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|12|♛|Tempestades Invernais|

FELIZ ANO NOVO ATRASADO, BEBÊS💜

Meus guerreiros lupinos, vocês estão bem de saúde? Espero que sim... Fiquei um tempo longe, mas é porque, quanto mais avanço nesta história, mais sinto que devo entregar o meu melhor e as minhas melhores ideias, por isso acabo me tornando lenta na hora de escrever...

No capítulo de hoje ainda teremos muita felicidade, casais em momentos românticos, situações fofinhas e ótimas para aquecer os seus corações (Sem falar num HOT, hehe). Aproveitem, sério skskskskksk

Deixe o seu ⭐VOTO⭐, use a tag #LoboDePrata e, por favor, LEIA AS NOTAS FINAIS, obrigada!!

[O link da playlist da fic está no meu mural, @K_M_R_Leda]

💜BOA LEITURA💜

♛|Tempestades Invernais|

Um mês se passou como uma garoa de verão. Mas, ao contrário do calor úmido, o tempo trouxe consigo um frio congelante e uma calmaria estranha que parecia tão frágil quanto uma ponte de vidro.

Por conta dos mistérios e instabilidades que vinham do Sul, as colheitas foram realizadas antes do tempo auspicioso para iniciar o armazenamento de ração que duraria o inverno inteiro — ou até mais do que isso, se dependesse da situação política entre Adaman e Eliah.

Os cidadãos do reino já estavam cientes do que acontecia em tempos de guerra, pois, há menos de uma década, Wang Nara arrastava suas tropas pelo Norte e Oeste, conquistando terras inimigas e trazendo glórias para a coroa e seus súditos. Porém, fazia séculos que o cheiro do aço da cavalaria real se via tão presente nas fronteiras sulistas.

A primeira legião do exército de Sua Majestade, o rei de Adaman, se aglomerava ali numa medida de precaução. A qualquer instante, Jeon Jungkook poderia ordenar uma retirada ou um avanço feroz contra as terras de Eliah.

— Tomaremos os vilarejos da fronteira, sem grandes traumas, porque naquele lugar só moram civis. — Jungkook apontava para o mapa entalhado na superfície prateada da grande Mesa de Prata, organizando os passos que daria quando chegasse ao campo de batalha.

Com as duas mãos cobertas por luvas de cor igual à do sobretudo negro militar que vestia — traje este que destacava os músculos e ângulos de seu corpo atlético —, ele movia peças que simbolizavam os seus soldados e as cidades, como se estivesse manipulando um jogo de tabuleiro. Os demais presentes naquele salão observavam atentamente cada decisão do monarca. Além dos patriarcas e matriarcas dos principais clãs de Adaman — e o General Kim Namjoon representando tanto a sua casa quanto o seu posto —, também estavam ali o príncipe Min Yoongi e o Ômega de Prata, Park Jimin.

— O foco principal é fortalecer as tropas para que aguentem o que virá adiante... — prosseguiu Jungkook, movendo uma peça até outra que se parecia com um cubículo cheio de torres. — A primeira cidadela que encontraremos em Eliah. Ela nos separa da passagem que leva direto à capital deles.

— Cidadela de Hangni. Muito fortificada. Precisaremos de resistência para conseguirmos invadi-la. — O general Kim fazia suas observações. Ele também usava típicas vestimentas militares, cheias de emblemas em ouro e prata que exibiam os seus feitos heróicos em lutas anteriores.

— Infelizmente ignorá-la não é estratégico e nem é possível, pois em Hangni reside ao menos dez por cento das tropas do rei de Eliah. Entraremos em combate de um jeito ou de outro — acrescentou Jungkook, passando uma mão enluvada pelos cabelos negros que já estavam grandes o suficiente para conseguirem ultrapassar a altura da mandíbula.

— Sei que o solo eliahno é tão podre quanto a linhagem real, cheio de pântanos e constantemente coberto por neve. Eles tirarão vantagem disso para desestabilizar o vosso exército, Majestade — disse Choi Yoojung, impondo-se orgulhosamente como uma verdadeira matriarca ao anexar uma informação importante à discussão.

Como sempre, ela se portava com toda a elegância de uma madame do clã Choi, carregando jóias azuis pelo corpo inteiro, e um vestido da cor de safira que reluzia ao mínimo movimento.

Quando Yoojung terminou de opinar, os outros acenaram com a cabeça, concordando totalmente com suas palavras.

Numa batalha, tudo pode definir a vitória. Não adianta ter o exército mais forte do mundo se ele não está preparado para os obstáculos de sua luta, para o clima do ambiente inimigo, para as armadilhas que podem vir a surgir e etc.

Mil homens tolos podem ser vencidos por um único mestre, afinal de contas.

Acontece que a maior parte da primeira legião do rei era formada por soldados do clã Wang, os Lobos da Terra. Sendo assim, os olhares ao redor da Mesa de Prata se voltaram para a matriarca Wang Jena.

A tia do rei analisava a situação atentamente, aprovando em silêncio cada palavra discutida até aquele momento. Diferentemente das demais mulheres presentes, ela acompanhava Jeon Jungkook e o general Kim ao usar trajes militares, com ombreiras pontudas de ferro típicas dos guerreiros de sua família e uma malha de aço debaixo do tecido grosso verde que desenhava o seu corpo forte e cheio de curvas femininas.

O seu silêncio quebrou no instante seguinte:

— Nós, os Lobos da Terra, podemos atravessar pântanos e outros solos ruins com facilidade. Imagino que Sua Majestade já esteja contando com esse detalhe, é claro. — Os olhos esmeraldas da mulher buscaram a aprovação do sobrinho.

— De fato estou. — Jungkook balançou a cabeça, sem tirar o olhar das peças da mesa. — Mas a cautela é sempre necessária. Afinal, estamos na época mais fria do ano.

— Avançaremos devagar por conta das roupas pesadas cheias de preenchimento para promover o aquecimento — comentou Kim Namjoon. — Já que não poderão se transformar em lupinos, que se esquentam naturalmente com a densa camada de pelos, os betas serão os que mais irão sofrer.

A análise foi feita de maneira fria, mas não tão indiferente quanto deveria ser para algo dito por um general. Querendo ou não, Kim Namjoon não era capaz de olhar para os soldados como meros peões de batalha.

— Sinto uma turbulência no ar, Majestade... — A voz ruidosa da velha Matriarca do clã Min de repente ecoou pela sala, reverberando pelas paredes de ferro e prata.

Algo no tom dela sempre chamava a atenção especial de Jimin, e dessa vez não foi diferente. O garoto, que estava num dos cantos da sala por escolha própria, se virou para observá-la, para analisar os olhos brancos e cegos, o corpo pálido e curvado, e os cabelos claros da anciã que estavam arrumados com flores brancas e amarelas. Aquela senhora sempre se destacava dos outros nobres, pois se parecia com uma ninfa da natureza, e tinha uma aura peculiar bastante distinta. Nem mesmo Min Yoongi, que era o seu neto, emanava feromônios tão únicos.

— Diga, matriarca Min. Sua sabedoria sempre foi uma das maiores armas de minha falecida mãe alfa — disse Jungkook. Ele parecia realmente sério, e essa seriedade fez com que todos ficassem atentos às próximas palavras da idosa.

Os olhos cegos dela de alguma forma encararam um ponto específico da mesa.

— Cada vez que Sua Majestade cita a capital de Eliah, sinto um frio na espinha... Na verdade, tudo ao redor dos eliahnos me parece envolvido por uma aura estranha, como se não estivéssemos lidando com algo natural. Eu aconselho que suas tropas avancem com cuidado redobrado e prestem atenção no inimigo, pois vejo uma sombra escondida por trás dele.

— Uma sombra, avó? — O príncipe Min franziu o cenho. — Poderia haver alguém guiando as ações do rei de Eliah?

— Talvez seja algo mais complexo do que isso — disse ela, num murmúrio trêmulo.

Park Jimin silenciosamente captou a tensão que pairava ao redor da matriarca Min e a internalizou enquanto refletia sobre todas as informações que havia obtido no último mês sobre os conflitos entre Eliah e Adaman. Ele tinha perdido as contas de quantas vezes havia relido do livro de sua irmã caçula em busca de algo que pudesse lhe servir de pista para o que viria a acontecer no futuro daquele mundo. O rapaz, contudo, não obteve frutos. Nem mesmo uma pequena dica sobre quem seria o vilão principal da história pôde ser encontrada, o que era extremamente frustrante.

Tudo o que Jimin sabia era o básico oferecido pelos livros de história do reino de Adaman, a clássica narrativa que existia em qualquer outro lugar: Conflitos por território, riquezas e comércio. Nada surpreendente o bastante a ponto de poder provocar, no futuro, um acontecimento marcante num universo fantástico como aquele, que era cheio de monstros e criaturas divinas iguais ao Ômega de Prata.

Com isso em mente, o rapaz se manteve pensativo e calado durante toda a reunião ao redor da Mesa de Prata, a última que ocorreria antes da viagem para o Sul dali a três dias.

Jeon Jungkook esteve notando o silêncio do ômega o tempo todo, mesmo quando a sua atenção parecia tão focada nas estratégias militares ditas por Kim Namjoon.

Assim que as discussões chegaram ao fim, e todos se retiraram da grande sala com despedidas educadas e reverências profundas ao rei e ao Ômega de Prata, Jungkook caminhou devagar até ficar diante de Jimin e aguardou por alguma reação vinda do outro. Mas o ômega parecia bastante disperso e profundamente imerso em pensamentos. Seus olhos vermelhos enxergavam o horizonte sem realmente vê-lo.

Sendo assim, o rei de Adaman inclinou-se e rapidamente depositou um selinho nos lábios do amante, finalmente tirando-o do transe.

— Que susto — murmurou Jimin sorrindo pela primeira vez naquela manhã. O perfume de rosas que sempre o cobria começou a ficar mais forte.

— Tive que recorrer a isso para poder trazê-lo de volta para mim. — Com dois dedos, Jungkook colocou uma mecha dos cabelos do ômega atrás da orelha dele. — Você esteve distante a reunião inteira.

— Eu estava prestando atenção. É só que...

Jimin comprimiu os lábios.

— Está preocupado — concluiu o rei.

— Sim, com certeza. Você não está? Aquilo que a avó do seu irmão falou foi muito sinistro, Jungkook, e vai por mim... ela pode estar MUITO certa.

— Sei disso, e sim, tenho minhas preocupações. Preocupo-me também com você indo me acompanhar nessa luta.

— Nem vem, Jungkook. Eu não virei esta coisa chifruda pra ficar enfurnado no seu castelo. As tábulas da sua Árvore Sagrada literalmente dizem que eu tenho que te acompanhar nos momentos mais difíceis... — O ômega cruzou os braços.

Jeon riu anasalado e concordou com um aceno. Sua mão então se ergueu para tocar os chifres de marfim de Park, que agora estavam um pouquinho maiores e com mais curvas. Ele sentiu a textura cheia de relevo, a maciez das flores vermelhas perfumadas e a diferença de tamanho de uma haste para a outra — consequência da quebra de uma delas trinta dias antes.

— Mesmo que não tivéssemos a desculpa das tábulas, eu ainda me veria sendo obrigado a levá-lo para todos os cantos do mundo comigo... Sou incapaz de me manter longe de ti por muito tempo — murmurou, aproximando a testa da de Jimin e inspirando fundo o cheiro dele.

O outro rapaz fechou os olhos e fez o mesmo, enchendo os pulmões com o perfume de Jungkook.

Sempre que eles ficavam sozinhos aquilo acontecia. Parecia até que havia ímãs puxando os dois, e a força magnética ao redor deles era tão grande que toda e qualquer razão acabava sendo obliterada.

— Não sei como Wang Nara aguentou ficar tanto tempo longe de Min Hyuna enquanto liderava as legiões pelas fronteiras. O vínculo simplesmente nos deixa insanos... Agora vejo que minha mãe alfa era uma das pessoas mais fortes que já existiram — As palavras de Jungkook chegavam aos ouvidos de Jimin como ronronares melódicos, acariciando seus tímpanos e provocando arrepios em diversas áreas de seu corpo.

Às vezes eles mergulhavam num momento de intensidade que chegava a causar leves tremores em Park. E naquele instante não foi diferente.

— Por que está tremendo? — Jeon notou o olhar vibrante do ômega.

— É só que... Hehe, às vezes acho que já me habituei com esse jeito de sentir as coisas neste lugar. Mas aí, em horas como esta, vejo que não 'tô nem um pouquinho acostumado.

— Poderia explicar para mim? — Os olhos negros do rei encaravam o garoto com um brilho atordoante.

Jimin então pegou uma mão de Jungkook e a colocou sobre sua bochecha.

— É como se eu sentisse a sua pele mil vezes mais do que se fosse a pele de qualquer outra pessoa. Tudo que te envolve acaba sendo multiplicado, entende o que eu quero dizer?

Numa resposta afirmativa, Jungkook balançou a cabeça. Ele definitivamente compreendia cada palavra.

Jimin prosseguiu:

— Esse tipo de coisa não rola no meu mundo. Definitivamente não estou acostumado com tanto...Acho que é por isso que tremi, haha, que vergonha — murmurou o rapaz, sua face enrubescia.

— Não tenha vergonha de mim. — O alfa acariciou a bochecha dele e sorriu, achando-o absolutamente fofo. — Mas, Jimin, como as pessoas de seu mundo sabem que encontraram a alma gêmea?

— A gente não sabe. Amor verdadeiro, amor eterno, alma gêmea... Isso tudo só acontece em — Jimin hesitou momentaneamente — ... em livros de contos de fadas.

O tom de voz dele diminuiu enquanto terminava de explicar.

Ainda que tivesse passado o mês inteiro matutando sobre estar num livro, os seus momentos de reflexão se concentraram na ideia de haver uma guerra e em todas as consequências que ela acarretaria ao futuro daquele mundo. Park tinha se esquecido de detalhes menos gritantes como o fato de que estava apaixonado pelo protagonista de uma história, uma pessoa irreal, e de que todas as coisas que o ligavam a ele eram tão irreais quanto.

Talvez um dia tudo aquilo cessasse. Pensar nisso começava a se tornar angustiante para o rapaz.

— Você está preocupado novamente — murmurou Jungkook, encontrando o olhar opaco de Jimin. Ler as expressões um do outro estava começando a se tornar algo natural para os dois.

— É só uma paranoia da minha cabeça, deixa pra lá. — Jimin balançou uma mão no ar como se tentasse dispersar aquela conversa. — Enfim, terminando de responder a sua pergunta... Não sabemos quando encontramos a pessoa certa, nós só sentimos um grande interesse por alguém e então passamos um tempo com ela antes de decidirmos nos casar ou fazer algo assim.

— "Um tempo"? Quanto tempo?

— Depende. Começa com um namoro, às vezes dura dois anos, três ou até mais do que isso. Quando temos certeza de que queremos construir uma família, aí então casamos. Mas ultimamente as pessoas andam evitando o casamento.

— Por quê? — Jungkook parecia sinceramente curioso.

— Ah, bem... Tem gente que considera o casamento uma instituição falida. E eu até entendo um pouco, porque a maioria dos casamentos que conheço estão perto de acabar ou acabaram bem mal. Meus pais são uma das poucas exceções. — Jimin deu de ombros. — É aquela coisa... Depois de dizer Sim no altar, não existe o "E eles viveram felizes para sempre", a vida continua e os problemas também.

— Quantos pensamentos negativos, meu bem...

— O quê? Não vai me dizer que depois que as pessoas se casam neste lugar, elas nunca mais entram em crises?

Jeon chacoalhou a cabeça com os olhos fechados.

— Crises sempre virão. Baixos existem para que os altos sejam adequadamente agraciados. Como adoraríamos as estrelas se não houvesse a escuridão da noite? Cabe a nós sabermos dar atenção àquilo que realmente deve recebê-la.

Numa nova troca de olhares, Jimin percebeu que havia uma galáxia nas íris negras do alfa. Talvez fosse o reflexo da luz que atravessava as janelas ovais, ou talvez fosse o brilho natural que aquele rei sempre carregava consigo.

Cabe a nós sabermos dar atenção àquilo que realmente deve recebê-la. O ômega decidiu guardar aquela mensagem em seu peito.

— E aqui? Como são os casamentos deste mundo? — Jimin quis saber, sua mão tocando as peças dispostas sobre a mesa prateada enquanto ele se movia devagar pelas extremidades.

Jungkook o acompanhou ao se colocar logo atrás dele, apoiando o queixo na curva do pescoço alheio e irradiando calor.

— Qual o detalhe que mais lhe interessa? Os rituais? O tempo de duração dos matrimônios?

Park absorveu o cheiro de mel do hálito do rei e sorriu.

— Rituais? Por acaso aqui as pessoas dançam ao redor de uma fogueira e sacrificam uma galinha enquanto trocam votos de casamento, ou algo assim?

Jungkook se curvou ao soltar uma gargalhada.

— Que exemplo mais peculiar de ritual, Park Jimin!

— Então como é?

— Bem... — O rei moveu a mão até as peças que o ômega tocava e as organizou num círculo, colocando duas no centro. — Vestidos em roupas tradicionais de matrimônio, o casal se envolve numa dança cerimonial igual à Ode Alfa que dançamos no baile de minha noite luar. A troca de votos é feita com o testemunho de familiares e amigos mais íntimos, e os dois amantes não sacrificam galinhas... — Os lábios dele se curvaram num sorriso divertido. — Na verdade, eles trocam colares feitos com fibra da Árvore Sagrada, que é a única matéria que não some quando nos transformamos em lupinos.

— Uau! Isso é muito simbólico e... bonito.

Jimin sentiu uma brisa quente pairar sobre seu pescoço quando Jungkook soltou uma risada anasalada.

— Achará ainda mais bonito quando descobrir que os casamentos entre dois indivíduos vinculados costumam durar a vida toda — o rei acrescentou num sussurro cheio de ambiguidade.

— Vocês levam a sério essa história de "Até que a morte nos separe".

— Eu adoraria levar a sério com você.

A face de Park adquiriu o mais vermelho dos tons. Ele ficou tão surpreso com aquela proposta que a sua mão acabou escorregando sobre a mesa e derrubando as peças.

— Ju-Jungkook... — balbuciou enquanto tentava desviar o olhar para longe do semblante bonito e magnético do alfa.

— Hm? Estou aqui — disse o rei, como se a pronúncia de seu nome pelo outro tivesse sido uma convocação. Ele inconscientemente movia Jimin contra a mesa, cercando-o.

— E-espera, você não pode sair dizendo coisas tão... Tão fortes do nada. Casamento é tipo... muito sério. — Uma pequena gota de suor desceu pela têmpora esquerda do rosto do ômega.

Enquanto ele falava, Jungkook roçava o nariz pela sua clavícula coberta com a renda branca da camisa, e fazia isso até subir ao seu pescoço nu. A partir dali, o alfa afastou o colarinho da vestimenta do ômega, desatando alguns nós que o mantinha fechado, para poder exibir a pele pálida que ia até os ombros delgados.

— Ei, nós estamos na sala de reunião da sua... co-corte... hmm. — Jimin quase revirou os olhos quando sentiu os lábios do outro rapaz depositando pequenos beijos sobre a marca desenhada naquela região, que fora deixada ali durante o primeiro cio dos dois.

— Ninguém ousaria entrar aqui neste momento. — A voz de Jungkook ecoou numa profusão de feromônios de alfa. Alfa dominante, Jimin soube depois. Do tipo que era tão forte a ponto de intimidar e afastar qualquer um que tentasse se aproximar. Até mesmo betas, indivíduos que não conseguiam sentir aquele cheiro denso e atordoante, eram capazes de captar a pressão no ambiente.

— Ca-calma aí, Jungkook... — Jimin balbuciou num arquejo, seu corpo se debruçando sobre a mesa enquanto o rei jogava para longe as peças que estava em cima dela. As íris de seus olhos carregavam o escarlate da excitação.

O ômega estava a um passo de ceder todo o seu corpo para ele.

Porém, não o fez por razões um pouco... constrangedoras.

— TEMPO! — Jimin juntou as mãos na frente do rosto para formar um "T".

Jungkook paralisou num sobressalto e o encarou sem entender o que estava acontecendo.

— Jimin?

— Olha só, então... É melhor não fazermos nada agora... aqui, neste lugar, saca? — O ômega empurrou o alfa devagarinho enquanto gesticulava nervosamente e dava tapinhas no ombro dele. — Vamos deixar para depois, hehe...

O garoto pulou da mesa e começou a andar de costas em direção à saída.

Estreitando os olhos e inclinando o rosto para o lado por achar aquela atitude do outro um pouco esquisita, Jungkook rapidamente caminhou até parar diante dele e segurou suas duas mãos.

— Jimin, você não quer fazer amor comigo? — A pergunta foi direta e acertou o ômega em cheio.

— Ah, HAHAHAAA... eeeer... — Jimin engoliu em seco e encarou tudo o que havia de presente na sala, todos os detalhes e objetos presentes ali, até mesmo os pequenos insetos que voavam e atravessavam as janelas, exceto Jungkook. — E-eu 'tô um pouco... muito focado na viagem que vai rolar daqui a três dias, entende? Preciso, hm, arrumar as minhas coisas. Não consigo pensar em fazer mais nada.

— Não consegue pensar em fazer mais nada? — As sobrancelhas do rei se arquearam para cima, incrédulas. O nariz dele inspirou fundo todos os perfumes que Park Jimin emanava. Nada poderia fugir de seu faro apurado. — Você está excitado, meu bem...

O ômega paralisou, depois ficou cabisbaixo e suspirou profundamente.

Claro que ele estava excitado! Um rio praticamente havia se formado no meio de suas pernas desde o instante em que Jungkook o tinha posto contra a Mesa de Prata.

— Mas que droga... — murmurou o garoto, dando a impressão de que estava com raiva. Porém, logo em seguida, ele começou a fungar. Assim que voltou a erguer o rosto, o rei pôde ver o seu semblante dramaticamente triste. — É CLARO QUE EU QUERO TRANSAR CONTIGO, JUNGKOOK! Não fazemos isso há dias...

— Ah, bem... Os meus horários nunca parecem bater com os seus por conta das reuniões. Sempre o encontro dormindo quando volto para o quarto à noite... E também você anda um pouco distante. — Jungkook agora aparentava estar triste.

— Olha, na verdade, eu ando dormindo direto. Não é culpa dos seus horários... — Jimin coçou a nuca, sentindo-se sem jeito. — E sobre eu estar distante, é que... Hmmmm. — Ele bufou e depois choramingou. — Eu estou com vergonha.

— Vergonha?

— Sim, de fazer sexo.

Aquela explicação só deixou Jeon mais confuso do que já estava.

— Sente-se constrangido ao fazer amor comigo?

— Não é vergonha de você, aaargh! São aquelas malditas flores! — Jimin estava frustrado e queria chorar de raiva. — Eu não consigo controlar elas direito, então sempre ficam aparecendo quando eu... Quando sinto prazer. Isso é muito vergonhoso porque, toda vez que nós fazemos sexo, eu literalmente marco o local com um jardim. E o pior é quando os pássaros aparecem! Todo mundo acaba descobrindo, Jungkook... Eu só quero enfiar a minha cara no chão quando isso acontece.

A tristeza na face do rei se dissipou no momento em que ele compreendeu toda a situação. Ela foi substituída por um brilho de diversão e alívio, e por um sorriso apaixonado.

Jeon então puxou o ômega para abraçá-lo, afagando os seus cabelos prateados com os dedos enluvados.

— Agora compreendi tudo... Perdoe-me por não ter me dado conta antes, você deve ter se sentido muito desconfortável.

— Você não sente vergonha quando falam sobre a gente por aí?

— Eu realmente não ligo. — O alfa deu de ombros. — Adoro os seus jardins, adoro ser marcado por eles.

As bochechas de Park esquentaram. Ele conteve um sorriso bobo e envolveu o parceiro com seus braços.

— E agora? O que eu vou fazer, Jungkook?

— Acredito que tenho uma alternativa para nós. — O monarca sussurrava como se estivesse contando um segredo.

— An? Como assim?

— Hm... Eu pretendia esperar até que estivesse completamente construído, mas em breve nós sairemos de Adaman e nos encontraremos em perigosas terras estrangeiras... — Jungkook enrolou a mão entre os fios prateados da nuca de Jimin, puxando-os devagar, numa provocação cheia de calor. — Preciso mais do que nunca de um momento a sós com Vossa Magnificência.

O ômega teve um pouco de dificuldade para falar em seguida, pois ele estava quase ofegante.

— O que você está construindo, Majestade?

— Venha comigo.

De mãos dadas, eles caminharam até a parede dos fundos da grande sala, cuja superfície era revestida por entalhes que desenhavam uma floresta de plantas em prata e ferro. Tocaram-na ao mesmo tempo, assim como certa vez fizeram os líderes dos clãs de Adaman, e abriram a passagem que levava ao subsolo daquele lugar.

Os dois desceram os degraus às pressas, ansiosos pela privacidade romântica, pelo desejo que fervilhava em seus corações.

Jimin não sabia para onde estava sendo levado. A priori, ele imaginou que Jeon Jungkook tinha tido a brilhante ideia de fazer amor com ele ao lado da Árvore Sagrada; porque, afinal, aquele local vazio raramente recebia visitas. No entanto, logo se deu conta de que não poderia ser aquilo.

— Ei, mas isso não seria... profano? — Park perguntou assim que eles avistaram a enorme planta com tronco retorcido de marfim e folhagem vermelha, enraizada no centro de um pequeno olho d'água.

— Profano? — Jungkook achou graça.

— É... Beijar, fazer coisas aqui... — O ômega se aproximou do tronco da árvore e o tocou com a palma da mão. No instante seguinte, uma pequena flor vermelha brotou ali, como se o reconhecesse.

Aquele tipo de evento havia ocorrido alguns dias depois do cio dos dois rapazes. Após tantas confirmações de que sim, Park Jimin era o Ômega de Prata, bastava apenas o teste da Árvore Sagrada. Ela precisava reagir a ele diante dos nobres.

Reuniram-se ali, naquele subsolo, apenas para assistirem ao desenrolar de algo. Talvez uma nova árvore brotasse, assim como havia acontecido no meio do rio que cercava a capital, ou talvez alguma coisa brilhasse. Não ocorreu nem um nem outro, apenas o nascimento de novas flores. Foi uma visão bonita, mesmo que singela, que pôs o ponto final a toda e qualquer dúvida que ainda pairava — se é que ainda pairava — nas mentes dos líderes dos clãs.

— Não iremos profanar este lugar, se esta é a sua preocupação. — A voz de Jungkook vibrou em ecos provocados pelas rochas subterrâneas. — O que desejo lhe mostrar está um pouco mais adiante.

Com isso, eles voltaram a caminhar lado a lado, seguindo por uma trilha que ficava cada vez mais clara. Era a primeira vez de Jimin desvendando aquela parte do subsolo, havia tantas coisas novas para serem vistas! Ele nunca tinha percebido, por exemplo, que o olho d'água que rodeava a Árvore Sagrada era, na verdade, uma miúda lagoa abastecida pelo ramo de um leito subterrâneo.

À medida em que os amantes se afastavam da enorme planta de marfim, eles se aproximavam de uma caverna circular com paredes altas e um teto aberto que permitia a passagem de luz solar. Aquela luz tornava todas as cores da caverna vibrantes demais para que pudessem ser apreciadas num único vislumbre. O próprio rio subterrâneo parecia brilhar em tons de turquesa, como se fosse feito de jóias derretidas. A grama que o rodeava vibrava num verde intenso e crescia pelas paredes, firmando-se entre as rochas com caules e brotos floridos, como se o inverno jamais tivesse alcançado aquele lugar.

Na verdade, não havia nenhum sinal de neve ali.

— É efeito da Árvore Sagrada. Por causa dela, este lugar sempre se mantém quente. — Jungkook parecia estar lendo os pensamentos de Jimin.

— Eu definitivamente amo magia — disse o ômega, completamente encantado. Coisas como aquela o deixavam feliz e à vontade com aquele mundo. Nada daquilo poderia ser encontrado na vida real.

— Que bom que gostou daqui. — O aperto das mãos deles ficou mais forte.

Depois de passar alguns segundos admirando os pormenores daquele lugar peculiar, Park pôde notar um pequeno casebre feito de pedras escuras localizado bem ao lado do leito aquoso. O rapaz correu até lá e tocou as paredes e o teto com as pontas dos dedos.

Era uma casinha simples e bem rústica, porém linda e aconchegante, com uma porta e duas janelas de vidro em mosaico. Dentro havia uma cama confortável, com cobertores de pele e travesseiros de pluma. O cheiro de Jungkook estava espalhado por todos os cantos.

— Foi você quem fez isso tudo? — Jimin arregalou os olhos.

— ... Recebi instruções e materiais de um engenheiro, mas sim... eu fiz.

— Sério!?

— Parece absurdo?

— Não... É que, nossa! Eu não sei fazer nem uma casinha com palitinhos. Como você conseguiu montar uma com pedras? — O garoto bateu nas rochas da parede. Por mais que elas fossem um pouco irregulares, juntas tinham bastante firmeza.

— Hm, deixe-me contar uma história interessante... — Enquanto murmurava, o rei se posicionou logo atrás do ômega e começou a desfazer os nós do espartilho ao redor da camisa rendada dele. O barulho da fita roçando em si mesma parecia um sibilo sensual e ambíguo.

Park sentiu uma queimação na virilha.

— Que história? — O garoto acompanhou o outro na conversa, usando o mesmo tom de voz baixo e vagaroso.

— ... Tem a ver com os tais rituais de matrimônio que lhe falei há pouco — respondeu Jungkook. Ele já terminava de abrir o espartilho de Jimin, soltando, por fim, a camisa e permitindo a visão da cintura dele através da transparência da renda. — Séculos atrás alfas construíam ninhos para presentear os seus noivos ômegas. Eram locais privados e aconchegantes que seriam utilizados durante, por exemplo, a Lua de mel. Fazer isso era uma forma de mostrar o interesse do alfa pelo ômega, e de honrar o compromisso dos dois.

— Ninho...? — Jimin sentiu um arrepio quando o outro jovem usou as mãos enluvadas para tirar a sua camisa. — Choi Yoojung falou algo sobre ninhos naquela noite quando nós fizemos pela primeira vez. Ela me deu as suas roupas...

Ele só notou o quão constrangedor era dizer aquilo depois de já ter dito. Acabou enrubescendo novamente.

Em resposta, Jeon o abraçou por trás e, em meio a sorrisos, voltou a beijar a região entre o pescoço e a clavícula do ômega, lambendo a marca de vez em quando. Jimin retesou o corpo para trás com o calor ardendo em suas veias.

— Agraciou-me com essa informação... Desejar os meus pertences durante o seu cio significa que anseia pela minha presença com urgência. Eu não poderia ficar mais feliz, Park Jimin. — Os sussurros de Jungkook atingiam o ômega como se fossem hipnóticos. A temperatura entre eles se elevou quando o alfa se desfez de seu sobretudo negro, depois de sua camisa fina, e jogou fora as luvas, ficando apenas com botas e calças.

Jimin sentiu uma protuberância tocando-lhe no final de suas costas. Uma promessa silenciosamente deliciosa para o que viria.

— ... Então este seria o nosso ninho oficial? — O garoto tentava não gemer sob o toque das mãos do outro em seus mamilos e nádegas. Jungkook se aventurava por baixo de suas calças.

— Ainda não está terminado, pois pretendo contratar alguém para criar uma passagem que conecte este lugar com os nossos quartos. — O rei aproximou os lábios da orelha do ômega para terminar de sussurrar: — Com isso, nós poderemos nos encontrar aqui em qualquer momento do dia ou da noite...

— Você pensou em tudo, hmmm. — Jimin começou a gemer baixinho quando o dedo indicador de Jungkook o penetrou. Suas pernas passaram a fraquejar. Ele acabou se inclinado para frente, apoiando o tronco com as mãos sobre a cama e puxando os travesseiros para si.

Após desabotoar as calças do garoto, o alfa as retirou enquanto se agachava, deslizando o tecido pelas pernas de Jimin e traçando beijos por elas. Em seguida, ele mordeu uma das nádegas com carinho e voltou a introduzir um dedo pela passagem estreita e úmida. Muito úmida, quase um convite esfomeado.

Sua outra mão se concentrou em oferecer prazer ao membro endurecido de Jimin, que pulsava timidamente. O ômega gemeu mais alto dessa vez, e se arrepiou até o último fio de cabelo.

— Calma a-aí — balbuciou, virando o corpo para segurar os ombros fortes do rei e poder guiá-lo até a cama.

Jungkook se deixou ser levado pelos desejos do rapaz e deitou sobre a colcha sem pestanejar. Ele contemplou Jimin quando este se sentou em cima de sua virilha e rebolou, pressionando a elevação dura de suas calças, excitando-o ainda mais.

Quando o rei arriou as vestes inferiores e liberou o falo ereto bem dotado, o outro jovem se moveu para ser preenchido por tudo aquilo, lento e cuidadosamente. Em seguida, passou a balançar os quadris e a bunda, usando os músculos das pernas para subir e descer, cavalgando em cima de Sua Majestade.

Louco pelo prazer de estar sendo sugado pela entrada apertada e deliciosamente molhada de Park Jimin, Jeon Jungkook tentou oferecer mais intensidade ao ato quando segurou a cintura do parceiro e desferiu estocadas profundas. Porém, num sobressalto, o ômega o impediu de continuar ao firmar as pernas ao redor dele e sentando bruscamente, travando-se naquela posição.

— Ei... Eu vou fazer isso sozinho... — Um sorriso ladino pairou nos lábios de Park e não se desfez mesmo quando ele se inclinou para beijar o rei.

— Hm, está bem então. — Jungkook soltou os quadris do ômega e colocou as mãos atrás da cabeça, decidido a não mover nada até o momento em que não aguentasse mais.

Satisfeito com a reação dele, Park sorriu um pouco mais. Suas mãos vagaram pelos músculos abdominais do monarca, delineando cada elevação firme, cada dobra belamente esculpida. Enquanto fazia isso, o garoto voltava a movimentar o corpo, indo para cima e para baixo numa velocidade crescente, rebolando e travando de vez em quando apenas para provocar o parceiro.

Durante todo o processo, ele sentia os olhos de Jungkook o consumindo como chamas infernais. Vermelhos incandescentes igual à lava de um vulcão.

Aquelas pupilas ardentes lhe forneciam energia para continuar a cavalgada excitante. Jimin queria fazê-lo arder até o limite.

— Ji-Jimin, argh... — O alfa contraiu o cenho e respirou profundamente, tentando manter o controle de si mesmo ainda que estivesse diante de tantas sensações.

O corpo macio do ômega, os feromônios dele e os sons que ele gemia eram uma mescla tão forte quanto uma avalanche.

— Deixe-me tocá-lo... a-apenas uma vez — ele praticamente suplicou.

Jimin parou de se mover para observá-lo.

Com as pálpebras baixas, a respiração ofegante e os lábios carnudos entreabertos, o ômega refletiu se deveria ou não realizar o desejo do outro.

Eu quero que ele me toque, pensou, por fim.

Numa tentativa astuta de instigar o calor de chamas que já queimavam num incêndio, a sua resposta a Jungkook foi a seguinte:

— Meu rei.

A pressão do ar dentro do casebre aumentou a vários níveis de um segundo para o outro, era a presença do rei de Adaman fervilhando a água condensada da atmosfera.

Sem perder tempo, as mãos do alfa alcançaram o ômega e o lançaram contra a cama, entre os travesseiros felpudos. Elas tocaram a face rosada de Jimin e todas as suas perfeitas minudências enquanto Jungkook investia com ímpeto para preenchê-lo em sua plenitude.

— O que fizeste? O teu perfume está me perturbando ainda mais do já era capaz — sussurrou contra o pescoço de Park, sem interromper os seus movimentos de entrada e saída.

— E-eu... Hmmm, eu não fi-fiz nada,... hmm. — O ômega revirava o corpo de prazer.

— Está mais doce e mais forte... Ultimamente venho conseguindo sentí-lo em qualquer parte do castelo, e isso me deixa louco.

Voltaram a se beijar logo depois, ou pelo menos tentaram manter as bocas unidas mesmo sob a extrema movimentação de seus corpos. Alcançaram o prazer minutos mais tarde, com gemidos e arquejos altos abafando qualquer outro som. Um arbusto de flores brotou no chão do casebre e decorou as paredes de pedras, e pequenos animais, como esquilos e rouxinóis, se aproximaram com a convocação acidental.

Durante o descanso do casal, deitados em concha entre os cobertores felpudos, Jimin acabou brincando com um curioso filhote de esquilo que subira na cama.

— Aqui é perfeito, Jungkook. Não vou morrer de vergonha neste lugar. Valeu... — disse ele com um sorriso sincero.

— Fico feliz por você ter gostado daqui. — Jungkook beijou o lóbulo da orelha dele.

Jimin se calou durante alguns segundos, adquirindo um semblante pensativo.

— ... Você disse antes que os alfas construíam lugares como este para presentearem os seus noivos, não é?

— Sim, eu disse.

O ômega pensou mais um pouco antes de voltar a falar. Sua voz dessa vez saiu num sussurro bem baixo e hesitante.

— Essa também é a sua intenção? Sabe... — engoliu em seco — presentear o noivo...

Os olhos negros de Jungkook brilharam, cheios de esperança, mas ele se conteve e pigarreou para responder:

— Se o noivo assim desejar... Este lugar pode ser um mero presente, ou pode ser qualquer outra coisa. Eu não quero cometer o mesmo erro de antes quando o arrastei para Adwan de forma tão brusca, Jimin. Não quero apressar as coisas para nós, se você achar que estamos indo rápido demais.

Em silêncio, Park Jimin internalizou aquelas palavras e refletiu sobre o significado delas.

O que exatamente seria "estar indo rápido demais" naquele mundo? Todas as concepções que o garoto tinha eram baseadas na realidade de sua antiga vida comum. Os acontecimentos dentro de um universo fantástico como aquele, onde pessoas conheciam suas almas gêmeas com um simples olhar e tinham a certeza de que viveriam felizes e juntos para sempre, eram completamente diferentes de tudo.

Dessa maneira, Jimin não sabia se ter tanta cautela em relação a certas coisas era o melhor a se fazer, e o seu coração só complicava ainda mais a situação ao acumular desejos e sentimentos impetuosos demais para alguém cuja mentalidade preferia se manter no mundo dos números e da lógica.

Por isso, ao invés de ir direto ao ponto e ser sincero, o rapaz tentou traçar caminhos irregulares pela conversa.

— E a questão da linhagem real? — questionou repentinamente.

— O que tem ela?

— Bem,... Se hipoteticamente nós nos casarmos... Eu disse hipoteticamente — ele enfatizou. — Quem herdaria a sua coroa no futuro?

— Os nossos filhos, é claro. Quem mais a herdaria? — Jungkook conteve uma pequena risada.

— Mas... — Jimin começou a se sentir confuso, mas aí se lembrou do pequeno Soobin e do fato de que já praticamente o tinham como um membro adotado da família. — Então, contanto que você considere a criança como seu filho, os súditos e a corte não vão encher o seu saco com isso?

O outro rapaz franziu o cenho levemente, sentindo-se desorientado com aquela pergunta. Ele não tinha certeza sobre o que exatamente Park Jimin queria saber, mas arriscou uma resposta:

— Hm, não. Meus filhos serão meus filhos, ninguém ousará questionar esse fato.

— Nossa. Adaman é realmente quebradora de padrões. — Os olhos do ômega se arregalaram e depois estreitaram-se num sorriso. — Curti.

Ele virou o corpo para se aninhar no colo de Jungkook e deitar a cabeça no ombro alheio. Os músculos do alfa lhe ofereceram conforto imediato.

— Jungkook... — Sua voz foi abafada pelo peito do outro, que subia e descia com a respiração profunda.

— Hm?

— Quando eu falei hipoteticamente... Antes da viagem vou te dar uma resposta. Também construí algo para presentear você. Não quero te dizer nada enquanto eu estiver com as mãos vazias.

Ele sentiu o coração de Jungkook acelerar.

— Aguardarei pacientemente — o alfa murmurou.

🌕🌖♛🌘🌑

O dia seguinte amanheceu com um manto de neve cobrindo as campinas de Adwan e com fractais de gelo resplandecendo sobre as gramíneas congeladas. Era como se a natureza, numa vaidade pomposa, tivesse criado em si mesma acessórios brilhantes para comemorar a época mais fria do ano.

O vento glacial condensava as respirações quentes que escapavam dos pulmões dos seres vivos, criando uma sutil neblina ao redor de suas faces, e trazia consigo não somente as nuvens cheias de nevasca como também a promessa de dias difíceis.

Porém, ignorando todas essas circunstâncias, os cidadãos de Adaman continuavam se ocupando com os seus afazeres, e aqueles que acompanhariam o rei em sua marcha para o Sul aproveitavam as últimas horas com a família para se entreterem ao máximo.

Enquanto isso, no palácio da capital, Park Jimin saboreava o desjejum ao lado do amigo Lu Keran. Ambos estavam sentados numa grande toalha estendida pela grama, rodeados por cestos cheios de comidas que tinham sido preparadas pelos servos a pedido do Ômega de Prata.

Por alguma razão, ele havia acordado com o estranho desejo de comer comidas de "piquenique" — quase perdeu um neurônio tentando explicar o significado dessa palavra aos pobres funcionários do castelo.

Já que não queria passar outra refeição sozinho, pois Jungkook ainda se encontrava bastante ocupado debatendo estratégias de batalha com o General Kim e, dessa forma, só se alimentava em sua sala de reunião, Jimin tinha arrastado Keran e o pequeno Soobin para o seu piquenique improvisado.

— O senhor Park tem ideias muito engraçadas — comentou Keran após saborear, pela primeira vez em sua vida, um sanduíche de presunto e queijo. Era uma das comidas estranhas e gostosas que podiam ser encontradas entre as cestas trazidas pelo outro ômega.

Enquanto isso, Soobin sujava toda a boca com um bolo de chocolate cheio de morangos e cerejas. Os olhos da criança brilhavam a cada nova mordida.

— Você morreria de felicidade se experimentasse uma pizza. — Jimin notou o suspiro de prazer do curandeiro e do bebê.

— O que seria uma pizza? — Keran perguntou.

— Imagina uma massa enorme e redonda, só que fina, e coberta por queijo, tomate, cebola e qualquer tipo de carne que a gente quiser.

— Parece incrível, senhor! — Os olhos de Keran ganharam estrelas. Soobin, que ouvia tudo em seu silêncio introvertido, arregalou as sobrancelhas ao imaginar tamanha refeição.

— Um dia eu vou tentar fazer para vocês comerem. Também quero saber qual vai ser a reação do Jungkook quando ele experimentar... — Os lábios de Jimin se curvaram num sorriso. — Ah... Agora eu também quero comer pizza... E umas batatas fritas... E um hambúrguer, talvez.

— Nós temos batatas, senhor Park. Se ordenar, a cozinha com certeza irá preparar!

Jimin se deitou na toalha com os braços abertos e encarou o céu.

— Nah... Não seria a mesma coisa. Mas valeu pela sugestão.

Ele ficou um tempo assim apenas contemplando as nuvens e a brisa fria que balançava as mechas de seus cabelos e as flores de seus chifres. Sua mão acariciava os cabelos do menino Soobin e de vez em quando limpava farelos de bolo que insistiam em manchar o rosto da criança.

Quando voltou os olhos na direção do amigo, viu que o curandeiro Lu havia deixado o sanduíche de lado para se concentrar num pequeno e redondo pedaço de madeira. Suas mãos seguravam uma ferramenta de corte com muita precisão para esculpir alguma coisa.

— O que 'tá fazendo? — O rapaz estava curioso.

— Um broche para o General Kim. Comecei ontem à noite, por isso falta pouco para terminá-lo — Keran explicou sem tirar os olhos da madeira.

Um minuto depois, ele soprou as farpas que tinham se soltado com o entalhamento e mostrou o resultado para Park. Seu semblante cheio de expectativa agora aguardava por uma avaliação do outro rapaz.

— Cara,... ficou muito bonito, Keran! — Jimin pegou o broche com as duas mãos. — Olha só, Soobin, não acha que ficou bem legal?

Ele colocou o objeto na frente dos olhos da criança que fingia não estar curiosa. Soobin apalpou o entalhe com os dedinhos miúdos e exibiu um sorriso pequenino.

Ponito — ele murmurou com a língua enrolada e a boca cheia de bolo.

— Isso é uma flor? — Jimin quis saber após analisar de perto a figura desenhada na superfície de ébano.

— Tulipa amarela. É a flor preferida da pequena Jina. O General sempre sente falta da filha quando viaja para longe, então...

— Entendi. Ele com certeza vai gostar disso — Jimin estava sendo sincero. Logo em seguida, o ômega encarou o broche com um olhar pensativo e murmurou: — Eu deveria tentar fazer algo assim para o Jungkook se lembrar de casa?

O curandeiro conteve um sorriso.

— Sua Graça não precisa se preocupar com isso. Afinal, amanhã o senhor mostrará ao rei aquela coisa enorme que construiu com a ajuda do mestre Jung. Se tudo ocorrer como espera, será um evento inesquecível! — ele exclamou.

O outro rapaz sentiu-se um pouco aliviado e concluiu que, de fato, deveria pensar com mais positividade. Seu presente para Jeon Jungkook definitivamente seria marcante e simbólico.

Depois de um instante de silêncio, eles escutaram relinchos e trotes de cavalos vindos do estábulo e do campo de hipismo localizado ali perto. Keran ergueu a cabeça para ver melhor o que se passava.

Seus olhos quase saltaram das órbitas.

— Pelos Deuses, o príncipe Min! — exclamou e deu um salto para ficar em pé. Jimin o acompanhou com Soobin no colo.

— Aquele é o irmão do Jungkook?? — O ômega ficou impressionado ao ver Sua Alteza, que normalmente mal conseguia dar dois passos sem tropeçar por causa do corpo frágil, montando um garanhão branco de quase dois metros de altura com uma destreza e elegância sem igual.

O príncipe usava roupas brancas de montaria e botas douradas da cor de seus cabelos. Seus olhos claros refletiam a neve espalhada pelo chão e brilhavam no rosto pálido. Ele era quase tão bonito quanto o irmão mais novo. Provavelmente seria igualmente belo se não fosse doente, se não tivesse um corpo franzino e curvado pelo próprio peso.

No entanto, naquele momento, em cima de um quadrúpede tão magnífico e forte, Min Yoongi parecia imponente. Ele guiava o cavalo em sua corrida ligeira pelos campos abertos, e o fazia saltar sempre que se deparavam com obstáculos.

— É como um pássaro, não concordam? — Jung Hoseok apareceu ao lado de Jimin. Com a coluna ereta, mãos dentro dos bolsos do manto marrom e uma respiração pesada, ele contemplava o príncipe Min em sua sessão de hipismo.

"Como um pássaro". Sim, Min Yoongi se assemelhava a uma águia intimidante e imortal capaz de cortar os céus e de silenciar qualquer um que tentasse desafiá-la.

Se havia uma coisa que o tornava muito igual a Jeon Jungkook era aquele olhar afiado que sempre aparecia quando estavam concentrados em algo, focados num objetivo ou num inimigo.

Naquele instante, o inimigo de Min Yoongi eram os obstáculos espalhados pelo campo de montaria.

O príncipe superou todos eles com maestria.

Jung Hoseok soltou um longo suspiro quando tudo acabou, e se sentou na ponta da toalha com uma expressão cansada no rosto.

— Ele sempre faz isso nessas épocas. É como se quisesse provocar a todos. Como se quisesse dizer "Eu também poderia lutar ao lado de vocês se o meu corpo fosse mais forte" — murmurou o alquimista, tão baixo que somente Jimin conseguiu escutar.

O ômega então se deu conta de que Min Yoongi não iria participar da campanha militar. Ele ficaria ali, em Adwan, esperando por notícias como todos os outros que não podiam defender o reino com a própria força.

Refletiu tão profundamente sobre essa situação que não notou quando o príncipe Min fez o seu cavalo se aproximar deles.

— Bom dia... Por que estão sentados aqui e com cestas cheias de comida? — perguntou Yoongi logo após puxar as rédeas do quadrúpede para que ele parasse de andar.

— Piquenique, Alteza! Uma nova modalidade de refeição ensinada pelo senhor Park — explicou Keran.

— Pique... pique... — Soobin tentou repetir a palavra "piquenique" num murmúrio quase inaudível.

— Curioso. — O príncipe virou o olhar para observar Hoseok. — Pensei que você estivesse ocupado em sua estufa.

Claramente havia um clima pesado entre eles.

— Eu não deixaria de ver você se arriscando em cima de um cavalo. Preciso ficar por perto nessas horas para impedir o pior — o alquimista retrucou, seus olhos se estreitando um pouco. Os de Min Yoongi fizeram o mesmo, mas, ao contrário da expressão séria na face de Jung, os lábios do príncipe moldaram um sorriso debochado.

— Alfas apaixonados são irredutíveis! Tão absolutamente superprotetores...

— Você também é um alfa apaixonado. Não zombe da própria espécie. — Hoseok piscou friamente, mas não tanto quanto um segundo antes.

— Sou — concordou Yoongi —, e por isso me lastimo quando o vejo tão aflito, Grande Alquimista Real.

— Minha aflição se dissiparia se Vossa Alteza seguisse as recomendações médicas e parasse de se exibir em cima de um cavalo quatro vezes maior do que você.

O príncipe apertou os dedos ao redor das rédeas do quadrúpede e bufou.

— Por favor, vamos evitar outra discussão na frente de terceiros.

Aquele pedido deixava claro que o casal vinha tendo conflitos nos últimos dias.

O rosto de Jung Hoseok denunciava tudo, ele não fazia questão de esconder o esgotamento e a frustração em seu olhar cheio de olheiras.

Já Min Yoongi era muito bom em disfarçar os seus sentimentos. Exceto pela sombra que cobria os seus olhos afiados tal qual os de um gato, nada em seu semblante poderia dizer o que estava se passando em sua mente. Talvez ele estivesse acostumado a esconder anos e anos de tristeza e decepção profunda.

Porém, por mais que aparentasse estar muito bem disposto, Yoongi não desejava continuar enfrentando Jung Hoseok naquela manhã, e nem mesmo pretendia se desfazer do cavalo. Sua única opção era cavalgar para longe, mas não faria isso porque sabia que uma atitude como essa deixaria o alquimista ainda mais preocupado e triste.

Sendo assim, ele teve uma ideia.

— Vossa Magnificência aprecia o hipismo? — dirigiu-se a Park Jimin.

O ômega ergueu a cabeça num sobressalto, de repente sendo convocado para a conversa.

— Andar à cavalo? Haha... Eu prefiro só ficar olhando. Cavalos são muito altos.

— Entendo. — Por não conseguir conter um pensamento ridículo, Yoongi acabou sorrindo e pigarreando, colocando um punho sobre os lábios.

— O que foi? — Jimin quis saber.

— Eu o aconselho a não questioná-lo, sor Park. Min Yoongi está com a expressão de quem faria um comentário sarcástico deveras desconcertante. — Hoseok arqueava uma das sobrancelhas.

— Falando assim, é como se eu estivesse ofendendo o Ômega de Prata em meus pensamentos — disse o príncipe.

— Ei! Quando vocês vão parar de me tratar tão formalmente? — Jimin esbravejou, balançando as mãos no ar. — Pode falar o que quiser, príncipe Min, principalmente se for algo engraçado. Vou até cobrir as orelhas do Soobin — disse e o fez. O menininho olhou para ele sem entender o que estava acontecendo.

Sua Alteza sorriu.

— Eu ia dizer que Vossa Magnificência só deve apreciar a arte de cavalgar se ela for realizada em cima de meu irmão.

As reações dos demais vieram em sequência. Jung Hoseok pôs uma mão no rosto e conteve, com muito esforço, uma gargalhada. Lu Keran quase cuspiu o sanduíche que mastigava e ficou vermelho como uma pimenta. Park Jimin, a vítima, piscou os olhos com perplexidade, mas depois lançou um sorriso cúmplice para o príncipe e disse:

— Como Sua Alteza sabe? Hehe... — Ainda bem que cobri os ouvidos do Bibin, pensou.

— Foi um palpite.

O clima da conversa finalmente voltou a ficar leve, para o alívio de todos.

Yoongi então limpou a garganta para pôr sua ideia anterior em prática.

— Por mais que não goste de cavalos, poderia abrir uma exceção desta vez e me acompanhar num passeio, Vossa Magnificência?

Jimin olhou para o príncipe e depois para Hoseok, e se perguntou por que Min Yoongi não convidava o amante para aquele passeio.

No final, ele decidiu aceitar o convite do irmão do rei, pois estava curioso com a intenções dele.

Lu Keran pegou Soobin no colo e ajudou a escolher o cavalo mais manso do estábulo para Park montar. Com um pouco de dificuldade, o Ômega de Prata subiu nas costas de um belíssimo quadrúpede marrom. Ele relaxou após perceber que o animal não era tão alto quanto o de Min Yoongi, e nem tão agitado e barulhento.

— Você é legal. Eu gostei, é... — sussurrou para o cavalo enquanto acariciava a crina cheia de tranças.

Após acenar para Keran, Soobin e Hoseok, o garoto saiu cavalgando logo atrás do príncipe Min, acompanhando seu ritmo que agora não estava tão veloz.

A princípio, Jimin sentiu o corpo tensionar com a movimentação inconstante do cavalo, pois ele sentia que a qualquer momento iria cair para o lado e bater a cabeça numa pedra escondida pela neve. Com o passar dos minutos, o rapaz foi se acostumando com o balançar e começou a transferir o próprio peso para certas áreas com a intenção de manter um bom equilíbrio.

No final, ele já conseguia aproveitar a paisagem e o passeio sem se preocupar muito com um acidente.

— Eu agradeço pela sua companhia, Vossa Magnificência... — disse Yoongi depois de algum tempo. — Desculpe-me se fui insistente momentos atrás, eu estava ligeiramente desesperado para me afastar da carranca angustiada de Jung Hoseok, mas não poderia sumir de sua vista sozinho porque senão ele iria se sentir ainda mais preocupado. Com você ao meu lado, ele provavelmente ficará bem.

— Ah... — O ômega finalmente compreendeu porque havia sido convidado para cavalgar. — Tudo bem, eu precisava mesmo perder um pouco do medo de subir num cavalo. E, de qualquer forma, eu estava afim de andar com o irmão do Jungkook pra bater um papo, trocar uma conversa legal.

— Verdade? Tem algum motivo para isso? — O príncipe virou os olhos dourados para encará-lo.

— Hmm, de onde eu venho, é comum as pessoas se aproximarem da família do namorado quando as coisas estão ficando um pouco mais sérias.

— Namorado? Que título interessante... O que deveria significar?

— O quê? Não existem namoros por aqui? Então como as pessoas ficam próximas umas das outras antes de se casarem??

— Bem, existem os cortejos, os flertes, as conversas nos jardins, os encontros nas praças... Quando sentimentos mais fortes surgem, é realizado um noivado — Yoongi explicou pacientemente. Ao seu lado, Jimin tentava não contrair o rosto numa careta.

Okay, a galera deste lugar é bem apressadinha com os seus romances, pensou o garoto.

— Veja adiante um exemplo! — Sua Alteza apontou para um ponto no horizonte próximo a um dos jardins do castelo.

Eles observaram duas mulheres andando lado a lado, balançando os corpos como se desejassem encostar os ombros. Jimin reconheceu ambas. A mais alta, loira com olhos verdes, vestida em trajes militares e carregando uma espada na cintura, era Min Miho. A mais baixa, morena com olhos azuis, usando um vestido pomposo da cor do céu da primavera, era Choi Yoojung.

Elas conversavam e não paravam de sorrir um segundo sequer. Suas trocas de olhares demoravam longos instantes e às vezes pareciam tão intensas que as deixavam enrubescidas.

— A Miho está cortejando a matriarca Choi! — Jimin exclamou, achando aquela informação muito interessante.

Keran, vai gostar de saber dessa fofoca, pensou em seguida.

— Minha prima tem bom gosto. A senhorita Yoojung é uma das poucas pessoas do clã Choi que não me fazem revirar os olhos.

— Depois de ter conhecido o avô e o irmão dela, entendo o que você quer dizer...

Os dois riram sem jeito, relembrando os acontecimentos desconfortáveis do passado.

— Pelos deuses, elas se beijaram. — O príncipe arregalou os olhos e Jimin o acompanhou.

Miho havia se inclinado para aproximar a face da de Yoojung e permitir a junção dos lábios. Ela segurava o queixo da matriarca Choi delicadamente com uma mão, erguendo-o levemente e de forma sedutora.

— Isso me traz lembranças boas da época em que comecei a ter encontros com Hoseok — comentou Yoongi, seu sorriso aumentando e se transformando em algo quase íntimo de se ver. Mas em meio àquela alegria aparente, havia uma sombra de melancolia, uma possível mancha provocada pela última discussão que tiveram.

— Hmm, o engraçado é que eu não consigo imaginar o alquimista Jung agindo como elas. Sabe, todo cheio das cantadas, das malemolências...

O príncipe se curvou ao soltar uma risada alta.

— Malemo... o quê!? — Ele tentou recuperar o fôlego. Acabou tossindo no processo, mas se recuperou depois de uns minutos. — Hoseok não é dono dos flertes mais românticos, mas ele sabe manter uma conversa agradável, ainda que perca o foco de vez em quando assim que começa a falar sobre seus experimentos.

— Ah, realmente. — Jimin tinha passado vários dias daquele mês ao lado da companhia do Alquimista Real, pois ele era uma das poucas pessoas além de Jungkook que conseguiam — ou pelo menos tentavam — acompanhar o raciocínio fora do "comum" do garoto.

Sempre que começavam a conversar sobre qualquer coisa, o assunto logo mudava para algo que envolvia química. Com isso, Jimin acabou descobrindo informações interessantes acerca da alquimia e da medicina de Adaman.

E sobre esse último tema, o ômega também esteve ao lado de Jung Hoseok quando ele começou a fazer experiências com o pedaço de chifre que tinha sido quebrado. Aquilo não faria — definitivamente não faria — falta para Park Jimin, então por que não torná-lo útil de alguma forma?

— Príncipe Min — chamou ele —, não sei se você já sabe disso, mas o alquimista Jung está estudando os componentes dos meus chifres para tentar achar uma cura para você.

Min Yoongi piscou e engoliu o ar. A tensão cobriu o rosto dele.

— E-ele... Pelos deuses, macular os chifres do Ômega de Prata! ... E-eu peço perdão em nome de Jung Hoseok — falou com a voz entrecortada. Suas mãos tremiam.

— Ei, calma, príncipe! 'Tá tudo bem, juro! Fui eu quem deu a ideia. Aquele negócio já estava quebrado, de qualquer maneira! — Jimin se apressou para explicar. — O senhor Jung e eu estávamos conversando sobre a ressuscitação do Jungkook no dia do baile dele. Falei tudo o que aconteceu, falei como o espírito do Ômega de Prata surgiu na minha frente e curou o seu irmão com um toque. Fiquei pensando na possibilidade de ter algo em mim que possa curar pessoas, entende?

Os olhos dourados de Yoongi encaravam o ômega numa profusão de alegria e medo. No âmago do príncipe a vontade de criar novas esperanças lutava para brotar em meio a um solo árido acostumado a notícias ruins e expectativas estilhaçadas.

Eu posso ter fé nessa possibilidade?, essa questão atravessou a mente dele o fez tremer.

Yoongi estava tão cansado.

— Entendi. Fico sinceramente grato. Seria realmente... ótimo — murmurou, abaixando a cabeça. Em seguida, ele se voltou para frente e prosseguiu com a cavalgada sem comentar mais nada.

Jimin percebeu que o outro rapaz estava abalado, seu olhar e expressões cobertos por um véu opaco. Imaginou que falar sobre aquele assunto fosse difícil para Yoongi, então decidiu que não voltaria a tocar nele até que o outro o fizesse.

Continuaram o passeio até avistarem uma clareia cortada por um riacho e congelado pequeno rodeado por flores do inverno e arbustos embranquecidos pela neve. Eles já estavam fora dos limites do palácio, então aquela área não era cuidada pelos jardineiros reais. Porém, ainda assim ela carregava uma beleza selvagem de tirar o fôlego.

— Nossa! Parece que todos os lugares pra onde eu vou são extremamente bonitos — comentou Jimin.

— Adaman é cheio de locais incríveis, de Norte a Sul. Desde os campos desérticos do Noroeste até os litorais do Leste. — Yoongi suspirou. — Se eu pudesse, visitaria todos eles.

Um instante de silêncio se passou.

— Sor Park Jimin... Posso chamá-lo assim? — perguntou ele.

— Ahn, claro.

— Você acredita que pode dar certo? — A mente do príncipe ainda estava presa ao assunto anterior, à sua cura.

— Eu... Não sei...

Yoongi sorriu.

— Obrigado pela sua sinceridade. Estou cansado de receber promessas incertas. Foi só o que obtive desde o meu nascimento — explicou, remexendo-se sobre a sela de montaria. — Vamos parar de falar disso. O drama que envolve esse assunto é sempre desconfortável... Eu não quero que você pense em mim como um pobre coitado.

— Eu não penso assim.

— É muito gentil da sua parte. — A descrença do príncipe era visível.

— Falei sério, juro! Olha... No meu mundo também existe uma doença parecida com a sua. Eu acho que se chama Distrofia Muscular. — Jimin tinha ouvido falar disso certa vez num noticiário sobre saúde. — Ela tem as mesmas características e também não é... curável.

Ele não queria falar esse tipo de coisa para o irmão de Jeon Jungkook, mas sentia que precisava ir até o final.

— O que quero dizer é que as vítimas dessa doença, com vinte anos, mais ou menos, já mal conseguem se mover. Mas você é tão forte, mesmo sendo mais velho do que o Jungkook, e ele tem vinte e quatro anos! Eu não tenho pena de alguém assim.

O príncipe Min ouviu aquilo atentamente, com um semblante sereno e pensativo.

No final, ele murmurou de forma descontraída:

— Eu aprecio muito a ideia de tê-lo como cunhado, sor Park.

Isso tirou Park Jimin dos eixos. A palavra "cunhado" carregava consigo uma mescla de compromissos sérios que o rapaz não sabia se estava preparado para receber.

— Q-que bom, Alteza — balbuciou, sentindo-se enrubescer.

Passearam mais um pouco pela clareia com a intenção de dar a volta para então retornarem aos estábulos do palácio. Nesse meio tempo eles não trocaram muitas palavras, apenas comentaram sobre o tempo frio e a neve que provavelmente iria cair no final daquele dia.

Em determinado momento, Jimin observou um arbusto com flores. Curiosamente, nenhuma delas parecia estar congelada, mesmo aquela espécie não sendo resistente ao frio. Outro detalhe era que elas eram cobertas por plantas semelhantes a galhos entrelaçados, formando uma rede esverdeada e orgânica.

— Hm, eu acho que esse arbusto está com parasitas. É bonito, mas vai morrer desse jeito... — O ômega comentou.

— Ou não. Observe, sor Park... Elas estão mantendo o calor dentro do arbusto e protegendo as flores do frio.

— Olha só, verdade... Vantagens e desvantagens. Não vão sentir frio, mas ficarão fracas. O que seria pior?

O príncipe deu de ombros.

— Bem, é melhor ter a chance de resistir ao inverno e sobreviver até a primavera do que morrer imediatamente por conta da baixa temperatura — sugeriu ele.

— Tem razão. — Jimin pôs um dedo sobre o queixo e parou um pouco para pensar. Ele gostava de refletir sobre peculiaridades como aquela. Se não tivesse escolhido a Química, com certeza teria ido para a Biologia.

E foi nesse instante de raciocínio que suas sinapses neurais levaram o garoto a uma ideia louca e absurda que poderia ser a chave — ou pelo menos a primeira dose de remédio — para a cura de Min Yoongi.

— Príncipe Min, você poderia descer do cavalo? — pediu enquanto se arrastava devagar e desengonçadamente pela sela de montaria para conseguir chegar ao chão.

— Ah, an... claro. Mas, por quê?

— É uma ideia doida. Doida! Muito maluca, mas... Sinto que pode dar certo. — Quando alcançou o solo, Jimin andou até o cavalo do príncipe e o ajudou a descer.

Assim que os dois estavam sobre o chão firme, o ômega pôs as mãos nos ombros do irmão de Jungkook e olhou bem para ele.

— E se eu conseguir fazer com que redes como essa que estão cobrindo o arbusto — só que muito menores e mais discretas —, fossem anexadas ao seu corpo para servirem de estrutura paralela, ou um tipo de esqueleto à parte, que reforce os seus músculos e que, ao invés de retirar nutrientes de você, iria fazer o oposto??

Min Yoongi piscou várias vezes. De sua boca todas as palavras fugiram. Ele não sabia o que pensar, como reagir diante daquilo.

— I-isso é possível? — questionou aturdido, a garganta estava seca.

— Não sei explicar, mas sinto que sim. É uma sensação muito forte.

— Então faça, po-por favor!

— Sua Alteza não tem medo de eu fazer uma maluquice?? Eu 'tô me cagando aqui!

Yoongi então segurou os pulsos de Jimin com toda a força que tinha, o que não era muita.

— Por favor, Park Jimin. Eu tentarei qualquer coisa. — O desespero na voz dele era palpável. A súplica dolorosa de um rapaz que havia desistido da cura, mas que não tinha desistido de viver.

Jimin se concentrou naquele pedido e na força intrínseca a ele. Ele pensou no bem que aquilo iria fazer para o príncipe Min, para o alquimista Jung e para Jeon Jungkook. O ômega fechou os olhos e transmitiu tudo isso às vozes que agora cantavam ao seu redor, murmurando sons que não poderiam ser escutados por mais ninguém. Sua concentração se dedicou à natureza debaixo de seus pés, e ela ouviu o chamado de seu coração.

A ventania arrebatou os dois rapazes, mas não era fria como a brisa de inverno.

Não. Era como um sopro quente.

Min Yoongi sentiu aquele sopro arder. Primeiro fervilhou em seus pés, depois subiu para as pernas e se espalhou para todas as áreas de seu corpo, cobrindo-o com uma teia invisível, mas forte o bastante para modificar a parte mais interior de suas células.

Ele nem tinha notado que estava segurando a respiração quando soltou o ar. Nessa hora, o garoto sentiu algo diferente e estranho, no bom sentido.

Depois de mais uma respiração profunda, Yoongi percebeu que os seus pulmões estavam conseguindo acumular tanto ar que eram capazes de expandir o tórax com facilidade!

E seus braços! Erguê-los nunca foi tão simples! Mover os dedos, erguer os pés do chão, dobrar os joelhos...

Correr! Min Yoongi nem se lembrava da última vez que tinha corrido em sua vida. Mas ali estava ele, dando passos longos pelo chão cheio de neve, apressando-se a cada segundo para experimentar a velocidade de suas "novas" pernas.

O príncipe nem se deu conta de que estava chorando o tempo todo. Chorando de alegria, de felicidade genuína.

Jimin acabou se emocionando também. Ele tinha ficado com medo de acabar cometendo um erro e isso afetar ainda mais a condição do irmão de Jeon Jungkook. Por isso, assim que Min Yoongi se ajoelhou no chão e começou a agradecer aos deuses pelo milagre e por terem enviado o Ômega de Prata para Adaman, Jimin também se ajoelhou e murmurou alguns "Santa Maria, mãe de Deus" e "Ave Maria cheia de graça".

— Obrigado! Mu-muito, mas muito obrigado! — exclamou o príncipe ao se aproximar do ômega. Seus olhos dourados estavam cheios de lágrimas. — O que e-eu posso fazer pa-para mostrar minha gratidão a Vossa Magnificência??

— Que isso, príncipe? Não preciso de nada. Eu também 'tô feliz demais! Vem aqui, cara! — Jimin o puxou para um abraço de urso, dando tapas nas costas dele. — Só para de me chamar de "Vossa Magnificência", cunhado.

Os dois riram entre lágrimas.

— E-eu preciso ver o Hoseok. Tenho que mostrar a ele e ao Jungkook! — O príncipe não conseguia parar de sorrir. — Correrei até eles!

— É, isso aí! Pode deixar que eu me viro com os cavalos! — Jimin gritou porque o outro já se afastava rapidamente.

Yoongi correu pela clareira e cortou os campos até voltar para os arredores do castelo. Seu corpo se sentia cansado pela correria, mas era um cansaço normal que qualquer pessoa comum poderia sentir depois de se exercitar tanto e de um jeito tão repentino. Ele apreciou o cheiro do ar, a força de sua respiração, os seus cabelos cortando a atmosfera, e a maneira como os seus pés se afundavam na grama.

Avistou Jung Hoseok de longe e riu quando viu a expressão assustada na face dele.

— Yoongi? — balbuciou o alquimista como se estivesse tendo uma alucinação.

— Sou eu! — Yoongi gritou de volta.

— Vo-você está... correndo!? Como?? — O peito de Hoseok se acelerou.

— Estou correndo! — O príncipe deu um salto e ergueu os braços. — Estou pulando! — Ele então curvou o corpo e se transformou num belíssimo lupino cheio de pelos loiros, algo que não fazia há anos porque a metamorfose sempre lhe roubava energias absurdas.

Correndo agora com as quatro patas, Yoongi diminuiu a distância entre ele e Jung num piscar de olhos. Saltou em cima do alquimista e começou a lamber o seu rosto com carinho, uivando e grunhindo alegremente.

A essa altura, Hoseok já se derramava em lágrimas.

— Você está curado, meu amor? — perguntou o alfa baixinho, num balbucio emocionado, enquanto suas mãos acariciavam os pelos dourados do príncipe.

Yoongi voltou à forma humana em seguida e o beijou ardentemente, aproveitando para abraçá-lo com força, para mostrar a nova força de seus braços.

— O Ômega de Prata curou minha enfermidade, foi isso — explicou ainda com os lábios colados aos do outro.

— Pois serei eternamente grato a Park Jimin. Serei grato até depois de minha morte.

— Sem mortes. Jamais falaremos da morte outra vez.

— Jamais. Jamais.

Estavam em júbilo, suas lágrimas se misturando e seus sorrisos entrando em sintonia.

— Eu estava eufórico demais para reencontrar você, por isso deixei sor Park sozinho com os cavalos.

— Certo, certo. — Jung acariciou as bochechas molhadas do príncipe e se virou para Lu Keran, que assistia a tudo com o pequeno Soobin no braço, uma mão na boca e uma expressão perplexa no rosto. — Lulu, mande os criados ajudarem o Ômega de Prata com os cavalos imediatamente. Não podemos fazê-lo esperar.

— Si-sim, senhor! — disse o curandeiro num sobressalto. Ele já estava se virando para ir atrás de servos do castelo quando Yoongi falou:

— Dê-me a criança, por favor. Eu quero segurar uma pela primeira vez em minha vida — o príncipe pediu, fungando.

— Tem certeza? — Hoseok interveio. — Talvez você precise de um tempo para se acostumar antes de segurar algum peso, ou...

— Eu consigo. Acabei de correr metade de uma milha e olha só para mim! — Yoongi girou e riu alto, mostrando toda sua vivacidade. Depois, ele andou até Soobin e ofereceu colo para o menino. — Olá... Desejas ficar comigo enquanto o senhor Lu Keran não está?

O garotinho olhou para ele um pouco acanhado, e então virou os olhos para ver a expressão de Keran diante daquela proposta, como se estivesse analisando-a. Percebendo que todos queriam que ele fosse para o colo do príncipe, Soobin decidiu se inclinar e aceitá-lo.

Ainda que fosse tímido, o menininho claramente gostava de deixar as outras pessoas felizes.

Com a criança nos braços, sentindo o peso dela e toda a sua doçura, Yoongi quis chorar novamente. Por mais que às vezes aparentasse indiferença diante de criaturinhas tão energéticas, no fundo de seu peito ele só queria acompanhá-las, brincar com elas, ter uma delas em sua pequena família com Hoseok...

Ele jamais ousou sugerir esse tipo de coisa ao alquimista, pois sabia que não poderia ser um pai adequado que estaria ali para proteger o filho de toda e qualquer situação. Um pai que duraria a vida toda. No entanto, agora essa ideia deixava de ser impossível.

Ter Soobin em seus braços sem problema nenhum era a prova.

Hoseok o assistiu em sua redoma de felicidade com outra onda de lágrimas.

🌕🌖♛🌘🌑

Retornaram ao palácio não muito tempo depois, com Jimin já ao lado deles — um pouco sujo de lama por ter falhado em arrastar o cavalo de Min Yoongi de volta ao estábulo antes de receber ajuda dos criados.

As notícias sobre a condição do príncipe já tinham se espalhado pela corte principal. A nobreza toda se reunia no salão de entrada do castelo, aguardando por um vislumbre do milagre.

Ficaram perplexos quando avistaram Sua Alteza segurando Soobin sem nenhum grande esforço

— Meu irmão!? — Jeon Jungkook apareceu em meio à multidão de roupas pomposas. Seus olhos buscaram Yoongi e seus lábios se abriram num sorriso imenso quando ele obteve a confirmação dos rumores. — Está curado! Curado!

— Curado! — Yoongi repetiu com a mesma euforia.

Depois de colocar Soobin no chão com cuidado, o príncipe se aproximou do rei e os dois se abraçaram fortemente, rindo alto. Começaram a competir quem conseguia levantar o outro durante mais tempo e saíram girando pelo salão sem perceber.

Hoseok, Jimin, Keran e os demais sorriram com aquela cena fraternal. Todos pareciam tão absolutamente felizes!

— Então quer dizer que agora poderemos lutar em nossas formas lupinas!? Nós poderemos treinar esgrima juntos e estar lado a lado no campo de batalha!? — exclamou o rei.

— Sim. Claro que sim, haha! — Yoongi sorriu ainda mais.

Jungkook puxou os cabelos para trás, ignorando completamente o fato de que tinha jogado para longe a sua pose nobre e elegante de monarca para vibrar com as novas possibilidades que teria com o seu irmão sendo um homem saudável.

Naquele instante ele pouco se importava em transmitir uma imagem polida. Um de seus maiores desejos havia se tornado realidade, afinal de contas!

— Foi você. — disse o rei após virar-se na direção de Park Jimin. Seus olhos negros e emocionados acumulavam galáxias, desejando presentear o ômega com todas elas, com cada uma de suas estrelas.

Ele se afastou do irmão para andar até o parceiro, e o segurou pelas mãos, entrelaçando os dedos. Jimin era tímido com demonstrações de afeto em público, mas naquele instante não teve vergonha, mesmo estando sob o olhar de uma multidão entusiasmada, pois estava comovido com toda aquela situação.

E ficou ainda mais mexido com as palavras sinceras e lindas que Jungkook lhe disse em seguida:

— Trouxeste para mim, para o meu sangue, imensos milagres. Salvou-me da morte diversas vezes, transformou-me num homem e curou o meu irmão querido. Ajudou-me mesmo quando ainda não sabia que tinha capacidades surreais. Tuas ações comigo sempre foram assim, cheias de surpresas e alegrias... Como na Terra eu poderia agradecer a você por estar em minha vida, Park Jimin?

— Jungkook, minha nossa, você não precisa agradecer... — O ômega ficou sem jeito diante de tanta intensidade. — E-eu acho que só estou fazendo o que deveria fazer.

— Não creio que a cura de meu irmão tenha vindo de você apenas como uma imposição do destino, se é a isto que está se referindo. — O rei acariciou a lateral da face de Jimin. — Foi o melhor presente que ganhei em minha vida, obrigado.

— Presente? Ei, você acha que o que eu fiz hoje é o presente que te prometi ontem quando estávamos no nosso... ninho? — O tom de voz do garoto foi diminuindo até chegar ao final da frase, transformando-se num sussurro que somente Jungkook poderia escutar.

— Hm, e não seria? — O outro sussurrou de volta, seu sorriso se contradizendo com o olhar confuso que agora carregava.

— Não. — Jimin riu, balançando a cabeça.

— Quer dizer que há mais? Como eu deveria reagir a isso?? Sinto que não preciso de mais nada. Tudo está tão perfeito que estou a um passo de perdoar todas as invasões de Eliah.

— Só... Reserva o dia inteiro pra mim amanhã, beleza?

Com a solicitação, os lábios do rei se uniram num sorriso ambíguo.

— Devo dizer que eu já pretendia fazer isso — disse ele num murmúrio alegre e sedutor.

Enquanto as atenções se concentravam no centro do salão, com o príncipe Min ao lado do Ômega de Prata e do rei, os membros da nobreza reagiam de várias formas diante daquele evento extraordinário. A maioria enaltecia a cura do príncipe com honestidade, já outros o faziam apenas pela educação, pois eram ligados à consorte Jeon Haerin e tinham suas aversões à linhagem deixada por Min Hyuna. Havia ainda aqueles que nem se comportavam de um modo e nem de outro. Esse grupo trocava entre si palavras carregadas de veneno que logo seriam sopradas pelos ouvidos do castelo:

— Se o filho primogênito de Wang Nara está saudável, não há motivos para que ele não tente recuperar o trono que lhe é de direito.

— Jeon Haerin deve estar se revirando em algum lugar do castelo com a notícia de que o príncipe Min foi curado.

E, como numa convocação, a consorte deu as caras no salão.

Praticamente flutuando em sua pose perfeita, com o vestido longo da cor de vinho se arrastando logo atrás de si, ela cortou a multidão ao meio — que se moveu rapidamente para lhe oferecer passagem — e parou em frente ao enteado.

— Então é verdade? — Ela o analisou dos pés à cabeça. Seu semblante sempre sublime parecia estranhamente perturbado, mas não como se Haerin estivesse com raiva ou cheia de despeito.

— Sim, consorte Jeon. — Yoongi abaixou a cabeça. A felicidade em sua face diminuiu um pouquinho.

Haerin piscou algumas vezes, um tanto perplexa, e se virou para Jimin. Depois, numa atitude que surpreendeu a todos, ela o reverenciou profundamente.

— O que está havendo? — perguntou um nobre ao outro.

— Ela parece estar agradecendo.

— Mas Haerin não suporta aquela criança. — Os cochichos se espalharam com fervor.

A consorte então se ergueu novamente e virou o corpo devagar, sem encarar ninguém em específico.

— Venha comigo, príncipe — proferiu num tom quase rígido. Quase.

Min Yoongi hesitou um segundo antes de acompanhá-la para fora do salão. Ele encarou Jung Hoseok de relance, bem discretamente, como se buscasse por alguma ajuda em silêncio. Infelizmente o alquimista também não sabia que o iria acontecer e nem quais eram as pretensões da mãe de Jungkook. Nem o rei, que silenciosamente acompanhou a figura do irmão sumindo corredor afora, conseguia imaginar o que Jeon Haerin poderia estar planejando.

A caminhada pelo castelo ao lado da consorte foi desconfortável e inquietante. O príncipe não gostava de ficar a sós com Haerin e se sentia intimidado com a presença dela por vários motivos, sendo um deles o fato de o rapaz saber que aquela mulher guardava profundo rancor de Min Hyuna e, por conseguinte, de todo o seu legado. Fato este que o incluía.

Yoongi franziu o cenho quando percebeu que eles estavam se dirigindo para a antiga ala onde sua falecida mãe ômega havia passado os seus anos como concubina de Wang Nara.

Concubina. Sim, o único título que uma intrusa como Hyuna poderia receber, já que a Grande Rainha já se encontrava devidamente casada com a filha do ramo principal do clã mais poderoso de Adaman, o clã Jeon.

O quarto de Hyuna ficava do outro lado do andar onde se localizavam os antigos aposentos de Wang Nara e de Jeon Haerin, para mostrar a diferença hierárquica entre as mulheres de Sua Majestade. O Harém da realeza sempre fora marcado por coisas assim, é claro que com aquele triângulo amoroso não seria diferente.

Fazia muito tempo que o príncipe não pisava naqueles corredores desertos e empoeirados, praticamente abandonados por todos, como se o mundo houvesse se esquecido de sua mãe de propósito. Era doloroso pensar nisso, pensar em tudo. Era ainda mais doloroso refletir sobre essa questão num dia tão alegre.

Mamãe ficaria aliviada se soubesse que estou curado, ele pensou com um nó na garganta.

— Você se lembra deste lugar? — A voz de Haerin ecoou pelas paredes vazias, assustando o príncipe que se encontrava com a mente bastante dispersa.

— A-ah, sim... Claro que me lembro. — Ele engoliu em seco.

— Hm. — Haerin se moveu em direção às portas. — Então sabe onde era o quarto de Hyuna.

Silenciosamente, Yoongi foi até a maior porta — que, mesmo sendo imensa, não se comparava em requinte e beleza com as dos aposentos reais — e girou a maçaneta. O cheiro de poeira foi a primeira coisa a atingi-lo, depois o de lírios o abraçou como uma lembrança antiga, um manto nostálgico.

Era o perfume de sua mãe ômega. Ele nunca se dissipou.

Assim que os dois adentraram os aposentos, Yoongi assistiu a consorte Haerin se dirigir a um quadro pendurado à parede. Na pintura jazia a imagem de Hyuna, Nara e a versão em miniatura do príncipe Min. Os três sorriam. Era um desenho bonito com tons claros, e ele transmitia uma sensação de leveza para o espectador.

— O que a senhora está fazendo? — perguntou o rapaz quando a mulher moveu o quadro para o lado, tirando algumas teias de aranha e afastando bolos de poeira.

Ela o ignorou e continuou a fazer o que pretendia.

Depois de tirar a pintura do caminho, suas mãos tatearam a parede lisa até encontrarem uma superfície falsa feita de madeira. Em seguida, a ômega puxou uma adaga de um bolso escondido no vestido e enfiou a ponta afiada naquela superfície. Com um impulso, ela arrancou a madeira e abriu um compartimento secreto da parede.

— Pegue logo o que há ali dentro — disse enquanto voltava a guardar a adaga no bolso do vestido.

Yoongi olhou para a arma com receio. Ele perguntou a si mesmo se, em algum momento de sua vida, Haerin havia tentando matá-lo com aquilo.

Ignorando esses pensamentos, o príncipe se aproximou do buraco na parede e colocou a mão dentro dele. Ele sentiu o formato de um caixote mediano e o tirou de lá rapidamente, com o coração acelerando.

O caixote era todo decorado com prata, ouro e madeira branca, as cores do clã Min. Yoongi olhou para o objeto em suas mãos e depois para Jeon Haerin, esperando uma explicação ou talvez um consentimento. A consorte se manteve quieta com um semblante pensativo, olhar opaco, sem demonstrar que falaria algo para ele.

Decidiu então abrir a caixa e descobrir o que havia lá dentro.

Quando o fez, ele piscou freneticamente.

— Isto é um... elmo? — Tirou um capacete do caixote e admirou os seus detalhes, os quais eram iguais aos de seu compartimento.

O acessório muito usado em batalhas era banhado em metais dourados, brancos e prateados, e parecia ser antigo, pois a superfície estava marcada por pequenos arranhões, mostrando sua utilização em lutas de outros tempos.

— É uma relíquia do clã Min que Min Hyuna recebeu de presente antes de fazer parte da legião de arqueiros do exército da Grande Rainha. — explicou Haerin depois de longos minutos em silêncio.

— O-o quê? Minha mãe ômega fez parte do exército de Wang Nara?

— Como você acha que elas duas se conheceram? — A voz da consorte se tornou cortante, mas a navalha afiada de sua língua se desfez depois de um suspiro prolongado. — Hyuna era uma arqueira excelente e certa vez salvou Nara da morte. Depois disso, elas ficaram mais... próximas...

O olhar negro dela voltou à opacidade de antes.

— Esse elmo que você está segurando foi usado por Hyuna durante todos os anos em que ela lutou como guerreira. Aquela mulher continuou na legião da Grande Rainha por mais algum tempo, mas aí descobrimos que você tinha uma enfermidade, então ela parou com essa vida e guardou o elmo para sempre.

— Por que ela fez isso? — Yoongi nunca tinha ouvido tanta coisa nova sobre sua mãe. Ele não se lembrava dessa parte da vida dela e por isso sentia como se estivesse descobrindo um mundo novo.

— Ela preferiu esconder isso porque sabia que você não seria capaz de levar o legado do clã Min ao campo de batalha. — Suas palavras foram cruéis, mas honestas. — Hyuna escondeu esse elmo porque, se tivesse conhecimento dele, você provavelmente iria se sentir... Pior.

Min Yoongi podia jurar que havia um pingo de solidariedade nas palavras de Jeon Haerin. Era tão sutil que, por um instante, ele questionou se estava tendo uma alucinação depois de receber tantas informações. Informações pesadas que o machucaram, mas que também fizeram o rapaz sentir mais uma vez o gosto da preocupação maternal de sua mãe ômega.

— Enfim. Se o que me transmitiram está correto, o seu corpo agora deve ser capaz de até mesmo se transformar num lupino sem grandes dificuldades. O interior do elmo é feito com madeira da Árvore Sagrada, então pode e deve ser usado em todas as ocasiões necessárias...

Haerin exalou outro suspiro e deu meia-volta. Com um aceno rápido, ela se despediu do enteado e encerrou o assunto, depois, caminhou até a porta para ir embora dali e puxou a maçaneta. Antes de sumir do campo de visão do príncipe, ele disse algo que a fez interromper o passo:

— A senhora não me odeia... Não totalmente. — Yoongi estava assustado com suas próprias palavras, mas era isso o que ele sentia naquele momento. Naquele único e raro instante.

A consorte não o respondeu outra vez. Ela saiu porta afora em sua elegância soturna e fria, deixando Min Yoongi sozinho com lembranças que não eram dele, mas que faziam parte de sua alma.

🌕🌖♛🌘🌑

A noite foi marcada por um jantar especial e divertido requisitado pelo rei para comemorar a cura de seu irmão mais velho. Por conta disso, o castelo parecia em festa, como se estivesse numa noite de baile bastante agitada.

A refeição perdurou até a Lua alcançar o topo do céu noturno. A essa altura, a maioria dos presentes, incluindo Jeon Jungkook e Park Jimin, já se retirava para o descanso de seus aposentos.

Lu Keran permaneceu à mesa por mais algum tempo, mesmo sentindo o cansaço que naturalmente vinha com a noite. De estômago cheio, ele observava os outros imersos em conversas e as crianças da nobreza brincando umas com as outras pelo salão de jantar. Jina estava no meio delas e arrastava o pequeno Soobin para todos os cantos possíveis, como se o garotinho fosse o seu mascote especial.

Com a mente um pouco zonza pelo álcool que havia ingerido mais cedo sob a sugestão insistente de Park Jimin, o discípulo de Jung Hoseok se levantou da cadeira e vagou em busca de um rosto que não tinha visto há um bom tempo desde o término oficial do jantar.

Ele deve ter ido aos estábulos..., pensou com um revirar de olhos e se moveu para sair do castelo.

Caminhando em tropeços levemente ébrios, Keran atravessou o jardim e se aventurou pelos campos abertos do exterior palaciano, os quais eram iluminados apenas pelos pálidos feixes de luz lunar, tornando o manto de neve sobre o chão ainda mais etéreo do que de costume.

Assim que avistou as luzes do estábulo acesas, o rapaz concluiu que sua teoria estava correta. Havia alguém lá dentro, alguém que ele conhecia muito bem.

Era Kim Namjoon.

O General de Adaman escovava os pelos de seu cavalo devagar, como se não tivesse a pretensão de terminar aquele trabalho. Ele não parecia ligar para o fato de que estava vestindo roupas casuais claras e finas, muito suscetíveis à sujeira natural de um estábulo, e o seu olhar também não se concentrava no garanhão marrom que era escovado.

— Vossa Excelência pode fazer isso amanhã — disse Keran depois de algum tempo observando o alfa de longe. — Ainda temos um dia antes de irmos para o Sul com as tropas de Sua Majestade.

Os olhos de Namjoon se viraram para encarar o curandeiro de soslaio. Ele tinha sentido o cheiro dos feromônios dele alguns instantes antes de o rapaz surgir no estábulo, mas escolheu não dizer nada.

— Eu prefiro fazer o que puder fazer enquanto me for possível, Keran — disse o General com um meio sorriso. Nisso, sua bochecha foi marcada por uma covinha profunda, um sinal de beleza minucioso. — E você? Por que está perdendo uma noite tão bonita para vir a um estábulo fedido?

— Vim procurar um homem teimoso para entregar a ele um... presente.

— Presente? — As sobrancelhas de Namjoon se contraíram.

— Fiz este broche para o senhor. — Keran caminhou até o alfa e mostrou um objeto de madeira um pouco menor do que a palma da mão miúda dele.

Namjoon pegou o presente e o analisou.

— Há uma tulipa amarela — concluiu, seu sorriso ficando maior —, é a preferida de Jina.

— Sim. É para que Vossa Excelência se lembre de sua filha durante os dias em que estiver longe de casa.

O General reagiu com um "Oh" silencioso e um olhar arregalado.

— ... Sinceramente, obrigado, Keran — murmurou acariciando o broche.

O discípulo do Alquimista Real virou o rosto ligeiramente, pois sentiu um calor enrubescendo as bochechas.

— A-ainda há algo a mais. Se o senhor notar... — O garoto mexeu na lateral do broche e o abriu como uma caixinha. — O broche se abre num compartimento. Pode ser útil para pôr mensagens secretas ou cápsulas medicinais. — Ele riu com um pensamento. — Sei que Vossa Excelência provavelmente irá se esquecer de repor as cápsulas, mas eu estarei lá para fazer isso em vosso lugar, como sempre estive.

Kim Namjoon internalizou aquela ideia em sua quietude costumeira. No entanto, Keran conseguiu captar algo estranho nos olhos castanhos do General, uma hesitação incomum.

— Eu prefiro que você não vá desta vez — murmurou o alfa, afastando o olhar do ômega.

— Por quê?

— As coisas serão imprevisíveis, e um confronto com Eliah, que é um reino quase tão forte quanto o nosso, será terminantemente complicado. O rei pretende tentar uma última negociação antes de erguer a espada quando atravessarmos a fronteira, mas ainda assim...

O curandeiro bufou incrédulo com aquele pedido, e ao mesmo tempo gostou um pouco de saber que Kim Namjoon estava preocupado com ele.

— Então eu gostaria de pedir a Vossa Excelência para que não vá — retrucou.

— Isso é impossível, Keran. Sou o General. Além de ter o rei como um irmão, sou o braço direito dele. Jamais o trairia dando as costas ao meu dever.

— E eu sou um dos curandeiros de Sua Majestade. Fiz votos quando fui adotado pelo clã Jung. Também tenho deveres para com a coroa... e para com os meus sentimentos.

Keran tocou o ombro de Namjoon e inclinou para buscar uma troca de olhares com ele. O alfa virou o rosto para longe outra vez.

— ... É diferente, Keran.

— Não, não é. Está me dizendo para ficar porque será perigoso. Como acha que eu me sentirei longe do senhor numa situação feito esta?

— Faria-me um grande favor se ficasse e cuidasse de Jina. Ela necessitará de você mais do que eu irei necessitar.

O curandeiro paralisou diante daquela afirmação.

Com punhos cerrados e uma amargura na garganta, Keran se virou e saiu caminhando a passos pesados.

— Perdão por não ser tão necessário a Vossa Excelência! — Ele exclamou enquanto se distanciava. Infelizmente a leve tontura da bebida o impedia de andar em linha reta até a saída do estábulo.

— Espere! Minhas palavras foram mal compreendidas! — Namjoon se apressou para alcançar o garoto antes que ele estivesse longe demais.

— Pois saiba, Vossa Excelência, que em breve terei o meu cio, e o senhor também não será necessário para mim.

— O que está dizendo? — O General conseguiu segurar o braço de Keran.

— Não sei o que estou dizendo. Estou com raiva e um pouco bêbado. Boa noite, General! — O ômega o afastou com um pequeno empurrão.

— Por que sempre temos conversas assim quando você está fora da sobriedade?

— Porque minha personalidade introvertida normalmente me rouba toda a coragem de expressar os meus pensamentos diante de sua pessoa. A bebida é... Milagrosa — citou uma frase que certa vez Park Jimin havia dito para ele.

Kim Namjoon chacoalhou a cabeça e soltou o ar pelo nariz.

— Eu gostaria de ter essa capacidade de falar pelos cotovelos depois de beber apenas alguns copos de soju... Seria mais simples me expressar assim.

Lu Keran riu e disse:

— Quando Vossa Excelência bebe, fica ainda mais quieto e silencioso...

O General concordou balançando a cabeça.

— E também mais sério... Mais teimoso... — Keran continuou a listar.

— Está bem, está bem. Eu já entendi.

O curandeiro fechou a cara e encostou a testa no peito do alfa. Respirou fundo para sentir os feromônios cítricos dele.

— Irei acompanhá-lo, General Kim, não importa o que o senhor diga...

Kim Namjoon se calou diante daquilo, pois sabia que não adiantaria insistir. Por mais que estivesse com um medo estranho fervilhando em seu interior, ele não poderia controlar a vida e as decisões de Lu Keran.

Sendo assim, abraçou o garoto devagar, acomodando as mãos nas costas dele.

Após alguns minutos nessa posição, o alfa sussurrou no ouvido do ômega:

— Então eu realmente não serei necessário no seu cio?

Keran engoliu em seco e sentiu o sangue subir à cabeça, queimando suas veias e deixando sua pele completamente ruborizada. O constrangimento era tanto que ele queria fugir, mas os braços do General ao seu redor eram fortes demais.

Então, ao invés de correr e se esconder, ele escolheu ser audacioso.

— Para ser necessário... o senhor não precisa esperar até o meu cio.

O abraço se apertou, a respiração de Kim Namjoon ficou mais profunda, assim como o aroma que o rodeava. O mesmo ocorreu com o perfume que Lu Keran exalava. O convite implícito e tímido fora realizado, bastava um deles agir.

Primeiro, o General inclinou a cabeça devagarinho para aproximar o rosto do pescoço do curandeiro, permitindo que suas narinas absorvessem o perfume concentrado naquela área. Keran se arrepiou com o calor da pele dele contra a sua, a ponta do nariz roçando em invisíveis linhas paralelas e descendo até a sua clavícula.

Quando Namjoon se deparou com a gola da bata usada pelo garoto, a qual o separava de todos os frutos que desejava saborear, ele se sentiu levemente desafiado. Os olhos castanhos brilharam como tochas em seu rosto oval e viril. Os feromônios ganharam intensidade, deixando as pernas do ômega fracas e trêmulas.

— General... hm — balbuciou Lu Keran, com a face ardendo e a respiração esquentando. Era a sua primeira vez reagindo com a presença absoluta daquele alfa. O garoto se sentia zonzo e cheio de desejos lascivos, com o corpo queimando em suas regiões mais íntimas.

Kim Namjoon então o puxou para cima, colocando-o no colo, enrolando as pernas dele ao redor de seus quadris. Deitou Keran numa cama improvisada de feno limpo e quente, com o seu manto de inverno por cima para não ferir as costas do curandeiro que logo seriam despidas.

Acomodados naquele espaço, os dois começaram a se beijar com ardor. Com os lábios ocupados e os olhos cerrados para que conseguissem sentir tudo apenas através da sensibilidade de suas peles, eles tatearam seus corpos de cima a baixo, acariciando os cabelos, os rostos, os ombros, os peitos,...

Tiraram suas vestes aos poucos, lentamente, como se pedissem permissão a cada instante. Ainda estavam acanhados, mesmo que cheios de desejo.

Seus olhos só voltaram a se abrir para admirar a visão da nudez, e absorveram cada centímetro exposto, cada ângulo, eixo e protuberância. Gemeram seus nomes em vozes entrecortadas quando se uniram na mais absoluta intimidade. Keran tremia e se contorcia de prazer debaixo de Namjoon, enquanto este movia o corpo com impulsos frenéticos deliciosos.

A experiência do General possibilitou ao virgem uma primeira vez absolutamente satisfatória e inesquecível, um acolhimento cheio de sentimentos sinceros amplificado pelas carícias entregues.

Do lado de fora, em contradição, caía uma nevasca congelante e desoladora de um inverno que não prometia um fim.

🌕🌖♛🌘🌑

— Beleza! — exclamou Park Jimin após verificar, pela vigésima vez, a estrutura e todos os mecanismos do imenso presente que daria a Jeon Jungkook naquela fria, porém agradável manhã.

Ainda havia resquícios da nevasca da noite anterior, como a densa camada de neve sobre o chão a ponto de fazer os pés afundarem, e o congelamento de todos os leitos aquosos por Adwan. Os animais também tinham se retirado para uma longa hibernação, e somente aqueles mais resistentes ao frio davam as caras pelas florestas que circulavam a capital real.

Porém, mesmo num cenário tão invernoso, o dia tinha amanhecido com ventos calmos e um céu limpo, o que era perfeito para os objetivos de Jimin.

— Estás certo de que isso funcionará? — Jung Hoseok estava com uma mão sobre o queixo, seus dedos se arrastando pela mandíbula. Ele olhava intrigado para a enorme estrutura que Jimin havia construído com a sua ajuda.

— Sim, eu refiz todos os cálculos. E o tanque também está cheio, então essa belezinha vai conseguir erguer dois homens adultos por um bom tempo! — disse Jimin, com as mãos nos quadris, numa pose confiante.

— Então de fato será incrível! — O alquimista arregalou os olhos e bateu palmas. — Já que estamos prontos, eu convocarei Sua Majestade.

— Ah, não, pode deixar que eu vou... — ... buscar ele, Jimin não conseguiu completar a frase porque, nesse momento, ele sentiu o mundo dar voltas. Sua mente ficou zonza por um segundo, como se sua pressão tivesse baixado repentinamente; e um suor frio desceu pela sua testa, resultado de um nó repentino no estômago.

Mas que droga! Eu comi alguma coisa que me fez mal? Não posso ficar doente numa época como esta!, Irritou-se em pensamentos

— Sor Park? — Hoseok notou a súbita quietude do ômega.

— An? Ah, hahaha... — Jimin coçou a nuca e tentou se recompor. — É que eu acabei de perceber que preciso verificar mais uma coisinha no motor! — Ele decidiu não se mover muito, pois o seu cérebro ainda queria girar.

— Então... Sua Graça, desejas ou não que eu chame o rei?

— Chama! Chama sim. Valeu! — Jimin pigarreou. — Ah, alquimista Jung, aqui existem remédios que curam dor de barriga? Acho que comi algo ruim no jantar de ontem.

— Decerto que existem. Está se sentindo descomposto?

— Só um pouco, nada demais. Um cházinho resolve — disse o ômega. Ele então meneou a cabeça e murmurou: — Não fala sobre isso pra o Jungkook, 'tá bom? Senão ele nem vai curtir o presente direito.

— O rei é muito cuidadoso com você. — Hoseok pensou alto e exibiu um sorriso de canto. — Min Yoongi contou-me sobre o quanto ele está mudado depois que o conheceu.

— Mudado?

— Mais sorridente e livre — explicou o alquimista. — Bem, eu concordo. Vossa Majestade era bastante sério e distante. Uma cópia autêntica da Consorte Jeon Haerin.

Jimin pensou um pouco sobre aquilo. Seus lábios carnudos acabaram se abrindo num semblante feliz e levemente constrangido.

— Enfim. Chamarei Sua Majestade. — O alquimista virou o corpo e saiu andando. Quando já estava distante, exclamou: — Chamarei também alguns espectadores, porque, se a sua invenção funcionar, será estupendo! Um marco, definitivamente! Imagine só um homem alcançando as nuvens!

Jimin se animou com a agitação do outro homem e virou a cabeça para observar mais uma vez a tal invenção.

O presente que o garoto daria para Jeon Jungkook realmente tinha a capacidade de levá-lo até as nuvens, pois se tratava de um balão de ar quente com 25 metros de altura nas cores vermelho e amarelo.

Foram necessários alguns dias apenas para arranjar todo o material necessário em sua estrutura, e algumas semanas para montá-lo e testá-lo.

Primeiro fizeram testes com miniaturas. Jung Hoseok ajudou bastante com os cálculos do peso da cesta que transportava pessoas. Ele não sabia o que era Física, mas, no mundo de Jimin, o alquimista seria um físico excelente.

Já Park liderou a montagem do balão e construiu, com o auxílio de um ferreiro do exército real, um dispositivo que queimava líquido inflamável para liberar o ar quente que faria aquele enorme transporte flutuar.

Foi o trabalho em conjunto que possibilitou um resultado excelente.

Enquanto aguardava o retorno do Alquimista Jung com Jeon Jungkook, o ômega puxou as cordas para posicionar bem o cesto e prendê-lo em pequenas lanças de ferro grudadas ao chão. Ele também acendeu o queimador e fez a lona do balão se encher como uma imensa nuvem.

A visão daquela coisa peculiar atraiu a atenção de várias pessoas que passavam por aquelas redondezas. Logo se formou uma multidão de curiosos ao redor do lugar onde o balão de ar quente flutuava. De início, ficaram assustados com aquilo, mas depois relaxaram quando viram o Ômega de Prata segurando as cordas do curioso transporte.

— Deve ser outro de seus milagres — murmurou alguém com um ar impressionado. Várias vozes concordaram com essa suposição.

Jimin escutou aquilo em silêncio.

Hm, eu deveria explicar pra eles que não usei nenhuma magia e que qualquer pessoa bem instruída e com os materiais corretos poderia construir um balão?, refletiu consigo mesmo.

Mas aí outra pessoa gritou:

— Aquilo realmente está voando! O Ômega de Prata é, de fato, muito poderoso! — A multidão vibrou e se encheu de aplausos.

Nah, quem precisa de explicação? Vou deixar eles pensarem que eu sou demais, o ômega concluiu em pensamentos e acenou para o público como se fosse uma estrela de cinema.

— Sua Majestade real se aproxima! — exclamou um soldado que surgiu no meio do aglomerado de pessoas.

Park Jimin virou o corpo no mesmo instante e buscou entre as dezenas de rostos que havia por ali o de Jeon Jungkook. O ômega estava louco para ver a expressão que o alfa faria quando visualizasse o balão. Seu coração ansioso batia cheio de expectativa.

Espero que ele goste.

Espero que ele não me ache um maluco.

Quando Jungkook surgiu, as pessoas abriram passagem para ele e se curvaram em sua presença. O rei alfa caminhou calmamente por elas, com as mãos elegantemente dispostas em suas costas, e se aproximou de Park Jimin sem falar nada.

O seu olhar negro, contudo, dizia quase tudo o que estava passando em seus pensamentos.

Jungkook estava intrigado e curioso com aquele imenso... objeto. Ele olhava para o balão, depois voltava a encarar Jimin. Seus lábios se abriam e depois fechavam como se estivessem procurando as palavras certas para formular uma pergunta.

— Er... TCHRAM!! — Park estendeu os braços dramaticamente para exibir o presente gigantesco. Ficou assim durante vários segundos, esperando por alguma reação do rei.

— Eu... Eu sinceramente não sei o que dizer, Jimin. O que poderia ser essa... — Jungkook tocou o cesto de transporte —, essa coisa?

— Um balão de ar quente, hehe... — O sorriso de Jimin era malandro. — Adivinha o que ele faz.

Jungkook franziu o cenho e encarou o balão de cima a baixo. Ele olhou para as cordas que prendiam a estrutura ao chão, depois analisou o queimador aceso que enviava vapor ardente para dentro da lona redonda e se concentrou no fato de que aquela "coisa" estava flutuando bem diante de sua pessoa, como se não pesasse absolutamente nada.

— Tenho uma hipótese, mas eu não ouso proferi-la em voz alta, pois é deveras... absurda. — O rei riu de si mesmo.

— Fala, fala! — Jimin chacoalhou os ombros dele. — Nada neste lugar é mais absurdo do que eu, vai por mim. Pode dizer o que está pensando.

Jungkook reprimiu uma gargalhada e segurou a mão do ômega com carinho. Ele a beijou em seguida.

— Estou louco ou esse... "balão de ar quente" consegue voar? — O olhar magnetizante dele buscou os de Jimin.

— Acertou, Majestade.

Jungkook piscou perplexo.

— Então ele realmente voa?? Voa como um pássaro??

— Não como um pássaro, mas ele flutua até estar bem alto no céu.

Com aquela informação em mente, o jovem rei encarou o cesto de transporte e respirou fundo, como se estivesse se preparando para a próxima pergunta.

— Esse "balão de ar quente" consegue carregar pessoas até as nuvens?

— Sim! O cesto tem capacidade pra erguer até cinco pessoas. Eu tomei muito cuidado na hora de calcular isso...

Com a resposta de Jimin, as pupilas negras de Jungkook passaram a brilhar tanto que pareciam faróis criando a própria luz. Ele estava encantado.

— Nós voaremos agora? — perguntou, e Park Jimin o achou semelhante a uma criança feliz que tinha ganhado o brinquedo dos sonhos.

— Claro! — O ômega se apressou para abrir a portinha de entrada do cesto e convidou Jungkook para entrar nele.

Em dois tempos os dois já estavam dentro do balão.

Jimin gritou para Hoseok, que havia aparecido momentos depois do rei, e pediu para que ele desamarrasse o nó das cordas que prendiam o transporte flutuante ao chão. Enquanto isso era feito, o rapaz entregava para Jungkook capas e luvas de proteção contra fogo.

— É só uma medida de precaução. 'Tá vendo esse negócio aqui em cima? — Park apontou para um mecanismo feito de ferro que soltava o fogo. — É um queimador. O vapor que ele produz faz o balão se encher e subir. Precisamos controlar o fogo pra controlar o voo.

— Compreendo...

Enfim vestidos e seguros, Jimin puxou as cordas para dentro do cesto e intensificou as chamas do queimador. Num solavanco, o balão subiu céu acima, surpreendendo toda a multidão que assistia e roubando um arquejo eufórico de Jungkook.

— Pelos deuses! — O jovem monarca sorria de orelha a orelha enquanto observava o chão ficar cada vez mais distante. Poucos minutos depois os campos, o castelo e as casas da capital diminuíram de tamanho, e a muralha ao redor de Adwan se tornou uma mureta retorcida sob os olhos de Jeon.

Em contrapartida, o céu diante dele se mostrava cada vez mais amplo e palpável. As nuvens brancas e cheias cortaram-lhe a visão, e foi completamente magnífico.

— Você gostou? — A voz de Jimin se misturou ao vento.

— E-eu... — Jungkook estava literalmente sem palavras. Ele abriu os braços para alcançar as nuvens e sentiu água molhando suas mãos. — Elas não são como algodão...

O ômega pôs o queixo no ombro dele e murmurou:

— Você pensava que seriam?

— Sim. Mas, na verdade, são feitas de água!

— Pois é... Partículas de água em suspensão. — Jimin se arrepiou. — Ou de gelo. Caramba, que frio!

Mesmo usando roupas de inverno, feitas com grossas camadas de tecido, e ainda coberto pelo manto à prova de fogo, Park Jimin conseguia sentir a baixa temperatura atravessando sua espinha.

— Venha cá, eu o esquentarei. — O rei o abraçou confortavelmente.

Por ser um alfa, a temperatura corporal dele era naturalmente alta. Jimin agradeceu pela existência desse detalhe naquele mundo.

— Como na Terra isso é possível? Como você fez esta coisa imensa voar tal qual uma criatura alada? — Jungkook sussurrou a pergunta, ele estava completamente disperso diante de todo aquele cenário.

— Em resumo, é possível por causa da diferença de densidade do ar. O ar quente é menos denso do que o ar frio, então ele sobe e fica flutuando...

— "Densidade", interessante... Você trabalhava com coisas assim em seu mundo?

— Na verdade, não. Os meus estudos se concentravam em química, então construir balões e aeronaves nunca foi da minha área, haha... Mas eu paguei matérias de física que se mostraram bastante úteis durante a construção desta belezinha aqui. — O ômega deu tapinhas no parapeito do cesto. — Também tive ajuda do Alquimista Jung e de outras pessoas. Este presente não é só meu, Jungkook.

— E mesmo assim não sei o que dizer a você diante de tudo isso. Olhe esse cenário! — As nuvens se abriram num horizonte amarelo e azul. O verde escuro das florestas cobertas por neve e os picos das montanhas que se erguiam como rochas cinzentas eram um colírio aos olhos.

— Não me esqueci do que você falou naquele tempo sobre querer saber como é a sensação de voar. Eu queria te mostrar essa experiência antes de irmos para uma viagem tão perigosa quanto a de amanhã — explicou Jimin contra o peito do outro.

O abraço se tornou mais apertado.

— É perfeito... Preocupou-se com um desejo meu que até então eu considerava impossível de se realizar, e chegou a se mobilizar para torná-lo real. Eu não sei como agradecer. — O alfa suspirou fundo e depositou um beijo demorado na testa do ômega. Em seguida, ele olhou para cima e notou que mais flores pequeninas começavam a desabrochar no topo dos chifres de Jimin.

Poderia aquilo ser um indicativo de que o outro garoto estava muito feliz? O rei sorriu com a ideia.

— Jungkook... — chamou Jimin de repente, seu tom de voz sério se contrastando com o clima romântico e com todos os sentimentos bons que pairavam entre eles.

— Diga.

— Eu prometi que te daria uma resposta para aquela... Proposta de compromisso.

O alfa ficou em silêncio durante um instante antes de sussurrar de volta:

— Não é necessário... Não precisamos trocar votos de matrimônio apenas para seguirmos uma tradição de meu povo. Estamos vinculados, Park Jimin. Isso, para mim, é suficiente. É definitivamente suficiente.

— Verdade... Ouvi dizer que o vínculo nos une meio que pra sempre. Tipo... Eterno. — Jimin tentou não demonstrar todo o assombro diante daquela informação. Não era hora para isso. — Enfim, é mais forte do que uma promessa falada na frente de um altar.

— ... Sim. — O olhar de Jungkook estava distante, preso entre as nuvens, mas não as refletia tanto quanto era capaz.

Foi nessa hora que Jimin decidiu surpreendê-lo.

— Mas com um casamento eu passaria a te chamar de marido, esposo... E também teríamos esses tais colares, não é? Colar de casal, hmmm, é fofo.

O rosto de Jungkook ganhou um leve rubor. Ele se atrapalhou tanto diante das palavras de Jimin que precisou limpar a garganta duas vezes.

— Jimin...?

— Me diz uma coisa. Depois que nós nos casarmos, eu vou me tornar o seu rei consorte ou algo assim?

— Depois... De-depois que nós nos casarmos? — Os olhos do rei piscaram freneticamente. Ele parecia perdido.

— É, ué? Olha, no meu mundo, fazer algo assim tão rápido com alguém que eu conheço há pouco mais de um mês é doideira! Mas eu já entendi que não 'tô no meu mundo e que as coisas por aqui funcionam beeem diferente, principalmente em relação a amor, romance e et cetera. — Jimin apertou o abraço ao redor do alfa. — E, de qualquer forma, nós literalmente estamos marcados pra sempre... Mas é nessa parte em que entra o problema.

— Problema? Qual?? Saiba que eu o eliminarei imediatamente.

— "Sempre" é uma palavra meio assustadora. — Jimin ergueu a cabeça para olhar o fundo dos olhos de Jungkook. — Eu não sei como te dizer isso, nem sei se você pode saber, mas..., tenho medo do que pode acontecer a partir de amanhã. Fiquei o mês todo pensando sobre isso e revendo algumas ideias, Jungkook. Não sei como te explicar, mas este lugar, o seu mundo, tecnicamente segue um ritmo.

O rei inclinou a cabeça para o lado, seu semblante denunciava a confusão dentro da mente.

— Refere-se a destinos? — Ele tentava compreender o ômega.

— Mais ou menos... Acho que sim. Pense nisso como destino. O meu, o seu, o das pessoas do seu reino. Nos meus primeiros dias aqui em Adaman eu não fiquei tão preocupado com essa parte, mas agora... — Jimin fechou os olhos e pensou em todos os amigos que tinha feito, pensou também em Jeon Jungkook e nos sentimentos que atualmente nutria por ele. Agora era impossível pensar naquelas pessoas como meros personagens de um livro. — Preciso te avisar sobre algo que sei.

— Diga-me. Estou ficando receoso com suas palavras, Jimin.

— Você se lembra daquele monstro que nos atacou na sua noite luar? Acho que ele pode voltar.

— Crê que a besta não está morta?

— Sim. Ou que pelo menos alguém mais forte que ela irá aparecer... É uma hipótese, mas acho que aquela coisa estava atrás de mim ou de você. Ela matou os seus soldados discretamente para entrar no castelo, não foi? Significa então que procurava algo...

As pupilas negras de Jungkook quase adquiriram uma tonalidade vermelha.

— Você era o alvo dela — disse com os dentes cerrados. — Sei disso porque, naquela noite, senti os feromônios da besta enquanto ela o segurava. Eles a envolviam num aviso para que ninguém mais se aproximasse. Nem alfa, nem ômega.

Park Jimin engoliu em seco.

— Será que ela já sabia que eu seria o Ômega de Prata? Porque eu realmente não sei qual a outra razão para vir atrás de mim...

Os dois refletiram por alguns segundos.

— Por que crê que ela poderá voltar? — perguntou Jungkook.

— Se você não vê o corpo morto, então não está morto. É uma regra absoluta, vai por mim... Mas, Jungkook, eu não acho que ela irá aparecer sozinha da próxima vez, ou pelo menos não voltará do mesmo jeito que antes. Não sei como te convencer das coisas que estou te dizendo agora, mas presta atenção. — Jimin segurou os ombros do outro jovem. — Você está mais forte, e eu também consegui umas habilidades legais, então os nossos próximos problemas serão maiores. A viagem de amanhã pode ser o início de, talvez, uma nova fase... Se lembra do que a matriarca Min disse para nós na Mesa de Prata? Ela falou sobre estar sentindo algo ruim em Eliah. Uma coisa grande e perigosa pode estar acontecendo lá no Sul.

O rei o observou em silêncio enquanto processava as palavras ditas. O seu semblante impassível não denunciava os pensamentos que pairavam em sua mente.

— Eu sei que 'tô parecendo um maluco dizendo essas coisas... — murmurou Jimin —, mas é por causa disso que falei antes sobre a palavra "sempre" ser assustadora. Não gosto de falar sobre eternidade muito cedo, porque existe o risco de, sei lá, o destino vir e jogar uma avalanche em cima da gente.

Os lábios de Jungkook se curvaram num sorriso sutil. Ele inclinou a cabeça para encostá-la na lateral da face de Jimin.

— Não o considero um maluco, pois boa parte de suas preocupações também são inerentes a mim. E aquelas que, de certa forma, me são incompreensíveis, agora se tornarão minhas, porque acredito em você.

— Realmente acredita em mim?

— Claro... Quando foi que você se mostrou não confiável? Às vezes é tão sincero e sem filtros que eu acabo sem saber como reagir.

As bochechas de Jimin ganharam um tom rosado.

— Então... Já que coloquei todas as cartas na mesa, vou falar o que pretendia desde o início deste passeio. — O garoto segurou o rosto do rei, impulsionou-se para cima e o beijou. — Quero experimentar ser o seu marido — disse contra os lábios dele.

Jungkook ficou estático, e, ao mesmo tempo, as batidas de seu coração se aceleraram, aquecendo o peito e liberando sentimentos bons para todo o corpo.

— Mas disse-me há pouco que temia promessas sobre eternidade. — A mente dele girava.

— Eu sei. É completamente contraditório e tudo mais, mas... Hahaha, eu gosto muito de você. Muito mesmo. Isso é tão estranho...

O alfa acariciou o rosto dele com carinho, abrindo um sorriso imenso e sustentando um olhar reluzente e feliz.

— Então casará comigo?

— Sim, eu vou sim...

Os dois sorriam como bobos e se encaravam como se nada mais existisse. As nuvens ao redor deles ficaram mais densas, cobrindo todas as partes do balão e deixando-os como se estivessem flutuando por entre elas.

A promessa fora feita, e o céu era a sua maior testemunha.

Jungkook colocou Jimin contra o canto da cesta, encostando-o no suporte de metal reforçado e segurando-o firmemente enquanto o beijava com ardor. Foi abraçado pelo garoto e sentiu os dedos dele se afundando em suas mechas negras, acariciando-as e puxando-as devagar, de um jeito provocativo que o alfa amava.

Desejaram fazer amor ali, entre as nuvens, mas estava frio demais para que despissem seus corpos, então se limitaram a carícias, toques por baixo das roupas e amassos salientes. As mãos de Jungkook eram as mais libertinas, elas viajavam para todas áreas que poderiam alcançar, e o calor delas, quando entravam em contato com a pele do ômega, ardia feito brasa.

No entanto, às vezes elas subiam para o rosto de Jimin e iam até os chifres dele, com a inocente intenção de sentir a textura, a haste delgada e a curvatura deles, e também as flores macias e perfumadas de seus brotos.

— Estou começando a perceber que você tem mania de ficar tocando os meus chifres enquanto estamos nos beijando ou fazendo outras coisas — sussurrou Jimin com os lábios tocando os de Sua Majestade.

O rei soltou uma pequena risada e disse:

— Sou assim tão óbvio?

Jimin gargalhou e se virou para observar a paisagem lá embaixo, com os braços de Jungkook ainda ao redor de seu corpo. Eles ficaram assim, observando o cenário e suspirando profundamente, durante um bom tempo.

Até que Park Jimin voltou a sentir o estranho desconforto de antes, quando ainda conversava com Jung Hoseok durante a última verificação da montagem do balão.

Na cabeça do ômega, o cesto de transporte parecia balançar mais do que o normal. Isso acarretou em náuseas repentinas que fizeram suor frio escorrer pela testa dele.

Instintivamente, ele segurou forte a mão de Jungkook e se inclinou para frente.

— Jimin? — O alfa percebeu a atitude estranha do outro rapaz e o puxou para conseguir vê-lo melhor. Quando o fez, notou que o rosto de Jimin estava extremamente pálido.

— ... Jungkook... Eu preciso descer. 'Tô passando mal — choramingou o garoto.

— Claro, iremos descer agora mesmo. Diga-me o que fazer para pousar este "balão de ar quente".

Jimin o instruiu da melhor maneira que pôde enquanto tentava controlar a vontade de cair no chão do cesto e vomitar todo o conteúdo de seu corpo.

Jungkook fez o ar quente escapar do balão aos poucos, provocando uma descida rápida, mas cuidadosa. Eles estavam flutuando em cima de um campo aberto, ótimo para aterrissagem, então o pouso não seria difícil ou problemático. A maior preocupação do rei naquele momento, no entanto, se concentrava no ômega, que tentava se sustentar no parapeito do cesto enquanto tremia e engolia em seco repetidas vezes.

Com o balão a pouco menos de vinte metros do chão, eles passaram por um caminho de terra pelo qual caminhavam um grupo de pessoas. O grupo parou para observar o enorme objeto voador em cima deles.

Não deveriam ter feito isso.

— Eu não... Aguento mais... UGH! — Jimin colocou a cabeça para fora do cesto e vomitou tudo o que tinha comido no desjejum daquela manhã.

Adeus caldo de galinha, bolinhos de morango e chá doce.

Quando terminou, viu o estrago que tinha feito.

— Puta merda, eu vomitei na careca de um homem — balbuciou bastante zonzo.

Jungkook se inclinou para ver a cena e chacoalhou a cabeça.

— Hm, veja por outro ângulo: Você acabou de presenteá-lo com uma peruca.

— Que nojo... — Após dizer isso, Jimin revirou os olhos e caiu para trás.

~♛🌕🌖🌘🌑♛~

#LoboDePrata

Muito obrigada pela sua leitura!! Deixe o seu ⭐VOTO⭐ para me incentivar a continuar💜

Uma palavra para esse final: IRRA. Okay, nem preciso dizer o que vai acontecer, porque vocês já devem estar marcando o batizado da criança skskskskskks. E então... Pegaram as referências dos spoilers sem contexto que coloquei no Twitter? Estavam esperando por isso? Hahahaha, eu amei as reações de vocês no dia em que postei aquilo... Agora sobre os casais do capítulo: Ficaram boiolinhas com os presentes que os Jikook fizeram um para o outro? E com o momento Kejoon?(Namjoon+Keran. Foram vocês que deram a ideia do shipp) E a questão da cura do Yoongi? Imaginaram que seria daquele jeito? Bem, ele não está absolutamente curado, aquilo é mais um tipo de apoio para que o nosso príncipe possa viver por mais tempo; mas mesmo assim vai mudar muito a vida dele. MUITO MESMO (*Pausa dramática*).

Não deixem de comentar suas reações usando a tag #LoboDePrata, tá bom? Isso ajuda com o crescimento da fic💜 Responderei todo mundo que usar (porque, afinal, estou curiosa com o que acharam deste capítulo, principalmente em relação a cena dos SOPE).

E por falar em ajuda e apoio, recebi novas imagens e edits💜💜💜EU AMO VOCÊS VÉI, NOSSA, OBRIGADÃO😭😭🥺. Com o intuito de organizar cada presentinho, criei um Moment no Twitter para guardá-los em ordem. Está a coisa mais fofa🥺🥺💞💞 Sendo assim, tudo que eu receber a partir de agora irá para o moment!! (Enviem mensagens para mim no privado se algum estiver faltando, por favor!)

Por último, quero avisar que daqui a poucos dias estarei postando um capítulo de INTRODUÇÃO À FIC, onde colocarei avisos, imagens, explicações e outras coisas importantes que já deveriam estar expostas para os meu leitores (desculpa, eu sou uma bagunça). Estou falando logo para não assustar vocês com um aviso de capítulo novo, quando na verdade não será capítulo novo...

É isto💜 Obrigada por vocês terem lido até aqui! Espero encontrá-los no próximo capítulo (já deixo avisado que o clima da história começará a mudar...)💜.

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