Capítulo 8
Ryusei olhava nos olhos de Takai, tentando captar suas dúvidas. Então, tomou a iniciativa vendo que o monge estava acanhado. – Bem, o ômega de quem estavam falando, provavelmente era Nimay. E, pelo que entendi, ele está sobre a proteção de Jake. – Deu um risinho para dentro. – Hmm. É muito interessante como o destino, ou sei lá qual força do universo, se move juntando ou afastando as peças como num jogo de estratégia.
- Quem é Jake? Nimay está seguro com ele? – O monge tinha o pequeno mestiço ômega como um filho. Afinal, estava presente quando ele nasceu. Tanto Kai como Nimay eram muito queridos para ele.
- Jake é filho de lorde Lohan com uma humana ômega. Entre os licantropos esse tipo de ligação não é tão comum. No próprio clã existem alfas, ômegas e betas. Eles raramente se relacionam com humanos, sendo um tabu na verdade. Mas, a dinâmica é como com os dragões. Os filhotes podem puxar o pai alfa, manter-se humano como o/a ômega, ou em raros casos ser um híbrido, que é o caso de Jake. Um híbrido alfa. Que tem como companheiro um outro mestiço alfa do clã das serpentes. Hahahaha. E foi por causa desse pequenino que Jake foi "convidado" a retirar-se de Agartha e procurou os Diggers e seu líder, que se intitula General. Um híbrido de Dragão e Vampiro.
Takai estava mais confuso ainda. Não entendia as leis e tabus daquele mundo. E não entendia como Ryusei estava sempre bem informado de tudo. O que era a cidade de Agartha afinal de contas? Ele balança a cabeça confuso e frustrado por não conseguir entender e acompanhar direito. Ryusei dá um suspiro e faz um carinho no rosto do amigo. Que logo apoia o rosto na mão do deus dragão.
- Vou contar minha história. E um pouco da história dessa cidade. Tudo bem? – Takai balançou a cabeça concordando. O dragão curandeiro serviu-se de uma bebida voltando a falar. – Agartha é uma cidade fundada pelos dragões. Seria uma parada para a travessia das montanhas para o lugar perto do mar além delas. Onde nossa Deusa Tiamat dorme sob as águas do mar. Minha família é uma das fundadoras. Com o tempo outros clãs chegaram em busca da proteção que os dragões e o lugar poderiam dar. Meu pai era o titular da cadeira do conselho e depois seria eu, mas eu fugi. Como não renunciei formalmente, a cadeira é minha. Mas, minha tia, Lady Mahina, é minha representante enquanto eu não proclamo minha decisão publicamente.
- Há quanto tempo você está pensando nisso? – Takai arrepende-se da pergunta logo que ela sai de sua boca.
- Quase mil anos. – O mais velho riu. – Sei que pra você deve ser tempo demais. Afinal, humanos vivem, se muito, cem anos. Passaram centenas de anos e eu ainda não decidi. Essa hesitação traz meu maior arrependimento. Me apaixonei pela primeira vez quando tinha 500 anos. Ainda não tinha atingido a maioridade. Ela era uma vampira. O clã dos vampiros proíbe terminantemente relações com outros clãs. Nosso romance foi levado em segredo. Não tomamos cuidado e ela ficou grávida. Claro que fomos descobertos. E um longo julgamento começou.
Ryusei vivia tudo de novo em suas lembranças. Eram muito dolorosas. Ele precisou tomar um gole da bebida. Tomar um fôlego. Para então, continuar.
- Por quase nove meses as discussões entre os clãs e o conselho estenderam-se. Meu pai tentava a todo custo trazer o julgamento para o conselho. Assim, ela teria alguma chance. Ou pelo menos o bebê. Como eu era menor de idade fui considerado carta fora do baralho. Era horrível a expectativa e a falta de esperança. Lorde Aurel era imparcial e frio mesmo em se tratando da própria filha. Ao longo do julgamento eu fiquei ao seu lado. Aqui, no prédio do conselho, tem umas celas no subterrâneo. Como era terreno neutro pude ficar com ela até o final do circo. Porque foi um teatro. Já que a decisão tinha sido tomada desde o início. Só nós, os dragões, achávamos que poderia existir uma chance de outro resultado.
As lágrimas caíam abundantes. Até Mitchel estava chorando na cozinha ouvindo o relato que era de antes dele chegar na cidade.
- Os outros clãs eram a favor do "cada espécie julgue os seus". Ela, minha linda Meive, foi condenada a ficar exposta ao sol até a morte. E eu fui condenado a assistir. Claro, como aprendiz de curandeiro preparei uma poção e ela não estava em sã consciência durante o processo. Enquanto seu corpo se desfazia lentamente, não é tão rápido e instantâneo como nas histórias de fadas, ela cantarolava uma canção de ninar. Foi a coisa mais medonha. Eu estava acorrentado e na hora que não sobrou mais nada, nas cinzas tinha um bebê. Parecia humano, mas sua pele era recoberta de escamas de dragão. Era mais resistente ao sol. Meu instinto protetor alfa urrou dentro de mim. Sentindo meu cheiro no pequeno bebê. Arrebentei as correntes me transformando e o cobri com minhas asas. No segundo seguinte as flechas dos Sidhe voaram em nossa direção. Disseram que ele era uma aberração, um híbrido. Meu pai transformou-se para me proteger e mandou eu ir embora com o filhote. Eu fui. E aqui estou eu, voltei quase mil e quinhentos anos depois.
O olhar de horror de Takai contrastava com o olhar vazio de Ryusei.
- Eu nunca tinha saído da cidade. Não conhecia nada do mundo. Foi um choque conhecer clãs de mestiços, de híbridos. Outros clãs de seres que eu nem sabia que existiam. Eu sei como meus filhos estão se sentindo. Porque fiz com eles o que eu tinha prometido nunca fazer. Mas, um instinto protetor isolacionista e o medo de que eles se machucassem... Merda... Não adiantou nada no final das contas.
Virando o rosto para o monge, todo o desespero das lembranças e a frustração do presente estavam estampados naqueles olhos cor de esmeralda.
- Por eu ser um imbecil covarde, um alfa de merda, meu ômega fugiu na inconsciência. Meu filho foi assassinado e outros dois estão perdidos por aí enfrentando, sabe se lá o que!!! Eu nem sei o porquê de você me considerar um Kami, um Deus.
Por impulso Takai vai até Ryusei que está com as mãos no rosto chorando. Ele afasta as mãos do seu rosto e senta no seu colo. Com uma das mãos levanta seu rosto segurando no queixo apoiando a testa na dele. Quando os olhos estão fixos uns nos outros o monge segura o rosto do dragão e começa um beijo. A intensão era conforto. Mas, a necessidade de toque, a urgência das mãos no corpo, o beijo tornando-se mais profundo.
Silenciosamente Mitchel vai saindo da cozinha e se depara com o conselho em pé de guerra na sala ao lado.
**
Jake deixa Nimay na sua tenda. Victor está deitado com uma tala na perna e a culpa pesa mais ainda no coração do menor. Ele chega perto do alfa e acaricia seu rosto. O maior se afasta. Ele só senta ao lado da cama e apoia a cabeça no peito de Victor.
- O cheiro de Jake está em você. Por que está aqui? Agora é um ômega marcado. Deve querer estar ao lado do seu alfa. – Ele tinha planejado dizer essas palavras com sarcasmo, mas elas só transmitiram a tristeza que realmente sentia. As lágrimas do pequeno dragão começaram a molhar suas roupas fazendo virar o rosto na direção do ômega.
- Desculpa. – disse Nimay baixinho. – Deveria ter sido mais maduro com você desde o começo. Quando me disse que era um mestiço também. Com 20 anos a aparência de um dragão seria a de um humano entre quatro e seis anos. Você é só um bebê. E fui um idiota. Então, desculpe.
O alfa começou a acariciar os cabelos do pequeno. Fechou os olhos. Os sentimentos confusos. – Eu te desejo como homem, como alfa. Meus sentimentos por você não são de uma criança. Não o vejo como uma mãe. Mas, como meu companheiro. E seu cheiro está aumentando e eu estou começando a ficar excitado com você deitado em cima de mim. Ouvi alguns relatos que um ômega marcado se sente mal perto de outros alfas, então, não vou te segurar se quiser ir embora.
- Não sinto aversão a você. Seu cheiro me atrai tanto quanto o de Jake. – Nimay franze a testa. – Isso não é comum. Mas, somos todos mestiços. Não sei como deveria ser e não me importo. O que importa é que estou com você agora, meu corpo está esquentando e pede pelo seu. – dizendo essas palavras, o pequeno levanta e se coloca sentado em cima do quadril do maior com as pernas de cada lado do corpo que está deitado com a perna imobilizada. – Eu vou abrir minha mente assim podemos dobrar as sensações. O que você acha?
Victor olha surpreso para Nimay que tem um brilho divertido e um sorriso totalmente sexy nos lábios. – Eu acho que você é um ômega no cio muito pervertido. E eu acho isso totalmente maravilhoso. – Com isso puxa o menor para perto começando um beijo no início calmo e com saudade que vai mudando para urgente e cheio de tesão e mordidas.
**
Fazia dois dias que Hykaru e seus pequenos estavam na vila, morando com um parente dos gêmeos. Foi um bom descanso. O jovem dragão conseguiu estocar ervas que encontraram na floresta ou na feira do vilarejo. Deixou um estoque de remédios para o anfitrião como forma de pagamento pela estadia. Tinham decidido partir na manhã seguinte. Então estavam arrumando as coisas.
- O clã de Jake também vai partir amanhã. Se você quer resgatar seu irmão sugiro ir bem cedo. – diz o dono da casa. – Enola está demorando para pegar água. Você sente alguma coisa, dragão?
Hykaru estava tão absorto em pensamentos e no sonho que teve quando chegou que não tinha reparado nisso. Mas, prestando atenção sentiu o medo de Enola em seu coração levantando-se num salto.
- Damra, fique aqui. Vou ver o que está acontecendo com sua irmã. – Assim que saiu da casa sentiu um leve tremor sob seus pés. – "Diggers" ele ouviu algumas pessoas que ainda estavam no centro da vila murmurando. Cruzando rapidamente a vila percebeu que estava na orla oposta da floresta. Ouviu vozes e as seguiu.
- Vocês sabem que não compro ômegas marcados, a menos que seja viúva. – Uma voz soou num timbre de comando e irritada. – É esse seu caso, jovem ômega.
Quando Hykaru ouviu Enola chorando não se conteve e correu até ela a abraçando e afastando-se daquele homem. Percebeu o rosto do suposto comprador ficar branco com os olhos arregalados. – Perdoe-nos, General Naoki. – Os homens que tentavam vender a mulher murmuravam.
- Pai? ...
- Não tenho filhos ainda. Deu para perceber pelo cheiro que ela é minha ômega. Estou me retirando, passar bem, senhores. – Hykaru disse com firmeza e saiu rapidamente.
- General, o senhor está bem? – Alguns subordinados de Naoki que estavam nas sombras surgiram ao perceber que seu líder estava um pouco abalado com aquela rápida cena. Desembainhando a espada o líder dos diggers arrancou fora as cabeças daqueles homens. – Isso é por me humilharem em frente aos meus homens. Vamos! – Virou e sumiu na escuridão da floresta. "Era muito parecido com meu pai, a única diferença eram a cor dos olhos. Os do papai eram verdes". Com esses pensamentos ainda na cabeça, General Naoki entra em seus domínios subterrâneos pelo túnel recém cavado.
- Hycchan... aquele homem... o cheiro dele... é um pouco parecido com o seu.
- Notei isso também, Enola. Eu não sei o que significa isso agora. Vamos descobrir depois. Primeiro vou atrás de Nimay.
**
Continua...
O que vocês estão achando? Será que Takai está atraído por Ryusei pela conexão estabelecida com Akise? Quando Akise vai despertar de seu "coma" auto induzido? Quem é Naoki e qual aliança ele fez com Jake? São tantas perguntas. Essa é a melhor experiência de todas. Huahuahuahua.
Até a próxima att.
Na foto lá em cima é como imagino o General Naoki.
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