23 Um Convite Para Jantar
Eu ouvia vozes. Vozes familiares, mas que eu não conseguia definir ainda de quem eram.
Procurei abrir os olhos e, por um momento, tudo o que enxerguei foi uma névoa que, à medida que eu ia piscando, foi se desvanecendo.
- Ela está acordando. - Ouvi alguém dizer.
Me dei conta da dor de cabeça que sentia e, ao tentar me erguer, fiquei tonta.
- Filha??
A silhueta e logo depois a figura completa da minha mãe se fez visível diante de mim e eu procurei me situar.
- Onde eu estou? - falei, e acredito que minha voz saiu débil e rouca.
- Está no hospital.
Hospital?
Oh, céus! De repente me lembrei de tudo, e acho que isso fez minha cabeça doer ainda mais. Ou voltar a doer.
Minha mãe se sentou cuidadosamente ao meu lado na cama (provavelmente a cama de algum dos quartos de recuperação de um hospital qualquer em São Paulo) e me olhou. Seu olhar me revelou que ela estava assustada, preocupada e brava ao mesmo tempo.
Compreensível.
- Amber... - disse, com a voz consternada. - O que aconteceu?
Não respondi, pois alguma coisa me dizia que ela já sabia o que havia acontecido.
Me lembrei de algo.
- Steve... cadê o Steve?
- Estou aqui - ele apareceu, saindo de algum canto do quarto.
Eu o olhei, me lembrando ainda mais de tudo, absolutamente tudo o que havia acontecido naquela tarde e sorri, fracamente.
Steve me sorriu de volta, mas parecia extremamente preocupado.
- Filha... - repetiu minha mãe, balançando a cabeça.
Levei a mão à minha têmpora do lado direito e senti algo ali. Parecia que era um curativo, uma bandagem, algo do tipo.
- Você levou uma pedrada na cabeça.
- Eu sei, mãe.
Ela suspirou.
Eu podia imaginar que ela estava louca para me dar uma bronca daquelas.
A porta do quarto hospitalar se abriu e uma enfermeira baixinha e morena entrou por ela.
- Ah, ela já está consciente - falou, me avaliando apenas com o olhar. - Sente alguma coisa?
- Minha cabeça dói muito - murmurei, tocando o curativo na minha têmpora.
- Perfeitamente normal, considerando as circunstâncias - ela disse, soando meio irônica.
- Em todo o caso, vou lhe dar um analgésico. Depois você já pode ir pra casa, foi o que o doutor disse. Seu machucado já foi lavado e saturado, não se preocupe.
- E quanto aos pontos? - minha mãe quis saber.
- Eu levei pontos??
- Sim, três - disse a enfermeira.
Eu olhei para Steve e ele abaixou a cabeça, colocando as mãos nos bolsos.
- Você pode voltar daqui uns quatro dias para retirar os pontos. Não houve nada de grave. Mas seria muito bom manter um certo repouso.
Ela me deu o analgésico e eu desejei que o efeito viesse logo.
Minha mãe se distanciou um pouco para conversar com a enfermeira (provavelmente para fazer mais perguntas) e Steve se aproximou da cama.
- Você está bem? - falou e eu não pude deixar de admirar o quanto seus olhos permaneciam bonitos, mesmo com aquela sombra de preocupação neles.
- Tirando essa dor horrível, eu estou sim - falei sorrindo e apontei discretamente para a minha mãe. - Como ela soube?
- Eu liguei para ela do seu celular. Tive que fazer isso. Tudo bem?
Dei de ombros.
- Que bom que eu não coloco senha nele.
- É, isso foi de grande ajuda. - Steve concordou. - Eu liguei e ela veio quase que imediatamente.
- Imagino.
- Amber, eu sinto muito. Mesmo - ele disse, com a voz carregada de aflição.
- Eu tô legal.
- Eu sei, mas você não estaria aqui, e com um buraco na cabeça, se eu não tivesse te tirado do ginásio e te levado para aquele lugar.
- Steve. - Balancei a cabeça. - Não fale assim. Essa foi a melhor tarde da minha vida.
Ele me olhou e ergueu a mão para tocar o curativo, mas minha mãe se virou para nós, de repente.
- E então? - ela disse, cruzando os braços.
Steve abaixou a mão.
- Mãe, esse é o Steve, meu amigo - falei, com cautela.
- Eu já conheci seu amigo. Ele me ligou para contar que tinha trazido você, ensanguentada, para o hospital.
Encolhi os ombros, porque o tom dela dava a entender que eu era a culpada por ter levado uma pedrada na cabeça.
- Foi muito gentil e prestativo da sua parte ter feito isso por ela e ter me ligado, Steve. Obrigada.
Apesar do reconhecimento e da gratidão, minha mãe olhava para Steve com tanta desconfiança no olhar, que eu me senti constrangida por ele.
- Fiz o que era certo a fazer, dona Marisa - ele disse, se levantando.
- Mesmo assim, obrigada. - Minha mãe falou, o analisando.
- Disponha. Eu já vou. - Ele disse, se voltando para mim.
- Está bem. Obrigada por tudo, Steve.
Ele me olhou com ternura, acenou com a cabeça para minha mãe e se foi.
- É isso, vamos também. - Minha mãe disse, pegando sua bolsa sobre a cadeira. - Quer ajuda para se levantar?
- Não, obrigada.
Ainda me sentia zonza, mas me levantei, antevendo o que viria a seguir.
***
- Você é louca - Nina sussurrou para mim; nós duas no banco de trás do carro.
Minha mãe tinha parado no ginásio para pegá-la.
- Amber, você tem noção do quanto eu estou chateada com o que você fez?? - Minha mãe prosseguia na sua eterna bronca, enquanto dirigia.
- Como é que você me apronta uma coisa dessas?? Sai assim, do nada, do jogo dos seus amigos, com um estranho, para algum lugar que eu ainda nem sei qual foi. Com um ESTRANHO!
- Ele não é estranho. Eu conheço ele.
- Mas EU não conheço! E se eu não conheço, não está aprovado. Aliás, ninguém que pegue minha filha e saia por aí sem a minha permissão está aprovado.
- Mãe, ele não me pegou. Eu quis sair com ele. E outra, você não precisa conhecer todo mundo que eu conheço - falei, me sentindo exausta e dolorida.
- Preciso, sim. Eu zelo pela sua segurança, Amber. Você acha que é tudo chatice da minha parte, mas olha aí como você está agora. Meu Deus, mas o que foi que deu em você?? E afinal de contas, quem é esse rapaz? Ele não me pareceu nada confiável.
- Ninguém parece confiável para você, mãe - retruquei. - E eu já disse, ele é um amigo. Você devia agradecer a ele, porque Steve foi muito prestativo.
- Eu agradeci. Mas o problema aqui não é esse, Amber. Eu estou embasbacada com o que você fez. Que atitude mais irresponsável da sua parte!
- Mais louca do que eu - Nina continuou sussurrando. - Eu te digo pra tomar cuidado e você pá, sai com o bonitão de novo e leva uma pedrada na cabeça.
- Cala a boca, Jhenifer - falei, me encolhendo no canto do carro, só querendo chegar em casa, me deitar e descansar.
***
Entretanto, isso não foi prontamente possível.
Jeff e Jhony chegaram quase que ao mesmo tempo que a gente na minha casa, e ambos não pareciam muito satisfeitos comigo.
Assim que minha mãe nos deixou, os quatro sozinhos na sala, Jeff veio pra cima de mim:
- Eu não acredito que você fez isso, Amber. De novo.
Procurei ser pacífica.
- Pessoal, eu sei que mandei mal não ficando lá para ver o jogo de vocês, então... me desculpem.
Jhony já agiu com mais calma e se aproximou de mim, tocando no meu curativo.
- O que aconteceu? Você está bem, Amber? - Sua voz denotava preocupação.
Eu me senti culpada por ter saído do ginásio praticamente de mãos dadas com Steve na frente dele. Porque eu lembrava muito bem do seu olhar doce, me olhando com certa... decepção aquela hora.
- Foi um pequeno acidente. Obrigada, Jhony - falei.
- Caramba, como você é vacilona, Amber - acusou Jeff.
Ele parecia bem irritado.
- Ei, baixa sua bola aí, bonitinho. - Interveio Nina.
- Só estou dizendo isso para o seu bem, mas você é quem sabe. Eu não vou falar mais nada. - Jeff disse, mas logo em seguida já estava dizendo:
- Estou te avisando que não é uma boa ficar andando por aí com esse cara, você nem conhece ele direito.
- Ele tem razão, Amber. - Concordou Jhony e eu percebi Nina balançar a cabeça afirmativamente.
Suspirei e procurei fugir daquele assunto desagradável.
- Pessoal, eu preciso descansar. Sinto muito, depois a gente se fala.
Jeff pareceu contrariado com a minha escusa, mas Jhony e Nina se mostraram solícitos.
- Bom descanso, Amber - disse Jhony.
- Quer que eu suba com você? - Minha prima se ofereceu.
- Não precisa, valeu - falei, já subindo as escadas.
Nem por mais um segundo ficaria ali.
***
Eu olhava o teto do meu quarto, estirada na cama. A mente recheada com os mais diversos pensamentos.
Parte de mim se sentia incomodada com a bronca da minha mãe, outra parte se sentia culpada por ter decepcionado meus amigos; mas a última parte- a maior delas- estava feliz pelos momentos vividos com Steve.
O telefone tocou fazendo um barulho irritante e eu atendi logo, para não ter que escutá-lo.
Torci para que não fosse o meu pai, caso minha mãe já tivesse ligado para ele, contando o acontecido.
- Alô.
- Amber?
- Steve???
- Como sabe que sou eu?
- Eu, ahn... reconheci sua voz.
- Ah!
Eu estava tão surpresa!
- Você... Como conseguiu meu número? - perguntei.
- Bom, digamos que eu fui um pouquinho mais ousado ao usar seu celular e salvei seu número no meu. Eu resolvi ligar porque estava muito preocupado, aliás, ainda estou. Mas não podia aparecer aí na sua casa, sua mãe poderia não gostar muito - explicou.
- Fez bem. Ela está uma fera comigo.
- Posso imaginar.
- Mas estou tão feliz que você tenha ligado! - exclamei.
- Amber, eu realmente sinto muito. É culpa minha que isso tenha acontecido.
- Ei, não foi você que me acertou com uma pedra na cabeça! A culpa foi daquela brincadeira estúpida. Mas já passou, eu estou bem, de verdade.
- Tem certeza? Porque eu não estou nada bem, estou preocupado com você.
Ohhhh! Ele sabia ser fofo também!
- Tenho certeza - falei, contendo a emoção da voz.
Steve suspirou do outro lado.
- Quero te recompensar por isso - disse, instantes depois.
- Ahn? Como?
- Vou te levar para jantar - ele falou, rápido.
Demorou alguns segundos para o meu cérebro processar o fato de que ele estava me convidando para jantar.
- Você aceita? Eu prometo que não vou deixar ninguém te acertar de novo.
Eu dei uma risada, ainda incrédula.
- Um jantar?
- Sim.
Ele esperou pacientemente pela minha resposta.
- Sim - falei por fim, já tremendo antecipadamente de ansiedade por dentro.
- Perfeito. Eu vou esperar você se recuperar um pouco e retirar esses pontos. E aí então, eu ligo novamente, pra gente combinar. Está bem?
Eu queria jantar com ele imediatamente, por mais que ainda fosse de tardinha.
- Está bem - falei, somente.
- Só me diz mais uma vez que você está bem, pra eu poder dormir em paz.
- Você já vai dormir?
- Sim, estou com sono - ele disse naturalmente, e eu achei graça daquilo.
- Eu estou bem. Pode ir dormir em paz, Steve - falei.
- Ok, continue assim. Bom começo de noite, Amber.
- Obrigada, tenha bons sonhos - falei, sorrindo.
Continuei sorrindo, mesmo depois de termos encerrado a ligação.
Steve Parker me convidou para jantar!!!
▫▫▫
E aí, tudo bem com vocês?
Como será esse jantar??
Quais são as expectativas?
😏😏😏
Saberemos no próximo capítulo!
Até lá, beijos! ❣😘😘😘
Amo vocês ❤
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