17 É Você Que Eu Quero
Devo ter adormecido segundos após ler a carta de Jhony.
Acordei às onze da manhã, sentindo o corpo dolorido por ter dormido numa posição não muito confortável.
Emma veio de algum lugar, provavelmente da cozinha, segurando uma xícara na mão.
-Bom dia, Amber...- falou, sorrindo pra mim.
-Bom dia- falei, sonolenta.
Edith já havia organizado a sala enquanto ainda dormíamos e à essa altura a sala já estava devidamente arrumada.
-Tomei a liberdade de ir na cozinha pegar um café para mim - disse ela, assoprando o líquido dentro da xícara e logo após sorvendo o mesmo.
-Imagina, a casa é sua - eu disse, me espreguiçando.
-Quer que eu pegue um café pra você também?
-Poxa... eu quero-falei, admirando o quanto ela era solícita.
Ela saiu da sala e num instante estava de volta, com outra xícara de café fumegante na mão.
-Toma, é bom para despertar a mente e o corpo.
-Valeu, Emma.
Ela ficou me olhando, parecendo ansiosa. Terminou de tomar o seu próprio café e disse, meio relutante:
-Amber...
-Hum?- Eu fiz, ainda tomando o meu café.
-Sabe aquele seu amigo, o Jeff...?
-Sei.
-Pois é...- Ela pigarreou.
-O que tem o Jeff?
-Eu queria... eu quero ver ele de novo.- O rosto sardento dela corou ao dizer isso.
-Ahn...- eu disse, analisando-a melhor.- Você se divertiu bastante com ele ontem na festa, não foi?
-E como! Ele é tão divertido, tão engraçado, tão gentil...- Ela dizia, empolgada.
-É mesmo?- Franzi a testa.
Será que estávamos falando do mesmo Jeff? Porque o que eu conhecia ultimamente estava um poço de chatice. Mas claro, talvez fosse por causa dos nossos problemas mal resolvidos um com o outro.
-É sim.- Ela afirmou, balançando a cabeça.
-Você gostou dele, Emma?- perguntei.
-Como assim?
-Assim, você sabe...- Eu não quis terminar de falar, porque era óbvio.
-Sei lá.- Ela corou.- Só sei que quero vê-lo de novo.
Ah, meu Deus. Então ela havia gostado.
Mas se haviam duas pessoas no mundo que não tinham nada a ver uma com a outra, essas pessoas eram Emma e Jeff.
Ela era cristã. Ele era mundano.
Ela era americana. Ele era brasileiro.
Ela era tão doce e reservada. Ele era festeiro e extrovertido.
Em outras palavras: NADA A VER.
Eu precisava alertá-la.
-Emma... preciso te dizer uma coisa.
-O que é?
-É que... sabe, não me leve a mal, mas o Jeff não faz o seu tipo.
-Como assim?- Os olhos dela arregalaram-se um pouco.
-Vocês são muito diferentes.
Ela ficou me olhando, com os olhos agora levemente tristonhos.
-Não sei exatamente porquê você está falando isso, mas eu só quero ver o Jeff de novo para... para agradecer.
-Agradecer?
-Sim. Agradecer por ele ter me defendido ontem, quando o Richard começou... você sabe.
-Ahn... claro. Entendi.
-Então... será que tem como você ligar pra ele e falar que eu quero vê-lo?
-Tem, tem sim- falei.
Me levantei do sofá, pretendendo levar a xícara para a cozinha e depois subir para tomar um banho.
-O que é isso na sua mão?- Emma perguntou, apontando para o papel que estava nas minhas mãos.
-É uma carta que o Jeff me entregou- respondi.
-O Jeff?!?!?- A voz dela alterou um pouco e ela se levantou do sofá.
-É, mas a carta é de um... amigo meu, do Brasil- falei rapidamente, para acalmá-la.
-Ah...- Ela voltou a sentar-se, dando um sorriso amarelo.
~❤~
Eu dei a mim mesma o dia de folga e não fui à Education First aquele dia.
Emma e eu passamos o dia abrindo meus presentes, escolhendo roupas para ela sair com Jeff e, claro... comendo.
Obviamente, eu liguei para Steve, pedindo à ele também a folga de Emma naquela segunda feira e de quebra, o pedi para que trouxesse Jeff, à tarde.
Meu pai e Fernanda estavam no trabalho, Enzo na escola e, confesso... aquela foi uma segunda feira bem diferente e divertida.
~❤~
Às cinco em ponto, ouvimos a buzina do carro de Steve, e Emma ficou toda nervosa.
-Ai, Amber... pelo amor de Deus. Me diz que eu tô bonita??- falou, encarando a si mesma no espelho do meu quarto.
Quem diria que um dia eu veria a Emma daquele jeito! Quase ri da cara dela.
-Claro que está, Emma. Você está linda e pronta para agradecer o Jeff, se é que é isso mesmo que você quer- falei revirando os olhos, com ironia.
-Mas é claro que é.- Ela me lançou um rabo de olho.
-Ok então. Agora para de ficar nervosa, senão você vai suar e vai estragar tudo.
Ouvimos a buzina outra vez.
-Vamos!- Puxei-a pela mão.
Steve e Jeff desceram do carro quando saímos do lado de fora e eu fiquei meio sem fôlego ao ver Steve, lembrando-me do nosso beijo na noite anterior.
Percebi ele um tanto quanto fechado, sem sorrir e fiquei sem entender o motivo.
Nós quatro trocamos cumprimentos e eu puxei Jeff para um canto, um pouco afastado de Emma e Steve.
-Jeff, preciso falar uma coisa muito séria com você.
Ele já foi revirando os olhos.
-Quê que foi, Amber?
-A Emma não é como todas as outras garotas com quem você já ficou.
-E daí?
-E daí que você não vai fazer nada para magoar ela. Ela é diferente e acima de tudo, é minha amiga. Se você magoar ela, eu juro que acabo com a sua raça.
-Relaxa, Amber...
-E eu tô falando muito sério!- falei, entredentes.
-Eu sei, caramba.
Puxei ele pela mão, até Emma.
-Podem ir, pessoal. Divirtam-se!- falei sorrindo e batendo palmas, despachando-os.
Emma sorriu sem graça para Jeff e os dois começaram a se afastar.
-Se quiser, pode me ligar que te busco e te levo pra pousada- Steve disse à Jeff e este acenou com a cabeça.
-Você está até parecendo o papai dele- comentei, num tom brincalhão, quando Emma e Jeff dobraram a esquina.
Ele deu um sorriso forçado.
O que será que estava acontecendo?
-Vamos entrar- convidei.
Steve pareceu hesitar por alguns segundos, mas acabou entrando junto comigo e eu fechei o portão.
-Tá tudo bem?- perguntei, enquanto caminhávamos em direção à varanda de casa.
Ele deu de ombros.
-Está...
-Estou achando você muito... quieto. Mais calado do que o normal- falei.
Ouvi ele suspirar, se virando para mim.
Seu olhar transmitia algum tipo de sentimento que eu não havia conseguido ainda discernir qual era.
-Amber.
-Diga.
-Eu gosto muito de você e estar com você é a melhor coisa do mundo, mas...
-Mas o quê?
-Eu não quero atrapalhar a sua vida- disse, me fitando com seus olhos verdes, sérios.
Eu senti que começava a suar frio.
-Do que você está falando?-perguntei, com medo.
-Eu vi o Jeff te entregando uma carta do Jhony, ontem.
Ele hesitou um pouco e continuou:
-E eu sei que vocês têm algo, ou já tiveram. Não quero atrapalhar você.
Dei-lhe as costas, começando a andar em direção à cozinha, sentindo de certa forma, um grande alívio dentro de mim.
Ele me seguiu.
Eu abri a geladeira e peguei uma jarra de água, derramando um pouco no copo mais próximo.
-Steve, o fato do Jhony ter me enviado uma carta não quer dizer que nós estejamos juntos- falei, me apoiando no balcão de mármore, olhando-o.
Ele permaneceu me olhando de volta, com a dúvida estampada em sua face.
-Quer dizer o quê, então?
Tomei um gole de água.
-Não quer dizer nada!- exclamei.
Me aproximei dele.
-Eu não quero o Jhony. É você que eu quero- falei e mesmo corada, olhei nos olhos dele.
O esboço de um sorriso muito bonito começou a aparecer em seu rosto.
-Bom, isso muda tudo...-disse, também se aproximando de mim.
Claro que àquela altura meu coração já batia alucinadamente em meu peito. Essa era a reação dele sempre que Steve estava por perto.
-Você não tirou...- ele disse, tocando o cordão com o pingente de borboleta em meu pescoço.
-Nem vou tirar. Nunca.- Eu sorri.
-Nem mesmo pra tomar banho?
Balançei a cabeça.
-É bom que isso seja prata de verdade, ou do contrário, vai desbotar logo, porque eu não pretendo tirar.
Ele soltou o cordão e segurou minha mão.
-Você acabou de me deixar muito aliviado. Eu nem dormi direito, preocupado com aquela maldita carta.
Revirei os olhos.
-Ficou preocupado à toa.
Ele me fitou, parecendo refletir.
-É mesmo né?
Concordei, balançando a cabeça e sorrindo outra vez.
-Eu posso te beijar?- Sussurrou em meu ouvido.
-Já devia ter feito isso- falei corando.
Steve se inclinou, ainda segurando minha mão e apoiou a outra em meu pescoço, beijando-me suavemente.
Seu gosto era deliciosamente convidativo e eu o beijei de volta, segurando a barra de sua camisa pólo branca.
Como sempre, aquela cozinha pareceu deixar de existir. Eu só me dava conta de Steve e eu.
Quando o beijo foi se acabando, lentamente... nossas testas permaneceram coladas. Steve sorriu, e eu tive o prazer de ter aqueles olhos verdes lindos muito, muito pertos de mim, como nunca.
-Pode repetir o que você disse alguns minutos atrás?- disse ele.
-O quê?- Franzi a testa.
-Que sou eu quem você quer.
Eu revirei os olhos e peguei impulso, sentando-me em cima do balcão de mármore.
Ainda assim, Steve ficou alguns centímetros mais alto do que eu.
-É sério?
-É, quero ouvir de novo- ele disse, sorrindo torto.
Suspirei, mas rindo também.
-É você quem eu quero- falei, colocando uma mão no rosto de traços perfeitos dele.
Steve me fitou, matando-me com aquele olhar profundo esverdeado.
-Eu também quero você -falou, agarrando minha cintura, em cima do balcão mesmo.
-E você não faz idéia do quanto - disse, com sua boca a centímetros da minha.
Dessa vez, o beijo foi intenso e voluptuoso.
Coloquei meus braços em volta de seu pescoço, enquanto seus braços fortes me rodeavam, prensando-me contra si, numa mistura de posse e carinho.
Nossas bocas dançavam juntas numa coreografia totalmente improvisada e por isso mesmo, perfeita.
Eu estava totalmente entregue àquele beijo quando ouvi a voz furiosa do meu pai, que acabara de adentrar a cozinha:
-Mas o que está acontecendo aqui???
▫▫▫
Hehehe! 😁
Até o próximo, amores. ❤😘
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