03
Marília.
Cinco horas da tarde e eu tinha me dado o luxo de sentar por dez minutos e tomar um sorvete, enquanto eu lia alguns artigos importantes pra meu estudo no celular. Mas na verdade eu estava distraída, olhando algumas crianças brincando na praça do outro lado da rua, até alguns adolescentes brincando em um grupo de amigos, o que me fez encarar e pensar em como eu nunca tive oportunidade de ter aquilo, amizades verdadeiras. Até quando eu morava com minha mãe e tentava ser uma garota normal, meu pai me regrava e me proibia de viver.
Tirei minha atenção das crianças quando vi três motos passando uma do lado da outra, atrás tinham dois carros que vinham todos na mesma velocidade e aquilo não foi muita coisa, mas pra quem vive com um delegado neurótico, achar que estava prestes a acontecer algo por aqui, foi o mínimo.
Coloquei o copo de sorvete em cima da mesa e vi um dos carros passando, estava com cinco meninos dentro, todos os vidros baixos o que suficiente para observar bem.
O que estava no banco de passageiro me olhou, como eu olhava curiosa sustentei o olhar, assim como ele. Foi algo de cinco segundos, mas chegou a ser engraçado até, porém muito estranho.
Juntei minhas coisas jogando na bolsa e fui saindo dali, seja lá o que iria acontecer, eu não poderia fazer nada por ninguém. Então entrei no carro e voltei pra casa, subi pro meu apartamento e quando abri, vi que a Bárbara, minha madrastra, estava fazendo a unha em casa.
Mari: Oi, Rosa.— Falei sorrindo pra manicure, que me encarou e sorriu.
Rosa: Já estava sentindo sua falta.— Falou amorosa e eu sorri mais ainda.— Vai fazer a unha hoje?
Bárbara: Não. Se concentre no que você está fazendo.— Falou rude, Rosa desviou o olhar de mim e eu respirei fundo.
Mari: Próxima semana eu marco com você, elas nem cresceram ainda.— Brinquei vendo ela sorrir de cabeça baixa, olhando pros pés da Bárbara.
Entrei no quarto indo direto tomar banho, quando sai decidi ligar a televisão enquanto procurava uma roupa e pra quem apenas possibilitou, eu estava certa. Passava na televisão assalto a carro forte, pelo visto bem perto de onde eu estava.
A imagem do menino passou pela minha cabeça, sabia bem que ele deveria estar envolvido com aquilo, mas as circunstâncias não seriam outras. Provavelmente o meu pai deveria estar procurando saber sobre algo desse caso, pra não estar em casa me falando sobre como eu me atrasei por exatas duas horas.
Mas eu estava com preguiça demais pra estudar hoje, meu concurso só seria daqui 5 meses. Eu sentia que minha cabeça ia explodir se eu pegasse em um livro hoje, era como se eu apenas estivesse em piloto automático, já sabia de tudo, já decorei tudo.
Então juntei minhas coisas e sai, passei pela porta recebendo o olhar da Bárbara que não falou nada, porque as vezes eu saia e ia estudar ao ar livre. Desci pra piscina que não tinha ninguém e joguei minhas coisas no canto, coloquei meus fones de ouvido e me sentei na beira, molhando meus pés com água. E aproveitei pra ficar sozinha ali escutando música e observando o céu por quase dez minutos, até olhar e ver a menina que eu havia visto no elevador mais cedo se aproximar.
Eloísa: Você de novo.— Sorriu e eu encarei ela, sem reação.— Eu estou fazendo um tour pelo prédio, acabei de vim do jardim e nossa, me sinto no paraíso.
Mari: Você veio morar aqui sozinha? — Encarei ela, que sentou um pouco afastada de mim.
Eloísa: Sim, eu na verdade deveria morar com minha mãe. Mas ela trabalha muito, então ela comprou esse apartamento e disse que nas férias das viagens viria pra cá.— Falou com uma expressão de triste.— É meio chato ser sozinha.
Mari: Você não têm irmãos? — Ela demorou um pouco pra responder.
Eloísa: Não.— Negou.— Sou apenas eu e minha mãe.
Mari: Entendi.— Dei os ombros.
Eloísa: E você? Mora sozinha também?
Mari: Com o meu pai e a mulher dele. Mas eu preferia trocar de lugar com você.— Ela soltou uma risada.
Eloísa: Estranho, eu daria tudo pra ter a casa com alguém além de mim.— Sorri fraco, mas algo me fez estranhar ela.—Então, pode entrar na piscina de noite ou só de manhã?
Mari: Quando você quiser.— Ela me olhou animada.
Eloísa: Então vamos?! - Falou igual uma criança que acabou de descobrir que brigadeiro é a melhor invenção do mundo.
Mari: Não, eu deveria estar estudando na real.— Apontei e ela se levantou, tirando a blusa e ficando só de top.
Eloísa: Depois você se enxuga, para de besteira cara.— Falou entrando na piscina.
Revirei os olhos sabendo que provavelmente ela não tinha ninguém pra lidar, não precisaria ouvir sermões do quanto foi irresponsável, ou burra por desperdiçar horas de estudos, nem ser chamada de burra ou inútil, por não passar numa prova, que nem da sua vontade é.
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