"Buscando Outro Troféu"
Alta demais, comum demais, fofa demais. Já fazia uma semana, que Bruce inconscientemente julgava todas as garotas por quem passava. Bem, na verdade ele já fazia isso antes, mas era mais um reflexo de superioridade que não cumpria nenhum objetivo. Já agora, toda vez que chegava em um lugar e só encontrava garotas medianas, ele se sentia verdadeiramente decepcionado. Era como se tivesse perdido um jogo, e ele nunca perdia nada.
Por que teve de dizer em voz alta que iria arrumar alguém? Ele sempre fazia piadas do tipo, sobre como não saia sério com ninguém por quase todas as garotas estarem em um nível tão abaixo dele. Tinha um bom pingo de verdade nisso, mas não era algo que o incomodava, na verdade, ele se preocupava muito mais em ter uma torcida louca por ele do que realmente ter uma parceira. Mas o Rúlio começou a jogar em sua cara que ele iria ser o único solteiro, e a Brenda não ajudou em nada, com todo aquele discursinho idiota. Agora o ego dele estava em jogo.
— Tudo bem turma, eu peço apenas um momento de silêncio para que a Srta. Garcia possa se apresentar.
Espere, a turma realmente obedeceu? Ele estava louco, surdo, ou realmente aquele bando de mimados do caramba haviam olhado para além do próprio umbigo? Ele não pode evitar olhar para a frente da sala, onde ficava a lousa eletrônica, a qual a professora Martinez estava a frente, com parte da imagem sendo projetada sobre suas roupas. Mas o que realmente chamava a atenção, era o anjo que estava em pé ao lado da mulher.
O universo realmente o adorava, não é? Toda essa espera foi apenas um teste, uma brincadeira besta.
A garota usava roupas muito bem arrumadas, com uma saia xadrez marrom, uma camisa branca com botões quase imperceptíveis, uma pequena e fofa gravata que mais parecia um lacinho frouxo, e um colete de lã em mosaicos marrons, um pouco mais escuro que a saia. Seus cabelos loiros eram tão claros que pareciam margarina, um dos olhos era quase completamente azul bebê, com uma pequena mancha verde folha no canto, enquanto o outro era verde hortelã em uma metade e verde jade em outra.
— Eu cuido dela! — Bruce declarou, levantando o braço.
— Como? — a Srta. Martinez perguntou, confusa.
— Eu apresento a escola a ela, afinal, meus irmãos mais velhos são os presidentes do conselho estudantil e eu tenho de seguir exemplo, além de já ter decorado a maior parte da escola.
— Bem, ahm...eu não estava pensando em pedir para alguém da turma assumir esse papel, mas já que insiste. Isso parece uma ótima iniciativa, parabéns Bruce. — é óbvio que ela não se colocaria contra ele, na verdade, é óbvio que não se colocaria contra ninguém daquela classe, não se valorizasse seu emprego.
— Puxa, que gentil e altruísta. — a garota, ou melhor, o anjo, disse enquanto caminhava em direção a onde ficavam as carteiras do Bruce, Rúlio, Pablo e Brenda.
— Alguns dizem que gentil e altruísta são meus nomes do meio, mas eu não sou egocêntrico ao ponto de concordar com isso. Além disso, eu gosto dos meus sobrenomes, tanto que os coloquei em minhas marcas, muitas marcas......
— Impressionante! — a garota disse com um sorriso, embora sua expressão parecesse um pouco menos gentil agora. — É Bruce, estou certa? Pode me chamar de Giu, ou de de Giuliana caso seja mais formal.
— Isso mesmo, Bruce Davergas. Prazer, Giu. — ele tentava assumir uma pose mais relaxada em sua carteira, enquanto sua voz assumia um tom mais suave ao mesmo tempo que confiante.
— Davergas? Acho que já ouvi isso em algum lugar.
— É, com certeza já, mas não vamos focar nas coisas que a minha família é ou não dona, até porque seria uma lista enorme. — a menina apenas respondeu com um sorriso sem jeito, ainda menos gentil do que o outro, o que fez a pose descontraída que Bruce tentava manter começar a falhar.
— Eu vou ver se o Marly quer ajuda com a coleção de filhotes de cobras dele. Preciso me afastar daqui, sou alérgica a falta de vergonha na cara. — Brenda declarou, se levantando e levando apenas seu velho livro consigo.
— Haha, ela é uma comédia, digo, nem conheço essa doida! — Bruce dizia de forma atrapalhada. Aquela era uma das primeiras vezes que se sentia julgado por alguém que não era da sua família. — Ei, o cardápio para hoje é meio sem graça. Que tal irmos para uma cafeteria durante o horário do almoço? Tem uma aqui perto.
— Ah, bem.....— o que era aquilo? Por que ela desviava o olhar? Por que parecia estar pensando em uma desculpa? Aquela era a cara que a Cadence fazia quando pensava em uma forma gentil de o chamar de idiota.
— Nossa, que broche legal! — Pablo comentou ao ver um broche parecido com um de escoteiro, que carregava a imagem de uma árvore com grandes galhos e raízes, grudado na mochila da garota. O rapaz muitas vezes ficava alheio as conversas que aconteciam ao seu redor, e facilmente se distraia, como uma criança vendo algo colorido.
— Ah, é a árvore da esperança. — a garota respondeu, lançando a Pablo um sorriso muito mais gentil e confortável do que o que tentava forçar enquanto conversava com Bruce.
Espere, árvore da esperança? Ele já ouviu esse nome, já viu aquele broche... Doja!!! É, a menina tinha ganhado um também. Ele lembrava de ter a ajudado a fazer bolinhos cor de rosa para a venda de doces, o que ele obviamente não iria admitir. Ninguém precisava saber que ele passou duas horas moldando frutas em forma de coração para enfeitar bolinhos. Corações, era isso, era uma venda de doces saudáveis para ajudar crianças com diabetes e problemas cardíacos.
— Então você faz caridade? Isso é incrível! — ele comentou, tentando ao máximo fingir se importar.
— Ah, é sim. Você conhece o projeto então?
— Ah, é claro. Por isso mesmo te chamei para a cafeteria. — minha nossa senhora defensora dos mentirosos pervertidos, que sua voz estivesse tão sincera e confiante quanto parecia para ele — A verdade é que as comidas das lanchonetes da escola são meio pesadas, até às saladas tem glúten! — glúten era a coisa ruim, né? Por que não prestou mais atenção nos discursos da Ellie sobre alimentação? — A cafeteria que eu queria te levar é super orgânica e tals, e eu queria incentivar você a optar pela comida de lá.
O medo de ter dito algo errado, cessou ao ver o olhar da garota se encher de respeito e admiração.
— Puxa, isso... isso é muito atencioso! Eu ia adorar conhecer esse lugar!
Ótimo! Agora era só mandar uma mensagem para a Camilly perguntando por alguma cafeteria natureba ali perto. Ainda bem que essas coisas estavam na moda.
[...]
— Próximos! Alexei Davergas e Angélica Lopes.
Angélica? Alex estava quase certo de que não havia nenhuma Angélica no clube de debates, embora não pudesse afirmar com certeza já que mesmo sendo organizado, ele não tinha a memória da...da.... Alexandra.
Apesar da dúvida do rapaz, logo ficou óbvio que Alex nunca havia visto aquela figura, ele não se esqueceria. Seria difícil esquecer aquelas ondas de cabelo loiros, que pareciam se mover em câmera lenta de uma forma hipnotizantemente sincronizada. Quanto mais ela se aproximava do palco onde o debate iria ocorrer, mais seus cachos pareciam reluzir, por se encontrarem com a luz, e cada vez mais Alex se via preso encarando aqueles olhos azuis profundos.
Apesar dos olhos mais escuros e de um porte bem mais alto e esbelto, a aparência da garota podia ser comparada a de Camilly, mas estranhamente essa ideia fez Alex sentir algo próximo a repulsa. Por algum motivo, se cérebro achava que aquela garota em sua frente deveria ser colocada em um lugar distante das ideias que tinha quanto a família.... um lugar bem distante e peculiar.
— O tema é: direito dos mortos. A discussão será livre de qualquer responsabilidade com os direitos humanos. — o professor responsável pelo clube explicou, e logo em seguida voltou sua atenção para seu cigarro, ao qual ele fumava naquele teatro fechado sem uma única janela e com dois adolescentes presentes.
— Eu acredito que tudo o que um defunto conquistou durante a vida deva ser incluindo em seus bens após o falecimento, mesmo algo ao quão ele não tivesse tido acesso em vida. — a loira começou de forma confiante — Exemplificando: se você trabalha de forma devida em sua legalidade, então irá ter uma quantia retirada de seu salário para ser destinada a sua aposentadoria. Mas se você morrer antes de se aposentar, o dinheiro que foi prometido a você como poupança nunca será devolvido. Você pode ainda falecer antes de receber sequer um terço da quantia juntada durante tantas décadas, e novamente seus fundos serão roubados de você.
— Bem, ham... — Alex tentava responder algo, acrescentar algo, mas não conseguia. Não porque a ideia fosse absurda, ou porque tivesse ficado chocado com a convicção na fala da jovem, embora ela definitivamente fosse talentosa. Por algum motivo, todas as ações dela pareciam o roubar todo o foco.
— Garoto Davergas, o gato comeu sua língua? — o professor questionou de forma fria.
— Ah, não, eu. Bem, eu, eu, eu concordo.
— É o que? — o Sr. Sanchez questionou indignado.
— você é novo nisso? — Angélica perguntava a Alex em um sussurro, que apesar de bem baixo e meigo, deixava claro a gentileza em sua voz. — Olha, é assim que funciona: você tem de tentar rebater o que a outra pessoa disser sempre, independente da sua opinião pessoal. É claro que você não precisa se sentir pressionado a defender algo que vá muito contra suas ideologias, mas aqui, é como uma peça de teatro onde tudo o que importa é sua capacidade de improvisar.
É lógico que ele sabia como o clube de debates funcionava, já fazia parte do mesmo a um bom tempo. Ainda assim, se sentia grato pelo comportamento da garota.
— Bem, senhorita... — ele começava a reaver sua postura, para poder prosseguir o debate — O dinheiro da aposentadoria não é uma poupança, e da mesma forma que se pode morrer antes de sequer começar a recebê-lo de volta, muitas pessoas podem passar mais de uma década recebendo um salário ou até mais, o que ultrapassa o dinheiro acumulado. Esse tipo de acordo entre o governo e a população tem de ser encarado mais como uma aposta, um investimento, sem garantias reais de lucro. — Alexandre afirmou de forma imponente, mesmo não concordando com nada do que saiu de sua boca.
— Você seria um ótimo advogado do diabo. — Angélica o disse em sussurros, levando uma mão a boca logo em seguida para conter um riso, que já estava fazendo seus lábios tremerem.
Aquele jogo era realmente cativante, não é todo dia que alguém de boa índole se prestava a bancar o empresário maligno de filmes infantis, ainda mais alguém como ele, de ideais tão firmes e inflexíveis. Apesar disso a brincadeira era divertida e não incomoda, o que talvez fosse graças a sua dupla.
— Bem, mas o senhor está citando casos raros e.....e... — a voz dela tentava lutar contra a gargalhada que se formava, em uma competição que logo se mostrou ter sido inútil, pois Angélica não conseguiu mais disfarçar e logo caiu em risos.
Alex não tinha certeza quanto ao motivo para a garota estar rindo, mas simplesmente não conseguiu não a acompanhar, como se a risada dela fosse contagiante.
— Por acaso eu fiquei responsável por um circo e não fui avisado? — o Sr. Sanchez questionou de forma irônica e irritada.
— D-des-desculp... — droga, ele realmente não conseguiria. Ao tirar seu foco do professor, e voltar a olhar para a frente, ele viu que a pobre Angélica agora era quem estava sendo afetada pelas risadas do garoto, o que a levava a gargalhar cada vez mais alto.
O professor apenas revirou os olhos, largou sua prancheta encima da cadeira do teatro em que se sentava e se retirou em resmungos.
A loira voltou a tentar conter os risos, o que a levou a inconscientemente caminhar para trás de costas, enquanto tapava sua boca. Ao chegar de encontro a parte de madeira que ficava atrás do palco coberta por uma cortina vermelha, angelica escorou uma de suas mãos na mesma e foi aos poucos deslizando de encontro ao chão, se sentando de uma forma desleixada.
Aquela cena poderia ser engraçada, como se ela não tivesse mais nem aguentando seu peso por conta da distração dos risos. Mas tinha algo no olhar de Angélica, algo que fugia completamente da expressão de alegria que demonstrava segundos antes.
— Tá tudo bem? — Alex perguntou, com seus risos cessando enquanto se aproximava da garota. Essa por sua vez já não tinha qualquer pingo de alegria no rosto, e apenas olhava em direção as cadeiras aveludadas do teatro, como se encarasse o além.
— Acho que ele ficou irritado.
— O professor? Relaxa, ele é assim naturalmente. E mesmo que ele se estressasse, não tem com o que se preocupar, não é como se ele pudesse fazer algo.
— Você é muito bobinho, no bom sentido. — a última parte foi dita com um certo atraso, mas em um tom gentil — Só não se deixe levar muito, professores podem ser um pé no saco quando querem, embora a maioria seja de boa. Não posso julgar, eu estou aqui fazendo uma cena como uma louca.
— Não pareceu louca! — Alex declarou com convicção, mas sua postura decidida foi derrubada pelo olhar retórico e sarcástico de dúvida da garota – Certo, pareceu um pouquinho. Mas então eu também sou um doido varrido por te imitar.
— Sim, definitivamente você é.
— Puxa, não vai nem refletir sobre ou dizer que não é para tanto? — Alex perguntou em um tom divertido e falsamente ofendido.
— Bem, em nossa defesa, risos de ansiedade são comprovadamente contagiantes.
— Bem, então acho que dá para adicionar "ser atingido por uma histeria coletiva" na minha lista de situações estranhas pelas quais eu passei.
— Desculpa por fazer você pagar esse mico. — ela disse com o olhar ainda um tanto distante, porém com a alegria retornando.
— Hmm? Mico? Não tem plateia hoje, e o nosso professor realmente não se importa. Além disso, te garanto que a última coisa que vai achar nesse clube são pessoas maduras e mentalmente saudáveis.
A garota pareceu se animar, mas ainda aparentava estar meio envergonhada.
— Bem, ao menos não sou a única estranha aqui. — ela disse, recuperando seu tom calmo e gentil.
— Pode me chamar da próxima vez que precisar de um louco de companhia — Alex sugeriu de forma zombeteira.
— Bem... — Angela começou a dizer, e por algum motivo essa breve pausa foi o bastante para deixar Alex ansioso — Talvez eu precise de um para me mostrar onde fica a sala de ciências sociais.
— Nesse caso, eu creio ser o homem para o serviço, ou melhor, o louco.
Os dois se retiraram do teatro quase lado a lado, estendendo aquela conversa sem nexo de forma natural. Talvez não fosse ser tão assustador não ter a Alexandra como companhia, ainda poderia se divertir.
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Curiosidade...
A Monsorri funciona com grades de aulas personalizadas, ou seja, os alunos podem escolher quais aulas extracurriculares querem ou não ter e em quais dos horários disponíveis irão frequentar as aulas obrigatórias. Sendo assim, personagens de uma mesma turma podem ter aulas diferentes em horários diferentes. Além do mais, durante os horários livres de sua grade, os alunos com mais de quinze anos tem autorização para saírem da escola.
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