"O Inimigo Mora Ao Lado"
— Certo, eu preciso esperar os pais de vocês chegarem antes de decidir se vão passar a noite aqui ou não. Sejam boazinhas e assinem aqui. — a oficial disse, estendendo uma prancheta e uma caneta tinteiro para as duas.
— Mas, mas. Eu não posso ter culpa no cartório, e se isso me atrapalha a ir para Princeton? — perecia que a Alex iria surtar a qualquer momento.
— Tá pensando na faculdade? Eu posso perder a minha bolsa de estudos por sua culpa!
Alexei ainda não havia pensado nisso, e mesmo assim já estava completando irritado com Alex. Mas isso era outro nível, a Angélica realmente poderia ser expulsa por culpa da garota, não que a loira também não tivesse um pouco de culpa. Mas ele entendia, a Alex realmente podia ser bem difícil e irritante, o que ele obviamente nunca disse a irmã.
— Quem foi? Eu quero o nome da infeliz que tocou na minha filha! — um homem pálido de cabelos castanhos acobreados perguntava, enquanto entrava completamente irritado na delegacia.
— Pai! — Angélica o chamou, aparentando alívio por ver a face de seu pai. Com certeza aquele estava sendo uma experiência estressante e intimidante para ela.
Alexei não conseguia não se sentir culpado, afinal a Angélica estava tecnicamente sobre seus cuidados.
— Quem você está chamando de infeliz? — Jake questionou, surgindo pela mesma porta que o pai da Angélica passava instantes antes — E posso saber por que ainda não liberaram a minha filha? — ele questionou, pegando a prancheta com o documento no qual a Alex terminava de assinar seu nome, e o olhando indignado — O que é isso? Não vão fazer registro algum. Quem teve a ideia de tentar manchar a imagem dela?
— Quem você acha que é? — o pai de Angélica questionou irritado, se aproximando de Jake, em uma caminhada que supostamente deveria ser ameaçadora.
— Quem você acha que é? Deve ser dono de meio mundo para achar viável tentar sujar o nome da minha Alex, ainda mais com a culpa obviamente sendo dessa louca que você chama de filha. Me agradeça por só abrir um processo contra você, ao invés de mandar jogar ela num hospício.
— Ah, claro, tinha que ser um dos filhos da puta da Monssori. Eu já devia imaginar que algum daqueles diabos banhados a ouro dariam problema.
— Isso é difamação. Quer outro processo?
— Pai! — os dois Alex chamaram Jake, já irritados e constrangidos com a situação.
— Olha, eu não quero problemas – o pai de Angélica começou a dizer em um tom mais calmo. — Só quero ir para casa com a minha filha, e deixar ela descansar dessa situação.
— Calminha aí...— a oficial começou a dizer — Eu ainda não decidi se ela vai ou não ficar aqui, vamos conversar sobre isso. Srta. Darvegas, pode se retirar e desculpe pelo incomodo.
Aquilo definitivamente não era justo, mas com certeza não queria que sua irmã passasse a noite em uma delegacia e ficasse com a ficha suja, da mesma forma que não queria que aquilo acontecesse com Angélica. Mas seria o certo, ele não era o tipo de pessoa que ia contra a justiça, o tipo de pessoa que usa seu sobrenome para se livrar dos problemas. Aquele não era ele, mas quem nunca ficou fora de si?
— Pai, a Angélica não teve culpa. — ele declarou, e pode ouvir a Alexandra ranger os dentes.
— Ela atacou a sua irmã!
— Não atacou não. — ele afirmou, cutucando Alex com seu cotovelo.
— Arrr, certo... — a morena disse entre dentes, após revirar os olhos — Eu quem ataquei essa loira aguada.
— Viu só? Ela confessou! Posso ir embora?
— Eu não ouvi nada. — a oficial disse sem jeito, encarando Jake e então desviando o olhar para o chão.
Aquilo era revoltante, mas não tanto quanto o desespero no olhar que Angélica lançou a ele, como se torcendo para aquele que parecia ser sua última esperança.
— Pai, isso é ridículo! Até a Alex já engoliu o orgulho besta dela.
— Certo... — ele disse, hesitante — Pode liberar a garota, ela deve estar cansada.
— Finalmente! — o pai dela disse, acolhendo a garota em um de seus braços, e começando a levá-la em direção a saída.
— Desculpa por isso. — Alexei sussurrou para a loira, enquanto ela e o pai passavam por ele. A garota ainda parecia um tanto assustada, mas não hesitou em lançar um leve sorriso sem jeito a ele como resposta.
[...]
— Acorda dorminhoca. — Bruce disse para Brenda, enquanto chacoalhava levemente o ombro da garota que cochilava no banco de trás do carro ao seu lado, encostando seu rosto no vidro de uma forma que definitivamente não parecia confortável.
— Não acredito que não consegui ver os morcegos vampiros. — a menina reclamava, enquanto arrumava sua enorme cabeleireira castanha, que por pouco não podia ser considerada negra.
— Não acredito que fui parar numa delegacia, e ainda por cima com um saco cheio de drogas ou sei lá que merda o Marly colocou nesses Brownies. — a Alexandra disse de forma exausta, enquanto se esforçava para não pirar.
— Não acredito que agora a Angélica e o pai dela devem nos achar uma família de terroristas, mimados e corruptos. — o Alex lamentava de forma melancólica.
— Não acredito que tive de perder o meu sábado por culpa da pirada da Alex, e ainda por cima nem me curei da minha ressaca. — Bruce reclamou.
Todos os irmãos estavam prontos para entrarem na casa, em uma marcha de derrota. Mas mesmo abalados eles não conseguiram não notar o caminhão de mudança na casa da frente, principalmente quando uma das pessoas que descarregaram as caixas veio ao encontro deles.
— Olá vizinhos. — o senhor sorridente disse, acenando para eles.
— Não sabia que a casa tinha sido vendida. — Jake comentou, se aproximando para conversar com o homem, que aparentemente era seu novo vizinho.
— Pai, já que você tá aí fofocando, eu posso ir dar uma volta também? É um saco ficar no meio dessas caixas. — um garoto alto, de cabelo loiro escuro quase ruivo e horrivelmente familiar, disse.
Bruce conhecia aquele garoto, definitivamente conhecia. Ele estava em um canto obscuro de sua mente, um canto ao qual esperava nunca ter de acessar. Aquele garoto era o culpado por uma das poucas vezes em que Bruce perdeu, perdeu de verdade. No fundamental, a cerca de uns quatro anos atrás, aquele garoto tinha o superado nos esportes, então se aproximou de seus amigos e o expulsou do próprio grupo, até começou a ficar bem íntimo da única garota por quem Bruce já pensou ter sentimentos.
Juan Ernandes era definitivamente seu rival, e agora, quando qualquer lembrança desse infeliz estava devidamente escondida em seu cérebro, esse filho da puta simplesmente aparece na casa enfrente a sua!!!
— Bruce? Bruce Darvegas? Nossa, a quanto tempo! — o garoto disse se aproximando da casa. Como aquele imbecil conseguia fingir simpatia tão facilmente?
— Não tempo o bastante.
— Ah, qual foi? Vai me dizer que ainda tá chateado por conta de algo que rolou a tipo um século.
— Ah? Com o que ele está chateado que rolou a um século? Foi a execução de alguém? — Brenda perguntou, com sua atenção sendo roubada pelo assunto referente ao passado.
— Não! E larga de ser intrometida, já basta ser estranha.
— Pera, eu conheço você também...— Juan começou a dizer, enquanto encarava a morena e estranhamente pálida garota — Brenda? Brendinha? Nossa, você tá super diferente. Nem parece aquela pirralha que ficava assustando crianças por aí.
— Eu não mudei essencialmente, e aquelas crianças deveriam me agradecer, eu as ensinei sobre os horrores do mundo.
— É, você real não mudou muito né? Acho que foi mais por fora. Parou de parecer uma completa assombração, na real, você ficou até bonitinha sabia?
— Ei! Tá pensando o que? Já é ousadia o bastante se mudar para a frente da minha casa, e agora tá tentando se engraçar com a minha irmã! Nem precisa se preocupar com os cupins dessa sua cara de pau, vou cortar e queimar ela antes deles conseguirem fazer um estrago maior.
— Calma aí, nossa, que tóxico. Eu só fiz um elogio, se alguém tiver que se ofender tem que ser a Brenda, não você.
— Isso é verdade. — a garota comentou — Dito isso, eu estou ofendida pelo seu comentário. Pare de elogiar pessoas com quem você não tem intimidade e vai fazer algo minimamente útil, ou pelo menos fique longe o bastante para que eu possa ignorar mais facilmente a sua existência.
— Garota difícil, gostei. — o loiro respondeu em tom debochado e convencido.
— Só vaza logo ou eu quebro seu nariz! — Bruce disse irritado.
— Hey, o que vocês estão falando sobre briga? — a Alex perguntou, se aproximando dos três adolescentes — Acabamos de sair de uma delegacia por conta disso, não comecem com besteira.
— Acabamos de sair de uma delegacia por sua culpa. Você não é o melhor exemplo em questão de brigas, então não venha exigir que eu seja. — Bruce disse, incapaz de perder a oportunidade de jogar na cara da metida a perfeitinha, que ela mesmo havia cometido um erro e dos grandes.
— Eu, eu....urg, que seja! — ela disse com a voz falhando por conta da raiva, ou seria vergonha? De qualquer forma, a Alex se retirou para dentro de casa, e parecia a hora para todos fazerem isso.
Que se dane o Juan, a Giuliana, o dia perdido e a briga no zoológico. Tudo o que precisava era de um banho e enfim aquele dia horrível acabaria, com sorte a sua angústia também. Caso isso não acontecesse, ainda tinha um pouco de tequila escondida no quarto.
[...]
"Prim, Prim, Prim, Prim"
Quem tava tocando a droga da campainha? Espere, aquele não era o som da campainha deles, e mesmo que fosse, não teria como Bruce ouvir do seu quarto, afinal ele ficava no terceiro andar.
Aquele era o seu despertador? Nossa, fazia séculos que não ouvia ele. Sempre acordava por conta da agitação da casa que os Alex causavam ao acordar os mais novos para se arrumarem. Parando para pensar, não havia basicamente som algum. Nada de mais de uma dezena de pessoas correndo pelos corretores. Era domingo outra vez?
— Alexs? Brenda? Candece? Dustin? Na verdade, Dustin, se você ouviu só ignora. A única coisa pior do que uma casa bizarramente vazia é uma casa com só você de companhia. — ele chamava seus irmãos, enquanto se movia por uma casa estranhamente silenciosa, até parar entre as duas portas que davam para o quarto de cada Alex.
— Alex? — ele chamou seu irmão, enquanto abria vagarosamente a porta de seu quarto. Perder a visão parecia uma opção melhor do que correr o risco de ver o Alex pelado.
O "Garoto exemplar" da família estava descaradamente fingindo dormir.
— Levanta logo! Eu sou mestre em me fingir de adormecido, e você ainda precisa de muita prática para enganar um mestre.
— Ah, cara. Eu tô doente. — o garoto respondeu, enfim se prestando a sair debaixo da coberta.
— Tá nada, para de mentir!
— Qual foi, me deixa aqui. Não tô nem um pouco afim de ver a Angélica agora, e a gente tem uma aula juntos logo no primeiro horário hoje.
— Alexei, o perfeito Alexei, está querendo matar aula? Era só ter dito de uma vez. É lógico que eu aprovo!
— Pois eu não! – Alexandra declarou, surgindo atrás de Bruce de uma forma amedrontadora. Por que ela amava fazer isso?
Ele estava pronto para se encher de arrepios ao se virar e ver a imponente figura da irmã, mas ao contrário do que imaginou, a Alexandra estava usando um pijama de corpo inteiro. Normalmente aquilo não seria tão engraçado e humilhante, mas era a Alex! Ela estava sempre impecável com seus ternos imponentes.
— Por que tá vestindo isso? — Bruce e Alex perguntaram.
— Eu tô atrasada, tá legal? Felizes? E pelo visto, nada aqui funciona se eu perco cinco minutos dormindo mais um pouco. Eu tive de passar o domingo inteiro passeando com os animais como castigo por ter tentado quebrar a cara da Angélica, a ainda fiquei de babá.
— Tentado? Você conseguiu e bem. Mas ela não ficou tão atrás, também te deu uma surra. — Brenda comentou, novamente se mostrando presente da forma mais inusitada.
— Aí, credo. Desde quando você tá aqui heim assombração? — Bruce perguntou, após dar um pulo para trás assustado.
— Ué, eu tô te seguindo desde que você chamou pelo meu nome. A gente vai para a escola ou não?
— É claro que vão. — Alexandra começou a dizer — Assim que o Alex tomar vergonha na cara e levantar. Enquanto isso eu vou ir acordar os pirralhos. Vocês tem oito minutos para se arrumarem.
— Eu tô falando sério, hoje não. — Alexei disse, desanimado.
— Tá de brincadeira? Você não falta nem quando está doente de verdade, a gente quase tem de te prender na cama! — Brenda disse.
— É isso aí, não vai estragar seu histórico impecável. Foca no prêmio, pensa em nós dois em Princeton daqui a pouco mais de um ano! — Alexandra disse.
— Tem razão, não posso simplesmente ficar de cama!
Nossa, quanto drama nerd. Ao menos isso significava que a sua carona ainda estava de pé. — Bruce pensou.
[...]
Bem, por mais que doesse admitir, Alex esteve muito mais próximo de ter algo sério com Angélica do que Bruce com Giu. Ainda assim, ele estava emburrado a uma semana, enquanto o irmão conseguiu vencer sua culpa e retornar a suas atividades normais. Bem, Bruce definitivamente não era mais fracote que o Alex, e já estava mesmo na hora de explorar outras opções. Será que ele ainda tinha alguma chance de sair com a irmã da Angélica?
— Bruce, Brendinha! — Juan o chamou, enquanto se dirigia para uma carteira próximas a ele, Brenda, Pablo e Rúlio.
— O que tá fazendo aqui seu imbecil?
— Eita, que nervosinho ele. Eu só vim fazer amizade. — antes mesmo de terminar a frase, ele desviou o olhar para Brenda, que mudou sua expressão apática para uma de reprovação.
— Ei, você era o 10 da Denzil! Vi uns quatro jogos seus — Rúlio disse entusiasmado.
— Poisé, eu pensei que iria continuar na Denzil até me formar, mas um dos sócios do meu pai se mudou para a Europa de última hora e me indicou para ficar com a vaga do filho dele. Quem é louco de recusar uma vaga na Monssori? — aquele metido foi se sentando ali sem mais nem menos, pegando uma carteira enfrente a Brenda.
— Ei Marly, quer ver meu novo colar de comunicação para espíritos perdidos? Aposto que tem vários na sua casa. — ela obviamente queria qualquer motivo para sair de perto de Juan, o que fazia sentido já que pessoas arrogantes eram o tipo que ela mais detestava. Os únicos que tolerava eram aqueles com quem compartilhou o nascimento.
— Isso parece divertido, eu gostaria de ver. — Juan disse insistente.
— Divertido? A comunicação com espíritos perdidos não tem nada de divertida. — Marly disse, se aproximando de sua amiga.
— Tenho certeza que eu e ela podemos pensar em uma forma de deixar as coisas mais interessantes, né Brendinha? — ele perguntou, segurando a mão da garota, que não pensou duas vezes antes de a puxar para tentar se soltar.
— Me larga. Eu não gosto de contato com humanos, muito menos com vermes! — tudo bem, ela na verdade adorava vermes, mas o recado ficou claro.
— Tá, nossa. Que agressiva. — Juan disse de forma preguiçosa, soltando a mão de Brenda como se aquilo fosse uma piada.
— Já tá passando dos limites seu idiota! — Bruce declarou, se pondo entre Brenda e Juan.
— É claro que você tinha que aparecer para se intrometer né? Sua irmã não é sua propriedade para tentar impedir que os outros se aproximem.
— Talvez não, mas é minha responsabilidade. Ao menos o bastante para me dar o direito de socar a cara de qualquer escroto que deixe ela desconfortável.
— Certo, credo. Desculpa por achar que algum de vocês saberia brincar.
— O que o Bruce fez dessa vez? — Giuliana perguntou, se aproximando da cena que ocorria no fundo da sala.
Droga, por que era tão difícil desviar os olhos dela?
— Eu? Eu sou o inocente aqui.
— Igual a dois dias atrás quando quase deixou o Pablo calvo? — a garota questionou de forma retórica.
— Aquilo foi uma brincadeira.
— Então você pode brincar, mas eu não? — Juan perguntou, estando levemente irritado.
— Parece que ele gosta de pegar no pé dos novatos. — a loira de olhos azuis e verdes declarou.
— É que não tem entrado ninguém que presta, né? — Brenda comentou de fundo, e como sempre foi ignorada.
— Eu até tentei amizade, mas é melhor deixar de lado. Certeza que tem pessoas mais tranquilas para me relacionar aqui. — Juan disse, fingindo inocência e lançando a Giu um olhar simpático.
— Bem, se quiser mesmo se livrar do desastre que é o fundo dessa sala, a carteira entre a minha e a da Mia está vazia.
— É, parecem mesmo companhias muito melhores. — ele disse entre sorrisos, seguindo a loira que o levava para os assentos mais próximos a professora.
Não, não, não! Ele não iria passar por aquilo outra vez! Não iria deixar o Juan tirar as coisas dele!
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