𝐯𝐢𝐢𝐢. A VOLTA DE ASLAM
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𝐄𝐏𝐇𝐄𝐌𝐄𝐑𝐀𝐋
[ CAPÍTULO OITO ]
‖ A VOLTA DE ASLAM
FLECHAS E PEDRAS VOAVAM PELOS CÉUS, arremessadas por arqueiros e catapultas. Gritos eram ouvidos por todos os lados, enquanto uma nova batalha por Nárnia era iniciada, e Betty Birdwhistle sentia a adrenalina correndo por suas veias enquanto assistia a aproximação dos Telmarinos, que agora necessitavam de uma atenção extra para ultrapassar o grande buraco que havia sido aberto no chão. Apertando a lança prateada na mão direita, a menina respirou fundo, reunindo toda a coragem que tinha para enfrentar os inimigos.
Da primeira vez que lutou por Nárnia, Betty se lembrava que as tropas eram majoritariamente compostas por animais comandados por uma feiticeira. Dessa vez, eram homens tão humanos quanto ela, embora mais parecessem animais selvagens, e aquilo a incomodava; estava acostumada com homens maus em seu mundo, não gostava de precisar lidar com eles ali, no mais fantástico lugar que já havia conhecido, também! Mas não era tempo para reclamar, afinal, a batalha acontecia ao seu redor e ela não fugiria da luta.
Ela via Pedro correndo em direção aos telmarinos, a espada erguida e pronto para o ataque. Caspian, em um cavalo, liderava centauros e faunos em direção às tropas inimigas. Edmundo, com uma besta, lançava flechas em direção à todos aqueles que se aproximavam, derrubando-os sem erro. Ripchip, como era de se esperar, surpreendia a todos seus rivais antes de os derrotar lindamente, com uma pequenina espada que Betty considerava adorável. Felizmente, ela não via Sebastian ali por perto, e aquilo a tranquilizava imensamente, pois sabia que o irmão estava longe do perigo.
Mas ela não estava, e aquilo se tornou mais do que claro quando sentiu o corpo ser erguido do chão por um grifo, apenas para ver um dos soldados telmarinos caindo ao chão, desequilibrado pelo peso da espada que planejava utilizar para tirar-lhe a vida.
━ Atenção, vossa majestade! ━ disse o grifo, enquanto voavam, e Betty riu, mais de nervoso do que qualquer outra coisa.
━ Obrigada por me salvar, Zephyr! ━ agradeceu, com a voz alta, ao sentir o grifo voando mais baixo, pronto para a colocar de volta no chão. Ela impulsionou o corpo para a frente, e aterrissou de forma desajeitada no solo, utilizando a lança para lhe dar apoio.
Agora, não se deixaria distrair novamente. Empunhando Pignus com as duas mãos, a jovem rainha travou batalha contra dois soldados, jogando para longe suas espadas e atingindo-os com as pontas afiadas da nova lança. Edmundo certamente sabia o que estava fazendo ao pedir que uma nova lança fosse forjada para Birdwhistle; apesar de ser a primeira vez que utilizava Pignus, a guardiã dos bosques sentia uma imensa facilidade para a manusear.
Betty certamente não era uma fã de batalhas, mas pelos narnianos, lutaria até o último de seus dias.
Com os olhos vorazes e atentos, a rainha genuína desviava de ataques e se defendia brilhantemente. Girando Pignus nas mãos, atingiu um telmarino na cabeça e o fez cair para trás, para logo então fincar a ponta da lança no pé de mais um adversário. Era um dos truques de Betty: atingir partes do corpo que certamente não seriam letais, pois essas costumavam estar desprotegidas e eram mais do que o suficiente para incapacitar alguém para a luta. Era eficiente, além de, é claro, ser bem mais rápido.
━ Betty! ━ ela ouviu alguém lhe chamando, e se virou rapidamente para encontrar Pedro batalhando contra quatro homens. Sem pensar duas vezes, arremessou sua lança em um deles, derrubando-o rapidamente. Sem demoras, o rei magnífico conseguiu recuperar sua vantagem na luta, tão valente como sempre havia sido.
Abaixando-se para desviar de flechas, Betty correu até onde o mesmo estava, puxando sua lança novamente e fazendo uma careta com a ação. Virando-se para Pedro, ela tirou alguns fios de cabelo do rosto suado.
━ Você parece melhor lutando contra quatro homens de uma vez do que quando estava lutando contra Miraz ━ observou ela, curiosa. ━ Tipo, bem melhor!
━ Bom, não tinham vidas sendo ameaçadas quando a luta era entre eu e Miraz ━ ele respondeu, golpeando um telmarino com a espada que lhe fora dada pelo Papai Noel e abaixando-se para desviar de um ataque, e Betty o olhou quase indignada, enquanto murmurava algo como "tinha a sua vida, seu tonto!". Após derrubar o adversário, Pedro parou por um curto momento para recobrar a respiração.
Ele se assustou quando Pignus foi, repentinamente, arremessada a alguns centímetros de distância de seu rosto, virando-se para trás para ver que Betty havia o salvado de mais um telmarino. Quando voltou a atenção para a loira, a viu erguendo uma sobrancelha.
━ Não venha me dizer que estava ganhando.
Ele bufou, balançando a cabeça negativamente e erguendo a espada novamente.
━ Você e Edmundo são mesmo iguaizinhos...
Não houve tempo para respostas; os olhos da guardiã dos bosques logo se prenderam ao Lorde Glozelle, que organizava mais tropas de telmarinos para marchar em direção ao narniano, recuperando a absurda vantagem que já tinham sobre as criaturas. Engolindo em seco, ela se virou para os narnianos, erguendo a lança e apontando-a em direção às novas tropas.
Imediatamente, grifos começaram a voar em formação, trazendo anões arqueiros em suas garras. Estes, por sua vez, atiravam flechas nos telmarinos, tentando ao máximo os desestabilizar. Mas era uma tarefa difícil; ao mesmo tempo em que os homens de Telmar caíam, os narnianos também eram derrubados e a batalha parecia cada vez mais uma causa perdida.
━ ONDE ESTÁ A LÚCIA? ━ a voz alta de Edmundo se fez ouvir, e Pedro e Elizabeth voltaram a atenção para o garoto que montava um cavalo. ━ E BASH?
━ PROCURE NA SUA BOLSA ━ mandou Betty, com os nervos à flor da pele ao se lembrar do irmão. ━ NÓS NÃO SABEMOS, ORA ESSA!
De repente, todos os três se abaixaram ao sentir um tremor sob seus pés; os telmarinos continuavam a arremessar grandes pedras com suas catapultas. Foi quando Pedro tomou uma decisão que não fez muito sentido nem para Betty e nem para Edmundo, mas eles obedeceram do mesmo jeito:
━ VÃO PARA O MONTE ASLAM!
Após trocarem um rápido olhar confuso, Edmundo estendeu um dos braços em direção à Betty, que aceitou sua mão para pegar impulso e montar em seu cavalo, atrás de si. Com o braço esquerdo seguramente envolto ao redor da cintura do rapaz, ela continuou a empunhar Pignus na direita, enquanto os dois cavalgavam em direção ao Monte, de acordo com as ordens de Pedro.
━ Se Sebastian visse isso, eu estaria morto! ━ exclamou Edmundo, durante o percurso, e a menina revirou os olhos.
━ Edmundo, nós não vamos nos casar!
━ É o que vamos ver…
━ O que você disse?
━ Ripchip! Olhe para o lado e você vai o ver!
Bom, Betty olhou para o lado, mas não encontrou Ripchip. "Esse garoto está estranho", ela murmurou, antes de soltar um grito agudo ao ver a entrada do Monte Aslam desabando, fazendo o cavalo de Edmundo parar bruscamente e relinchar. Os telmarinos agora os cercavam, aproximando-se cada vez mais, e os narnianos já sofriam com as baixas.
Não havia para onde fugir. Não havia nada a ser feito, além de lutar. E foi o que fizeram; em um pulo, os dois desceram do cavalo, posicionando-se próximos a Pedro, Caspian e Susana. Edmundo desembainhou sua espada, o duro som de metal se fazendo ouvir, e se virou para Pedro. Por um breve segundo, os irmãos conversaram com os olhos, algo que Betty sempre havia admirado na relação dos dois, e o mais velho assentiu com a cabeça.
Logo, todos começaram a correr para a frente, em direção à batalha. Não sabiam se sairiam vitoriosos, mas certamente não sairiam como desistentes.
E assim, seguiram lutando: Edmundo com suas duas espadas golpeava sem dó seus adversários, sempre provando que não era conhecido como o melhor espadachim de Nárnia atoa. Pedro trazia seu espírito de liderança e seu coração de leão para a batalha, atacando e desviando de golpes com maestria e rapidez. Susana, que era a mais adversa à guerras entre todos eles, não hesitava em atirar suas flechas com sua incrível pontaria. Caspian já havia se perdido em meio aos telmarinos mais uma vez, derrubando-os como um verdadeiro rei deveria fazer com aqueles que ameaçassem seus súditos. Betty, como sempre, manuseava sua lança como se tivesse nascido com uma nas mãos, de forma graciosa e feroz, defendendo Nárnia como já fizera tantas vezes.
Havia algo sobre Nárnia que, de alguma forma, a impedia de ter seus temidos ataques de asma; ela os tinha a todo o tempo na Inglaterra, mas ali, por alguma razão, estava bem e saudável, mesmo que não fizesse o menor sentido em meio à todas as batalhas.
ﷻ
Enquanto a guerra continuava a acontecer no Monte Aslam, Sebastian e Lúcia perdiam-se cada vez mais à dentro dos bosques escuros, na busca por Aquele que sempre os ajudaria e sabia de todas as coisas. Aslam não era visto há algum bom tempo, exceto por aqueles dois, e embora Lúcia estivesse mais do que certa de que o encontrariam, Bash começava a ser tomado pela incerteza.
━ Lúcia… ━ ele murmurou, amedrontado, ao ver que seus alazões eram seguidos por dois cavaleiros telmarinos. ━ Lúcia, eles vão nos matar!
Um pouco à sua frente, Lúcia o olhou confusa.
━ O quê?
Foi quando os olhos de Sebastian se arregalaram imensamente e ele puxou as rédeas de seu cavalo, obrigando-o a parar. Lúcia, porém, não foi tão rápida, e caiu ao chão quando seu alazão se assustou repentinamente. À frente das crianças, um enorme e solene Leão rugia alto, fazendo as árvores tremerem e as folhas voarem.
E então, Ele saltou, derrubando de uma vez os dois cavaleiros telmarinos e libertando seus cavalos, que relincharam enquanto corriam mata a dentro. Sebastian, sempre perplexo, desceu da sela para ver se Lúcia estava bem após a queda, e a garota se levantou sorrindo. Em seus olhos, lágrimas de felicidade se acumulavam enquanto seu sorriso se alargava e ela corria em direção ao Leão, o que, em qualquer outra ocasião, Bash consideraria suicídio, mas naquele momento parecia ser o certo a se fazer.
━ Aslam! ━ ela exclamou feliz, ao se jogar no Leão com os braços abertos para o abraçar. ━ Eu sabia que era Você! Desde o início, eu sabia, mas a maior parte dos outros não quiseram acreditar em mim…
━ Ei! ━ exclamou Sebastian, ofendido, enquanto se aproximava timidamente. ━ Eu acreditei! Eu o vi, para falar a verdade!
━ Bom, eu estava com medo de vir atrás de Aslam sozinha, e você não é bem de grande ajuda… ━ Lúcia se defendeu, aumentando ainda mais a indignação de Bash, e se voltou para Aslam: ━ Por que não se mostrou? Por que não chegou rugindo e nos salvou como da última vez?
O Leão a observou com cuidado.
━ Nada acontece duas vezes da mesma maneira.
A menina encarou o chão, pensativa.
━ E se tivéssemos vindo antes, as coisas teriam sido diferentes?
━ Nunca saberemos, Lúcia. Mas o que vai acontecer agora vai ser bem diferente.
Os olhos de Sebastian se iluminaram.
━ Então Vossa Majestade Felina vai nos ajudar?!
━ Vossa Majestade Felina? ━ indagou Lúcia.
━ Pareceu adequado! ━ ele sussurrou de volta, e o Leão riu.
Era um som meio assustador, mas de alguma forma, muito agradável.
━ Mas é claro que eu irei os ajudar ━ respondeu Aslam. ━ E vocês também.
Lúcia sorriu pequeno, olhando para os próprios pés, enquanto Sebastian finalmente se sentava ao seu lado, próximo ao Leão, ainda com os olhos arregalados e a boca entreaberta.
━ Eu gostaria de ter mais coragem…
━ Se tivesse mais coragem, seria uma leoa! ━ garantiu Aslam, e se levantou, dando uma olhada em direção às árvores. ━ Elas já dormiram o bastante, não acham?!
E rugiu. E, assim como as árvores, o coração de Sebastian dançou em seu peito. Ele entendia agora o motivo da irmã gostar tanto daquele lugar: ele era repleto de coisas maravilhosas. E Aslam pareceu ler seus pensamentos; enquanto o rapazinho observava as árvores ganhando vida, o Leão se aproximou vagaroso.
━ Eu sei o que está pensando, rapaz ━ disse Ele. ━ É inefável.
ﷻ
Betty costumava ser uma pessoa otimista e alegre, mas nunca teve tanta certeza de que iria morrer quanto naquele momento. Ela lutava, é claro, mas as chances de vitória tornavam-se cada vez mais distantes e irreais. Os narnianos tinham uma única esperança, e embora acreditasse fielmente que ele viria os salvar, eventualmente, a menina não conseguia controlar o medo ao ver todos aqueles corpos caídos ao seu redor.
━ Não se ataca alguém pelas costas! ━ ela gritou, ao desviar do ataque de um soldado telmarino, antes de derrubá-lo com dois golpes rápidos, afundando uma das pontas de Pignus em seu pé esquerdo.
Enquanto o fazia, mais dois homens se aproximavam por suas costas, e se estivesse os vendo, Betty os perguntaria se haviam limpado os ouvidos bem antes da batalha, pois aparentemente não escutaram sua lição de moral. Não foi necessário que a guardiã dos bosques o fizesse, no entanto; antes que tivesse a chance de se virar, ambos os homens já haviam sido derrotados por um Edmundo ambidestro, que olhava para a garota com preocupação. Era sua futura esposa, ainda que ela não soubesse, e ele não conseguia não se preocupar com ela.
Mais do que aquilo, era Betty. Sua amiga de anos, sua noiva, sua companheira de sequestro e tantas outras coisas. Betty. Ele não deixaria nada acontecer a Betty, porque ela era a Betty.
Pela juba de Aslam, ele amava Betty?
Ele deveria dizer aquilo a Sebastian?
━ Cuidado, Birdwhistle! ━ ele pediu, exasperado, enquanto a menina arqueava uma das sobrancelhas.
━ Bom, eu só tenho olhos desse lado! ━ ela respondeu o óbvio. ━ E estou tendo cuidado, Edmundo!
Ele suspirou, apertando a mão contra uma das espadas, e se aproximou mais da menina, com os olhos atentos.
━ Só fique perto de mim, certo?
Ela não respondeu, apenas ergueu a lança a tempo de impedir uma investida contra o pescoço do rei justo, empurrando para longe a espada adversária e fincando a ponta de Pignus contra o soldado telmarino, puxando-a de volta e vendo o homem caindo ao chão. Finalmente, voltando a atenção a Edmundo, Betty deu de ombros.
━ Certo, Ed. Se você quer que eu o defenda, é só dizer. Não precisa ser tímido.
É, talvez ele amasse Betty.
De costas um para o outro, o rei justo e a rainha genuína batalharam contra telmarinos e se defenderam mutuamente, sem deixar o cansaço que os consumia levar a melhor sobre seus corpos franzinos de pré-adolescentes ingleses.
De repente, algo inesperado aconteceu, e Betty deu uma cotovelada desnecessariamente forte em Edmundo, sem conseguir medir suas ações diante do que via.
━ Veja! ━ ela disse, apontando a lança para uma árvore que se movia. ━ Ele voltou, Edmundo! Aslam voltou!
━ Eu sabia! Eu sabia que Lúcia estava dizendo a verdade!
E as árvores continuavam a ganhar vida, batalhando contra aqueles que mataram suas irmãs para criar armas. Com suas raízes, chicoteavam pelo solo, agarravam telmarinos e os seguravam, impedindo que continuassem a lutar. Em suas folhas, imagens eram formadas: um Leão rugia, valente, e a esperança nos corações narnianos crescia cada vez mais.
Os telmarinos começaram a recuar, assustados e amedrontados, e pareciam acreditar que correr em direção ao Beruna seria de grande ajuda. Mas não apenas as árvores obedeciam a Aslam, o grande Leão; ele era o Senhor de Nárnia, de seus rios, seus ventos, seus mares e tudo o que se podia imaginar.
━ POR ASLAM! ━ bradou Pedro, erguendo a espada em direção às tropas que fugiam.
Revigorados e cheios de esperança, os narnianos os seguiram, sem hesitar por um único momento. Haviam vencido no Beruna uma vez. Venceriam no Beruna outra vez.
Novamente, tinham Aslam ao seu lado. E Ele estava lá, entre Lúcia e Sebastian, quando todos alcançaram o rio. A simples imagem das duas crianças e do Leão foi o suficiente para fazer todos pararem às margens do rio, os observando atentamente, a surpresa e incredulidade em seus olhos. Todos fizeram silêncio, observando perplexos o Leão de que tanto se ouvia falar em Nárnia, em todo seu poder e solenidade.
De repente, em meio ao silêncio, uma gargalhada alta foi ouvida. Virando as cabeças devagar, todos encararam Betty Birdwhistle de forma confusa, enquanto a rainha levava a mão livre até a barriga, curvando-se levemente ao dar risada. Ela ria de alegria, de felicidade, de alívio. Aslam estava ali. Lúcia e Sebastian estavam ali. Todos eles estavam ali, e estavam bem. Ela estava agradecida.
O quão incrível era dar risada? Não conseguir controlar a felicidade, e simplesmente emitir um som tão distinto e estranhamente familiar e contagiante? Betty amava o sentimento. Aos poucos, sua risada cessou, e a menina ergueu a palma em direção a Edmundo, que bateu em sua mão em um gesto de cumplicidade.
━ Nós dissemos que era verdade! ━ ele falou, olhando para os irmãos com um sorriso enorme. ━ Seus tolos.
Ainda meio embasbacados, não responderam, ainda admirando maravilhados o Leão que há tanto tempo não viam. Mas, ainda que Aslam fosse real, a tolice dos homens conseguia ser tão verdadeira quanto sua existência, e isso foi provado quando o comandante das tropas gritou:
━ ATACAR!
Não conseguiram atravessar a ponte; bastou um rugido de Aslam para que o rio ganhasse vida e se agitasse. Ondas se formaram, e logo se transformaram em formas quase humanas, perseguindo e expulsando cavaleiros e soldados telmarinos com uma enorme tranquilidade. Poucos minutos foram necessários até que a ponte se quebrasse e o rio voltasse a descansar, deixando todos os telmarinos remanescentes em terra firme amedrontados demais para ousar pensar em atravessar o rio.
Pedro, Susana, Caspian, Edmundo e Betty, no entanto, o fizeram sem maiores desafios. Com a água pesando em seus passos, correram até o outro lado do rio, e sem mais palavras, se ajoelharam diante do grande Leão.
━ Levantem-se, reis e rainhas de Nárnia ━ mandou ele, e apenas quatro obedeceram. ━ Todos.
Caspian hesitou por um momento, até que Betty deu um tapa em sua cabeça, fazendo-o encarar Aslam, incerto.
━ Acho que não estou pronto ━ confessou.
O Leão deu um passo à frente.
━ É por essa razão que eu sei que está.
Com um sorriso mínimo, Caspian se levantou. Todos os olharam orgulhosos, mas logo se viraram para trás ao ouvir o som de uma gaita bem próximo. Enquanto um rato tocava uma música fúnebre, outros traziam uma espécie de maca com o corpo de Ripchip. Betty arregalou os olhos, aproximando-se do pequeno amigo, e Lúcia fez o mesmo.
━ Onde eles arrumaram a gaita? ━ indagou Pedro, confuso, em um sussurro antes de se aproximar também.
Observaram atentos enquanto Lúcia pingava uma gota do suco da flor de fogo nos lábios entreabertos do rato, que tossiu algumas vezes antes de abrir os olhos e se levantar em um pulo.
━ Obrigado, vossa majestade! ━ agradeceu, com uma reverência, antes de se voltar para Aslam. ━ Salve, salve! Eu tenho a honra de, de… ━ foi quando ele se desequilibrou e quase foi ao chão, vendo que estava sem sua cauda, e sentiu-se extremamente envergonhado. Betty levou as mãos à boca, com pena do rato, e já pensava em formas de fazer uma cauda improvisada para ele. ━ Estou absolutamente perplexo! Peço sua indulgência por apresentar-me de maneira tão imprópria!
Aslam riu brevemente.
━ Não há motivo para se preocupar.
━ Mesmo assim, rei poderoso, eu lamento ter que me retirar ━ disse Ripchip, pegando sua espada, e Betty arregalou os olhos, já esticando um dos braços para tomá-la do roedor, que desviou. ━ A cauda representa a glória e a honra de um rato.
━ Parece que se importa demais com sua honra ━ observou o Leão, e o rato murmurou algo sobre ajudar no equilíbrio e outras coisas. Foi quando os outros ratos empunharam suas espadas e afirmaram que iam cortar as próprias caudas em nome do grande rato que Aslam voltou a se pronunciar: ━ Não pela sua dignidade, mas pelo amor do seu povo…
E, simples assim, uma nova cauda havia surgido em Ripchip, que comemorou. Logo, Trumpkin se aproximou do Leão — do qual duvidara da existência durante todo o tempo —, e se ajoelhou perante a ele, que rugiu alto.
━ Está vendo agora? ━ perguntou Lúcia. ━ Ele é real!
Enquanto todos riram do anão envergonhado, Betty finalmente fez algo que estava aguardando por algum bom tempo naquele dia: se aproximou do irmão caçula e o puxou para um abraço apertado e saudoso, bagunçando ainda mais seus cabelos desgrenhados e sentindo algumas lágrimas de alegria escorrendo de seus olhos.
━ E então, o que você acha? ━ perguntou a ele, em meio ao abraço. Sebastian respirou fundo, sem a soltar.
━ Ele é bom, Beth. Muito bom.
Quando se afastaram, Aslam observou os dois com um olhar calmo e divertido, e o sorriso de Betty se alargou; sentira falta do olhar solene do Leão em sua ausência.
━ É hora de ter de volta algo que lhe pertence, querida.
E, mais uma vez, rugiu, fazendo os cabelos de Betty voarem e obrigando-a a fechar os olhos. Quando os abriu novamente, sentiu um peso familiar na mão esquerda: Viridi Hastam, sua lança perdida, estava de volta. Ela soltou um grito animado ao ver a lança ali, apertando-a firmemente entre os dedos, e soltou uma risada enquanto a observava com carinho.
Em sua mão direita, Pignus pesava. Betty encarou a lança dourada por algum tempo; ela amava Viridi Hastam, é claro, mas já não precisava mais dela. Em sua ausência, percebeu que era uma valente guerreira independente da arma, e bom, outras pessoas poderiam fazer melhor uso da lança dos bosques agora que ela tinha uma nova arma tão boa quanto a antiga.
━ Pegue ━ ela instruiu, estendendo a lança em direção a Bash, que arregalou os olhos. ━ Acho que tem o peso certo para você.
Incerto, o menino a pegou, e todos encararam com expectativa. Após alguns segundos, as esmeraldas cravejadas pelo cabo brilharam mais uma vez, e todos comemoraram, felizes pelo menino. Viridi Hastam o havia aceitado.
━ Só tome cuidado para não furar o próprio olho ou algo do tipo ━ aconselhou a irmã, enquanto girava Pignus entre as mãos. Edmundo sorriu em sua direção, feliz por vê-la com a lança que lhe tinha presenteado, e fez menção de se aproximar da garota.
Antes que pudesse, porém, Viridi Hastam estava apontada em sua direção, impedindo-o de dar mais um passo.
━ Cuidado, Edmundo! Eu sou perigoso agora.
Com um revirar de olhos e um simples girar de Pignus, Betty afastou a lança do irmão, que caiu de bunda no chão, desajeitado.
━ Você tem a lança, Bash. Não a habilidade.
Cruzando os braços, Edmundo encarou o garoto, e então, repetiu o que Elizabeth havia o dito algumas vezes:
━ E não precisa de tudo isso, nós não vamos nos casar.
Betty riu uma risada forçada, cruzando os braços, e assistiu enquanto Edmundo se aproximava de si, parando ao seu lado. Após comprimir os lábios, tentando se segurar, a menina se virou para o encarar, confusa e em choque.
━ Como assim, não vamos?
VOLTEI! tô morrendo de amores com bettymund nesse capítulo, amo o romance de quinta série dos dois 😔😚 peço perdão pela demora, mas é que eu amo tanto essa fanfic e entregar capítulos mixurucas dela me deixa triste, então eu sempre me esforço muito pra escrever eles e às vezes isso demora
enfim, espero que tenham gostado do capítulo de hoje, e vejo vocês no próximo!
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