Capítulo 15
NATASHA exibia um sorriso malicioso no rosto. Os olhos azuis-elétricos faiscavam, procurando na escuridão vestígios do cabelo loiro que ansiava ver. O sangue nas suas veias cantava de antecipação, humedecendo os lábios já a sentir o sabor do contentamento.
Fora Rafal que sugerira a Prova Perfeita, sentado entre os professores com o poder que o disfarce do seu irmão lhe conferia. O derradeiro teste à relação de Tedros e Sophie, proibida em ambas as escolas. O casal alegava ser Amor Verdadeiro e concordaram de imediato que a famosa prova iria revelar isso. O irmão do Mal, disfarçado de Reitor do Bem, puxara os seus cordelinhos mais uma vez.
A Sinclair sabia perfeitamente que aquilo não era amor nenhum. Via na forma como as íris azuis de Tedros a procuravam na multidão sempre que a pressentia. Na sua preocupação ao encará-la no dia seguinte ao derradeiro dia, vendo-a fraca e pálida. Agora, ao vê-la mais forte e restabelecida, era atraído por ela como uma mosca para a luz.
Os duelos entre eles tinham parado. Era demasiado arriscado para ambos. Seria tão mais fácil se Natasha simplesmente tivesse coragem para o matar, acabando assim com a terrível ligação que os unia.
Ele era o seu Nemesis. O seu inimigo mortal. Não deveria sentir qualquer tipo de hesitação.
Mas sentia. Porque Tedros era um espelho do que ela não queria ser. Ele expressava com honestidade a dor do luto que ainda fazia pelo pai. Era forte o suficiente para admitir que preferia mil e um caminhos que não o da coroa que lhe era imposta. Sentia uma fúria contida em relação à sua mãe, Guinevere, que traíra e abandonara o pai. Ainda assim, era incapaz de não a amar.
Natasha sabia tudo isso porque ele lhe contara. Entre choques de lâminas e sangue seco, ele fora sincero com ela, transparente mesmo ciente que ela poderia usar as suas fraquezas contra si. Ela era Má, afinal de contas.
Ele não o fizera por confiar nela. Não o fizera por ele, para amenizar a sua dor, para lidar com os seus sentimentos.
Ele fizera-o por ela. Porque era o seu espelho e ela nunca seria fraca ao ponto de admitir quão quebrada estava.
A Nunca cerrou os punhos, concentrando-se. Ela não estava ali por Tedros. O seu objetivo tinha cabelo loiro e uma personalidade mesquinha.
Ela estava ali por Sophie.
Rafal queria-a de vez nas suas mãos e pedira a Natasha para ajudá-lo. Ela sabia provocar Sophie como ninguém, conhecia-a bem o suficiente para saber que botões carregar para a destruir por completo. O cabelo fora um bom ponto de partida.
Estava na altura de brincar com o seu ego.
Para isso, Natasha usaria Agatha. Sabia que a amiga não iria deixar a outra enfrentar a prova sozinha. A vilã metamorfesara-se, tornando-se uma lagartixa e esgueirando-se para ouvir as conversas delas ao longo do tempo. Sabia que Agatha já conhecera Rafal e sabia do seu interesse em Sophie (estúpido e prepotente imortal, pensara Natasha na altura). Agatha acreditava que Sophie poderia estar em perigo numa prova que exigia ser deixada sozinha na Floresta Azul em plena noite apenas iluminada pelo luar.
O objetivo da prova era claro: Sophie e Tedros tinham de se encontrar um ao outro. Se era Amor Verdadeiro e estavam ligados como afirmavam, o seu coração iria guiá-los.
Por isso, Agatha estaria lá. Natasha não se surpreendeu ao vê-la chegar, metamorfesada de pomba branca, arrastando o vestido de princesa por entre os arbustos. Escondida entre as árvores densas, a Sinclair sorriu ao ouvir um grito ali perto.
Sophie estava a chegar.
Viu Agatha agachar-se para se esconder. A sua presença ali era contra as regras e ninguém poderia saber ou a prova seria cancelada.
A figura loira de Sophie surgiu por entre as árvores, os olhos arregalados de pânico, os braços cheios de arranhões.
O coração de Natasha retorceu-se no peito. Um sabor amargo surgiu-lhe na boca, fazendo-a humedecer os lábios.
Tedros estava perto.
A Nunca hesitou.
Depois, um sorriso malicioso desenhou-se nos seus lábios vermelhos, as íris azuis faiscando. Sophie vira Agatha e as duas discutiam, a loira visivelmente irritada por a melhor amiga querer interferir no seu conto de fadas. Ingrata. Tudo o que Agatha queria era levá-la para Gavaldon, onde estaria segura. A amizade delas estava por um fio e Natasha seria a tesoura que o cortaria de vez.
Um relâmpago azulado voou dos seus dedos, atingindo a abóbora mais perto. Lera sobre os Ceifadores, criaturas irritantes que atacariam à primeira oportunidade.
A abóbora arreganhou os dentes, acordada pelo choque elétrico. Ouvindo o seu rosnar, as duas raparigas agacharam-se, os olhos arregalados de terror ao verem o Ceifador erguer-se... e atacar o príncipe.
Tedros soltou um grito.
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