17 Como Assim, Seja Feliz?
⚫Neste capítulo, retomamos a cena em que Amber vê Kristen, no restaurante onde está jantando com Henrique.⚫
💠💠💠
Olhei de um lado para o outro, da rua. Nenhum dos transeuntes que por ali passavam era quem eu estava procurando.
Kristen havia fugido, assim que percebeu que eu a tinha visto.
-Covarde- falei, entredentes.
Henrique veio de dentro do restaurante.
-Amber! O que houve? Quem é Kristen??
-A ex namorada do Steve.
-Ah, nossa. O que ela queria aqui?
-Coisa boa não pode ser.- Respondi, subitamente pensando em Steve.
-Bom, pode ter sido só uma coincidência ela estar aqui, não é?
-Henrique, as chances de Kristen ter estado aqui só por coincidência são as menores possíveis. Ela não dá ponto sem nó.
Henrique ficou calado, por alguns segundos.
Depois disse:
-Bom, nós já estávamos mesmo terminando o jantar. Eu vou entrar e pagar a conta. Me espera que eu já volto, pra te levar pra casa.
-Tá bem.- Assenti.
Minutos depois, já no carro, voltando para casa, eu ainda pensava em Kristen e em sua súbita aparição no restaurante. O que ela queria ali?
Dentro de mim eu sentia que algo muito ruim estava acontecendo, ou prestes a acontecer. Mas o que seria? Eu não conseguia concluir exatamente o quê...
-Você está tão aérea, desde que viu a tal de... Kristen.
Olhei para Henrique e tentei sorrir.
-Desculpa. É que... se você a conhecesse, entenderia o porquê.
-Pelo modo como você fala, acho que não quero conhecê-la, não.
Nós dois rimos, juntos.
-Não está perdendo nada demais!- Falei, ainda rindo.
Quando ele parou o carro em frente ao prédio onde eu morava, me dei conta de que o tempo havia passado muito rápido.
-Já voltamos?- Falei, surpresa.
-Pois é. Dizem que o tempo passa rápido quando estamos na companhia de pessoas de quem gostamos muito- disse Henrique, me olhando daquele jeito intenso.
Eu resolvi sair logo daquele carro.
Henrique saiu também, me acompanhando.
Ele se encostou na lateral do carro e eu mordi o lábio, indecisa sobre o que deveria dizer.
-Henrique, sobre o que você me falou no restaurante, eu...
-Não, não.- Ele me interrompeu.- Não me dê nenhuma resposta agora. Você precisa pensar, precisa por suas idéias no lugar e só depois decidir o que realmente quer.
Eu fiquei olhando-o, sem dizer nada.
Ele se aproximou de mim.
-Por enquanto, estou satisfeito só pelo fato de você me permitir fazer parte da sua vida. Mesmo que seja apenas como um amigo.
-É mesmo?
-É claro. Estar com você é...
Ele franziu os lábios.
-É o quê?- Perguntei, arqueando a sobrancelha e sorrindo.
Henrique se aproximou mais.
-Não sei. Me faltaram as palavras.- Ele também deu um sorriso, torto.- Mas estar com você é... o que eu mais gosto. De verdade.- Ele pôs a mão na minha nuca e aproximou sua boca da minha.
Eu engoli em seco.
-Henrique, não faz isso, por favor...- Pedi, baixinho.
-Shhhhh... relaxa.- Ele disse, e eu podia sentir sua respiração a pouquíssimos centímetros do meu rosto.
Eu não podia permitir que aquilo acontecesse.
Coloquei minha mão no peito dele, e o afastei de mim.
-Não!- Cobri minha boca, com a mão.
Henrique se afastou, me olhando, confuso.
-Você não quer isso?
-Não, é claro que não. Henrique, eu não quero te magoar. Mas preciso ser sincera com você.
-Tudo bem.- Ele assentiu.
-Apesar da distância e de todos os nossos problemas, eu e Steve ainda continuamos juntos. Você é muito gentil, sempre atencioso e me ajuda muito, mas eu amo o Steve. É com ele que eu estou e eu... devo fidelidade à ele.
-Tudo bem, Amber. Eu jamais forçaria você a fazer algo que não queira.
O olhar dele revelava sinceridade.
-Me desculpe por agir por impulso.
Eu suspirei.
-Está desculpado.
O clima de repente ficou meio constrangedor, pelo menos para mim. Resolvi subir para o meu apartamento.
-Bom, o jantar foi ótimo... obrigada por me convidar, Henrique. Mas agora, eu preciso entrar- falei.
-Foi uma ótima noite, sem dúvidas. Eu apreciei muito o jantar.
-Eu também.- Concordei.
-Que bom. Quer que eu te acompanhe até lá em cima?
-Não é preciso. Obrigada.
-Imagina. Tenha uma boa noite- ele disse, me olhando.- E, Amber... espero que nada mude entre a gente por causa do que te falei e da tentativa de te beijar. Continuamos amigos, certo?
Eu balancei a cabeça.
-Por mim, tudo bem.
-Por mim, também. Bom...- Ele beijou minha bochecha, rapidamente.- Tchau, Amber.
-Tchau.- Acenei brevemente e entrei no prédio, sem olhar para trás.
~❤~
Dois dias depois, acordei com o toque insistente da campanhia.
Quem poderia ser??
Eu me levantei, e saí tropeçando pelos móveis do apartamento, ainda de pijama, até a porta.
Abri, e quase voltei a fechar a porta, imediatamente.
Era Nina.
-Oiii- Ela disse sorrindo, mas com certo receio no olhar.
Revirei os olhos e saí de perto da porta. Ela entrou.
-Como descobriu onde eu moro?- Perguntei.
-Eu me virei, ué. Perguntei o Henrique, perguntei Jeff... tive que convencer os dois a me dizerem onde era.
-E o que você quer aqui?- Encarei-a, séria.
-Eu vim ver você. Temos que fazer as pazes, Amber! Você é minha prima e minha melhor amiga, poxa... não consigo ficar sem falar com você! E aposto que você também não aguenta mais.
-Está enganada. Eu tô muito bem sem você e sua língua grande- falei, me levantando e indo para o banheiro, escovar os dentes.
Ela me seguiu.
-Eu já pedi desculpas! Você tem que me perdoar!- Ela implorou.- Desde quando se tornou essa pessoa rancorosa, que guarda mágoas??
Cuspi um pouco de pasta de dente na pia, para dizer:
-Como você queria que eu ficasse? Por causa do que você disse eu perdi meu emprego, Nina!
-Eu sei. Foi sem querer. Eu só queria o seu bem, você sabe disso. Por favor, Amber, me perdoa!- Ela disse, me olhando pelo espelho.
Eu não conseguia. Vê-la ali, na minha frente, estava me dando nos nervos.
-Não. Vai embora da minha casa, Nina- falei, enxugando o rosto rapidamente numa toalha e saindo do banheiro.
-Ah, não. Eu não vim até aqui, pra nada!- Ela voltou a me seguir, pelo apartamento.
-Você nem devia ter vindo!
Ela pareceu se enfurecer.
-Ah, é?? Pois agora você me irritou. Que saco, eu venho aqui, numa boa, fazer as pazes com você e você fica aí, com esse orgulho bobo. Cresce, Amber!!!
-Você tá irritada?- Falei, com sarcasmo.- Problema é seu! Eu não te chamei aqui, você veio por que quis! E sou orgulhosa, mesmo!
-Pra mim, já chega! Se você não me desculpar, eu vou ligar para o Steve e vou contar que você tá grávida!
Eu a fitei, incrédula.
-Você está me ameaçando???
-Estou!
Eu peguei meu telefone que estava ali, no sofá, perto de nós.
-Pois então liga!- Falei, desafiando-a.- Liga pra ele! Conta tudo! Quero ver se você tem coragem!
-Você está me desafiando???
-Estou!
Nós duas estávamos aos berros. Pouco me importava o que os meus vizinhos de cima e de baixo poderiam estar pensando daquela gritaria.
Ela tomou o telefone da minha mão.
-Pois eu vou ligar!
-Liga! Eu quero ver!
Ela procurou o número de Steve nos meus contatos e vi perfeitamente quando ela apertou o ícone verde do telefone, iniciando a chamada.
Meu sangue fervilhava e eu não estava nem aí com mais nada. A ida de Nina ao meu apartamento me irritou tanto, que eu nem me importava que Steve descobrisse sobre a gravidez desse jeito.
-Você é muito cara de pau, Nina. Eu vou te...
Ela fez sinal com a mão para que eu me calasse. Steve havia atendido!
-Alô... oi, Steve. Não, não é a Amber. É a Nina.
Eu a ouvia, sem tirar meus olhos dela.
-Tudo bem? Ahn, anham... Eu estou bem também.
Bati o pé no chão, irritada.
-Então, eu liguei porque tem uma coisa sobre a Amber que eu quero te contar...
Eu arregalei meus olhos, o coração começou a bater mais rápido.
-Ela está...- Nina fez uma pausa, ouvindo.- Ahn... O quê? Como?
A expressão no rosto dela era de choque.
-Tudo bem. Eu... vou dizer à ela.
Ela tirou o telefone do ouvido e eu o peguei, imediatamente. A ligação havia sido encerrada.
-O que houve? O que ele disse? Por que você está com essa cara??- Perguntei, impaciente.
-Amber. Ele não me deixou terminar de falar. Quando eu ia contar, ele... me interrompeu.
-O que ele disse???
-Ele disse assim: "Eu já sei. Diga à ela que eu desejo que ela seja feliz, com essa escolha."
Eu abri a boca, incrédula. Fiquei confusa.
-Como assim, seja feliz??- Falei, me sentando no sofá. Havia ficado tonta, de repente.
-Eu também não entendi.
Passei as mãos pelo rosto, exasperada.
-Como é que ele descobriu? Só pode ter sido o Jeff, ou a minha mãe...- Falei, pensativa.
-Eu não sei- disse Nina.
-Ele desejou que eu fosse feliz com essa escolha?? Mas como assim? Eu não escolhi ficar grávida!!!
-De certa forma escolheu sim, gata. Quem mandou transar com ele sem camisinha??
Eu fuzilei-a com os olhos.
-Cala a boca, Nina.
Eu me sentia arrasada. Dentre todas as formas que imaginei a reação de Steve quando eu contasse que estava grávida, nunca me passou pela cabeça que ele agiria com tanta frieza.
Nina me olhou, com pena.
-Sinto muito, Amber...
Eu balancei a cabeça, sentindo que estava prestes a chorar.
-Preciso ficar sozinha. Vai embora, por favor- falei, me levantando e indo abrir a porta para ela.
Nina me olhava, provavelmente querendo dizer muitas coisas.
-Não se preocupe, não estou com raiva de você- falei.- Depois a gente conversa.
Minha voz já estava embargada e Nina entendeu o quanto eu precisava ficar só, naquele momento.
-Está bem.- Ela falou, baixinho e saiu.
Eu fechei a porta e me encostei nela.
O choro veio com força.
Eu me deixei escorregar pela porta, até o chão.
-Não, não...- falei, aos prantos.
Eu não podia acreditar que Steve era só mais um daqueles homens que, quando descobrem que vão ser pais, se mandam, somem e fingem que não tem nenhuma responsabilidade.
Ele não era assim!
Não o meu Steve.
Havia algo errado.
"Meu Deus, não permita que ele me abandone no momento em que mais preciso dele", implorei, em pensamento.
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