16 Fã Dos Seus Olhos
- Aonde a senhorita vai toda arrumada? - Minha mãe perguntou, ao me ver descer as escadas.
O fim de semana havia chegado e com ele o compromisso que eu havia assumido com Jhony: de sairmos juntos.
Sorri para ela.
- Que tal estou? - perguntei, dando uma singela rodadinha pela sala.
Eu tinha colocado uma calça de couro preta, uma blusa de manga comprida, também preta, adicionei uma echarpe verde escuro por cima e finalizei calçando meus coturnos marrons.
- Muito elegante - definiu minha mãe.
- Se fosse eu teria colocado um vestido - opinou Nina, de onde estava, no sofá - e curto - acrescentou.
Mas não era eu que ia sair de vestido para ir ao cinema, e ainda por cima curto, com um frio daqueles.
Ok, não estava tão frio assim, mas vestido estava fora de cogitação.
- Então, onde você vai, Amber? - Minha mãe tornou a perguntar.
- Vou sair com o Jhony.
Vi um sorriso imediatamente no rosto dela.
- Que maravilha! - disse, vindo ajeitar meu cabelo. Colocou boa parte dele ( que estava solto ) para frente.
- Aonde vão?
- Não sei, provavelmente ao cinema - eu disse.
Nina riu, indiscreta, e eu a ignorei.
Fui saindo, mas minha mãe me interpelou, vindo até mim:
- Filha, você devolveu aquela jaqueta, não é?
Eu sorri de novo, balançando a cabeça solenemente.
- Sim, mãe.
Ela pareceu satisfeita.
- Ok, vai com Deus. Bom passeio.
- Obrigada, mãe. Tchau, mocréia! - gritei para Nina e ela me gritou o mesmo.
Então eu saí.
***
Jhony ficou me olhando com uma cara engraçada dentro do carro, com as mãos no volante, na esquina da minha casa.
- O que foi? - perguntei, já com vontade de rir, pois eu sabia porque ele estava me olhando daquele jeito.
- Essa jaqueta não está um pouco grande demais pra você, não? - ele franziu a testa, me analisando.
Eu gargalhei, me lembrando do que havia feito.
Num plano meio louco de tentar devolver a jaqueta ao seu devido dono, eu havia aproveitado a ocasião e a colocado junto à alguns arbustos no jardim perto do portão da minha casa, para que a minha mãe de nada desconfiasse. E deu certo.
A jaqueta ali ficou, até o momento em que saí, que foi quando a peguei e imediatamente a vesti, entrando no carro de Jhony.
O meu raciocínio era: não existia outra maneira de devolver a jaqueta para Steve a não ser estando com ela na rua, porque poderia ser que eu topasse com ele, como ocorreu da última vez.
E ali estava eu, vestida com aquela jaqueta que caberia duas de mim. Eu sei, estava ridículo. Patético. Mas era impossível amarrá-la na cintura e incômodo carregá-la no braço. Seria assim mesmo.
- É que eu estou com muito frio - foi a desculpa que dei a Jhony, que continuava me olhando, provavelmente se perguntando se eu não tinha casacos do meu tamanho em casa.
- Ok... está linda do mesmo jeito - ele disse, voltando a dirigir.
Dei graças aos céus por ele não ser curioso ao ponto de perguntar se a jaqueta era mesmo minha.
- Aonde vamos? - perguntei.
- Eu pensei em ir vermos um filme. Tudo bem pra você?
- Claro - falei, sorrindo de leve, por mais que ele não estivesse me olhando naquele momento.
Nós dois sabíamos que ir ao cinema era um programa romântico demais para " dois amigos ". Mas e daí? E se o que existia entre a gente fosse algo a mais do que uma forte amizade? Ir ao cinema era a ocasião perfeita para descobrir.
Jhony dirigiu por cerca de meia hora até o Iguatemi Shopping. Ele era muito calmo para falar, sempre gentil e o trajeto todo fomos conversando sobre amenidades, coisas de casa e da escola, mas eu constantemente ficava com as faces avermelhadas, quando ele me olhava mais intensamente.
- Eu escolho o filme - falei, enquanto subíamos a escada rolante, rumo à uma das salas do Cinemark.
Jhony bateu continência.
- Sim, senhora - disse sorrindo.
Algumas garotas passaram por nós descendo, e ao me verem com a jaqueta, cochicharam entre si.
Depois de muito relutar comigo mesma, resolvi enfim tirar a jaqueta e enfrentar o incômodo de carregá-la na mão.
Jhony se ofereceu para isso, mas eu rejeitei educadamente. Aquele problema era unicamente meu.
***
Apesar de ter dito que eu escolheria o filme, a escolha foi unânime, uma vez que um dos filmes em cartaz era " Os Vingadores 2: A Era De Ultron ", que estava em semana de estréia.
Foi a escolha perfeita, pois ambos gostávamos daquele tipo de filme. Eletrizante, cheio de ação e porque não dizer... uma pitada de romance. Perfeito.
Jhony comprou pipoca e refrigerante para nós e fomos ocupar a antepenúltima fila de poltronas na sala de projeção 4.
Foi uma ótima noite. Interiormente, eu me perguntava porquê, nesses anos todos, Jhony nunca me chamara para sair.
Eu teria aceitado, com ou sem interesse nele, apenas por ele ser o cara legal que era. O cara legal que poucos caras sabiam ser. Atencioso. Sempre preocupado com o bem estar da gente.
" Sua poltrona está confortável? Quer trocar ?"
E ainda vinha com aquele sorriso maravilhoso de brinde.
Sinceramente, enquanto estava ali com Jhony naquele clima tão bom, eu não me importei nem um pouco com o que aconteceria quando Luísa soubesse que, daquela vez sim, saímos juntos pra valer.
***
Mais de duas horas e meia depois ( creio que já era 9 da noite ) saíamos da sala de cinema famintos, indo direto para a praça de alimentação do shopping.
- Filmaço - comentou Jhony.
- Concordo - falei, andando cambaleante, meio tonta por ter estado tanto tempo sentada diante daquela tela enorme, absorvida pelo filme.
- Opa - Jhony disse, me amparando, colocando seu braço em volta do meu ombro.
Eu ri de leve.
- E aí, o que vai querer? - ele me perguntou, quando já estávamos acomodados em uma das muitas mesas na praça de alimentação do Iguatemi.
- Hum... eu amo essa porção de fritas com carne e queijo derretido - falei.
Eu comia tanto aquilo quando ia ao shopping com Nina ou minha mãe, que tinha se tornado de longe meu prato favorito. Era bem difícil eu comer outra coisa.
Jhony fez os pedidos e enquanto esperávamos continuamos a conversa. Eu apertava constantemente o couro da jaqueta que repousava no meu colo, debaixo do forro da mesa.
- Seus olhos são incríveis, Amber - Jhony disse me fitando, de repente.
Olhos incríveis... aquela expressão me lembrava outra pessoa.
- Eu??
- É, esse azul... cativa a gente, sabe?
- Minha prima também tem olhos azuis - falei.
Anta! Que tipo de garota fala de outra quando está saindo com um cara? Só uma anta mesmo, como eu!
- Não importa. Eu estou falando dos seus olhos, Amber. Eu sou fã dos seus olhos - Ele me fitou tão intensamente que eu senti meu coração acelerar.
Para mim, não existia praça de alimentação nenhuma, shopping nenhum, não existia São Paulo, não existia nada.
Só existia Jhony ali na minha frente, dizendo: " Eu sou fã dos seus olhos ".
Engoli em seco. E então os pedidos chegaram e eu tratei de ocupar minha boca comendo, corando terrivelmente.
- Isso é delicioso! - exclamou Jhony, um minuto depois.
- Não é? - falei, contente por ele ter gostado da porção.
- Muito bom. - Ele balançou a cabeça e eu ri, pois sua voz saiu engraçada, por ele estar comendo.
Comemos com vontade, tomamos um suco de manga tão deliciosamente natural, que ambos pedimos novamente.
Só depois de estarmos plenamente satisfeitos e saciados, Jhony pagou a conta e saímos.
***
- Foi uma noite incrível - eu disse, colocando as mãos dentro da jaqueta, que voltara a vestir.
Estávamos do lado de fora do shopping, aproveitando um pouco o ar, antes de ir para o estacionamento.
Jhony se aproximou de mim.
- Foi não... está sendo - disse.
Eu sorri, concordando.
- Amber, de verdade, eu não tenho palavras para te dizer o quanto estou feliz por você ter aceitado sair comigo.
- Eu também - falei, com sinceridade.
Ele se aproximou um pouco mais e puxou minhas mãos, segurando-as entre as suas. Ficou me olhando durante alguns segundos, e um sorriso foi nascendo em seu rosto, pouco a pouco.
- Você é tão linda... - disse, acariciando meu rosto vagarosamente com uma de suas mãos.
Eu sorri, apenas. Senti a respiração dele agora muito mais perto e esperei.
- Linda demais - tornou a dizer e se inclinou, encostando seus lábios nos meus.
Meu coração acelerou, mas me contive. Jhony passou a me beijar lenta e calmamente, ainda segurando minha mão, com sua outra mão em meu rosto.
Retribuí o beijo, da mesma forma. Nossas bocas, antes frias devido ao sereno, logo estavam quentes, naquele contato tão bom.
Pouco me importei com as pessoas que passavam por ali e muito provavelmente nos olhavam, com curiosidade. Queria só aproveitar aquele momento. O beijo de Jhony.
Quando nos afastamos minimamente, ele sorria.
- Caramba - disse, baixinho.
- O quê? - falei, também baixinho.
Ele não precisou dizer nada. Apenas se aproximou de novo, prestes a me beijar novamente.
Mas antes que ele fizesse isso, em um instante, meu olhar foi parar do outro lado da avenida.
E entre carros, pessoas, postes e luzes, eu o vi.
De capacete erguido, sentado na moto alta e preta, olhando diretamente para mim.
- Steve - sussurrei para mim mesma.
Jhony se afastou, confuso.
- O quê?
Era a minha chance. Eu não podia perder.
- Eu tenho que ir - falei, olhando para Jhony rapidamente, e então comecei a correr.
- Amber!?! - Ouvi ele gritar, confuso.
- Preciso ir! - gritei de volta.
- Amber! Volta aqui! - continuou gritando.
Mas eu já estava correndo, atravessando a avenida, pulando canteiros, pedindo desculpas por esbarrar em uns e outros. Ele me perdeu de vista.
Cheguei ao outro lado esbaforida. Estava agora diante de Steve, que me olhava parecendo espantado.
- Oi - falei, resfolegando cansada.
- Oi...
- Que bom que te achei aqui - falei, começando a tirar a jaqueta. - Preciso te devolver isso.
Ele só me olhava quieto, com um ar de surpresa contida.
- Veio até aqui só para me devolver a jaqueta? - falou, arqueando as duas sobrancelhas.
- Sim - falei, como se fosse óbvio.
Steve ficou pensativo por um instante.
- Já que veio até aqui... sobe aí, vamos dar uma volta.
Arregalei os olhos.
- O quê??
Dar uma volta? De moto? Com Steve?
- Mas eu nem te conheço! - exclamei.
- Nem eu conheço você - retrucou ele, meio risonho.
Virei-me para olhar para o outro lado da avenida, para a entrada principal do shopping, onde eu tinha deixado Jhony. Nem sinal dele, coitado.
Voltei a olhar para Steve, sentado na moto, me olhando placidamente.
Me aproximei, relutante.
- Coloque a jaqueta de volta. Está frio - ele disse.
E... eu assim o fiz. Coloquei novamente a jaqueta e, quando dei por mim, estava subindo na moto.
Steve me entregou o capacete, que eu coloquei, instantes antes dele arrancar com tudo pela avenida, em direção à algum lugar que eu não sabia ainda qual era.
▫▫▫
Apareceu a margarida 😁
É, minha gente... voltei com mais um capítulo para vocês, depois de um tempinho sem postar.
Obrigada por lerem!
Eu amo vocês!😘❤
Tay💕
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