos aqueles que seguem ela.
Baekho estreitou os olhos ao perceber o rumo que aquela conversa estava ganhando.
— O que Vossa Magnif...
— Desculpa, eu só 'tô tentando fazer um pedido... — O ômega puxou ar com força. — Quero bancar o diplomata aqui, mas não sei fazer um discurso legal... E as coisas ainda estão girando na minha cabeça.
Choi Baekho se ergueu do chão em silêncio. A aura educada e charmosa ao seu redor havia mudado.
— Sairei em busca de alguém que possa ajudar Vossa Magnificência. Acredito que a consorte Jeon Haerin ainda se mantém sóbria...
— Ah, não, ela foi uma das que mais bebeu dos meus... — De repente um barulho de taças se estilhaçando e uma gritaria alta no centro do salão — ... coquetéis.
Jimin ergueu o rosto para ver o que estava acontecendo, e ficou chocado ao se deparar com uma cena completamente fora do comum.
Jeon Haerin, que era uma das damas mais comportadas e elegantes de Adaman, estava sendo segurada por duas pessoas para que não se jogasse em cima da velha Matriarca Min e a socasse com os seus punhos cheios de anéis. Do outro lado, a avó de Min Yoongi era controlada pelo neto embriagado para que não fizesse a mesma coisa com a antiga rainha consorte.
Que grande confusão!
— Sua... sua múmia ambulante! Velha gagá! Cale essa... essa maldita boca enrugada... Ich! — Haerin se debateu, a face tomada pelo álcool e pela raiva.
— E estou dizendo mentiras, sua destrambelhada!?... Hm... — A idosa se balançou, perdendo momentaneamente o foco. Havia uma taça com drink de morango em sua mão direita. — Você é a maior culpada... por eu ter passado anos e... anos longe do meu netinho! Todos conhecem a grande... GRANDE... egoísta que é a rainha consorte Jeon Haerin!
Haerin revirou os olhos e passou a língua pelos lábios rubros.
— Ah, poupe-me! Foi um livramento para todos quando... Ich... quando ficamos bons anos sem presenciar suas alucinações pelo castelo! Eu finalmente pude dormir EM PAZ — exclamou, raivosa, com os olhos brilhando vermelhos.
— Do que elas estão falando? — Jimin, que ainda assistia a tudo, perguntou a Choi Baekho, o qual continuava ao seu lado.
— Depois que Min Hyuna se vinculou à Grande Rainha e engravidou, Wang Nara se viu obrigada a afastar o clã Min da capital real durante muitos anos para evitar um conflito político entre eles e os Jeon. Dizem que a consorte Haerin foi a principal culpada pelas intrigas que se iniciaram — explicou o alfa, encarando o ômega de soslaio com seus olhos azuis estreitados. — Infelizmente, nem todas as questões podem ser resolvidas com diplomacia. Alguns rancores permanecem e se propagam.
Jimin piscou ao sentir um tremor vindo de seu cerne.
— Com sua licença, irei me retirar agora para procurar pela Matriarca de meu clã. — Choi Baekho reverenciou Park Jimin e se afastou após dar meia-volta, num movimento conciso e frio.
Assim que Jimin ficou sozinho, outra onda de tontura atordoou-lhe os sentidos. Sua mão buscou pelo ar algo firme que pudesse usar de apoio, e encontrou a ponta da mesa. Caminhou até ela, colocando força nos braços para não correr o risco de cair com um tropeço, mas acabou deslizando até o chão quando sentiu algo vibrar ao seu redor.
Os espíritos.
Eles estavam falando novamente, sussurrando avisos numa língua estranha, repetindo freneticamente algo que parecia ser uma palavra.
O que é isso? O que significa isso??, Jimin gritou em pensamentos.
Pela primeira vez, ele obteve uma resposta.
Raposa.
— Raposa? — repetiu o garoto, sentindo-se ainda mais confuso.
— Vossa Magnificência! Pelos deuses, está passando mal! — gritaram ao redor dele.
Rapidamente a briga entre a consorte Jeon e a Matriarca Min cessou, e as atenções foram transferidas para o Ômega de Prata caído.
E como se não bastasse toda a comoção, um serviçal abriu as portas do salão de supetão, e correu por entre a multidão enquanto carregava em sua mão erguida uma carta lacrada com o selo do rei.
— MENSAGEM DE SUA MAJESTADE AO ÔMEGA DE PRATA! — gritou o servo.
Com o coração batendo a mil por hora, jorrando uma profusão de medo, alegria e saudade para todas as células de seu corpo, a ponto de se sentir como um náufrago que finalmente havia avistado um farol, Park Jimin estendeu a mão para agarrar a carta que lhe traria todos os sentimentos possíveis.
Porém, antes de ao menos tocá-la com a ponta dos dedos, ele captou um balançar, um calor pueril, um aroma sutil e encantador que com certeza o marcaria para sempre.
Jimin sentiu um movimento dentro de seu ventre proeminente. O primeiro chamado de um filho. De seu filho.
E isso não veio numa coincidência.
Algo estava acontecendo com Jeon Jungkook.
🌕🌖♛🌘🌑
Nordeste de Adaman. Algum lugar no litoral
A caravana de Seokjin ainda permanecia estacionada em meio às árvores de copas densas da floresta litorânea, sendo protegida pela neblina carregada, pelo isolamento natural que o local oferecia, e pelos alfas brutamontes do reino de Eliah que estavam ali para vigiar e seguir as ordens do homem raposa.
Se não fosse pela influência intimidadora e, ao mesmo tempo, sedutora deste último, todos eles — incluindo o cocheiro — já teriam fugido para muito longe, pois estavam apavorados.
Apavorados não com aquele lugar, e nem mesmo com a situação política na qual se encontravam, mas, sim, com a fera que se fortalecia dentro da carruagem.
Os feromônios de Taehyung ficavam mais intensos a cada novo dia, e seus rugidos de dor começavam a ser substituídos por rosnados de ira. Pelo balançar da carruagem, e pela maneira como as trancas das portas de aço começavam a ser retorcidas, estava claro que, em breve, elas não seriam suficientes para mantê-lo preso.
A única criatura capaz de aquietá-lo completamente era Seokjin.
Com sua fala suave e repleta de magia, ele se aproximava do garoto amaldiçoado sem hesitar e tocava-lhe a face para transferir-lhe feixes de consciência e racionalidade. Nessas horas, Taehyung se calava e voltava a agir como uma pessoa normal. Seus olhos, antes contraídos e assassinos, se abriam num tom castanho atraente e incapaz de ferir alguém. Sua voz, antes tomada por uma bestialidade ameaçadora, surgia grave e melódica por entre os lábios rubros, tão bela quanto o seu dono.
Curiosamente, não havia nenhuma razão clara para Seokjin manter a lucidez do garoto amaldiçoado durante algumas horas do dia. Aos planos do homem raposa, bastava ter a certeza de que Taehyung estava sob controle, obedecendo todos os seus comandos e ordens, e fazendo um trabalho bem feito. Contudo, sempre que a monotonia batia à porta, Seokjin caminhava até a carruagem e passava horas lá dentro, conversando sobre o mundo real com o outro jovem.
Em determinado momento, ele chegou a tirar o garoto da prisão de aço e o levou para a praia, bem distante dos outros membros da caravana, bem longe de qualquer empecilho irritante.
Ficavam ali, na areia congelada, sentados num tronco caído de uma palmeira morta e debaixo de um céu cinzento.
— Que cenário mórbido — Taehyung comentou certo dia.
Por estar deitado no colo de Seokjin, recebendo a magia dele pelo toque das mãos em sua cabeça, o garoto mantinha os olhos virados para cima, encarando as nuvens escurecidas.
— Eu gosto disso — comentou o homem raposa. — Combina com o meu estado de espírito.
Taehyung riu e virou o olhar para encarar o semblante inexpressivo do outro homem. Achava interessante a maneira como os lábios carnudos de Seokjin naturalmente carregavam um sorriso, apesar de tudo, e como as íris douradas refletiam luzes místicas, feito estrelas piscando a milhões de anos-luz.
— Quando você conseguir completar o seu plano e quando nós sairmos deste lugar, poderemos virar amigos no mundo real? — perguntou, sem desviar os olhos.
Seokjin abaixou a cabeça e pela primeira vez reparou que estava sendo observado pelo garoto. Arqueou uma sobrancelha e quase riu.
— Você quer virar o meu amigo mesmo depois de tudo isso?
— Claro, ué...? O que 'tá acontecendo com a gente não foi escolha nossa, certo? Estamos juntos nessa... — Taehyung balançou os ombros e exibiu um sorriso quadrado que mostrava todos os seus dentes brancos, inclusive os caninos pontudos que agora faziam parte dele.
O semblante do homem raposa ficou levemente sombrio após escutá-lo.
"Não foi escolha nossa", não, foi minha..., pensou. No entanto, ao invés de satisfação, ele sentiu o amargo gosto da culpa e da vergonha, e engoliu em seco.
— Casa 15, rua Kyonggidae-ro, bairro Seodaemun-gu em Seoul. Se um dia for visitar a minha casa, me leve flores — disse num pigarreio, quase imperativo.
Taehyung sorriu de novo, dessa vez gargalhando.
— Okay, hyung.
Seokjin o encarou um pouco atônito, e então voltou o olhar para cima, na direção do mar congelado. A ventania gélida arrastava suas mechas e os pelos de suas caudas com muita força, mas ele não se sentia incomodado com a baixa temperatura.
Taehyung, que ainda não tinha parado de observá-lo, se perguntou o que poderia estar passando na mente daquele homem tão distinto. Ele era como um poço de segredos, sempre falando só o necessário sem jamais expor a si mesmo, sempre analisando tudo em silêncio e calculando os próximos passos como se sua existência dependesse disso.
E comprovando a sua silenciosa reflexão, ele viu Seokjin tomar fôlego para falar sobre o assunto que o movia todos os dias.
— É incrível como a história está se repetindo, mesmo que eu tenha adiantado alguns acontecimentos. — As íris do homem raposa estavam em chamas mais uma vez, como a fornalha de uma máquina acesa. Falar sobre os seus planos o transformava. — A batalha no Sul, a separação do protagonista de seu par romântico... Essas coisas originalmente já iriam acontecer, mesmo se eu tivesse movido nenhuma peça. Mas não tenho tempo para esperar que a narrativa do livro se desenrole sozinha, e também preciso tomar cuidado com isso.
— Por quê?
Taehyung não especificou sua questão, então Seokjin aproveitou para responder somente aquilo que mais lhe deixava à vontade.
— Preciso tomar cuidado porque não posso permitir que ela continue seguindo os mesmos passos da história original. Se isso acontecer, o final feliz do protagonista não vai mudar. E é vital para nós que ele mude... — A mandíbula do homem raposa se contraiu. — Em determinado ponto precisaremos fazer algo que modifique completamente os rumos do livro. Por isso estou contando com o nosso próximo passo. Por isso conto com você.
O garoto em seu colo ficou momentaneamente quieto, num silêncio pensativo, até se virar e fechar os olhos profundos.
— As pessoas que você quer que eu ataque, eles... Eles realmente são apenas personagens, não é? — O tremor na voz de Taehyung era bastante perceptível.
— Sim, exatamente... — respondeu Seokjin, acalmando-o. No entanto, o homem excluiu da conversa as suas suspeitas em relação ao Ômega de Prata. Ele tinha certeza de que havia matado a primeira versão do tal personagem, então o fato de que existia uma segunda versão levava direto para a hipótese de que, talvez, outra pessoa do mundo real estivesse ocupando aquele espaço.
E essa pessoa provavelmente devia estar tão perdida quanto Kim Taehyung. Por isso, nada melhor do que livrá-la daquele lugar, não é?
— Ainda falta muito para nós agirmos? — o garoto ainda perguntou, remexendo-se no colo da raposa.
— Não... — Seokjin tirou uma mecha de cabelo da frente dos olhos de Taehyung e o observou de cima a baixo. — Em poucos dias você estará pronto.
E assim como foi dito, em poucos dias o homem raposa experimentou o sabor de ter calculado corretamente.
Em determinada noite, debaixo de uma chuva litorânea que mais se parecia com uma nevasca, derrubando fractais de gelo e água praticamente congelada, a carruagem que prendia Taehyung ficou perturbadoramente silenciosa.
Nenhum uivo, nenhum balançar, apenas a densa camada de feromônios de alfa cobrindo toda a área ao redor. Um perfume forte e absolutamente inebriante, um odor que fez todos os membros da caravana se afastarem tremendo de medo. Todos, exceto, é claro, Seokjin.
O homem raposa adentrou a carruagem como fizera todas as outras vezes. Ele não era afetado pelos feromônios, pois não se tratava de um lupino, porém conseguia senti-lo e sabia interpretá-lo.
Quando avistou o garoto de cabelos castanhos sentado no chão, com os braços estendidos sobre os joelhos dobrados, a cabeça inclinada para baixo, e o brilho escarlate no olhar, Seokjin sorriu, satisfeito.
— Ótimo, muito bem... Estamos no caminho certo — disse ele, segurando o queixo de Taehyung com dois dedos da mão direita. — Mas, pelo visto, mesmo estando completamente formado, você ainda consegue manter a forma humana. O antigo alfa amaldiçoado não conseguia, ele já tinha perdido totalmente a humanidade dentro de si...
Seokjin deu de ombros.
— Menos mal. Seria um desperdício se você ficasse daquele jeito horrível.
Nessa hora, ele foi surpreendido ao ter o pulso agarrado fortemente pela mão de Taehyung.
— Hm? — Arqueou uma sobrancelha.
A pele do garoto parecia quase febril sobre a sua.
Após um rosnado baixo, Taehyung saltou em cima de Seokjin, derrubando-o e prendendo-o contra o piso da carruagem. O garoto ficou ajoelhado sobre ele durante um longo minuto, encarando-o com um olhar ébrio e selvagem, respirando fundo como se estivesse buscando um cheiro, um perfume específico no homem raposa.
Assim que se deu conta, Seokjin soltou uma risada cheia de escárnio.
— Ah, claro... Neste mundo, as pessoas viram animais e entram no cio. E você, que é um caso especial, com certeza iria agir assim em algum momento. — Revirou os olhos. — Esqueci desse detalhe.
Ele então viu Taehyung inclinar o próprio corpo, apoiando-se com os braços fortes estendidos ao seu redor, e sentiu quando o menino roçou o nariz por toda a lateral de seu pescoço, absorvendo o aroma da raposa enquanto a mantinha debaixo de sua prisão corporal.
Seokjin fechou os olhos e comprimiu os lábios assim que foi cortado por ondas de arrepio.
— Taehyung, eu não sou um ômega. Você não vai encontrar nada de interessante por aqui — murmurou.
— ... Eu quero o hyung... — A voz do rapaz saiu num grunhido manhoso. Taehyung colocou a língua para fora e começou a lamber todo o comprimento da clavícula do homem raposa, abrindo a camisa dele com puxões grosseiros enquanto arrastava seus dedos longos pelo peito e abdômen alheio.
Estava sedento, completamente inebriado pelos seus novos instintos.
Seokjin, sob tamanha selvageria, suspirou.
— Você mataria uma pessoa comum estando nessas condições, principalmente se ela for um ômega. O seu personagem foi feito para fazer exatamente isso... — disse, ainda sem se mover.
Ele ergueu uma mão para acariciar o topo da cabeleira de Taehyung e penteou algumas mechas castanhas com certo carinho.
Em seguida, prendeu vários fios entre seus dedos e puxou a cabeça do garoto para perto.
Com os dois agora estando face a face, Seokjin sibilou:
— Mas eu não sou uma pessoa comum, e nem mesmo um ômega. — Seus olhos laranjas chamuscavam, as nove caudas serpenteavam pelo chão.
Ele se inclinou para encostar os lábios na orelha de Taehyung.
— Eu não vou morrer, então faça o que quiser, amigo.
E como se tivesse lançado óleo num incêndio, Seokjin se viu sendo empurrado novamente contra o chão de madeira da carruagem, sem nenhuma gentileza, e testemunhou o momento em que suas roupas foram rasgadas e seu corpo foi sugado de cima a baixo pelos lábios macios e poderosos do garoto amaldiçoado.
As mãos fortes de Taehyung agarraram as nove caudas do homem raposa, paralisando-as sob seu poder, enquanto usava a língua para desfrutar daquilo que o outro carregava entre as pernas carnudas.
Seokjin estremeceu e cerrou os dentes para não gemer quando começou a ser absorvido pelo outro de forma tão grosseira, e xingou alto quando Taehyung largou o seu membro ereto apenas para morder a região interna de suas coxas com os caninos pontiagudos dele.
Percebeu que as preliminares acabariam bem ali quando o garoto ergueu o corpo e se colocou entre as suas pernas abertas. Arfando, grunhindo e com um olhar fora de foco, Taehyung o preencheu sem piedade, enfiando-se dentro da passagem estreita e oferecendo estocadas intensas que poderiam rasgar uma pessoa normal.
Ele era muito, mas muito forte. Seus braços tensionados dilatavam as veias enquanto seu quadril movia-se a todo o vapor. Seokjin não suportou mais e disparou um gemido entrecortado, com os olhos se revirando, as caudas batendo contra o chão e a coluna se retesando.
O cheiro dos feromônios era tão denso ao redor deles que parecia querer sufocar alguém. E o homem raposa realmente quase foi sufocado por aquilo, com sua mente perdendo a consciência aos poucos, sucumbindo diante de tamanha força e influência.
— Que perigo... — murmurou com um sorriso torpe. Suas íris douradas voltaram a brilhar, e isso estilhaçou todo aquele manto de aromas de alfa que tentava arrebatá-lo.
Agora lutavam de igual para igual naquele chão desconfortável, entre sons lascivos e movimentos sensuais.
Enquanto era fodido, Seokjin se inclinou para cima e envolveu Taehyung com os braços, ficando perto o bastante para que o hálito de sua boca sacudisse as mechas onduladas do cabelo dele.
— Partiremos amanhã... Hm... — Gemeu contra o ouvido do garoto. — Você está mais do que pronto.
Continuaram naquela batalha sexual pelo resto da noite, até o fim da nevasca, até o chão ser coberto por uma camada grossa de gelo embranquecido.
~♛🌕🌖♛🌘🌑♛~
#LoboDePrata
Antes de ir para o próximo capítulo, por favor, deixe o seu ⭐VOTO⭐
Vou aproveitar para apresentar o novo personagem que apareceu durante o "chá de bebê" do Jimin: Choi Baekho. Lembrem-se dele, pois voltaremos a vê-lo!!
Ele é um integrante do NU'EST, assim como o Choi Ren. Seu nome verdadeiro é Kang Baekho, mas o modifiquei para que fizesse mais sentido na história.
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