16
Marília.
Nossa! Que turbilhão de emoções eu sentia quando decidia fazer algo que está fora da minha rotina. Essa última semana tem sido tão "vivida." por mim, tão diferente que eu chego a estranhar.
Mas como era gostosa a sensação de paz, de liberdade... de calmaria!
Sem cobranças, sem ódio, sem brigas, sem guerra. Só paz, apenas eu vivendo como alguém normal, apenas eu sentindo o que é ser alguém normal, me fazia querer viver assim pra eternidade.
O vento batia no meu rosto fazendo todo meu cabelo voar, meu sorriso estava em eu rosto e eu observava as ruas. O Matias passando entre os carros, entre os sinais vermelhos, o que me fazia sentir medo e era uma sensação gostosa, porque se misturava com adrenalina.
Quando chegamos na praia eu pulei da moto igual uma criança, ele me encarou descendo da moto e eu fui pra areia, tirando minha sandália e indo em direção ao mar.
Deco: Tô sentindo que eu adotei uma criança e não tô sabendo.— Falou em tom de brincadeira, eu revirei os olhos e soltei um sorriso de canto, como eu estava em sua frente, ele não conseguia ver.
Me sentei na areia e ele sentou logo depois do meu lado, amarrei meu cabelo que já tava todo bagunçado e ele me encarou.
Deco: Achava que teu cabelo era liso pô, grandão igual no dia que eu te vi.— Dei os ombros.
Mari: Uso ele mais liso do que cacheado, não tenho muito tempo pra cuidar. Acho mais fácil ele liso durar por dias...
Deco: Achava que era impossível, mas tu fica mais linda com ele cacheado! — Falou olhando diretamente pro meu cabelo.— Mas pô, se acha não.
Mari: Obrigada, Matias. Saiba que eu só aceitei vir por conta que você estava de moto, não tenho interesse algum em algo mais.— Apontei e ele soltou um sorriso de lado.
Derreti ali mesmo, mas disfarcei me mantendo intacta.
Deco: Chama de Theus, pô.— Balancei a cabeça levemente, arqueando a sobrancelha.— Tá querendo me dizer que tu é interesseira e só tá de olho na moto?
Mari: Exatamente! — Sorri.— Não achei que seria tão fácil pra você entender.
Deco: Tá tentando me chamar de burro cara? Não tô entendendo esse teu papo, tá muito torto.— Passou a mão no cabelo.
Mari: Mas nem é tão burro assim, tá entendendo tudo que eu falo.— Brinquei e ele bateu no meu braço.
Deco: Fuma um? — Falou mexendo no bolso da bermuda, eu fiquei calada e quando ele tirou um cigarro diferente do bolso eu abri a boca levemente, fechei e ele me encarava.
Mari: Se meu pai soubesse que você acabou de me fazer essa pergunta, você já estaria preso.—Falei encarando ele.— Não fuma isso perto de mim, faz favor.
Deco: E teu pai é quem? — Ele olhou pro cigarro e depois me olhou de novo.
Mari: De igreja, religioso, que acha que isso vem do diabo.— Ele soltou uma risada.— Te denunciaria e me mandava ser presa junto.
Foram bons anos sendo praticamente negada como filha do delegado federal por não ter nada a agregar, não era agora que eu ia jogar na cara quem meu pai é. E fora isso, pra falar a verdade eu nem conheço esse cara direito, não sei o que ele faz. Então falar pra desconhecidos que meu pai é da polícia nem sempre era a coisa mais esperta a se fazer.
"Você nem conhece ele." — Abri maior olhão e desviei o olhar, com esse pensamento que bateu me fazendo voltar a realidade.
Que merda eu estava fazendo?! Talvez meu pai estivesse certo em me prender dentro de casa, me sinto uma adolescente de quinze anos inconsequente.
Ele era um estranho e eu beijei esse estranho, eu estou com esse estranho na praia, isso tá errado demais?
Porque eu estava calma, estava me sentindo bem, eu precisava respirar um pouco.
Mas será que eu tenho que confiar nele tão fácil assim? Ele conhecer a Eloísa deve ser um bom ponto.
E na verdade, nem eu conheço ela direito, então... O meu transe todo foi embora quando senti a mão dele no meu joelho, senti uma onda fria pelo meu corpo e eu tirei os olhos da areia e desci olhando pra mão dele.
Deco: Tá suave? — Ele percebeu meu olhar pra mão dele e tirou, me fazendo olhar pra ele.
Mari: Quero ir pra casa.— Falei impulsionada, mas eu estava certa, não podia vacilar só porque gostava dessa liberdade.
Não sabia quem ele era, de onde vinha, com quem andava. Não sabia nem se o nome dele realmente era verdadeiro. E apesar de tudo, ele poderia saber muito bem de quele eu sou filha e estar aqui por algo mais interessante, como fazer algo contra meu pai.
Deco: Deveria te enterrar na areia e só tirar a hora que eu quisesse mermo! — Negou com a cabeça e eu soltei uma risada.
Mari: Posso chamar um uber se você quiser, sem problemas.— Falei, mas torci que ele implorasse pra me levar, pois eu só tenho cinco reais e nem celular trouxe.
Ele negou com a cabeça se levantando e estendeu a mão pra mim, ignorei ele me levantando sozinha e ele apenas ficou me encarando.
Deco: Tu é igualzinho ou pior que uma criança mermo! — Deu um tapa na minha nuca.
Mari: Tá me agredindo, cara. Cuidado que eu sei lutar, te quebro em dois segundos! — Brinquei, vendo ele andar do meu lado.
Deco: Porra cara, só não tiro a prova porque tu bate no meu peito, é só eu assoprar que tu cai no chão.— Bati no braço dele, indignada.
Mari: Um dia desses te mostro como eu luto bem, mas cê vai direto pro hospital.
Deco: Aí tu se fantasia de enfermeira e eu saio ganhando.— Parei ao lado da moto dele.
Mari: Você é tão menininho de 15 anos com piadas sexuais.— Fiz uma cara de solidária pra ele.
Ele soltou um riso jogando a cabeça de lado e negou, subindo na moto. Subi logo em seguida e ele saiu rápido, me fazendo sentir o vento quase me levar junto. Quando chegamos no prédio, eu desci e ele me encarou, desligando a moto.
Deco: Quer sair amanhã? Te provo que não sou só um moleque piadista de quinze anos.— Falou me encarando com a maior cara de sério.
Mari: Você tem quinze anos? — Ignorei seu convite, brincando.
Deco: Tu só vai descobrir amanhã, jae? — Fiquei calada, segurando o sorrisinho que quis sair.— Coloca aí.
Olhei pra ele me entregando o celular e neguei, ele me olhou indignado e eu dei os ombros.
Mari: Vem amanhã, as sete, vou te esperar aqui. Vamos pra onde? — Falei curiosa.
Deco: Comer em algum lugar. Qual foi que tu não quer me dar teu número? Tá foragida, maluca? — Fiz legal pra ele.
Mari: Tá querendo muito, relaxa um pouco.— Falei dando as costas.— Obrigada, não se atrase amanhã.
Deco: Vou pensar, se eu tivesse teu número dava pra avisar maneirinho ein.— Ignorei ele e fui entrando.— Se acontece algum bagulho, eu sumo e tu fica esperando igual tonta.
O porteiro me olhou estranhando e eu desejei uma boa noite e corri pro elevador igual uma criança, meu sorriso tava de orelha a orelha e eu só queria entender o que eu estava fazendo da minha vida.
Mas viver é tão bom...
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