18 Dezenove Anos E Cinco Meses
Despertei de um rápido cochilo, minutos depois. Ainda estava encostada à porta.
Minha cabeça doía, provavelmente por causa do choro e eu me levantei.
Caminhei até o banheiro, lavei novamente o rosto, prendi o cabelo e fui para o quarto, a fim de trocar de roupa.
Eu estava magoada com Steve. Como ele pôde reagir daquela maneira, como se não se importasse? Como se aquilo não tivesse nada a ver com ele??
Guardei meu pijama no guarda roupas e fechei a porta, com força.
Aquilo não podia ficar assim.
Peguei novamente o telefone e liguei outra vez. Ele precisava me ouvir.
Foram várias tentativas, até ele finalmente me atender.
-Alô.
-Oi, Steve. É a Amber. Precisamos conversar.
-Precisamos mesmo?
-Precisamos!
-Ok, Amber, seja rápida. Eu estou trabalhando.
Segurei firme o telefone, porque minhas mãos tremiam.
-Por que isso, Steve? Por que essa frieza toda??
-Acho que você já sabe.
-Eu sei? Tudo o que eu sei é que estou absolutamente espantada com o que você disse pra Nina. Você quer que eu seja feliz com essa minha escolha???
-Exatamente. Eu não desejo a sua infelicidade. Portanto, seja feliz.
-Mas como você pode dizer isso?? Não foi uma escolha minha. É uma consequência de tudo o que aconteceu entre a gente!
-Amber, seja sincera. Essa escolha foi somente sua. Eu achei que esperaríamos um pelo outro, mesmo com todas as dificuldades. Mas eu não te julgo. Ninguém pode te culpar por ter se apaixonado por outra pessoa.
-O quê???
De repente, tive a amarga sensação de que não estávamos falando da mesma coisa.
-O que você está dizendo, Steve?
-Você sabe. Por favor, não me obrigue a relembrar tudo isso. Já foi doloroso demais ver aquelas fotos.
-Fotos? Que fotos??
Ouvi ele suspirar.
-Você e o Henrique, juntos. Muito juntos, naquele restaurante.
Meu queixo caiu.
Como ele sabia disso?? E como é que ele havia visto fotos de eu e Henrique juntos??
-Eu custei a acreditar, Amber. Sempre tive certeza de que você me amava e que a gente ficaria sempre juntos. Mas... aquelas fotos diziam outra coisa. E também, sua recusa em querer que eu fosse até aí. Só depois de ver as fotos foi que eu entendi o porquê você nunca quis que eu te encontrasse no Brasil.
Eu engoli em seco, tentando entender aquilo tudo, rapidamente.
-Steve, quem te mandou essas fotos??- Perguntei.
Ele hesitou um pouco.
-A Kristen.
Fechei meus olhos, entendendo, finalmente.
Tudo não passava de uma armação da Kristen.
Agora eu sabia exatamente o que ela havia ido fazer no restaurante onde eu e Henrique estivemos jantando.
Foi com tristeza que eu percebi que Steve ainda não sabia que eu estava esperando um filho dele.
E, de repente, toda a vontade de contar foi embora.
-Amber??- Ele me chamou, pois eu havia ficado dispersa.
-Sim?
-Eu preciso desligar agora. Tenho muito trabalho a fazer.
-Tudo bem.- Murmurei.
Deixei o telefone cair na cama e também me joguei nela, sentindo-me sem forças.
Sem forças para lutar contra Kristen, com seus planos maléficos. E sua obsessão em ter Steve de volta, a todo custo.
~❤~
Vinte e um de Março, de 2017.
Era o dia em que eu completava 19 anos.
E se iniciava a vigésima semana, ou seja, cinco meses, de gestação.
Eu me levantei às nove, fiz café e fui para a varandinha, observar a avenida movimentada lá embaixo.
Conversei por telefone com Fernanda, com o Enzo e com meu pai, recebendo as felicitações deles.
Eu sentia falta de Fernanda e das nossas conversas mas, por telefone nos era impossível falar de tudo, principalmente sobre a gravidez. Mas pelo menos, as mensagens compensavam.
Passei o dia todo no telefone, praticamente.
Lá pelas quatro e meia da tarde, a campanhia tocou e eu fui abrir a porta.
Levei um susto.
-Oiiii.- Nina entrou, carregando vários balões, de todas as cores, presos a barbantes.
-Nina... O que é isso??
-São balões!
Revirei os olhos e logo me espantei mais ainda ao ver Jeff e Jhony entrarem, segurando uma caixa retangular, e o cheiro que vinha dela era dos mais deliciosos salgados.
-O quê...?- Abri a boca.
Jeff viu a minha confusão e disse:
-Foi tudo idéia da louca da Nina.
Nina se abanou com as mãos, parada no meio da minha pequena sala.
-É o seguinte: é seu aniversário e a gente não podia deixar passar sem comemorar. Eu pensei: "coitada da minha priminha querida, ela anda tão sozinha lá naquele apartamento. Seria legal se a gente fizesse uma pequena surpresa pra ela." Foi quase de última hora, por isso nós mesmos entramos carregando tudo.
Jhony me olhou, dando de ombros, e sorrindo.
Eu sorri também, embasbacada com aquilo.
Nina bateu palmas.
-Então, meninos! Vamos lá. Vão prender os balões. Amarrem os barbantes nas vigas do teto, em algum móvel, sei lá... não importa. Só... espalhem os balões por aí.
Eu me aproximei dela.
-Nina... não precisa de tudo isso, não.
-Fica na sua, aniversariante. CADÊ O BOLO???- Ela gritou.
Bolo?? Ainda tinha um bolo?
Pois tinha.
Eu fiquei ainda mais espantada ao ver entrar minha mãe e o Henrique, ele segurando uma bandeja, com um pequeno bolo redondo em cima e ela uma sacola de refrigerantes.
-Oi, Amber!- Henrique disse, sorrindo.
-Oi...- Eu disse, vendo-o colocar a bandeja sobre a pequena mesinha.
Minha mãe me abraçou forte.
-Oi, Amber. Meus parabéns.- Ela disse, me apertando o tanto que dava, por causa da barriga.
-Obrigada, mãe- falei e olhei ao redor.- Gente... meu Deus do céu! Só vocês mesmo.
-A gente te ama. E não íamos te deixar passar seu aniversário aqui assim, sozinha- disse Nina.
Sensível como eu estava, comecei a chorar.
-Eu... nem sei o que dizer.
Jeff e Nina vieram me abraçar, imediatamente.
-Ohh... mocreiazinha, não chora.- Nina afagou meu cabelo e Jeff beijou meu rosto.
-Você merece, Amber- ele disse.
Eu enxuguei as lágrimas, tentando me recompor.
Estava passando pelo que me parecia ser o período mais difícil da minha vida, mas ainda assim, eu tinha motivos para agradecer a Deus.
Afinal, tinha minha família e meus amigos que sempre faziam questão de me lembrar o quanto era querida.
Além disso, meu bebê crescia saudável a cada dia, e até já começava a se mexer com certa frequência.
Tudo estaria perfeito se Steve estivesse ali.
Eu respirei fundo e proibí a mim mesma mentalmente de pensar nele. Evitaria me machucar ainda mais.
-Bom... O que posso dizer? Obrigada Nina, pela idéia. Eu adorei. E obrigada a todos vocês por terem vindo também. Fiquei muito feliz- falei, ainda abraçada a Jeff e Nina.
Depois, ganhei um abraço de cada um e até presentes.
Eu estava com água na boca para provar dos salgados e posso dizer que... comi muito!
A fase de enjôos já havia passado e agora, eu comia pra valer. Tinha um apetite e uma fome intermináveis. Ainda bem que a caixa estava repleta de salgados.
Em determinado momento, minha prima disse:
-Gente, cadê a Luísa? Eu também convidei ela. Será que aquela loira metida não vai vir??
-Ela vai vir, sim- disse Jhony.- A Luísa começou a estagiar semana passada no hospital e a vida dela agora está uma correria. Provavelmente, ela está atrasada, mas vai vir. E ela não é metida.
Eu e Nina trocamos olhares.
-Uiii.- Debochou ela.- Tá bom. Não tá mais aqui quem falou.
Todos começaram a comer e beber espalhados pela sala.
Minha mãe ajeitou uma almofada nas minhas costas e eu me encostei ali, com a boca cheia de pastel.
-Como está se sentindo?- Ela perguntou.
-Humm... bem- falei.
-Eu não queria ter que tocar nesse assunto agora, mas pode ser que depois não dê pra gente conversar...
-O que é, mãe?
-Agora que não está mais trabalhando... como vai pagar o aluguel desse apartamento?
Eu bebi um gole de refrigerante e limpei a boca.
-Ainda tenho o dinheiro do meu acerto de contas da Corporação Parker.
Ela pareceu duvidosa.
-Mas esse dinheiro não acaba nunca?
-Você não tá entendendo. Eu ganhava realmente muito bem. E ainda tenho sim, dinheiro. Não se preocupe, mãe. Eu sei o que estou fazendo. Quando eu não tiver mais dinheiro para pagar o aluguel, eu vou te pedir pra voltar pra casa. Se você me aceitar lá de novo, é claro.
-Quanto à isso, não precisa se preocupar. Lá é a sua casa, Amber. Nunca devia ter saído.- Ela segurou minha mão.
Eu assenti e me afastei dela, para pegar mais um salgado.
A campainha tocou e Jhony foi abrir a porta.
Era Luísa.
Eu percebi a troca de olhares e sorrisos entre eles, e ela entrou, segurando uma sacola bonita nas mãos.
Eu me levantei do sofá.
-Oi, pessoal!- Ela disse.
Todos a cumprimentaram e ela veio até mim.
-Amber, desculpa a demora. Eu queria vir na hora certa, mas o estágio no hospital me impediu.
Eu sorri, balançando a cabeça.
-Imagina, Luísa. Eu entendo. E... parabéns pelo estágio- falei.
-Obrigada. Tá sendo incrível. Esse estágio está me fazendo perceber que é realmente isso que quero pra minha vida.
Ela parou e respirou, rindo.
-Bom, mas o foco aqui hoje não sou eu. É você. Feliz aniversário, Amber.- Ela me abraçou.
Eu a abracei de volta.
-Então.- Ela disse, depois do abraço.- Eu sei que o aniversário é seu, mas o presente que eu trouxe não é pra você.
-Ahn?- Falei, confusa.
-É para o bebê.
Ela me estendeu a sacola.
-Vai, olha- falou, ansiosa.
Eu olhei para o interior da sacola e havia um pequeno embrulho lá.
Eu o abri.
Um par de sapatinhos amarelos e brancos apareceu diante dos meus olhos.
-Ohhh...- Eu fiz, olhando maravilhada para aquilo.
Não sei explicar por que fiquei tão emocionada. Talvez por que aquele era o primeiro presente que o bebê ganhava. Minha gestação já ia lá pelos cinco meses e eu ainda não tinha nada.
-Eu não resisti, tive que comprar. Sabia que você ia adorar- Luísa disse sorrindo, observando a minha reação.
-Que coisa mais fofa!- disse Nina, olhando os sapatinhos.
-Nossa, Luísa. São lindos! Eu amei. Muito obrigada- falei, realmente agradecida.
Passei os dedos pelos olhos, enxugando algumas lágrimas que inevitavelmente escaparam.
-De nada- ela disse, num tom gentil.
Eu fui me sentar novamente no sofá.
-Será que vai ser menino ou menina?- disse Jeff, sentado no chão, perto de mim.
-Amber, você precisa fazer logo um novo ultrassom, pra gente saber o que é. Precisamos fazer o enxoval- falou Nina.
-É verdade. Com cinco meses sem dúvida já dá pra saber.- Concordou minha mãe.
Eu fiquei calada. Não queria (e nem podia) dizer para eles que meu ânimo para fazer exames não estava lá nas alturas. Eu não sentia vontade de fazer isso. Não sozinha. E a pessoa que deveria fazer isso comigo apenas desejava "que eu fosse feliz".
-O que você quer, Amber? Menino ou menina?- Perguntou Luísa.
-Ah... nunca parei para pensar de fato nisso. Acho que o que vier, está ótimo- eu disse.
-Mas seu coração de mãe, te diz que é o quê?- Foi a vez da minha mãe falar.
Pensei um pouco.
-Meu coração de mãe? Ele não me diz se é menino ou menina. Mas já amo esse bebê como nunca antes amei quem quer que seja- falei, segura.
-Ahhhhh!!! Que fofa!- Exclamou Nina, e me abraçou.
-Amber vai ser uma ótima mãe- disse Henrique, me fitando com aqueles olhos profundos.
Eu sorri.
-Sem dúvidas- disse Jhony.
Não sei por que, mas achei aquilo, no mínimo, estranho. Os dois caras que tinham sentimentos por mim, dizendo que eu seria uma ótima mãe.
Minha prima percebeu isso e procurou mudar o rumo da conversa.
Ela bateu palmas.
-Muito bem! Quem quer bolo???
Nós nos levantamos.
Eles cantaram o Parabéns Pra Você e logo depois, eu cortei o bolo, que por sinal, estava delicioso, como pude constatar depois.
Mais um aniversário. Eu me perdi um pouco, em meio à euforia do momento e foi inevitável não pensar em Steve.
E em como eu desejava que ele estivesse ali.
▪▪▪
Até o próximo!❤
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro