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𝐢𝐢. CONHECENDO TRUMPKIN

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𝐄𝐏𝐇𝐄𝐌𝐄𝐑𝐀𝐋
[ CAPÍTULO DOIS ]

CONHECENDO TRUMPKIN

O SOL BRILHAVA SUAVEMENTE NO CÉU AZUL, conforme as crianças acordavam e esfregavam os olhos, ainda sonolentas. Sentiam falta dos cantos dos pássaros; agora, tudo o que ouviam no frio silêncio era o leve sopro do vento, que causava-lhes alguns arrepios. Ouvia-se também os roncos originados nos estômagos das crianças, que também não eram lá muito agradáveis.

─ O que vamos comer? ─ Susana questionou, sentindo-se faminta.

─ Temos muitas opções ─ Pedro respondeu, levantando as sobrancelhas. ─ Maçã com casca, maçã sem casca... Maçã tostada se acendermos uma fogueira.

Os outros riram, e Susana revirou os olhos, também com um sorriso dançando nos lábios.

─ Eu estou em fase de crescimento, maçãs não me enchem mais... ─ Sebastian se lamentou, antes de puxar algumas maçãs. ─ Vou comer umas cinco.

─ Acha que deveríamos passar a chamar as maçãs de "vermelhas", pela cor? ─ Betty brincou, lembrando-se de uma conversa que tivera com o irmão algum tempo antes.

Bash sorriu, mordendo a maçã, e balançou a cabeça negativamente, lembrando-se de sua resposta para uma pergunta similar àquela.

Existem também maçãs verdes, não faria sentido!

Betty concordou, antes de encarar a fruta em sua mão, em seguida encarando Pedro e Edmundo, que comiam despreocupadamente. Por fim, cansou de esperar que a perguntassem se queria alguma coisa, e foi direto ao ponto:

─ Ficariam ofendidos caso eu os pedisse para descascar essa maçã com suas espadas? ─ indagou, e todos a olharam incrédulos. ─ O que foi?! Estou enjoada da casca!

Edmundo riu, balançando a cabeça negativamente, antes de vasculhar em sua bolsa mais uma vez procurando por alguma coisa.

─ Talvez prefira usar um canivete ─ sugeriu, estendendo o objeto em sua direção. ─ Mas talvez a espada seja mais prática, não?

Betty mostrou-lhe a língua, antes de aceitar o canivete e descascar sua maçã com cuidado, em seguida fazendo o mesmo para Lúcia, que também já não aguentava cascas. Enquanto comiam, as crianças se mantiveram em silêncio, passando sempre os olhos curiosos por cada ponto do local onde se encontravam e guardando para si mesmos a tristeza que sentiam ao ver Nárnia tão sem vida.

─ O que fazemos agora? ─ Edmundo perguntou para os outros, e todos se entreolharam. ─ Vamos embora, ou o quê?

─ Não parece que temos muito o que fazer por aqui dessa vez.

─ Mas viemos parar aqui por um motivo, certo? ─ Lúcia argumentou, brincando com as mangas do vestido. ─ Deveríamos procurar por alguma coisa, ou por alguém...

─ Eu voto para irmos embora ─ a voz alta de Sebastian se fez ouvida, e todos o olharam com o cenho franzido. ─ Betty, por que não está preocupada? À essa hora, mamãe já deve estar maluca nos procurando!

─ Não, seu bobo... À essa hora, nem mesmo as pessoas do teatro notaram nossa ausência. Como eu lhe disse, o tempo aqui corre diferente!

Após mais alguma discussão, todos concordaram em passar mais um tempo por ali, procurando qualquer pista que pudesse os ajudar a entender o motivo de terem sido chamados mais uma vez.

Secretamente, desejavam ficar por ali. Restaurar a era de ouro, ver Nárnia dançar e respirar mais uma vez. Queriam, mais uma vez, sentir-se como narnianos.

Enquanto caminhavam pela praia, sentindo o mar tocar levemente seus pés, pararam de repente ao ouvir vozes distantes. Não entendiam o que diziam, mas com certeza eram vozes!

─ Quem será?

─ Não deve ser coisa boa...

─ É melhor irmos checar!

E então, correram e subiram em uma das grandes pedras da praia, vendo que lá do outro lado haviam homens com armaduras em uma canoa, remando apressadamente.

─ Devemos os chamar? Talvez nos emprestem a canoa para que possamos pescar e...

─ Acho que não seriam tão prestativos, Betty. ─ Susana falou ao puxar uma das flechas de sua aljava. ─ Veja, estão jogando algo na água!

E, sem demora, atirou sua flecha no barco, atingindo a madeira. Assustados, os dois homens de armadura pularam na água e nadaram para longe com dificuldade, antes que se pudesse dizer faca. Mas era tarde; já haviam largado o embrulho na água, que afundava cada vez mais.

Susana, que era a melhor nadadora, largou o arco e flecha e pulou no mar, nadando habilidosamente até o fundo e trazendo consigo o duende envolto por panos brancos quando nadou de volta para a superfície.

─ Não me lembrava de que Su nadava tão bem! ─ Betty comentou, enquanto Pedro ia ajudar a irmã a trazer a mais nova companhia das crianças para a areia e Edmundo se encarregava de ir buscar a canoa, que poderia ser útil.

─ Ela se juntou ao clube de natação da escola ─ Lúcia explicou. ─ Já ganhou até algumas medalhas!

As duas correram juntas até Pedro e Susana quando os mesmos atingiram a orla da praia. Lúcia não se demorou, tirando a adaga da bainha e cortando as cordas que prendiam o anão, juntamente a sua mordaça. O anão tossiu algumas vezes, e Betty se abaixou para dar-lhe alguns tapas nas costas.

─ Ei, tire as mãos de mim! ─ mandou, a olhando com o cenho franzido, e se virou para Susana. ─ E você, como errou aquela flecha?!

─ Não atirei para matar ─ Susana respondeu.

─ Poderia só agradecer ─ Betty disse, cruzando os braços em frente ao corpo. ─ Não é difícil, sabia?

Nessa hora, o anão tossiu novamente. Agora, Betty não moveu um dedo, esperando-o finalizar.

─ Melhorou? ─ Sebastian perguntou, com um tom de ironia presente na voz.

O anão o olhou feio.

─ Porquê estavam te afogando? ─ Lúcia perguntou.

Ao ouvir a voz doce da menina, ele finalmente pareceu se acalmar, dando um longo suspiro antes de responder.

─ São telmarinos, é o que eles fazem

─ O que são telmarinos? ─ Betty indagou, expressando a confusão de todos. ─ Parece tangerina...

─ Onde é que estiveram nos últimos cem anos? ─ o anão questionou, e todos se entreolharam, exceto por Sebastian, que permaneceu alheio.

Enquanto Lúcia dizia que era uma longa história, Betty se distanciava um pouco para buscar o arco e flecha de Susana e a espada de Pedro, visando os devolver para seus donos.

Quando devolveu o presente do papai Noel para o grande rei, os olhos do anão, que descobriram se chamar Trumpkin, se arregalaram, como se acabasse de ter uma epifania.

A pequena Lúcia, com a adaga e o suco da flor de fogo presos em seu cinto. Susana com sua aljava nas costas e o arco nas mãos. Elizabeth tinha a lança segurada firmemente pela mão direita, e, em seguida, vinham Pedro e Edmundo, ambos com suas espadas.

Estava diante dos reis do passado! Mas eram tão jovens...

─ São vocês mesmo?!

─ Sou o grande rei Pedro, o Magnífico ─ Pedro estendeu uma mão para Trumpkin, enquanto o olhar de todos queimava sobre suas costas.

─ Poderia ter omitido a última parte ─ Susana disse, e todos concordaram.

─ Só "rei Pedro" seria mais do que suficiente ─ Betty continuou, prendendo a risada. ─ Não é como se tivessem existido outros reis Pedros por aqui...

Todos riram, menos Pedro, é claro.

─ As meninas estão certas ─ Trumpkin concordou, em meio a risadas, e Pedro levantou sua espada. Betty arregalou os olhos, e usou sua lança para abaixá-la, advertindo o rapaz com o olhar.

─ Eu não faria isso, ele parece meio... perigoso ─ aconselhou, sem mover a lança. Pedro discretamente apontou com a cabeça para Edmundo, e Betty finalmente entendeu o que estava prestes a fazer. ─ Certo. Ele consegue.

Pedro desviou a espada da lança de Betty, entregando-a para o anão. Edmundo sorriu, orgulhoso por terem se lembrado de um de seus maiores talentos, e ergueu a própria espada.

─ Sei que não parecemos tão majestosos ─ Pedro admitiu, com um pequeno sorriso desafiador. ─ Mas pode se surpreender...

O anão e o rei mais jovem se posicionaram, e surpreendendo Edmundo, Trumpkin o atacou primeiro, de forma ágil e habilidosa. Mas Edmundo não recebera o título de melhor espadachim de Nárnia sem motivo, isso não! Ele o atacou de volta, e por alguns segundos, os dois duelaram sob os olhos cheios de expectativa das outras crianças, que soltavam risadas e, por vezes, aplaudiam alguns bons movimentos.

O barulho provocado pelos metais se tocando se misturava aos gritos de empolgação, e se deram por finalizados quando a espada de Pedro, utilizada por Trumpkin, foi mandada para longe, sinalizando a vitória de Edmundo.

─ Por trinta diabos! Não é que a trompa funciona mesmo?! ─ Trumpkin disse, finalmente se dando por convencido de que eram aqueles os reis.

─ Que trompa? ─ indagou Susana, e Betty a olhou.

Não deve ser como tromba de elefante... ─ falou, levantando as sobrancelhas. ─ Não era para isso que servia sua trompa, Susana? Para chamar por ajuda? Acho que a ajuda somos nós... E Sebastian, pobrezinho, que veio por acidente. Vai ficar o tempo inteiro dizendo que sente falta da mamãe...

O menino olhou feio para a irmã, que deu de ombros, convencida do que dizia. Mas a atenção logo foi desviada das picuinhas dos Birdwhistle, e logo, seis pares de grandes olhos brilhantes encaravam Trumpkin atentamente, curiosos.

─ Quem está com a trompa de Susana, Trumpkin? ─ Edmundo perguntou. ─ O que está acontecendo com Nárnia?

Parecendo um pouco relutante, o anão suspirou.

─ Como me salvaram a vida, é justo que lhes conte toda a história...

─ Adoramos histórias! ─ Lúcia exclamou, sentando-se no chão.

E então, Trumpkin se dispôs a narrar toda a história sobre o que acontecera com Nárnia; como era de se esperar, tudo o que as crianças conheciam havia sido destruído centenas de anos antes. Desde esses tempos, oprimidos por telmarinos, os verdadeiros narnianos passaram a viver escondidos nas florestas.

Voltando ao cenário atual, o anão explicou que Miraz, o príncipe-regente, tentara matar seu sobrinho ─ Caspian X, o legítimo herdeiro do trono ─ após o nascimento de seu filho. Durante a fuga de príncipe Caspian do castelo de Telmar, a trompa fora tocada, fazendo assim com que os reis do passado fossem levados para lá.

Em uma tentativa de ajudar o príncipe, Trumpkin acabou sendo capturado pelos guardas de Miraz, e utilizado como bode expiatório; ele, que jamais tivera qualquer envolvimento com a realeza, era agora acusado de ter sequestrado o príncipe, para que o rei usurpador pudesse se manter inocente aos olhos dos lordes.

─ Que bagunça esse lugar se tornou! ─ Betty exclamou ao fim da história, e os outros concordaram. ─ E quanto a Aslam? Não falou dele durante toda a história...

─ Aslam? Está me dizendo que ele é real?

─ É claro que Aslam é real! ─ Pedro respondeu, com os olhos arregalados. Estava, no mínimo, ofendido.

─ Ninguém que está vivo o viu, se querem saber. Assim, se torna difícil acreditar.

─ Nós o vimos, é um lindo leão, e muito sábio e corajoso ─ Lúcia contou. ─ Nós existimos, e ele também!

Permaneceram todos em silêncio por um tempo, cada um com seus misteriosos pensamentos.

Será que existimos, de fato? ─ Sebastian questionou, olhando para o horizonte enquanto passava uma das mãos por sua inexistente barba.

Todos o olharam de forma estranha, mas o menino não pareceu perceber ou se importar, concentrado em seu questionamento.

─ Betty, diga ao seu irmão que não é hora de bancar o filósofo... ─ Edmundo pediu, franzindo o cenho em direção ao mais novo.

─ Diga você ao seu cunhado ─ Pedro provocou.

Imediatamente, Sebastian saiu do personagem de filósofo, quase se desequilibrando e caindo da pedra em que se sentava. Arregalou os olhos em direção à irmã, e em seguida a Edmundo.

─ Como é que é?!

Susana e Lúcia riram, enquanto Betty revirava os olhos e Edmundo sentia as bochechas queimarem, podendo ser confundido a um tomate, de tão vermelho que estava.

Após limpar a garganta, ignorando o olhar do irmão, Betty se voltou para Trumpkin, esperando poder fazer todos se esquecerem daquele momento:

─ Leve-nos até esse tal de Caspian ─ pediu. ─ E vamos encontrar Aslam.

Sumi por um tempo, mas voltei! Acho que depois de escrever Ineffable tão rápido, perdi toda a criatividade pra Ephemeral :p mas agora pretendo atualizar a fanfic com mais frequência, já que minhas aulas estão no fim.

Espero que tenham gostado do capítulo ♡

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