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Marília.
Eu já havia me acostumado com a rotina, uma semana e eu não queria mais sair daquela escola, amava as crianças, as brincadeiras, amava tudo dali, nem cogitava outro lugar... Estava estudando um pouco sobre pediatria, era algo que havia me interessado e eu pensava na possibilidade, mas não sabia se seria o momento certo.
Em alguns meses eu teria uma criança pra cuidar, sabe?! Iria ser muita responsabilidade, eu não sabia muito bem como iria funcionar. Mas mesmo assim, não deixei de estudar, até porque isso me distraia.
Hoje era sábado, eu havia terminado de arrumar o meu pequeno jardim, tava aproveitando pra treinar um pouco também, sentia saudades da academia e já tinha jurado que iria atrás de uma segunda feira. Matheus tava lá dentro e tava arrumando o quarto e os banheiros, o resto eu já havia feito.
Deco: Marília.— Falou aparteemos na porta e colocou a mão na cintura.— Um corre maneiro hoje.
Marília: Não acho.— Ignorei ele antes mesmo dele falar.
Deco: Baile no morro do sapo, aniversário de um parceiro meu.— Eu soltei uma risada fraca.
Marília: Não. Por que não vamos em um teatro? Um cinema, sabe?
Deco: Não curto.— Encarei ele.— Outro dia.
Marília: Poxa, então calma aí... Eu posso abrir mão do que não curto pra te seguir, mas ao contrário não rola né? — Ele sorriu.
Deco: Exatamente pô, me amarro em como tu é inteligente.— Falou vindo pra perto e me beijou, ele me abraçou e eu beijei a bochecha dela, me soltando.
Marília: Minha resposta continua sendo não.— Falei entrando dentro de casa.
Eram quase cinco horas da tarde já, eu entrei no banheiro e demorei quase uma hora pra sair, sentei pra ajeitar meu cabelo e senti saudades dele liso, mas não tinha nada pra alisar, então ajeitei cacheado mesmo.
Achei que o Matheus estava pela sala mas ele havia saído, eu nem me incomodava mais porque já havia me acostumado, ele sempre saia sem avisar e depois me mandava uma mensagem, isso era indiferente pra mim.
Fui na cozinha procurando algo pra comer e depois voltei pro quarto, peguei meu celular e me sentei na cama, comendo um sanduíche.
"Tô aqui na loja, deu maior confusão aqui. Marca um 30 que eu volto."
Nem respondi e liguei a televisão, fiquei assistindo até ele chegar, tava comendo tranquila quando ele veio pra cima de mim me beijando, fiquei encarando ele que me deu um sorrisinho e eu revirei os olhos.
Deco: Bora pro baile pô.— Falou me encarando.
Marília: Eu não tô afim de ir, cara.— Desviei o olhar e ele deitou a cabeça.
Deco: Minha mulher não faz nada de bom, qual foi! — Resmungou.
Beijei a cabeça dele e ele permaneceu deitado ali, mesmo com o peso do corpo eu não me mexi e fiquei quieta, escutei o Matheus começar a roncar e empurrei ele na cama, fazendo ele acordar assustado. Mandei ele ficar quietinho no lugar dele e voltei a assistir, mas poucos minutos depois o celular dele tocou, tava do meu lado e eu atendi, colocando no viva voz.
Vermelhinho: Qual foi, Deco. Vai chegar aqui de que horas? — Revirei os olhos, queria saber o porquê de quando esses meninos colocam ideias na cabeça, é mais fácil arrancar a cabeça do que a ideia.
Marília: Ele não vai cara, sossega!
Vermelhinho: Vem mermo, ele disse que ia deixar tu dormir e vinha pra cá! Falo mermo.— Olhei pro Deco que tava de olhos abertos, me olhando.
Marília: Ô vermelhinho, deixa eu te falar... Tô prendendo Matheus não, tá?! Ele tá aqui por querer dele.
Deco: Meu mermo não filha, por mim eu estaria no baile mermo.— Resmungou e eu desliguei o celular, jogando em cima dele.
Marília: Então vai, Matheus! Você acha que eu vou tá aqui te segurando? Se tua felicidade tá lá, pode ir cara.— Cruzei os braços.
Deco: Que felicidade cara, qual foi?! Tá querendo insinuar que eu tô indo atrás de mulher? — Soltei uma risada fraca.
Marília: Se essa foi a primeira coisa que você pensou, não preciso falar nada.— Me levantei da cama.
Deco: Vai se fuder, Marília.— Encarei ele.— Papo reto mermo! Tu não me chama pra fazer porra nenhuma, fala que gosta de sair pros cantos mas não desenrola nada.
Marília; Eu vou te forçar a ir pra coisas que você "não curte"? — Cruzes os braços, relembrando a fala de hoje mais cedo.
Deco: Tu curte baile? Não porra, e mesmo assim já foi comigo várias vezes! Se tu me chamar pra ir, eu não vou te negar isso cara.
Marília: Tá ótimo, Matheus! Mas é o que eu falei, porta tá aberta, você pode ir pra onde quiser, com quem quiser! — Sai do quarto legando o prato que eu coloquei o sanduíche e o copo.
Encostei logo pra lavar e foi coisa rápida, tomei um pouco de água e voltei pro quarto, onde ele tava encostado olhando pra televisão, com a cara mais feia do mundo.
Deco: Só vou te falar um bagulho, Marília.— Ignorei ele e comecei a procurar uma roupa pra dormir.— Desde que tu chegou, eu abri mão de muito bagulho por tu! Passei por cima de gente que tava do meu lado, mesmo quando levei esculacho teu. E papo reto? Eu não me arrependo, tenho maior paz de ter feito a minha escolha.
Marília: Essa discussão não tem nem sentindo, Matheus! Todos bailes que você me chamou, eu sempre fui tranquila. Ai quando eu não quero ir em um, você faz um drama que pareceu que tá morrendo? Assim não rola.
Deco: Jae, beleza.— Falou respirando fundo.— Só queria te dizer que tu é chata pra caralho mermo, não dá pra aturar. Mas mermo assim, eu não me arrependo de nada.
Marília: Como você tem coragem de me chamar de chata? Você se quer ouve o que fala, Matheus? — Sentei na cama e ele deu um sorriso.
Deco: Chatinha pra caralho, só fala merda.— Beijou meu ombro.— O bagulho que o Vermelhinho falou não é papo da minha boca.
Marília: Você acha que o Vermelhinho tem credibilidade comigo? — Ele deu os ombros.
Deco: Eu tava pensando mermo, só vivi relacionamento no maior caos. Tava maior tédio, mas papo reto? — Olhei bem pra ele.— Tenho maior marola de que a gente nunca brigue, e quando acontecer, seja papo de explosão mermo...
Marília: A gente nunca briga porque conversa, não é porque somos um casal perfeito.— Falei ironicamente.— A gente já teve várias discussões, mas tudo se resolveu porque a gente se entende cara.
Ele deu um soco no meu braço e eu abracei ele, fiquei um tempinho deitada e me enrosquei pra dormir, ele tava me abraçando mas me soltou e e eu peguei no sono de vez.
Mas comecei a ter um pesadelo horrível, a cena do meu pai atirando em mim se repetia várias vezes na minha mente, mas era como se eu morresse, eu conseguia sentir cada dor, eu morria, acordava no mesmo lugar e de novo morria...
Pulei da cama assustada procurando ar, meu corpo tava suado, mesmo com o ar gelado, estiquei a mão pra abraçar o Matheus, mas quando me virei pro lado, era o lugar mais limpo, ele não estava aqui.
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