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Sofia


O dia 30 de outubro já começara péssimo, ele teve que acordar às 6 para se preparar para uma pequena apresentação no trabalho. Os cabelos estavam espetados para todos os lados e os olhos inchados por dormir muito tarde, mas um pouco da magia de Ana, a esteticista do quarto 5, o fizera parecer como um ser humano novamente. Escrevera um pequeno bilhete para avisar Sofia de que passaria o dia fora e guardou o notebook com cuidado na mochila antes de descer a ladeira até a rua principal onde precisaria andar uns poucos minutos até o escritório que funcionava em uma prédio comercial, logo ao lado de uma cafeteria charmosa onde ele nunca pusera os pés.

- E aí cara, como é que tá? – perguntou Marcelo, seu supervisor, acompanhado por seus amigos Carlos e Renan – Nunca mais a gente te viu por aqui, pensei que tinha era arranjado outro emprego sem falar com ninguém.

- Tudo bem que a gente pode trabalhar em casa, mas bem que tu podias tirar essa bunda feia da cama e vir papear de vez em quando – riu Carlos prestando mais atenção ao celular do que à conversa.

- Achei que morando mais perto ia ser mais fácil vir ao trabalho, mas me dá é preguiça, acabo em casa o dia todo – Rodrigo suspira aceitando café.

- Mas onde que tu tá morando? – questiona Marcelo – Teus pais moravam longe pra caramba né? Três ônibus pra chegar aqui.

- Tou alugando um quarto numa casa aqui perto – respondeu sentando-se para ligar o notebook – Não sei se tu conheces, uma república que fica subindo a ladeira, casa antiga com flor no quintal.

- Tou ligado, sei qual é – assentiu Marcelo – A casa da morta, né?

Rodrigo que até então prestara apenas atenção parcial à conversa, virou-se subitamente para o amigo como se de repente tivesse crescido uma segunda cabeça em Marcelo.

- Como assim? – perguntou com um nó na garganta, nunca gostara de histórias de fantasma ainda mais quando aconteciam perto de onde ele morava.

- Morava uma família lá antes, né? – Começou Renan sentando-se ao seu lado – Isso faz tempo já, no tempo do meu pai, saca? O pai, a mãe e a filha, gente chique dos que andam em eventos sociais desses que aparecem em jornaleco de fofoca, mas acontece que o marido se divorciou da esposa depois que ela surtou e arranjou outra, teve filho e tudo, mas pouco tempo depois a menina se matou, tomou todos os comprimidos da casa de uma vez e aí você já viu.

Marcelo o mais velho suspirou.

- Eu cheguei a estudar com ela no comecinho da faculdade de jornalismo, vocês sabiam que eu sou jornalista? – riu-se com orgulho – Era uma princesa, linda que nem uma atriz de cinema, loirinha do cabelo cacheado, todo mundo da faculdade ficou chocado, ela parecia tão feliz.

- Não sei como era naquela época, mas ultimamente isso tá tão frequente, muito ruim esse lance dos pais não ligarem pra saúde mental dos filhos – Renan sussurrou.

- Ah, achei! – exclamou Marcelo virando o celular para que os outros vissem a foto de uma turma de calouros – Essa daqui ó, Sofia Castelo Branco o nome dela.

O rosto de Rodrigo tornou-se peculiarmente verde antes de ele colocar o café da manhã pra fora no vaso de plantas mais próximo.


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