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23

Deco.

Acendi o cigarro puxando a fumaça de cara e afastei o isqueiro, olhei as luzes que refletiam no morro enquanto a fumaça embaçava minha vista. Baixei a cabeça sentindo minha cabeça doendo e olhei de lado quando escutei alguém andando, o Vermelhinho chegou passando a mão no cabelo e se jogou do meu lado.

Vermelhinho: Descobri um bagulho.— Falou pegando o cigarro da minha mão e eu olhei pra ele.— Eloísa tá morando na sul porque tá atrás de um policial que mora por lá.

Deco: Ela tá se metendo nesse bagulho pra depois voltar chorando quando a consequência chegar.— Ele deu os ombros.

Vermelhinho: E tu tava aonde?

Deco: Conheci uma mina gostosinha, bagulho é o paraíso.— Ele soltou uma risada.— Mas é virgem, tô fazendo um corre pra chegar lá.

Vermelhinho: Ih, papo de desafio?

Deco: Não pô, tranquila. Quase meti hoje, mas ela tava nervosa, se não tivesse acontecendo esses bagulhos aí eu ia dormir lá hoje.

Vermelhinho: Qual foi cara, vai vendo.— Falou rindo.— Bagulho louco. Ela se apaixonar quero ver tu ficar na gastação.

Neguei com a cabeça puxando o cigarro e me calei de novo, a fumaça subia, minha cabeça doía, ele tava calado do meu lado e eu continuava olhando as nuvens.

Vermelhinho: Sexta é aniversário da minha filha. Soraia vai fazer uma festa lá na casa dela mermo, tu vai pô.— Meu corpo ficou pesado na hora, qualquer bagulho me lembrava o que eu mais tava tentando esquecer. 

Bryan que era o padrinho dela, que tava lá pra tudo por ela. Sempre gostei da Dandara, mas nunca fui tão próximo como ele.

Vermelhinho: Olha Matheus, namoral mermo... Não tem como mudar a merda do passado, não vai adiantar porra nenhuma querer mudar. Já aconteceu pô, tu tinha dezesseis, hoje tu tem vinte e três anos, tu cresceu, tu aprendeu, não adianta cara! Bryan te amava de qualquer forma, tá na hora de aprender a conviver com essa porra.

Deco: Bagulho podia ser diferente...— Ele nem deixou eu começar de falar direito.

Vermelhinho: Papo reto, mas não foi! Ele quis que tu ficasse aqui, quis que tu assumisse as responsas. Então ajeita a postura, no lugar de ficar surtando, ajeita a porra da mente e vai honrar o teu irmão.— Falou boladão, se levantando.— Se tu não aparecer no aniversário da minha filha, papo que nossa amizade acaba ali mermo.

Ele saiu batendo a porta igual criança, neguei com a cabeça vendo o cigarro queimar e soltei uma risada. Dandara morava com a mãe na pista, Vermelhinho era uma máquina e tinha uns 4 filhos por aí, mas era um paizão dava uma moral pra todos, da forma dele.

Hoje era terça, quando terminei de fumar desci pra fazer plantão e fiquei por ali na terça e na quarta. Na quinta eu saí pra comprar algum bagulho pra Danda e me senti perdido, só tinha bagulho estranho, mas desenrolei uma boneca feinha, porém falava e tudo.
Na sexta eu tava cansadão e resolvi pisar em casa, tinha passado dois dias sem passar aqui perto. Quando entrei a Ana não tava em casa, fui direto pro quarto colocando minhas coisas e tomei um banho.

Me trajei maneirinho e quando ia saindo com minhas coisas a minha coroa tava entrando, ela me olhou cansada e eu encarei ela, que andou até a minha frente me abraçando.

Ana: Você é um filho da puta.— Falou com a voz abafada pelo meu peito. 

Fiz uma cara feia beijando a cabeça dela e ela me soltou.

Deco: Vou descer no aniversário da Danda, mais tarde apareço aí.

Ana: Também vou, só vou me arrumar. Mas pode ir na frente e deixa dinheiro pro carro.— Neguei avisando que o cartão tava no celular dela e ela concordou.— Eu te amo.

Mandei um beijo pra ela saindo de casa e desci pra pista, quis até passar na casa da Marília mas fiquei com preguiça, era bagulho oposto. Quando cheguei tinha maior galerinha, até segurança tinha, não deixaram entrar de arma e tudo pô, entrei xingando os manos até ver o Vermelhinho.

Vermelhinho: Qual foi cara, só tem criança aqui.— Bateu na minha barriga.— Relaxa e aproveita as amigas da Soraia.

Resmunguei qualquer coisa e a Danda veio correndo pra cima de mim, peguei ela no colo entregando o presente dela e coloquei ela no chão no mermo segundo, garota tava pesadona. Tava completando seis anos hoje, comprei pra ela uma boneca pica, mudava o cabelo de cor e ainda tinha como pintar a cara dela, ainda falava, legal pra caralho.

Tava sentado comendo qualquer bagulho que passava e trocando ideia com uns moleques, vi o Vermelhinho saindo de dentro da casa da Soraia e no mesmo instante parou como se tivesse visto bixo, desviei o olhar pra trás e não acreditei nesse bagulho, só podia ser gastação comigo uma parada dessas...

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