Capítulo 10
A casa do boticário, como ficou conhecida nessa primeira semana atendendo a população de Agartha, ficou agitada com a chegada do filho mais velho de Ryusei e de seu beta e sua ômega. Hykaru, chegou na terceira noite depois da conversa com Nimay. Kai ficou feliz e triste. Feliz porque, apesar de seus receios de ficar sozinho, seu irmão mais velho tinha voltado e acompanhado. E triste por seu irmão mais novo não estar junto.
O clima ficou um pouco estranho no primeiro dia. Os gêmeos nunca tinham saído de sua casa. Tinham uma família nociva. E percebendo o amor, recebendo o carinho da família de seu alfa os deixou constrangidos.
Lady Mahina foi visita-los e conversar com Ryusei sobre alguns costumes dos dragões. E decidiram fazer a apresentação da família a sociedade deles quando Akise despertasse. Os dragões têm sua natureza alfa e ou se unem entre eles ou com um humano ômega. Quando a representante dos dragões percebeu mais um beta no clã do sobrinho, torceu o nariz. Mas, não falou nada. Colocou aquele sorriso condescendente no rosto e ignorou tanto Takai quanto Damra.
Os dias foram passando e Lady Luna, que quase não saia de perto do seu clã foi visitar o Boticário. Afinal, Enola e Damra eram mestiços de bruxos e ela foi para verificar algumas coisas.
- Enola é uma raridade – disse tomando chá. – Entre bruxos puros não existe a distinção de alfa, beta e ômega. Essa manifestação pode estar ligada a parte humana, herdada da mãe. Como eles já vieram marcados a lei sobre miscigenação não cai sobre eles. Mas, fiquem de olhos abertos. A história sempre se repete. Ryusei, as coisas devem esquentar tanto no conselho como fora dele. Você precisa tomar uma posição. A cadeira dos dragões é sua. Assuma de uma vez. Assim, rivais e aliados ficarão mais claros. – Milady virou-se para os gêmeos. – Quando quiseram saber mais sobre a raça do pai de vocês, serão bem-vindos em minha casa. – Deu um carinho no rosto de cada um.
- Já tenho minha decisão, Senhora. E vou anuncia-la na próxima reunião plena do conselho na lua cheia. Eu sinto as peças começarem a mudar de lugar no tabuleiro. As jogadas vão ficar mais claras e de que lado os jogadores irão se posicionar, também.
- Vejo que tem muita percepção, jovem Ryusei. – Lady Luna sorriu. – Saiba que tenho observado algumas questões relacionadas a você e seus filhos. – Um sorriso estampou-se, novamente. – Você ausentou-se muito, filhote. Mas, mesmo de longe, alguns de nós continuamos cuidando de você. Seu pai foi um líder muito querido e justo. As alianças já estão formadas, na verdade, só esperam seu sinal. – Antes de sair ela aproximou-se de Ryusei e disse baixinho. – Seu filho aguarda ansiosamente por você nesses 2.500 anos. Não adie mais, meu amigo.
Um estremecimento sacudiu o corpo do dragão. Quando Lady Luna saiu, ele continuou encarando a porta por um tempo. Sem falar nada com ninguém, subiu as escadas que davam acesso aos quartos e entrou no que dividia com Akise.
- Kai, preciso se você em uma missão.
- Certo, papa. Pode falar.
Ryusei explicou o que Kai tinha que fazer e o pequeno saiu em disparada. Faltavam sete dias para a lua cheia. Uma semana. Nunca tivera tanta certeza de sua decisão. Sentou na beira da cama e apertou a mão de seu ômega.
- Você está seguro, meu pequeno. Quando decidir abrir os olhos, encontrará seu alfa mais forte do que quando dormiu. Vou proteger você, o bebê que está aí dentro e toda a nossa família. Não vou deixar a morte de Taki ter sido em vão.
Hana abriu a porta dando um susto no Kami.
- O bebê de Akise voltou a se desenvolver. Mas, ele ainda está na inconsciência. Eu não entendo o porquê.
- Fugir é mais fácil do que encarar a dor. Ele precisa de mais um pouco de tempo para se sentir protegido. Logo ele estará aqui, conosco. Comigo. – Acariciou o rosto e os cabelos de seu pequeno ômega. O amor que sentia por aquele humano superou tudo o que ele já tinha sentido em sua longa vida de três mil anos. Ele era seu sol, seu ar. Desde que Akise entrara em sua vida tudo ficou mais leve e ganhou cores novas. Com um beijo doce nos lábios do companheiro sussurrou. – Volte logo pra mim, meu amor.
Perto da hora de fechar a botica, Kai volta e sussurra algo para o pai que concorda com a cabeça. Assim que a noite cai batidas na porta faz com que Hykaru e Ryusei, que estão conferindo estoques e livro-caixa, levantem a cabeça. O mais velho vai atender.
- Entre, Lorde Lohan – diz abrindo um sorriso. – Que bom, vejo que recebeu meu convite.
- Seu mensageiro era tão fofo que quase sequestrei. Huahuahuahua. – Entrou dando uma risada gostosa. – Mas, acho que não foi para discutir amenidades que me chamou no meio da noite.
- Não. Vamos ao meu quarto. Quero uma certa privacidade. Hykaru, a hora que você acabar aí pegue algo na cozinha para você e seus amantes. Vou avisar Hana e Takai para não me chamarem para jantar. Estarei em meu quarto. Só chame se for uma urgência.
- Sim, papa.
- Vamos, Lohan, preciso que uma certa pessoa escute tudo o que for discutido entre nós.
Subiram as escadas e entraram no quarto. Ryusei decidiu voltar a dividir o quarto com seu ômega e Kai, deixando o quarto do meio para Hykaru e os gêmeos.
Sentaram em almofadas perto da lareira. Kai foi buscar algo para servir aos dois adultos. Assim que sentaram Lorde Lohan começou a falar.
- Ela já começou a se mover. Foi tentar uma aliança com Lady Luna, e provavelmente já foi até Kieran e Aurel. Eu sei que não iria me procurar e não o fez. Só você para fazer as coisas ficarem movimentadas. Foi uma ótima saída todos acharem que o beta é seu amante e não de Hana.
- Sim. Sua confusão sentimental me deu essa ideia. Pobre monge. O que me alivia a consciência é que Hana me conhece há muito tempo e confia em mim.
- O que pode acelerar os planos deles é a chegada de seu filho com um beta a tira colo.
- Não previ isso. Na verdade. Não previ a queda dos dois. Mas, acho que Nimay sendo acolhido por Jake pode ser um fator estratégico a nosso favor. Apesar da instabilidade emocional de seu filhote.
- Sim. Soube que ele matou seu filhote. Isso pode colocar as coisas um pouco difíceis com Naoki. Ele não sabe que você tem outros filhotes. Você pareceu tão desesperado há dois mil e quinhentos anos atrás. E sabemos como os dragões demoram para mudar de pensamento, quando mudam. Mas, você se isolou. Não conseguíamos saber o que estava acontecendo com você. Luna tinha algum vislumbre usando um espelho d'água. O bom que agora você resolveu tomar uma posição.
- Sim. Percebi que minha hesitação estava colocando minha família em perigo. A morte de Taki me abalou muito, abalou todos nós. – Lágrimas indesejadas começaram a cair. – Não poderei estender minha proteção ao Jake.
- É... recebi uma informação... Jake... bem... ele marcou seu filhote ômega.
- NIMAY!! – Com um grito Akise se colocou sentado na cama. De repente o quarto estava cheio de gente, pois a porta abriu de supetão com Hana e Takai entrando correndo. Logo atrás vinha Kai com um lanche numa bandeja. E por último Hykaru e os gêmeos.
- Ainda bem que eu trouxe bastante lanche – disse Kai. – O mommy deve estar com fome depois de quase um mês dormindo. – Sorria, mastigando um pedaço de qualquer coisa, piscando para seu pai e Lohan que estavam com o semblante surpreso.
**
Assim que Hykaru partiu, Nimay saiu da tenda com sua sacola de couro pendurada no ombro. Ficou sabendo que as bruxas iriam fazer uma celebração em volta da árvore do Taki. No dia do Equinócio de Outono os homens do acampamento estavam atacando sua família e a celebração tinha sido adiada por tempo indeterminado. Parece que agora Jake deu permissão e os preparativos estavam sendo feitos.
Perambulou por todos os lugares e conheceu várias pessoas de clãs diferentes. Ouviu pedaços de conversas e tentava entender a dinâmica do acampamento. Que na verdade era quase uma cidade móvel.
Parou no clã das bruxas e ajudou nos preparativos da festa ouvindo as histórias dos deuses que tanto o encantavam quando seu pai ou Takai contavam para ele e seus irmãos. Elas tinham costumes muito parecidos com os de sua família. E isso aqueceu seu coração. Sabia que a árvore de seu irmão seria reverenciada por muitas gerações.
Conforme começava a escurecer as coisas eram levadas para onde seria o ritual. Estava tudo enfeitado. Tinha uma fogueira relativamente perto, deixando o ambiente quentinho. Alguns troncos serviriam de bancos.
As sacerdotisas do clã bruxo estavam com suas vestes esvoaçantes e joias cerimoniais. A celebração começou e um tempo depois houve uma pequena comoção. Nimay estava no último banco. Queria passar despercebido. Notou que as pessoas ao seu lado saíam temerosas e não ligou para a pessoa que sentou no mesmo tronco que ele.
O pequeno ômega estava vidrado no que acontecia perto da árvore. As danças e a música. A letra que tinha tudo a ver com o que Taki representava agora. Lágrimas escorriam pelo rosto. As emoções borbulhando dentro do peito.
Colha os grãos pois o Deus está partindo
Em uma nova Roda retornará
Dia e Noite dançam em equilíbrio
E tudo que morre renascerá!
Hey ya! Hey ya! Hey ya! Hey ya Hey ya!
Hey ya hey ya hey ya ha!
Céus e Terras se unirão
Dia e Noite retornarão
Pela força das minhas mãos
Eu condenso magia e proteção!
- As celebrações são uma das poucas coisas que me atraem no acampamento daquele filhote de lobo arrogante. Que por sinal está olhando desconfiado pra cá junto com o carrapatinho de língua bifurcada.
- Não sabia que Jake viria ao ritual – disse o menor dando de ombros. – As histórias sobre o surgimento da árvore são engraçadas. Nenhuma corresponde com a verdade.
O homem ao lado de Nimay levantou uma sobrancelha. – E qual é a história verdadeira?
- Ela é meu irmão. Somos filhos de um dragão. Mas, ele era puro e eu sou mestiço. Seu corpo estava tão estraçalhado que não viraria árvore sozinho. Então, tive que usar minha energia para canalizar sua transformação. E ficou muito bonito. – O pequeno de cabelos prateados olhava para frente com os olhos cinzas vidrados. – Eu pensei que não ia conseguir. Implorei a Tiamat que me ajudasse e Ela atendeu meu pedido.
Pela primeira vez naquela conversa, ele virou para encarar o maior. Ficou impressionado com o que viu. Um homem alto, com longos cabelos castanhos escuros e olhos verdes. Com uma armadura impecável e intimidadora.
- Ouvi sua canção no ar. Muito bonita e poderosa. Fez algumas lembranças retornarem. Lembrei de meu pai cantando a mesma canção.
- Você também é filhote de um dragão? – Perguntou o ômega animado. – É bom encontrar semelhantes. Assim não me sinto tão sozinho. Pensando em como papa e mommy devem estar preocupados comigo.
- Poucos dragões encontram ômegas. Como é o nome de seu pai? – Perguntou o mestiço desconhecido.
- Ryusei – respondeu Nimay. – O deus dragão da vila próxima àquelas montanhas. – Apontou para o sul. Somos uma família grande.
O menor não percebeu quando o semblante do outro empalideceu ao escutar o nome do Kami. O mestiço de armadura cambaleou colocando a mão na cabeça e tentando apoiar-se com a mão livre. No mesmo instante, das sombras das árvores surgiram dois soldados.
- General Naoki, o senhor está bem?
Recuperou-se rapidamente. – Estou bem – disse sentando novamente ao lado do mestiço ômega. Assistiu o resto da cerimônia em silêncio. Na hora do banquete levantou-se e com um leve comprimento ao menino, foi embora.
Nimay ainda estava com a canção na cabeça. Acenou de volta e foi ao encontro de seus alfas perto da fogueira. Cantarolando os versos sobre o Equinócio de Outono.
**
Espero que tenham gostado. E aí. Finalmente, Akise acordou. O Kai é muito fofo, né!! Quero um Kai pra mim. Hehehehe.
Quem quiser ouvir a melodia da canção do Equinócio de Outono é só ver o vídeo aqui em baixo. Composição de Alex. Irmão e companheiro de estrada.
Esse cap é dedicado à jagsjsgskshs
Até a próxima att!
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