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23 Charles Parker

Chegamos em Nova York por volta do meio dia, depois de dez longas horas de vôo.

Foi um pouco incômodo viajar naquela condição. Minhas costas doíam muito e foram raros os momentos em que consegui cochilar, por incrível que pareça.

Steve também não dormiu muito. Estava sempre consultando o relógio e parecia o tempo todo preocupado, ora comigo e com a bebê, ora com o avô.

Depois de desembarcarmos, almoçamos no restaurante do próprio aeroporto, pois ambos estávamos famintos.

-Amor, sei que você está cansada da viagem, então se quiser que eu te leve pra mansão pra você dormir, eu levo. Mas eu vou seguir pro hospital. Preciso saber como está o meu avô.

-Não, Steve. Eu quero ir com você. Também quero muito vê-lo- falei, com convicção.

Ele soltou um suspiro pesado e me encarou.

-Tem certeza?

-É claro.- Confirmei.

-Então vamos terminar de comer.

Depois do almoço no aeroporto, seguimos de táxi diretamente para o Presbyterian Lower, um dos melhores hospitais de Manhattan e de toda a Nova York. Havia sido para lá que Charles Parker tinha sido levado.

Logo ao chegarmos, Steve teve que preencher e assinar alguns papéis na recepção do hospital, provavelmente algo do convênio médico.

Uma enfermeira se aproximou de nós.

-Steve Parker?

Steve terminou de assinar os papéis e olhou para a enfermeira.

-Sou eu- disse ele.

-Você é o neto de Charles Parker, certo?- Perguntou ela, conferindo algo em uma prancheta.

-Sim.- Confirmou ele, e segurou minha mão.

A enfermeira notou isso e disse:

-Venha... venham comigo, por favor. Vou levá-los até o quarto.

Nós a seguimos pelos corredores do imenso hospital.

O quarto onde Charles Parker estava internado ficava na ala leste, próximo à Unidade de Terapia Intensiva.

Nós entramos, e Steve disse:

-Enfermeira, peça ao médico que o atendeu para vir aqui. Preciso falar com ele.

Ela assentiu.

-Sim, senhor. Já vou chamá-lo.

Eu me aproximei da cama. A princípio, achamos que ele estava dormindo, mas logo seu corpo se mexeu.

Steve se colocou ao meu lado.

-Vô...- disse ele.

Seu Charles abriu os olhos e seu rosto cansado e pálido revelou surpresa por nos ver ali.

-Steve...- disse, com a voz fraca.- Amber...

-Estamos aqui, vô. Bruce me contou que você passou mal.

Ele fechou os olhos por um instante e voltou a abrí-los.

-Não precisava ter vindo, Steve. Você estava fazendo algo importante no Brasil...

-E já fiz.- Garantiu Steve, me olhando.- Mas agora, nada pode ser mais importante do que a sua saúde.

-É verdade, seu Charles- falei.- Viemos ficar ao seu lado. Até o senhor melhorar.

Houve silêncio, depois do que eu falei. Mas era verdade. Um certo sentimento, que só podia ser algo parecido com a fé, se apossou de mim, e eu acreditava firmemente que seu Charles ficaria logo bem.

Ele me fitou, com carinho.

-Estou feliz que esteja aqui...

Sorri para ele. Charles Parker, aquele senhor forte, bondoso e tão carismático, agora parecia tão frágil ali naquele leito de hospital.

-Vô, está sentindo alguma dor?- Perguntou Steve.

Charles balançou a cabeça. Mas eu percebi. Ele não precisava responder. Parecia que a cada respiração, seu peito doía.

-Ele não está nada bem.- Sussurrei no ouvido de Steve, discretamente.

Steve mordeu os lábios, olhando o avô, que respirava com a ajuda de aparelhos.

-Eu sei- disse ele, num tom de voz pesaroso.

A porta do quarto se abriu e o médico entrou. Era um homem moreno, provavelmente na casa dos quarenta anos.

Ele nos cumprimentou, se apresentando como doutor Edward, e foi até o leito de seu Charles. Analisou-o rapidamente, ajeitou os aparelhos e transcreveu algo na prancheta.

Depois, sinalizou para nós, e levou-nos para o outro lado do quarto, para longe do doente.

-Soube que você queria falar comigo- disse ele, olhando para Steve, que assentiu.

-Sim. Quero saber qual é a real situação do meu avô.

Doutor Edward hesitou um pouco, mas disse:

-Bom, vou ser sincero. Ele já teve duas paradas cardíacas e...

-Duas???- Steve interrompeu, alarmado.

-Sim. A primeira em casa ontem, pela tarde, que foi quando ele foi trazido para o hospital. Conseguimos estabilizar a situação dele, assim que chegou. Mas hoje pela manhã ele teve outra parada cardíaca.

Steve passou as mãos pelo rosto, exasperado.
Eu estava trêmula. Mas consegui perguntar:

-E agora, doutor Edward?

-Agora, só nos resta esperar. Diante das análises feitas através do ecocardiograma, concluí que não há mais nada que possamos fazer.

-Como assim não há nada que vocês possam fazer? Você é médico, faça alguma coisa!- Falou Steve.

Ele estava muito nervoso. Era visível em seus olhos o medo que ele tinha de perder o avô.

-Calma, Steve.- Pedi, tocando seu braço.

O médico balançou a cabeça, condescendente. Parecia que estava habituado a ver pacientes e familiares de pacientes irritados, nervosos, cobrando algum tipo de ação da parte dele.

-Sinto muito- falou.- Mas realmente, tudo que podíamos fazer, já fizemos. Vamos apenas tentar mantê-lo estável com a ajuda dos aparelhos.

Steve virou o rosto, respirando profundamente.

-Obrigada por conversar com a gente, doutor- falei, por nós dois.

Doutor Edward acenou com a cabeça.

-Estou à disposição, se precisarem perguntar alguma coisa. Caso o quadro do seu avô apresente alguma melhoria, vou informar à vocês.

Dito isto, ele saiu do quarto.

Steve voltou imediatamente para a beira da cama, onde o avô estava.

-Por que isso foi acontecer justo quando eu estava fora??- Murmurou, consternado.

Seu Charles estava desperto e ouvindo tudo.

-Não questione os desígnios de Deus, filho...-falou, fracamente, encarando Steve.

Meu coração se apertou quando vi que os olhos do meu namorado estavam marejados.

Seu Charles continuou falando, com certa dificuldade:

-Ele sabe de tudo e conhece o tempo de todas as coisas. Não cabe à nós entender, e sim aceitar.

Steve ficou calado, parecendo se lembrar de algo, de repente. Só mais tarde, eu soube que ele estava comparando as palavras do avô, com o que tinha lido no livro que eu o havia dado, no seu aniversário.

-Eu queria ter estado aqui quando você se sentiu mal, vô...- Insistiu ele.

-Eu sei. Mas não se culpe por nada, filho. Tudo o que...

Ele parou de falar, de repente.
Fechou os olhos, soltando um suspiro profundo.

Eu e Steve nos entreolhamos, atônitos.

-Vô!- Steve disse, sentindo o pulso dele.

-Vô, fala comigo, vô. Fala comigo, por favor. Enfermeiraaa!!!- Gritou ele.

Eu não sabia o que fazer.
Começava a me sentir cansada por estar em pé, mas não queria me sentar. Nem conseguiria, devido ao nervosismo.

A enfermeira adentrou o quarto, alarmada pelos gritos de Steve e foi direto até a maca.

Ela conferiu os aparelhos e o acesso intravenoso que levava remédios para as veias de Charles.

Eu não sabia muito bem como interpretar todos aqueles bips que os aparelhos emitiam, mas entendi que o ritmo dos batimentos cardíacos estavam diminuindo.

-Ele está tendo um infarto!- Exclamou a enfermeira, atônita.- Vou chamar o doutor Edward!

-Faça isso, agora!- Exigiu Steve.

Prestes a sair do quarto, a enfermeira olhou mais uma vez para seu Charles. Os bips haviam cessado, e ela voltou imediatamente para perto dele.

Nós também nos aproximamos, tensos.

Seu Charles havia aberto os olhos e respirava profundamente, bem devagar.

Houve uma onda de alívio no quarto hospitalar.

-Não entendo...- Murmurou a enfermeira.- Pensei que ele ia...

-O que houve??- Indagou Steve.

-Parece que foi apenas uma rápida queda de pressão. Nos deu um belo susto, seu Charles.- Ela sorriu, meiga, ajeitando o acesso intravenoso no braço dele.

-Achei que tinha chegado a minha hora- disse ele.

-Não, não. Procure descansar, está bem?- Ela disse e depois olhou para nós.- Com licença, tenho que visitar outros pacientes.

Nós assentimos e a enfermeira saiu do quarto, fechando a porta.
Steve soltou um longo suspiro.

Permaneci ao lado da cama, olhando seu Charles.

-Por um momento pensei que eu já era- disse ele, baixinho para mim.

-O senhor é bem forte.- Afirmei.- Vai sair dessa.

Steve se aproximou.

-Chega. Eu não aguento isso.

-O que está dizendo, Steve?- Perguntou seu Charles, o olhando.

-Nada, vô. Eu só... preciso tomar um ar. Vou dar uma volta.

Antes que eu pudesse dizer algo, ele continuou:

-Amber vai ficar aqui, com o senhor.

Ele deu um beijo na testa do avô.

-Eu já volto, vô.

Charles assentiu e eu observei Steve sair.

Nem podia imaginar o tamanho da angústia que ele estava sentindo.


~❤~






Eu estava sentada numa poltrona, ao lado do leito de Charles Parker, enquanto conversava com ele.

Ele me disse mais uma vez o quanto estava feliz por eu estar novamente com Steve e por ter ido em Nova York para vê-lo.

Em certo momento, olhou para minha barriga avantajada e disse:

-Amber, desde que você chegou que tenho reparado nisso. Não vai me falar nada?

Sorrindo, toquei minha própria barriga.

-Eu estou grávida, seu Charles...

Ele se mexeu e eu percebi que ele estava tentando me ver melhor.
Ajeitei os travesseiros atrás de sua cabeça, para que ficasse numa posição confortável.

-Que coisa boa- disse ele, logo depois.

-É uma menina- falei.

-Coisa boa é ter um filho. Você vai ver.

-É mesmo?

-É, sim. Bom, tem certos momentos que a única pergunta que você vai se fazer é "por que eu fui ter um filho"?- Ele sacudiu os ombros e ambos rimos.- Mas, no geral... é muito bom, sim. É uma benção.

Seu Charles ficou com o olhar perdido, por alguns momentos.

-Eu também tive um filho. Único. Ele nasceu quando eu estava no auge da minha carreira profissional e por alguns anos, não lhe dei a atenção que devia, embora o amasse. Foi somente quando fiquei viúvo que eu passei a ficar o tempo todo com ele. Apesar do luto pela minha mulher, foram os melhores anos da minha vida, por que descobri no meu filho o meu melhor amigo. Percebi que ele se interessava muito pelo que eu fazia, pelo meu trabalho e vi logo que ele seguiria os meus passos, como um homem de negócios. Foi o que aconteceu. Se tornou um grande executivo. Depois se casou com uma mulher maravilhosa. A mãe de Steve.

Eu o ouvia, em silêncio, totalmente absorvida pela história da família Parker.

-Você me lembra ela às vezes, Amber. Essa força, essa luz que você tem. Ela também tinha. Elizabeth não era uma nora. Era uma filha, para mim. Assim como você.

Apertei a mão dele, sorrindo, comovida.

Ele prosseguiu.

-Logo, tiveram o Steve. Foram anos maravilhosos para mim. Steve era o meu pupilo. Ainda é, até hoje. Eu o mimava bastante. Afinal, era o meu único neto. Filho único do meu único filho. Daí você pode imaginar o quanto ele era querido, por todos nós...

Assenti, concordando.

-Infelizmente, o coitadinho ficou órfão de pai e mãe, com apenas onze anos. Foi aí que as coisas começaram a ficar estranhas entre nós. Eu, perdi meu filho e minha nora. Ele, perdeu o pai e a mãe, tudo de uma vez. E, quando devíamos ter nos apoiado um no outro, só nos afastamos. E daí pra frente... Você já conhece a história. Eu o pressionei para que fosse um homem de responsabilidades como o pai era, ele se rebelou, foi embora de casa, se envolveu por caminhos tortuosos, até você aparecer e devolver a razão à ele.

Ele parou para respirar, depois de falar tudo aquilo de uma vez.

-O que o senhor pensa, de verdade, do Steve?- Perguntei, curiosa.

Ele balançou a cabeça.

-Steve é um cabeça dura. Teimoso, exatamente como o pai era. Quando coloca algo na cabeça, é difícil de tirar. Mas é amoroso, já percebi isso. E embora não pareça, é dono de um coração enorme. É um menino de ouro.

Meu coração se aqueceu por dentro, com aquela descrição tão bem feita de Steve.
Ele era exatamente daquele jeito.

De repente, olhando para seu Charles, percebi que ele também era exatamente tudo aquilo. Eles eram tão parecidos...

Charles Parker era um grande homem.
E Steve com certeza também era. E seria ainda mais.

-Concordo com o senhor- falei.

Ele tossiu.

-Amber... Por favor, chega mais perto- disse, com a voz rouca.

Movi a poltrona, até ficar bem perto da cama.

-O que foi, seu Charles?

-Eu... Quero te pedir uma coisa.

-O que o senhor quiser.

Ele respirou fundo.

-Sinto que a qualquer momento posso partir...

-Não diga isso. O senhor é um homem tão forte.

-Mas é verdade. E, não posso partir sem te dizer isso. Você foi a salvação do Steve. A âncora que o resgatou quando ele estava atolado naquele mar de perdição que estava sendo a vida dele...

Sua voz falhou um pouco.

-Sei que não você não é obrigada a fazer nada que não queira mas queria te pedir... que não o deixe. Não o deixe. Ele precisa de você.

-Não penso em deixá-lo. Pelo contrário. Minha intenção é ficar ao lado dele, para sempre- falei, convicta.

Seu Charles pegou minha mão. As mãos enrugadas dele tremiam.

-Ótimo. Sei que não existe ninguém que possa cuidar dele melhor do que eu, a não ser você. Eu amo o Steve, embora tenha dito isso à ele poucas vezes...

Seu Charles começou a respirar com dificuldade.
Fiquei preocupada.

-Seu Charles, por favor... me diz se está sentindo alguma dor, que eu vou chamar o médico, imediatamente.

Mesmo fraco, ele segurou ainda mais minhas mãos, me impedindo de me levantar.

-Eu tive uma vida boa, Amber. Não tenho nada do que reclamar. Perdi meu filho, sim. E essa foi uma dor que até hoje não parou de doer, mas... assim é a vida, não é mesmo?

Fiz que sim, sem saber o que dizer.

-As pessoas estão o tempo todo tentando ser felizes. Andam, correm, apressadas em direção a algo que nem elas sabem o que é. Dizem que é "em busca da felicidade". Mas a felicidade não é um destino. A felicidade não está no fim de um caminho que você percorre às pressas. A felicidade é o caminho. Aprenda isso com um velho em seu leito de morte, Amber. A felicidade está bem diante dos seus olhos...

-Não, seu Charles... não fale assim.- Choraminguei, assustada por ele ter dito "leito de morte".

-Estou aqui divagando sobre a vida e a morte, e acabei perdendo o foco do que queria te dizer.

Ele tossiu mais uma vez.

-Obrigado, Amber. Obrigado por ter entrado tão gloriosamente nas nossas vidas...

Senti um nó na garganta.

-Eu que tenho que agradecer o senhor, por ter me ensinado tanta coisa. O senhor também é como um pai para mim, seu Charles...

Ele sorriu carinhosamente para mim.

-Filhinha...- disse, com a voz fraca.

Uma lágrima escapou dos olhos dele, rolando pelo seu rosto, até sumir em seu queixo.

Beijei a mão dele, fechando os olhos.

-Eu sei que estou morrendo, e que não chegarei a conhecer essa menina.- Ele tocou minha barriga.- Mas quero que diga à ela, quando tiver idade suficiente para entender, que ela teve um bisavô que já a amava muito, mesmo antes de conhecê-la.

Assenti, tentando engolir o choro.

-E a única recomendação que tenho para dar à você, Amber, é que seja feliz...- Ele tirava forças nem sei de onde, para falar.

Senti seu pulso. Estava fraco.

-Sei que você e Steve vão se casar um dia, então... eu já os abençoo desde agora.- Suas mãos trêmulas ainda tocavam minha barriga.- Vocês três serão...

Ele buscou o ar, que já fugia de seus pulmões.

-Felizes... muito felizes...

-O senhor ainda vai estar com a gente, seu Charles. Não se entregue, eu vou chamar o doutor- falei, chorando e tentando me soltar, mas ele, mesmo fraco, não soltava as minhas mãos.

-Não vá, Amber. Fique aqui comigo.- Pediu e eu não podia dizer não.- Fique aqui comigo até...

Ouvi ele suspirar e então tudo ficou quieto.

Olhei-o, com os lábios tremendo.
Aproximei meu ouvido de seu peito, e não ouvi nada. Não senti sua respiração.

-Não, seu Charles... não! Por favor, não me deixa aqui- falei, me jogando sobre ele, abraçando-o.- É a sua vez de não me deixar aqui sozinha. Por favor, por favor...

Eu chorava compulsivamente, debruçada sobre o corpo já sem vida, dele.

-Eu te amo, paizinho...- Sussurrei, em meio ao choro.

-Amo muito...

O corpo dele deu um último espasmo, e eu percebi que ele se fora, de vez.

Fiquei ali, com a cabeça no peito dele, agarrada a seu corpo inerte que, com o passar das horas, já estaria gélido.

Passava meus dedos por seus cabelos brancos e ralos, numa demostração meio tardia de carinho. Mas eu tinha certeza de que ele sabia do quanto eu o queria bem.

Chorei muito. Nunca achei que poderíamos perder tão repentinamente seu Charles. Em minhas memórias felizes, eu já o via, segurando a netinha nos braços, mimando-a como havia feito com Steve.

Mas, infelizmente, aquilo não seria possível.

-Por favor, seu Charles... volta.- Implorei, baixinho, a voz embargada.

Ouvi a porta do quarto se abrir.
A enfermeira e o médico entraram.

Eles logo perceberam o que havia acontecido.

Tentaram me afastar do corpo, mas eu me recusava a soltá-lo.

A enfermeira começou a retirar o acesso e a desligar todos os aparelhos.

-Querida, precisa deixar a gente fazer o nosso trabalho.- O médico disse, tocando meu ombro.

Eu soluçei, levantando os olhos para ele.

-Sinto muito.

Assenti, voltando a olhar para seu Charles. Ele parecia pleno, embora tivesse sentido dor ao morrer.

Passei a mão por seus olhos, fechando-os.

Depositei um singelo e demorado beijo em sua testa.

-Descanse em paz, paizinho...- Murmurei.

Por fim, suspirando, me levantei e saí do quarto.
Eu ainda precisava falar com Steve.




~❤~







Pensei que teria que procurá-lo na lanchonete do hospital, mas acabei encontrando-o no primeiro corredor, assim que saí do quarto.

Sentado em um dos bancos, ele apoiava os cotovelos nos joelhos e as mãos na cabeça.

Me aproximei, um pouco receosa.
Steve ouviu meus passos e levantou a cabeça.

Eu já havia enxugado as minhas lágrimas mas, provavelmente, meus olhos deviam estar vermelhos e ele percebeu.

Abri a boca para falar, mas não consegui.
Steve me fitou, com uma pergunta muda no olhar.

Diante do meu silêncio e meu semblante entristecido, ele entendeu tudo.
Voltou a abaixar a cabeça.

-Ele se foi...- Murmurou, fitando o chão.

-Eu sinto muito- falei, baixinho, tocando seu ombro, exatamente como o doutor Edward havia feito comigo.

-Eu... não quis voltar para o quarto. Vê-lo naquela cama estava me deixando angustiado- disse Steve, como se tentasse se justificar por não ter estado ao lado do avô na hora de sua morte.

-Mas agora ele descansou- falei.

Steve começou a chorar. Seus ombros se sacudiam, e sua postura era desolada.

-Ele era a minha única família. Eu já perdi todo mundo que amava, todas as pessoas que se importavam comigo!

Ele parecia, de certa forma, revoltado outra vez. Na verdade, parecia uma mistura de revolta, com tristeza e amargura.

-Por que tudo isso aconteceu comigo?? Por que eu não posso ter minha família comigo, como todo mundo tem?? Por que??? O que eu fiz??

O questionamento carregado de inconformidade e uma tristeza profunda afetou a mim mesma como uma adaga que atravessa um coração.

Sentei-me ao lado de Steve, abraçando seus ombros, que se sacudiam mediante o choro que ele, humildemente, não fez questão de esconder.

-Não fala assim, Steve. Por favor...- Pedi.

Ele balançava a cabeça, inconformado.

-Por que, Amber?? Por quê??

-Eu não sei! Eu não sei por que coisas como essas acontecem.- Confessei, tentando conter as minhas próprias lágrimas.

-Mas eu sei que você não está sozinho, como pensa. Seus pais se foram, seu avô também, mas eu tô aqui, Steve. Eu tô aqui.

Peguei a mão dele e a levei de encontro ao meu ventre.

-Nós estamos aqui...- falei, fitando-o por detrás de meus olhos marejados.- Somos a sua família agora, Steve. Eu, a nossa filha... estamos aqui. Você não pode se deixar levar, você tem a gente!- Eu queria gritar que estava do lado dele, que o amava mais que tudo no mundo e que nunca o deixaria, como havia prometido a seu próprio avô.

Steve me olhou, com o rosto banhado em lágrimas e acariciou minha barriga.

Tentou se recompor.

-Me desculpa, Amber. Eu não devia ter dito o que disse.

-É perfeitamente compreensível.

-Não. Você tem razão. Agora eu tenho vocês... é tudo o que me resta, e é tudo o que eu preciso.

Ele me abraçou, e encostou seu queixo na curvatura entre meu pescoço e meu ombro.

-Eu te amo, tá?- Sussurrou.- Me desculpa...

-Tá tudo bem, amor. Eu também te amo.- Beijei o topo de sua cabeça.

-Eu só queria ter dito isso à ele, antes de...

-Ele sabia. Seu Charles sabia o quanto você o amava. E ele também te amava muito- falei.

Eu ainda o consolei por longos minutos, ali no corredor do hospital.

Steve era sempre tão forte e confiante. Vê-lo assim, frágil e sensível com a morte do avô me fez perceber que eu podia ser também a que consolava, a que dizia que ia ficar tudo bem.

Mesmo que, naquele momento, uma sombra de tristeza e de luto pairava sobre nós.











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✝ Charles Parker ✝

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