o. PRÓLOGO
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𝐄𝐏𝐇𝐄𝐌𝐄𝐑𝐀𝐋
[ PRÓLOGO ]
‖ PRÓLOGO
Westminster, 1943
"Querido diário,
A cada dia que se passa, sinto mais saudades de Nárnia e de minha vida lá. Eram tempos bons, sabe? Era um lugar lindo e mágico. Inefável. E eu era uma rainha, guardava os bosques... as criaturas me respeitavam e gostavam de mim.
Agora sou apenas uma pré-adolescente asmática que vive no mundo da lua, imaginando como tudo era melhor em Nárnia. As pessoas daqui são muito... bom, gosto delas! Mas alguns me olham esquisito, como se eu fosse uma lunática. Papai está de volta, pelo menos! Sinto-me muito melhor sabendo que está seguro.
Mas ainda não me sinto em casa. Eu voltaria para Nárnia sem garantia de voltar para meu mundo sem pensar duas vezes caso pudesse levar minha família! Eles iriam adorar tudo lá, assim como eu, e poderíamos viver muitas aventuras..."
A menina escrevia calmamente em seu diário, enquanto aguardava o último ensaio antes da peça que seu colégio apresentaria no final de semana se iniciar. Alheia aos gritos de seus colegas, que discutiam sobre questões da iluminação do palco como se suas vidas dependessem daquilo, ela ajeitou a coroa dourada de plástico no topo da cabeça, rindo para si mesma e voltando sua atenção ao diário.
Na peça, Betty interpretaria uma princesa, e aquilo era o mais próximo que chegava de Nárnia em anos! Era engraçado ler suas falas, avaliar o roteiro e perceber que a vida na realeza não era nadinha parecida com o que seus colegas imaginavam. Mas o que poderia fazer? Não acreditariam se Betty contasse que já fôra uma rainha!
─ Betty! ─ ela ouviu a voz de seu irmão a chamar, e ignorou.
Sebastian resolveu insistir, e dessa vez, acertou a cabeça da irmã com uma bolinha de papel amassado, gargalhando após acertar seu alvo.
"Levaria toda a família, exceto por Sebastian, meu irmão bobo e irritante!"
Ao terminar de escrever aquela sentença, a menina fechou o diário e o prensou contra o próprio corpo como se fosse um bem precioso, se virando para encarar o irmão vestido de bobo da corte.
─ Essa roupa combina com você! ─ elogiou, sarcasticamente.
O menino fez uma careta, impaciente.
─ O que é que tanto escreve aí, hein?! Me deixe ler? ─ pediu cheio de esperanças.
─ Não. Se fôsse para os outros saberem o que tem em meu diário, eu escreveria no jornal da escola! ─ Betty exclamou, com obviedade.
Após sua visita à Nárnia, Elizabeth começou a ter muitas dificuldades em se adaptar a própria vida novamente. Em um momento, era uma rainha, querida por todas as criaturas, vivendo em um lindo reino. Em outro, era mais uma vez uma jovenzinha asmática, vivendo em uma cidade poluída enquanto uma guerra tomava conta da Europa.
Todos os dias, acordava pensando em suas aventuras e em todos que havia conhecido por lá, se perguntando se o dia de seu retorno estava próximo. Como sentia saudades de Aslam! E do senhor Tumnus, dos castores, de Baguete...
Era frustrante viver esperando algo que não sabia se iria realmente acontecer. Então, para tentar ocupar sua mente, Betty havia se tornado membro dos mais diversificados clubes da escola: o de teatro, de xadrez, de debate, e até de cerâmica! E, mesmo com tanta coisa para se ocupar, a garota não conseguia tirar o lugar inefável de seus pensamentos.
Sabia que seus grandes amigos ─ os irmãos Pevensie ─ não estavam muito melhores do que ela, em especial o grande rei Pedro, que de acordo com a última carta que recebera de Susana, andava se metendo em muitas brigas, das quais Edmundo sempre tomava parte em defesa do irmão.
As cinco crianças viviam trocando correspondências, e se encontravam sempre que tinham a oportunidade; de fato, Betty já havia enviado convites para que toda a família pudesse ir assistir a sua peça, que aconteceria em dois dias! Tornaram-se grandes amigos em Nárnia, e aquela era uma das poucas coisas que a volta ao nosso mundo não conseguira mudar para aquelas crianças.
─ Mas eu sou seu irmão! Não contaria seus segredos para ninguém! ─ Sebastian argumentou, e Betty sorriu, com uma sobrancelha levantada.
─ Claro que não contaria! Porque, para contar, tem que saber o que está escrito ─ ela iniciou, divertidamente. ─ E, para isso, precisa do diário.
Sebastian cerrou os olhos, e em questão de segundos, havia tomado o diário da irmã.
─ Quer dizer esse aqui?
Com o figurino que usava, Betty não conseguiria se levantar antes de Sebastian sair correndo. Então, agarrou um de seus pés, fazendo-o cair no chão.
─ Esse mesmo! ─ exclamou, antes de agarrar uma das extremidades do pequeno caderno amarelo, o puxando fortemente. ─ Tire essas mãos imundas do meu diário!
Quando finalmente conseguiu tê-lo nas mãos, não demorou a pendurar-se no irmão, usando o caderno para lhe bater na cabeça.
─ Ai, sua selvagem! ─ ele gritou, defendendo o rosto da irmã furiosa. ─ Vou contar pra mamãe que tentou me assassinar!
─ E eu vou contar pro papai que foi você quem sumiu com uma de suas medalhas de guerra!
O menino arregalou os olhos. Como foi que ela descobriu?!, ele pensava, em desespero.
─ Não conte, Lizzie, você sabe que eu nunca te deduraria para a mamãe!
─ Foi você quem começou com as ameaças, seu fingido! ─ ela franziu o cenho, dando-lhe mais uma "diarada".
Enquanto os dois se atacavam, não perceberam o cheiro de magia no ar, e nem sentiram a estranha ventania, forte demais para um lugar fechado como o que estavam, os atingindo.
Se Betty não estivesse tão distraída, teria certeza que sentia o cheiro de Nárnia.
Só notaram que algo estranho havia acontecido quando Elizabeth caiu, soltando um grito agudo.
─ Areia! O que aconteceu?! ─ indagou mais para si mesma do que para o irmão, que estava ainda mais confuso.
Ele estragou os olhos, tentando ter certeza do que estava vendo. Havia enlouquecido? Quando chegaram a praia?
─ Nárnia! ─ a menina murmurou, maravilhada, se levantando e dando uma olhada ao redor.
O sol brilhava fortemente no céu azul, e o barulho das ondas batendo nas pedras era como música para seus ouvidos. E as risadas eram...
Espere aí, risadas?
Betty girou tão rápido que ficou tonta buscando pela origem daquele som. Encontrou quatro pontinhos a alguns bons metros de distância, se divertindo no mar, e um enorme sorriso iluminou seu rosto.
─ Betty, o que está acontecendo?! ─ Sebastian perguntou, agarrando o braço da irmã mais velha e observando confuso o local em que estavam.
─ Estamos em Nárnia! ─ respondeu, e ele franziu o cenho.
─ Nárnia? Aquele lugar que você, Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia contam histórias sobre? ─ ele questionou, incrédulo. ─ Não pode ser, são só histórias!
Naquele momento, gotas salgadas atingiram os dois.
─ Parece bem real para mim! ─ se viraram para ver Lúcia com um sorriso, enquanto os observava com as mãos na cintura.
─ Lú! ─ Betty se desvencilhou de Sebastian, chutando seus próprios sapatos na areia e indo de encontro a pequena menina, sem se importar de molhar o vestido do teatro.
Nada mais importava, estava em Nárnia, finalmente!
As duas se abraçaram, enquanto os outros irmãos corriam até onde estavam, sendo atrasados pela água.
─ Betty! ─ Pedro exclamou, sendo o próximo à dar-lhe um abraço, antes de bagunçar seus cabelos e se afastar, para cumprimentar Sebastian.
─ E veio usando uma coroa! ─ Susana notou, quando chegou sua vez de cumprimentar a amiga. ─ Gosta mesmo do estilo narniano.
─ É o meu figurino para a peça, em dois dias!
─ Isso explica porque seu irmão está usando esse chapéu estranho e essas calças de palhaço ─ o último irmão observou, ainda se aproximando do grupo. ─ Pedro, por quê não compra um?
Pedro soltou um resmungo, e Elizabeth se virou, encontrando Edmundo e abrindo um sorriso.
─ Olá, Ed ─ cumprimentou, ao que o menino sorriu, sem graça. Era assim sempre que se encontravam; de início, não sabiam como agir, mas depois voltavam ao normal.
─ Olá, Betty ─ ele respondeu.
Soltando uma risada para si mesma, a menina balançou a cabeça negativamente, se aproximando do menino e o apertando em um abraço.
Porquê sempre tinham que agir estranho? Também eram amigos, acima de tudo!
Não demoraram a se soltar, e encontraram Lúcia com um sorriso brincalhão no rosto, os encarando.
─ Que fofos!
Edmundo fez uma careta para a irmã, e Betty cerrou os olhos em direção à menina, zombeteira.
─ Você é uma boba, sabia?! ─ perguntou à Lúcia, que deu de ombros, e então se voltou para o resto do grupo. ─ Nós voltamos! Não é maravilhoso?
Todos concordaram, eufóricos, e Edmundo olhou confuso para o topo de uma montanha ali.
─ É incrível, sem dúvidas, mas há algo estranho... Não haviam ruínas em Nárnia.
─ Nárnia? Vocês estão me dizendo que realmente estamos em Nárnia?! ─ Sebastian questionou, ainda desacreditado. ─ Como é que viemos parar aqui, afinal?
─ Você ainda não entendeu, bobinho? Tudo por aqui é mágico!
─ Mas é uma boa questão como você veio parar aqui, afinal, não estava da última vez ─ Susana franziu o cenho, tentando pensar em uma resposta que fizesse sentido.
Betty riu pelo nariz, entrelaçando o braço ao de seu irmão.
─ Vamos dizer que estávamos embaraçados demais para que eu pudesse ser trazida sozinha ─ explicou, olhando para Sebastian.
─ Com isso, ela quer dizer que estava em cima de mim tentando me matar!
A loira revirou os olhos, e Edmundo deu um tapa nas costas de Pedro.
─ Viu, Pedro? Pelo menos, você não é o único brigão entre nós!
Foi aí que Betty reparou que o mais velho tinha um olho levemente arroxeado, mas preferiu ignorar. Era inegável que todos estavam tendo tempos difíceis, mas ao menos agora estavam de volta ao lugar tão querido por todos.
─ Até parece que você não estava no meio dos socos, Edmundo ─ Lúcia acusou.
─ Não vem ao caso, vem? Estava tentando ajudar.
─ E eu já disse que dava conta.
Vendo mais uma discussão prestes a se iniciar, Susana interviu, limpando a garganta e apontando para as ruínas.
─ Porque não vamos até lá, descobrir o que aconteceu, antes que alguém se machuque de novo?
Betty deu uma cotovelada em Sebastian, o olhando sugestivamente.
─ Ela está falando de você, caso pegue meu diário de novo.
Betty Birdwhistle voltou, mais rápido do que o esperado!
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