Capítulo 9
Foi uma semana intensa para Nimay. Ele agora tinha duas marcas no pescoço. Eles não sabiam que isso era possível. Mas, arriscaram mesmo assim. Victor, depois de conseguir controlar as presas inoculadoras de veneno, com ajuda de Jake, marcou o ômega também.
Hykaru apareceu e conversaram longamente. O dragão mais velho sabia que agora que seu irmão havia sido marcado seria uma crueldade tanto física quanto psicológica o afastar de seus alfas. Por mais vontade que ele tinha de mandar tudo isso à merda, pegar Nimay e sair voando dali. Mas, seu irmãozinho caiu no choro implorando para deixa-lo ficar.
- Nimay, eu não confio nesse líder.. esse tal de Jake. Victor é um bobão. Um bebê. Jake tem centenas de anos mais que você, que ele. Já passou por experiências ruins e isso muda o caráter de um homem, às vezes.
- Hycchan, eu sei que você, provavelmente, tem razão. Eu também sou um fedelho ainda. Mas, eu quero aprender com minhas próprias escolhas, meus próprios erros. E sei que, como tem uma ômega sabe como é a dinâmica entre alfas e ômegas marcados.
- Escute o que vou te falar, Nimay. Jake vai te trair. E quando isso acontecer eu estarei longe com meus pequenos e você não consegue se comunicar. Não sei até onde vai a lealdade de Victor, não entendo como vocês conseguem esse lance da mente, como acontecia entre você e Taki. – A menção do irmão gerou um segundo de tensão entre os dois. – Só esteja preparado. É um pressentimento.
Antes de se despedirem o ômega entregou um galho para o irmão.
- Leve com você. Plante perto da nossa casa. Se vocês voarem de noite em duas noites estarão lá. Onde papai e o momy estão. Diga que a guerra está chegando perto deles. Ainda não entendo a rivalidade que existe entre Jake e os diggers e a cidade onde o papai levou a nossa família. Mas, estamos indo todos na mesma direção. Mais cedo ou mais tarde estaremos juntos novamente. E espero ter um pedaço de Taki perto de mim quando isso acontecer.
O jovem curandeiro puxou o irmão menor que estava tentando secar as lágrimas. – Agora que seu cio passou, tente curar a perna de Victor. É o mínimo que você pode fazer já que ele se deixou quebrar pra te dar uma chance. – Deu um cafuné no pequeno e abraçou forte. – Eu não devia deixar você aqui. Papai vai me matar, Hana vai arrancar minhas bolas e mommy vai me dar dois tapas na cara. Só não chegue em casa muito ferrado, irmãozinho. Pois vou incinerar esse acampamento se você chegar menos inteiro do que está agora.
- Você costumava ser mais gentil, irmão. O explosivo era Taki. – Nimay sorriu com tristeza.
- Meus olhos vermelhos são um lembrete que mesmo saindo um dragão branco como o papai e mais afeito à cura, também tenho o sangue de dragão de fogo como Hana e o vovô em minhas veias. E escute, pequeno, se algo acontecer a você eu juro por Tiamat que ter o acampamento incinerado será o menor dos problemas de Jake.
Com mais um abraço apertado os dois irmãos despediram-se. Com um embrulho no estômago, Nimay entrou na tenda e foi para perto de Victor. Ainda com a tala na perna. Decidiu tentar novamente, já que o cio consome muita energia, e agora ele já estava bem. Colocou as mãos no lugar fraturado e sentiu a energia ser puxada das entranhas da Terra, subir pelo seu corpo e sair pelas mãos. Visualizou os ossos e tecidos sendo curados. Quando acabou e abriu os olhos viu um Victor embasbacado mexendo a perna e livrando-se das ataduras.
- Dessa vez deu certo, bebê. Eu não sabia que o cio consumia tanto a minha energia.
- Para de me chamar de bebê. – Victor estava feliz. Odiava ter que ficar preso numa cama. Calçou as botas e saiu pelo acampamento que estava prestes a ser recolhido. Alguns servos já começavam a embalar as coisas da tenda do comandante. O ômega pegou seus poucos pertences particulares e colocou numa bolsa de couro e saiu para conhecer o que seria "seu povo". Pelo menos por um tempo.
**
Hykaru saiu do acampamento com o coração pesado. Um híbrido de lobo, um mestiço de serpente e seu irmão. Isso não ia dar certo. Mas, sabia como Nimay ficaria. Ele recebia algumas impressões de Enola por causa do vínculo, da marca e sabia do estresse que seria separa-los.
- Droga... – Ele parou no meio da passada. Colocou a mão no rosto. – Me atrasei. Nascer ômega deve ser uma agonia e um pavor. Do começo ao fim da vida. Meus deuses.
Ele tinha ficado impressionado com o acampamento. Era do tamanho de uma cidade. Com bairros e tudo. Cada núcleo tinha características próprias. Tinha um bairro de mestiços de bruxos, um de mestiços de licantropes, vários de humanos cada um com crenças e alianças diferentes. Era bem complexo. Por baixo, o jovem dragão chutava umas 30 famílias. Fora os mercenários ou soldados treinados.
A organização também parecia com o de uma cidade. Cada núcleo tinha um representante e eles reuniam-se em um conselho. Com uns dez conselheiros sendo que Jake tinha poder de veto e a decisão final nas mãos. Em tempos de guerra sua decisão era lei.
O que intrigava Hykaru era a aliança com os Diggers. Aquele General Naoki o perturbou muito. Mesmo tendo o visto de relance e trocado meia dúzia de palavras, se muito.
O desespero e alívio quando o chamou de pai, seguido da frieza e decapitação daqueles homens o deixou assustado. Jake era muito ponderado. Provavelmente a aliança tinha a ver com Victor. Pelo pouco que o jovem dragão branco sabia, deuses serpentes eram exímios envenenadores por sua natureza e também imunes aos venenos alheios. E conseguiam controlar pequenas alterações climáticas. Será que Victor podia fazer algo a mais?
E por último, por que marcar Nimay? E fazer com que Victor também o marcasse mesmo correndo o risco da marca ser rejeitada. Sabendo que o irmão era do clã que ele mesmo atacou, sabendo que o ômega era irmão do dragão que ele matou. Por que o deixou vivo? Jake, deve ter uns 300 anos de idade. Nimay não é o primeiro ômega no cio com o qual se depara. Então, essa atitude ainda é um mistério.
Pensando em todas essas coisas que soube e presenciou no acampamento de Jake, Hykaru chegou na casa da vila cabisbaixo. Com várias teorias e ideias pulando na sua cabeça. Enola e Damra ouviram seu alfa chegando e pularam em seu colo.
- Ué... cadê o seu irmão?? – perguntou Damra enquanto Enola balançava a cabeça numa tentativa de que o irmão entendesse que era para não tocar no assunto agora. Não deu muito certo.
- Ele não quis vir comigo. Ele foi marcado e precisa se acostumar com os vínculos.
- Hmm!!?? No plural!! – Já foi falando Damra deixando Enola desesperada enquanto batia a mão na testa.
- Também não sei como foi possível. – Hykaru não estava prestando muita atenção à aflição de Enola com as perguntas de Damra. – Mas, meu irmão deu uma boa ideia. Aproveitar a noite para voar e assim chegar rápido no ponto de encontro da minha família. Estou louco para apresentar vocês, principalmente para o mommy.
Sem muita cerimônia agradeceram a estadia e aproveitando a noite meio encoberta pela chuva rala que caía os três foram embora rumo ao norte.
**
Já se passara uma semana desde o dia da reunião do conselho. A família de Ryusei foi acolhida e tinham permissão para seus negócios. Mas, as coisas tomaram um rumo muito diferente naquela noite.
Depois das revelações tristes de Ryusei e o súbito "ataque" de Takai, o dragão delicadamente se desvencilhou do monge. Respirou fundo. Encarou o amigo nos olhos. E tomou uma decisão.
- Vamos pra casa! Hana deve estar preocupada. Principalmente, com essa sua confusão de sentimentos.
- Meus Deus!! Quer dizer... ai foda-se!! Eu tô lascado!! Porque tudo que envolve você é tão complicado.
- Não coloque a culpa em mim. Se você esqueceu da ligação entre vocês. Hana vai entender seu coração. Suas dúvidas. "Espero" – sussurrou o Kami saindo pela porta dos fundos.
Já era madrugada. As ruas estavam desertas. O som dos passos dos dois homens ecoava pelo calçamento. Rapidamente chegaram no sobrado onde seria seu lar nos próximos ... anos? Bem, pelo tempo que tivessem. Abriram a porta espreitando. Estava tudo escuro no térreo. Subiram as escadas.
A primeira parada foi no quarto de Akise. Kai estava na cama enroscado com seu mommy. Fecharam a porta devagar.
- Boa noite Takai, vou para o meu quarto.
- Ah!! Não vai, não. Eu não vou sozinho encarar essa. Você vem comigo. Pelo menos pra se certificar que seu amigo aqui não vai ser queimado até os ossos.
Com passos relutantes os dois bateram de leve na porta do quarto do casal. Sem obter resposta abriram a porta com cuidado. Afinal, se Hana já estivesse dormindo eles estavam livres pelo menos até o nascer do sol.
Lá estava ela, linda sob a luz da vela, no meio do quarto. Ao contrário do que os rapazes imaginavam ela não tinha um olhar de ódio nem mágoa. Aproximou-se dos dois e primeiro se dirigiu a Ryusei.
- Meu amigo, - abraçou o pai de seus filhos com carinho – sei que a situação em que nos encontramos é confusa e gera ansiedade. O coração fica confuso e carente. Não durma sozinho essa noite. Vá abraçar seu ômega e seu filho. Converse com Akise. Ele não está totalmente inconsciente. Ele só não quer encarar a realidade. E você não o está ajudando. Sua atitude de fuga está fazendo com que ele só se afunde na própria tristeza. Vai lá meu amigo. Traga nosso raio de sol de volta. Sem nosso pequeno ômega a família fica mais incompleta, à deriva. Demonstre a segurança que ele precisa para voltar.
Ryusei enconstou a cabeça no ombro de Hana, deixando algumas poucas lágrimas escaparem. – Não sei se sou digno disso, Hana. Eu só errei desde o começo. Desde o momento que deixei Akise sozinho à mercê de Katashi, desde que deixei... – suspirou de cansaço emocional – aquele bebê indefeso sozinho. Entendo a fuga de Akise, já fiz a mesma coisa.
- Sshh... – A dragão de fogo consolava seu amigo acariciando seus cabelos prateados. – Conte sua história pra ele. Abra seu coração Ryusei. Deixe o amor de Akise curar essas feridas. – Com delicadeza foi conduzindo o dragão branco para fora do quarto e deixando-o no corredor e fechando a porta.
Virou-se para o companheiro que estava de joelhos no meio do quarto com a mão no rosto. Hana ajoelhou-se junto de Takai e o puxou para seu colo deixando que ele chorasse toda a vergonha que estava sentindo. Toda a confusão se seu coração. Não precisavam trocar palavras. Suas mentes e sentimentos tinham um canal, um fluxo. Mas, o monge tinha certeza que sua mulher podia ler até o fundo de sua alma e ver toda a podridão lá de dentro.
- Escute, monge. – Começou a alfa com uma voz baixa e doce. – Vou falar em voz alta para que você não tenha dúvidas ou ache que é coisa de sua imaginação. Eu escolhi amar você com toda a sua humanidade. Aprendi que os humanos cometem mais erros porque vivem menos. Vocês não têm tempo para pensar e em alguns casos erram totalmente. Mas, às vezes ser precipitado é melhor do que procrastinar. Veja o que a demora minha e de Ryusei em vir pra cá acarretou em nossa família. Todos nós temos nossos monstros, nossas culpas. E elas são cruéis. Pois somos o réu, o juiz e a sentença de nós mesmos. Olha pra mim. – Hana levantou a cabeça de Takai com carinho. – Eu sei o quanto Ryusei é atraente. Ele é um alfa, um curador. Ele atrai quem está machucado. Sshh... não abaixe novamente a cabeça. Eu tinha jurado pra mim mesma não me unir a ninguém. E o resultado de ficar perto daquele dragão branco foram dois filhotes. – Eles começaram a rir baixinho. – Eu te amo, Takai. E não é apesar de você ser um humano beta. É justamente por isso. Eu te amo com filhotes ou sem eles. Eu te amo mesmo com sua curta vida e sabendo que você vai me deixar sozinha. Eu te amo com toda a intensidade do seu coração. E do meu. Não se culpe mais. Por favor.
- Eu não mereço o seu amor, Hana. – Começou Takai tocando os lábios dela com os dedos para impedi-la de retrucar. – Você é a pessoa mais maravilhosa do mundo pra mim. E mesmo assim eu me joguei nos braços de outra pessoa no primeiro sinal de desespero. Eu poderia ter aberto o jogo com você. Mas, preferi ser egoísta e pensar "Ah, ela sabe o que eu estou sentindo, temos uma ligação". Esse pensamento ridículo e imbecil martelava na minha cabeça para justificar ações injustificáveis. Eu te amo tanto... e mesmo assim te feri tanto. Eu não quero ter medo, não quero pensar que é a droga dessa ligação que faz você me amar. Maldita hora que bebi um gole daquela poção.
- Mas, eu não bebi. – E foi com essas palavras que Hana beijou Takai. Em seu coração ela pedia para que fosse forte o suficiente para mostrar para aquele cabeça dura que não tem poção no mundo capaz de fingir amor por tanto tempo. Sem parar os beijos os dois foram para a cama e deixaram seus corpos expressarem em forma de beijos e carinhos, suspiros e murmúrios tudo o que precisavam dizer.
No outro quarto Ryusei, relutantemente, depois de ter se trocar em seu quarto. Vai para o quarto de Akise. Deitou-se do lado do ômega apoiando a cabeça em seu peito.
- Ah! Meu pequeno. Eu tenho estado perdido sem sua luz. Meu passado mais tenebroso está vindo ao meu encontro e tudo o que eu faço é me encolher de medo. Sei que, muito provavelmente, você já saiba alguma coisa pela ligação que tem com Hana e Takai. Vou contar a parte que mantive trancada e murada dentro de mim. Me ajude pequeno, meu ômega. Preciso de você.
- Papa! - Kai despertou coçando os olhos, meio sonolento. - Eu cuidei do mommy, papa. Eu o limpei, penteei e conversei com ele. E sei que ele sente sua falta. Faz ele acordar papa. Tenho medo de, no final das contas, Nimay e Hykaru não voltem. Não quero ficar sozinho, papa.
- Você não vai ficar sozinho. De agora em diante estarei aqui pra você. Kai, você é muito especial. Não se sinta menos amado. Eu vou consertar as coisas. Só me dê um tempo a sós com o mommy.
- Boa conversa, papa. – disse Kai saindo do quarto e fechando a porta.
- Bem.. agora é só eu e meu pequeno. – Suspirou aconchegando-se e começando a falar.
**
Capítulo redenção. Huahuahuahua. Gostaram? Espero que não me matem, pois não conseguirei escrever o final da história. Huahuahuahua. Ainda vai ter muitas emoções conflitantes. E a palavra assassinato vai passar na mente de vocês. Mas, mantenham o coração aberto.
Mommy. AnnelisePierrot. Seu cap amorzinho.
Bjs e até a próxima att.
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