"Uma Piada Chamada Paixão"
"— Nossa, você tem certeza que não se machucou?"
"— Você foi super corajoso. Acho que no seu lugar eu iria morrer de medo"
"— Imagina se você tivesse se machucado? Eu iria pirar"
Bruce não sabia que dava para ser mais bajulado do que ele já era normalmente. Talvez devesse quase pegar fogo mais vezes.
— Bruce... — Giuliana começou a o chamar, enquanto entrava no salão de festas da escola — Eu soube do que aconteceu. É muita dedicação da sua parte aparecer aqui depois disso, e ainda por cima para ajudar a sua irmãzinha. Acho que peguei pesado com você, não devia me deixar levar pelas primeiras impressões e pelas coisas que os outros falam.
— Bem, não precisa se desculpar, Giu. — caramba, o que ganharia se fosse atropelado?
— Bruce, estamos aqui para ajudar a Ellie. Para de paquerar ou então vai dar as aulas de reforço para o Pablo. — A Alex disse, como sempre quebrando o seu barato.
— Certo, já vou. Desculpa Giu, mas eu prometi ajudar a minha irmãzinha com um projeto de ciências e esse é o único horário que eu vou ter vago hoje por conta do incêndio. — Bruce disse, tentando manter a imagem de irmão mais velho atencioso.
— É claro, vai lá. Não queria te atrapalhar. Nos falamos depois. — Giu disse, se retirando junto as outras garotas.
— Ok, eu só preciso que cada um de vocês sente de um lado para que eu possa calibrar melhor. — Ellie explicou, apontando em direção a uma espécie de gangorra de metal.
Ele não estava muito confiante quanto aquilo, afinal a garota era um gênio da biologia, não da mecânica. De qualquer forma, ele havia feito uma promessa, e caso se acidentasse seria ainda mais mimado.
— E nós? – Brenda e Abigail perguntaram.
— Vocês vão ajudar com mais amostras. — ele não sabia o que aquilo significava, mas já sentia pena das garotas.
— Assim? — Alexandra questionou, após sentar em um dos lados da gangorra, logo em seguida sendo imitada por Bruce.
— Isso, agora eu só tenho de enrolar esse fio... — Ellie disse, ficando de joelhos e começando a mexer em uma espécie de termômetro que estava acoplado a gangorra. — Ótimo, agora só preciso de uma gota de sangue. — a garota declarou, indo em direção a Bruce com uma agulha.
— É o que? Não, não! Sangue não! — ele começou a gritar e a se encolher em seu assento.
— Ei, espera, não se mova! — Ellie tentou avisar, mas sua fala foi interrompida pelo lado da gangorra em que Bruce estava se soltando e voando em direção ao palco na maior velocidade.
As peças da máquina voaram para todos os cantos, algumas acertaram as lâmpadas e os espelhos. Uma graxa espessa escorria sem parar pelo local onde o assento de Bruce deveria estar parafusado, mas o assento por sua vez estava coberto por algumas das tábuas de madeira do palco que caíram sobre ele e Bruce.
— Bruce! — as garotas o chamaram preocupadas, o procurando em meio a escuridão que se tornou o salão de festas. Elas o avistaram quando uma das luzes quebradas piscou rapidamente e soltou algumas faíscas, então foram a seu socorro.
— Ainda está vivo? Se não, eu posso ficar com seu quarto? Nunca achei justo ele ser maior do que o meu, sendo que eu sou quem passa mais tempo em casa. — Brenda perguntou de forma apática.
— Como eu te responderia se não estivesse vivo? — Bruce questionou, um pouco irritado.
— Você ficaria surpreso com as inúmeras respostas para isso. — sua gêmea comentou.
— O que diabos aconteceu aqui? — A Sra. Mirian perguntou, após abrir a porta do salão, aparentando estar uma poça de raiva.
— Bem, estávamos ajudando a minha irmãzinha com uma máquina eee..... — a Alex tentava pensar em como explicar que haviam quebrado o lugar. Nesse ritmo, iriam começar a dizer que eles propositalmente incendiaram a casa Darvegas.
— Chega, isso é ridículo. Olhe para esse lugar! — a senhora dizia, tentando conter a raiva.
— Relaxa, nosso pai vai pagar pelo concerto. — Bruce garantiu.
— Vocês tem noção do atraso que isso representa para o comitê de festa? Logo mais vai ser o primo baile do ano, é um evento extremamente importante e eu não vou permitir que vocês saiam impunes disso, nem se fossem filhos do próprio presidente. Alexandra, eu esperava mais de você.
— E-eu... — ela queria poder dizer algo para revidar, mas também esperava mais de si mesma. Definitivamente precisava de férias.
— Não vou suspendem vocês por consideração a tudo o que a família Darvegas já fez pela Monssori, mas vocês vão ter de organizar esse baile, entenderam? Não vou tolerar atrasos. Vocês tem três semanas, e outra, nunca mais tragam seus irmãos pequenos para cá.
O que? Já tinha de dar aulas de reforço e ser assistente do técnico de educação física. Aquilo era ridículo.
[...]
— Talvez eu devesse... — Alex começou a dizer, quando avistou Alexandra voltando para a sala de espanhol.
— Nem pense nisso, você tem de se manter firme para ela ver que você está falando sério. Se voltar atrás agora, ela pode nunca mais te respeitar. — Angélica disse com convicção.
— Acho que tem razão. — Alexei concordou — É só que talvez eu tenha pego pesado demais. Acho que no fim das contas ela só estava preocupada e cheia de dúvidas quanto a você.
— Eu? E o que tem para se duvidar de mim? Acho que isso era só um ciúme cego de irmãos.
— Sim, é só que...... Quer saber? Esquece.
— Não, não, não. — Angélica protestou — Começou então termine.
— Você vai ficar irritada, e nem é algo muito importante.
— Ou você me diz, ou eu juro que vou pisar nos seus pés na aula de dança.
— Certo, mas tente não se irritar. — Alex começou a dizer — É só que a Alex tem medo de você estar saindo comigo para tentar tirar proveito. Ela sempre foi meio paranóica, e eu não julgo muito, também já me questionei o porque de estarmos saindo juntos se seria tão fácil para você achar outra pessoa.
Não queria nem pensar naquilo, mas infelizmente era verdade. Não que ele fosse feio, ninguém de sua família era e isso estava mais do que óbvio, mas também não chegava ao nível de Bruce que roubava olhares por ende passava. Ele nunca se viu como alguém muito atraente, sempre recebia cartões do dia dos namorados e vez ou outra ficava sabendo de garotas tentando a todo custo conseguir seu número de telefone, mas isso não parecia significar muita coisa.
Ele tinha certo destaque, era sempre o vice representante da turma, com a Alexandra sempre sendo a representante principal, estava sempre ajudando as pessoas e tentava ser gentil com todos. Consequentemente, sempre tinha um bom número de pessoas que gostavam de sua companhia e desenvolviam sentimentos variados por ele. Mas por algum motivo, quem sabe a falta de tempo, o foco em acompanhar a Alex ou simplesmente seu gosto pessoal, normalmente não sentia nada romântico por nenhum deles. No fim, tudo ficava em interesses rasos e isso inconscientemente o fez duvidar da capacidade de ter alguém realmente apaixonado por ele, e também se conseguiria retribuir isso.
Teve uma garota na sexta série por quem teve coragem de se declarar depois de ser quase forçado pelos amigos ao verem que os dois se davam bem. Apesar do alívio momentâneo quando ela aceitou, não levou muitos dias para ficar claro que o carinho que sentia por ela não era nada além disso, não queria a beijar e mal gostava de segurar sua mão, então em duas semanas ambos estavam fingindo que nada aconteceu.
Dois anos depois, ele teve certeza absoluta que realmente não tinha quaisquer sentimentos pela garota. Ao menos nada que se comparasse com o que começou a sentir por um dos garotos do time de futebol. De repente tudo fazia um pouco mais de sentido e ele entendia o que sempre soube que faltava quando tentava se interessar por alguém. Infelizmente, ou talvez felizmente, o Alexei magricelo de quinze anos era ainda mais inseguro do que ele é agora, e além do medo de sair do armário também vivia sobre o medo de facilmente levar um soco na cara se tentasse se declarar. Não que o garoto parecesse agressivo, na verdade ele era muito gentil e até se pareciam, mas o restante do seu grupo, que definitivamente ficaria sabendo disso, não era.
— Alex, você está devaneando enquanto eu abro meu coração? E pensar que eu estou aqui feito uma boba dizendo tudo o que planejava fazer com você depois do baile caso se comportasse. — Angélica disse em um tom de tristeza, seus lindos lábios tremendo e os olhos parecendo duplicar de tamanho e brilho.
— O q--o que??? Eu não..... desculpa. — os humanos tem uma das melhores, se não a melhor, habilidade de comunicação. Ainda assim, em horas como aquela, dizer qualquer coisa parecia o maior desafio de todos.
De repente, o brilho triste (ainda que lindo e comovente) sumiu dos olhos de Angélica, seus lábios pararam de tremer e começaram a formar um sorriso que foi seguido por gargalhadas.
— Você deveria ver a sua cara. É óbvio que eu não estava falando sobre isso aqui. Fique sabendo que para o seu azar, eu sou tão pura e angelical nesse quesito quanto o meu nome sugere. Apenas queria te dar um susto, aposto que não vai voltar a me ignorar tão cedo.
Talvez devesse estar um pouco irritado ou constrangido, mas era impossível sentir qualquer coisa minimamente negativa ao ver Angélica sorrindo daquela forma, mesmo que ele fosse a piada. Na verdade, era até agradável saber que era o motivo para aquilo, chegava a ser recompensador.
Já tinha se sentido atraído por mulheres antes, nada absurdo, mas era o bastante para o fazer as seguir com os olhos por alguns segundos. Ainda assim, uma dúvida um pouco assustadora sempre pairava em sua mente, não conseguia evitar de pensar em como nunca sentiu a mesma coisa que sentiu pelo seu atacante. Quando pensava no prazer que tinha em o observar e em como sua respiração falhava sempre que tinham uma pequena troca de palavras entre eles, a simples e banal atração que sentia por outras pessoas parecia ridícula, e sua mente se enchia de questionamentos sobre sua sexualidade e se teria deixado a sua alma gêmea escapar.
Mas desde que viu Angélica, ou ao menos desde que notou o quão naturalmente gentil e animada sua voz era, de uma forma tão semelhante ao mesmo tempo que oposta a ele, simplesmente não conseguiu manter qualquer dúvida. Tudo nela o atraia, desde seus olhos como um mar profundo no qual se afogaria com prazer, até a forma como soria do quão atrapalhado ele era, e o modo como a animação dela parecia contracenar perfeitamente com o seu jeito tímido.
Era estranho superar sua insegurança quanto a ser ou não o suficiente para alguém, mas de alguma forma, mesmo ainda estando com medo, alex sentia que assim como ele Angélica também sentia aquela cola invisível. Como se uma peça de quebra-cabeça tivesse sido encaixada no lugar perfeito e agora parecia um pecado a mover do lugar, ao menos não até ver que imagem ela está tentando formar. Não tinha como aquilo ser sobre dinheiro, não quando os olhares que ele a flagrava lançando em sua direção, eram tão semelhantes aos dele quando admirava a forma como ela tentava afastar uma mecha de seu cabelo que insistia em cair sobre os seus olhos com frequência.
Não tinha como aquilo ser falso, não era possível que estivesse tão enganado ao ponto de conseguir se iludir imaginando algo tão puro e verdadeiro, enquanto a realidade era apenas fria e apática. Aquilo não parecia possível, mas ainda assim sentia um desconforto se formando em seu estômago sempre que lembrava das palavras da Alex.
— Gracinha? — Angélica o chamou, seu rosto parecendo um pouco irritado demais para alguém usando um apelido carinhoso – Vai mesmo continuar me ignorando?
— Desculpa....espera, desde quando você me chama desse jeito?
— Precisamos de apelidos. — Angélica declarou, enquanto gesticulava com as mãos e fazia uma cara que parecia dizer que estava falando algo óbvio.
— "Precisar" é uma palavra forte. — Alexei argumentou.
— É uma forma de demonstrar amor. Você não me ama? — certo, agora era a hora de ficar quieto e esperar que ela começasse a rir de como ele ficou envergonhado com aquela brincadeira boba, certo? — Alex? Tá me ouvindo? Qual o problema dos apelidos, amor? Se não falar nada eu vou passar a te chamar de "lindinho".
"Amor"? Como ela conseguia dizer aquilo tão naturalmente? Só podia ser uma piada, uma brincadeira boba. Se conheciam a um mês!
— Fofo? Você teve um piripaque? Quer que eu jogue água? Já sei! — ela disse, com um tom animado começando a dominar sua voz — Eu vou dizer que você está indisposto, te arrastar até o coreto do clube de jardinagem e beijar até você ficar vermelho de tanta paixão — agora paixão era o novo nome para "falta de ar"? — Daí quando eu parar de te agarrar, o seu corpo vai implorar por mais e vai fazer você acordar ofegante — eu estaria implorando por oxigênio !!! — É isso! Eu vou te salvar usando do meu carinho — mais fácil acabar sendo presa por tentativa de homicídio.
— Muito.....fofo, mas não precisa. — ele tinha de pensar em uma forma de desviar a atenção dela daquele assunto. Não era possível que realmente esperasse que ele dissesse aquelas três palavras — A questão é que "gracinha" parece alguém se referindo a um bebê ou a um cachorro.
— É que você é o meu bebê. — Angélica começou a explicar, apertando seus lábios em uma expressão de deboche — E eu estou aqui para te por na coleira caso saiba de alguém se exibindo para você.
Ela realmente achava que tinha alguma chance de outra pessoa ter sentimentos por ele, e que essa pessoa fosse alguém com qualidades o bastante para o fazer considerar trocar de namorada?
— Amor, para de me deixar falando sozinha! — droga, ainda iria persistir nisso de "amor?
[...]
Mia Gonzaléz era provavelmente uma das garotas mais entediantes que Bruce já conheceu, talvez por ela ser um tanto clichê e fresca, talvez por ele estar focado em achar alguém perfeito. De qualquer forma, era inegável como a garota era irritante.
— E então? O que você acha? — Mia perguntava a Bruce, o lançando um sorriso gentil ensaiado, acompanhado de um olhar serrado de forma tímida e uma bochecha rosada que ela parecia conseguir fazer corar quando quisesse. Era para aquilo parecer fofo ou algo assim?
— Hmm? — Bruce murmurou em dúvida, tentando se lembrar o que ela havia dito.
Mia e ele eram amigos até alguns meses atrás, quando a garota decidiu se declarar para ele. Ela não foi a primeira garota a levar um fora e continuar insistindo, mas Mia Gonzaléz tinha algo diferente, ela era uma manipuladora extremamente determinada. Desde então, o que não faltaram foram tentativas dela para chamar sua atenção. Passou a vestir principalmente preto e vermelho para se destacar, além de dar preferência para looks esportivos e curtos, imaginando que que ressaltar o interesse em comum que tinham por esportes e o fato de tinha uma bunda maior do que a da metade das garotas de sua sala juntas seria uma boa jogada.
— Me ajuda a treinar futebol? Você é o assistente do nosso treinador, não é? — apesar de não ser muito mais baixa que Bruce, a garota sempre fazia questão de empinar seu torço, principalmente quando queria convencê-lo de algo. Definitivamente não eram seus olhos que ela estava tentando realçar.
— Você não joga profissionalmente? — ele perguntou, entediado. Tinha muito o que fazer, só aceitou aquele encontro porque não achou ninguém mais interessante. Além disso, mesmo não gostando tanto dos truques da Mia, eles foram amigos por um bom tempo e não parecia justo simplesmente a ignorar assim.
— Eu jogo vôlei. Não é a mesma coisa!
— Você é a mesma garota que virou a queridinha da cidade só fazendo algumas caras e bocas. Se quiser algo, você consegue, não precisa de um treinador.
Após terminar seu mini discurso motivacional, ele notou que a garota o encarava com um olhar besta, completamente vidrado nele.
Espere, o que exatamente ela tinha interpretado?
— É que eu queria muito entrar para o time, e eu não tenho tanto tempo antes dos jogos começarem. Eu fico te devendo uma. — a garota disse de forma emotiva, agarrando o braço de Bruce e o puxando de encontro a seu corpo.
Seria melhor ele não se arriscar a ver contra o que exatamente seu braço estava sendo prensado. Se não fosse pela promessa idiota que fez a Alex de esperar até os dezessete, não seria tão facilmente afetado por garotas quase se jogando encima dele. Já estaria tão acostumado com o corpo delas que aquela manipulação barata não teria efeito nenhum.
— Olha, o que eu posso fazer com o tempo que tenho é te treinar junto com os outros enquanto eu estiver atuando como assistente. Eu te dou um treinamento mais intenso, mas ainda vou ter de dar atenção para os outros.
— ISSO!!! — Mia gritou, animada, puxando ainda mais o braço, e consequentemente o corpo, de Bruce para si. Quem abraçava daquele jeito? Se invertessem o gênero dos dois, as pessoas achariam que estavam precisando uma tentativa de estup...
— EU TENHO O MELHOR TREINADOR!!! EU VOU SER UMA ESTRELA!!! — puta que pariu, ela não notou que estavam em um parque lotado?
— Certo Amber, só me deixa respirar um pouco. — ele pedia, enquanto tentava se soltar.
— Você vai amar o meu uniforme, eu fico muito bem correndo com ele. — a garota disse, dessa vez em um tom mais baixo e íntimo, enquanto Bruce tentava focar nos cabelos negros de Amber ao invés de.....todo o resto. Definitivamente preferia as loiras, mas asiáticas também tinham o seu charme.
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