39 Envolvidos
-Ah, meu Deus! O que foi que eu fiz??- Gritei, colocando as mãos na cabeça.
Ouvi barulhos de portas se abrindo e logo Steve entrou na sala lá em baixo, seguido de Bruce.
Ele viu a nós duas quase que ao mesmo tempo. Kristen, no chão e eu no topo da escada.
-Kristen! Amber! Mas o que é isso???- Ele também gritou, aturdido.
Comecei a descer os degraus da escada, trôpegamente, com o coração acelerado.
-Steve! Foi sem querer, eu juro!- Falei, sentindo o medo crescer dentro de mim.
Ele me olhou, a incredulidade nascendo em seus olhos.
-Você... empurrou ela da escada?
-Sim, mas não foi por querer. Nós estávamos discutindo. Eu fiquei nervosa, eu não sei o que deu em mim...- Choraminguei.
-Meu Deus!- Ele passou a mão esquerda por entre o cabelo, olhando para o corpo estirado de Kristen.
Bruce também olhava, imóvel, apenas com os olhos arregalados.
-Será que ela morreu?- Perguntei, idiotamente.
-Creio que não...- Steve disse.
Como que para comprovar que ele tinha razão, naquele momento Kristen, que estava de bruços, se virou, gemendo.
-Aiii... meu braço. Acho que quebrei o braço...- falou, tentando se sentar.
Eu engoli em seco, angustiada. Aquela nunca tinha sido a minha intenção, por mais que ela merecesse.
-Kristen, você está bem?- Perguntou Steve, parecendo realmente preocupado.
-Bom, eu não morri. Então tá tudo ok.- Ela disse, porém fazendo uma careta de dor, provavelmente por causa do braço fraturado, que era o direito.
Depois, olhou para mim, furiosamente.
-A culpa é toda sua! Você tentou me matar!!!- Falou, me apontando com o braço que podia se mexer.
-Não! Essa nunca foi minha intenção, Kristen. Eu te garanto que foi sem querer. Você me deixou nervosa...- falei, com minha voz soando mais suplicante do que eu gostaria.
-Sua louca! Eu vou te denunciar! Você tentou me matar, sim!!!- Ela gritou a plenos pulmões.
Steve se abaixou perto dela.
-Fala baixo, Kristen. Já basta de escândalos- disse ele.
-Você não tem nada que ficar bravo comigo, Steve. Eu sou a vítima aqui.
Steve tocou o braço direito dela e eu desviei os olhos, para não ver aquilo.
-Está doendo muito?
-Aiiii...- Fez ela e realmente parecia que estava doendo.
O braço estava estranhamente torto, e ela não conseguia virá-lo.
-Vou ter que levá-la ao hospital- disse Steve, se virando para mim.
Eu assenti, odiando a mim mesma por aquilo.
Steve deu a mão à Kristen, ajudando-a se levantar.
-Você podia me levar no colo, até o carro...- Ela falou, se encostando nele.
Eu suspirei fortemente, irritada.
Mas felizmente, Steve disse:
-Você quebrou o braço, não a perna. Pode vir andando.
Kristen olhou para mim, fuzilando-me com o olhar.
-Você me paga! Não pense que isso vai ficar assim.
Eu a olhei, sentindo raiva, ciúmes e culpa, tudo ao mesmo tempo.
Steve voltou até mim.
-Eu vou com ela resolver isso e volto pra gente conversar. E você procure se acalmar, amor, por favor. Está bem?- Beijou-me na testa.
Fiz que sim, terrivelmente apavorada.
-Bruce, traga um copo com água pra Amber, por favor.- Ele disse e logo depois saiu.
Sentei-me no sofá, exausta.
Eu era uma mistura de sentimentos e pensamentos complexos e embaralhados.
~❤~
Tomei a água que Bruce me trouxe, percebendo o quanto estava sedenta.
Custava-me a acreditar que eu tinha mesmo empurrado Kristen da escada.
Eu estava uma pilha de nervos, e as provocações dela só serviam para me deixar ainda mais fora de mim.
Passei as mãos pelo rosto, apoiando os cotovelos nos joelhos, preocupadíssima.
Será que Kristen me denunciaria mesmo? O que ia acontecer comigo??
Levantei-me, incapaz de ficar quieta num só lugar.
Pus-me a caminhar de um lado para o outro na sala do lustre, nervosamente.
Minhas mãos suavam e eu as enxugava constantemente na blusa que estava usando.
Bruce me deixou ali sozinha com os meus pensamentos, o que foi até melhor.
Aparentemente, seu Charles não estava em casa, pois não apareceu durante toda a confusão. Possivelmente estava em algum jantar.
Bem que eu gostaria de tê-lo ali comigo, para ouvir seus sábios conselhos e suas palavras animadoras.
~❤~
Uma hora e meia depois, Steve voltou.
Ele sentou-se no sofá, ao meu lado, parecendo cansado.
Coitado, tinha trabalhado o dia todo e quando volta para casa, se depara com uma situação daquelas.
-E então, como foi lá?- Perguntei, ansiosa.
-O raio-x mostrou que ela realmente quebrou o braço direito. Deram morfina a ela, para amenizar a dor e fizeram uma tala. Fica tranquila, eu conversei com a Kristen e convenci ela a não registrar uma queixa contra você. Quando perguntaram, ela disse que caiu da escada, e não que foi empurrada.
Suspirei, aliviada. Mas minha angústia não havia diminuído nem um pouco.
Steve me observou.
-E você, está mais calma?
Fiz um sinal de mais ou menos com a mão.
-O que está acontecendo, amor? Você está bem?- Ele pôs uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, enxugando a fina camada de suor que brotava em minha testa.
-Eu não estou nada bem, Steve. Como que eu vou ficar bem, com tudo o que está acontecendo??
-Mas você está muito nervosa. Eu nunca te vi assim...
-Isso é por causa da...
Calei-me, assustada. Eu estava prestes a falar da gravidez, num momento de descuido.
-Por causa do quê??- Ele quis saber.
-Da... da pressão. De toda a pressão que meu pai colocou na gente. Eu estou apavorada, Steve... Eu não quero voltar para o Brasil. Por que tem que ser assim???
Ele me abraçou e eu escondi meu rosto em seu peito.
-Calma. Vai ficar tudo bem. Isso não vai durar muito tempo. Eu vou te buscar. Só vou esperar algumas semanas, no máximo alguns meses, apenas para a poeira baixar. Vou conversar com seu pai e ele vai entender tudo.
Soluçei, pouco confortada com aquelas palavras.
-Eu amo você, Steve. Eu não quero te perder.- Choraminguei.
-Ei, olha pra mim- Ele levantou meu queixo, com o dedo.- Eu também amo você. Nós não vamos terminar assim. Não importa o quanto seus pais sejam contra a gente agora, nós continuamos juntos, por mais separados que possamos estar. Você entendeu?
Balancei a cabeça, sentindo que se abrisse a boca para falar, começaria a chorar.
-Não vai ser fácil ficar longe de você. Você preenche os meus dias, Amber.- Ele também estava um pouco emocionado.- Mas eu vou te ver. Logo logo. Não vou aguentar esperar muitas semanas...
-Não!- Exclamei.
Steve me encarou, espantado.
Se ele fosse me ver, perceberia logo a gravidez e isso não podia acontecer. Não ainda. Não enquanto os meus pais estivessem tão furiosos comigo e com ele.
-Não? Você não quer que eu vá te ver no Brasil?- Ele perguntou, os olhos magoados.
-Quero. Quero muito. Quero mais que tudo. Mas não podemos, Steve- falei, com a voz embargada e senti meus olhos arderem, com as lágrimas que queriam escapar.
-Se você for, tudo vai estar perdido. Espere, como você disse... alguns meses. Até tudo se acalmar.
Steve ficou me olhando, passando os dedos ao redor dos meus olhos, enxugando cada gota de lágrima que ia caindo.
-Por um momento, pensei que você não quisesse mais que eu...
-Não diga bobagens.- Coloquei a mão na boca dele.- Eu te amo.
Nós nos abraçamos, forte.
Eu comecei a chorar, de verdade.
Como eu gostaria de lhe contar que havia um serzinho crescendo dentro de mim e que fazia parte dele também...
Mas eu poderia por tudo a perder. Não era o momento certo.
Por isso, eu chorei.
Chorei de emoção por saber o quanto nós nos amávamos e por tudo que já tínhamos passado até ali.
Chorei por causa da pressão que estávamos vivendo e por termos sido proibidos de ficar juntos.
Chorei porque dentro de dois dias voltaria para o Brasil sozinha, sem ele.
E principalmente, chorei por não poder contar a Steve que ele seria pai.
Ele permitiu que eu chorasse em seu peito, por minutos a fio.
E eu só queria ficar ali, presa em seu abraço, para sempre.
~❤~
-Preciso tomar um banho. Eu vou subir.- Steve disse, cerca de meia hora depois.
-Eu vou com você.- Levantei-me do sofá, junto com ele.
Ele segurou minha mão, caminhando comigo para a escada.
-Seu pai não vai achar ruim?
-Ele não veio atrás de mim até agora. Provavelmente ele se tocou e resolveu me deixar em paz, pelo menos um pouco. Ele sabe que eu preciso de um tempo com você.
Nós chegamos ao quarto dele e logo Steve se fechou no banheiro.
Sentei-me na cama dele, já imaginando quanta saudade eu sentiria dali.
Foram tantos momentos bons ali vividos. As noites que eu dormi ali com ele foram as noites em que meu sono era o mais profundo e tranquilo.
Era difícil para mim aceitar que em breve aquilo tudo ficaria para trás.
Saí do quarto, e subi até o terraço, querendo respirar um ar mais puro.
Nova York jazia lá em baixo, espetacularmente iluminada. A grande maçã, bela e apaixonante.
Quantas aventuras tinha vivido ali e quantas ainda poderia viver, se fosse ficar.
Suspirei, sentindo a brisa fresca da noite que circulava no terraço entrar pelos meus poros.
Eu tinha sido muito feliz ali.
E mesmo que fosse embora, levaria as memórias em minha mente. Guardaria tudo comigo como um sonho bom.
Senti o perfume inconfundível de Steve e me virei.
Seu cheiro era agradavelmente másculo e inebriante.
-Vi que você não estava no quarto. O que está fazendo aqui?- Ele perguntou, caminhando até mim.
Dei de ombros.
-Nada. Só queria ficar aqui um pouco. Aqui é tão agradável...
Ele concordou, assentindo.
-O que você sente quando lembra que depois de amanhã eu não vou estar mais aqui?- Perguntei, depois de alguns segundos de silêncio.
-Ah, não vamos falar sobre isso - disse ele.
Na penumbra do terraço, eu não conseguia ver seu rosto nitidamente, mas seus olhos verdes brilhavam. Talvez por causa de algumas lágrimas que ele estava segurando.
-Vamos só... aproveitar o tempo que nos resta.- Ele pediu, entrelaçando nossos dedos.
Eu sorri.
-Todos os dias eu me apaixono por você, sabia?- Ele acariciou meu rosto suavemente.
Foi minha vez de enxugar as lágrimas dele.
-E eu por você- falei, docemente.
-Amber, eu te amo tanto... - Ele murmurou, encostando seus lábios quentes nos meus, começando um beijo lento, que logo evoluiu para algo mais profundo e envolvente.
Segurei seu rosto em minhas mãos, empurrando sutilmente seu corpo até o sofá de veludo vermelho que havia no terraço.
-O que está fazendo?- Ele perguntou, quando eu comecei a abrir os botões da camisa azul marinho que ele usava.
-Você não disse pra gente aproveitar o tempo que nos resta? É o que eu vou fazer.- Sussurrei, arrancando sua camisa e jogando-a para longe.
Eu já estava grávida mesmo, não faria mal algum.
Era a nossa última noite juntos, de certa forma. Pelo menos pelas próximas semanas. Ou meses.
Ele retirou minha roupa lentamente, fazendo-me sentar em seu colo.
Beijei-o apaixonadamente, como se não houvesse amanhã.
Tudo o que me importava naquele momento, era o nosso amor.
Difícil, complicado, tortuoso.
Mas ainda assim, era amor.
Um amor que eu nunca imaginei que fosse capaz de sentir por alguém.
Mas sentia.
E era forte. Me envolvia por completo, em todos os sentidos.
Fechei os olhos, estremecendo de prazer e satisfação, e sorri, ao ver que Steve sentia o mesmo, seu corpo acima do meu, me prendendo e ao mesmo tempo, me dando total liberdade.
-Eu...amo você...- falei, me deixando ser amada e saciada por aquele homem incrível que era o meu namorado.
Foi uma das noites mais difíceis da minha vida, com toda aquela confusão com o meu pai e com Kristen.
E por outro lado, foi uma das melhores, quando eu e Steve nos entregamos mais uma vez um ao outro, completamente envolvidos por aquilo que podíamos chamar de amor.
▫▫▫
E está quase na hora do adeus.
Até o próximo, meus amores. ❤❤
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