34 A Sentença
Não sei por quanto tempo fiquei desmaiada. Mas não deve ter sido mais do que dez minutos.
Quando comecei a recobrar a consciência e a me dar conta lentamente do que se passava à minha volta, percebi que estava no meu quarto. Na minha cama. Isso foi de um tremendo alívio para mim.
Alívio esse que não durou muito, quando me lembrei do que havia se passado antes do desmaio.
Meu pai agora sabia de tudo!
Minha mãe sabia que eu e Steve estávamos namorando. E nem foi através de mim que ela soube. Foi da pior forma possível. E aconteceu exatamente o que eu imaginei que aconteceria: ela surtou.
Droga, por que eu não contei tudo à ela, enquanto houve tempo? Por que adiei tanto aquilo??
Meus olhos ainda estavam fechados, mas meus ouvidos estavam muito bem abertos, por isso ouvi:
-O pulso dela já está mais forte...
Abri os olhos, confusa.
Deparei-me com o meu pai e Kristen, que me olhavam, em pé ao lado da minha cama.
O que aquela biscate fazia ali???
-O que...- Comecei a falar, mas meu pai fez:
-Xiiiii... calma, filha. Não se esforce. Você desmaiou e está voltando agora.
Me remexi, percebendo que estava encostada a vários travesseiros. E que minha testa estava úmida, como se tivessem passado uma toalha molhada sobre ela, ou algo assim.
Caramba, havia sido apenas um desmaio e estavam me tratando como doente!
Procurei me sentar com cautela e Kristen apressou-se em me ajudar, mas eu repeli seu toque para longe.
Ainda não entendia o que ela estava fazendo ali.
Ainda sentia-me levemente zonza, mas respirei fundo, permanecendo sentada.
-O que você está fazendo aqui??- falei para a loira platinada.
-Filha, a Kristen já fez curso de primeiros socorros e chegou aqui bem na hora em que você desmaiou.
Kristen sorriu para mim, com um brilho estranho no olhar.
-A Fernanda não está em casa, foi Kristen quem me ajudou a trazer você para o quarto.- Continuou meu pai.- Ela disse que não era preciso levar você ao hospital e...
-Desde quando você sabe o que é melhor para mim?- Perguntei com rispidez, olhando-a.
-Amber!- Ralhou meu pai.- A Kristen é uma amiga da família, ela está sendo gentil. Que modos são esses???
Que ódio, ter que suportar aquilo!
Suspirei pesadamente.
-Sua cabeça está doendo?- Ela perguntou, com uma falsa preocupação.
Fiz que não, esperando que eles saíssem logo do quarto e me deixassem em paz.
Meu pai apalpou minha testa, verificando minha temperatura. Seu olhar sim, demonstrava uma verdadeira preocupação, por mais que ele estivesse bravo comigo.
Kristen ficou ali, nos observando e sua presença me incomodava.
-Amber, você tem noção no tipo de coisa em que se meteu? Você e o Steve, meu Deus...- Meu pai balançou a cabeça, consternado.
Fiquei quieta, engolindo em seco.
-Eu devia ter avisado vocês. Nossa, como eu devia ter avisado!- Dramatizou Kristen.
-Do que está falando?- Meu pai virou-se para ela.
-Do Steve. Eu devia ter avisado quem ele é, de verdade. Devia ter dito à todos que ele não prestava. Mas também, eu não fazia idéia de que Amber estava tão envolvida com ele...
Fulminei-a com os olhos, não acreditando na audácia dela.
-Não sabia? Mas todos sabiam do namoro dos dois...- Até meu pai estranhou.
-Não sabia que pudesse ser tão sério.- Explicou ela.- Eu e Steve também já namoramos, e ele sempre se envolveu com coisas erradas. Eu tentava trazê-lo para o caminho certo, mas...
-Sua mentirosa!!!- Gritei, não aguentando mais ouvir nada que saía daquela maldita boca.- Se Steve algum dia já foi para o caminho errado foi por culpa sua! Você foi a responsável por ele ter se envolvido em tudo isso!!!
-O quê? Agora a culpa é minha??- Ela colocou a mão no peito, parecendo incrédula.
-Filha, não tem sentido você dizer isso. Cada um é responsável pelas próprias escolhas...- disse meu pai.
-Exatamente, seu Paulo. O Steve... ele se deixou levar pelas más influências e...
Sentei-me reta na cama, já que meu pai permanecia perto de mim, cercando-me para que eu não me levantasse.
-Cala a sua boca, sua cobra, falsa e mentirosa!!! Você não sabe de nada! Você não conhece o Steve como eu conheço!
Ela me fulminou com o olhar, mas permaneceu impassível, por causa do meu pai.
-Amber! Não fala assim!- Meu pai gritou, furioso.
-Falo sim! Cobra, cobra, cobra!!! É isso que ela é! E exijo que ela saia do meu quarto, agora!
Kristen tremeu de raiva, mas não revidou.
-Mas o que é isso, Amber??
-Não tem problema, seu Paulo. Ela está muito nervosa. Eu vou sair, sim.- Ela disse, toda delicada, para o meu pai.- Mas se precisarem de mim, eu volto.
-Não precisa voltar!- Olhei-a com raiva.- Eu não quero você mais aqui, Kristen. E estou falando sério!
Ela balançou a cabeça e saiu, revirando os olhos.
Meu pai me olhava, boquiaberto.
Eu fechei os olhos e afundei minha cabeça no travesseiro, sentindo-me sufocada por toda a raiva que sentia.
-Eu não acredito que presenciei isso. Não estou reconhecendo você, Amber- disse meu pai, baixinho.
Levantei a cabeça.
-Pai, me desculpe. Mas vocês não conhecem a Kristen, de verdade. Ela é muito falsa, ela...
-Ela sempre foi nossa amiga e nos trata super bem.
-Vocês! Mas eu, não. Ela quer o Steve de volta e não suporta a idéia de que ele prefere eu a ela.
Meu pai abriu a boca e provavelmente ia dizer algo muito sério, mas o telefone dele logo começou a tocar.
Ele atendeu e estendeu o aparelho para mim, dizendo:
-Sua mãe quer falar com você.
Suspirei. Mais essa, agora. Eu nem sabia se estava preparada para enfrentar aquilo, mas peguei o telefone.
-Oi, mãe...
-Amber. Que bom que já acordou do desmaio. Precisamos conversar.
Então ela estava mesmo muito brava, já que nem perguntou como eu estava ou disse um "boa tarde".
-Como você pôde fazer uma coisa dessas, Amber?? Você está namorando com o mesmo cara que assaltou nossa casa?? É isso mesmo?
-Mãe...
-Eu quase não acreditei quando seu pai contou. Mas é verdade, não é?
Demorei a responder.
-É, sim- falei, num fio de voz.
-Eu aqui, acreditando que você está aí fazendo seu intercâmbio, quando na verdade você está de namoro com um bandido.
Aquilo me doeu.
-Mãe, o Steve não é um bandido - falei, com um nó na garganta.- Ele é... um cara maravilhoso. Você só vai entender isso quando conhecer ele de verdade.
-Ah, ele não é um bandido? Então alguém que assalta casas é o quê?
-Ele não é assim!- Exclamei exasperada.- Ou se já foi, não é mais! Ele é responsável, maduro e trabalhador. Ele é praticamente o dono de uma das maiores empresas de Nova York!
Por um momento, ela ficou em silêncio. Talvez saber que Steve era rico e não um qualquer poderia mudar a opinião dela.
-Isso não muda nada. Sendo rico ou não, isso não apaga o que ele fez! Me poupe, Amber. Você provavelmente está cega de paixão por esse rapaz. Só que eu não vou permitir que isso continue. Eu já sei que o seu intercâmbio acabou. Portanto, você vai voltar para o Brasil.
-O quê???- Praticamente gritei.
Meu pai só me olhava, quieto.
-É isso mesmo que você ouviu. Você vai voltar para o Brasil. Já está decidido.- Ela disse, pausadamente.
Aquilo pra mim não era uma decisão. Era uma sentença.
Empertiguei-me.
-De jeito nenhum eu vou voltar para o Brasil.- Retruquei.- Eu posso ter terminado o intercâmbio, mas estou trabalhando. Não posso sair daqui.
-Sem desculpas, Amber. Peça demissão. Você não é obrigada a trabalhar.
-Mas eu quero!
-Amber, não ouse me desobedecer!
-Não é desobediência, mãe! Eu já sou de maior e... sei o que quero pra minha vida.- Tentei me impor.
Ouvi um suspiro pesado, do outro lado da linha.
-Amber, se você não voltar, eu vou pessoalmente em Nova York, pra buscar você. E estou falando sério.
-Não...- Choraminguei, sentindo algumas lágrimas escaparem de meus olhos.- Eu não quero voltar...
-Mas você vai. E logo.- Ela disse, implacável.
-Não! Pai, faz alguma coisa.- Pedi, com a voz embargada, deixando o celular cair na cama e agarrando o braço do meu pai, com força.- Eu não quero voltar pra lá...
-Amber.
-Por favor!- Implorei.
-Eu não posso fazer nada. Sua mãe já decidiu isso.- Ele disse, guardando o telefone no bolso, porque provavelmente minha mãe já tinha desligado.
-Mas você é o meu pai! Você pode impedi-la!
-Não, eu não posso.
Limpei rapidamente algumas lágrimas, decidida também a fazer alguma coisa.
-Cadê meu telefone? Preciso falar com o Steve...- falei, procurando de um lado para o outro, meio perdida.
-Ei, você não vai ligar pra ele!- Meu pai me deteve.- Não vou permitir isso.
-Mas, pai... É urgente- falei, com a voz fraca.
-Amber, me escuta aqui.- Ele segurou meus braços, forçando-me a olhar para ele.- Se tem alguém pra quem você nunca mais vai ligar, se depender de mim, é pra esse cara. Você traiu a minha confiança ao não me contar sobre tudo isso que aconteceu.
-Pai, eu sinto muito... me desculpa- falei, sentindo o nó na minha garganta se apertar.
-Eu sei que deveria ter falado. Mas por favor, me dá uma chance. Dá uma chance pra gente...- Pedi, apavorada.
Ele balançou a cabeça negativamente e sentenciou:
-Você está, a partir de agora, terminantemente proibida de ver ou de falar com o Steve. E ai de você, se me desobedecer!
Atirei-me sobre a cama, enquanto o choro me invadia com força total.
As palavras de Kristen ditas naquele hotel de repente pareciam ganhar vida.
O conto de fadas estava se transformando em terror.
Meu mundo inteiro estava desabando.
▫▫▫
Tensoooo demais!😐
E calma que ainda tem mais!
Até o próximo!❤❤😘
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