06 O Primeiro Ultrassom
Às duas horas em ponto, eu e Nina estávamos na porta da Clínica de Saúde Bem Estar, a única que concordou em me atender, dado o fato que eu não havia marcado nada com antecedência.
Nina ligou para várias delas e, quando eu estava prestes a desistir, obtivemos uma resposta positiva.
Aparentemente, era uma clínica conceituada e séria (exatamente como a que Fernanda havia me levado em Manhattan) pois eu teria que pagar um preço considerável pela consulta.
-Ainda bem que você tem esse dinheiro todo que ganhou lá em Nova York- disse Nina, enquanto aguardávamos na sala de espera, com algumas outras pessoas, depois de termos sido atendidas pela recepcionista.
-Não é um dinheiro que eu "ganhei", Nina. É o meu salário e o acerto de contas da Corporação Parker, pelos meses que trabalhei lá.
-Tanto faz, o importante é que você tem.- Ela disse, pegando uma revista e começando a folhear, distraída.
-Mesmo assim, não posso ficar gastando muito...- Murmurei, massageando minhas têmporas, pois sentia minha cabeça começar a doer.
-Relaxa, Amber. Vai dar tudo certo.
~❤~
-Você é a próxima!- A recepcionista disse, olhando para mim.
Me levantei e Nina me acompanhou.
-Posso...?- Ela perguntou.
-Claro. Fiquem à vontade. É a terceira sala à direita, depois de virarem o corredor- disse a recepcionista sorrindo rapidamente e voltando a olhar para o computador à sua frente.
Eu e Nina andamos pelo breve corredor e, seguindo as instruções da moça, paramos em frente à terceira sala depois de termos virado à direita.
A porta estava aberta e havia uma mulher baixa e meio gordinha (provavelmente a médica), que exclamou, assim que nos viu:
-Entrem!
Nós entramos e ela veio em nosso encontro, para nos cumprimentar.
-Você é a Amber?- Perguntou a médica, para Nina.
-Não. É ela- Nina disse,me apontando.- Somos primas.
-Ah, sim! Me desculpe!- Ela se voltou para mim, sorrindo alegremente.- Então você que é a futura mamãe! Muito prazer, sou a doutora Inês.
Assenti, meio perdida, sem saber o que fazer.
A médica pôs-se a andar pela sala, preparando os equipamentos para o ultrassom que seria feito, enquanto me fazia perguntas e mais perguntas.
Tive que lhe dizer há quanto tempo sabia que estava grávida e mostrar meus papéis da clínica em Manhattan além, é claro, do exame de sangue que declarava que eu estava gestante.
Para o meu alívio, não perguntou nada sobre o pai da criança, o que de certa forma eu já sabia que não era algo relevante, pelo menos não naquela hora.
Sentia-me estranha e muito sem jeito naquela sala, embora só houvesse eu, Nina e a médica ali.
Ela pareceu ter percebido isso, pois disse:
-Querida, não se preocupe. Quero que se deite aqui nesta maca e relaxe. Isso só vai levar alguns minutos.
Assim o fiz, deitando-me na maca. A doutora levantou minha blusa, espalhando um gel frio em minha barriga, dizendo:
-Espero que você tenha bebido bastante água antes de vir pra cá.
-Bastante.- Confirmei.
-Ótimo. Isso vai ajudar a termos um melhor resultado do exame.
Nina se aproximou, calada, observando tudo atentamente.
A doutora Inês começou a passar o transdutor por toda a extensão do meu abdômen e barriga, e olhamos todas ao mesmo tempo para a tela do computador.
-Bem, você está apenas com nove semanas de gestação e ainda não é possível ver muita coisa. Neste período, o seu bebê ainda é só um feto, e suas formas não estão totalmente definidas. A cabeça é desproporcional ao resto do corpo, as orelhas têm implantação baixa, as pálpebras fundidas, e por isso, ele ainda não consegue abrir os olhinhos...
-A senhora disse... ele?- Perguntei.
-Oh, sim! Mas é só maneira de falar, minha querida. Nove semanas é muito cedo para se saber o sexo.
-Ah...- falei, engolindo em seco.
As imagens que dançavam na tela do computador eram muito confusas e era preciso se olhar bem para ter a impressão de que o que aquele ultrassom mostrava era o que, mais tarde, seria um bebê.
-Entretanto, você já pode ouvir as batidas do coração do seu bebê. Vamos apenas encontrar uma posição favorável.- Doutora Inês disse, movendo o transdutor de um lado para o outro.
Aquilo era um pouco desconfortável e eu sentia que estava prestes a fazer xixi ali mesmo, naquela maca.
A médica ajustou alguma coisa no computador e, pressionando o aparelho contra a minha barriga, disse:
-Ouça...
Me pareceu meio confuso no primeiro momento, assim como as imagens, mas, conforme aguçava meus ouvidos, tive a impressão de estar ouvindo um leve pulsar.
Estremeci levemente naquela maca, ao me dar conta de que aqueles barulhinhos eram as primeiras batidas do coraçãozinho do meu bebê.
O meu próprio coração deu um salto, emocionado.
Agora sim. Parecia real. Era real. Tinha uma vida crescendo e pulsando dentro de mim.
O meu filho. O filho de Steve.
Como eu gostaria que ele estivesse ali comigo, para ver o que eu estava vendo, ouvir o que eu estava ouvindo e sentir o que eu estava sentindo.
Engoli em seco, quando a médica me sorriu, parecendo compreender perfeitamente o que se passava comigo naquele momento.
-Está ouvindo?? Olha só!- Ela mesma parecia admirada.
-Sim.- Assenti, recostando minha cabeça no travesseiro que havia ali e olhei para Nina.
Os olhos azuis claros dela estavam vermelhos e algumas lágrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto, enquanto ela olhava fixamente para o computador, com as imagens do ultrassom.
Franzi a testa, confusa.
O que se passava com Nina? Por que ela sempre parecia emocionada ou... triste, com tudo que dizia respeito ao bebê que eu estava esperando?
Eu não conseguia entender.
Ela limpou discretamente as lágrimas para que a médica não percebesse e eu senti que não era hora de lhe perguntar nada.
Afinal, a doutora já começava a desligar os aparelhos. Ela limpou rapidamente minha barriga com uma toalha e pediu que eu abaixasse a blusa, ajudando-me a levantar da maca.
-As imagens do ultrassom serão imprimidas e você poderá pegá-las ainda antes de sair daqui, está bem?
-Tudo bem- falei, precisando desesperadamente fazer xixi.
-Tem algum banheiro por aqui onde eu possa...
-Oh sim, querida! Está vendo essa porta? Pode ficar à vontade.- Ela me indicou o lugar e eu caminhei até lá, apressada.
~❤~
Ainda permaneci por cerca de meia hora depois do ultrassom na clínica, pois a doutora Inês queria saber como eu estava me alimentando e me receitou algumas vitaminas para tomar, ao longo de toda a gestação.
Confesso que, após a consulta, eu me sentia bem mais segura e tranquila quanto ao que estava acontecendo comigo, com meu corpo e com o feto dentro de mim.
~❤~
Eu e Nina andávamos lado a lado, em silêncio. Eu, segurando meus papéis e as imagens do ultrassom que foram imprimidas do computador e ela segurando firmemente as alças de sua mochila.
Estávamos passando perto de alguns canteiros numa avenida pouco movimentada. O frio da manhã continuava à tarde, e eu me encolhi no meu casaquinho de cor bege.
Nina estava calada, absorta em seus próprios pensamentos como eu nunca a tinha visto antes.
Suspirei.Não aguentava mais aquilo.
-Nina.
Ela parou de andar, mas não me olhou.
-Fala.- Ela disse, com a cabeça baixa.
-Será que você pode olhar para mim?
Relutante, ela ergueu a cabeça, para me olhar.
Nem parecia a Nina dona de si e imperiosa de sempre. Parecia frágil e cheia de... culpa.
-Nina, preciso saber o que está acontecendo com você. Por favor, conta pra mim. Você chorou quando eu te contei que estava grávida e hoje, de novo. Por que isso? O que você tem??- Perguntei, já angustiada.
Ela me puxou rapidamente para um banco que havia ali por perto, pintado de branco.
Chocada, percebi que ela chorava agora como nunca, a ponto de soluçar.
Fiquei preocupada ao extremo, sem saber o que fazer.
-Nina! Para! Você está me assustando!- Gritei.
-Amber!- Ela disse, sacudindo-se toda, por causa do choro.
-Fala. Fica calma e fala, sem chorar.- Pedi, ajudando-a enxugar o rosto.
Percebi que ela fez um esforço sobrehumano para evitar o choro.
-Amber, você promete que não vai me odiar pelo que eu vou te contar???- Falou, o rosto vermelho e parecendo cansado.
-Claro que não, Nina. Me diga, o que houve?
Então ela agarrou meu braço, trêmula e disse:
-Eu fiz um aborto.
▪▪▪
E aí? Chocados, ou não?
Finalmente entendemos o motivo dos choros da Nina. 😔 E capítulo que vem tem mais.
Até lá!❤❤
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