14 Feliz Aniversário, Amber!
Um cheiro de rosas invadiu minhas narinas e eu procurei abrir os olhos.
O quarto já estava parcialmente claro por uma pequena abertura na cortina branca da janela e a primeira coisa que vi, foi um buquê.
Um lindo buquê de rosas vermelhas. E logo atrás dele, o rosto querido do meu pai.
-Acorda, bela adormecida. E, feliz aniversário...- disse ele, com a voz suave.
Me sentei na cama, devagar e surpresa.
-É hoje...- falei, esfregando os olhos.
-Sim, é hoje.
-Uau!- Peguei o buquê das mãos dele e o aproximei de mim, inalando o cheiro delicioso das rosas.
Finalmente, havia chegado. Meus dezoito anos.
Eu estava surpresa porque apesar de saber a data do meu aniversário ( obviamente ), aquilo não havia sido algo pelo qual eu estava esperando com ansiedade. O fato de eu estar em Nova York envolvida em tudo o que eu estava vivendo fez com que eu não pensasse muito no meu aniversário.
Mas ser acordada daquele jeito, me deixou completamente feliz.
Coloquei o buquê delicadamente sobre a cama e abracei meu pai, com força.
-Obrigada, pai...
Ele me abraçou de volta, demoradamente e em seguida, beijou meu rosto e o segurou entre suas mãos.
-Sou eu que devo te agradecer, filha. Por ter vindo pra cá e tornado essa casa e nossas vidas muito mais felizes. Você é amorosa com o Enzo, que nem é seu irmão de sangue e se dá tão bem com a Fê... ela sempre me diz o quanto gosta de você.
Ele sorriu, passando as mãos pelo meu cabelo.
-Eu te amo muito, Amber. Você está fazendo dezoito anos, ficando cada vez mais independente, mas quero que saiba que você sempre vai ter seu pai aqui para o que você precisar.
-Oh, pai...- Minha voz tremeu e eu o olhei com todo o carinho do mundo.
-Obrigada... por tudo-falei, engolindo em seco.
Ele sacudiu a cabeça.
-De nada, meu amor. Agora, quero que faça uma coisa. Se arrume bem linda à noite, porque vou te levar pra comemorar seu aniversário num lugar incrível.
Arregalei os olhos.
-Sério, pai???
Ele sorriu.
-É, sério. Passo pra te pegar às sete e meia.
Ele se levantou, me dando mais um beijo.
-Aproveita seu dia, eu te amo.
Fiquei olhando ele sair do quarto, e uma onda de ânimo e empolgação começou a me invadir.
Me levantei e, depois de ter arrumado devidamente a cama, coloquei o buquê sobre ela, bem no centro.
-São tão lindas- falei, admirando as rosas.
Meu celular apitou sobre o criado mudo e quando eu o peguei, fiquei espantada com a quantidade de mensagens que haviam.
Claro, hoje em dia por causa das redes sociais todo mundo lembra do seu aniversário. Mas eu fiz questão de ler e responder as felicitações dos meus parentes e amigos mais próximos.
Apesar de ser meu aniversário, eu passei quase que o dia todo dentro do meu quarto.
Até achei que Fernanda fosse querer me levar para algum tipo de passeio, mas ela sumiu e eu acabei ficando por ali mesmo.
Enzo passou um pedaço da tarde comigo no quarto e jogamos xadrez. Devo confessar que perdi três, das quatro jogadas que fizemos. É, o pirralho era bom.
~❤~
Às sete e meia em ponto, eu já esperava ansiosa pelo meu pai. Estava curiosa para saber qual era o lugar onde ele iria me levar para comemorar meu aniversário.
A porta logo se abriu e ele entrou, muito bem arrumado e perfumado.
-Pai!!!- exclamei, me levantando da cama, onde estivera sentada.
-Uau!!!- Fez ele, ao me observar.
Pegou minha mão e me fez girar.
-Tá muito linda.
-Obrigada, pai...- falei, reparando em mim mesma.
Meu vestido era preto e ligeiramente colado no corpo e seu cumprimento era um pouco mais curto do que eu costumava usar, mas por incrível que pareça, eu me sentia confortável e à vontade nele.
-Por que os filhos têm que crescer?
-Pai... são só os saltos- brinquei.
-Você sabe do que eu estou falando- ele disse.
Assenti, suspirando.
-Tô ansiosa e muito curiosa, pai... vamos!
-Vamos, sim.
Entrelacei meu braço ao dele e saímos do quarto.
-Pai, a Fernanda e o Enzo vão com a gente?
-Hum... não.
-Esse lugar é longe?
-Hum... não.
-Poxa...- falei, intrigada.
Quando nos aproximamos da escada para descê-la, meu pai disse:
-Filha... feche os olhos.
-Mas por quê...?
-Faça o que estou te pedindo, querida.
" Vai me dar algum presente antes de sairmos ", pensei.
-Ok...- suspirei, fechando os olhos.
Ele me guiou na descida, segurando meu braço e com uma mão em minhas costas, em silêncio.
Tudo o que eu ouvia era o barulho dos meus próprios saltos contra o piso de mármore da escada.
De repente, paramos.
Eu sentia a curiosidade me corroendo.
-Filha... pode abrir os olhos.
Eu abri. A princípio, não vi nem ouvi nada. A escuridão era total.
Até que uma luz vinda de algum lugar projetou-se à nossa frente, lá em baixo.
Um letreiro enorme e brilhoso em tons de roxo piscava, com os dizeres:
FELIZ ANIVERSÁRIO, AMBER!
Arregalei os olhos.
-Nossa, o que é isso??
Meu pai não disse nada. Até que...
-Surpresaaaaa!!!!
As luzes subitamente se acenderam e eu não podia acreditar no que os meus olhos viam.
A sala da casa do meu pai repleta de pessoas, que começaram imediatamente a bater palmas e a cantar parabéns para mim.
-Meu Deus!- Coloquei as mãos no rosto, atordoada.
Meu pai sorria e cantava junto.
Eu fiquei sem saber o que falar, e o que fazer.
Uma festa de aniversário surpresa, para mim!
Meu pai conseguiu esconder isso.
-Eu sei que a maioria dos seus amigos estão no Brasil, mas convidei o pessoal que você conheceu no pouco tempo que está aqui- ele cochichou no meu ouvido.
Eu olhei com mais atenção para as pessoas que cantavam e gritavam para mim.
Lá estavam. A Lauren. O Japa. A Emma. E... o Steve?!?
Ele estava lá. Não batia palmas, nem cantava. Com as mãos nos bolsos e uma expressão tranquila no rosto, ele apenas sorria.
Eu sorri discretamente de volta, sem saber se ficava mais surpresa com a presença dele ali naquela festa, ou com a festa em si.
-Vamos descer.- Chamou meu pai.
Apenas quatro degraus nos separavam da sala e logo fui rodeada por toda aquela gente.
Os meus poucos conhecidos e os amigos do meu pai e Fernanda.
A sala estava toda decorada em tons de preto e roxo, o que dava ao ambiente um ar juvenil, quase adulto. Preto, eu já amava.E o roxo, sinceramente... caiu bem.
-Parabéns, Amber- alguém disse.
Foram muitas as felicitações, os abraços e os presentes que recebi.
Eu dava um passo, e era abordada por alguém, que queria me parabenizar.
A música era agradável, tudo o que eu já costumava ouvir, o que me fez lembrar da minha festa de 17 anos na minha casa, lá no Brasil.
-Olha só quem mais veio pra sua festa, filha...- Meu pai me puxou pela mão.
-Ah, Kristen!- falei, ao ver quem era.
-Oi Amber, querida. Feliz aniversário!- disse ela, dando-me dois beijos na bochecha.
-Obrigada...
-Essa é uma verdadeira festa de 18 anos, de arromba!Aproveita, Amber!- ela disse e claro que somente eu notei a ironia por trás de suas simpáticas palavras.
-Vou aproveitar, sim...
Fui saindo enquanto meu pai conversava mais um pouco com Kristen.
Um dos garçons contratados trouxe até mim uma bandeja cheia de salgadinhos e eu provei um.
Os salgados nos Estados Unidos não são como no Brasil, mas até que aqueles estavam...
-Uma delícia!- disse Richard, se aproximando de mim.
-Opa, você também foi convidado?- falei, não escondendo a surpresa, de novo.
-Mas é claro, meu bem. E nem poderia deixar de ser. Afinal, eu sou...
-Meu mentor.- Revirei os olhos.
-Isso mesmo!- Ele riu, terminando de comer o salgado.
Eu já estava cansada de ouvir aquilo. Na minha opinião, aquilo era patético. Para mim, Richard Cooper não passava do diretor da escola de intercâmbio.
-Parabéns, você está linda -disse ele, beijando a minha mão.
-Valeu, Richard-agradeci, puxando a mão de volta, tentando ser um pouco delicada.
Me afastei dele e logo Emma veio me abraçar.
-Parabéns, tá tudo incrível!!!
-Você nem me falou nada!- Abracei-a de volta.
-É claro.- Ela revirou os olhos.- Do contrário, não seria festa surpresa.
-Põe surpresa nisso.
-Amber, espero que não repare... meu presente pra você foi bem simples. Já coloquei lá na cesta, como todo mundo. Mas foi de coração, pode acreditar.
-Emma... sua presença aqui comigo vale mais do que qualquer presente.- Segurei as mãos dela e ela sorriu, fazendo suas sardas ficarem evidentes em seu rosto.
Emma olhou por cima dos meus ombros e pigarreou, soltando minhas mãos.
Virei-me. Steve estava parado à uma distância mínima, nos olhando.
-Vai lá...- Ela sussurrou e eu assenti, caminhando até Steve.
-Oi...- falei, cruzando as mãos atrás das costas, nervosa de repente.
Ele deu um passo à frente.
-Oi, Amber.
-Que bom que está aqui.
Ele não disse nada por alguns segundos.
-É... você já comeu ou tomou alguma coisa? Fique à vontade...
-Depois. Agora, tem mais uma surpresa pra você.
-Sério??- eu disse, espantada.
-Vem comigo.- Ele me puxou pela mão, de leve, para fora e eu procurei fingir que o toque da mão dele na minha não me causou nenhuma sensação diferente.
-Vou ter que fechar os olhos?- perguntei.
Ele riu baixinho.
-Não. Olha a surpresa aí.
Olhei. E num canto, meio quieto e escondido, perto das plantas de Fernanda, eu vi.
-Jeff!!!
Eu não me contive.
Corri até ele e o abracei.
-Você está aqui!!!- exclamei, feliz de mais.
Eu não sei explicar o que senti. Mesmo que eu e Jeff ainda não tivéssemos resolvido as questões que tínhamos um com o outro, acho que vê-lo ali, o meu único amigo do Brasil, me fez ficar emocionada.
Ele também me abraçou e quando nos separamos, disse:
-Eu confesso que nem lembrava que era seu aniversário, mas o Steve me convidou pra festa. Então nem presente tenho aqui pra te dar. Mas parabéns.
Dei um leve soco no braço dele, rindo.
-Imagina, Jeff. Obrigada por ter vindo. E...- Virei-me para Steve.- Obrigada por trazê-lo.
Steve acenou com a cabeça, nos observando.
-Jeff, vem...vou te apresentar ao pessoal.- Peguei-o pela mão.
Emma estava na porta, com um copo de refrigerante na mão.
-Emma!- chamei.
Ela se virou e, antes de me ver, seus olhos se depararam com Jeff.
-Oi...- disse, sem parar de olhá-lo e devo confessar que ele também não tirava os olhos dela.
-Ahn... este é meu amigo Jeff, do Brasil. E, Jeff... esta é minha amiga Emma, daqui de Nova York.
Jeff não era fluente como eu no inglês, mas sabia o suficiente pra se virar.
-Oi, Emma. E aí, beleza?
Ela me olhou sorrindo, mas parecendo espantada com o jeito dele falar.
-Emma, você poderia levar o Jeff pra dentro e apresentar ele pro pessoal?- falei.
-Ahn... tá. Posso, sim.
Ela olhou para ele, com as faces coradas e disse:
-Vem comigo, por favor.
Jeff foi e eu fiquei observando eles se afastarem, conversando um pouco mais à vontade, até que sumiram no meio do povo.
~❤~
Eu e Steve ficamos ali na varanda, enquanto o ar fresco daquela noite nos refrescava.
E então, olhando para ele, eu revivi na minha mente a cena que havia acontecido há exatamente um ano atrás, também na varanda da minha casa, lá no Brasil.
Eu estava como ali agora, de vestido preto, aproveitando o ar da noite, quando o cano duro e frio de uma arma pressionou minha nuca.
Naquele momento, eu não tinha ideia da quantidade de coisas que iriam se desenrolar depois daquele assalto.
Um ano. Exatamente um ano. Não sei dizer com precisão o que aquele marco significava pra minha vida agora.
Mas ao olhar para Steve, eu não conseguia sentir mais raiva. Nem mágoa. Nem ressentimentos. Afinal, eu já o havia perdoado.
O perdão não me impedia de lembrar de tudo, mas não permitia que eu o odiasse em meu coração.
Ele quebrou o silêncio.
-Eu sei o que você está pensando.
Eu o olhei.
-Estou pensando na mesma coisa. E Amber, você não faz idéia de como eu gostaria que...
-Não, Steve...- Eu o interrompi.- Não vamos falar sobre isso. Eu já te perdoei. E me recuso a ficar remoendo esse assunto.
Ele suspirou, depois de me fitar.
-Está bem, Amber.Vamos deixar o passado para trás. O que importa é o hoje, não é?
Eu sorri.
-É sim.
-Hoje é seu aniversário. É um dia importante e especial. E... tenho algo pra você.
-Tem?- Olhei-o, surpresa.
Ele assentiu, e me puxou pela mão.
-O que é?- perguntei, curiosa.
Ele pôs a mão no bolso da calça jeans e tirou de lá uma caixinha.
-Toma. Feliz aniversário, Amber.
Confesso que peguei a minúscula caixinha nas mãos, trêmula.
O som da música chegava até nós um pouco abafado, por estarmos na varanda.
-Ah, meu Deus...- murmurei, boquiaberta ao ver o que tinha dentro da caixa.
Um lindo cordão prateado, com um pequeno, porém incrivelmente bem trabalhado pingente em forma de borboleta.
Eu o peguei com a mão direita, estendendo-o à minha frente, para admirá-lo.
-Nossa. Nunca ganhei nada assim. É tão delicado, tão lindo...
Steve assentiu, observando o colar, como eu.
-Minha mãe amava borboletas.
Amava admirá-las- disse ele.
-É mesmo?- Tirei os olhos do presente, para olhá-lo.
-Ela gostava de passar horas no jardim, observando cada borboleta que se aproximava das flores. E eu, ainda garoto, ficava fascinado com isso.
Minha mente vagueou brevemente para o dia da visita ao museu, quando eu ficara deslumbrada diante do conservatório de borboletas.
-Eu entendo a paixão da sua mãe- falei, comovida.
Steve fitou o colar, e depois a mim.
-Posso...?- Pediu.
Apenas concordei com um aceno de cabeça, enquanto virava-me de costas para ele.
Steve pegou o colar da minha mão, e num único movimento, suave e gentil, colocou-o no meu pescoço.
Eu senti os pêlos da minha nuca eriçarem-se quando os dedos dele me tocaram e ouvi sua voz bem perto do meu ouvido:
-Eu sei que minha mãe ficaria contente ao ver o presente que escolhi te dar. Ela sempre dizia que borboletas trazem bons presságios. É um símbolo de felicidade.
Ele segurou meus ombros e fez com que eu girasse, ficando novamente de frente pra ele.
-E é tudo o que eu desejo a você, Amber. Que você seja feliz.
-Obrigada...- balbuciei, sentindo algo inexplicável dentro de mim.
-Ah, e a propósito, você ficou ainda mais linda com esse colar.
Eu sorri.
Nossos rostos ficaram próximos demais, de repente e eu não tinha a menor intenção de me afastar.
Eu já podia sentir sua respiração se misturando com a minha e fechei os olhos, ansiosa por aquilo.
Porém, antes mesmo que nossos lábios pudessem se tocar, eu ouvi:
-Amber!!!
Abri os olhos, atordoada, e virei-me para ver quem me chamara.
Era Kristen.
-Ah, você está aqui! Como pode sumir de sua própria festa assim?- ela disse rindo, colocando a mão na cintura.
-Ahn, eu...
-Seu pai está te chamando para cortar o bolo, querida.
Pigarreei, sentindo minhas faces arderem.
Olhei para Steve, que havia fechado os olhos e colocado a mão na cabeça.
-Eu já estou indo...
-Pois vá! Estão te esperando- disse Kristen, sorrindo. Um sorriso que não alcançava seus olhos. Estes permaneciam frios.
E virando-se para Steve, ela disse:
-Que bom encontrar você aqui, Steve. Precisava mesmo falar com você...
Não fiquei nem mais um segundo ali, ao ver Kristen segurar Steve pelo braço e o conduzir pela varanda.
Entrei em casa, tocando o colar com pingente de borboleta, sentindo o coração pulsar forte, por tudo o que tinha acontecido.
E a noite ainda estava só começando.
▫▫▫
O que acham que ainda vai acontecer nessa festa e durante a noite?
Preparem seus corações... 😊
Até o próximo capítulo.
Beijos de luz.❤😘
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro